EXCÊNTRICO • jjk + pjm

By whaliephoria

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[EM ANDAMENTO] Em uma noite regada por música alta e luzes escarlates, Park Jimin encontrou Jeon Jungkook, e... More

00. Menu
01. Fulgor Escarlate
02. Conexão Elementar
03. Pecado Irremediável
05. Quer comer lámen comigo?
06. O início

04. Eu quero ser seu

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By whaliephoria

Demorei, mas voltei!

Desde a última atualização, Excêntrico recebeu novos leitorinhosss!!! Sejam bem-vindos, anjinhos, é uma honra ter vocês aqui comigo.

Apareci nesse início de cap para pedir que, a todos que lerem até o final, comentem o que acharam (se possível) e por favooooor, não esqueçam de deixar a estrelinha!! Eu preciso saber se vocês estão gostando ou odiando isso aqui 😔

No mais, espero que tenham uma boa leitura. Se tudo correr como o esperado, vocês vão sair desse cap querendo ser ou ter o Jungkook 👀 depois me contem o veredicto final!

☽☾

UTOPIA CLUB
Sexta-feira, 10:02pm.

"Eu quero te fazer pecar".

Já fazia algum tempo desde que chegara à boate, desde que reencontrou Jungkook e ambos sentaram-se juntos, desfrutando da primeira dose alcoólica que foi a responsável por dar as boas vindas ao início da noite.

Músicas de diferentes estilos e diferentes artistas tocaram, nomes foram apresentados para um e outro, conversas se entrelaçaram em assuntos banais no pequeno grupo que despretensiosamente se formou durante as horas que decorreram.

Sentados juntos no sofá extenso, Jimin ouviu Hoseok falar sobre o período infernal que passou cursando Direito, anos atrás; viu o garoto de cabelos azuis e olhos astutos, que agora conhecia como sendo Taehyung, sorrir a cada palavra dita pelo seu amigo; um sorriso sugestivo, meio bêbado, mas que nada pecava em demonstrar as intenções do dono.

Eram muitas informações para assimilar, mas Jimin estava sóbrio o bastante para absorver tudo com exímia compreensão, caso quisesse. Caso conseguisse.

Entretanto, a única coisa na qual ele conseguia pensar era na voz rouca sussurrando em seu ouvido:

"Eu quero te fazer pecar. Comigo. Em mim".

Jimin não era exatamente um homem religioso. Possuía as próprias crenças, como todos os seres humanos tendem a ter, mas viveu anos o suficiente para perceber que suas convicções e dúvidas eram distintas e contraditórias demais para caberem numa definição só.

No entanto, enquanto sua mente passava e repassava aquelas palavras, proferidas com tanta sensualidade e dotadas de tantos pormenores, Jimin começou a pensar que, se o inferno de fato existia, devia ser ali. Bem ali, em uma ambiente marcado pela presença ardente de Jeon Jungkook, rindo num tom suave que soava perturbador em seus tímpanos.

O perfume doce o embalava numa vertigem excitante. Sentia o odor adentrar as narinas e se instalar em cada parte de seu corpo, alojando-se em cada terminação nervosa. Para piorar, embora não tivesse bebido nada além de um copo de Mojito, seus sentidos estavam aguçados — o que não seria um problema, se não fosse o fato da coxa do garoto estar roçando a sua desde que se acomodaram um ao lado do outro.

Ele não sabia se era proposital ou não, mas algo lhe dizia que, sendo Jungkook o referente, a resposta tenderia a ser mais positiva do que negativa.

— E você, Jimin? — Ouviu seu nome ser evocado, arrancando-o dos devaneios indecentes que atravessavam sua cabeça.

— Hm? — Virou o pescoço, vagando o olhar pelos três rostos que o observavam em expectativa, aguardando por algo a mais. Não havia distinguido quem fez a pergunta, tampouco sabia do que se tratava.

— Fala um pouco sobre a Revolução Industrial pra gente — Jungkook disse, arqueando uma das sobrancelhas simétricas. Jimin imitou o gesto, confuso, ao passo que os outros dois riram.

— Ele 'tá te sacaneando — Taehyung esclareceu, o sorriso quadrado nunca esvaindo do rosto estupidamente perfeito. — Eu perguntei quantos anos você tem, para que possamos usar os honoríficos certos. Conversamos tanto sobre nossas vidas e as dos outros que esquecemos do básico — riu.

Finalmente situando-se do assunto, Jimin anuiu antes de responder:

— Tenho trinta.

— Trinta? — Jungkook repetiu, incrédulo com a nova informação. Da primeira vez que fizera a mesma pergunta, não havia recebido uma resposta concreta, mas, até então, acreditava que o homem ainda estava na casa dos vinte anos.

Não que a realidade o incomodasse. Pelo contrário, saber que Jimin tinha alguns anos de experiência a mais que ele o deixou estranhamente interessado.

— Woah... Eu nunca diria que você é o mais velho entre nós — o garoto de cabelos azuis comentou, expressando o mesmo choque que o melhor amigo.

— Ele tem cara de novinho, né? — Hoseok acrescentou, encarando o colega de trabalho. — Eu não daria mais que vinte e cinco anos pra esse rostinho de bebê.

O gerente de setor exalou uma risada descontraída. Não era a primeira vez que lhe diziam algo parecido.

— Para mim isso é um elogio, embora meus vinte e cinco anos tenham sido um tanto conturbados — contou, ciente da atenção dos olhos de ônix sobre si.

— É mesmo? Espero te encontrar outras vezes para saber mais sobre sua época apocalíptica — Taehyung piscou para ele, em sua pose natural de galã de novela.

Não estava flertando; longe disso. Na verdade, aquela era uma manifestação sutil da alma fofoqueira que habitava seu cerne. Adorava ouvir histórias bombásticas que fariam até Deus duvidar da veracidade dos fatos.

— Então Jimin é nosso hyung — a voz de Jungkook retumbou em seus ouvidos, parecendo alta além do necessário. No entanto, sabia que era só seu corpo reagindo à agonia causada pelo garoto tão próximo a si.

Como era possível se sentir tão desconcertado? Não era mais um adolescente; para sua melancólica percepção, estava bem distante do período fatídico que marcou sua transição entre a infância e a vida adulta. A sensação de pernas trêmulas, mãos suadas e a inquietação inexplicável de um extremo ao outro haviam ficado no passado.

Acreditava ter ficado. Mas, naquele momento, precisou repensar a própria crença.

Sentia-se patético. O coração batendo frenético dentro do peito parecia formar um par de dança desengonçado com as batidas da música amplificadas nas saídas de som da boate.

Patético.

E, acima de tudo, estranho. Era estranho sentir algo que não sentia há tanto tempo, tanto que mal se recordava de como era.

Sentir se tornou um conceito abstrato para Jimin. Tinha seus casos esporádicos e escassos, mas que nunca iam para frente, porque ele não tinha tempo nem disposição para um relacionamento duradouro. Assim, a apatia virou uma melhor amiga sem que se desse conta, reduzindo-o a somente mais um ser que inalava oxigênio e exalava gás carbônico vinte e quatro horas por dia.

