Aurora de Sangue

By ErlemP

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Distante dos olhos dos humanos, o anjo cumpriu seu papel. Sempre que seu trabalho foi feito, os humanos se en... More

Avisos pré leitura
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54

Capítulo 31

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By ErlemP

4428 Palavras

Pisco algumas vezes, sentindo minha visão um pouco embaçada, e por isso não reconheço o lugar onde estou. É um cômodo estranho e sem mobília alguma.

Apesar de não reconhecer este lugar, tenho uma sensação muito familiar presente em todo o meu corpo.

Percebo que estou suspensa no ar por uma força que não consigo enxergar, mas que abraça todo o meu corpo com seu profundo e acolhedor calor. Uma sensação que me causa tanta nostalgia.

Meus olhos finalmente se adaptam e passo a enxergar com clareza novamente, e tudo que reconheço nesse espaço vazio, é Klauss, que me olha com bastante surpresa presente em seu rosto.

Ele vem até mim, e quase que instintivamente vou para frente de encontro a ele, com meu corpo abaixando aos poucos.

Apoio minhas mãos nos ombros do anjo, enquanto que ele envolve minha cintura com seus braços, e nesse instante nossos corpos se encontram devagar. Em todo momento nossos olhares permaneceram unidos.

- Onde... – Sussurro com a voz fraca, olhando para ele buscando a certeza de que é real – Onde nós estamos?

- Em casa. – Responde com um pequeno sorriso, e uma de suas mãos sobem ao meu cabelo, num agradável carinho feito pelos seus dedos.

Baixo meus olhos por um momento, não conseguindo me lembrar ao certo do que aconteceu. A única coisa que me lembro são borrões, e um rosto que parece ser o de Stefan. Somente pensar nisso me causa um calafrio que percorre todo o meu corpo em um instante.

Aperto as mãos, agarrando firmemente as roupas de Klauss e torno a olhar a ele – Nós estamos em casa...? Mesmo?

- Mesmo, está tudo bem. – Ele diz, e por um segundo seus olhos me dão a entender que Klauss não quer se afastar de mim. Eu o entendo, também não quero me afastar dele agora. Ficar dessa maneira é agradável, e não quero que pare. – Está sentindo alguma coisa?

- Não, não sinto nada. – Respondo pensativa com meu corpo tão leve.

Olho para trás por um momento, me dando conta de que eu estava dentro da aura que Klauss mantém em seu quarto, e com isso finalmente entendo em qual local da casa nós estamos, o que não deixa de me causar um grande espanto.

- Eu estava...? – Sussurro apontando para a aura, e voltando meu olhar a ele.

- Sim, você estava. – Klauss responde, já tendo entendido qual seria minha pergunta.

- Eu estava ali... Mas... – Sussurro confusa – Por que?

Ele fica em silêncio alguns segundos, me deixando com expectativas de qual seja o motivo – Falamos disso depois Mika. – Responde finalmente – Está com fome?

- Eu... – baixo uma das mãos e toco minha barriga por um momento, não escutando nenhum dos barulhos estranhos de quando estou com fome – Acho que não... Minha barriga não está fazendo barulhos agora... Mas...

- Mas? – Ele pergunta num sussurro.

- Se você preparar alguma coisa para mim... – Digo de um jeito brincalhão – Então eu até posso comer...

Klauss sorri com o que digo – Tudo bem, posso preparar algo para você.

- Algo doce? – Pergunto com um sorriso sugestivo, enquanto que nos afastamos aos poucos e caminhamos para fora do quarto.

- Vou pensar. – Ele responde em sua natural calma, mas tenho a sensação de ouvir uma curta risada.

Tenho curiosidade em saber o motivo de estar nesse quarto, e principalmente, por ter despertado dentro da aura. Não recordo o que aconteceu, e tudo está muito confuso.

