Ilegítimo

By liviaalagoano

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"Serena se lembrava de ter se apaixonado uma única vez durante toda a sua vida. E agora, oito anos depois, re... More

Guia para se (des) apaixonar
Apesar de tudo, eu ainda vejo mágica
Pelos meus olhos, você é luz que irradia
Todos os caminhos me levam até você
A praia de cada um de nós

Como uma ventania inesperada, você veio até mim

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By liviaalagoano

Regra número 1:
Não converse ou tente chamar a atenção dele. Haja como se o amor não existe mais.

Serena se lembrava de ter se apaixonado uma única vez durante toda a sua vida. E agora, oito anos depois, receber o convite de casamento de seu primeiro amor parecia ser a oportunidade perfeita para deixar aquilo para trás. Para isso, não hesitou em embarcar em sua primeira viagem para fora de Londres, indo para a França, mais especificamente no litoral dela, na Defânia.

Lembrava-se vividamente de quando vira o príncipe Chase pela primeira vez quando ele fora a Grã-Bretanha acompanhar seu pai em uma reunião de governantes: ele era anos mais velho que ela, cabelo loiro e o rosto masculino mais angelical que seus olhos tiveram o prazer de admirar. Ela tinha dez anos na época, e embora se casar com um homem quinze anos mais velho não fosse incomum, certamente o futuro rei da Defânia se casaria antes dela ter idade para subir no altar... certo?

Ou não, já que tinha idade para se casar e estava indo para o casamento dele com outra mulher naquele momento.

Sua paixão inocente e infantil era completamente infundada e sabia disso. Sempre soube.
Até mesmo na época ela já sabia que era impossível.
Era para ter sido apenas uma obsessão boba e passageira. E por mais que tenha sido, de vez em quando, ao longo dos últimos oito anos, ela se pegava pensando no, agora, rei da Defânia. Algo como: Ele está bem? Conseguiu estabilizar seu país? Como ele deve estar nesse exato momento? O que será que está fazendo?
Perguntas bobas que ela talvez ansiasse a resposta mais do que deveria.

Chase era um amigo querido e aliado de seu país. E por isso não era estranho que ela, como quarta filha do rei, fosse ao casamento de um aliado...
Essa era a sua desculpa perfeita para mascarar um coração tolo que ainda mantinha vestígios de uma paixão infantil.

Ela tinha uma missão ali: assistir o casamento de seu primeiro amor e dar adeus aquele sentimento idiota.

Chase era especial, um anjo não apenas na aparência, mas na alma também.
Ele merecia ser feliz e ela desejava isso a ele.
E também desejava que vê-lo se casar fosse o suficiente para seu coração entender que Chase era de outra mulher e que ela precisava se desapaixonar.

- Lembre-se de respirar quando encontrá-lo. - Petit, sua dama de companhia chamou sua atenção na carruagem, achando graça da expressão pensativa e tensa dela.

Serena, como a princesa mais nova de quatro irmãos, sempre fora a mais anti-social da família.
Especialista em encontrar passagens secretas em castelos, fugir de bailes e interações aristocráticas, a corte tinha lhe apelidado pelas costas de "fantasma das paredes". E essa escolha de estilo de vida tinha lhe ocasionado certas consequências como, aos seus dezoito anos de idade, ser uma perfeita negação na dança ou interações sociais convencionais.

Ela conversava com sua família e amigos, pessoas com que se sentia confortável, mas quando tinha que interagir com outras pessoas sentia que estava cometendo uma espécie de suicídio social da forma mais pura e grotesca já vista.
Era um ciclo vicioso: ela conversava, ria na hora errada, tinha conversas filosóficas repentinas, opiniões impopulares, não sabia continuar assuntos básicos da aristocracia e a conversa morria, tinha gostos que ninguém conhecia e depois ia para a cama, relembrando e odiando cada palavra que tinha dito.

Ou seja, ir em um casamento real em outro país, repleto de convidados e sem sua família por perto, era como pegar uma bela pá e cavar sua própria cova.

- ...Petit... Se eu falar algo errado, vou fingir um desmaio e você diz que eu estou gravemente doente.

Ela revirou os olhos e olhou pela janela da carruagem, observando que estavam chegando ao palácio da Defânia.

- E qual seria a doença?

Serena arregalou os olhos ao sentir a carruagem parar.

- Que uma bactéria está comendo meu cérebro e destruindo minhas funções cognitivas e racionais. - Agarrou a mão de sua dama de companhia e melhor amiga - Por favor, eu suplico.

Petit suspirou e se desvencilhou de sua mão, apertando as duas bochechas de Serena e vendo uma careta bizarra se formar no rosto dela.

- Por mais tentador que seja falar a eles que você é uma ameba, eu não posso. - Soltou suas bochechas e arrumou um cacho loiro do cabelo de Serena, colocando-o de volta no penteado e encarou seus olhos castanhos - Está com a lista que eu te dei?

Serena fez que sim com a cabeça e pegou um papel do bolso:

Guia metódico e comprovado para se desapaixonar:

1. Não converse ou tente chamar a atenção dele, haja como se o amor não existisse mais.

2. Não tente descobrir mais sobre seu passado. Quando se aprofunda na história dele, se aprofunda no amor.

3. Não fique sozinha com ele. A paixão desperta e a tentação vence quando ele é o único na frente de seus olhos.

4. Não toque nele. As faíscas do amor viram chamas quando se tocam.

5. Última e mais importante regra de todas: Não o beije.

