ESSÊNCIA (Jikook ABO)

By LuneInfinie

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[EM ANDAMENTO] Em uma sociedade desigual, Ômegas são marginalizados e culpados pela Vicissitude, uma doença c... More

🍁🍂AVISOS🍂🍁
🍂Trailer/Personagens/Playlist🍂
🍂 PRÓLOGO 🍂
Capítulo 01🍂
Capítulo 02 🍂
Capítulo 03 🍂
Capítulo 04 🍂
Capítulo 05 🍂
Capítulo 06 🍂
Capítulo 07 🍂
Capítulo 08 🍂
Capítulo 09 🍂
Capítulo 10 🍂
Capítulo 11 🍂
Capítulo 12 🍂
Capítulo 13 🍂
Capítulo 14 🍂
Capítulo 15 🍂
Capítulo 16 🍂
Capítulo 17 🍂
Capítulo 18 🍂
Capítulo 19 🍂
Capítulo 20 🍂
Capítulo 21 🍂
Capítulo 22 🍂
Capítulo 23 🍂
Capítulo 24 🍂
Capítulo 25 🍂
Capítulo 27 🍂
Capítulo 28 🍂
Capítulo 29 🍂

Capítulo 26 🍂

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By LuneInfinie

Oii, nenéns. Cheguei com o presente de natal. 🎁🎇🎄

Atenção: 📌 O capítulo é grande, mesmo assim comentem bastante, pfv. E não esqueçam de clicar na 🌟 pra votar. 📌 Tem indicação de músicas. 📌 Lembrem que Essência é ficção e mta coisa não condiz com a realidade. 📌 Leiam as notas finais pra não levarem tapa na bunda.

🎄 Boa leitura e bons surtos 😌💜

#perfumedelobo


Olha só, acredito profundamente que algumas pessoas nasceram para ficar juntas.

Não porque parece que assim o destino quis, é o oposto disso. São pessoas que, mesmo expostas às circunstâncias, não desistem do que sentem e construíram juntas. Às vezes me pergunto se Jungkook é o meu destino, se um dia vamos conseguir superar todas as circunstâncias que nos colocam de frente para as nossas divergências.

Sei lá, viu, mas ouvir a conversa entre Gui e Tigrão, na visita que fazemos aqui no hospital, antes de irmos ao evento das Nacionais, traz reflexões que eu nem gostaria de fazer agora.

ㅡ O que o doutor Namjoon falou sobre o seu caso, chuchu? ㅡ Tigrão pergunta, cuidadoso, apoiando as mãos nas grades do leito do Gui.

ㅡ Que talvez o meu lobo esteja se contaminando. ㅡ Gui revela em meio a um sorriso triste por trás da máscara de oxigênio, que me leva a imaginar o quão mais grave deve ser a situação.

ㅡ Mas dá pra reverter, não é? ㅡ Tigrão engole seco ao tempo em que mexe no lenço azul em seu pescoço.

Gui olha para mim, que seguro a sua mão em silêncio. Parece buscar apoio, ou implorar por uma solução que não seja responder com sinceridade. Todavia, ao olhar para o Tigrão novamente, opta pela verdade.

ㅡ Talvez não haja.

Sem ter tempo de absorver a informação, Tigrão se debruça sobre ele e agarra seus cabelos com desespero. Ouço um soluço que antecede o momento em que seu choro vem, dolorido e inconformado. Fecho os olhos por um momento, calando a minha tristeza para ser o ponto de calmaria entre esses dois.

ㅡ Eu não vou deixar você morrer, entendeu? Não importa o que eu precise fazer, vou ficar com você em qualquer situação, chuchu. - Tigrão chora e beija a testa dele. ㅡ Te prometo isso com a minha vida.

O cabelo dele está tomando um tom avermelhado, notei há alguns dias. Hoje então, esse tom parece ainda mais escuro e intenso.

ㅡ Eu te amo. ㅡ Gui diz de olhos fechados e, quando os abre, busca a total atenção de Tigrão. ㅡ Mas você sabe que existe outra pessoa que também te ama muito e precisa de você naquele evento, ajudando os ômegas.

Gui sempre tão altruísta, pensando nos outros até em um momento como esse.

ㅡ Não sei se consigo ir... nem sei se vou servir de ajuda. ㅡ Ele se afasta do Gui, agora um pouco mais sério.

ㅡ Toda ajuda é bem-vinda ㅡ afirmo, para que não reste dúvida.

ㅡ Principalmente para servir de apoio àquele cabeça dura do ogrinho. ㅡ Gui complementa.

Assim que ouve o apelido, Tigrão sorri discreto, mas logo disfarça.

ㅡ "Aquele que se insere em uma causa nobre, torna-se mais rico que a alta nobreza", já dizia Manfred Lahar.

ㅡ Vou pensar, agora quero que o meu filósofo favorito descanse. A visita já acabou, chuchu.

ㅡ Nós voltamos depois do evento, até lá fique forte, Gui. ㅡ Beijo a sua bochecha tão fria, torcendo para ter a oportunidade de fazer isso muitas outras vezes.

ㅡ Vou ficar, anjinho.

🍂🍁🍂

O evento das Nacionais me guardou muitas surpresas boas. Jungkook topou me ajudar, o que elevou o meu nível de confiança nele. Nós também cantamos juntos e, toda a minha admiração e amor por meu professor, e homem que tem a alma ligada à minha, fizeram meu coração bater desgovernado.

Jungkook tem uma intensidade nesse olhar nublado, capaz de agitar até um lobo centrado como o Rowan.

Outra felicidade que tive foi ver o Tigrão falando com o Hook no auditório, antes de o evento iniciar.

ㅡ Vê se não morre... ㅡ disse com seu tom orgulhoso, sem olhar para o outro direito, para lhe não dar tanta abertura. Contudo, a preocupação estava evidente.

ㅡ Pode deixar, bonequinha de luxo.

Até brigados, os dois conseguem se provocar. Vê se pode? Sei lá, viu, a relação deles sempre foi esquisita.

Confesso que achei o lembrete do Tigrão exagerado, naquele momento. Quando desci do palco, porém, e vi a violência no auditório, temi pela vida de cada um que lutava ao meu lado.

Meu objetivo era sermos ouvidos, não que vidas inocentes fossem colocadas em risco. Ver a polícia atacando e agredindo todos que tentavam se manifestar me deixa em pânico.