Sei que preciso perguntar o que aconteceu para Klauss, mas acho que esse não é o melhor momento para isso. Ele pareceu bem surpreso ao ver que eu tinha acordado, por isso, talvez seja melhor esperar só um pouco antes de tocar nesse assunto.

*****

Passo a pequena colher pelo prato, pegando o último pedaço do bolo bastante diferente que Klauss preparou dentro de uma caneca.

Fiquei sem entender quando ele começou a preparar o bolo, mas nada disse, já que estava achando tudo bem interessante e muito diferente de outras coisas que ele já havia preparado.

E enquanto o bolo ficava pronto, ele começou a preparar uma cobertura, aproveitando do chocolate em pó que eu havia trago quando me mudei para cá dias atrás. Eu estava curiosa, porque Klauss me deixava ver poucas coisas, e o restante ele ocultava atrás de suas asas para fazer surpresa.

O que valeu muito a pena.

Quando o bolo estava pronto, ele estava com uma ótima aparência, tirado da caneca e montado sobre um pequeno prato, com a cobertura cuidadosamente despejada sem exagero, e ainda por cima, havia pedaços de frutas picadas no topo do bolo.

Simplesmente gostei demais, tanto da aparência quanto do sabor. Poderia comer vários desses sem reclamar.

O anjo está sentado a minha frente, com um livro não muito grande em mãos, e bem concentrado em sua leitura. Apesar que, vez ou outra, tenho a sensação de que ele ergue seu olhar a mim, mas só consegui ter certeza de seu olhar por uma vez, a qual ele continuou me olhando por alguns segundos sem nem ao menos disfarçar. Eu gostei, apesar de ter ficado bem sem jeito.

Quando por fim termino de saborear meu bolo, deixo a colher sobre o prato, e deixo escapar um suspiro de satisfação. – Eu adorei.

- É bom saber disso. – Klauss diz, fechando seu livro e o deixando sobre a mesa – Como se sente?

- Leve... Muito leve. – Respondo torcendo a boca, decidida a iniciar esse assunto – O que aconteceu?

- Você não se recorda? – Questiona, e nego com a cabeça. Klauss então baixa seu olhar, visivelmente pensativo, quando por fim volta a me olhar – Você esteve desacordada por quatro dias.

- Quatro dias...? – Sussurro sem entender, levando uma mão a cabeça, ainda sem conseguir me lembrar. – Mas o que houve comigo?

- Não sei ao certo. Quando a encontrei, você já estava desacordada, e muito machucada. – Ele diz com cautela – Haviam muitas queimaduras pelo seu corpo, e pareceu que você lutou com alguém.

Imagens aparecem em minha mente. Momentos repentinos, tudo sacudindo muito rápido, dores surgindo em mim como lembranças adormecidas... E o rosto repleto de arrogância do Stefan, que somente de surgir em meus pensamentos, me causa calafrios.

- Eu... – Começo, após alguns segundos calada – Acho que lutei... Mas só me lembro do rosto do Stefan...

- Stefan. – Klauss diz em sussurro, mirando seu olhar ao longe – Esse é o nome que você e seu amigo Nick disseram quando vieram me alertar. Deve ter sido ele que encontrei naquela noite.

- O que?! – Questiono batendo as mãos na mesa e ficando de pé de uma vez, tomada pela preocupação ao ouvir isso – Você encontrou com o Stefan?!

- Acredito que sim. – Klauss torna a me olhar – Alguém vestido com roupas escuras e rasgadas, cicatrizes e correntes pelo corpo, olhar arrogante e uma presença muito agressiva.

- Era ele... – Sussurro assustada. Os dois já se encontraram, o que eu mais temia aconteceu e me encho de preocupação – Você está bem? Você não enfrentou ele, não é?

- Não Mika. Eu não o enfrentei. – Klauss responde, para o meu alívio, e nesse momento consigo respirar um pouco mais tranquila – Aquele nas era o lugar e nem o momento de enfrentá-lo, eu precisava achar você. Mas, se ele foi enviado a essa região, então será uma questão de tempo até isso acontecer.

