Garras, presas e ossos

By Analuaautora

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Em um universo onde betas costumam ser uma maioria desafortunada, um reino sendo governado por um, era algo c... More

[ α β Ω ] Personagens
[ α β Ω ] Informações e Avisos
[ α β Ω ] Prólogo: A morte de um rei, é o florescimento de lírios vermelhos
[ α β Ω ] O calor do âmbar é como brasas derretendo o inverno
[ α β Ω ] Lágrimas escorrem entre pétalas, como flocos de neve no verão
[ α β Ω ] A dor não se apaga, é combustível para incendiar as curvas do destino
[ α β Ω ] O egoísmo de um coração, é maior do que a culpa que tornou-se cinzas
[ α β Ω ] Amores proibidos são como sangue tingindo as mãos de escarlate

[ α β Ω ] Olho por olho, dente por dente, garra por garra

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By Analuaautora


Olá 🖐

Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? 

Ainda lembram dessa história? 

Desculpem o sumiço, nos últimos meses estive muito ocupada com minha vida pessoal

Aproveitei minhas férias pra escrever um pouquinho e é isso

Espero que gostem! 

🐺❄️


A princípio, o príncipe Kim sequer notou a presença de Hoseok na escadaria. No entanto, ao afastar-se minimamente de Jimin para olhá-lo, o ômega pode ver por sobre o ombro do criado que o alfa estava ali, surpreendendo-se. Seu coração disparou no peito, a garganta facilmente se fechando e as vistas tornando-se embaçadas pelas novas lágrimas que escorriam em abundância de seu rosto emocionado. 


O Jeon sorriu enquanto lágrimas de pura felicidade desceram por sua pele, Taehyung estremeceu, as pernas se tornando cada vez mais fracas enquanto o alfa descia os degraus determinado a chegar até si, cada parte de seu corpo clamava por um abraço de conforto, para render-se aos seus sentimentos, afinal, tudo o que pensou e o que desejou nas horas em que esteve perto da morte, foi que pudesse estar com Hoseok uma última vez. 


Entretanto, o alfa não foi ao seu encontro, desistindo facilmente de tudo o que tinham, agora, seus sentimentos não importavam mais. 


— Tae... — Hoseok falou, em um tom baixo e aveludado, parando ao lado do beta e do ômega. — Eu estava tão preocupado... você... você está ferido... — constatou, atordoado. — Feriram você? Você... você está bem? 


Jimin arregalou os olhos no instante em que sentiu o rosto do príncipe contra seu pescoço, Taehyung o agarrou novamente, abraçando-o com força, usou-o como um escudo para esconder-se do príncipe de Nácar. 


— S-senhor... — chamou, tocando-o levemente nas costas, olhando brevemente para o alfa. 


Porém, Taehyung não respondeu, apenas fechou os olhos com força e molhou a pele do beta com suas lágrimas, o alfa antes feliz e aliviado, adotou um semblante de completa confusão, e ao tentar tocar o ômega em um dos braços, parou no lugar ao vê-lo recuar, como se seu toque ardesse ou o ferisse. 


— Tae? — Chamou-o, o coração dolorido como se tivesse sido apunhalado. — O... que? Por que está agindo assim? Me diga, quem fizeste isto contigo?


— E-eu estou bem! Estou cansado, estou muito cansado! V-vamos para o meu quarto Jimin, rápido — suplicou Taehyung, em alguns tons mais altos e angustiados, ainda com o rosto colado ao pescoço do beta. 


Hoseok recuou, ferido. 


— Espere! Só quero conversar com você, Taehyung... eu pensei que... eu tive tanto med... 


O alfa foi interrompido quando Jae-hoon aproximou-se, parando a sua frente. 


— Meu filho precisa descansar, alteza, aguarde até que ele se sinta bem, sim? — pediu, arqueando as sobrancelhas ao olhá-lo.


Alguns passos atrás estava Jeongguk, o beta mantinha os olhos fixos em Hoseok a todo o momento, os punhos fechados e avermelhados ao lado do corpo, a raiva que estava sentindo o fazia estremecer, já estava claro como água para si, que seu irmão mais novo tinha interesses românticos em Taehyung, em uma outra hora, o colocaria contra a parede e o faria confessar, mas por hora, tomou uma decisão menos radical, a contra gosto. 


Caminhou em direção ao ômega, pedindo licença ao rei ao aproximar-se, olhou para o irmão atordoado e disse:


— O príncipe passou por muita coisa, Hoseok, deixemos que ele se recupere. Park, cuide dele, leve-o até seus aposentos — pediu ao beta. 


Jimin piscou os olhos rapidamente e concordou, induzindo Taehyung a caminhar consigo para dentro do castelo. Ao notá-lo se afastar, Hoseok deu um passo em sua direção, no entanto, parou ao ter o braço firmemente agarrado pelo irmão mais velho, Jeongguk obtinha uma expressão séria e a mão ao redor de seu pulso era firme e forte, no entanto, Hoseok não se abalou, em um ímpeto de coragem encarou o irmão frente a frente. 


— Solte-me, tenho urgência em falar com Taehyung — ditou, olhando o mais velho seriamente. 


Jeongguk esboçou um pequeno sorriso descrente. 


— Todos nós. Mas... já disse que o príncipe não está em condições, compreendo que estejas preocupado, afinal, são amigos de infância, porém, creio que a vontade do príncipe Kim deva ser respeitada — Jeongguk pediu, devolvendo a ele o olhar sério. 


Hoseok esboçou um meio sorriso, totalmente descrente ao ouvir do homem que estava forçando um casamento com Taehyung, que as vontades do ômega deveriam ser respeitadas. Com as narinas dilatadas enquanto respirava com dificuldade "amigos de infância" também ecoou na cabeça do alfa, contribuindo para sua reação, balançou a cabeça em negativa. Quis rir, quis despejar toda a verdade na cara de Jeongguk, quis gritar e dizer-lhe que Taehyung lhe pertencia, que o coração do ômega era somente seu, no entanto, ao tocar a mão do irmão sobre seu braço, a fim de soltar-se, fora interrompido por Kim Jae-hoon. 