Foram meses e meses sentindo-se dessa forma. Agora, entretanto, estava desperto, percebendo cada nuance das reações que um simples toque superficial causava em seu sistema nervoso.

— Goo, está na hora! — Taehyung anunciou, levantando-se num pulo do sofá em semicírculo.

Jungkook não demorou para entender sobre o que o amigo falava; colou a boca ao gargalo da longneck que segurava e virou o resto da cerveja que jazia quente no fundo. Jimin contemplou em silêncio o movimento de seu pomo-de-adão subindo e descendo conforme ele engolia a bebida.

— Está na hora do quê? — Hoseok indagou, quando o herdeiro se colocou de pé. As sobrancelhas franzidas denunciavam curiosidade genuína.

— O show começa em poucos minutos — Taehyung explicou, lançando um olhar cúmplice para o melhor amigo ao apontar com o queixo em sua direção. — Preciso ajudar o gostoso aqui a se preparar.

— Jungkook vai se apresentar?! — Exclamou, subitamente animado. Jimin, por sua vez, sentiu a pressão cair. — Woah, eu não estava esperando por isso.

— Tem muita coisa que você ainda precisa descobrir sobre nós, denguinho — disse, os lábios esticando-se num sorriso lascivo. — Sugiro que fique até tarde e volte outras vezes. Faço questão de te mostrar o porquê deste lugar se chamar "Utopia".

Hoseok engoliu em seco, pego de surpresa pelo flerte inesperado. Jungkook, que observava a interação dos dois, soltou um riso incrédulo, balançando a cabeça em negação. Taehyung era inacreditável.

— Vamos logo, Don Juan — ironizou, apoiando o braço ao redor do pescoço alheio. Antes que pudessem ir, virou-se para onde Jimin estava sentado e, sem emitir som, sibilou: — Aproveite o show.

Abriu um último sorriso insinuante antes de dar as costas e seguir até as coxias. Jimin finalmente respirou, livre.

Exalou o ar, há muito preso nos pulmões, com a mesma força de quem emerge pela primeira vez depois de uma eternidade dentro d'água. A presença de Jungkook o sufocava de uma maneira que não chegava a ser incômoda; era como caminhar no asfalto tépido sob os pés frios. Confortável, mas, ainda assim, potencialmente árduo.

— Você está bem, hyung? — Estava tão aéreo que mal notou a aproximação de Hoseok. Levantou o olhar para o amigo de trabalho, notando a preocupação estampada na feição gentil, e então forçou um sorriso.

— Estou. É só uma dor de cabeça chata — pressionou os dedos na têmpora, empenhando-se na própria farsa inofensiva.

Não era uma mentira completa, porém. Afinal, assim como disse a Namjoon, o filho de seu chefe funcionava mesmo como o princípio de uma enxaqueca.

— Acho que eu trouxe um comprimido para dor! — O estagiário exclamou, começando a caçar pelo medicamento dentro da bolsa retangular que trouxera.

— Não precisa se incomodar, Hobi-ah — Jimin se impôs, colocando a mão sobre a dele, fazendo-o interromper os movimentos. Num característico vozeamento manso, acrescentou: — Não está tão forte, logo passa.

— Tem certeza?

O homem limitou-se a assentir, e assim o assunto deu-se por encerrado. Pelos dez minutos que se seguiram, os dois engataram numa conversa paralela sobre os filmes que sairiam no cinema em breve e a qualidade cada vez mais medíocre das produções de terror e suspense com o passar dos anos.

Em determinado momento, Hoseok pediu licença para ir até o bar. Jimin ficou no sofá, e também não aceitou a oferta do amigo para uma nova dose; não estava com ânsia por álcool naquela noite — a incerteza das próximas horas era, sem dúvidas, o maior inibidor da vontade.

Seus olhos percorreram o ambiente de um extremo ao outro, inconscientemente à procura de algo. Ou melhor, alguém.

Era um curioso nato, observador experiente, sua mente tentava desvendar qualquer mistério antes mesmo que as cartas fossem postas a jogo. O instinto inevitável logo entrou em ação, fazendo-o buscar pela presença de Jungkook.

Não o encontrou, mas apertou os olhos ao identificar, de longe, a cabeleira azul flamejando sob o fulgor escarlate da boate. O garoto cochichava algo no ouvido de um homem de aparência jovial e barba feita, que sorriu e acenou em concordância para o que lhe foi dito. Em seguida, os dois seguiram até o corredor lateral que levava ao camarim.

Mais cinco minutos se passaram sem nada acontecer.

Quando o ímpeto da dúvida começava a se alastrar, Jimin viu as luzes baixarem, dando foco ao refletor luminoso sobre as cortinas de veludo vermelho. A sensação de nostalgia o atingiu no mesmo instante em que um coro de assobios animados se fez ouvir em reação à música que deu início ao espetáculo.

O palco se revelou aos poucos. O coração de Jimin batia no ritmo da melodia, incontrolavelmente ansioso pelo que os olhos veriam a seguir. Esperava por algo no mínimo semelhante ao que assistiu na primeira vez que esteve ali, mas, assim que teve visão ampla do palco, soube de imediato que havia se equivocado.

No centro da plataforma, Jungkook estava posicionado de costas. A calça de cintura alta, embora um pouco larga, se ajustava bem às pernas definidas; o torso estava parcialmente coberto por uma blusa de tecido transparente, que dava perfeita visão dos braços longos, além das escápulas contraídas.

Jimin só se deu conta da segunda presença quando finalmente desceu o olhar e notou, acomodado no assento da cadeira onde uma das mãos de Jungkook se apoiava, o homem que viu conversando com Taehyung mais cedo. Antes que pudesse estabelecer a relação entre uma coisa e outra, o dançarino se virou; o rosto novamente adornado por uma máscara cujo objetivo era manter suas feições como uma incógnita a ser desvendada.

Uma centelha de orgulho presunçoso cintilou no peito de Jimin quando ele se deu conta de que já havia descoberto a fisionomia por trás daquela barreira. Não só isso; pôde chegar perto o bastante para enxergar a pintinha embaixo do lábio, outra no cantinho da testa, além daquela no alto da maçã do rosto (jamais exporia, mas achava esta última particularmente atraente).

Quando Jungkook enfim começou a se mover, as coisas ficaram um pouco... Fora de ordem. Porque, embora estivesse ávido para vê-lo dançar outra vez, não imaginou que, naquela noite, fosse prestigiá-lo dançando no colo de outro homem.

E só foi perceber o cunho da apresentação quando o viu sentar sobre as coxas do desconhecido, os braços enlaçando o pescoço alheio enquanto a cintura ondulava para frente e para trás, rebolando no ritmo lento e profundo de Earned It¹.

Numa reação instintiva, Jimin cruzou os braços em frente ao peitoral, tensionando os ombros sem perceber. Respirou fundo, ouvindo os próprios batimentos cardíacos ecoando nos ouvidos. A melodia apelativa junto ao tom escarlate característico da boate não ajudavam muito, mas era ainda mais difícil controlar a recusa de seus olhos a deixarem de contemplar o espetáculo a poucos metros de distância.