- Você não vai lutar com ele Klauss. – Digo com firmeza.

Ele não diz nada, mas seu em sua quietude e em seu olhar apertado, sei que me questiona do porquê de minha preocupação. O anjo mantém uma postura endurecida, olhar afiado e certeiro, em um porte formidável até mesmo entre os anjos, não sei se conseguirei convencê-lo.

Minha mente vagueia de volta a meses atrás, quando eu ainda era uma inicianda no submundo. Recordo com clareza daquele treinamento assombroso que presenciei, onde Stefan enfrentava imagens de anjos projetados naquele salão, onde apesar de estar em desvantagem numérica, ele esmagou cada um dos anjos e ainda arrancou suas asas com grande brutalidade.

Lembro-me das fagulhas de graça pairando no ar junto a restos de fogo, e as risadas doentias de Stefan ecoando pelo salão de treinamento pelos atos recém cometidos.

Tais lembranças fazem meu corpo inteiro tremer, e o desespero toma conta de mim. Não quero pensar nisso de forma alguma, mas minha mente me trai ao trazer essa imagem aterrorizante para mim. A imagem de um fatal encontro entre Stefan e Klauss, onde o anjo teve suas asas arrancadas da mesma maneira brutal que Stefan fez antes, e imaginar isso me machuca demais.

- Eu não posso e não vou deixar isso acontecer! – Insisto batendo uma mão na mesa, com tanta força que tudo que estava sobre a mesa dá um pulo e um ruído estrondoso se espalha. Sem perceber, estou puxando o ar de aflição, e minha voz entrega o desespero que tenho em mim caso esse encontro aconteça – Você não conhece ele, não sabe quão perigoso o Stefan pode ser!

O anjo assente com a cabeça, mas em momento algum ele se abalou com o que eu disse. Sua feição não mudou, a calma permanece em seu olhar. A aflição cresce cada vez mais em mim, por saber que não estou tendo sucesso em convencê-lo.

Devagar Klauss fica de pé, apoiando suas mãos sobre a mesa, e acompanho o movimento de seus olhos que, nesse curto instante, passeiam misteriosos pelo meu rosto. – Acho que me tornei muito complacente Mika. Eu até pensei que poderia tolerar a presença desse tal Stefan, enquanto ele não fizesse nada nessa região. Mas isso é tolice, e agora é diferente, não vou tolerar a presença deste demônio por aqui, ainda mais depois do que ele fez com você.

- Não faça isso Klauss... – Peço apertando as mãos. – Por favor...

- Se isso for necessário para manter os humanos, os outros anjos... E principalmente, você segura, então eu o farei. Eu vou erradicar Stefan. – Ele diz decidido.

Respiro fundo por uma vez, baixo minha cabeça e aperto os olhos, sabendo que isso pode ser inevitável. Com isso, lembro o que deixei guardado quando me mudei pra cá, e até então fingi que não existia.

- Se essa é a sua decisão, então, não deixarei que faça isso sozinho – Digo decidida, erguendo meu olhar a ele – Eu vou te ajudar.

- Irá me ajudar? – Ele pergunta, não parecendo surpreso com o que acabei de dizer. As vezes não consigo ler como Klauss se sente, muito menos o que ele pode estar pensando. Por várias vezes, o anjo é um mistério, a qual mesmo que eu mergulhe em seu mais profundo, ainda assim não consigo decifrá-lo.

- Sim, eu vou... Preciso te contar uma coisa. – Digo, respirando fundo por um momento, tomando coragem para continuar. – Eu... Tenho uma coisa guardada aqui em casa...

- Uma coisa? – Ele pergunta – O que seria?

- Um orbe do submundo. – Digo, e o anjo salta suas sobrancelhas – É através desses orbes que tive acesso ao poder das chamas, e esse poder aumenta com cada orbe que absorvo.