— Jeongguk tem razão, Hoseok, meu filho está muito abalado, está ferido, deixemos que ele descanse e se recupere, além do mais, precisamos conversar sobre tudo o que ocorreu, nos conte tudo, alteza — pediu ao Jeon mais velho, olhando para os dois homens de perto, apreensivo enquanto ambos sequer piscavam, encarando um ao outro com seriedade. 


O beta levou a língua até a bochecha cutucando-a, contrariado, esperou pela resposta do irmão, desejando que ele lhe desse uma boa razão para usar os punhos. 


— Certamente, majestade, lhe direi tudo com prazer — respondeu, entrementes, olhando fixamente para o irmão. 


Hoseok respirou fundo, desviou o olhar para o rei ao seu lado, e quando Jae-hoon olhou-o de volta, conseguiu ver a súplica em seu olhar, o rei acenou em negativa lentamente para que Hoseok o compreendesse, o mais novo suspirou, frustrado, a mão ainda estava sobre a do irmão, quando aos poucos o aperto em seu braço diminuiu, sendo a deixa para que também o soltasse, olhou novamente para o Jeon, engolindo todo o amargor em seu paladar. 


— Como quiser, majestade. 


[...] 


Ao entrarem no castelo, Jimin deu todo apoio ao seu senhor ao caminharem, passando rapidamente pela sala do trono, puderam ver Seokjin sentado na sala de visitas, o alfa estava lendo um livro mas ao perceber as presenças o fechou, levantando-se de seu assento. Taehyung não queria falar com ninguém, muito menos com ele, portanto apressou o passo, puxando Jimin consigo e seguindo para as escadas, parando apenas ao ouvir passos nos degraus, quando o ômega levantou a cabeça seus olhos foram preenchidos pela imagem prepotente de Yoongi.  


O corpo do Kim paralisou, deixando Jimin apreensivo ao seu lado. Yoongi desceu lentamente, uma das mãos deslizando pelo corrimão de madeira, havia se recomposto, embora as bochechas ainda estivessem coradas pelo choro recente, seus passos cessaram assim que pousou os olhos no príncipe de Abalone, para seu desgosto. 


Taehyung ouviu algo que o fez arregalar os olhos, o coração batendo loucamente contra as costelas, era inacreditável. 


— Oh... alteza, por onde esteve? Todos estávamos muito preocupados contigo — disse o rei, em um tom surpreso e amigável que não condizia com ele. 


Taehyung soltou a mão de Jimin, seus dedos estavam formigando em puro nervosismo, Jimin dizia alguma coisa ao seu lado, mas o ômega não conseguia ouvir, tudo o que ouvia era um zumbido nas orelhas e a raiva aumentando cada vez mais. 


— De fato, meu irmão estava desesperado a sua procura, alteza— Seokjin contribuiu, aproximando-se dos demais e se encostando na parede. 


— Bem... o mais importante é que o príncipe voltou em segurança para nós, não é? — perguntou Yoongi, olhando para Seokjin. 


O alfa riu do tom meloso na voz do ômega, concordando.


— Você está bem, certo? Não se feriu, ou... algo semelhante? Hum? Ah... Estou tão feli... — insistiu Yoongi, olhando com diversão para o ômega, levando o Kim ao seu limite. 


Yoongi não foi capaz de terminar a frase, sentiu um tapa estalado contra o rosto, o som ecoando por toda a sala, os olhos escuros do ômega arregalaram assim que o rosto virou com o impacto, a pele ardendo e pulsando rapidamente, levou uma das mãos até o local, incrédulo, os lábios rosados partidos, olhou para o príncipe a sua frente, toda a expressão suave de antes, foi substituída por uma de puro ódio, sua verdadeira face bem visível perante a todos.  


— Você enlouqueceu?! — Yoongi vociferou, erguendo uma das mãos para retribuir o tapa. 


No entanto, sua mão atingiu outro rosto, Jimin deu um passo à frente de Taehyung, recebendo o tapa por ele, ato que fez o rei de Esfenio sorrir, descrente. O príncipe de Abalone ainda estava chocado e absorto com a adrenalina de ter dado um tapa em Yoongi, no entanto, tateou pelo rosto avermelhado do criado, notando que seus olhos escuros estavam cheios de lágrimas. 


— Perdão, Jimin! — pediu, enquanto abraçava o criado. 


— Tudo bem, alteza, vamos subir, o senhor precisa de um banho e de descanso — pediu e o ômega o atendeu. 


Taehyung ignorou o Min que fuzilava suas costas, puxando o criado consigo pelos degraus, no entanto, parou ao ouvir a voz do rei, degraus abaixo. 


— É uma lástima que você tenha sido encontrado com vida, Taehyung, não sabe como orei para não — falou com desdém. 


Taehyung o olhou por sobre o ombro, umedecendo os lábios antes de dizer: 


— É... você fica melhor assim, majestade — disse, referindo-se à verdadeira face do ômega. — Lembre-se disto, tu não terá o que tanto deseja — falou, dando as costas ao ômega. 


Yoongi gargalhou, achando o ômega confiante demais para alguém que por muito pouco não perdeu a vida. 


— Ora... quem tu pensas que és? Tsc, seu verme... não importa quem eu terei de esmagar, eu terei o que quero! — Yoongi ditou, pronto para seguir o ômega, no entanto, parou assim que sentiu um toque em um dos braços. 


Seokjin limpou a garganta, desconfiado. 


— Vossa majestade não deseja que lhe vejam assim, correto? — questionou, com as sobrancelhas arqueadas. — Eles estão vindo, silêncio. 


Yoongi respirava com dificuldade, o peito subindo e descendo pesado, enquanto focava em sua audição, aos poucos o alfa soltou seu braço, o ômega o olhou de cima e estava pronto para dizer algo quando as vozes se tornaram mais presentes, o coração do rei disparou, atordoado não se moveu. Seokjin tomou a liberdade de segurar o rei por uma das mãos, puxando-o consigo até o corredor, o Min tropeçou enquanto caminhava rapidamente, arfando ao ser encostado com força em um dos pilares, olhou para o alfa com irritação, enquanto o príncipe pedia silêncio com o indicador, se divertindo com a situação. 


