Os meses se passaram, Lara finalizou as gravações do grande projeto e enviou para a edição que demoraria mais um tempo para ser terminada.
Hugo contou ao seus avós que seria pai e aos seus sogros, todos reagiram com grande alegria, até dona Carolina que raramente se emocionava abraçou a filha. O casal ficou noivo depois de um jantar privado em casa do jeito que ela sempre sonhou.
Sua barriga já estava gigante, faltavam apenas dois meses para ter o bebê. Eles teriam um menininho o qual o nome foi escolhido no ano novo do último ano, achavam doido como o Levi havia aparecido para eles bem antes de ser concebido. Então decidiram ir em uma babymoon(1)
- Tu manteve segredo mas eu já vi que nós vamos pra Paris, o que nós vamos fazer na França Gugu? - Lara perguntou acariciando a enorme barriga.
- Vamos conhecer, eu nunca fui a França. - Olhou para a noiva esticando os pés - Ia falar isso agora para você.
Estavam na sala VIP do aeroporto enquanto esperavam seu voo ser chamado.
- Max nasceu na França. - Ela comentou enquanto olhava os aviões na pista.
- Vai que a gente encontra ele.
- Hugo... - Olhou-o - Você marcou alguma coisa com o Max?
- Eu? - Negou com a cabeça - Eu só pesquisei e descobri que ele é um grande escritor na França e fará uma sessão de autógrafos em uma livraria que coincidentemente fica perto do hotel onde iremos ficar.
- Por que você fez isso? - Segurou-se nele.
- Porque eu quero conhecer ele e a esposa, você precisa vê-los. Nós vamos começar uma nova fase na nossa vida e eu quero começar direitinho.
Hugo estava certo, Lara precisava ver como Max e Vanessa estavam antes de começar essa nova fase que os aguardavam.
- Você está certo meu amor. - Beijou-o na mão.
- Eu vou estar o tempo todo ao seu lado.
***
Lara olhou para a torre Eiffel na frente de seu quarto do apartamento que alugaram e suspirou colocando as mãos na barriga onde era o lar de seu grande amor, Levi.
Da cama, Hugo observava a noiva, olhando-a daquele jeito se perguntava se tinha feito a coisa certa em trazê-la para Paris. Levantou-se e caminhou até ela abraçando-a por trás.
- Me perdoa? - Ele pediu enquanto apoiava o queixo na cabeça.
- Por qual motivo? - Acariciou as mãos do homem.
- Por ter te trazido aqui sem te perguntar antes, fui um filho da puta.
- Você não foi um filho da puta. - Virou-se olhando para ele - No máximo um sem noção.
Os dois riram em uníssono, o rapaz segurou o rosto dela em suas mãos.
- Se quiser não ir na sessão de autógrafos hoje nós podemos caminhar pelo centro de Paris e...
- Pelo amor de Deus, sem caminhar. - Interrompeu-o arrancando uma gargalhada do noivo - Eu queria é tomar um vinho.
- Vamos tomar um suco de uva. - Sorriu beijando a testa dela.
Hugo abriu mão de álcool quando descobriu que Lara estava grávida, desde então não bebia nem escondido estava junto dela.
- Vamos ir na livraria sim, você estava certo. - Olhou-o por cima dos óculos, seus lindos olhos azuis sempre o paralisavam - O Max e a Vanessa são meus amigos, preciso ver eles pelos menos uma última vez.
- Então tá bom. - Suspirou aliviado - Depois eu vou te levar para jantar, te levar para o quarto e vamos tomar um banho juntinhos.
- Vou ganhar uma massagem especial?
- Quantas você quiser meu amor. - Deu-a um beijo demorado até ser interrompido por seu relógio que apitava - Porra, adivinha.
- Estamos atrasado?
- De lei né?
Gargalhando os dois se ajudaram, enquanto Hugo fechava as janelas Lara vestia seu grande casaco de pele falsa que quem a visse não imaginaria que estava grávida.
Desceram pelo pequeno elevador que cabiam apenas duas pessoas e caminharam de braços dados pelas suas geladas de Paris. Era meio do inverno e as ruas estavam mais românticas pintadas com a cor branca da neve.
Pararam na frente da livraria a qual seria a sessão de autógrafos de Max, havia uma fila gigantesca, ele era bem conhecido na região.
- Excusez-moi, ma femme est enceinte, pourrions-nous passer devant?(2) - Hugo gastou seu Francês que havia aprendido quando mais jovem.
- Oui!(3) - Algumas pessoas deixaram-na passar na frente, outras não.