E ele não o fez. Continuou acompanhando com atenção cada passo do dançarino, sentindo algo dentro de si retorcer ao vê-lo deslizar a mão lentamente pela mandíbula do homem, traçando um caminho tortuoso até o cós da calça dele. O desconhecido abriu um sorriso pervertido e apertou o quadril alheio, sem esconder o olhar carregado de luxúria.

Jimin não tinha uma boa intuição sobre as atitudes do cara, mas, àquela altura, suas emoções encontravam-se uma completa bagunça. Cada movimento lento do quadril de Jungkook roubava um pouco mais da sua sanidade, deixando-o hipnotizado e desperto. A situação piorou quando o dançarino deu a volta na cadeira e parou atrás do homem, inclinando-se para deslizar a língua pela lateral do pescoço dele — com os olhos o tempo todo cravados em Jimin, atrevendo-se a sorrir durante a performance.

Mesmo com o calor insuportável que seu corpo produziu enquanto assistia ao show, quando este finalmente chegou ao fim e Jungkook o encarou de longe — o peito subindo e descendo em razão do esforço físico recente — o gerente de setor não soube decidir se dava graças aos céus por ter terminado ou se ajoelhava no tablado e suplicava por mais.

Era como viver uma segunda puberdade. Ou seja, um verdadeiro pesadelo.

Inquieto, resolveu levantar-se para aliviar a aflição acumulada nas pernas, ignorando o som das palmas e os assobios ao redor. Foi até o bar, mal elucidando-se sobre o sumiço de Jung Hoseok; naquele momento, só precisava de algo forte para mascarar a confusão gritante em sua cabeça.

— Gostou da apresentação? — De trás do balcão, Mi-suk perguntou enquanto despejava tequila pura em um copo pequeno, preparando o pedido feito por Jimin. Os cabelos escuros estavam presos no rabo costumeiro, as pontas rosas em evidência. Havia um sorrisinho quase imperceptível no canto dos lábios vermelhos-sangue enquanto ela observava a feição do gerente de setor.

— Foi... — apertou o cenho, hesitante sobre como definir o que sentiu assistindo Jungkook dançar. Sem conseguir pensar em uma palavra perfeita, optou por algo que abraçasse inúmeras possibilidades: — Intenso.

A mulher riu, anuindo em concordância.

— Jungkook não costuma brincar em serviço, seja ele qual for. — Contou, tampando a garrafa antes de colocar a dose menor sobre o balcão. — Aqui. Quer sal e limão para completar o shot?

— Estou um pouco velho para isso, não acha? — Indagou, abrindo um sorriso acanhado.

— Ninguém nunca é velho demais para se divertir, Jimin-ssi. — Piscou para ele, já apanhando um limão para cortá-lo ao meio. Entregou uma das metades ao homem e buscou por um sachê de cloreto de sódio, também entregando-o em suas mãos. Por fim, bateu algumas vezes na superfície do balcão, criando o efeito oco de tambores. Animada, exclamou: — Vai, vira tudo!

Jimin deu uma risada anasalada, balançando a cabeça em negação. Entretanto, com o incentivo de Mi-suk, resgatou seus conhecimentos antigos e fez o ritual: lambeu o sal, tomou a tequila e, por fim, chupou o limão.

A bartender soltou um silvo de comemoração, rindo ao ver a careta que ele fez. A garganta ainda ardia, e a acidez da fruta parecia repuxar cada canto de sua boca. Quando finalmente conseguiu dizer algo, murmurou:

— Havia me esquecido de como a sensação é terrivelmente boa.

— Quer saber um segredo? — perguntou. Jimin não articulou qualquer resposta verbal, apenas continuou encarando-a, como se aguardasse pela continuação. Mi-suk então se inclinou na direção dele e sussurrou: — Existem muitas sensações terrivelmente boas por aí — uma piscadela acompanhou o sorriso gentil que apareceu ao acrescentar: — Permita-se viver mais delas, senhor Jimin.

Depois disso, ela recuou e voltou a se ocupar com a fila de pedidos.

Sozinho, Jimin se percebeu introspectivo, refletindo sobre o que lhe foi dito. Numa distração ébria, observou ao redor sem prestar atenção em coisa alguma. Não estava de fato bêbado; tantos anos consumindo destilados o tornaram resistente a alguns copos. Entretanto, a eletricidade causada pelo álcool correndo nas veias ainda persistia, deixando seus sentidos mais sensíveis, o que explicava o porquê das luzes parecerem tão mais fortes agora, em sua visão.

Em razão dessa mesma sensibilidade aguçada, sentiu a nuca se arrepiar por completo quando, cerca de 10 minutos após sua interação com Mi-suk, já distante do bar, ouviu um hálito quente ao pé de seu ouvido:

Um beijo pelos seus pensamentos.

Virou-se depressa — ou com o máximo de velocidade que seu estado de espírito permitia —, dando de cara com o sorriso prepotente de Jeon Jungkook.

Numa averiguação rápida, notou que ele não usava mais o figurino provocante de outrora. Estava de volta às vestimentas de quando o viu pela primeira vez naquela noite — embora ambas as composições de roupas fossem similares, Jimin soube diferenciá-las.

Era diferente vê-lo sem máscara. Não apenas pelo fator óbvio de poder enxergá-lo com clareza, mas também porque os olhos de céu estrelado continuavam os mesmos. Fosse em cima do palco ou fora dele, Jungkook tinha o mesmo impacto incognoscível sobre si. Deixava-o curioso para desvendar o trajeto que o levaria ao mapa daquela alma, e não se importaria em fazê-lo, não fosse por tudo que estava em jogo caso cedesse ao ímpeto do desejo.

Afinal, não há nada de aparência simples que não possa ser inerentemente complicado.

— E então, não vai me contar? — Jungkook indagou, movimentando-se até se acomodar no assento ao lado de Jimin. Sentou-se de lado, de modo a ficar de frente para o homem cujo semblante via-se pintado pelas luzes artificiais. — Não precisa nem me dar o beijo agora. Eu lembro de cobrar no futuro.

O tom galanteador arrancou um riso fácil de Jimin.

— Você não desiste mesmo, não é? — Inquiriu ao encará-lo.

— Acha que estou sendo insistente? — respondeu com outra pergunta, fazendo o outro arquear as sobrancelhas. Um sorriso travesso se desenhou nos lábios finos quando ele explicou: — Eu nem comecei ainda, senhor. Você vale mais esforço do que cantadas genéricas.

Bem, aquilo foi... Inesperado.

O gerente de setor sequer pôde disfarçar a surpresa, pois a maneira como estabilizou-se em inércia o denunciou sem dificuldades. Levou um minuto inteiro para reagir e, quando aconteceu, foi para murmurar:

— Você é bom nisso...

Jungkook deu de ombros, displicente.

— Já me disseram que sim.

— Tão bom que chega a ser suspeito — concluiu sua linha de pensamento.