Ambos ficaram em completo silêncio enquanto ouviam passos cada vez mais próximos, Jeongguk, Hoseok e Jaehoon caminharam lado a lado em direção a biblioteca, e quando os lobos se afastaram o suficiente, abrindo as grandes portas do local, Yoongi olhou para o alfa, apoiou as duas mãos em seu peito e o empurrou para que se afastasse, arrumando suas próprias roupas. 


— Por que me ajudaste? — perguntou, curioso. 


Seokjin sorriu, um sorriso de canto, se aproximou novamente, apoiando um dos braços no pilar, o rosto consideravelmente próximo ao do rei, no entanto, Yoongi não se afastou, apenas o encarou com interesse. 


— Bem... majestade, acho que temos mais em comum do que pensávamos — falou, sorrindo ao finalizar. — Podemos ser bons amigos. 


Yoongi arqueou as sobrancelhas, um sorriso cúmplice surgindo pouco a pouco em seus lábios, sempre soube que Seokjin não tinha uma boa índole, no entanto, nunca havia reparado no quanto o alfa poderia ser interessante, portanto, olhou-o de cima a baixo. 


— Não se assustou com o que presenciou a pouco? — indagou, deslizando a ponta dos dedos pela camisa do alfa. 


Seokjin negou. 


— Tudo o que disseste ao príncipe só me fez ficar mais encantado, podes confiar em mim, majestade, posso ser um bom aliado para ti.  


Alfa e ômega se olharam intensamente, um sorriso suave se formou nos rosados do rei quando percebeu que sim, talvez Jeon Seokjin lhe fosse útil. 


No quarto de banhos, Taehyung deixou que as lágrimas saíssem, aquelas que segurou durante a presença de Hoseok, chorou, abraçando os joelhos, enquanto ouvia o criado enchendo um novo balde com água, jogando-a lentamente sobre sua cabeça, a água ficando escura e avermelhada com a sujeira de seu corpo dentro da banheira. Soluçou, sentindo o beta esfregar-lhe as costas. 


— E-ele... não — ofegou, tentando recuperar o fôlego. — Ele não foi ao meu encontro... ele desistiu de nós — sussurrou, sentindo o salgado das lágrimas no paladar. 


Jimin parou os movimentos com a esponja, os olhos ardendo, queria chorar, no entanto, mordeu o lábio inferior com força para se controlar, sentindo o gosto metálico no paladar. 


— Eu... eu sinto muito, alteza — murmurou, voltando a esfregar os braços do ômega. 


— É o fim... — sussurrou o Kim, absorto em seu sofrimento. — Minha vida mudou em tão pouco tempo... — sorriu entristecido, encostando a testa nos joelhos. — Yoongi tentou ceifar minha vida — confessou, surpreendendo o beta. 


— S-senhor? — Jimin largou o sabão vegetal, ajoelhando-se ao lado do príncipe, Taehyung levantou o rosto encarando-o completamente abalado. 


— Ele armou uma emboscada, homens estavam à minha espera na floresta, se não fosse por Jeongguk... — comentou, pensativo. 


— E-eu disse! Eu lhe disse senhor, disse para não confiar naquele lobo! — acusou, desesperado, lágrimas quentes finalmente escorrendo por suas bochechas. 


— Me desculpe... fiz todos se preocuparem por um sentimento que sequer vale a pena lutar... fui um tolo — murmurou, rendido a tristeza. 


Jimin não aguentou mais, com os lábios trêmulos chorou copiosamente, tomando a liberdade de abraçar-se ao pescoço do príncipe. Taehyung se surpreendeu, as bochechas se tornando quentes pela situação onde se encontrava, nu, molhado e vulnerável, apenas permitiu que o criado o abraçasse, fechando os olhos. 


— S-senhor.. perdão... eu deveria tê-lo impedido! — suplicou Jimin, culpado. 


Taehyung sorriu minimamente. 


— Você já fez muito, Ji... o que eu seria sem você? — perguntou suavemente, tocando o beta nas costas para acalmá-lo. 


Jimin fungou, não merecia aquela confiança, a culpa esmagava sua garganta, no entanto, já era tarde demais, afastou-se do príncipe com as bochechas avermelhadas, Taehyung sorriu para si, derramando mais lágrimas. 


— O que um lobo como eu, seria sem ti, alteza? N-não cometa outra loucura destas... nunca mais se ponha em risco, por favor — pediu, ganhando um sorriso maior do ômega. 


— Não farei, não se preocupe. 


Jimin continuou chorando enquanto terminava o banho do príncipe, desfez as tranças no cabelo do homem com dificuldade, alguns fios estavam embolados, penteou-os com todo cuidado possível, enquanto Taehyung permanecia em silêncio, as lágrimas já secas em suas bochechas, estava pensando, em tudo o que ocorreu nas últimas horas, não conseguia esquecer as súplicas de Hoseok por sua atenção, mexia consigo de uma forma inexplicável, no entanto, não queria render-se aos sentimentos. 


Aceitou o tecido que Jimin lhe ofereceu para secar-se, seguindo com o beta até seus aposentos. 


— Amanhã irei até a feira, comprarei ervas para tratar seus ferimentos, alteza — informou ao Kim, ajudando-o a sentar-se em frente a penteadeira. 


— Obrigado — agradeceu, recordando-se dos momentos de angústia que passou. 


Jeongguk surgiu em suas lembranças, o beta estava furioso, os olhos negros com faíscas esverdeadas, os punhos em carne viva após matar dois homens. O corpo do ômega se arrepiou inteiro em medo puro com a recordação, voltando sua atenção para o criado que penteava seus cabelos úmidos. 


— O que fará, alteza? Dirá ao vosso pai sobre o rei Yoongi? 


— Eu vou me vingar — anunciou, surpreendendo o beta. 


Jimin arregalou os olhos, cessando os movimentos. 


— O-o o que? 


— Dizer a todos a verdade, não seria punição para aquele ômega — garantiu, a testa franzida e uma expressão determinada. 


