Playing Against Time | Bento...

By patxom4

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(+18) Ahri Aikyo possui uma incrível herança de família: uma máquina do tempo. Junto com a sua irmã, Ayumi, e... More

Palavras Iniciais da Autora
Prêmios
Cast
Playlist
Primeira Parte [Separador]
001. O Bracelete
002. Casa de Shows
003. Dia dos Namorados
004. Sinal Vermelho
005. Na Garagem
006. Casa Japonesa
007. Inconsciência
Segunda Parte [Separador]
008. A tal da "resenha"
009. Almoço pós festa
010. Brigados
011. Ciência e Teorias
012. Culpa do TCC
013. Traíra
014. Razões e Emoções
Terceira Parte [Separador]
015. Perrengues... Dos "Brabos"
016. "Free Bird"
017. Homens de Preto
018. Teste de Learjet
019. Fedor de Querosene
020. Albert Einstein
Quarta Parte [Separador]
021. Dilema Emocional
022. Desabafos
024. C(ensored) Temporal
025. Despedida
Quinta Parte [Separador]

023. A resposta é "não"!

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By patxom4

Sabe, penso que quando algo é para acontecer, ele acontece de imediato. Logo no dia seguinte do meu histórico pedido de desculpas para a minha irmã, eu estava de manhã — bem linda e plena — na casa da minha tia tomando um delicioso café com ela quando o seu telefone fixo tocou. Me levantei para atender, totalmente despreparada para receber a notícia de que eu havia sido aprovada no teste de trabalho que fizera dias atrás, e que agora estava sendo convocada para levar os meus documentos e assinar o contrato. Pois bem, eu tive que dar um duro danado para imprimir novos documentos e alterar as datas dos meus documentos originais, mas no final deu tudo certo. Não foi nada que a Ayumi não pudesse resolver por mim, visto que ela era mestre em conseguir documentos falsos. Eu já podia me autodenominar como engenheira aeronáutica da empresa Madri Táxi Aéreo (e sim, isso era muita coisa, mesmo que a empresa não fosse conhecida por tantas pessoas).

Mas convenhamos que eu fui contratada em uma péssima época do ano. O segundo semestre sempre é muito corrido, e o final do segundo semestre é mais ainda. Então, a partir do momento em que eu passei a integrar a equipe de trabalhadores do táxi aéreo, eu passei a sentir o peso da falta de um engenheiro competente na empresa ser despejado todo em cima dos meus ombros. Eu estava trabalhando até aos sábados. E foi exatamente em um desses sábados que eu cheguei exausta, fedorenta e descabelada, por volta de meio-dia, na casa da minha tia, e acabei me deparando (e assustando) com a bela imagem da minha irmã tipicamente sentada no sofá da sala, cercada de livros de medicina. Naquele dia ela tinha ido comigo de manhã para a casa da Miyuki, mas sem livros e nem cadernos. Chegando lá, ela foi dormir. Sendo assim, ao deixar o bracelete por sua conta enquanto eu trabalhava, eu esperava que ela voltasse para o nosso tempo mais tarde ou que, pelo menos, saísse pelas ruas do Liberdade nos anos noventa. Afinal, estávamos em um tempo que não era o nosso original, e ainda eram meio-dia! Quem diabos estuda num dia de sábado a este horário?

Enfim, eu acho que me exaltei um pouquinho (não me levem a mal, é porque eu me sinto à vontade para ser totalmente transparente com vocês). Voltando ao assunto de antes, depois que voltei à realidade, fui à cozinha tomar um copo d'água e respirei fundo para me recuperar do pequeno susto que tive, eu pude voltar para a sala e aproveitar a presença da minha caçula para conversar com ela sobre algumas descobertas científicas que eu andei fazendo nos últimos dias enquanto trabalhava na Madri. Não se assustem sobre o termo "descobertas científicas" enquanto eu deveria estar trabalhando. Lembram da descrição que eu fiz anteriormente sobre o lugar que eu trabalharia? Pois então, a minha oficina era simplesmente o lugar que eu entrava e nem pensava em sair. Uma prateleira gigantesca e cheia de livros de Física, Engenharia, Química, e revistas científicas me entretiam até mesmo nos meus horários livres. Além disso, como eu geralmente acabava o meu trabalho mais cedo do que o planejado e tinha que ficar dentro da empresa até dar o meu horário de ir embora, eu ficava estudando as maravilhas que continham naquela estante. Foi assim que eu acabei descobrindo muita coisa em pouco tempo.