- Você tem certeza de que isso funciona? - Serena passou os olhos pela lista, questionando o nível do seu desespero para escutar os conselhos de uma mulher quatro anos mais velha que ela que tinha zero experiência com homens.

Seria cômico se não fosse tão trágico.
Era como um cego guiando outro cego.

- É claro que eu tenho certeza, confie em mim.

Serena ergueu uma sobrancelha, desconfiada de cada palavra.

- Você nunca se relacionou com ninguém.

- Nessa lista não tem apenas o meu conhecimento que eu adquiri lendo muitos livros de romance e observando a vida dos outros, entendeu? Eu fiz uma pesquisa, perguntei para alguém mais experiente que nós, por isso está escrito que é "comprovado". - Apontou para o papel.

- E quem seria?

- Eu. - Uma voz masculina foi ouvida e a porta da carruagem se abriu, revelando o soldado de confiança da realeza cujo não ficou muito feliz ao ser escalado para escoltar Serena a Defânia - E ela não calou a boca até eu responder.

- Foi por uma boa causa, Brandon. E seja gentil, Serena está nervosa. - Petit arrumou a postura e esperou a princesa sair da carruagem, praticamente a empurrando por trás enquanto Brandon a puxava pela frente.

- Você veio até aqui, Sarina. Por que está hesitante agora? - Brandon perguntou, errando o nome dela de propósito como sempre.

- Nunca mais me deixe tomar decisões por impulso. - Pediu e encarou o enorme palácio da Defânia, todo pintado de branco e dourado, como as cores da bandeira.

Serena respirou fundo, sentindo a brisa salgada do pequeno país litorâneo. Não era tão ruim, ela tinha que ver o lado bom agora que já estava ali.
As cores pareciam mais vivas e vibrantes, não sabia se era pela chegada recente do verão ou do mar que estava tão perto, mas tudo passava uma sensação mais fresca e livre.

Era sua primeira vez saindo do palácio em dezoito anos de vida e era assustador, mas no fundo também era estranhamente fascinante.

- Brandon... - Virou-se para ele - Você tem certeza de que essa lista que fizeram é eficaz?

- Se eu esqueci alguém com quem realmente tive algo, você também vai esquecer alguém com quem apenas interagiu quando era criança. - Controlou sua vontade de tocar o ombro da princesa, assim como Petit.

Agora eles estavam em público, em outro país.
Eles não poderiam mais ser três amigos, agora eles eram: uma princesa, uma dama de companhia e um comandante da guarda real.

Serena voltou a encarar o palácio e deu um passo à frente. Seu coração tinha que entender que ter medo do que ainda iria acontecer era como antecipar o sofrimento agendado para o futuro e, consequentemente, prolongá-lo.

- Vamos entrar.

A cada passo que Serena dava pelo palácio, ela se preparava para se encontrar com Chase. E cada florista que passava com arranjos enormes e vasos de decoração para o casamento fazia ela se lembrar que ele era de outra mulher.

- Não seja boba, Serena... - Sussurrava para si mesma de forma praticamente inaudível - Já se passaram anos, você sempre soube que era impossível, ele vai se casar... Você.não.é.mais.criança.

- Princesa Serena!

Ela paralisou, congelou no chão, se esqueceu de respirar e até mesmo de piscar. E por um momento, ela apenas pensou que era injusto ele ter ficado ainda mais bonito em oito anos, o que ela achava ser fisicamente impossível.

Ela estava parada no meio do salão de festas, rodeada por dezenas de criados que iam de um lado para o outro. E no meio daquele caos, ele surgiu, e estava caminhando diretamente para ela.

O dia estava ensolarado, raios de luz passavam pela janela e pintavam tudo de amarelo e feixes de arco-íris. Chase caminhava todo de branco, desde a calça até a camisa e o casaco. Seu cabelo loiro como uma manhã de sol estava penteado para trás, dando uma visão perfeita de seus olhos heterocromáticos, um azul e outro verde, que conseguiam ser intensos até mesmo de longe. A sombra de uma barba crescendo deixava seu rosto ainda mais masculino, ou talvez fosse o fato de que ela não tinha mais dez anos e agora conseguia enxergar que, além de bonito, Chase era absurdamente atraente, desde de seu rosto até seu corpo alto e ombros largos.

- Meu Senhor Jesus... - Petit sussurrou atrás de si, tentando disfarçar seu queixo caído - Serena, agora eu lhe entendo perfeitamente... Esse homem sequer parece humano, parece que foi pintado em um quadro...

Serena queria responder.
Seu cérebro entorpecido gritava "Eu disse!" dentro de sua cabeça, mas sua língua estava dormente demais para se vangloriar.

Ele parou de frente para ela e um cheiro delicioso de sabonete pareceu esbofetear sua face. Era natural e singelo, mas conseguiu atordoá-la de toda maneira.
Seu cabelo estava um pouco molhado também, comprovando que ele tinha acabado de sair do banho.

Serena encarou seu rosto, sorrindo involuntariamente ao contar e apreciar mentalmente as três pintinhas de tons de marrom que ele tinha: uma em cima da sobrancelha, outra na bochecha esquerda, alguns centímetros abaixo de seu olho verde e outra na lateral do queixo, que enfeitou perfeitamente seu belo sorriso impiedosamente certo e nivelado.