Você deveria ter imaginado que não sairíamos ilesos de um confronto como esse, iniciante.

ㅡ Não posso deixar você ir. Você não tem preparo como um policial, nem está armado. ㅡ Jungkook segura o meu braço, impedindo-me de descer do palco quando tudo começa.

Como se eu precisasse desse tipo de preparo.

Sinto a minha pele inteira esquentando. Parece ser o que sempre acontece quando fico extremamente nervoso. Ciente de que isso pode afetar Jungkook, Rowan é quem o avisa:

Me solte, alfa, não quero machucar você.

ㅡ Você não seria... ㅡ Ele começa, mas não posso continuar esperando que me solte, com o calor crescente dentro de mim. Puxo meu braço e destino minha energia a confusão.

Faço o possível para desviar dos policiais e ajudar os ômegas feridos, mas quando avançam em mim, meu corpo superaquece, como se eu realmente fosse uma estrela, até que se torna impossível continuarem me segurando. Desvio de uns, afronto outros, o mais importante é que não me calo e não me abalo.

No entanto, meu medo do fracasso surge com força quando ouço o Tigrão gritando o nome do Hoseok. Ao olhar na direção dos dois, vejo três policiais batendo no Hook com cassetetes. Acertam seus braços, pernas, rosto, cabeça, e me desespera perceber que sequer dão a chance de ele se levantar e ir embora. Querem matá-lo.

Corro na direção deles, mas nesse momento, também vejo a irmã de Jungkook, que antes conduzia algumas pessoas para fora, aproximando-se dos policiais.

ㅡ Parem! Não estão vendo que vão matar ele? ㅡ Lalisa grita e gesticula para que os seus companheiros de trabalho soltem o Hook.

Antes mesmo que eles se afastem por completo, Tigrão, Félix e eu corremos atrás o corpo desacordado dele.

ㅡ O que nós vamos fazer pra tirar ele daqui? Logo vão chegar mais policiais! ㅡ Tigrão interpela aos prantos, enquanto Félix grita o nome do irmão. Eu só penso em recorrer a uma pessoa.

ㅡ Preciso da sua ajuda ㅡ peço à subtenente, enquanto ela destina sua atenção às pessoas que guia para fora do auditório.

Tiros, gritos e agressões assustam a todos, mas não posso vacilar logo agora que vejo policiais vindo em nossa direção. Meus pais conseguiram sair daqui, agora o meu pensamento, além de focar em Hook, não deixa de vagar até Jungkook, enquanto me pergunto se ele está bem. Tento enxergar o palco, mas a multidão me impede.

ㅡ Aquele vídeo sobre a pílula parecia real. Não minta pra mim. É verdade? ㅡ ela pergunta, concentrada no que faz, como se não tivessem duas pessoas gritando desesperadas por outra que está desacordada, logo ao seu lado.

ㅡ É tudo verdade... você precisa me ajudar a tirar o Hook daqui ㅡ imploro, intercalando o meu olhar entre ele e ela.

Lalisa ainda olha ao seu redor, possivelmente percebendo que esse confronto não terminará tão cedo. Seus olhos correm por Hook e seu irmão, antes de pairarem sobre mim outra vez.

ㅡ Só porque estou te devendo uma. ㅡ Ela leva uma mão para trás do corpo, em seguida, com uma rapidez que não consigo acompanhar, atira uma bomba que se desmancha em uma cortina densa de fumaça. ㅡ Anda, leva seu amigo pra um lugar seguro.

Entendendo o recado, Félix e Tigrão se esforçam para erguer o corpo de Hook e levá-lo daqui, tentando proteger as suas fraturas. Entretanto, eu ainda hesito, preocupado com alguém que ela sabe bem quem é.

ㅡ Não posso sair daqui sem o Jungkook. ㅡ Começo a caminhar em direção ao palco, agora que sei que Hook será levado ao hospital, porém, ela toca em meu ombro.

ㅡ Deixa que do Jungkook cuido eu. Se você for pego não vou poder fazer mais nada, saia logo daqui.

Não estou com uma sensação boa, mas ela tem razão, não podemos ser pegos.

ㅡ Quando estiverem seguros me avise, por favor ㅡ peço nervoso.

ㅡ Eu digo pra ele te ligar, agora vá.

Após me certificar de que Hook deu entrada no hospital, e saber que meus pais estavam seguros, fui procurar o Jungkook, não dava para esperar ele me ligar. No entanto, foi lá que eu soube que Lalisa estava desacordada, assim como o Hook.

Doeu conhecer todas as perdas de Jungkook e saber que nada do que eu pudesse falar amenizaria ela, muito menos mudaria a sua opinião sobre os ômegas. Doeu ainda mais ver Jungkook me evitando quando tudo o que eu queria era ficar ao seu lado. Todavia, respeitei o seu pedido de ficar sozinho e passei um tempo indo atrás de saber quem dos nossos aliados foram feridos e quais, infelizmente, morreram.

O tempo todo torci para que Jungkook deixasse eu me aproximar e ficar ao seu lado em um momento tão difícil.

🍂🍁🍂

Já é tarde da noite quando vou à UTI para saber como o Hook está. Mesmo sabendo que Félix e Tigrão não desgrudaram dele um minuto, seu estado é grave e, como não posso ficar com o Jungkook, não existe outro lugar que eu poderia estar agora.

ㅡ Ele precisa de transplante de vários órgãos, urgente, ou não vai resistir. ㅡ Namjoon explica de braços cruzados, enquanto olhamos para Hook acamado, através da janela de vidro da UTI.

ㅡ Então ele precisa entrar na fila de espera?

ㅡ Não. ㅡ Revela, encarando-me, antes de fazer uma pausa, como se não soubesse se deve continuar a falar. ㅡ Pela gravidade do caso e disponibilidade de uma doadora que surgiu há pouco tempo, poderemos fazer o transplante, após checarmos a compatibilidade dos dois.

ㅡ E quem é essa pessoa? ㅡ indago baixo, sem ter certeza se posso e quero realmente saber.

Namjoon olha para frente, para Hook, e respira devagar algumas vezes antes de prosseguir com a conversa.

ㅡ A subtenente Lalisa.

Meu coração aperta por imaginar que Lalisa me ajudou no evento e agora perdeu a própria vida. Aperta ainda mais por imaginar o tamanho da dor que Jungkook está sentindo.