O herdeiro o olhou em silêncio, sem deixar vacilar a expressão leve no rosto. Enquanto o estudava, apoiou um braço no encosto do sofá e deitou a bochecha contra o punho fechado. A sombra fantasmagórica de um sorriso ameaçava tomar forma em sua boca, e Jimin não deixou de reparar em como aquela parecia ser sua marca registrada.

— Acha que sou suspeito? — cerrou as pálpebras.

— Todos somos um pouco suspeitos perto de estranhos — afirmou, categórico.

— Woah... Isso foi profundo, Jimin-ssi — a voz não revelava deboche ou descrença, pelo contrário; manifestava uma admiração legítima. — Você é sempre tão cético assim?

A resposta veio rápida e se pendurou na ponta da língua de Jimin, escapando sem o seu controle:

— Se quer tanto me conhecer, é melhor descobrir do que me ouvir contar, não acha?

Caiu na tentação da paquera tão naturalmente que não pôde impedir a si mesmo. O coração afundou uma batida no peito ao perceber o próprio passo em falso; em contrapartida, o sorriso de Jungkook se alargou como se ele fosse o cosplay do Coringa.

— Quer dizer que vai me deixar descobrir mais sobre você, senhor? — Perguntou, aproximando-se um pouco mais.

— Não foi o que eu disse.

Não foi, mas sabia que havia deixado nas entrelinhas — e não há nada mais perigoso do que informações ocultas nas entrelinhas.

— Mas foi o que eu entendi. — Contrariando as expectativas do homem à sua frente, indagou: — Você gostou da apresentação?

A mudança brusca de assunto pegou Jimin desprevenido, então precisou de alguns segundos para formular uma resposta que não o comprometesse tanto. Para tanto, precisaria mentir, é claro. Se fosse dizer o que realmente sentiu assistindo a Jungkook dançando, não haveria jogo de palavras ou retórica afiada que o defendesse naquele tribunal abstrato. Cairia na própria armadilha.

Mas Jimin nunca apreciou a mentira, tampouco o mentiroso, portanto decidiu apelar para o que dominava.

— Você dança bem — proferiu, enfim.

Ali estava: omissão. Uma meia verdade cuja metade omissa não poderia ser definida como falácia. A melhor saída para perguntas que não podia responder com honestidade íntegra.

Jungkook, por outro lado, deve ter percebido alguma coisa por trás do comentário sucinto, a julgar pelo modo desconfiado com que o encarou.

— Só isso? — Arqueou uma sobrancelha. Jimin anuiu em sinal de afirmação. Brincando com o cordão do relicário que carregava no pescoço, tentou outra vez: — Tem certeza? Você parecia um pouco tenso quando te olhei lá de cima...

— Deve ter sido impressão sua — balançou os ombros, esforçando-se para manter a farsa.

Sentiu uma pontada sutil de dor em sua têmpora direita. Quis rir pela evidência da sua teoria envolvendo o herdeiro.

Uma dor de cabeça e tanto.

Só não se aprofundou nos próprios devaneios porque percebeu o peso do olhar alheio sobre si. Virou o rosto, averiguando a maneira como os olhos de Jungkook pareciam intensos; o semblante contemplativo delatava que o dançarino refletia sobre algum tópico importante.

— O que foi? — Sua voz saiu como um mero sussurro. Não foi proposital, mas talvez seu corpo tenha previsto o que viria a seguir antes mesmo que seu consciente o fizesse.

Sentiu o coração disparar quando Jungkook se movimentou. Aconteceu tudo muito rápido; em um momento, estavam a três palmos de distância. No outro, o peso em suas pernas fez sua mente oscilar tanto quanto as mãos em seu pescoço o fizeram arrepiar.

Jungkook estava sentado em seu colo, com os joelhos em cada lado do quadril estreito. Por puro reflexo, Jimin apertou as laterais das coxas revestidas pelo tecido da calça.

O herdeiro sorriu; malícia escorreu pelo canto da boca quando sussurrou:

— Impressão, hm? — O hálito quente bateu contra o nariz de Jimin, fazendo-o reter a respiração. Já era difícil o bastante lidar com o odor cítrico e simultaneamente doce que o dançarino exalava, não precisava de mais um gatilho para fazê-lo perder o juízo.

E, para ser sincero, seu estoque de bom senso estava vergonhosamente escasso.

— Jungkook...

Suas mãos me apertando também é impressão minha, senhor? — murmurou rouco, numa proximidade indecente capaz de deixar o gerente de setor desnorteado.

Não era possível que aquilo estivesse de fato acontecendo.

Não que não estivesse gostando, e o problema era exatamente esse. Por mais que negasse, era impossível deixar de perceber como o garoto em cima de si mexia com cada terminação nervosa sua.

Feliz ou infelizmente, era racional demais para deixar a situação seguir daquela forma. Estava prestes a interromper o que quer que estivesse se desenvolvendo, mas Jungkook foi mais rápido.

Uma das mãos subiu para sua nuca, entrelaçando os fios escuros entre os dedos longos antes de exercer pressão o suficiente para fazê-lo inclinar a cabeça para o lado. Seu pescoço ficou exposto, vulnerável. Jimin chegou a arfar baixinho, e o herdeiro se inclinou para sussurrar, rente a sua orelha:

— Se quiser que eu faça com você o que fiz com ele, é só pedir. Estou a sua disposição, Jimin-ssi.

No instante seguinte, ele se colocou de pé. Dedicou ao gerente de setor um último sorriso cafajeste antes de virar-se e seguir para algum outro canto da boate, tão rápido que Jimin genuinamente refletiu sobre a possibilidade dos momentos anteriores não terem passado de um lapso psicótico.

Entretanto, soube que sua lucidez estava em perfeito estado quando avistou Jungkook a alguns metros de distância, no meio do aglomerado que formava a pista de dança da boate. O corpo escultural mexia-se sensualmente de um lado para o outro, novamente seguindo o ritmo da música que reverbera nas caixas de som — não foi difícil reconhecer a letra de I Wanna Be Yours, do Arctic Monkeys — , e ele não pareceu incomodado quando um cara tocou-lhe a cintura, juntando os corpos ao começar a acompanhá-lo na dança improvisada.

O homem desconhecido sussurrou algo que o fez rir, jogando a cabeça para trás até apoiá-la no ombro alheio, mas, no instante em que se ergueu novamente, os olhos de ônix encontraram as íris enigmáticas de Jimin observando-o.

"Secrets I have held in my heart
Are harder to hide than I thought"

(Segredos que tenho mantido em meu coração
São mais difíceis de esconder do que pensei)

Jungkook mordeu o lábio inferior, sem tirar a atenção da figura do outro lado do salão, mas também sem parar de dançar. Para alguns, a cena poderia parecer contraditória, mas Jimin foi rápido em perceber que ele dançava para si.

Distante, nos braços de outra pessoa, mas, ainda assim, exibia-se para Park Jimin.

Não havia escrúpulos ali. Jungkook fazia o que queria e não se importava com o que pudessem pensar sobre ele. Não se incomodava em deixar claro quando queria alguma coisa ou alguém e, naquele momento, não se incomodou em deixar evidente quem desejava.