Um suspiro involuntário saiu de si.
Ela poderia se odiar por isso, mas era inevitável não suspirar por aquele homem.

- A Senhorita... é a princesa Serena, certo? - Ele falou e sua voz rouca pareceu arrepiá-la por inteiro.

Petit cutucou suas costas de leve, lembrando-a de falar.
Obviamente tinham muitos convidados chegando de muitos países diferentes, e eles não se viam há oito anos, era natural que ele confirmasse após ela ficar parada e não dizer nada como uma ameba.

- É um prazer estar aqui, majestade. - Foi a primeira frase que conseguiu dizer e fez uma mesura em seguida, desviando seu olhar para o chão, tentando se recompor.

- Eu estou encantado que tenha vindo.

Ele estendeu a mão para ela, beijando o dorso enluvado e Serena quis sair correndo, mas se manteve de pé ali, de alguma maneira.

- Olhe para a senhorita, não te vejo desde que era uma criança. - O sorriso dele se alargou mais e seus olhos nostálgicos a pegaram desprevenida - Eu lhe reconheci de longe, ainda parece a mesma menina esperta que eu conheci.

Serena deu um sorriso forçado.
Ela sentiu como se um imenso balde de água gelada tivesse caído em sua cabeça.

- Eu agradeço pelo convite, majestade. Infelizmente o resto da família real não pôde vir. Meus pais estão muito atarefados, Ethan está viajando em lua de mel, Charles está na América com a esposa inaugurando uma nova filial científica com nossa prima Nora e Catarina está se recuperando da segunda gravidez. - Falou com esforço, tentando se lembrar de tudo enquanto a mão beijada parecia formigar - Todos eles mandaram presentes e felicitações pelo seu casamento.

- Eu compreendo perfeitamente, e estou feliz que tenha vindo, princesa. - Ele a olhou nos olhos e ela desviou, incapaz de manter um contato visual muito longo - Sua irmã e seu cunhado estão bem?

Serena se esforçou para olhar o rosto dele novamente depois daquela pergunta.
Sua irmã mais velha, Catarina, poderia não ter percebido na época, mas Chase fora apaixonado por ela durante seu tempo da Grã-Bretanha, e eles ficaram grandes amigos, a ponto de trocarem cartas e até mesmo assinarem acordos políticos que possibilitaram uma boa relação de cooperação entre as duas nações.

Ele nunca confessou aqueles sentimentos e Serena se perguntava se Chase ainda sentia algo por sua irmã.

- Catarina está muito feliz e saudável mesmo depois da gravidez. - Falou e observou um olhar sincero de felicidade vindo dele - Minha irmã e meu cunhado disseram que desejam de todo o coração que vossa majestade e sua noiva sejam tão felizes quanto eles são, e agradecem mais uma vez pela sua amizade.

Por um milésimo de segundo, Serena jurou que a expressão dele vacilou quando ela disse "sua noiva".

- Eu agradeço. - Ele pigarreou - Princesa, a senhorita chegou em uma hora maravilhosa. - Um arrepio ruim subiu pela sua espinha e Serena teve até medo de perguntar - Aqui na Defânia nós temos uma tradição em casamentos onde, após a cerimônia, dois casais dançam em volta dos noivos, e infelizmente, a parceira do meu irmão sofreu um acidente caindo de uma escada e não poderá mais dançar...

Serena engoliu seco, aquela conversa estava indo para um rumo que ela não gostava.

- O casamento é daqui duas semanas e a tradição pede para que sejam pessoas com algum tipo de linhagem real, mas eu também queria que fossem pessoas especiais e amigas nesse momento...

Chase falava tentando se explicar e Serena se perdeu um pouco vendo o quanto ele ainda era doce. Casamentos reais e nobres normalmente eram puramente negociados e sem amor, quase ninguém se preocupava em colocar algum real significado ou sentimento em tradições ou outras obrigações.
Mas ele se preocupava.

- Vossa Alteza aceitaria ser a parceira do meu irmão na dança?

Não.
Nunca.
Jamais.
Serena.não.sabia.dançar.

A última vez que dançou com um homem, acabou o jogando em cima de uma mesa de ponche sem querer.

Apesar de estar ali para dar adeus a sua paixão, ela faria de tudo para vê-lo feliz. Serena sabia o quanto ele era especial e merecia aquilo. E não hesitaria em fazer qualquer outra coisa por ele, mas dançar era fora de questão.

- O que me diz? - Seus olhos brilharam em expectativa.

Não.

- Sim. - Respondeu quase que involuntariamente, como se seu corpo agisse por conta própria quando o assunto era sobre Chase.

Ele sorriu mais uma vez e olhou para o topo das escadas, fazendo sinal para alguém descer.

- Ele pode ser um pouco difícil, mas eu garanto que é uma boa pessoa.

Serena ainda estava absorvendo a informação de que dançaria com alguém quando se virou para as escadas, vendo um homem descer.

Ela tinha ouvido falar dele. Com a morte do pai de Chase na Grã-Bretanha, Chase voltara a Defânia como rei e logo o parlamento exigiu que ele se casasse. Mas algo aconteceu e um irmão bastardo foi encontrado e, pelo que sabia, Chase se agarrou a ele para adiar sua subida no altar, alegando que, se acontecesse algo com ele, a Defânia ainda teria um sucessor. Desde então, o irmão bastardo ganhara um título de duque e um lugar no palácio. Era tudo o que sabia sobre aquele homem que a olhava de um jeito mortal enquanto descia cada degrau.

