Vozes do Coração • Jegulus/St...

By artmalfoy

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Regulus Black, filho do Ministro da Magia, é designado para representar os bruxos na assinatura de um históri... More

2. Jatinhos Particulares e Politicagem

1. O Filho do Ministro da Magia

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By artmalfoy


Outubro de 1981;

Regulus Black estava com uma enxaqueca terrível. A dor pulsante irradiava de trás de suas orelhas e descia pelos braços em ondas, arrepiando-o e revirando o estômago. Já era a terceira vez naquela semana.

Talvez pudesse simplesmente bater sua cabeça contra a parede com tanta força que reprogramaria todas as sinapses cerebrais; ou melhor, o levaria a um coma profundo. Era o que estava precisando: um longo descanso, sem interrupções. Apenas o absoluto nada, escuro e infinito.

Escovava os dentes de frente para o espelho, sem pressa. O banheiro de azulejos azuis escuros provavelmente custava mais que apartamentos inteiros em Londres, e a pia de mármore era fria ao toque. Os cabelos de Black se encontravam numa completa bagunça de fios negros e ondulados que se espalhavam para todas as direções possíveis, e seu rosto estava levemente pálido. As poucas sardas sobre o nariz e bochechas pareciam buracos negros; elas sugavam as estrelas, a matéria e a luz. Estava devastadoramente belo para quem havia acabado de acordar.

Enquanto jogava uma quantidade suficiente de água contra o rosto que poderia afogar um homem, tentando desesperadamente aliviar a dor lancinante; Regulus sentiu o chão de madeira polida vibrar ritmadamente sob seus pés descalços, aumentando a frequência. Alguém se aproximava de onde ele estava.

Ótimo, pensou. Não estou nem há trinta minutos de pé e já há alguém aqui para me perturbar.

Abriu a porta do banheiro um segundo antes que o melhor amigo de seu pai, Abraxas Malfoy, o invadisse. Os cabelos brancos do homem estavam penteados para trás, brilhando pelo uso exagerado de gel, e a barba longa e emaranhada já estava a altura do peito. Regulus revirou tanto os olhos que eles quase saltaram para fora; odiava o homem. Ele se metia em sua vida o tempo todo, invadia sua privacidade, o tratava como se fosse inferior intelectualmente e, no geral, era um grandíssimo pé no saco. Mas sempre fora um fiel servidor da família Black, e por isso o garoto engoliu o insulto que estava na ponta de sua língua.

Ergueu uma única sobrancelha para o homem.

— Seu pai está no escritório, te esperando. Arrume-se e o encontre lá em dez minutos. — Disse, e Regulus leu seus lábios.

— Qual seria o motivo da urgência? — Respondeu, sentindo sua garganta arranhar e o pomo de adão ondular com o movimento das cordas vocais.

Ele apenas imaginava como estaria sua voz após a puberdade, o quanto ela havia mudado e amadurecido. Quando era menor, um professor particular de Poções vinha até a mansão Black para ministrar aulas de reforço para Sirius, seu irmão mais velho. Regulus ficava atrás da porta, ouvindo as lições e as repassando mentalmente, anotando com a letra juvenil algumas receitas básicas num pergaminho amassado que mantinha nos bolsos das calças. A voz do mestre de Sirius era firme e aveludada, e ele ainda a tinha bem guardada na memória. Quando imaginava sua própria voz, pensava que seria exatamente como a daquele homem.

Abraxas tinha uma expressão severa e irritadiça.

— Precisa definir alguns detalhes sobre sua visita a Washington na semana que vem. — Respondeu, e seu rosto medonho se contorceu. Regulus sentiu vontade de afogá-lo na privada mais próxima.

O garoto suspirou, ergueu as mãos e sinalizou rapidamente uma mensagem para o homem enfadonho. O mesmo ergueu uma sobrancelha peluda e branca, sem compreender.

— O quê?

— Eu disse que já estou indo. — Murmurou o Black, virando-se e caminhando até seu armário para pegar uma troca limpa de roupas. Ele sentiu a rajada de vento contra a nuca quando o homem saiu de seu quarto e fechou a porta com brutalidade. Riu sozinho, porque na verdade havia sinalizado para ele: Você é um velho idiota e sua barba fede.

