Valerie
4 anos depois
A brisa do final de tarde invade meu quarto, a primavera ainda não acabou com as noites geladas de Seoul e eu estico as mangas compridas da minha blusa de gola alta tentando me esquentar um pouco mais . Os últimos meses foram uma loucura; Jungkook se alistou no exército já que mesmo morando em outro país ele ainda é um cidadão coreano e no começo foi bem difícil porque eu estava do outro lado do mundo e ele tinha horas muito limitadas para usar o celular; o fuso horário não ajuda também já que no momento que ele tinha livre eu quase sempre estava no trabalho.
Depois de me formar comecei a trabalhar nos Recursos humanos de uma loja de roupas mas depois acabei indo para a gestão de uma confeitaria o que me fez muito feliz. Eu passava o dia envolta no cheiro de pães e doces e algumas vezes até comprava um rolinho de canela para comer enquanto analisava os gráficos de desempenho do local. Meus colegas de trabalho eram bem legais e algumas vezes Jina ia com Jungkook a cafeteria para comer rocambole em formato de ursinho.
Jungkook conseguiu vaga numa construtora e apesar do salário de estagiário não ser tão alto, após se formar e ser efetivado ele começou a ganhar bem o suficiente pra gente começar a juntar dinheiro. No início a questão do exército era uma sombra pairando sobre nós, a maioria das decisões importantes sempre passavam pela questão: e quando você tiver no exército? Ele ainda tinha uns bons anos até ser obrigado a se alistar, mas decidiu ir antes para que nós pudéssemos viver sem esse empecilho.
Depois de 1 ano me organizando, consegui uma bolsa numa universidade de Seoul e vim fazer uma especialização de 6 meses, assim eu poderia ficar mais perto de Jungkook. Por ser casada com ele consegui dar entrada num visto que me permitia ficar aqui mais do que os 3 meses de turista. Minha habilidade de falar coreano melhorou bastante nos últimos anos e desde que vim morar aqui consegui me virar melhor. Não é nada muito prodigioso e conversas muito profundas ainda estão fora do meu alcance, mas consigo ir às compras sozinha e ter conversas superficiais com meus sogros.
Os pais de Jungkook foram muito carinhosos comigo, eles não sabem que fui eu que paguei a conta do hospital e decidimos nunca contar, não quero que se sintam em dívida comigo ou algo do tipo. O fato de Jungkook ter continuado na terapia fez muito bem ao nosso relacionamento, ele realmente não voltou a desconfiar de mim ou me acusar e eu prometi sempre dizer a verdade mesmo que ela traga consequências indesejadas.
A campainha toca e eu me levanto animada, pedi delivery de frango frito alguns minutos atrás porque estava com preguiça de cozinhar. A mãe de Jungkook me ensinou várias receitas desde que vim morar na Coreia. Algumas vezes eu pego o trem para Busan e passo o fim de semana na casa deles; cuido do jardim junto com o senhor Jeon, ajudo na cozinha e até mesmo já olhei todos os álbuns de Jungkook bebê, ele era uma criança muito fofa.
Assim que abro a porta meu coração acelera, Jungkook está parado me encarando ainda usando o uniforme militar e segurando uma enorme mochila.
— Você vai fazer um buraco na minha testa se continuar me olhando assim.
Depois de quase dois anos de volta na Coreia, o sotaque dele em inglês é um pouco mais forte.
— Não me avisou que ia sair hoje.
Ele geralmente sempre me avisa quando vai tirar um dia de folga, da última vez Jungkook tirou dois dias de dispensa e nós alugamos um chalezinho perto das montanhas. Naquela época o tempo ainda estava muito frio e nós passamos várias horas em frente a lareira com casacos felpudos e tomando canecas enormes de chocolate quente.
— Surpresa, fui dispensado — Jungkook sorri fazendo continência — agora a única pessoa que vou servir é você?
Meu coração pula no peito, eu esqueci a data de dispensa dele? Não é possível, tenho certeza que marquei o dia com um círculo para não esquecer de jeito nenhum.
— É sério?