Em razão disso, sequer me despeço de Namjoon, tento ligar para o meu professor de canto, mas ele não me atende. Durante o caminho que faço até a sua casa, tento mais um pouco e mesmo assim não sou atendido. Bato em sua porta, sentindo o medo e a tristeza me fazendo arrepiar mais do que o vento da madrugada.

Meu coração está apertado pela tristeza do Ankor e do Jungkook.

ㅡ Eu sei, vamos achar eles.

Em uma última tentativa de saber onde ele está, ligo para Namjoon e espero que ele tenha mais sorte que eu em obter notícias.

Não vi mais o Jungkook desde que ele soube da notícia, mas soube pelo próprio corpo policial que o enterro acontecerá amanhã.

ㅡ O Jungkook vai ter que aparecer para ir...

Sim, então vá para a sua casa e descanse para amanhã estar lá. Depois da cerimônia você fala com o Jungkook. Ele vai precisar muito de você.

ㅡ Não vou conseguir dormir até lá.

Eu também não, Jimin, mas precisamos esperar.

🍂🍁🍂

Foi Namjoon quem me passou o endereço do funeral da Lalisa. Sei lá viu, mas tudo aconteceu tão rápido. Hook recebeu os órgãos, o corpo foi liberado para o funeral e agora estou aqui, em um espaço cedido pelo Estado de Daelim, para que policiais, famíliares ㅡ familiar, no caso ㅡ e amigos façam homenagens a ela.

Entro no espaço aberto e caminho no gramado junto com o Félix. Permanecemos distantes, porque mesmo Félix sendo um aluno de Jungkook, ainda é um ômega em um lugar cheio de alfas, após um conflito horrível com o que aconteceu no dia anterior. Enquanto meus olhos varrem o local em busca do Jungkook, a agonia crescente em meu peito me faz repassar tudo de trágico que aconteceu ontem.

ㅡ O Jungkook vai me odiar eternamente... ㅡ lamurio baixo assim que o vejo, distante, na primeira fileira, com o semblante fechado como o dia de hoje: nublado. ㅡ Eu prometi que ninguém se machucaria sem sequer saber que os Renegados estavam armados. Por que ninguém me contou?

ㅡ E precisava? ㅡ Félix franze o cenho, mirando as íris vermelhas em mim. ㅡ Queria que o plano fosse suicida? Ou você é ingênuo o suficiente pra achar que a gente não iria preparado para um ataque?

ㅡ A irmã dele morreu por causa da minha ideia. ㅡ Lembro, mas sua expressão não vacila.

ㅡ Você não tem culpa, ela era policial, estava sujeita à morte todos os dias. Poderia ter sido em qualquer outro conflito.

ㅡ Poderia, mas não foi. Foi no dia em que o Jungkook me ajudou, em que eu prometi que ficaria tudo bem.

ㅡ Nós também perdemos muitas pessoas queridas, como o Ninja. ㅡ Félix olha para cima, tentando ignorar o choro. ㅡ E quase perdi o meu irmão.

ㅡ Eu sei, e a minha cabeça lateja sempre que ouço os nomes deles. Não sei se algum dia vou me perdoar por isso. Assim como eu nunca iria me perdoar se algo acontecesse com o seu irmão também. ㅡ Passo as mãos no cabelo sem saber mais o que falar. Sinto uma mão invisível me esmagando.

Ser um líder é carregar o fardo de decidir o que deve ser feito, porém, o fardo de seguir, ou não, é dos liderados.

ㅡ Entendo que você quer agradar os dois lados, mas sempre um vai se decepcionar com você. ㅡ Félix dá alguns passos para trás. ㅡ Vou passar em casa e depois voltar para o hospital, de onde eu nunca deveria ter saído.

ㅡ Todo o grupo do coral está aqui. Você vai embora sem falar com o Jungkook?

ㅡ Acho que ele não vai querer minhas condolências.

Não o impeça e também não se sinta mal. Todos querem que você escolha um lado, mas nós somos o equilíbrio. Se o equilíbrio pender apenas para um lado, deixará de ser equilíbrio.

E não foi o que eu fiz, pendi para um lado, quando escolhi ajudar os ômegas daquela forma?

Para tudo há um tempo nessa sua vida humana e finita, iniciante. Agora é o tempo de resgatarmos o Jungkook e o Ankor desse lugar escuro que eles caminham a passos rápidos.

Tiros são dados para o alto e uma Bandeira do nosso país, Karmania, é posta sobre o caixão fechado por alfas fardados, que acredito serem amigos de Lalisa. Já Jungkook permanece com o semblante impassível e isso me preocupa.

Diante dos olhares de algumas pessoas, eu caminho em sua direção. Nesse caminho, vejo Namjoon. Ao lado dele está Jisoo e Jennie que soluça de tanto chorar. Quando paro na primeira fileira da esquerda, a que Jungkook ocupa sozinho, tomo a liberdade de me sentar ao lado dele.

De início nada falo, apenas observo com minha visão periférica o sobretudo preto em seu corpo, que finda em suas luvas também pretas, impedindo-me de ver sua pele. O ambiente parece esfriar ainda mais, mesmo o dia já estando naturalmente frio.

ㅡ Oi... ㅡ chamo, mas não recebo sequer um segundo da sua atenção. Jungkook parece uma estátua. ㅡ Eu te procurei assim que soube...

Não consigo ouvir os pensamentos do Ankor, acredito que Rowan também não ouça. Não sei por qual motivo.

Há algo de errado. Se ele pelo menos nos olhasse de volta, eu saberia.

ㅡ Jungkook, eu sinto muito. ㅡ Encaro-o, com todo o peso que há em meu peito, sentindo, mesmo que parcialmente, a dor que ele carrega agora. ㅡ Sinto muito mesmo pela sua perda.

O fluxo da sua respiração acelera, à medida que um músculo em sua mandíbula se contrai.

O cerimonialista fúnebre fala palavras de conforto, mas Jungkook parece sentir algum tipo de aversão. Seu olhar transmite desprezo. Por que ele não me olha?

ㅡ O que você vai fazer quando sair daqui? Não quero que fique sozinho... Me diga alguma coisa, por favor.

Quando parece que Jungkook não vai me dar qualquer tipo de atenção, os olhos gélidos e distantes se voltam para mim, junto com a sua cabeça. Não é um olhar atencioso, é um olhar que me expulsa.