- Eu sei, tive a impressão de sentir o poder do submundo dentro da casa, e esse poder não vinha de você. – Klauss explica cruzando seus braços, me deixando surpresa. – Quantos você absorveu até agora?

- Esse será o terceiro. – Digo com a voz falha, apertando a boca – Com esse aumento de poder, acredito que conseguirei ter força o bastante para enfrentar Stefan e seus dois parceiros.

- Você tem certeza que quer fazer isso? – Ele pergunta seriamente.

- Não. – Respondo sincera – Mas será preciso. Porque também quero que você esteja seguro.

Klauss baixa seu olhar, parecendo hesitante e muito pensativo. Por fim, ele assente e volta a me olhar – Tudo bem. Quando quer fazer isso?

- Acho que ainda hoje. – Respondo.

- Certo, então... – Ele pega algo de um bolso dentro de seu terno, e coloca sobre a mesa. Percebo ser um frasco de vidro com algo branco e muito brilhante em seu interior – Assim que o fizer, termine seu trabalho.

- O que... – Balbucio – Mas isso é...?

- As almas que você precisava coletar. – Ele responde. – Apesar da situação, você coletou ambas as almas dentro do prazo. É justo que as leve ao submundo.

Alcanço o frasco, observando o intenso brilho irradiado de seu interior. Consigo sentir também o calor dessas almas e o constante movimento delas dentro deste pequeno frasco.

- Irei levar. Obrigada por guardar elas para mim. – Respondo apertando o frasco entre meus dedos. – Eu irei subir para absorver o orbe.

O anjo assente, caminhando até a porta da cozinha. Com isso viro e sigo correndo ao quarto, buscando o orbe que enterrei no fundo do guarda roupa.

Assim que o encontro, paro por um instante, sentindo o calor ardente em seu interior e todo o poder emanado. Mesmo após dias guardado, o poder dentro dessa esfera não diminuiu nem um pouco. Ele arde com a mesma intensidade, uma força selvagem que temo um pouco de absorver.

Respiro fundo por uma vez, me lembrando do motivo de fazer isso e me preparando para repetir essa ação por mais uma vez, e começo a absorver todo o poder contido na esfera.

*****

Deixo meu carro e caminho até o celeiro onde a fenda se encontra. Em cada passo, sinto que estou cada vez mais dividida.

Desde o momento em que terminei de absorver aquela massa de poder que agora preenche meu corpo por inteiro com uma estranha intensidade que nunca provei, tive a sensação de que alguma coisa estava diferente.

Alguma coisa que não sei o que é.

Quando Klauss me viu, antes de sair de casa, seu olhar permaneceu em mim. Um olhar com tantas sensações presentes, mistas em um semblante que não me permitia sequer deduzir quais seus pensamentos.

A única coisa clara, era o nítido desconforto de ambos, e sem ao menos uma palavra trocada, deixei a casa.

E ainda agora, o desconforto permanece.

Sacudo a cabeça, ignorando esses pensamentos e paro frente as portas do celeiro. Aproveito para espiar ao redor, mas não vejo sinal algum de que Verônica está em casa.

Entro no celeiro e caminho até o painel para abrir a fenda, quando de repente sons estranhos podem ser ouvidos. O contorcer do vento e fagulhas elétricas rompem a quietude desse espaço escuro, e com uma pequena luz surgindo, a fenda começa a formar no ar antes que eu toque em qualquer botão.

Aperto os olhos e caminho até frente à fenda, que já assumiu seu tamanho completo. Raios correm pelo chão, e uma figura atravessa a fenda, tocando o chão em uma postura altiva. Stefan.

Seu olhar ardente não muda, sempre é repleto de intensidade e malícia, e agora que se voltam a mim, sinto que estou queimando de raiva, o que só o faz sorrir.

Logo atrás, outras figuras atravessam a fenda, parando logo atrás do maldito Stefan. Violet, Zephyr, e... Diana.

- Vejam quem veio nos receber. – Ele diz, sem se virar ao seu grupo.