Regulus havia sofrido a perda total de sua audição quando completou onze anos de idade, contraindo meningite bacteriana. Na época, se queixou ao pai sobre fortes dores de cabeça, vômitos e rigidez no pescoço, implorando para que fosse levado a um curandeiro. Orion, ocupado com sua carreira política e ego colossal, alegou que o menino precisava parar de tentar chamar a atenção e que era extremamente dramático. Nenhuma ação efetiva tomou.

Durante semanas, tudo o que Regulus fez foi sobreviver às dores intensas e vegetar em sua cama. Apenas quando estava prestes a morrer e queimando em febre, o chefe da família valorizou o estado de saúde do garoto. Correu para o hospital, segurando o filho inerte nos braços enquanto Sirius chorava copiosamente de preocupação por seu irmãozinho.

Infelizmente, já era tarde para contornar todas as adversidades da doença.

Os curandeiros disseram a família que os danos aos nervos auditivos eram extensos demais para serem reparados por magia, e quando a família Black recorreu a médicos trouxas, a resposta foi praticamente a mesma.

A ossificação de suas cócleas impossibilitava a inserção de implantes cocleares ou aparelhos que pudessem reverter o quadro da infecção. Para todos os efeitos, o diagnóstico foi definitivo e brutal para o pequeno Regulus: Surdez Neurossensorial.

Desde então, aprendera ASL, BSL, Auslan e Libras. As linguagens de sinais, apesar das crenças populares, não eram simplesmente uma simples tradução das palavras faladas para gestos, mas sim linguagens distintas e completas. Tinham características únicas que as tornavam interessantes e belas aos olhos do garoto, e ele as estudou com amor e paciência, apesar da frustração que sentira pela súbita mudança em sua vida e de tudo o que conhecia.

Graças ao auxílio de especialistas contratados por seu pai e da própria perseverança, Regulus conseguiu concluir exemplarmente seus anos estudando na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Alguns de seus amigos haviam se afastado dele, dizendo que a relação se tornara inviável diante das "dificuldades de comunicação". Suas mentes limitadas não conseguiam entender que o Black ainda estava bem ali; ainda tinha a plena capacidade de se expressar, apenas de uma maneira diferente àquela que estavam habituados.

Só naquele momento ocorreu ao garoto o quão importante seria se Hogwarts e outras escolas primárias ensinassem linguagens de sinais aos alunos. Quantas vidas aquela simples ação poderia mudar; quão extraordinário seria poder incluir na grade curricular as milhares de linguagens faladas naquele mundo, tão diversas quanto as pessoas que o habitavam. Porém, ele era o único que parecia se importar com o assunto.

Regulus correu os dedos pelos cabelos, pegando um par de calças jeans pretas largas e um suéter cinzento de lã. Vestiu-os rapidamente, checando-se uma última vez no espelho. Estava aceitável, pensou. Não era como se fosse se encontrar com qualquer pessoa além do próprio pai.

[...]

O garoto se arrependeu instantaneamente de sua escolha despreocupada de roupas quando adentrou o escritório, no último andar da mansão. As cortinas de cetim púrpura desciam em cascatas até o chão, deixando apenas que pequenos feixes de sol invadissem a sala rebeldemente, como um rio atravessando uma rocha. A poeira dos livros nas prateleiras rodopiava, e o cheiro de charuto cubano inebriou os sentidos de Regulus por um instante. Sentado à mesa lotada de papéis, estava Orion. Imponente, severo, cheio de rugas e manchas nas palmas das mãos, ele era o retrato dos medos mais profundos dos irmãos Black.

Walburga, uma mãe sempre ausente por estar com o rosto enfiado em uma garrafa de gin, nunca se preocupou em proteger os filhos das punições exageradas, castigos em masmorras frias e privação de comida - métodos adotados pelo pai sob o pretexto de educá-los para serem "homens fortes". Sirius e Regulus eram fortes não por conta de Orion, mas apesar dele. Não era atoa que Sirius se mudara para longe na primeira oportunidade que encontrou após sua formatura.