"Maybe I just wanna be yours
I wanna be yours, I wanna be yours"

(Talvez eu só queira ser seu
Eu quero ser seu, eu quero ser seu)

Jimin manteve o contato visual por quanto tempo suportou, até por fim desviar os olhos para qualquer decoração aleatória. Virou o resto da bebida quente, que havia sido esquecida junto ao copo sobre a pequena mesa redonda ao seu lado, experimentando na ponta da língua o gosto agridoce do masoquismo ao apreciar a maneira como o líquido queimou-lhe a garganta.

Para sua sorte, depois disso a noite sucedeu sem maiores emoções.

O gerente de setor estava sóbrio demais para dizer que as horas se estenderam depressa, mas não pôde evitar a surpresa quando acendeu o ecrã do celular e deparou-se com o relógio digital mostrando ter passado das duas da manhã.

Era um alívio que o dia seguinte fosse sábado, mas, a despeito da dádiva concedida pelo final de semana, Jimin já havia ultrapassado a idade em que há prazer no ato de ficar desperto durante a madrugada — embora suas noites de insônia dissessem o contrário.

Por tal motivo, assim que averiguou o horário, partiu em busca do colega de trabalho do qual o paradeiro havia se perdido muito tempo antes. Havia trazido-o de carona, portanto não poderia ir embora enquanto não o encontrasse. Felizmente, a busca não levou mais que cinco minutos, pois logo o avistou em um canto escuro da boate.

Na verdade, quem o denunciou foi a figura de cabelos azuis parada em sua frente, ambos numa distância suspeita. Jimin hesitou por alguns instantes ao notá-los, incerto sobre se aproximar e talvez interromper algo importante. No entanto, a ânsia por uma cama quentinha e um travesseiro fofo foi mais forte, e ele encaminhou-se destemidamente em direção aos dois.

— Hobi-ah, desculpa atrapalhar — enunciou, ganhando a atenção dos dois homens para si. — Só vim avisar que estou indo para casa.

— Já? — o estagiário indagou, a expressão denotando uma decepção sutil. Ele encarou Taehyung, e então voltou a encarar Jimin. Por fim, seus ombros caíram junto ao suspiro que exalou entre a fresta dos lábios. — Ah, acho que...

— Eu posso te levar depois, se quiser — Tae se pronunciou. Não foi difícil para Jimin reparar na avidez escondida nas atitudes deles, o que lhe arrancou um sorrisinho curto ao compreender o que estava acontecendo.

— Não vai te incomodar? — Hoseok quis saber, hesitante, mordendo a ponta do lábio inferior.

O garoto de cabelos azuis iluminou tudo ao redor com o sorriso quadrado que abriu.

— Claro que não, hyung — assegurou. — Geralmente eu só vou quando minha irmã larga serviço, mas posso sair mais cedo. Não tem problema.

— Certeza?

— Certeza absoluta, lindo.

— Tudo bem, então — sorriu, virando-se para encarar o gerente de setor. — Eu vou ficar, Ji. Dirige com cuidado, ok? E manda mensagem quando chegar!

Jimin riu baixinho pela preocupação do amigo, mas não pestanejou em assentir.

— Mando, sim — afirmou. Alternando a atenção entre os dois, estagnou a atenção sobre Taehyung ao proferir: — Se cuidem.

A ameaça implícita não passou despercebida por Tae, que soprou um riso de diversão em resposta.

— Pode deixar, não vou fazer nada com ele — disse, antes de completar, num murmúrio sacana: — Só se ele pedir.

Hoseok arregalou os olhos ao ouvir a investida descarada, mas a reação imediata partiu do mais velho entre os três, que balançou a cabeça em negação e retrocedeu dois passos antes de girar sobre os calcanhares. Estava preparado para deixar o estabelecimento quando lembrou de algo, e precisou virar-se de novo.

— Sabe onde o Jungkook está? — Indagou diretamente para Taehyung.

Tinha certeza de que o herdeiro não havia ido embora, visto que o vigiou durante todo o tempo em que esteve ali. Não foi proposital; por mais que tentasse desviar, Jungkook parecia emanar a energia eletromagnética que o atraía de tal forma que tornava impossível resistir.

Era quase insuportável, entretanto Jimin estava determinado a ignorar a sensação até fazê-la se dissipar por completo.

— Da última vez que o vi, ele estava conversando com a Mi-suk noona no bar — informou.

O gerente de setor anuiu em concordância, murmurando um agradecimento rápido. Sabia que o melhor a fazer era partir sem olhar para trás e nem pensar demais no assunto, mas foi incapaz de impedir os próprios passos. Quando se deu conta, já estava seguindo o trajeto em direção à área mais ao fundo da boate, próximo ao palco. Não precisou fazer esforço nenhum para identificar quem procurava.

— Por que está aqui sozinho? — perguntou ao estar perto o suficiente para ser ouvido.

Jungkook, até então muito entretido com o plano côncavo de um copo vazio, ergueu o olhar para encará-lo. Um sorriso ébrio enfeitou as feições bonitas.

— Oh, Jimin-ssi... — murmurou, demorando-se nas reticências. Levou um mundo inteiro para formular o que devia ser a complementação do vocativo, porém o que disse não foi exatamente o que seu ouvinte esperava: — Você é muito bonito. Muito, muito, muito bonito.

Jimin ergueu uma sobrancelha, esquadrinhando o rosto alheio de um lado ao outro. A conclusão era óbvia.

— Você está bêbado.

Foi mais uma afirmação do que uma pergunta, mas, ainda assim, Jungkook respondeu:

— Um pouco.

O suspiro que Jimin expirou foi condescendente. Ele apoiou o cotovelo no balcão, posicionando-se de maneira a enxergar as expressões do herdeiro sob a incidência indireta da luz.

— Como pretende ir embora? — Resolveu perguntar, curioso.

— Eu poderia voltar dirigindo, mas Misuk noona provavelmente arrancaria minhas bolas se eu fizesse isso — refletiu, tão sério que o outro expulsou um riso baixo.

— Estou do lado dela, neste caso.

— Você está em qualquer lado que esteja contra mim — acusou, derramando-se num sorriso displicente, embora provocativo.

— Nem sempre.

Jungkook apoiou a bochecha na palma da mão, olhando para Jimin com uma devoção desvirtuada. Não havia malícia; parecia só aéreo e imerso nos próprios pensamentos dúbios. Jimin devolveu o olhar, ainda que muito mais abstêmio e convicto das incertezas que perpassavam sua mente enquanto o contemplava.

— Taehyung vai levar Hoseok para casa — contou, quebrando os minutos de silêncio interno que se seguiram. Mesmo distante da sobriedade comum, Jungkook entendeu o que aquilo implicava.

— Ele deve voltar depois pra buscar a noona. Eu pego carona — deu de ombros.

— E quando vai ser isso?

— Com certeza beeem tarde — riu, sem saber ao certo por que ria.

Jimin assentiu, já imaginando que aquela seria a resposta.