Puxo Jungkook para dentro e o abraço apertado, senti tanta falta de estar perto dele, até de reclamar dele jogando vídeo game de madrugada eu senti falta. O primeiro ano foi tão difícil, lembro dele sussurrando na chamada de vídeo porque não queria incomodar os colegas de alojamento e de chorar em casa sozinha muitas noites quando estava estressada do trabalho e não ter Jungkook ali para me apoiar.
— Uhum — ele deposita um beijo no topo da minha cabeça — Eu peguei todos os 8 dias de licença que ainda tinha para usar, agora vou voltar só no dia da dispensa oficial. Sou todinho seu agora.
— Com licença? — a voz em coreano me faz olhar na direção da porta aberta.
O entregador está parado segurando minha sacola e eu sorrio envergonhada por ele ter nos pegado assim, mas acho que mereço abraçar meu marido depois de tanto tempo longe. Pego minha comida e agradeço fechando a porta em seguida.
— Tá com fome? Eu poderia comer um boi agora.
— Você sabe que eu amo frango frito.
Jungkook tira a mochila e a deixa no chão antes de vir até a mesa me ajudar a arrumar as coisas. O apartamento não é muito grande mas é o suficiente para mim, a janela da sala tem vista para uma pracinha e muitas noites eu me sentei ali olhando o céu e desejando que Jungkook voltasse logo.
Enquanto comemos Jungkook me atualiza sobre como foram os últimos dias no exército, ele subiu bastante no ranking já que sempre quer ser o melhor em tudo que se propõe e seu superior disse que ele se daria bem caso quisesse seguir carreira militar; para a minha sorte Jungkook detestou a ideia.
— Amanhã nós temos que ir a um lugar — Jungkook diz antes de levar mais um pedaço de frango a boca. — Ax cerewjeras bão abrir.
— An?
Ele dá um gole na coca-cola antes de voltar a falar.
— Amanhã as cerejeiras vão desabrochar, eu prometi que te levaria lá.
Isso foi a tantos anos atrás, quando éramos recém casados e inseguros. O tempo me ensinou que o amor não está nos momentos mágicos que parecem saídos de um filme mas sim no dia a dia. Fazer a comida favorita do outro, ajudar nas tarefas da casa para que ninguém se sobrecarregue, saber a hora de ficar em silêncio e quando dizer palavras de encorajamento. Nosso relacionamento começou como uma montanha-russa mas nos últimos anos tem sido uma correnteza suave com seus altos e baixos mas no geral tranquila.
— Quero muito ver, dizem que é bem bonito e romântico.
Nós terminamos de comer e ficamos no sofá apenas fingindo estar prestando atenção no noticiário já que na verdade Jungkook rouba um beijo a cada oportunidade que pode e eu vou me rendendo cada vez mais aos seus toques. Nunca me canso disso; dos seus beijos se espalhando por meu pescoço, da mão segurando firme meu quadril enquanto o polegar acaricia a pele ali e do peso do seu corpo contra o meu quase me tirando o ar.
Jungkook está com cheiro de sabonete e perfume âmbar, quando ele enterra o rosto na curva do meu pescoço inspiro seu aroma e me sinto em casa pela primeira vez em dois meses. Meu coração bate acelerado com a certeza de que não vamos mais precisar ficar semanas sem poder estar juntos.
— As paredes da sala são finais — eu sussurro quando Jungkook desfaz o nó da minha calça.
— Então você têm que ficar bem quietinha.
Assinto sentindo o frio na barriga quando ele puxa o tecido para baixo. Já estou pegando fogo, Jungkook é capaz de me esquentar numa velocidade muito maior que qualquer aquecedor. Nossos lábios se unem mais uma vez e eu removo sua jaqueta militar com pressa, ele ganhou muitos músculos no exército e sinto o peitoral duro sob minha palma quando minha mão repousa sobre seu tórax.
Não demora muito até que sejamos um só, os beijos de Jungkook impedem qualquer som de escapar e eu sorrio vendo como ele precisa se ajustar para caber no sofá estreito. Ele é lindo e é só meu, finalmente o tenho só para mim. E passamos o resto da noite entre risadas e carícias.