Mas o que chamou a atenção do garoto não foi seu pai, mas sim quem estava sentado do outro lado da mesa, a frente dele. De onde permanecia parado, com a mão ainda estrangulando a maçaneta da porta, Regulus só conseguia enxergar a nuca do sujeito. Tinha uma pele amorenada beijada pelo sol que entrava pelas janelas. Na verdade, a pele era o próprio sol. Os cabelos castanhos caramelizados e cheios, podia sentir daquela distância, tinham cheiro de shampoo de lavanda. E usava óculos; característicos óculos de armação redonda que deixariam qualquer um infantilizado. Qualquer um, menos ele.

Mesmo antes de virar a cabeça para encará-lo, Black já sabia quem era.

James Potter chocou seus olhos castanhos com tom de amarelo-dourado às orbes cinzentas de Black, inundando o recinto inteiro com tempestades solares e tinta guache. Não disse nada; não sorriu ou levantou-se para cumprimentá-lo. O que era bom, porque Regulus provavelmente teria de matá-lo com o lápis de ponta mais afiada do recinto.

Desviou, com dificuldade, sua atenção ao pai.

— O que ele está fazendo aqui? — Perguntou, e pôde sentir a oscilação no tom de sua voz. Limpou a garganta.

Potter, o desgraçado, lançou um sorrisinho sarcástico mínimo que logo foi substituído pela máscara de indiferença.

Amigo íntimo de Sirius, James nunca fora exatamente a pessoa favorita de Regulus. Conforme eles cresciam, parecia ser o objetivo primário do moreno fazer da vida do mais novo um inferno. Quando dormia na mansão em festas do pijama, junto a Remus Lupin e Peter Pettigrew, ele entrava sorrateiramente no quarto do menino no meio da noite e pintava bigodes e estrelas no rosto dele.

Regulus acordava com a tinta já seca sobre sua pele, e mesmo após feitiços de limpeza e litros de sabonete; seu rosto ainda ficava manchado por dias.

James o perturbava durante as férias de verão, mas quando as aulas em Hogwarts retornavam fingia que o garoto nem existia. Sempre o observava de longe, porém não dizia coisa alguma; e quando dizia, era algum comentário enviezado. Mesmo após a doença de Regulus, o máximo que Potter fez foi espancar uns garotos que fizeram piadas de mal gosto a respeito do diagnóstico do menino. Tirando isso, seu contato era distante e frio, e o Black preferia assim.

A razão do ódio mortal que alimentava em seu coração era simples, porém dolorosa: Foi James quem incentivou Sirius a ir embora.

O Sonserino teve de assistir seu irmão mais velho se mudar para longe e deixá-lo sozinho com as insanidades dos pais. E tudo havia piorado consideravelmente após a nomeação de Orion como Ministro da Magia: se tornara ainda mais cruel e implacável, assombrado pela responsabilidade que tinha sobre uma nação de bruxos que sempre estava desunida. E Regulus até poderia sentir alguma compaixão pelo pai, se o homem não fosse um cretino. Um cretino que ele fora abandonado para lidar sozinho, graças a Potter.

Orion ergueu um único dedo de alerta, dizendo:

— Seja educado com nosso convidado.

Regulus deu um sorriso que prometia assassinato, encarando o moreno.

— O que você está fazendo aqui?

James tirou os óculos do rosto e limpou-os na barra da camisa, despreocupado. Depois, subiu os olhos e disse, lentamente, seus lábios movendo-se como se estivesse cantando:

— Regulus. É bom ver você.

Apenas pela expressão mortificada no rosto do Potter, podia-se notar que ele estava mentindo descaradamente.

— Eu não posso dizer o mesmo.

Orion bateu o punho fechado contra a mesa, e o tremor que reverberou pela madeira chamou a atenção do Sonserino.

— Sente-se, filho.

O garoto de cabelos pretos teve de usar cada gota de controle e paciência que ainda tinha dentro de si para caminhar até a cadeira ao lado de James e sentar-se, arrastando-a para que pudesse olhar para ambos homens ao mesmo tempo - e, também, para aumentar a distância entre ele e o grifinório.

A longa pausa que se seguiu fez o coração do garoto se apertar, e sua mente traiçoeira pensou o pior. Olhando de um para o outro, sinalizou com as mãos:

"Aconteceu alguma coisa com Sirius?"

Orion revirou os olhos como se aquela fosse a pergunta mais burra que já lhe dirigiram. A expressão de James era indecifrável.