Em condições normais, teria pensado mais. Teria equilibrado os prós e contras na balança e chegado a uma solução racional cujas consequências não o afetassem tanto. Veja bem, ele sabia o que estava fazendo. Sabia perfeitamente onde estava se metendo. No dia seguinte, entretanto, culparia os dois copos de destilados em seu estômago pelo que disse em seguida:

— Vamos. Eu te levo para casa.

Era uma infâmia fugir das próprias responsabilidades. Injúria contra o que acreditava ser ético. Entretanto, naquele momento, era um princípio pelo outro, e ele já tinha decidido qual iria corromper.

Jungkook piscou um par de vezes, silenciosamente estático. As palavras deviam estar mais lentas em sua cabeça, mas, por fim, ele conseguiu dizer:

— Não quero que faça algo por mim só porque sente que é o certo a fazer.

— Não cabe a você decidir o que está me motivando a fazer o que estou fazendo — redarguiu. Apesar das palavras duras, o timbre não era agressivo.

— Então quer me levar para casa porque se preocupa comigo?

Jimin se calou por um momento. A língua coçava para expor uma confissão diferente do que seu consciente mandava. Um impasse cruelmente paradoxo.

Mais uma vez, precisaria recorrer às respostas incertas.

— Me pergunte de novo outro dia — sussurrou. — Talvez eu responda.

O silêncio se apossou do espaço entre eles. Em contrapartida, havia uma luta concomitante acontecendo entre os olhares que não se desviaram. Uma percepção oscilante tentando entender uma austeridade ambígua. Céu estrelado sobre o terreno de profundidade desconhecida.

— Preciso avisar à noona que estou indo — Jungkook deu o veredicto.

Jimin assentiu, sem compreender bem a sensação de alívio que se espalhou em seu cerne — tampouco procurou entendê-la. Era muita coisa para pensar em uma única madrugada, seu cérebro logo começaria a acionar o modo avião como mecanismo de defesa.

Eles esperaram que Misuk voltasse e, assim que ela apareceu, Jungkook avisou que estava indo embora. Jimin, que não havia saído de seu lado por nem um segundo, notou o olhar cúmplice que ambos os amigos trocaram quando o herdeiro contou quem o acompanharia até em casa.

Não era da sua conta, mas ficou curioso com as palavras não ditas naquela conversa telepática. Por mais que tentasse negar, também era um fofoqueiro nato.

Uma vez que todos se despediram, os dois homens caminharam em direção à saída do estabelecimento — depois de Misuk obrigar o melhor amigo a levar uma garrafa de água para tomar no caminho. Durante todo o trajeto até a porta, Jimin manteve uma mão na base da coluna de Jungkook; tocou-o superficialmente, sem extrapolar barreiras, mas a manteve ali para ter certeza de que estaria preparado caso precisasse salvá-lo de qualquer incidente causado pela embriaguez.

Embora estivesse consideravelmente alto, Jungkook sentiu o toque ligeiro. O tecido fino da blusa permitia-o tomar nota do calor tépido dos dedos alheios, que vez ou outra pressionavam em reflexo a pele coberta. Um leve arrepio escalou sua coluna até alcançar a nuca, antes de se ramificar pelos ombros.

— Você está bem? — Jimin perguntou, percebendo o tremor sutil que ele deu.

— Sim. Tudo bem — afirmou, abrindo um sorriso encabulado que certamente não soou convincente, mas Jimin não fez nenhum comentário sobre.

Caminharam até onde o carro estava estacionado e, quando enfim o alcançaram, o gerente de setor abriu a porta do passageiro para Jungkook entrar. Após se assegurar de que o garoto estava confortável, ele deu a volta no automóvel e ocupou o banco do motorista.

— Tem certeza de que está se sentindo bem? — Indagou outra vez, encarando o herdeiro como se procurasse por algo fora do lugar. — Nenhum mal estar?

De olhos fechados e a cabeça encostada no banco, Jungkook exalou um riso baixinho.

— Deve ter alguma coisa errada com o meu coração, mas não acho que seja por causa da bebida — murmurou, as palavras saindo emboladas e roucas por causa do sono.

— Ansiedade? — Questionou, ingênuo.

— Algo assim.

— Quer que eu te leve ao hospital?

O herdeiro riu de novo, elevando as pálpebras para encarar o homem ao seu lado. A luz do poste incidiu contra a lateral de seu rosto, e o reflexo permitiu a Jimin ver o quão dilatadas as íris escuras estavam.

— Não precisa, senhor — afirmou. — Eu estou bem. Pare de perguntar se tenho certeza, por favor. Não gosto de ficar repetindo o que falo.

O líder de setor assentiu, virando-se para frente. Colocou o cinto antes de ligar o carro e, quando o painel acendeu, deu partida para fora dali.

Precisou da ajuda do GPS para seguir pelo caminho correto, já que nunca foi muito bom em memorizar os nomes de ruas. O interior do carro estava em silêncio, o qual era cortado esporadicamente pela voz robotizada do sistema de posicionamento. Embora Jungkook estivesse de olhos fechados, Jimin sabia que ele não estava dormindo.

Como se para comprovar seus pensamentos, ouviu a voz grave indagar:

— Como sabe onde eu moro?

— Precisei levar uma documentação para o presidente Daeshim uma vez.

— Hum... É uma pena que eu não estivesse lá no dia — os lábios finos se projetaram em um biquinho contrariado.

Jimin desviou o olhar para ele por um segundo. Soprou um riso, secretamente achando adorável a expressão emburrada.

Foco, Jimin.

Ele não é para você, lembre-se disso.

Pelo visto, esse seria um mantra a ser repetido sempre que estivesse perto de Jungkook. A percepção lhe roubou um suspiro exaurido, e o acúmulo de sensações se refletiu na maneira como os dedos ornados por anéis apertaram o volante com mais força.

Levou somente mais dez minutos para o GPS anunciar que haviam chegado ao destino final. Jimin estacionou no acostamento, observando enquanto o garoto respirava fundo e abria os olhos, espreguiçando-se.

— Acha que consegue entrar sozinho? — perguntou.

— Depende — virou-se no banco para mirá-lo de frente. Um sorrisinho prepotente enfeitou o canto da boca ao sugerir: — Tem interesse em conhecer o meu quarto, Jimin-ssi?

O dito cujo desviou o olhar, balançando a cabeça para os lados ao passo que umedecia o lábio inferior com a língua. Sentiu uma vontade súbita de sorrir diante do flerte repentino, mas não daria esse gostinho a Jungkook.

— Se está conseguindo formular cantadas tão elaboradas, deve conseguir chegar inteiro ao lado de dentro — concluiu, ouvindo a risadinha alheia em resposta.

— Eu avisei que não estava tão bêbado — relembrou. — Você que insistiu em me trazer.

— Vou começar a ouvir o que você diz.

— Não comece — pediu. — Eu gostei de ser contrariado, dessa vez.

Jimin anuiu, mas não disse nada. O silêncio os sobrepôs outra vez, e, por incrível que pareça, a ausência de sons não era insuportável.