ㅡ Se eu fosse você não perderia o meu tempo aqui. Iria verificar se a casa daqueles ômegas que você adotou, construída em terreno invadido, não está sendo demolida agora. ㅡ O desprezo contido em sua voz me perfura. ㅡ Nunca se sabe quando alguém faz uma denúncia anônima.

ㅡ O quê... ?

Minha respiração pesa, meu coração também. Jungkook não parece disposto a repetir, vira a cabeça para frente novamente, como se não tivesse dito que a sede dos Renegados vai ser, ou já foi destruída. Como se não tivesse dito que quer arruinar a vida dos meus amigos, aqueles pelos quais tanto luto diariamente para ajudar.

A doença já atingiu o Ankor.

Quanta frieza. Será que uma doença é o suficiente para fazer alguém agir de forma tão maldosa? Não consigo entender.

Não adianta intervirmos nesse lugar cheio de gente. Vá até a sede ver o que aconteceu.

Sem ter processado a informação por completo e, também sem ter o que dizer, eu me levanto e faço o que Rowan pediu.

🍂🍁🍂

Assim que chego no que já foi a sede dos Renegados, tenho dimensão do que Jungkook fez. Quando o governo de Daelim soube que era um lar de ômegas e betas, não demorou a vir demolir a casa.

Dentre os inúmeros ômegas e betas ao derredor do estrago, vejo Félix aos prantos. Ele corre em minha direção e, quando me alcança, abraço o seu corpo trêmulo.

ㅡ A minha casa, Jimin... ㅡ Ele chora alto e soluça.

Ao tempo em que o aperto, olho para todas essas pessoas desamparadas, com seus filhos nos colos, enquanto protegem os poucos móveis e pertences que conseguiram salvar. E, quando o solto, levo as mãos à cabeça, antes de caminhar por este espaço arruinado.

Como o Jungkook que eu conheço foi capaz de fazer isso?

Pense na solução, com o alfa nós lidamos depois, iniciante.

O que posso fazer? Se pelo menos eu conhecesse algum local grande o suficiente para pôr toda essa gente. Subitamente lembro de um local e olho para Félix, que ainda me encara a alguns metros de distância. Pego o meu celular e disco o número de quem sei que posso recorrer.

Príncipe? ㅡ Minha mãe me chama assim que me atende.

ㅡ Preciso da sua ajuda, rainha. O galpão onde vai ser construída a próxima loja ainda está desocupado?

Sim, príncipe, mas por quê?

ㅡ Uns amigos meus não têm onde ficar e eu preciso ajudar. Posso levar eles pra lá, até conseguir um lugar melhor?

Depende, quantas pessoas são?

ㅡ Algumas... ㅡ Comprimo as sobrancelhas em uma careta, mesmo que ela não veja.

Algumas quanto?

ㅡ Umas oitenta, ou noventa...

Que tanta gente é essa? Isso tem alguma coisa a ver com o que aconteceu no evento?

ㅡ Mais ou menos.

Príncipe, eu sei que você quer ajudar, mas além de ser muita gente, nós podemos nos complicar com a polícia. Você sabe que estão atrás de todos os responsáveis e de todos os cúmplices.

ㅡ Ninguém vai descobrir, peço para eles serem discretos. Por favor, rainha, só tenho a senhora pra me ajudar e pra convencer o pai.

Enquanto sou torturado pela espera de uma resposta, vejo Félix conversando com algumas ômegas, tentando confortá-las.

ㅡ Mãe, quando eu nasci, não tinha perspectiva de futuro, mas vocês me fizeram seu filho. Tudo que eu quero é ajudar essas pessoas a terem um futuro também. Se ficarem aqui logo serão pessoas em situação de rua, abandonadas à própria sorte. ㅡ Respiro fundo, sob o seu silêncio. ㅡ Me ajude, por favor.

Está certo, pode levar eles para o galpão. Eu converso com o seu pai, mas tome cuidado.

ㅡ Muito obrigado, rainha, muito, muito obrigado! ㅡ Quase não me contenho de tanta felicidade quanto é possível se sentir agora.

Assim que me despeço dela, volto a me aproximar das pessoas e busco olhar para cada uma, enquanto anúncio:

ㅡ Vocês não vão ficar na rua. Juntem todas as suas coisas e vamos para um lugar seguro, mas não contem a ninguém. ㅡ Levo minha atenção a Félix, que me observa de cenho franzido, sem entender. ㅡ Vou chamar quantos táxis forem preciso pra levar todo mundo. Vamos começar pelas mulheres e crianças.

ㅡ Pra onde nós vamos? ㅡ Ele faz a pergunta que provavelmente está na cabeça de todos.

ㅡ É um galpão que pertence aos meus pais. Agora vai ser um esconderijo, por quanto tempo nós precisarmos.

Sem que eu espere, meu amigo se aproxima de mim e me abraça outra vez.

ㅡ Me perdoe, Jimin... pelas palavras duras que eu te disse. E obrigado por nos ajudar. ㅡ Sua voz soa abafada contra o meu ombro.

ㅡ Não se preocupe com isso. ㅡ Bagunço seu cabelo para amenizar o clima. ㅡ Você vai ter a sua casa de novo, vamos juntar nosso dinheiro do prêmio do concurso e recuperar tudo ㅡ murmuro para que apenas ele ouça.

ㅡ A sua parte do prêmio é sua, Jimin. ㅡ Félix se afasta para dizer.

ㅡ Sim, e eu uso como quiser.

Ele esboça um sorriso, ainda fraco, mas verdadeiro.

ㅡ Você já está harmônico até demais. É como se eu visse o seu lobo falando.

ㅡ É, mas se fosse ele, estaria te chamando de "iniciante".

ㅡ Como assim? ㅡ Félix bate os cílios brancos em confusão.

ㅡ Esquece, vamos logo.

Cara, como eu vou explicar as peculiaridades do Rowan para outras pessoas? Sei lá, viu.

🍂🍁🍂

Levamos dois dias inteiros para organizar o galpão para que fique apropriado para abrigar ômegas e betas. Tigrão, Namjoon e Seokjin nos ajudaram com doações de roupas e alimentos, enquanto Gui e Hook continuam internados.