Jimin estava boquiaberto, jamais havia visto seu senhor com aquela expressão, muito menos com o olhar tão distante. 


— S-Senhor, o que irá fazer? este homem é muito perigoso, por favor...


— Eu sei. E também sei o que devo fazer, confie em mim — pediu, tocando uma das mãos do criado. 


Contrariado, Jimin engoliu em seco, voltando a pentear os cabelos do príncipe, Taehyung estava sério em seus pensamentos, encarando o próprio reflexo no espelho, os olhos castanhos com faíscas douradas quando fez a si mesmo uma promessa. 


— Ferir-lo com uma espada não doeria tanto quanto o que planejo fazer, Jimin, você verá — concluiu, determinado. 


Jimin não lhe respondeu, apenas continuou seu trabalho, algo no íntimo do lobo fazendo todos os seus pelos eriçarem, apreensivo. 


[...] 


Taehyung estava faminto. A comida nunca lhe pareceu tão saborosa quanto estava sendo, com as mãos e a boca cheia, aproveitava após um dia assustador, quando por pouco não perdeu a vida. Jantava em seus aposentos, não quis se juntar aos demais na sala de jantar, ainda não estava pronto para encarar a todos e dar explicações, muito menos, para ver Hoseok outra vez, iria adiar ao máximo, portanto, pediu a ajuda do criado outra vez, para dizer a todos que ainda estava se recuperando e que gostaria de jantar sozinho. 


Jimin levou para si uma bandeja farta, soube pelo criado que Jeongguk ordenou que os cozinheiros do castelo preparassem uma ceia reforçada para comemorar a volta do ômega, portanto, havia faisão, carneiro e porco. Havia também uma tigela de sopa, frutas, os melhores pães do castelo e uma fatia de manjar. O ômega bebeu mais um gole da água em sua taça, quando ouviu batidas leves na porta de seu quarto, engoliu o pedaço de pão que comia antes de pedir para que a pessoa entrasse. 


Se tratava do Park, o beta havia ido até a cozinha preparar um chá para seu senhor, a fim de ajudá-lo a ter uma boa noite de sono. 


— Preparei um chá de erva-cidreira, alteza, lhe ajudará a ter uma boa noite de sono, estará renovado ao amanhecer — falou, enquanto seguia até a penteadeira, deixando a bandeja com a caneca de chá. 


Taehyung sorriu para si.


— Obrigado, Jimin, já estou satisfeito — anunciou, permitindo que o criado pegasse a bandeja quase vazia de seu colo. 


— Se não precisar mais de meus cuidados, peço permissão para ir me deitar — pediu, de maneira formal. 


— Claro, Ji, pode ir descansar, nos vemos ao amanhecer, tenha uma boa noite. 


— Igualmente, alteza.  


Jimin lhe fez uma reverência, saindo do quarto segundos depois, deixando Taehyung completamente sozinho. O ômega deitou-se na cama, as mãos sobre o ventre, encarou o teto, pensativo, até que novas batidas na porta de seu quarto chamassem sua atenção, e acreditando se tratar do criado, apenas pediu para que entrasse, se surpreendendo ao ter a visão de Hoseok bem a sua frente, seu coração naturalmente disparou no peito. 


O alfa ergueu o indicador em frente aos lábios, pedindo silêncio ao notar os lábios partidos do ômega, fechou a porta devagar, passando a chave para trancá-la. Taehyung rapidamente ficou de joelhos na cama, os olhos arregalados e o coração disparado, seu rosto esquentou naturalmente a medida em que o cheiro do alfa adentrava suas narinas, também porque estava em suas roupas íntimas, trajando a camisola longa e de linho, abaixou a cabeça, focando nas coxas cobertas pelo tecido. 


— O... o-o que está fazendo aqui? — questionou, a voz soando trêmula aos ouvidos do alfa. — Não deveria entrar nos aposentos de um ômega tão tarde da noite. 


— Vim para conversar contigo — anunciou, aproximando-se do ômega na cama. 


— Não temos nada a conversar, alteza — respondeu, irredutível, ainda sem encarar o alfa. — Peço que saia de meus aposentos. 


— Não sairei, não antes de conversarmos — anunciou, chamando a atenção do ômega. 


Aos poucos, Taehyung levantou o rosto, incapaz de esconder sua tristeza e decepção, encarou o alfa com os olhos cheios de mágoa, o lábio trêmulo preso entre os dentes. Hoseok franziu a testa ao vê-lo assim, feria seu coração, portanto, tomou a liberdade de abraçar o ômega, os braços firmes envolveram o corpo trêmulo que aos poucos, relaxou, entregando-se, sentiu a respiração do Kim bater contra seu pescoço, quando o príncipe agarrou-lhe pela camisa, as mãos firmes em suas costas, retribuindo com desespero seu abraço, liberando algumas lágrimas. 


Permaneceram em silêncio um pouco mais, pelo menos, até os soluços e a voz embargada do ômega soarem mais alto. 


— F-foi horrível, Hobi... pensei que... que não sobreviveria... tive tanto medo... — confessou, soluçando. 


Hoseok levou uma das mãos até a cabeça do ômega, fazendo carinho em seus cabelos macios, a testa completamente franzida em culpa. 


— Por Deus... Jeongguk nos contou que você quase foi morto, Tae — disse Hoseok, afastando-se do ômega para olhá-lo, as duas mãos segurando seus braços. — Aqueles ladrões feriram você... e eu não estava lá para protegê-lo — concluiu, uma expressão de completa agonia. — Perdão! 


Hoseok estava aflito e embora não quisesse, isso aqueceu o coração do ômega, por alguns segundos esqueceu-se da carta que havia deixado e de como o alfa não foi ao seu encontro, sentenciando assim, o fim de seu relacionamento, este fato fez com que todo o calor em seu coração diminuísse, rapidamente, dando lugar a uma sensação gelada em seu estômago. 


— Nunca... nunca mais faça algo assim, Tae... nunca mais fuja, eu não suportaria perdê-lo. 