- Mika? – Diana diz em surpresa.

- Ah, ela é uma das iniciandas como você, não é Diana? – Zephyr pergunta de sobrancelha erguida – Que sortuda, adoraria ter uma região só pra mim tão rápido.

- Ela é especial e talentosa, por isso já tem a própria área de atuação. – Stefan diz, se aproximando e tocando meu ombro – Não é, Mika?

Tiro sua mão de mim com um tapa, como se seu toque machucasse – Especial eu não sei, mas talentosa eu sou, mas isso não é um assunto seu.

Ele não demonstra surpresa, na verdade, Stefan ri – Eu gosto dessa atitude, e gosto muito desse seu olhar... Nós vamos nos dar muito bem.

- Eu tenho muitas dúvidas sobre isso. – Respondo grosseiramente.

- Stefan, pode abaixar seu fogo por iniciandas e parar com isso? – Violet diz em uma bronca, que não foi séria.

- Como se não bastasse a Diana, está querendo mais uma inicianda? – Zephyr completa.

- Já deveriam saber que sempre quero mais. – Stefan volta a caminhar, afastando de mim – Nos veremos logo Mika.

- Torço para que demore. – Sussurro entredentes, encarando suas costas enquanto ele se afasta, seguido por Violet e Zephyr.

Diana para ao meu lado, me olhando por um curto momento. Um olhar com certa surpresa, eu acho. Mas sem dizer nada, ela segue logo atrás de Stefan.

Fico parada os olhando se afastar, e quando saem da minha vista, volto minha atenção ao que estava fazendo, e atravesso a fenda que permaneceu aberta todo esse tempo.

*****

- Aqui estão as almas do último trabalho. – Digo sem demora erguendo o frasco transparente ao juiz Minos, que me observa do alto da escadaria de sua sala.

- Muito bem. – Ele estende uma mão em minha direção, enquanto lanço o frasco contendo as almas até ele.

O vidro explode em pleno ar, e enquanto os pequenos fragmentos caem ao chão, as almas rodeiam o juiz do submundo. Ele observa as almas com claro interesse, as manipulando devagar com a ponta de seus dedos.

- Este era um trabalho simples. – O juiz comenta – Por que levou tanto tempo para completá-lo?

- Houve uma intromissão enquanto realizava meu trabalho. – Respondo de forma seca.

- Uma intromissão? – Ele salta as sobrancelhas, e esboça um riso – Diga-me, o anjo da legião interferiu mais uma vez?

- Não. Não foi o Klauss. – Digo rapidamente – Foi um demônio vindo do submundo. Stefan me encontrou e me atacou.

- Como é? O Stefan? – Minos questiona apertando os olhos. – E porque ele faria algo assim?

- Stefan desconfia que não sou igual a vocês. – digo pensativa, lembrando com pesar do que ele dizia durante seu ataque – Ele deve saber que originalmente sou um anjo caído.

O juiz desvia seu olhar ao lado, apoiando o queixo sobre as costas da mão, como se pensasse em algo. As almas se aproximam de sua mão livre, e de repente ele as aperta com força.

- Eu mandei que ele ficasse longe de você. – Diz em mesmo tom pensativo, sem se alterar muito. Seu olhar tranquilo se reforça com seu sorriso e elegância única no submundo – Tomarei medidas quanto a isso.

- Não é preciso interferir, senhor Minos. – Digo, e o juiz me olha – Quando cheguei aqui o submundo, você me alertou que isso poderia acontecer. Poderiam me atacar a qualquer momento se assim quisessem, e eu deveria estar ciente. Stefan me atacou, e eu vou revidar.