Nesse período, tenho perguntado ao Namjoon sobre o Jungkook, mas ele mal tem notícias. Jungkook está evitando todos que se importam com ele de verdade.

Lembranças das risadas que compartilhamos, dos chás horríveis e sopas que tomamos juntos só porque eram saudáveis, vêm à minha mente. Assim como das carícias que trocamos, dos ensaios em que rimos e cantamos juntos, depois de ter experimentado a tensão gostosa que sempre nos cercava.

Gostaria de estar procurando travesseiros para pôr entre as nossas pernas para dormirmos nesta noite. No nosso ninho, de preferência. Não travando uma luta que parece já estar perdida.

ㅡ Ainda não consigo acreditar que ele fez isso. Estou tão... nem sei o que estou sentindo ㅡ confesso, sentado ao lado do Namjoon, na sala de espera da enfermaria onde Gui está, enquanto Jin segura a minha mão, sentado do meu outro lado.

ㅡ Raiva? Decepção? O que aquele alfa fez foi terrible. E eu "o" de odeio ele por isso, mas não esqueça, dear alfinha fake, que the corpo e the mente dele estão infectados neste moment.

ㅡ Eu sei, mas o pior é que nem sei onde ele está, se está fazendo mais alguma besteira. ㅡ Passo as mãos pelos meus fios ruivos, angustiado.

ㅡ Ele denunciou o esconderijo de outro grupo de ômegas. Aquele do qual Liam era o líder.. ㅡ Namjoon destina o seu olhar alabastrino a mim, esperando minha reação. ㅡ Todos foram presos, mas Jungkook ainda não está satisfeito e, infelizmente, não consigo deter ele dessa vez.

Sou incapaz de responder algo quando me sinto soterrado por pensamentos negativos.

ㅡ Preciso ir ao banheiro. Antes de a visita ser liberada eu volto ㅡ aviso rápido, e saio em busca de qualquer banheiro individual nesse hospital.

Assim que encontro um vazio, entro e tranco a porta. Em seguida, apoio minhas palmas no mármore da pia e encaro o meu reflexo derrotado. Não durmo bem há dias, minhas costas doem de tanto peso que carreguei na mudança dos ômegas e betas para o galpão dos meus pais. No entanto, a pior dor que sinto é a da impotência.

Estou cansado de ter que ser forte, de enfrentar tudo e ainda assim não ser o suficiente. Não sou perfeito, não sou capaz de compreender tudo e todos. Não sou o mediador que esse mundo precisa, porque sempre que tento ajudar um lado, o outro sofre e a culpa acaba sendo minha de alguma forma.

Sinto que estou perdido, não sei mais o que fazer, nem mesmo se adianta fazer algo.

Prometi uma vez que você nunca mais estaria sozinho. Estou com você, mas o seu corpo é o veículo para que eu aja. Precisamos agir juntos para salvar o nosso alfa.

Como salvar alguém que não quer ser salvo? Você tem alguma garantia de que tudo vai dar certo no final? Porque a cada tentativa vejo tudo ficando pior.

Não tenho garantias, mas apesar de não ter muitas memórias, conheço os nossos fracassos anteriores. Em todas as vidas passadas que me lembro, ele morreu. Em todas elas nós vimos isso acontecer, ficamos deprimidos e quase morremos também. Após isso eu quase não tenho lembranças. Foi preciso você ver o Jungkook pela primeira vez para eu reconhecer o Ankor, mas independente de todos os erros, precisamos tentar quantas vezes forem necessárias.

Então o meu lobo não sabe mesmo o que fazer. Pela primeira vez me vejo de verdade sem esperança. Encaro o meu reflexo no espelho e tento forçar o ar para dentro dos meus pulmões. Sinto que estou sufocando aos poucos e a sensação me faz entrar em um choro compulsivo. Um choro de lágrimas dolorosas que não tive chance de derramar antes.

Preciso desse momento, Rowan sabe, em razão disso, não me interrompe. Em meio a minha visão embaçada por lágrimas, vejo a sua aparência tomando forma no espelho e, como se fosse fumaça, ele se move até estar sentado no piso do banheiro, olhando para mim com a sua postura imponente, quando me viro em sua direção.

Sei que parece impossível para a sua mente limitada, mas esse é o momento que mais preciso da sua confiança, iniciante. ㅡ Suas pálpebras se movem lentamente, como cortinas que protegem as íris douradas, cheias de fogo.

ㅡ Você faz questão de lembrar que sou um mero mortal até mesmo quando me faz um pedido. ㅡ Limpo as lágrimas do meu rosto e balanço a cabeça para os lados, com um sorriso fraco e incrédulo.

Quando vocês humanos acham que são especiais e têm muito poder, perdem a humildade e a consciência de que são iguais a todos os outros.

ㅡ É por isso que você me chama de iniciante? Tem medo que eu queira mandar em você?

Não. Chamo você de iniciante porque é um iniciante. ㅡ Ele boceja e cruza as patas como se estivéssemos em uma conversa totalmente casual.

"Porque é um iniciante". Agora pronto, para ele faz todo o sentido.

Vai continuar confiando em mim, ou não?

Talvez, se eu não fosse harmônico e não sentisse parte dessa convicção toda que o Rowan possui, eu não conseguisse mais confiar a ele os meus passos, a minha esperança, o meu destino. Sei que tenho um lobo cheio de grandeza porque minha alma é assim. Hoje sinto como se estivesse pedindo a mim mesmo para acreditar um pouco mais na minha capacidade. É por isso que respondo em voz alta:

ㅡ Confio em você.

Uma vez pedi a sua lealdade. Agora, de bom grado, eu te dou a minha. Serei leal a você até a morte, Park Jimin. ㅡ Rowan endireita a própria postura enquanto fala.

Abro a boca impressionado, não esperava sequer um "obrigado", menos ainda receber a lealdade de um lobo como o Rowan. Parecia algo impossível. Vejo respeito em seu olhar. A despeito de como achei que o responderia quando esse dia chegasse, pergunto:

ㅡ Isso quer dizer que você finalmente vai parar de me chamar de iniciante?

Não, iniciante.

ㅡ Por que você é assim? ㅡ Reviro os olhos. Ele continua em sua postura inabalável.

Se apresse para visitar o humano do Callum, e depois vá para o quarto do humano do Amarok. Quando o Ankor e o Jungkook forem atrás dele, você precisa estar pronto.