Taehyung emitiu um som de desgosto, era como se as palavras do alfa o ferisse ainda mais. 


— Mas... você já perdeu, Hoseok — sussurrou, magoado, encarando o alfa com olhos brilhantes. — Desistiu de nós.


Hoseok pariu os lábios. 


— Tae... — Hoseok murmurou, sem saber bem o que dizer, soltando os braços do ômega. 


Lágrimas escorreram pelo rosto do príncipe de Abalone, enquanto apoiava as mãos no colchão, colocando as pernas para fora da cama. 


— Acabou... deixemos como está — decretou, surpreendendo o alfa. 


— Taehyung... do que está falando? Até dias atrás tu me amavas... como podes dizer isto? 


Taehyung fechou os olhos, sentindo mais e mais lágrimas quentes, era muito difícil, mas teria de ser forte, portanto, respirou fundo, decidido. 


— Quando tentei fugir, eu tomei uma decisão... assim como tu tomaste a sua ao abandonar-me — ditou. 


— Decisão? Do que está... 


— Nosso romance acabou, Hoseok.  


Hoseok deu dois passos para trás, atordoado, era como se tivesse recebido um golpe, balançou a cabeça em negativa, não poderia ser real, portanto, tocou o ômega novamente nos braços, desta, segurando-o mais firmemente. 


— Não... não, Taehyung! Como pode me dizer isto? Eu sei que tu me amas! 


— Da mesma forma que me disses noites atrás! — aumentou o tom de voz, magoado. — Foi você mesmo quem disse que eu teria que me casar com vosso irmão, tu me deu as costas e foi embora... mesmo quando implorei para que tivesses coragem... p-para que ficássemos juntos... então... do que adianta? Por que devo lutar sozinho? — perguntou, olhando-o nos olhos escuros. 


Agora, Hoseok chorava, lágrimas rápidas desciam por suas bochechas, deixando-o incapaz de pensar racionalmente. 


— M-meu amor... 


Taehyung virou o rosto, incapaz de olhar o alfa outra vez. 


— Solte-me, está me machucando — pediu, sentindo o aperto nos braços acabar. — Estou decidido, Hoseok, não irei voltar atrás. 


— Não! P-podemos... podemos lutar juntos! — vociferou, ofegante com o choro. 


As palavras do alfa cortaram seu peito como lâminas afiadas. 


— É tarde demais! — Taehyung devolveu. — É tarde demais... tarde... t-tarde demais — repetiu, fechando os olhos, cansado — Eu não quero mais sofrer, Hoseok... talvez seja mesmo o meu destino casar com... com vosso irmão... não tenho porque lutar contra isso. 


Hoseok não compreendia. Dias atrás faziam juras de amor e agora, Taehyung quem sempre fora o mais otimista, havia perdido as esperanças, sabia que havia errado quando foi covarde ao ponto de aceitar a decisão do irmão, quando foi covarde o suficiente para não contrariar a decisão do rei, no entanto, ouvir da boca do ômega que tudo estava acabado era pior do que ser apunhalado pelas costas, não pensou que pudesse doer tanto, cambaleou para trás, uma das mãos indo para a boca, abafando seus soluços, não conseguia enxergar tamanha era a quantidade das lágrimas, e ao ouvi-lo desabar, Taehyung não aguentou, chorou junto, estava sendo como arrancar um pedaço de seu coração do peito. 


— H-hoseok... por favor... vá — suplicou, apertando o tecido da camisola sobre os joelhos. — Eu imploro... vá embora... eu não posso... não posso mais... não... 


E as palavras angustiadas do ômega foram como novos golpes, então o alfa compreendeu tudo. Jimin estava certo, Taehyung havia desistido de seu amor e a culpa era toda sua, o ômega havia fugido não somente do castelo, também havia fugido de si, era insuportável permanecer na sua presença, era possível que o odiasse agora, então... por que insistir? O alfa partiu os lábios, tentando respirar, secou as lágrimas das bochechas desajeitadamente, as mãos estavam trêmulas, olhou para o ômega quase encolhido na cama. 


Taehyung apertava o tecido da camisola, os olhos fechados com força e uma expressão de dor em seu rosto, não queria causar ainda mais mal ao homem que amava. 


Forçou as pernas a se movimentarem, era como se estivesse paralisado no lugar, no entanto, não aguentava mais ver Taehyung sofrendo, sabia que grande parte do sofrimento do ômega era por sua causa, o príncipe quase perdeu a vida por sua causa, tudo por ser um covarde, não merecia o amor do Kim, não... como pôde ser tão egoísta? Pensando nisso, o alfa deu-lhe as costas, e como na noite onde assinou a sentença de seu relacionamento, permaneceu segurando a maçaneta por alguns segundos, esperando, até que pela primeira vez, teve coragem suficiente. 


— Estarás sempre em meu coração. 


Foi tudo o que o ômega ouviu antes da porta abrir e se fechar, deixando-o mergulhado em sua própria angústia e melancolia. 


[...] 


Taehyung chorou até adormecer. Mas nem quando as vistas arderam, sua cabeça latejou e sentiu o corpo pesar, o ômega conseguiu descansar. Estava sonhando, ainda estava preso na cabana, conseguia sentir a adrenalina e o medo, o corte da lâmina em seu rosto, as vozes asquerosas dos homens rindo a sua volta, mexia-se um lado para o outro, suor escorrendo pela testa, lábios partidos enquanto balbuciava algo, no sonho, Jeongguk não veio lhe resgatar, e quando um dos homens o apunhalou no estômago, o príncipe despertou de súbito. 


Sentado na cama, o ômega apoiou a testa nos joelhos, havia uma sensação ruim na garganta, um aperto terrível, seu coração estava disparado, secou o suor com uma das mãos, aproveitando que o chá que Jimin havia preparado ainda estava intocado, bebendo-o e recuperando o fôlego, tudo não passava de um sonho ruim, embora sua realidade não fosse tão diferente, pois todas as vezes em que fechava os olhos, ainda conseguia visualizar a dor que causou ao alfa. 


Inevitavelmente, Hoseok sempre estaria em seu coração. 