- Faça o que bem desejar Mika. Entretanto, eu ainda cuidarei do Stefan. – O juiz fica de pé, e nesse instante é possível enxergar uma aura semelhante a uma grande chama surgindo em torno de Minos. A temperatura eleva a níveis assombrosos de forma que o lugar inteiro reage a ponto de quase colapsar, enquanto ele mantém sua postura – Aquela tola criança se permitiu iludir pelo poder e posição que possui, tornou-se altivo em excesso, entretanto ele precisa lembrar qual seu real lugar. Stefan aprenderá a não desobedecer as ordens dos três juízes.

Engulo em seco com essa manifestação de poder. Apesar de Minos manter sua postura e até mesmo seu modo cortês e muito educado, consigo notar uma grande raiva emanando do juiz do submundo. Ele está mesmo enfurecido por Stefan ter desobedecido suas ordens.

- Antes que vá, surgiu um mais um trabalho para você Mika. – Ele se pronuncia.

- Mais um? – Pergunto incrédula, mas sorrio. Eu queria voltar para casa e ficar com Klauss sem me preocupar com novos trabalhos... Não que arrancar mais algumas almas seja um problema, na verdade essa ideia até está me agradando mais, de certo modo me parece até... Prazerosa.

- Sabe Mika, eu gostava mais de você quando ainda não havia absorvido tantas orbes de poder. Está cada vez mais diferente de um anjo em personalidade e aparência. – Minos diz com uma sobrancelha erguida.

- E isso lá é uma coisa ruim? – Pergunto apertando os olhos, e o juiz ri.

- Não, de forma alguma. Só será uma pena se você se converter em apenas mais uma no submundo. – Não me dando tempo para resposta, Minos vira-se para sua mesa, coletando algumas folhas – Seu próximo trabalho será simples. Você precisa coletar somente uma alma, trata-se de um criminoso humano que adoeceu. Recolha essa alma e traga a nós.

Aperto os olhos e assinto, enquanto Minos me lança a folha e a recolho quando se aproxima de mim – Trarei essa alma em breve.

- Muito bem. Você pode ir agora. – Ele diz, caminhando para a sala atrás de sua mesa.

Giro sobre os pés e caminho para fora do salão do juiz Minos, em passos apressados e sem olhar para trás nem por um momento, inconformada em ter mais um trabalho a fazer.

Conforme me afasto apressada de volta para a fenda, tenho em mim a certeza de que quero e vou cumprir esse trabalho o quanto antes.

Mas dessa vez, não quero dar tempo para que impedimentos aconteçam mais uma vez, nem mesmo que um novo desconforto surja por contar o que irei fazer. Por isso, realizarei esse trabalho sem que Klauss saiba.

Dessa vez, tenho somente uma alma para coletar, a de um criminoso adoecido. Esperando o momento certo para agir, tenho certeza que isso será fácil, e também muito rápido.

*****

Conforme dirijo, o nervosismo fica mais e mais forte, por estar indo cumprir mais um trabalho para o submundo sem avisar Klauss. Ele me disse para contar quando recebesse um novo trabalho, pois assim pensaria se me veria com uma inimiga ou não.

E o que estou fazendo? O completo oposto, começando mais um trabalho sem falar nada para ele.

Mas está tudo bem. É só mais um trabalho, contanto que eu o faça de maneira rápida e muito discreta para não chamar atenção, poderei fazer tudo, entregar essa alma e voltar para casa como se nada tivesse acontecido. Klauss nunca descobrirá.

Mesmo que eu esteja certa e convencida disso, o nervosismo em mim é tanto que meu estômago está revirando sem parar, e me vejo bastante inquieta no banco, batucando os dedos no volante repetidas vezes enquanto dirijo devagar.

Espio o mapa por uma vez, constatando a pouca distância que resta da casa do meu alvo, e comemoro sozinha que dessa vez tive um endereço exato. Todos os meus trabalhos poderiam marcar o endereço de onde devo ir, isso facilitaria as coisas e muito.

Após alguns minutos, estaciono meu carro próximo a um largo portão de grades, e um amplo jardim em torno de um prédio alto, e aparentemente bem velho também.