— Ayumi, eu tenho atualizações sobre o acidente — pronunciei tal frase enquanto me aproximava de fininho da mais nova, a fazendo tirar a sua atenção dos livros momentaneamente e a voltar para mim. Depois, ela ajeitou a sua postura no sofá e liberou um espaço para que eu me sentasse ao seu lado.

— Eu sou toda ouvidos.

— Pois bem — ao me aconchegar contigo, eu não precisei pensar muito nas palavras que pronunciara a seguir, porque elas simplesmente saíram naturalmente da minha boca: — Eu já tinha lido o relatório final do CENIPA anteriormente enquanto fazia um trabalho para a faculdade, mas confesso que já tinha me esquecido da maioria dos pequenos detalhes dele. Recentemente eu encontrei no trabalho os documentos do Learjet, até então, todos regularizados. E eu não preciso citar que a aeronave não possui mais problemas técnicos, né? Eu mesma fiz os reparos no que precisava e agora o sistema de funcionamento geral do jatinho tem uma garantia até o final de noventa e seis. Entretanto, antes de vir aqui ter essa conversa com você, no nosso tempo eu andei assistindo as gravações de conversa entre torre de controle e cockpit da aeronave e notei que tem uma coisa que não bate como deveria bater: houve uma falha de comunicação entre ambas as partes. Uma falha grotesca e sem muito sentido.

Se antes a minha irmã já prestava atenção no que eu dizia, quando citei essa parte final da falha de comunicação vinda da torre de controle, ela ficou ainda mais interessada no assunto.

— Calma lá, explica direito essa história de falha de comunicação — eu senti muita curiosidade vindo do seu tom de voz. — Que tipo de falha foi essa?

— Você sabe mais ou menos o que diz o relatório final do acidente?

— Não faço ideia — ela disse o que eu realmente esperava ouvir. Leitores, eu amo explicar acidentes aéreos para leigos, e para que vocês continuem compreendendo a minha linha de raciocínio, vocês terão que prestar bastante atenção nos detalhes que eu explicarei a seguir sobre este acidente, especificamente. Agora todos vocês estão exatamente no mesmo patamar que a Ayumi estava no momento em que tínhamos essa conversa.

— Pois bem — aliás, sempre que vou começar a contar algo relacionado a um acidente, iniciar a minha fala com um "pois bem" é uma marca tão característica quanto o Lito com "senta que lá vem história". Isso é apenas um adendo, vamos continuar —, com o Learjet já tendo chegado em Guarulhos, até o momento em que os pilotos começaram a descida da aeronave, quem estava os vetorando não era o controle Guarulhos, mas sim o controle São Paulo — "vetorar" é guiar o voo. Em outras palavras, quem dá as instruções para os pilotos do que deve ser feito nesse estágio é o controle de tráfego aéreo. — O jatinho estava voando rápido para um avião que se encontra em aproximação final. O controle, apesar disso, ordenou que eles descessem para cinco mil e quinhentos pés, o que foi desobedecido por parte dos comandantes, que desceram para quatro mil e novecentos pés. Sobre estar voando rápido, antes de descerem para seiscentos pés abaixo do recomendado, ainda assim o comando da aeronave ia reduzindo aos poucos a velocidade do jato, e a partir do momento em que desceram, pararam de reduzir.

— Esse "pararam" é uma das consequências da falha de comunicação? — Visivelmente a minha irmã estava interessadíssima no assunto.