Incapaz de dormir outra vez, o ômega resolveu sair do quarto, tomar um pouco de ar lhe pareceu uma boa ideia, abriu a porta lentamente, notando os corredores escuros e vazios sendo iluminados apenas pelas chamas das velas, não havia nenhum guarda no momento, portanto, pegou um dos candelabros levando-o consigo. Caminhou devagar, os pés descalços, desceu as escadas lentamente, apoiando-se no corrimão, por sorte, a porta que levava até o jardim estava entreaberta, do contrário faria muito barulho. 


Ao estar do lado de fora, apenas inspirou o ar puro profundamente, o candelabro fora deixado na beira da fonte onde se sentou, olhou para o céu cheio de estrelas com saudades, recordando-se das vezes em que as observou junto com Hoseok, novamente sentiu-se angustiado, portanto, levantou-se e caminhou em direção ao parapeito, dali conseguia ver as terras de Nácar. 


Estava entretido observando a terra avermelhada e mais escura pela noite, os cabelos soltos balançavam suavemente com uma brisa fresca, apoiou as duas mãos no parapeito e fechou os olhos, finalmente conseguindo um momento de paz em meio a tanto caos. 


— Também não consegue dormir, alteza? 


Taehyung abriu os olhos de súbito, assim que ouviu a voz de Jeongguk, olhando para o lado, o ômega encontrou o beta, e a forma como ele se encontrava deixou o príncipe envergonhado, as bochechas tornando-se cada vez mais quentes a medida em que o beta se aproximava tranquilamente, ele usava apenas uma calça de linho, a parte de cima estava despida, deixando a vista do Kim seu peitoral cheio de pelos escuros, os braços grandes expostos, a barriga trincada e muitas, muitas cicatrizes em toda a pele. 


— J-jeongguk... — Taehyung se atrapalhou, abrindo e fechando a boca várias vezes, sem saber o que fazer, ou para onde olhar, portanto, optou pela lua bem acima dos dois. 


Jeongguk esboçou um sorriso, parando ao lado do ômega. 


— Parece que nós dois tivemos a mesma ideia — insistiu, tentando puxar assunto com o príncipe. 


No entanto, Taehyung permaneceu em silêncio, ainda estava bastante surpreso, não imaginou que fosse encontrar o beta ali, portanto, após alguns segundos ensurdecedores, resolveu que seria melhor voltar para seus aposentos, afastou as mãos do parapeito. 


— Como está se sentindo, alteza? 


Porém, a pergunta do príncipe fez com que permanecesse no lugar. 


— B-bem... bem melhor — respondeu, inquieto. 


Aos poucos, Taehyung virou-se para o Jeon, ele estava de costas para si, costas largas e repletas de cicatrizes que chamaram a atenção do ômega, algumas mais leves, outras mais grossas, o beta estava debruçado no parapeito, olhando para a lua, quando de súbito virou-se para lado, para o ômega. 


— Fico feliz em ouvir isso — revelou. — Tive um sonho ruim... sonhei com o dia de hoje... mas nele, eu não conseguia salvá-lo — concluiu, fazendo os olhos castanhos dobrarem de tamanho. 


— O... que? — sussurrou, impactado com a informação de que haviam sonhado com a mesma coisa. 


Não poderia ser possível, tamanha coincidência, mas a expressão endurecida no rosto do beta demonstrava que ele não estava brincando ou mentindo, e isto, deixou o príncipe ainda mais confuso. 


— Tsc... não me perdoaria nunca, alteza — confessou, a testa franzida e um dos punhos fechados, aparentemente irritado. — Aqueles malditos.. — resmungou, entredentes, pesando o ar ao redor dos dois. 


Taehyung piscou os olhos rapidamente, absorvendo suas palavras e reações. 


— B-bem... tu me salvaste, não se martirize tanto — falou, forçando um meio sorriso em uma tentativa de tranquilizá-lo.  


Jeongguk olhou para si, as orbes escuras fixas em seu rosto quando se aproximou a passos lentos, o ômega deu um passo para trás, ainda sim, o beta não recuou e quando esticou uma das mãos para tocar o príncipe no rosto, Taehyung não se afastou, apenas reagiu ao seu toque, sentindo a mão calejada e de pele grossa acariciando-o, fechou os olhos e os abriu ainda mais brilhantes, em seguida. 


O beta passeou com o polegar sobre o corte na bochecha do ômega, analisando-o e quando o polegar desceu até o canto do lábio arroxeado, esfregando-o ali, seu coração sofreu um solavanco. Taehyung franziu a testa, segurou o pulso do beta com as duas mãos, umedecendo os lábios secos. 


— A-acho... acho melhor ir me deitar — anunciou, nervoso, soltando o pulso do beta tão rápido quanto o tocou. 


— Não, não vá ainda, gosto da vossa companhia — pediu, com os olhos escuros brilhantes enquanto pedia. 


Em outras circunstâncias, Taehyung não se importaria com o pedido do beta, diria alguma coisa grosseira a ele e o ignoraria, mas após tudo o que havia acontecido entre os dois, permaneceu no lugar atendendo seu pedido. 


— Dói? — perguntou o Jeon, referindo-se aos ferimentos em seu rosto. 


Taehyung negou devagar. 


— Arde, mas consigo suportar. 


— És mais forte do que pensei. 


Jeongguk respondeu, sorrindo, Taehyung desviou o olhar, mudando de assunto.


— Eu... eu também tive um sonho ruim, e agradeço aos céus por ter sido apenas um sonho — revelou, as mãos juntas em frente ao corpo, esfregou os dedos, ansioso — Aliás... obrigado, alteza, se tu não tivesses me encontrado... 


— Não agradeça, apenas não fuja.   


A voz grave e séria de beta chamou a atenção do príncipe, Taehyung olhou para Jeongguk com atenção, o príncipe parecia tão determinado, e... se o conhecesse, arriscaria dizer que o mais velho estava realmente preocupado. 


— E-eu não... eu não vou. 