— Está tarde — falou depois de alguns minutos, observando a rua deserta. — Não vai entrar?

— Estou pensando em uma maneira decente de te agradecer.

— Pode só dizer "obrigado".

— Eu sei, mas é muito simples — balançou a cabeça. — Você não parece se deixar levar por gestos banais.

Jimin o encarou, tentando desvendar o que ele queria dizer com aquilo. No entanto, antes que pudesse começar a elucubrar, Jungkook estendeu uma mão e o segurou pelo maxilar, sem aplicar força. Empurrou o rosto alheio sutilmente para o lado, deixando a bochecha exposta, e, num movimento rápido, pressionou a boca sobre a pele macia.

Afastou-se três segundos depois, com as roupas farfalhando ao se acomodar no banco de novo.

— Obrigado pela carona, Jimin-ssi — disse, abrindo a porta. Olhou para o homem por cima do ombro e sorriu, dando uma piscadela ao acrescentar: — Até segunda.

Em seguida, saiu do automóvel, deixando um Jimin ainda estático para trás.

O sorriso convencido só abandonou seus lábios quando, ao entrar em casa, percebeu alguém deitado no sofá. Estava tudo escuro, então a sombra era nada além de uma forma curvilínea. Se aproximou devagar, curioso e hesitante, e acabou por bufar baixinho ao reconhecer os cabelos longos e castanhos espalhados no estofado.

Yeji dormia profundamente, ressonando.

— Só pode ser sacanagem — Jungkook resmungou, esfregando a testa com o polegar. Apoiou as mãos na cintura, encarando-a enquanto ponderava sobre o que fazer.

Poderia simplesmente subir para o quarto e dormir o sono dos justos. Seu corpo clamava por uma cama, e estava quase cedendo ao desejo egoísta quando uma rajada de vento entrou pelas frestas da janela e acertou Yeji. A garota se encolheu, inconscientemente tentando se aquecer no calor dos próprios braços.

Jungkook suspirou, resignado. Deu a volta no sofá e parou de frente para o corpo menor que o seu, abaixando-se para tomá-lo nos braços. Ergueu a garota sem muito esforço e caminhou com ela em direção às escadas que levavam ao segundo andar. Era uma sorte que Misuk tivesse lhe dado aquela garrafa de água antes de sair da boate, caso contrário seria impossível chegar ao quarto da meia-irmã sem acabar derrubando ambos ainda nos degraus.

Lutou para abrir a porta estando com as mãos ocupadas, mas, quando finalmente conseguiu, adentrou o cômodo escuro e colocou a garota na cama. Cobriu-a devidamente e certificou-se de que a janela estava bem fechada antes de se retirar e ir para o quarto que o pertencia. Lá dentro, tirou as botas e o blazer, arremessando-o para qualquer canto, sem se preocupar com onde caiu. Jogou-se no colchão confortável logo depois, soltando um gemido de alívio ao finalmente estar sob as cobertas quentinhas.

Nem um minuto inteiro se passou e Jungkook adormeceu, ainda sentindo a boca formigando pelo beijo dado na bochecha de Jimin.

☽☾

A despeito da rotina estabelecida já há algumas semanas, acordar para ir à empresa na segunda-feira nunca era uma tarefa fácil.

Sendo sincero, Jungkook duvidava que seria uma experiência melhor em algum momento, uma vez que precisar acordar às nove da manhã era o suficiente para torná-la intragável. Seu humor não estava dos melhores, como de praxe sempre que era obrigado a se levantar da cama antes que seu despertador biológico decidisse, e ainda precisava lidar com o fato de que suas aulas começavam naquele dia.

Encontrava-se frustrado o suficiente, tanto que não pôde evitar o alívio que sentiu ao descer para o primeiro andar da mansão e encontrá-lo praticamente vazio. Não havia ninguém além da governanta, Kang Minji, que trabalhava ali desde que o primogênito Jeon ainda engatinhava — e por quem ele guardava genuína afeição.

— Bom dia, ahjumma — curvou-se numa mesura, adentrando a cozinha extensa.

— Bom dia, senhor Jeon! — Ela sorriu, deixando evidentes as marcas do tempo na extremidade dos olhos pequenos. — Como passou a noite? Dormiu bem?

— Por favooor, não me chama assim — o garoto lamuriou, torcendo o rosto numa careta dolorosa. — Já basta todo mundo daquela empresa me chamando de sunbae pra lá e pra cá. Tem noção do quão opressivo isso é? Eu me sinto um velho!

A mulher riu, achando graça da performance dramática que, de tanto conviver, tornou-se normal para si.

— Você tem um papel importante para eles, meu menino — enfatizou a troca do vocativo, recebendo um "obrigado" sussurrado do dito cujo. — Deixe que te idolatrem um pouco!

— Só me idolatram para não terem problemas com o chefe — alegou, pegando uma maçã da fruteira abastecida. Não estava com fome, então aquilo deveria bastar para saciá-lo até o horário de almoço. — Se soubessem que eu sou o maior problema de Daeshim, provavelmente mudariam de comportamento.

— Não fale essas coisas, Jungkook-ah — repreendeu-o, recebendo um dar de ombros em resposta. — Seu pai só é muito ocupado, mas ele não te detesta.

— Tomara que você esteja errada, ahjumma — refletiu, dando uma mordida na fruta que segurava entre os dedos longos. — Seria decepcionante descobrir que não compartilhamos o mesmo sentimento um pelo outro.

Antes que pudesse ser censurado outra vez — e sabia que seria, caso a desse tempo de compor uma nova repreensão —, o garoto despediu-se de Minji e saiu da cozinha, não demorando a se encaminhar para o estacionamento externo.

Dentro do carro, seguiu com o hábito de todos os dias: conectou o rádio a sua playlist no celular e concentrou-se nas músicas tocando em fila aleatória, torcendo para ficar tão imerso em cada uma das letras a ponto de esquecer quaisquer preocupações que pudessem perturbá-lo.

No entanto, Park Jimin não se qualificava como um incômodo, logo é claro que foi ele o responsável por invadir o consciente de Jungkook assim que o notou vazio.

Acontecia com frequência, desde a sexta-feira à noite. O herdeiro do império Jeon não conseguia deixar de passar e repassar os momentos que vivenciou no Utopia Club. Não conseguia parar de lembrar que esteve no colo de Jimin; ainda podia sentir as mãos apertando suas coxas, o peito subindo e descendo, a voz melodiosa sussurrando seu nome...

Porra, era incapaz de explicar como aquele homem o atiçava sem nem ter a intenção. Devia ser considerado crime!

Passou o final de semana inteiro pensando nele e nos diálogos que tiveram. Para sua sorte, não costumava esquecer das coisas que fazia enquanto bêbado, por isso lembrava-se com clareza de cada palavra que disseram um para o outro.

"Então quer me levar para casa porque se preocupa comigo?"

"Me pergunte de novo outro dia. Talvez eu responda."

O comportamento enigmático de Jimin o intrigava mais que os enunciados de física com os quais costumava quebrar a cabeça durante a escola.

Por uma doce ironia do destino, Jungkook gostava de enigmas e sempre foi bom em física.