— Seu irmão está bem. — Disse o Sr. Black. Ele nunca usava a linguagem de sinais, jamais. Regulus sabia que o pai tivera inúmeras oportunidades de aperfeiçoa-la, apenas nunca teve vontade. Sabia o básico, e para ele já bastava. Logo, o garoto tinha de se esforçar sozinho para compreendê-lo através da leitura labial, que por muitas vezes não era precisa. Principalmente porque Orion falava muito rápido, de tão estressado que era.

— Estamos aqui para conversar sobre sua viagem a Washington semana que vem, para a reunião da Cúpula Internacional de Relações Mundanas e Bruxas.

Ah, aquela merda de Conferência.

Orion Black havia designado seu filho mais novo para ir até o evento e assinar um tratado de Cooperação com os Estados Unidos em pesquisa e desenvolvimento de fontes de energia sustentáveis. Isso significava muitas coisas. A primeira e mais importante era que, oficialmente, os bruxos fariam parte de uma aliança internacional e seriam reconhecidos como uma nação soberana. A segunda era; com sua habilidade em lidar com magia e canalização energética, o mundo mágico podia contribuir significativamente com conhecimentos e práticas para impulsionar a criação de fontes de energia limpa e renovável. Era um acordo benéfico para todas as partes.

Uau, pensou o sonserino, querem que a gente resolva o aquecimento global depois de destruírem o planeta com suas usinas e fábricas estúpidas.

O Ministro continuou falando, um pouco mais devagar:

— Como sabe, muitas pessoas não estão felizes com essa aliança ao governo americano, desde que revelamos nossa identidade para o mundo ano passado. A quebra do Estatuto Internacional de Sigilo em Magia ruiu nossas relações com algumas sociedades bruxas da Europa, e os trouxas possuem...preconceitos e medos em relação a nós. — Orion umedeceu os lábios secos, juntando as mãos sobre a mesa. As pontas dos dedos estavam sujas de tinta. — Essa viagem é arriscada.

Regulus sorriu.
— Com isso, você quer dizer que alguém pode tentar me matar.

Orion ergueu as sobrancelhas como se o filho tivesse acabado de resolver uma equação matemática capaz de desvendar os segredos da gravidade, do tempo e do espaço.

— É exatamente o que quero dizer. — O Sr. Black ergueu as mãos em direção ao Potter, e o que ele disse a seguir foi como soltar uma bomba atômica sobre uma cidade de gatinhos filhotes: — Por isso James está aqui. Ele irá como seu segurança.

Seu segurança.
Seu.
Segurança.
Nem fodendo.

— Não. — Regulus sentiu sua garganta se mover antes que ele tivesse noção de que estava dizendo. Pelo pulo que o grifinório deu ao seu lado, deve ter falado muito mais alto que o necessário. Mas não se importava.
— Não, pelo amor de Merlin.

James estava completamente imóvel na cadeira, seus olhos impressionantes focados sobre uma rachadura na mesa de madeira como se fosse a coisa mais fascinante do mundo. Não era possível que ele havia aceitado ir até ali, aceitado trabalhar para seu pai, depois de justamente ter ajudado Sirius a fugir dele.

— Regulus, eu não estou pedindo. — O Ministro da Magia foi certeiro quando fechou a mão em punho sobre a mesa e olhou no fundo dos olhos de seu filho. — É uma ordem, e irá segui-la.

— Eu prefiro levar um tiro na cara igual a John F. Kennedy a ter de me submeter a isso.

James levou a mão até o rosto como se tentasse disfarçar uma risada, e as maçãs do rosto do garoto Black esquentaram a ponto de arder. Talvez ele devesse estrangula-lo naquele instante. O pescoço estava há apenas meio metro de distância; o fim de Potter seria rápido.

— Isso não é tópico de discussão.

Regulus ergueu as mãos trêmulas e disse:

"Eu posso me defender sozinho. Não preciso de escolta. Minha varinha já me basta."

Orion continuava impassível.

— Não poderá usar magia enquanto estiver em solo americano.

James Potter se remexeu desconfortavelmente na cadeira diante da afirmação.

— Como assim? — A garganta do garoto estava ficando seca pelo uso. Há muito tempo não falava com outras pessoas; desde que se formara, estava tão focado nos estudos de Relações Internacionais e enviando admissões para as universidades de Direito da IVY League de sua preferência que apenas escrevia formulários e enviava correspondências o dia todo. E para isso, não precisava de sua voz. Apenas de uma caneta. A mãe e o pai mal se lembravam que ele existia, e Sirius se comunicava com o irmão mediante cartas.