Jeongguk sorriu outra vez, aliviado. O ômega nunca havia o visto sorrindo tanto, ou talvez, apenas não prestasse atenção no beta, em seu íntimo, chegou a pensar que o Jeon era incapaz de sorrir tão verdadeiramente, o sorriso lhe deixava com uma expressão mais amigável, — até adorável — a mente do ômega não deixou de pontuar, mas ignorou, focando, era tão diferente da assustadora que presenciou na cabana. 


Seus devaneios foram interrompidos ao ouvir o Jeon chamando sua atenção. 


— Ah... não sabe o quanto ouvir isto me alegra, sabes o motivo? — questionou em um tom brincalhão. 


Taehyung apenas negou, inocente. 


— Por que isto significa que ainda tenho uma chance para conquistá-lo, alteza — falou, aumentando o sorriso ao notar a expressão assustada de Taehyung. 


Por alguns minutos, o ômega se esqueceu de que o príncipe era capaz de ser tão inconveniente quanto o irmão do meio, afinal, eram do mesmo sangue.   


Jeongguk inclinou-se em direção ao Kim, ficando ainda mais próximo, um sorriso de orelha a orelha, estava presente em seu rosto, e toda essa simpatia já estava assustando o ômega, Kim ficou desconcertado, e quando ameaçou se afastar andando de costas, acabou por tropeçar nos próprios pés, sentiu todo o peso do corpo indo para trás, o coração quase saltando pela garganta, quando os braços grandes e fortes do beta lhe deram apoio, segurando-o em uma posição inclinada e nada confortável, o Jeon era quem mantinha todo o seu equilíbrio. 


— Parece que ainda não se recuperou totalmente, deixe-me ajudá-lo — disse, tranquilamente. 


Taehyung estava boquiaberto, todo o calor do beta queimando sua pele, quando Jeongguk passou um de seus braços sobre o ombro, pedindo para que segurasse firme, arregalou os olhos, apoiando uma das mãos no peito do homem para detê-lo antes que o retirasse do chão. 


— J-jeongguk! E-eu consigo andar! — falou, atordoado, ouvindo um risinho de deboche vindo do príncipe. 


— Não se envergonhe, alteza, já segurei animais mais pesados em meus braços — provocou, notando o espanto e indignação nos olhos castanhos. 


— Isto é... é um ultraje! Solte-me, depressa, eu ordeno! — mandou, dando alguns tapinhas no peitoral do beta. 


Jeongguk riu. 


— Ah... tu disseste para erguê-lo depressa? É isso? Como és mandão, alteza, está bem... seus pedidos são ordens esta noite — zombou, ignorando os pedidos do ômega. 


Sem delongas, Jeongguk passou o braço livre por baixo das pernas do príncipe ignorando seus protestos, retirando-o do chão, tudo o que Taehyung conseguiu fazer foi fechar os olhos com força e agarrar-se ao pescoço do beta, unindo os lábios para conter a vontade intensa de gritar com a sensação estranha dos pés balançando no ar, era inadequado, tão... tão inadequado, não conseguia parar de pensar. 


Não abriu os olhos, não antes de sentir a maciez de sua cama, foi incapaz de encarar o beta durante todo o percurso até o quarto, embora ele tenha lhe provocado para tal, os braços quentes e firmes do homem traziam-lhe segurança, se aliviou ao sentir o colchão abaixo de si, só assim, sentiu que poderia voltar a respirar. 


— Durma, alteza — Jeongguk disse, olhando para o ômega imóvel na cama — Não se preocupe, aqui tu estarás seguro, não permitirei que lhe façam mal — garantiu, dando-lhe as costas e seguindo em direção a saída. 


Antes que o beta saísse do quarto, Taehyung sentou-se na cama de súbito, agitado e com a garganta seca, o ômega disse a única coisa que conseguia no momento.


— J-jeongguk... eu... obrigado. 


Jeongguk segurou a maçaneta, abrindo a porta. Esboçou um sorriso novamente, antes de sair sem dar uma resposta ao ômega. Taehyung deixou que o corpo cansado afundasse no colchão, as mãos lentamente parando sobre o coração agitado. 


Havia sentido muitas coisas ao longo do dia, estava um turbilhão de pensamentos e ainda sim, ao fechar os olhos, Taehyung adormeceu rapidamente, as palavras de conforto do beta sendo o suficiente para acalmá-lo. 


[...] 


O ômega despertou com carinhos suaves no cabelo. Jimin estava sentado ao seu lado na cama, mas assim que notou os olhos castanhos se abrindo, o criado se levantou de súbito, as bochechas esquentando em vergonha por sua imprudência, já que não deveria estar tocando o príncipe tão intimamente assim, fingiu mexer em algumas coisas sobre a penteadeira, mas quando o príncipe o chamou, notou que ele não havia se incomodado, já que sorria amavelmente para si, como em todas as manhãs. 


Ambos se saudaram com um bom dia, logo o criado saiu para preparar um banho ao seu senhor, o clima de Nácar era completamente diferente de Abalone, Taehyung costumava se banhar apenas uma vez ao dia, mas naquele reino, era quase certo de que precisaria de no mínimo dois, fazia muito calor, demoraria para se acostumar. 


Jimin puxava a faixa verde-escuro em sua cintura, amarrando-a com firmeza. O ômega estava usando uma túnica verde-agua, seus cabelos longos estavam parcialmente soltos, uma parte estava enrolada em um coque preso com dois pauzinhos de madeira com flores de laranjeira como efeite, estava bonito, e deu uma volta em frente ao espelho antes de sorrir para o beta ao seu lado. 


Jimin não deixou de pensar em como as coisas seriam em diante, e em sua parte mais egoísta, desejou que o motivo do sorriso do ômega não fosse Hoseok. 


Na sala de jantar, quase todos já estavam à mesa sendo servidos, faltando apenas a presença do ômega. Comeram em silêncio, quase todos, pois Hoseok apenas remexia os alimentos no prato, Jae-hoon estava inquieto, o rei não parou de pensar durante toda a noite, e ao olhar mais uma vez para o rosto do príncipe de Nácar, tomou sua decisão, levantando-se e chamando a atenção de todos ao arrastar a cadeira pesada. 