Se Chase não tivesse dito que aquele era seu irmão, ela jamais poderia imaginar.
Eles eram completamente diferentes.

Ele estava vestido todo de preto, desde os sapatos até a camisa. Sua pele clara fazia contraste com seu cabelo castanho claro, marrom como o casco de uma árvore nova. Seu rosto tinha traços finos também, mas era mais jovem, devia ter cerca de vinte anos.
Serena ficou presa no olhar dele, era intenso e focado diretamente nela, seus olhos tinham o azul mais claro que já tinha visto em toda a sua vida, como se fossem feitos de vidro, praticamente acinzentados, e certamente não eram simpáticos.

Ele a fazia lembrar de algo que ela ainda não sabia dizer, mas uma coisa era óbvia: enquanto Chase parecia um anjo, ele parecia... exatamente o contrário.

Ele caminhou para perto deles, sem quebrar o contato visual com Serena em nenhum momento.
Vendo os dois irmãos, um ao lado do outro, a diferença ficava ainda mais nítida. E mesmo que tivessem algumas semelhanças como uma alta estatura, ombros largos e um rosto que parecia ter sido esculpido cuidadosamente, a aura era oposta.

- Alteza, este é meu irmão Damian, Duque de Vallière. - Ele estendeu a mão - Esta é a princesa Serena, filha mais nova do rei e da rainha da Grã-Bretanha.

Enquanto Chase era encantadoramente belo.
Damian era fatalmente bonito.

Serena aceitou a mão do duque e parou de respirar sem perceber quando ele a beijou.

- Encantado, Alteza. É um prazer conhecê-la. O rei fala muito do carinho que tem com a família real inglesa. Sinta-se acolhida aqui. - Ele deu um meio sorriso que não era verdadeiro, pois não chegava a seus olhos.

- ...É um prazer conhecê-lo, Duque Vallière.

- A princesa Serena será seu novo par. - Chase tocou o ombro dele - Eu tenho que ir agora, apresente o palácio a princesa por mim, por favor.

- Madeline ainda está na França? - Damian segurou seu braço - Você está indo vê-la? Eu sei que são muito apaixonados.

Chase pareceu desconfortável com a fala do irmão por um instante.

- Madeline ainda está na França... - Pigarreou e forçou um sorriso para Serena - Preciso me reunir com o parlamento, vejo vocês mais tarde.

Serena e Damian observaram Chase sair da sala em meio a multidão de criados. Cada um com pensamento de alívio pela ida dele, mas com intenções diferentes.

- Eu vou falar apenas uma vez, princesa. - Damian se aproximou dela e tudo o que tinha de encantador nele caiu por terra.

Ele se inclinou para ela, falando rente ao seu rosto com aqueles olhos azuis-cinzentos capturando toda a sua atenção.

- Você não é a primeira mulher que aparece aqui tentando seduzir o meu irmão, e pelo visto, não será a última que eu vou ter que colocar no lugar. - Aproximou-se do ouvido dela, sussurrando friamente para que ela entendesse sua mensagem como deveria - Meu irmão vai se casar com a princesa Madeline e não será nenhuma mimada com título que irá impedir isso, entendeu?

Ele encarou seu rosto mais uma vez e seus olhos se encontraram. Damian pareceu parar por um milésimo de segundo, mas logo seu olhar ficou frio de novo.

- Volte para seu país e deixe meu irmão em paz. - Ele falou uma última vez e saiu do salão, deixando Serena completamente paralisada.

- Como ele ousou falar assim com você?! - Petit estava enfurecida, andando de um lado para o outro no quarto enquanto Serena estava sentada na cama, repassando a cena em sua mente - Ele está louco? Aquele demônio! Ele falou como se você fosse pular em cima do rei... ARGH! Ele é tão irritante! Pode ser tão bonito quanto o irmão, mas é completamente podre.

A mente de Serena juntava cada detalhe como se montasse um quebra-cabeça.

- ...Damian Vallière... - Repetiu o nome dele - Interessante...

- Serena! - Petit gritou seu nome, subindo na cama e agarrando seus ombros, sacudindo-a - Por que você não o respondeu?! Por que não colocou aquele idiota no lugar dele?! Você é uma princesa!

- Petit querida, tudo a seu tempo. - Beliscou uma bochecha dela - Eu estava prestando atenção em outros detalhes, minha mente estava ocupada demais para brigar com ele.

- Eu duvido muito que você saiba como brigar com alguém de qualquer maneira. - Revirou os olhos e deixou seu corpo cair na cama.

Serena se inclinou para o lado de Petit, enrolando uma mecha castanha do cabelo dela em seus dedos.

- Não fique brava comigo. - Cantarolou - E também não fique com tanto ódio do Duque Vallière.

Petit arregalou os olhos e sua boca formou um perfeito "O", completamente embasbacada com a fala de Serena.

- Como eu não ficaria brava com aquele-

Três batidas na porta foram ouvidas e Serena se levantou apressada para abrir, praticamente puxando Brandon para dentro do quarto e averiguando se não tinha ninguém no corredor.

- Então? O que descobriu?

Brandon se sentou na cadeira da escrivaninha do quarto, o que era uma imagem muito engraçada, afinal, era incomum ver um homem moreno e musculoso de dois metros sentado em uma cadeira branca dez vezes menor que ele. Mas naquela altura do campeonato, depois de oito anos trabalhando para a família real britânica, ele estava cansado demais para se importar.