— Uma das condições do Serviço Secreto foi que concordássemos em não usar magia enquanto estiverem lá. Não poderão nem ao menos levar as varinhas. — Orion tirou uma poeira inexistente do paletó. Pela expressão em seu rosto, também não gostava em nada da ideia. — Alguns líderes mundiais estarão presentes, seus filhos também. E todos têm medo das coisas que podemos fazer.

Fodam-se todos eles.

— E como pretendem nos impedir? Mesmo que eu não use minha varinha, ainda posso conjurar a magia em meu sangue.

Orion batucou os dedos sobre os papéis, ritmadamente. Regulus era fascinado por observar pequenos movimentos e tentar imaginar os sons que eles fariam; tentar ligá-los a lembranças de quando ainda era criança e não estava doente. Sons como folhear páginas, limpar a garganta, estalar os dedos ou até mesmo girar a maçaneta...

Seu pai balançou um papel a frente do rosto de Regulus, tirando-o de sua bolha de distração. O homem havia falado alguma coisa e, percebendo a confusão do filho, repetiu:

— Eu concordei em fazer um Voto Perpétuo.

Ele só podia estar brincando. Uma piada de muito mau gosto, com câmeras escondidas e um apresentador calvo de um programa falido na televisão.

— Quer dizer que vão nos impedir de usar nossa magia...usando da nossa magia.

James, o filho da puta, escondeu outra risada. Canalha, canalha arrogante que nem deveria estar aqui.

O Ministro da Magia já estava perdendo a paciência.

— Sei que parece ridículo. Mas ou aceitamos essas condições, ou perdemos o Acordo da Cúpula. Tem noção de quantas oportunidades diplomáticas teremos? O quanto poderemos expandir nossas trocas de informação e tecnologia? Os bruxos não precisarão nunca mais viver nas sombras; teremos nossa economia, bolsa de valores e commodities. Seremos iguais, em todos os sentidos.

Regulus quis mandar o pai para o inferno com aquele discurso otimista que nada tinha a ver com suas verdadeiras intenções. Orion Black só queria saber de dinheiro e poder; e ter uma relação direta com o país mais poderoso do mundo o aproximava de tais objetivos. A reputação dos bruxos e o bem-estar da sociedade mágica pouco lhe importavam verdadeiramente. O sonserino suspirou, exausto pela interação. Suas mãos se moveram, igualmente cansadas:

"Tudo bem, eu faço o que você quiser, pai. Mas eu não quero ele. Ache outra pessoa."

Se James entendeu que o garoto havia dito, não demonstrou. E Regulus pensou: É claro que ele não entendeu. Seu cérebro minúsculo não tem capacidade nem ao menos de falar inglês corretamente.

— James serviu nas Forças Armadas por dois anos depois de se formar, junto de seu irmão. Tem treinamento tático, sabe lutar, manusear armas e experiência em serviços de proteção. É a única pessoa de confiança preparada para fazer o serviço, sem precisar de magia.

"Abraxas e sua equipe também irão para fornecer suporte, mas é James o chefe da segurança. Ele vai garantir o trajeto de ida, estadia e volta. Teremos o jatinho particular do Presidente Reagan a disposição, e é bom que você beije os pés dele em agradecimento por tamanha gentileza, ou eu farei um colar com o seu intestino. Sabe o que está em jogo aqui."

Os olhos de James escureceram diante da última parte do discurso, mas o Black mais novo não percebeu, pois tentava achar maneiras de fugir daquela situação. Viajar junto a Abraxas Malfoy, seus asseclas e James Potter e passar um fim de semana puxando o saco de velhos patéticos parecia uma situação saída diretamente de um pesadelo.

E ele percebeu, nada surpreso, que havia perdido aquela discussão antes mesmo de ela ter começado. Com seu pai, não havia diálogo. Apenas ordens e comandos. Então, diante de tudo aquilo que tinha vontade de expressar, toda a raiva e angústia e solidão, a pressão esmagadora que sufocava seu peito...tudo o que fez foi levantar uma única mão e sinalizar, derrotado:

"Okay."