Confirmo com a cabeça, até mesmo esquecendo a sua provocação anterior. Entendendo que mais nada precisa ser dito, caminho com passos seguros em direção a porta, sempre o encarando. Sua imagem se desfaz em fumaça quando eu atravesso o seu corpo para alcançar a saída.

Assim que volto para a sala de espera, anuncio a minha chegada de forma totalmente oposta de como saí antes.

ㅡ Você disse que não consegue deter o Jungkook, mas eu consigo ㅡ afirmo, encarando o Lobo Branco de Daelim, de igual para igual.

ㅡ Eu "a" de adoro um wolf determinado. ㅡ Jin ajusta as alças da blusa furta cor, em seguida confere as próprias unhas, com um sorriso satisfeito.

"Eu sou uma loba determinada, é por isso que você me adora."

ㅡ Yes que quer dizer, sim, darling... ㅡ Jin sussurra uma resposta ao comentário de Dhara.

ㅡ O Jungkook é um alfa lúpus, o único em toda Karmania. ㅡ Namjoon argumenta. ㅡ É mais forte do que você imagina, subestimar ele é um erro que você não pode cometer.

"Alfas lúpus têm *multi força, mas força não significa *sapientia."
Em latim: *muita, *sabedoria

Enquanto Alasca fala para Namjoon, Rowan também fala na minha cabeça.

Não precisa responder nada a ele, iniciante.

Olha só, não dá pra ouvir o Lobo Branco de Daelim falando assim e não dar a delícia de uma resposta.

ㅡ Isso é porque você ainda não viu um Kappa original, lúpus, dominante em ação ㅡ rebato e vejo suas sobrancelhas arqueando suavemente, apesar de demonstrar pouca surpresa.

ㅡ Vou torcer para você estar certo, porque você é a nossa única esperança. ㅡ É o que me responde.

ㅡ Quando one humano e seu wolf estão infectados, is irreversível. Porém, the mente dele ainda pode ser resgatada para the reality, que significa realidade.

ㅡ E como se faz isso? ㅡ pergunto esperançoso.

ㅡ Não sabemos. Ninguém nunca conseguiu até hoje. ㅡ Namjoon revela com pesar e toca em meu ombro. ㅡ Mas acredito que se alguém consegue descobrir como resgatar a mente de alguém com o corpo e a alma infectados, esse alguém é você.

Embora uma onda de desespero tente me atingir novamente, de alguma forma o seu aroma de conhaque e rosas brancas me acalma. Sei lá, viu. Espero que a Loba do Jin também não leia pensamentos.

Depois de alguns minutos, a visita é liberada e eu entro no quarto de enfermaria onde Gui está.

ㅡ Como você está? ㅡ pergunto de imediato, mas ele não parece disposto a falar de si.

ㅡ Ji... o transplante do Hook deu certo? ㅡ indaga fraco, esforçando-se para a sua voz ser ouvida através da máscara.

ㅡ Foi um sucesso, ele está se recuperando.

ㅡ O Callum está atormentado, às vezes ele tem alguns presságios. ㅡ Gui tosse com tanta força que lágrimas se acumulam nos cantos dos seus olhos. Quando a tosse se alivia, ele continua. ㅡ Por favor, proteja o Hook, já que não posso fazer isso agora. Não deixe nada de ruim acontecer a ele.

"O Alfa lúpus está vindo atrás dele. Eu sinto."

Gui se esforça para falar, mas já se desgastou tanto que parece uma tarefa árdua. Assim sendo, prefiro lhe poupar de contar o que eu já entendi.

ㅡ Descansa... vou resolver isso. Prometo ㅡ digo, esperando que não seja mais uma promessa que eu acabo quebrando.

🍂🍁🍂

Visito rapidamente os ômegas que conheço e estão hospitalizados, antes de seguir para a enfermaria onde Hook está. Fico feliz por Namjoon ter conseguido um quarto isolado, afinal é o lider dos Renegados que está aqui.

No lugar de entrar, paro em frente à janela para observar uma cena que está se tornando comum. Tigrão ao lado do Hook, segurando sua mão, chorando e conversando, enquanto ele dorme.

Apesar de já estar recobrando a consciência, Hook dorme bastante, afinal, seu corpo ainda está em processo de recuperação.

ㅡ Eu nunca mais vou te abandonar, prometo, ogrinho. ㅡ Tigrão jura, enquanto toca no lenço em seu pescoço, o mesmo que Hook lhe deu de presente. ㅡ Me perdoa por ter sido tão orgulhoso, mas o meu amor e a minha confiança são seus. Vou ficar ao seu lado e ao lado do Gui, pra sempre.

Cara, o cabelo do Tigrão hoje brilha com um vermelho mais intenso do que no dia anterior, o cheiro do vinho também é mais forte.

ㅡ Prometo, ogrinho...

Em outras palavras, ele está dizendo que será leal até o fim.

Enquanto analiso o que Rowan disse, a porta do quarto é arrombada com tanta força que se quebra.

É o Jungkook, como nunca o vi antes. O cabelo solto moldura o seu rosto marcado por um olhar obscuro de íris pretas, tão diferentes da imensidão azul-gelo que sempre vi em seus olhos. A surpresa me paralisa.

Não deveria, sabíamos que ele iria aparecer. Estive esperando por isso.

Namjoon aparece logo atrás do Jungkook e segue o mesmo caminho que ele faz até o leito de Hoseok. Tigrão abre a boca, espantado, no momento em que Jungkook leva a mão por dentro do sobretudo preto, saca uma arma e a aponta para o Hook.

ㅡ O que é isso? O que você veio fazer aqui? ㅡ Meu amigo interpela, desesperado.

ㅡ Vim acabar o mal pela raíz.

Diante dessa ameaça evidente, saio da janela e entro na enfermaria. Nesse meio tempo, vejo Tigrão impulsionando o próprio corpo para impedir Jungkook. Ele realmente é capaz de enfrentar alguém armado por quem ama. Namjoon, no entanto, se antecipa e se coloca no meio dos dois.

Sinto minhas pernas tão instáveis, que parece que nunca vou alcançá-los.

ㅡ Não faça isso, você só vai se machucar. ㅡ O médico fala para Tigrão. ㅡ Deixe que eu resolvo.

Namjoon sabe que não vai conseguir pará-lo, apenas tenta ganhar tempo até eu os alcançar. Todavia, Rowan fala comigo.