- Eu ainda não acredito que seu pai me tirou de Londres para vigiar você e ser seu porta-fofocas.

Serena se aproximou dele graciosamente, massageando seus enormes ombros por trás.

- Tudo está na mais perfeita paz em Londres e você me ama demais para não ser meu porta-fofocas. - Sorriu e ele revirou os olhos, pois sabia que ela estava certa.

Há anos atrás ele era um pobre rebelde sem causa e agora era a babá de uma jovem princesa esquisita.
A qual ele amava e considerava como uma filha, mesmo que jamais admitisse.

- Conte-me, conte-me. - Serena insistiu, abraçando seus ombros - Os soldados sempre sabem de tudo, são as melhores fontes de informações.

Brandon suspirou e se levantou com Serena ainda pendurada em seus ombros. Os pés dela ficaram muito distantes do chão, mas ela não se preocupou. Ele caminhou até a cama e se sacudiu, jogando Serena em cima de Petit e recebendo um olhar indignado da dama de companhia.

- Não me olhe assim, Petisco. - Falou e recebeu outro olhar indignado dela por errar seu nome - Eu não recebo o suficiente para isso. - Revirou os olhos mais uma vez e passou a mão pelo cabelo, tentando ignorar a expressão suplicante de Serena que se igualava a um pequeno filhote de cachorro pedindo comida - O noivado do rei com essa princesa está por um fio há meses e todos do palácio estão receosos se esse casamento realmente vai acontecer ou não.

- Por isso Damian está sendo tão protetor com esse casamento. - Serena se sentou no colchão, abraçando um travesseiro ainda pensativa - Descobriu algo sobre as mulheres que tentaram seduzir o rei?

- Há diversos boatos sobre isso, parece que a noiva do rei até mesmo já brigou com a última mulher que tentou seduzí-lo.

- Não acredito. - Petit também se sentou no colchão, atenta a cada palavra de Brandon - Brigaram a tapa?

- Rolaram no chão. - Cruzou os braços e deu um meio sorriso - Tiveram que separá-las.

- É compreensível. - Petit ponderou - Eu também seria ciumenta se fosse noiva daquele homem.

- Parece que eles estão meio brigados e ela foi a França se acalmar. - Complementou - Ouvi dizer que ela tem uma personalidade impulsiva e alguns até mesmo já dizem que ela deve ter fugido e desistido do casamento.

Petit olhou para Serena com um sorriso tão malicioso que a princesa soube exatamente o que iria dizer.

- Se a noiva original deixar o rei no altar, já temos uma substituta.

- Não seja boba. - Serena jogou o travesseiro nela, ignorando o nó em sua garganta - Você viu como ele me tratou, Chase me vê como criança, não como mulher.

- É apenas um detalhe, Serena. - Levantou-se da cama, puxando a princesa para a frente do espelho - Eu acho que falamos muito sobre Chase parecer um anjo e ignoramos o fato de que você também parece ter vindo do céu.

Serena encarou seu reflexo no espelho.
Ela costumava ouvir das pessoas que parecia angelical e talvez fosse pelo seu cabelo loiro claro naturalmente cacheado, seus grandes olhos castanhos ou seu rosto pequeno. Mas ela não ficava satisfeita com esses elogios que poderiam ser ditos igualmente para um bebê ou um filhote de coelho.
Ela parecia receber os mesmos elogios desde que tinha dez anos, e Chase dizer que a reconheceu de imediato, pois ela não tinha mudado muito, apenas confirmava e alimentava a ideia em sua cabeça que dificilmente um homem a desejaria como queria.
Ao menos não até um milagre da puberdade tardia acontecer e ela deixar de parecer ter quinze anos.

- Não sou bonita, sou adorável. É diferente. - Serena se virou, ficando de costas para o espelho. Ela tinha uma filosofia de vida que se baseava em "não sofrer por coisas que você não pode mudar". E essa era uma delas - De qualquer forma, você descobriu algo sobre o Duque Vallière?

- Não muito. Basicamente, ele é um bastardo rebelde com uma personalidade difícil e que todos os detestam, desde os criados até a corte.

Serena ficou pensativa.
O olhar de Damian ainda sondava seus pensamentos.
Tinha algo nele que ela não conseguia odiar.
Por mais que todos dissessem o contrário, ela decidiu confiar nas palavras de Chase: "Ele pode ser um pouco difícil, mas eu garanto que é uma boa pessoa".

E ela esperava que Chase estivesse certo, pois tinha acabado de tomar uma decisão que dependia desse suposto bom coração de Damian Vallière.

Damian.
Damian Vallière.
Duque Vallière.
Bastardo.
Ilegítimo.

Aos dezenove anos de idade, ele tinha nomes demais, responsabilidades demais e ódio demais dirigido a ele.

Sua mãe era a única pessoa que o amava de verdade e também sua única companhia, então após sua morte, descobrir que tinha um irmão mais velho que era o próximo rei foi uma surpresa.
Ele tinha onze anos quando Chase chegou em sua porta e o tirou da miséria, dando-lhe um título, uma casa e uma família. E por mais que fosse pequena, sendo composta apenas pelos dois, ainda era uma família.
E ele faria qualquer coisa por ele.
Inclusive afastar pessoas que tentassem separar Chase e Madeline, que já estava brava o suficiente com rumores falsos de amantes.