- Então eu sou sua esposa? - Riu depois de entender pouquíssimo do que ele falou.
- Na minha cabeça você sempre foi minha esposa, só que agora falta pouco tempo para nós nos casarmos. - Riu olhando-a até que parou bruscamente - Nós não temos o livro.
- Como assim porra?
- Como a gente vai pedir um autógrafo em o livro? - Coçou a cabeça - Vai la pegar um.
- Guarda meu lugar.
Lara caminhou até a estante onde só haviam livros de Max e procurou um com a capa bonita, até que achou um escrito em português. "Azul cor do mar, dourado cor do Sol".
- Que lindo. - Disse pegando para si.
De longe Vanessa entrava na livraria com mais algumas canetas para o marido, quando viu a moça lendo a capa do livro paralisou. "Como são parecidas" pensou ela. Ignorou seus pensamentos e entregou as canetas para Max.
A moça loira voltou para perto no noivo e mostrou o livro que havia pego, o rapaz pareceu muito interessado no conteúdo.
- Vai ser minha próxima leitura. - Assentiu com a cabeça concordando com seus próprios pensamentos antes de serem chamados - Bem na hora.
- Buonjour(4) - Cumprimentou sem olhá-los enquanto autografava a contra capa do livro.
- Bom dia. - Hugo respondeu.
- Brasileiro? Só não pode vender meu autografo. - Perguntou rindo levantando o olhar.
Max paralisou ao ver Lara ao lado do rapaz alto que havia lhe entregue o livro. Sentiu seu coração bater mais rápido, sua boca ficar seca e suas mãos ficarem geladas.
- Somos. - Sorriu ele, mas ficou preocupado com a palidez do homem - Está tudo bem?
- Sim, claro é que... - Negou com a cabeça colocando as ideias no lugar - Para quem vai ser a dedicatória?
- Para ela. - O rapaz encostou nas costas da noiva que até em então estava em silêncio, com medo de falar algo.
- Qual seu nome? - Estava curioso.
- Lara, Lara Almeida.
Depois de dizer seu nome completo, Max sentiu-se suando naquele frio. Sua visão ficou turva e ele tremia enquanto escrevia a dedicatória. Todas as memórias vinham a sua cabeça, ele lembrava de tudo o que viveu com Lara como se fosse ontem.
- Está tudo bem? - Ela perguntou.
- É que você se parece muito com um grande amor que eu tive, tem até o mesmo nome. - Sorriu sem graça deixando a caneta na mesa - Escrevi esse livro assim que ela me deixou.
O casal se entreolhou, Hugo a encorajava a falar quem era mas Lara tinha medo.
- Eu sou a Lara que você está pensando.
- Não pode ser. - Max riu enquanto encostava-se na cadeira.
- Tudo bem Maxine, não precisa acreditar.
- Como você sabe esse apelido? - Perguntou assustado.
- Da mesma forma que eu sei que você nasceu na França porque seus pais eram revolucionários. - Deu de ombros vendo-o incrédulo - Você me contou.
- Eu preciso terminar de autografar alguns livros, tomem um lugar que depois vamos conversar.
Em silêncio, Lara segurou o braço de Hugo e ambos se sentaram no sofá que tinha.
- Você foi muito bem. - Ele deixou um beijo na cabeça da noiva - Como está se sentindo?
- Bem, eu acho. - Olhou-o - Estou me sentindo estranha.
Como um bom médico, o rapaz conferiu os batimentos cardíacos da moça calculando mentalmente como estaria sua pressão arterial.
- Está tudo certo com você meu amor, está apenas nervosa. - Deixou um carinho em sua barriga - Respire fundo junto comigo.
Em união fizeram o exercício de respiração para acalmar os ânimos de Lara e não afetar seu tesouro, o Levi. Deu-o um selinho e riu o vendo fingir morrer.
- O que é isso? - Perguntou tentando rir o mais baixo possível.
- Eu morri de amores. - Respondeu rapidamente enquanto ria.
Max observava-os de sua cadeira, sentia inveja de como Hugo estava tão perto dela.
***
- Então você é a Lara mesmo? - Vanessa perguntou desdenhando da moça.
- Sou Vane. - Segurou a mão do noivo restaurando suas confianças - O que mais eu preciso falar para provar que eu sou a Lara que vocês conhecem?
- Mais nada. - Max respondeu mas foi interrompido pela esposa.
- Se você realmente é ela, onde você trabalhou enquanto estava em Ipanema?