Espere um pouco até eu estudar a situação. Não consigo ouvir o Ankor, ele não me deixa ouvi-lo.

Então quer dizer que esse tempo todo nós o ouvíamos porque ele deixava?

Ankor é um alfa lúpus, não é tão fácil acessar a mente dele.

ㅡ Saia da frente. ㅡ Jungkook avisa a Namjoon com uma calma ameaçadora.

ㅡ Essa é a arma da Lalisa?

ㅡ Não fale o nome dela! ㅡ A mão que segura a pistola, repleta de veias pretas, treme constantemente.

ㅡ A sua irmã nunca usaria a arma dela para se vingar de alguém que já está mal.

Jungkook destrava a pistola e o meu coração parece prestes a parar.

ㅡ Se você matar esse ômega, vai matar também a parte da sua irmã que está viva.

ㅡ Como assim? ㅡ Parece que Namjoon consegue a atenção total de Jungkook.

ㅡ Lalisa doou válvulas cardíacas, pulmões, fígado, tecido muscular e ósseo. Hoseok chegou quase morto, com fraturas expostas, e a sua irmã foi a responsável por devolver a vida a ele.

O olhar de Jungkook vacila quando olha para o monitor ao lado do leito e vê os batimentos de Hoseok sendo mostrados nele. Nesse instante, volto a ouvir as três palavras que parecem querer me avisar algo.

"Alma, sangue, voz."

Essa mesma voz que ecoa em minha cabeça, parece falar com Jungkook também. Visto que suas mãos imediatamente tapam seus ouvidos, e o seu rosto se contrai em uma careta.

Fale com ele agora, iniciante.

ㅡ Você quer encontrar um culpado? Então achou, a culpa é minha ㅡ paro ao lado de Jungkook, encarando-o sem vacilar, agora que Hoseok não está mais na sua mira.

ㅡ Não se meta, Jimin. ㅡ Ele me olha sem qualquer resquício de serenidade em seu rosto manchado por veias aparentes ao redor dos olhos.

ㅡ Todos aqueles ômegas e betas respondem a mim. Fui eu quem conduzi o plano.

ㅡ Não adianta fazer isso, eu sei que aquele ômega é o cabeça. ㅡ Jungkook abaixa a arma enquanto fala, parece fazer sem perceber.

ㅡ Não. A ideia foi minha.

Tome a arma dele.

Aham, super fácil.

Já sei o que precisa ser feito. Você precisa marcá-lo. Não vai trazer a cura, mas vai conectá-lo mais a nós e menos ao veneno do ódio. É a única forma de recuperarmos ele agora, de forma urgente. Não precisa ser uma marca permanente, podemos fazer uma provisória.

Como eu faço isso?

Morda em qualquer lugar, qualquer marca feita fora do cio, será provisória.

Caminho em sua direção, sentindo o frio que ele provoca nesse ambiente, emanando diretamente da sua pele pálida. Em contrapartida, minha aproximação parece incomodá-lo.

ㅡ Não quero sentir o seu calor, saia de perto de mim ㅡ protesta baixo, quase rosna, embora use o mesmo instante para esconder sua arma de volta no bolso do sobretudo.

O foco dele agora é todo seu, conseguimos livrar o ômega por ora.

Jungkook olha mais uma vez para o Hook, antes de olhar para o monitor que mostra os batimentos cardíacos dele. Em seguida, volta a sua atenção ao Tigrão, que não solta a mão do ômega por nada. Quando finalmente volta a olhar para mim, é para dizer:

ㅡ Até mais, Jimin, o ômega é todo seu. ㅡ Jungkook dá um passo que o distancia de mim. ㅡ Algo me impede de acabar com ele, mas não me impede de acabar com os outros. Preciso ir entregar à polícia mais um grupo de ômegas.

ㅡ Pode ir então, mas vai ter que passar por cima de mim antes ㅡ aviso, voltando a me colocar na sua frente.

ㅡ Não quero machucar você. ㅡ E usa as palavras que eu usei no evento.

ㅡ Não quer, ou não é capaz? ㅡ Arqueio uma sobrancelha e cruzo os braços.

⟩⟩ Shelter - Machineheart ⟨⟨

Jungkook se aproxima e aperta os meus braços com força. Mesmo quando sacode o meu corpo, mantenho o meu olhar preso ao seu.

Saia, kappa. ㅡ Sua voz de alfa é usada com tanta potência, que atinge a região mais oculta dos meus ouvidos.

ㅡ A sua voz nem me faz cócegas. ㅡ Com um sorriso confiante eu aviso. É mentira, incomoda como antes não incomodava, mas ele não precisa saber.

Minha provocação parece desafiá-lo. Jungkook me empurra com força, jogando-me contra a parede atrás de mim. Mal ofego com o impacto e vejo suas botas afundando sobre o piso quando ele abre passadas em minha direção. As mechas do cabelo azulado caindo sobre os seus olhos negros não conseguem esconder o seu olhar perfurante.

Os olhos de Namjoon analisam a cena com preocupação, porém, quando faz menção de intervir, faço um gesto negativo com a cabeça. Ele não entende tudo que está em minha mente, mas percebe que eu sei o que estou fazendo. Jungkook está agindo exatamente como eu quero.

ㅡ Fique aí na porta e não deixe ninguém entrar, por favor. ㅡ Consigo ouvir Namjoon pedindo ao Seokjin.

Quando Jungkook está próximo o suficiente, empurro-o, espalmando as mãos em seu peito, mas ele me pega pelos pulsos e me joga no chão, levando-me a cair deitado.

ㅡ Quanta força para quem não queria me machucar. Quase doeu. ㅡ Um sorriso se desenha em meu rosto enquanto o provoco, tentando controlar minha respiração.

ㅡ Mudei de ideia. ㅡ No instante em que Jungkook volta a se aproximar, junto os meus pés e, ainda deitado com as costas no chão, chuto o seu abdômen, para afastá-lo.

Ao ser empurrado, Jungkook tosse e eu me preocupo se estou usando força demais, afinal ele está doente, eu não.

Estou regulando a nossa força, não se preocupe.

Chego perto do seu corpo curvado, para conferir o seu estado, mas ele ergue a cabeça e me puxa pelo cabelo, inclinando a minha cabeça para trás.