Observo por alguns instantes, não encontrando movimentação alguma ao redor. Com isso, me aproximo do portão, que contém uma fechadura muito grande que nunca vi antes, apesar de ter um buraco de chave igualmente pequeno como nas casas que já vi antes.

Sem me importar demais com isso, toco a fechadura e manifesto o poder do submundo que percorre em mim. Uma luz avermelhada intensa se manifesta em torno da minha mão, e devagar a fechadura começa a derreter, onde um som de trava pode ser ouvido, e o portão abre imediatamente.

Avanço na direção do prédio, subindo alguns poucos degraus, e de trás da cabine, um homem surge, olhando diretamente para mim com estranheza. Apesar do modo continuo que ele me olha, nenhuma palavra é dita.

Ao entrar, o ambiente me lembra muito os quartos do submundo, apesar deste prédio ser muito menor do que os que haviam lá.

Chamo o elevador, espiando o papel por mais uma vez, me certificando de qual andar e também qual o quarto devo buscar para encontrar meu alvo. Ao me certificar disso, aperto o botão e o elevador começa a se mover.

Ao sair, me encontro em um corredor vazio. Sem demora começo a procurar pelos números nas portas, buscando meu objetivo. Quando finalmente o encontro, toco a maçaneta e a giro devagar, mas a porta não abre. Eu deveria imaginar, humanos não costumam deixar as portas de suas casas abertas.

Sem forçar muito, repito o que fiz mais cedo, derretendo a fechadura e abrindo a porta da casa devagar e entro, torcendo para não fazer barulho algum. Está tudo apagado, mas ainda consigo identificar bem alguns móveis em meio a penumbra.

Espio pelo chão, vendo algumas coisas pequenas espalhadas. Me abaixo e pego um desses objetos, que parece ser uma versão miniatura e muito estranha de um humano. Tem uma textura estranha ao toque, é dura e seus braços e pernas e cabeça são firmes, cabendo a mim movimentar esses membros com a ponta dos dedos, e a feição que tem no rosto é um sorriso fixo que, por sinal, é desconfortável depois de alguns segundos olhando.

Largo o objeto de volta no chão, e arrastando os pés com cautela para não pisar em nada que denuncie minha presença, vou avançando pela casa. Em certos momentos empurro algumas coisas pequenas pelo chão, mas nada que faça muito barulho.

Ouço um ruído que me deixa em alerta, e imediatamente interrompo meu passo. Acabei de escutar algumas tosses, vindas de um quarto não muito longe.

Uso esse som para me guiar, e chego ao quarto, onde encontro somente uma pessoa deitada em uma cama, se mexendo devagar. Existe um ponto de luz próximo de seu rosto, e nesse instante ouço mais tosses, e então ouço resmungar. É uma voz feminina.

Ela tosse por mais algumas vezes, quando por fim se levanta da cama de uma vez. Esse movimento repentino me assusta, e recuo devagar de volta para a sala, sem saber onde me esconder. Mas por que preciso me esconder? O que importa se essa humana me ver ou não, na verdade, talvez ela me diga quem é e onde está o criminoso que vim buscar.

Ouço seus passos saindo do quarto e ela caminhando até um outro cômodo próximo, parecendo não notar minha presença, e acende uma luz assim que entra, em mais tosses. Ao me aproximar, escuto alguns barulhos que parecem ser de gavetas e panelas, seguido de um som contínuo que me lembra água. Parece ser a cozinha.

Ignoro isso, e concentrando o poder do submundo em minha mão por alguns segundos, uma chama surge envolvendo minha pele, e com isso, me ergo e entro na cozinha, com a mão apontada para a pessoa.

A mulher me olha com um semblante espantado, recuando alguns passos conforme eu avanço, a ponto dela encostar em uma parede atrás de si, com suas mãos erguidas.

Aperto os olhos por alguns segundos, reconhecendo a mulher a minha frente, e dessa vez a surpresa é minha quando entendo quem ela é – Você?

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