Damian andava pelos corredores procurando pelo irmão, já que nenhum criado fazia questão de ajudá-lo naquela tarefa.
Ou de ajudá-lo em qualquer coisa que fosse.
Não importava se ele era um duque ou o meio irmão do rei, sendo um bastardo, ninguém ali o respeitava ou lhe fazia favores a menos que estivessem na frente do rei.

Damian precisava dizer que não dançaria com a princesa Serena e ao mesmo tempo inventar uma desculpa para tal decisão, já que Chase dificilmente acreditaria que ela era como uma das mulheres apaixonadas que vieram acabar com o casamento dele.

- Vallière!

Ele se virou, vendo o outro casal que dançaria no casamento, eram os irmãos mais novos de Madeline que também não gostavam muito dele.

- Vamos ensaiar daqui a cinco minutos. - Daniell o avisou com a voz ameaçadora, deixando claro que era para Damian comparecer dessa vez.

- E tente não empurrar sua nova parceira da escada novamente. - Margareth completou.

Claro, era óbvio que todos assumiriam que ele era o responsável pelo acidente de Mary.

- Finalmente o encontrei, Duque Vallière. - Serena desceu as escadas e todos os olhares se voltaram para ela.

- Alteza. - Daniell e Margareth se curvaram ao vê-la, deslumbrados por ter a presença de uma das princesas da Grã-Bretanha ali.

- É um prazer conhecê-los. - Ela olhou para eles brevemente e se focou em Damian - Nós precisamos conversar, Vallière.

Perfeito, era a deixa que ele precisava para sair dali. Em outros dias ele responderia Daniell e Margareth a altura, mas tinha prometido a Chase que não causaria problemas perto do casamento.

Ele forçou um sorriso.

- Claro, Alteza. - Estendeu o braço para ela e Serena aceitou, e por um segundo ele se deliciou com a expressão de ódio de Daniell e Margareth por ele ter a atenção da princesa da Grã-Bretanha e eles não.

Damian a guiou para o jardim, onde caminharam pela grama.
Petit os seguia de longe a pedido de Serena, já que se ficasse mais perto, poderia não se conter e xingar o Duque.

Eles pararam perto de um canteiro de margaridas, coincidentemente no momento em que o pôr do Sol começava, onde os últimos raios solares se projetavam com nuances amarelas enquanto tudo ao redor era pintado de laranja. E por mais que não gostasse de Serena, ele como homem jamais poderia negar o quanto ela era linda a seus olhos.
A pele macia e corada eram como pêssegos e seus belos olhos castanhos o encaravam sem medo, receio ou raiva alguma, apenas um olhar tão sereno quanto seu nome. E talvez esse fora o motivo para toda a sua revolta se acalmar, fazendo-o perceber o quanto estava cansado.

Ele suspirou.
Não queria mais brigar, não tinha mais forças pra isso.

- Princesa, eu não vou dançar com a senhorita. - Ela não pareceu se irritar - E já lhe disse para ficar longe do meu irmão.

- Eu mesma também não ia me querer como parceira de dança. - Foi sincera, lembrando-se de suas terríveis habilidades - No entanto, quero esclarecer que teve a impressão errada de mim, e tendo em vista que eu o deixei falar da última vez, acho que me deve esse mesmo direito também.

Ela não falava com rancor.
Sua voz era calma como se ela estivesse falando do clima e não dele ter sido grosseiro e rude com ela, e essa atitude fez a culpa socar seu estômago. Ele normalmente não hesitava em afastar abutres de perto de seu irmão, mas reconhecia que estava estressado e foi um pouco mais duro do que costumava.

Damian pigarreou, um tanto desconcertado.
Todas as outras mulheres apaixonadas por Chase tinham sido tão agressivas com ele que era difícil não assumir uma postura defensiva quando lidava com elas. Mas Serena não tinha intenção alguma de atacá-lo e isso o fez ficar sem palavras.

- Você não estava errado em julgar que eu tenho um certo apreço pelo seu irmão. - Admitiu.

Isso era óbvio, quando Damian viu os dois se encontrando no salão mais cedo, era nítido que Serena estava quase derretendo e se dissolvendo no chão.
Ela certamente não era boa em fingir ou esconder sentimentos.

- Continue. - Pediu e engoliu todos os comentários sarcásticos que passaram em sua cabeça.

- No entanto, eu não tenho intenção alguma de seduzí-lo ou impedir o casamento.

Serena parou de falar e Damian ficou calado, esperando ela continuar.

- ... Então?

- Eu já acabei essa parte. Não quero destruir o casamento do seu irmão, ponto.

Damian riu soprado.

- Eu já ouvi isso antes, Alteza.

- E você acreditou antes?

- Não, em nenhuma palavra, e elas provaram que eu estava certo em todas as vezes. - Cruzou os braços dando de ombros - Por que vossa alteza seria diferente?

Aquela pergunta pareceu pegá-la de surpresa.
Serena parou um instante, refletindo, e Damian não pode deixar de achar graça por dentro.
Quem era aquela garota afinal? Normalmente as pessoas tinham mais malícia e desenvoltura quando se defendiam, mostrando provas ou sendo extremamente convictas para sustentar suas mentiras.

- Como espera que eu prove... que não estou tentando acabar com um casamento? - Perguntou genuinamente - O que eu tenho além da minha palavra?

- Eu... eu não sei. - Ele estava começando a ficar confuso e intrigado com ela.