— Quero aproveitar a presença de todos, para dizer-lhe minha decisão referente ao seu noivado com meu filho, alteza — direcionou as falas a Jeongguk. 


O beta bebeu um gole de água, aguardando, e quando o rei se curvou em uma reverência a si, sentiu algo desconfortável se alastrando pelo estômago. 


— Eu recuso, alteza. Agradeço por suas boas intenções, agradeço por ter salvo a vida de meu filho, Abalone e eu seremos eternamente gratos, poderá sempre contar conosco... no entanto... — parou, endireitando-se e olhando no fundo dos olhos do beta. — Taehyung é meu filho, meu bem mais precioso, e não é de sua vontade casar-se contigo... ele colocou sua vida em perigo por isso e não posso permitir que ocorra outra vez, portanto, peço que me desculpe, voltaremos para Abalone ainda hoje — pediu, juntando as mãos em frente ao corpo. 


Jeongguk estava boquiaberto e sem sequer perceber, seu coração disparou no peito com a sentença do mais velho, uma angústia repentina esmagando sua garganta. Hoseok parou de mexer a comida, erguendo os olhos para o rei enquanto falava, foi impossível para o alfa não sentir-se aliviado, esperança cintilando em seu interior, Seokjin permaneceu em silêncio, mas seus olhos atentos voltaram-se para o rei de Esfenio, o ômega estava sentado ao lado de seu irmão mais velho e estava nítido no rosto do Min, o quanto havia ficado contente com a decisão do rei, o sorriso gengival quase surgindo, Jin soltou um risinho nasal, voltando a comer. 


— Majestade, nã... — disse Jeongguk, levantando-se e tentando intervir. 


No entanto, o beta se calou assim que as portas rangeram anunciando a chegada de alguém, e roubando as palavras de sua boca, Taehyung fora quem respondeu ao pai, curvando-se em respeito logo em seguida. 


— Não! — falou em tom alto e claro, surpreendeu a todos. — Por favor, meu pai, reconsidere — pediu, endireitando-se. 


Taehyung respirava com dificuldade, o peito subindo e descendo com força, se negou a olhar para Hoseok, mas conseguia sentir o olhar do alfa pesando sobre si, no entanto, concentrou-se no pai surpreso, os olhos castanhos e fundos arregalados com sua intromissão, não fazia sentido. 


— Meu filho... não compreendo... 


— Por favor... permita que eu me case com o príncipe Jeongguk — pediu, as bochechas esquentando rapidamente. 


Dentre todos, não se sabia ao certo quem estava mais surpreso, no entanto, Jeongguk franziu a testa completamente confuso para logo, curvar os lábios para cima em um sorriso vitorioso, incapaz de controlar. 


— Tu... tu estás certo disto, meu filho? — perguntou o rei, olhando do filho para Hoseok a mesa. 


O alfa parecia paralisado, os olhos escuros estavam arregalados, não conseguia ouvir mais nada, as palavras do ômega apenas se repetiam em sua mente. 


Determinado, Taehyung voltou o olhar para o único ômega sentado à mesa. Os olhos castanhos permaneceram sobre Yoongi, e quando os olhos escuros do Min voltaram-se para os seus, pode sentir ódio emanando deles, o ômega estava com o rosto corado, as sobrancelhas unidas e as narinas dilatadas, o sorriso de antes havia dado lugar a uma linha fina e esbranquiçada nos lábios, exatamente a reação que o príncipe queria, iria vingar-se e nada melhor do que atingir o rei com aquele que mais amava. 


Yoongi queria tanto Jeongguk ao ponto de ser capaz de matar, e Taehyung não poderia permitir que o ômega conseguisse o que tanto queria, não após tentar ceifar sua vida, ele precisava pagar. 


Taehyung estreitou os olhos, esboçando um pequeno sorriso ao ômega, Yoongi piscou os seus rapidamente, a garganta se movendo enquanto engolia um gosto amargo, a faca que segurava acabou sendo fincada contra a madeira, enquanto o rei tentava controlar a raiva que estava sentindo, principalmente, após ver o Kim sorrir, agarrou a borda da mesa, os dedos fincando e as unhas descascando tamanha era a força que estava fazendo. 


E foi encarando o rei Min Yoongi, que Taehyung repetiu claramente o que queria. 


— Estou certo, meu pai, é de minha inteira vontade casar-me com Jeongguk, por favor, peço vossa permissão — pediu, a língua contra o céu da boca ao finalizar. 


O ômega conseguiu ver em primeira mão quando a primeira lágrima desceu pelo rosto de Yoongi, os olhos do ômega estavam muito avermelhados, Taehyung nunca se sentiu tão bem, uma sensação vitoriosa se apossou de seu corpo, era bom, o gosto da vingança, jamais havia sentido algo parecido, ver o Min chorar era motivo de alegria para si, portanto, se controlou para não sorrir abertamente, voltando seu olhar para o pai. 


Jae-hoon juntou os lábios partidos, ainda muito surpreso, passou uma das mãos sobre o rosto, respirando fundo antes de responder. 


— Bem... se é de sua vontade, meu filho, creio que tenhamos que enviar uma carta a vosso irmão em Abalone, para anunciarmos o noivado. 


Desta vez, Taehyung sorriu abertamente, se curvou agradecendo ao pai e recebeu um abraço dele, enquanto estava seguro contra o peito do mais velho, o ômega finalmente procurou por Hoseok, no entanto, o alfa não estava presente, foi inevitável que seu coração pesasse dentro do peito, decepcionado, todavia, não voltaria atrás, era melhor assim, teria de esquecer Hoseok, por seu próprio bem. 


Os olhos castanhos e distantes encontraram com os escuros de Jeongguk, o beta sorriu para si, o mesmo sorriso que lhe ofereceu no jardim, e de forma curiosa, Taehyung sentiu um calor estranho alastrar lentamente em seu peito. 


Sorriu de volta, um sorriso sem jeito e de lábios unidos, dando-se conta de um importante e assustador fato, esquecido enquanto punha sua vingança em prática. 


Agora, Jeon Jeongguk, seria o seu marido. 























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