- Blockbuster, Felipe era o nosso chefe, meu e do Max. - Arrumou os óculos.
- Você ficou linda de franja, do jeitinho que eu imaginava. - O mais velho deixou escapar seus pensamentos.
- Obrigada. - Sorriu inclinando a cabeça para o lado da forma que fazia quando estava tímida.
- Ai meu Deus, é você. - A moça finalmente acreditou após ver o lindo sorriso marcante dela.
- Ele é seu namorado? - Max olhou para o rapaz.
- Meu noivo. Eu estou noiva Max, dá para acreditar? - Riu deixando um beijo no ombro de Hugo.
- E ainda esperando um filho. - Sorriu.
- Um filho? - O francês coçou a cabeça tentando afastar os pensamentos invejosos.
"Será que ele a beija como eu beijava? Será que ele a ama como eu amava? Será que ele é tão digno quando eu?" Pensou ele.
- Pera, como você não envelheceu? Que creme usou? - Ela perguntou para Lara.
- Eu sou uma viajante do tempo, na verdade eu era uma viajante do tempo. - Assentiu com a cabeça - Por isso eu sumia e voltava apenas de manhã, por isso vocês nunca me encontraram.
- Meu Deus que loucura. - Coçou as têmporas.
- Você está feliz?
- Muito feliz Maxine. - Riu - O Hugo é o amor da minha vida.
"Você foi o amor da minha vida" Ele queria gritar para todos ouvirem que Lara Almeida sempre seria o amor da sua vida.
- Qual o nome do bebê? - Vane perguntou apoiando o rosto em sua mão.
- Levi. - Sorriu emocianada.
- Nós sonhamos com ele mesmo antes dele ser concebido, nosso meninão. - Hugo era muito babão.
- Foi muito bom vê-los. Que sejam muito felizes. - Max levantou-se - Com licença.
Os três observaram o homem caminhar para fora da livraria de braços cruzados, estavam confusos.
- Não liga para o Max, ele é assim mesmo. - Abanou o ar.
- Vocês dois se casaram e tiveram filhos? - A amiga perguntou.
- Sim, tivemos três filhos e agora estamos indo para o nosso terceiro neto. - Sorriu lembrando-se da família.
- Vanessa, vocês sabiam que a Patrícia tinha morrido?
Sem falar nada Vane apenas assentiu com a cabeça, isso causou uma ira enorme dentro de Lara. Ao perceber, o noivo acariciou suas costas tentando acalma-lá.
- Sabiam mas em momento algum decidiram mandar suas condolências a Felipe?
- Max e eu estávamos construindo nossa vida aqui sem pensar no passado em Ipanema porque causou muita dor nele. - Deu de ombros - Sabe Lara desde que eu percebi que estava apaixonada por ele eu comecei a te odiar. Te odeio até hoje porque eu sei que o Max nunca vai me amar da maneira que te ama, sempre será a porra de um fantasma na minha vida.
- Não fala assim com a minha mulher! - Hugo partiu em defesa dela.
- Se você nunca tivesse chego em Ipanema no mês de Janeiro de 1985, se eu não tivesse te levado para minha casa provavelmente o Max me teria como o único amor dele. - Deu de ombros enquanto se levantava - Nunca mais apareça para mim ou para meu marido novamente.
Vanessa estava totalmente mudada, escutar aquelas palavras cruéis saindo de sua boca deixavam Lara enjoada. Sem despedir-se, o rapaz pegou a noiva pela mão e saiu da livraria junto dela que não falava uma palavra, estava machucada por dentro.
Ao entrar no apartamento, ajudá-la a tirar os sapatos, o casaco e ajudá-la deitar na cama, Hugo deitou-se ao lado dela.
- Me perdoa, eu não tinha noção que seria assim. - Sussurrou dando alguns beijos nela.
- Eu também achei que seria diferente, eu sou uma boba mesmo. - Abraçou-o.
- Nem todos tem o mesmo pensamento que nós, meu amor. Mas eu estou aqui para te proteger e eu te dar todo o apoio que você merece. - Beijou-a na cabeça - Eu te amo.
Lara chorou. Chorou como uma criança pois sentia-se segura com Hugo para soltar todas suas igual as crianças fazem. Ele era o único, além de Bruno, que tinha o poder de fazê-la soltar seus sentimentos em lágrimas.
(1)Babymoon: Uma lua de mel antes do bebê nascer.
(2): "Com licença, minha esposa está grávida, podemos passar?"
(3): "Sim!"
(4): "Bom dia"