— Nessa parte especificamente eu ainda não sei no que acreditar, porque no relatório final não diz algo sobre falha na comunicação com a Torre São Paulo. Eu tenho algumas hipóteses: um dos rádio comunicadores estarem com defeito, os pilotos já estarem lelé da cuca levando em consideração que neste momento eles já estavam submetidos a uma jornada de mais de quinze horas de trabalho, o CENIPA, justamente pela tecnologia não tão avançada da época, não ter conseguido apurar cem por cento dos fatos que ocorreram no acidente ou até mesmo os comandantes do avião estarem quebrando a cabeça para conseguir compreender os computadores da aeronave.

— Então quer dizer que os pilotos não estavam habituados a pilotar um Learjet 25D?

— Exatamente.

— Que perigo — neste momento, a sua feição mudou e foi para a de uma pobre garotinha assustada. Porém, "o buraco da coisa era mais embaixo", falando no sentido de aviação. O piloto estava habilitado para ensinar o copiloto a mexer naquela aeronave em específico, sinal de que ele possuía a certificação necessária para pilotar um Learjet 25D. Infelizmente, não é possível saber o que se passava dentro daquele cockpit, tendo em vista que o jatinho não possuía um gravador interno, tornando impossível a missão de deduzir com precisão se aquelas manobras erradas eram propositais, para ensinar o copiloto a se virar em uma situação ocorrendo fora dos padrões, ou se era algo realmente não planejado e que estava ocorrendo justamente pelos dois lados não saberem o que fazer. Afinal, o que eu disse anteriormente era verdade: o piloto também não era habituado a pilotar aquele modelo de jatinho, mesmo que fosse certificado para tal trabalho. São duas coisas diferentes. Porém, Ayumi, se você estiver lendo isso, quero que saiba que neste momento eu tive muita vontade de te interrogar sobre o motivo de você estar julgando o próximo, sendo que você já se meteu em situações de risco igualmente perigosas. — Mas continue contando a história, estou achando interessante saber de todos esses fatos.

— Bem, sem desacelerar os movimentos, o Learjet se aproximou de um marcador externo muito alto, rápido e desviado do eixo que deveria estar de alinhamento com a pista de pouso, tornando impossível, inclusive, desacelerar a aeronave até que chegassem na cabeceira que iam pousar na pista, além de não estar com os trens de pouso e os flaps abaixados, o que é uma obrigatoriedade quando se está perto de pousar. Sendo assim, a única coisa que era possível de se fazer era arremeter — até então eu dei uma explicação geral sobre alguns (não todos) fatos importantes que antecederam o acidente. Depois disso é que eu comecei a falar de fato sobre o acidente. — Arremeter foi um movimento certo a se fazer, mas de um jeito equivocado.

Antes a minha irmã já estava interessada, mas foi neste momento que eu percebi que ela redobrou a sua atenção sobre mim, e eu recomendo que vocês façam o mesmo.

— Devido ao avião estar muito acelerado — neste caso, não apenas em quesito de velocidade, mas falando de um modo geral para um avião que se encontrava tão próximo do aeroporto que iria pousar —, o piloto, que era aquele que tinha mais instrução naquela máquina, obviamente estava sobrecarregado, tendo que se comunicar com a torre, prestar atenção nos computadores e ainda instruir o copiloto, acabou demorando para se conectar com o controle Guarulhos, mesmo o controle São Paulo tendo o mandado chamar o controle Guarulhos um tempo antes. Essa demora para se conectar acabou acarretando uma complicação que, no meu ponto de vista, é bem grave: ele conseguiu se conectar apenas no momento em que já estava iniciando o procedimento de arremetida. Sendo assim, apenas avisou para o controle Guarulhos que já estava arremetendo para a esquerda.

— E foi a partir daqui que houve a falha de comunicação que você citou anteriormente, não foi?

— Exatamente. E eu falo isso porque foi neste momento que o controlador de tráfego aéreo pediu a confirmação do procedimento que o Learjet estava fazendo, e o piloto respondeu que estava em condições visuais e pediu autorização para arremetida à esquerda, o que, na verdade, ele já estava fazendo. Em seguida, o piloto emenda e explica que era para ingressar na perna do vento.