Serena também cruzou os braços.

- Por que eu preciso me defender e provar que sou inocente por algo que não fiz? Isso não faz muito sentido.

Damian ficou sem palavras mais uma vez e foi engolido pelo olhar de Serena.

- Nós sequer nos conhecemos e você me mandou voltar ao meu país daquela maneira... Eu imagino que esteja estressado e acostumado a lidar com mulheres que querem seu irmão. Mas eu não sou uma delas. Nunca amou algo que simplesmente aceitava que não podia ter somente para si? Como o céu e o mar?... Nem todas as pessoas são tão escravas dos seus próprios desejos.

Damian deu um passo para trás e ela avançou mais um, com a serenidade mais implacável que já tinha visto na vida.

- Eu entendo que quer proteger o seu irmão e me viu como ameaça, mas é injusto acusar alguém que não fez nada. Você pode magoar pessoas inocentes dessa maneira.

"É injusto"
Ele se lembrava de pensar aquilo diversas vezes conforme crescia quando tentava se defender, mas era julgado e acusado de toda maneira.

Se não tivesse a julgado de imediato talvez tivesse percebido que aquela pequena mulher era diferente. Mas seu instinto estúpido fez com ela o que fizeram com ele durante a vida toda e, como resultado, tinha agido com um completo idiota.

Serena deu mais um passo à frente, preocupada com o olhar distante dele, e talvez não fosse apropriado, mas ela tocou a manga do casaco de Damian, chamando sua atenção de volta para ela.
Ela não se sentia tão pressionada em agir corretamente com ele, afinal, Damian não seguia os padrões também.

- Deixe-me ajudá-lo, também vou fazer o possível para que Chase se case com a princesa Madeline.

- Por que você faria isso? Não disse que gosta dele?

- Porque assim como você, eu também quero que ele seja feliz. E pelo que eu soube, a situação está séria a ponto do casamento realmente não acontecer, não estou certa?

Damian encarou a mão dela segurando sua manga. Ele já tinha confiado em muitas pessoas antes, mas todas tinham o apunhalado pelas costas, o que tornava tudo difícil quando precisava confiar em alguém novamente.

Serena não parecia ter malícia.
Ela era... excêntrica. Mas de um jeito bom.
E talvez estivesse cometendo a maior estupidez de sua vida, mas resolveu acreditar nela, até porque, ele não tinha poder o suficiente para espantar todos os abutres do casamento sozinho.

- Eu vou deixar que me ajude, não tenho a melhor reputação por aqui então ter uma princesa da maior potência europeia poderá abrir algumas portas. Mas não ouse me trair.

Serena esperava alguma ameaça, mas não recebeu nenhuma. Ele apenas suspirou e pareceu desconcertado, como se estivesse escolhendo as palavras para dizer algo e ela se perdeu olhando para ele.

Damian a intrigava como um quebra-cabeças.

As mechas do cabelo castanho claro dançavam conforme a brisa em frente aos seus olhos azuis cinzentos em seu rosto jovial, e ela teve que admitir para si mesma que ele tinha o olhar mais bonito que ela já tinha visto, mais até mesmo que o de Chase. E para não dizer que eles não tinham semelhanças, Damian também tinha três pintas no rosto: uma na bochecha, uma embaixo do olho esquerdo e outra acima do lábio.

Ele era misterioso, mas por trás de toda aquela postura fria ela enxergava algo a mais, mesmo que todos dissessem o contrário.

- O que foi, Vallière?

Ele pigarreou e parou de desviar o olhar, como se quisesse passar sinceridade.
E ela sorriu por dentro, achando graça.
No fundo, Damian era apenas um jovem como ela que tentava acertar mesmo errando.

- Perdoe-me por ter lhe tratado daquela maneira. Eu fui rude e a julguei mal, princesa.

Serena deu de ombros e observou o pôr do Sol, o céu começava a escurecer e a lua já estava presente.
Para um primeiro dia, ela tinha se saído bem, afinal, fazer amizade com Damian Vallière não parecia ser uma conquista para qualquer um.
Ele era intrigante e extremamente mal compreendido.
Se ele fosse tão ruim quanto todos falavam, ele não se importaria tanto com o irmão.

E muito menos pediria desculpas tão sinceras.

Damian e Serena entraram juntos no palácio após ela liberar Petit para outros afazeres, ou seja, distraí-la para não ficar ainda mais irritada por ela ter se aliado ao Duque.

- Quantas convidadas ainda estão aqui com a intenção de seduzir seu irmão?

- Cinco. E estão irredutíveis. - Ele revirou os olhos, ficando irritado ao se lembrar de cada uma - Duas princesas e três nobres.

- Por que não conta a Chase sobre elas?

- Porque eu precisaria de provas, e além do mais, elas são pessoas importantes de países aliados, Chase não pode ofendê-las então eu estou me encarregando de afastá-las sem ele saber.

- Se algo sair do controle, a culpa cairá sobre você assim. - Olhou para ele enquanto atravessavam a porta do salão de festas.

- Sempre cai sobre mim de toda maneira. Apenas existiria decepção se alguém esperasse que eu fizesse algo bom. - Falou como se aquilo não o machucasse, mas Serena viu os olhos dele vacilarem por um segundo.

- E seu irmão? Não tem medo de decepcioná-lo?