***
O clima esquentou um pouco e o parque está cheio de pessoas, todos querem ver o desabrochar das cerejeiras. Jungkook segura minha mão com firmeza enquanto caminhamos pela estradinha de tijolos que corta o parque de um lado a outro. O caminho é ladeado por inúmeras cerejeiras carregadas de flores cor de rosa. É uma visão saída de um sonho, o céu azul sem nenhuma nuvem e as inúmeras flores em qualquer lado que eu olhe.
Houve uma época em que pensei que nunca viveria um momento como esse ao lado de Jungkook; estava certa de que ele me deixaria assim que vovó morresse e voltaria para a Coreia do Sul quando a faculdade acabasse, eu não o culparia se quisesse retornar ao próprio país mas fico muito feliz que ele me escolheu.
Envio uma foto dar árvores no meu grupo com as garotas, Aubrey está acompanhando Taehyung nessa temporada de jogos enquanto faz uma pausa na pintura, ela disse que precisa de um tempo pra ter novas ideias. Anne e Namjoon ficaram noivos e pretendem se casar no final desse ano, ela está indo muito bem na gerência de um hotel.
— É tudo tão lindo.
Eu olho maravilhada para as inúmeras cerejeiras; nenhuma foto é capaz de transmitir totalmente a beleza à minha frente. Jungkook segura minha mão firme e me vira de frente para ele.
— Não tanto quanto você.
— Bobo.
Jungkook me abraça e eu sorrio enterrando o rosto em seu peito. Ele é meu e eu sou dele de todas as maneiras em que se pode pertencer a alguém que ama. Quando estou com Jungkook não sinto medo do futuro, eu vivo cada segundo feliz que encontramos um ao outro.
— Faz muitos anos que não venho aqui na primavera.
Nós caminhamos lado a lado sem pressa admirando a vista. Uma menininho passa correndo ao nosso lado usando um gorro com orelhas de coelho e vejo os olhos de Jungkook brilharem. Quando casamos era cedo demais para pensar em crianças e tomamos todo o cuidado durante esses anos para que nenhuma gravidez inesperada surgisse mas faz um tempo que tenho pensado sobre isso. Principalmente nos dias sozinha no apartamento aqui em Seoul, eu me sentei muitos dias olhando a pracinha do lado de fora do prédio, vendo as crianças brincando e me peguei desejando ter uma.
— Ei — eu abraço Jungkook e olho na direção do menininho que vai em direção ao pai. — vamos fazer um só nosso?
Jungkook me encara com os olhos arregalados.
— Você quer? Tem certeza?
Ele está sorrindo feito um coelhinho.
— Absoluta, agora que você saiu do exército nós podemos tentar sem medo.
Seria um pesadelo ficar grávida enquanto ele estava longe de mim, mas agora Jungkook vai poder me ajudar.
— Eu espero que ela tenha o seu sorriso — Jungkook aperta minha mão.
— Ela? E se for um menino?
Jungkook nega e eu dou um gritinho atraindo atenção quando ele me abraça tirando os pés do chão.
— Eu tenho certeza que vai ser uma menina.
Ele deposita um beijo em minha bochecha e eu o encaro envergonhada consciente demais das pessoas olhando. Meu coração bate tão rápido quanto da primeira vez que chegamos tão perto e eu entrelaço meu braço ao dele enquanto caminhamos pelo parque, desejando que na próxima primavera haja um bebê em meu colo.
Nem todos os dias são fáceis e em algumas noites Jungkook caminha ansioso pela casa mas temos o amor um do outro e isso torna tudo um pouco mais fácil.
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Depois de 3 anos a jornada de Golden boy se encerra aqui e eu quero agradecer muito a quem acompanhou a história e tirou um tempinho para conhecer a história da Valerie e do Jungkook. Nunca fui muito boa em expressar meus próximos sentimentos mas saibam que eu sou muito grata a cada um de vocês que deram tanto carinho a Golden boy e a mim. Muito obrigada ❤️
— Com amor, Amandinha.
Pros órfãos de Golden boy eu publiquei hoje o primeiro capítulo de Sublime minha nova fanfic.