— O que seria "perna do vento?" — Entenderam por que eu disse anteriormente que vocês estão agora na mesma posição que a Ayumi estava naquele momento da nossa conversa? Tenho a convicção de que as perguntas que ela estava me fazendo são super condizentes com as que estão se passando pela cabecinha de vocês neste exato momento.

— É a direção oposta do sentido de pouso. Um avião, geralmente, pousa num sentido oposto à direção do vento. Quando o piloto diz que vai entrar no sentido da perna do vento, quer dizer que ele vai fazer uma curva para seguir a mesma direção que o vento está soprando — tenho que admitir que até hoje eu fico impressionada que eu consiga saber de cor esses termos técnicos difíceis. Eu sou engenheira, mas toda vez que me cai a ficha de que eu realmente sou engenheira eu fico maravilhada em ter a convicção de que eu consegui me formar em uma área que eu tanto admiro. Enfim...

— Então o que quer dizer com a falha de comunicação?

— No relatório diz que essa fala do piloto levou o controlador de voo a entender que ele ia arremeter à esquerda e logo em seguida fazer uma curva de duzentos e setenta graus para o setor sul do aeroporto, virando, assim, o avião para a direita da pista antes de tomar a perna do vento.

— Mas eu não entendo, Ahri — um semblante confuso tomou conta da sua face. — Por que caralhos o controlador imaginou que o piloto interceptaria a perna do vento no setor sul e não seguiria para o setor norte, já que o piloto disse que faria a arremetida para a esquerda?

— É porque um procedimento de arremetida para a esquerda é uma coisa comum para milhares de aeroportos espalhados pelo Brasil e pelo mundo, são poucos os que têm o procedimento pela direita. Ele deduziu que o piloto conhecia a carta de aproximação visual, que designa o procedimento de aproximação visual em Guarulhos pelo setor sul, ou seja, arremetidas geralmente acontecem para a direita. Essa foi a principal falha de comunicação dentre todas as outras que citei.

— E o comandante em questão não conhecia essa carta? — Neste momento, a sua expressão confusa cedeu lugar à uma expressão chocada.

— Ou ele não conhecia, ou conhecia e mesmo assim assumiu os riscos e optou por seguir no setor norte — pra mim, essa era a parte do acidente que mais me deixava sem palavras, porque... — Ou seja, estou querendo dizer que ele poderia ter feito de propósito, sabendo que tinha a serra logo ali do lado.

— Agora eu entendi claramente — e agora a expressão que tomou conta da sua face foi a de tristeza. Neste momento ela parou de me fitar e passou a olhar fixamente para a sua frente. — Eu te falei que não descartasse a hipótese de um assassinato.

Essa sua última frase me fez respirar fundo. Não de raiva, mas de frustração. Apesar da minha irmã ter me pedido consideração por algo considerado por mim muito pesado, ela estava certa, eu não poderia descartar tal hipótese. Seria difícil anteriormente pensar que aquele acidente pudera ser um assassinato, mas agora que eu tinha fatos um pouco mais concretos em mãos, eu não poderia descartar eles. Dentro de uma investigação aérea, tudo tem que ser levado em conta.