Orion se dirigiu ao grifinório na sala:

— James, já recebeu minhas orientações. Quero receber um itinerário antecipado dos três dias que passarão lá, sem pontas soltas. Tenho certeza de que tudo acontecerá tranquilamente, mas precisamos ter cautela de qualquer jeito.

Potter respondeu alguma coisa, mas Regulus não estava olhando e nem se importava. O garoto encarava uma sujeira na ponta de suas botas cinzentas como se pudesse abrir um buraco através delas com a força dos pensamentos. Só subiu o olhar quando percebeu o escrutínio de seu pai sobre si novamente.

— Vocês podem ir, os dois. Iremos conferir os detalhes na segunda-feira. — E os dispensou com a mão, como se fossem cachorros pedindo um pedaço de carne.

Regulus não precisou de mais nenhum incentivo para se levantar, arrastando a cadeira e riscando o piso de madeira. Ele sentiu o chão tremer com suas próprias passadas furiosas conforme abriu a porta e andou para o saguão de entrada, querendo desesperadamente quebrar alguma coisa com as próprias mãos. E a dor de cabeça...a maldita dor de cabeça estava voltando com força total. Mais um efeito colateral vitalício da meningite, junto às convulsões.

Uma mão grande e forte agarrou seu braço, forçando-o a parar. Regulus estava prestes a fincar as unhas em retaliação quando virou seu rosto e deu de cara com Potter, bem ali, na frente dele. Engoliu o que pareceram dois litros de saliva.

James era bons vinte centímetros mais alto, mesmo sendo apenas um ano mais velho. Seus ombros largos repuxavam o tecido da camisa, e a pele tinha pintinhas espalhadas por toda parte como constelações no céu. Os óculos estavam caídos sobre o nariz, e só naquele momento Regulus percebeu o quanto havia mudado fisicamente. Há quanto tempo não o via; um ou dois anos?

Potter umedeceu os lábios rosados com a ponta da língua, e eles começaram a se mover com calma ensaiada:

— Estou apenas fazendo o meu trabalho.

Regulus soltou o ar que nem sabia que estava prendendo.

— Não me importo.

A expressão de James se fechou, dando lugar a uma seriedade letal que fariam homens menos petulantes que Regulus se apavorarem.

— Independentemente da opinião pessoal que possui sobre mim, tenha a prudência de seguir as ordens que receber. Você não percebe o perigo que corre indo para lá. Então pare de agir feito uma criança e me deixe fazer o meu trabalho, porque sei o que estou fazendo, porra.

Os olhos cinzentos e insanos do Black se arregalaram conforme ele se desvencilhou do toque, dando um passo para trás. Por um momento, ergueu as mãos, querendo insultá-lo de todas as formas, em todas as linguagens que conhecia. Depois, sua garganta formigou. E a mente nublada se deixou ser tomada pela raiva e pela mágoa. Ele sentiu as letras se formando, juntando-se umas as outras em cadeia e formando palavras, palavras essas que se tornaram frases e maremotos, e eles estavam saindo em tsunamis vorazes de sua boca. Ele pôde até mesmo notar os movimentos de sua língua no céu da boca quando disse:

— Não bastava tirar meu irmão de mim? — A enxaqueca salpicava sua visão de pontos pretos.
— Não arruinou minha vida o suficiente?

Ficou implícito o que ele estava tentando dizer: Agora quer virar o serviçal do meu pai?

James não disse mais nada, e a maneira como seus olhos castanhos se apagaram como lâmpadas explodindo uma a uma foi despedida suficiente para o mais novo.

Regulus lançou um último olhar de desprezo na direção do moreno antes de atravessar a porta de entrada e batê-la com tanta força que os vidros chacoalharam. O cabelo dele se bagunçou em resposta as massa de ar.

Mesmo após se embrenhar no bosque e se afastar suficientemente da mansão Black, ainda tinha a sensação dos olhos de Potter queimando suas costas.

— {...}—

Notas da autora:

Eu tô' tão feliz de poder estar finalmente postando essa fanfic. Amo uma dinâmica do segurança e o protegido, hehehehe

Estamos prestes a embarcar em uma aventura, segurem-se...

Até o próximo capítulo 🩷

• Entendendo minha responsabilidade tratando do assunto, a representatividade PCD nos capítulos está sendo revisada e orientada.

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