- Vamos ao meu escritório. - Mudou de assunto - Tenho algumas ideias anotadas e informações que podem ser úteis se quisermos impedí-las.

- Defina "ideias"? - Serena o olhou pelo canto do olho, tendo um vislumbre de um meio sorriso dele.

- Oh, o ensaio. - Damian se lembrou ao ver que Daniell e Margareth já os esperavam com o instrutor de dança ali, e pelas suas expressões, estavam irritados.

Eles não tinham os visto ainda, o que deu a oportunidade de Serena se esconder atrás de uma pilastra.

Damian ergueu uma sobrancelha, confuso com ela mais uma vez.

- Princesa, eu não me importo nem um pouco em deixar aqueles idiotas nos esperando por mais tempo, mas... por que está se escondendo?

Serena puxou a manga dele, trazendo-o mais para perto, escondendo-o atrás da pilastra também.
Ela não estava pronta.
Precisava ensaiar sem eles primeiro.
A ideia de fazer tudo errado a aterrorizou demais.

- Eu esqueci de lhe contar um detalhe. - Serena suspirou, olhando-o como se estivesse prestes a confessar um crime - Eu não sei dançar.

Damian não soube bem como reagir.
A expressão de terror absoluta não parecia apropriada para a frase "eu não sei dançar".

- Então vamos dizer isso ao meu irmão. - Sugeriu.

- Não posso, o casamento é daqui duas semanas e eu já aceitei.

- ...Então vamos ensaiar.

- Não posso, não consigo dançar na frente deles sem me preparar.

Damian suspirou.
Serena não fazia sentido algum.

- Então fique agarrada na pilastra. - Ironizou, mas ela segurou seu braço, mostrando uma expressão tão desesperada que ele não conseguiu mais ser sarcástico.

Ela realmente não queria dançar naquele momento.

- Eu lhe prometo que vou dançar no dia. - Olhou-o de forma que ele não pôde deixar de compará-la mentalmente com um filhote de cachorrinho - Mas eu preciso ensaiar antes de... ensaiar, entende?

- Majestade! - A voz de Daniell ecoou pelo salão.

Chase estava ali para ver o ensaio.
Serena se desesperou mais, ficando nas pontas dos pés e segurando os ombros de Damian, tão próxima a seu rosto que ele notou os cílios loiros e longos que ela tinha.

- Por favor, eu te suplico. Hoje não.

Damian sentiu seu coração se contorcer um pouco. Ele estava tendo compaixão dela. A situação era estranha, ela não falava nada com nada e ele não a entendia direito, mas isso não importava.

- Vamos sair daqui. - Ele a acalmou e segurou sua mão para tirá-la dali sem que ninguém percebesse, mas falhou na missão, pois Chase os viu assim que saíram de trás da pilastra.

- Damian! Princesa Serena! - Chase os chamou de longe, sorrindo e acenando para eles se aproximarem.

Um criado surgiu, os conduzindo para o centro do salão. E ao julgar pela passividade repentina de Damian, Serena não era a única incapaz de dizer "não" a Chase.

Ela apertava o braço de Damian com mais força sem perceber conforme eles se aproximavam.

A porta do salão se abriu mais uma vez e duas mulheres entraram, uma loira e uma ruiva, e pelas suas roupas, eram princesas.
Serena trocou um rápido olhar com Damian que confirmou suas suspeitas.

Elas faziam parte das cinco mulheres que queriam o rei.

- Nós podemos assistir ao ensaio, majestade? - A ruiva perguntou, já chegando perto de Chase, quase que se convidando para estar ali.

A loira também se adiantou, acompanhando o andar da ruiva.
- Eu particularmente sou uma grande apreciadora das tradições da Defânia.

Serena não sabia o que a aterrorizava mais naquela cena toda. O instrutor de dança ou aquelas pessoas rudes e falsas que faltavam se atropelar pela atenção de Chase.

Damian a olhou de canto, notando sua expressão de pavor.
Ele tinha aceitado a parceria com Serena, mas reconheceu que ela ainda não estava pronta para lidar com aquilo.
Ao menos não naquele dia.
E agora que tinha uma parceira, precisava cuidar dela naquele ninho de cobras que vivia.

- Princesa, olhe para mim. - Pediu e conseguiu o olhar dela, tentando passar o máximo de confiança que podia para acalmá-la - Eu prometo que em dois minutos nós vamos estar fora desse salão de dança e essas mulheres vão ter desaparecido para longe de Chase, mas você precisa confiar em mim e fazer exatamente o que eu lhe disser. Nós vamos ser rápidos e precisos... Você está comigo?

Serena mordeu o lábio inferior, encarando aqueles olhos azuis-cinzentos enquanto tentava acalmar seu coração acelerado.

Damian Vallière era seu aliado agora.
E uma conexão mútua se estabeleceu ali.
Ela não fazia ideia do que ele iria fazer, mas sabia que faria também.

- Eu estou com você.

















Primeiro capítulo de cinco do nosso spin-off.❤️
Para os que estão chegando agora, este livro é um especial da trilogia "Sociedade Privada do Chá Escocês" disponível no meu perfil.
Não é preciso ter lido os outros livros para o entendimento deste.

E para os que já estão comigo há muito tempo, espero que tenham gostado desse início, pois garanto que essa parceria para salvar um casamento mudará a vida da nossa princesa caçula completamente.
Me contem suas primeiras impressões nos comentários.❤️
Um grande beijo e até a próxima semana.❤️


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