— O piloto também informou ao tráfego aéreo que estava em condições visuais, Ayumi — monotonamente, eu disse. — E esse é o maior enigma de todo o acontecido. Ele seguiu a perna do vento no setor norte em alta velocidade, o que o desviou muito da curva que deveria ser feita e levou o jatinho direto para a direção da Serra da Cantareira. Como a Serra não era iluminada, ali não era uma área visual apropriada para voos em condições visuais. Além disso, o avião acabou saindo da zona de controle de Guarulhos, ou seja, o tráfego aéreo perdeu o contato de radar. Outrossim, eu também tenho quase cem por cento de certeza que o piloto automático estava desligado, porque segundos depois a aeronave perdeu ainda mais altitude, ficando a três mil e trezentos pés, abaixo do circuito de tráfego para voo visual, e o piloto automático teria ajudado os comandantes a se localizarem melhor sobre o espaço em que estavam e provavelmente não deixaria que a altura anterior antes dos três mil e trezentos pés fosse perdida. Esse lance de voo visual atrapalhou muito toda a ocasião porque o Learjet perdeu a prioridade para pousar, tendo em vista que tinha uma outra aeronave se aproximando via aparelhos de Guarulhos. A torre ainda pediu a confirmação de voo para o jatinho, que confirmou estar em voo visual, por isso a torre seguiu os protocolos padrões ao pedir que o Learjet se mantivesse na perna do vento. Segundos depois o piloto chamou novamente a torre para pedir autorização para girar a base.

— Girar a base? — Ayumi mais uma vez me interrogando sobre as mesmas coisas que vocês iriam querer interrogar.

— Sim. "Girar a base", neste caso, é virar para a direita para depois virar de novo e fazer o alinhamento com a pista. Mas vamos considerar apenas o primeiro "girar" por hora. Se ele girasse, ele pegaria a perna base e sairia da perna do vento. E foi aí que houve mais um conflito de comunicação, tendo em vista que quando ele pede autorização para a girar a base, o controle atual o manda chamar outro controle. Este outro controle pede para que o Learjet informe a posição atual e o comandante diz que eles já estavam se alongando na perna base, ou seja, indo na direção da pista para fazer o alinhamento. Só que isso era mentira, eles não estavam na perna base. Assim, o controle o manda se manter na perna do vento. Infelizmente, ao se manter na posição, o Learjet perdeu mais quatrocentos pés de altitude e agora já se encontrava na reta da serra.

— A aeronave estava equipada com algo que apitasse quando estivesse perto de obstáculos?

— Esse "algo" tem nome: Ground Proximity Warning System, ou como popularmente é conhecido, GPWS — como a caçula sugeriu antes, este é um sistema capaz de identificar se a aeronave estava externamente se aproximando de algo que pudesse ser perigoso para o voo. E foi até bom a Ayumi ter se lembrado disso, porque... — Não, não era e ainda não está equipada. Taí algo para eu providenciar instalar o quanto antes.

— É, Ahri... — Neste momento, a minha irmã voltou a me fitar. — Você conseguiu juntar muitas peças do quebra-cabeça.

— Mas ainda não é o suficiente, Ayumi — acreditem em mim leitores, eu estive um tempo pensando milhares de vezes no que eu diria para a garota quando chegasse no estágio a seguir da conversa: — Como você pode perceber, o problema não era externo ao acontecido. Que nem na teoria dos limites, eu preciso, antes de mais nada, encontrar o problema, para poder o cortar da minha vida e conseguir resolver a questão pacificamente. Agora tudo está centrado na base da dedução, e eu deduzo que o problema estava dentro do cockpit, no dia três de março de noventa e seis, no exato momento em que a arremetida para a esquerda foi iniciada. Sendo assim, eu preciso estar dentro desse avião no dia e horário exatos em que tudo aconteceu.

Antes Ayumi me encarava com um semblante sério, e este semblante não mudou nada, mesmo no momento em que eu disse que iria na viagem que matou os meninos. O que mudou foi o tom da sua voz, que se tornou extremamente autoritário ao dizer:

— Esquece.

Uma única palavra dita calmamente por ela me fez levantar do sofá em um só pulo, repleta de raiva, antes de me virar para si, apontar o dedo na sua cara e dizer:

— Você é burra ou o quê?

— Ahri — ainda calma, mesmo com a minha explosão de fúria, ela ergueu a sua mão para abaixar a minha que estava apontada na sua direção. — Sem mais um pio sequer. Você não vai. E se você inventar de ir, eu mesma tiro o seu emprego e acabo com a sua reputação, destruo a sua vida antes que você consiga construir ela. Não duvide de mim.