Mal percebeu o sorriso pequeno que esticou-lhe os lábios ao perceber que estava prestes a vê-lo pela primeira vez depois de dois dias. Foi como se uma dose de adrenalina tivesse sido aplicada diretamente em seu sangue.

Após estacionar, saiu do carro mais disposto do que entrou, irradiando uma energia súbita. Jogou o miolo da maçã numa lixeira localizada na fachada do prédio imponente e seguiu caminho até a entrada. Passou pela catraca, chamou o elevador e, quando as portas abriram, toda a animação que o havia repentinamente contaminado se esvaiu tão rápido quanto brisa soprando areia.

Kang Gyeong-hui o encarou por três segundos antes de finalmente enxergá-lo; os saltos de grife soaram ocos contra o chão quando ela caminhou para fora do ascensor.

— Jungkook — disse. O cumprimento seco e despido de qualquer gentileza combinou-se ao olhar analítico que a mulher o lançou, escaneando-o de cima a baixo.

— Gyeong-hui — o nome saiu com a mesma frieza que tomava as ruas de Seul. Não havia traço algum de afeto, tampouco cortesia. O tom cortante não escondia o ressentimento acumulado por anos a fio. — O que está fazendo aqui?

— Meu marido é o dono desta empresa, caso tenha se esquecido — sorriu ácida. Jungkook cerrou o maxilar, mais consciente do peso daquelas palavras do que gostaria. — Saímos para jantar ontem, e, como ficou tarde, voltamos hoje pela manhã. Viemos direto para cá.

— Ótimo. Espero que tenha usufruído bastante do dinheiro que não é seu, já que essa é a única coisa que sabe fazer.

O sorriso no rosto da mulher se esvaiu milímetro por milímetro. Ela deu um passo à frente, o tilintar do salto ressoando no hall parcialmente vazio. Sua postura confiante poderia fazer muitos caírem aos seus pés, mas Jeon Jungkook não era um deles.

Jeon Jungkook não abaixava a cabeça.

— Tenha mais respeito ao se dirigir a mim. Eu sou sua mãe, garoto — fez questão de lembrar, encarando-o sob os cílios postiços.

— Você nunca foi nem nunca vai ser minha mãe — murmurou entre dentes, o timbre tornando-se mais rouco ao acrescentar: — A única que tive foi a mulher que você sempre tenta apagar e fingir que não existiu, mas eu estou aqui para te refrescar a memória: parte deste império do qual você gosta de se gabar só foi possível graças a Choi Ha-yun — em um quase sussurro desgostoso, finalizou: — Jamais tente se equiparar a ela, é desonesto até com você mesma.

Sem aguardar por respostas, o herdeiro desviou da figura estática de Gyeong-hui e adentrou o elevador. Ela chegou a se virar para revidá-lo, embora desprovida de qualquer argumento plausível, mas as portas se fecharam antes que pudesse sequer tentar.

Sozinho lá dentro, Jungkook suspirou, fechando os olhos ao tentar retomar o controle de seus batimentos cardíacos. Cerrou uma das mãos em punho enquanto a outra subiu até agarrar o relicário que pendia do pescoço, passando a movimentá-lo de um lado para o outro ao longo da correntinha de ouro branco.

Não era a primeira vez que enfrentava a atual esposa de seu pai; infelizmente, tinha a completa certeza de que não seria a última. No entanto, sempre que precisava se colocar à frente dela, sentimentos corrosivos invadiam-lhe o peito, tomando-o por dentro como erva-daninha. Era fácil manter a postura, agir como se nada o afetasse, mas a exasperação que surgia em sequência era inevitável.

Quando alcançou a sala da equipe administrativa, o ar ainda entrava e saía com dificuldade de seus pulmões. Parecia ter corrido uma maratona, quando mal havia se movimentado pelo corredor. As mãos estavam trêmulas, um zumbido agudo soava em seus ouvidos, e ele não teve outra alternativa a não ser desabar na primeira cadeira que viu.

— Jungkook?

O estado caótico de sua mente não o permitiu responder ao chamado. "Jungkook?", ouviu de novo, e respondeu com o mesmo silêncio inconsciente. Só se deu conta de uma segunda presença quando sentiu o toque em seu ombro, acompanhado da voz que se sucedeu:

— Ei, Jeon? Olha para mim. Abra os olhos, por favor.

O tom calmo o embalou. As linhas sinuosas de pensamentos emaranhados estabilizaram-se em retas maleáveis, buscando pela serenidade prometida por meio das palavras mansas. Ergueu as pálpebras devagar, fitando qualquer ponto cego, notando que o mundo parecia um pouco mais verossímil agora.

— Bebe isso — uma mão lhe estendeu uma garrafa de água já destampada, pacientemente segurando-a no ar até ele ter a atitude de pegá-la. — Olha para mim, por favor — pediu, orientando-o sem de fato comandá-lo. Jungkook o fez, cruzando o olhar com o de Jimin, que estava agachado ao seu lado. — Muito bem. Agora respira comigo.

O gerente do setor inspirou fundo, manteve o ar preso por seis segundos, e expirou. Repetiu o mesmo exercício mais de cinco vezes, aliviado por ver Jungkook acompanhando-o.

— Se sente melhor? — Passados alguns minutos, ele perguntou.

— Sim — anuiu em uma leve concordância. — Obrigado.

— Não precisa agradecer — murmurou, pressionando os lábios juntos enquanto continuava atento aos sinais do outro. Milhares de dúvidas rondavam sua cabeça, mas, a despeito de todos os questionamentos possíveis, o único ao qual deu voz foi: — Acontece com frequência?

— Às vezes — revelou com sinceridade. As mãos não apertavam mais a garrafa de plástico nem se esfregavam incessantemente no tecido da calça. — Acontecia mais, antigamente.

Jimin assentiu, deixando o silêncio perpetuar no ambiente, interrompido somente pelo zumbido fraco do ar-condicionado. Estava preocupado, mas não queria parecer invasivo. Reconhecia, por experiência própria, que aquela não era a melhor conjuntura para ser insistente.

— Eu vou te deixar respirar — anunciou pouco tempo depois, ao se erguer. — Se precisar de qualquer coisa, pode me chamar, ok?

— Ok. Obrigado, hyung.

Enquanto o homem se distanciava para voltar aos próprios afazeres, Jungkook encontrou-se desconcertado novamente. Dessa vez, por outra razão — igualmente íntima, mas diferente.

Aquela era a primeira vez que alguém assistia a uma de suas crises. Acima de tudo, era a primeira vez que conseguiam ajudá-lo a passar por uma delas. Ele não sabia como deveria reagir a isso. Não sabia por que este acontecimento fazia seu coração disparar.

Sentia-se estranhamente abraçado, acolhido. Uma sensação que não era nova, mas que, depois de tantos anos sem senti-la, carecia ser desvendada. E, como o entusiasta de enigmas que era, Jungkook estava mesmo disposto a descobrir a natureza daquele súbito conforto. 



Referências:

[1] Música Earned It, do The Weeknd.

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