Eu não duvido da capacidade da minha irmã de cometer alguma atrocidade para me impedir de viajar de avião naquele dia. Diante da sua ameaça, eu decidi respirar fundo mais de uma vez e tentar me acalmar antes de falar mais uma coisa com ela:

— Já que quer me impedir, eu espero que você tenha um plano melhor para me ajudar.

— É lógico que eu tenho — dito isso, ela se levantou, também. Caminhou vagarosamente para a sua frente até o rack de televisão da minha tia e pegou um livro que se encontrava por cima dele antes de vir até mim, pegar a minha mão e me entregar o objeto. — Lê.

Se tratava de "Alice No País Das Maravilhas".

— Como você pensa que essa porra pode me ajudar, Ayumi? — Sim, eu estava indignada. Eu tinha a apresentado uma situação totalmente triste e desesperadora e a menina estava me mandando ler um livro infantil para tentar encontrar uma solução? Isso era uma hipótese melhor do que a que eu tinha proposto no começo?

— Decifrando os enigmas — em um tom de resposta óbvia, ela pronunciou tais palavras. — Você citou a teoria dos limites matemáticos como forma de resolver o seu problema. Sabe quem mais cita isso? Lewis Carroll. A lógica que você precisa seguir pode muito bem estar nas páginas deste livro.

Sim, neste momento eu realmente me acalmei e me dei conta de que aquela menina foi o gênio que me fez pensar que as coisas, embora ficassem mais difíceis, poderiam ser feitas com os dois pés no chão, literalmente. Todo o meu mau humor foi embora em uma questão de segundos ao ouvir a resposta da minha caçula. Sendo assim, eu sorri e tive uma imensa vontade de a abraçar por ter me dado uma esperança de luz no fim do túnel. Porém, como o código de comportamento dos irmãos mais velhos demanda, eu não poderia deixar o meu orgulho totalmente de lado, apesar do sorriso que lhe dei. Sendo assim, olhei para o livro e depois para ela e pronunciei:

— Obrigada — neste momento, com a minha canhota, eu ergui o bracelete e sorri mais largo ainda. — Agora você se comporta aí enquanto eu tomo um banho e me arrumo para mais tarde.

E assim, antes que ela pudesse ter um reflexo mais rápido e conseguisse tomar o instrumento do tempo de mim, eu me transportei para o futuro novamente. O que eu não contei para vocês — mas que explica muita coisa — é que, em dado momento, quando ela se levantou para ir pegar o livro no rack, eu percebi o bracelete no bolso traseiro do seu short, e quando ela se aproximou de mim, eu consegui o pegar sem que ela percebesse. Deixar a minha irmã sozinha no passado por algumas horinhas foi uma forma de vingança por ela não ter acatado o meu plano inicial e ter me ameaçado, mesmo que tivesse me dado uma ideia paralela que agora parecia extremamente boa e eficaz para a resolução do problema que se encontrava naquele momento nas minhas mãos.

3757 palavras.

Sim, meus lindos, eu sei que eu estou sumidissima por aqui. E antes de perguntar como vocês estão, eu quero pedir desculpas pela demora imensa para atualizar este livro! Acontece que o meu tempo anda super corrido, mas está tudo sob controle e agora estou conseguindo me reorganizar para continuar postando esses capítulos que eu já havia escrito anteriormente. 

Com essa dúvida esclarecida, agora sim posso perguntar: como os meus leitores lindos tem passado? Eu espero que todos estejam bem e se cuidando!

O capítulo de hoje é simplesmente muito importante para essa obra! Eu tentei ao máximo ser clara e objetiva na explicação do acidente, e por isso espero que vocês tenham compreendido a lógica das descobertas da Ahri, porque ela será utilizada mais pra frente.

Bom, além desse, eu estou com mais quatro capitulos escritos e só esperando a revisão para ser postado aqui. Estou pensando seriamente em liberar um novo amanhã, domingo, para comemorar pelos 10k de leituras nessa obra! Aliás, falando nisso, eu só tenho a agradecer vocês! Muito obrigada! Vocês são incriveis DEMAIS! <3

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