Prefiro quando você é agressivo assim na cama, alfa. ㅡ Mesclo a minha voz com a do Rowan, para provocar o Ankor dessa vez, e funciona.

Também prefiro que você seja rebelde na cama, Kappa.

Toco no seu antebraço, que me segura pelo cabelo e aumento a minha temperatura, até a sua face se desmanchar em uma careta de dor e ele me soltar, agitando o braço.

Queima, não é? Posso te esquentar mais, quer tentar?

Dou alguns passos para trás, enquanto tento resfriar o meu corpo e manter o meu foco. Jungkook me olha consternado, mas eu ainda enxergo o homem cuja essência foi capaz de conquistar o meu coração. Sei que ele está aí, não importa quanta raiva despeje em mim, vou resgatá-lo.

E é pensando nisso, que vejo o seu corpo vindo com força total e as suas garras negras se projetando em minha direção. Assim como no sonho que tive tantas vezes, ele vem, feroz, cheio de ira no olhar nublado. Antes que eu perceba, arranha o meu peito com uma força que faz o tecido da minha camisa branca rasgar.

Jungkook arregala os olhos e olha para a própria mão. Quando os meus olhos recaem em meu peito, vejo o que a ardência nessa região já me fez deduzir. O ferimento causado por três garras feriu a minha epiderme.

Encarar a lesão parece deixá-lo indeciso entre seus objetivos e o que ele precisa fazer para consegui-los. Aproveito a distração e avanço com todo o meu peso sobre o seu corpo, até derrubá-lo, puxar a arma do seu bolso e jogá-la longe.

É agora, não perca tempo, marque ele.

Jungkook leva as mãos à cabeça, atordoado e, é neste momento, que puxo as laterais da sua camisa por dentro do sobretudo com tanta força que os botões saltam do tecido. Projeto minhas presas para fora, ao tempo em que me debruço e cravo os dentes em seu peito.

Enquanto ouço o seu gemido de dor, afasto meu rosto e vejo a pele alva, agora marcada e manchada por pontos de sangue. Jungkook segura os meus braços com força, e tenta me tirar de cima dele, mas eu o contenho.

ㅡ Meu peito... ㅡ Jungkook estremece de dor. Sei que queima, mas foi necessário.

ㅡ Não resista, ou pode ser mais doloroso.

Deixe que os nossos olhos sejam como diamantes amarelos e purifiquem a alma dele.

ㅡ Olha pra mim... ㅡ Já não me interessa se Namjoon, ou Tigrão estão nos olhando aqui no chão. Uso minhas mãos para segurar o seu rosto e ter a sua total atenção. ㅡ Não fale nada, só escute.

Seu peito ainda sobe e desce com força, empurrando o meu, sua face ainda se contorce em dor, mas Jungkook me olha de volta.

ㅡ Está errado. Você não é essa pessoa sombria. É o professor, centrado, com a alma de um lobo que só quer um ninho pra ser feliz. Quando eu vi os meus medos no lago das almas, você estava lá pra dizer que me achava corajoso e me admirava. Agora, faça dos meus olhos o seu lago das almas, o seu espelho, e veja que você pode sentir mais do que dor e ódio.

Aos poucos sua expressão vai sendo tomada por confusão, em seguida reconhecimento. Jungkook sabe que estou falando de quem ele realmente é. Ankor parece atordoado, finalmente posso ouvi-lo, então devo estar fazendo a coisa certa.

"Não quero ouvir isso, não quero olhar para ele, vamos fugir daqui."

ㅡ Você é maior do que essa doença. É um homem bom, apesar de tudo o que te traumatizou. É o professor sério que se sensibiliza com música. Você é aquele que passou por cima dos próprios preconceitos para reconhecer o talento do Félix e dar um lugar de destaque na competição, sendo ele um ômega. ㅡ Sob a sua constante atenção afetada, não ligo se pareço cansado, ou se o meu cabelo foi bagunçado por ele. Continuo falando. ㅡ Você é justo, rigoroso, às vezes até um pouco rabugento, mas surpreendentemente carinhoso. Eu te admiro e te amo por ser assim. E por ter o lobo mais amável e adorável que eu conheço.

"Ele está falando de mim". Aos poucos, Ankor vai voltando a parecer o lobinho que eu conheço, o lobinho que eu amo, assim como amo o Jungkook. Sequer sei explicar a dimensão desse sentimento, mas sinto com uma intensidade maior do que eu.

⟩⟩ Ghost - Jacob Lee ⟨

Como a gente sabe que ama alguém, se o amor é cheio de definições e todas elas parecem insuficientes para explicar essa palavra? Só me resta encontrar minha própria definição. Acho que a minha definição de amor se chama Jeon Jungkook.

ㅡ Ama...? ㅡ De tudo o que eu falo, é o que ele sussurra após tanto silêncio. O azul-gelo volta a requerer espaço em suas íris e as garras negras se retraem.

Jungkook é um homem lindo, sério, profissional e tem o olhar mais intenso que eu já vi. Embora suas características intimidem, agora ele parece um menino impressionado com algo que nunca viu. Talvez não tenha visto mesmo alguém que não fosse da sua família o amando com tanta força. Alguém que, mesmo sendo tão diferente, não desiste dele.

ㅡ Sim, Jungkook. Peço pela sua felicidade como quem implora pelo simples oxigênio que precisa pra respirar. E me dói não ser capaz de tirar toda a dor aí dentro. ㅡ Acaricio o seu peito machucado pela minha marca. Ele não me repele mais, apenas respira devagar. ㅡ Eu nunca consegui dizer nada de volta quando você dizia que me amava, porque as palavras travavam. Eu não sabia se podia dizer elas quando pensava tão diferente de você, mas eu amo e não consigo guardar só pra mim.

É provável que esse seja o momento de maior quebra de barreiras entre nós. É por isso que preciso falar tudo que está preso na garganta.

ㅡ E você estava errado também quando disse que nós temos intensidade demais e constância de menos. Permanecemos ao lado um do outro mesmo sem poder nos tocar, mesmo com as nossas diferenças ideológicas. Nós nos enxergamos e optamos por ficar juntos. Isso não é constância? Agora estamos aqui brigando e, mesmo assim, não desisto de você. Se isso não é constância, o que é então?

Só percebo que estou chorando quando a primeira lágrima cai em seu peito abaixo de mim. Sem que eu espere, sinto o seu polegar passando em minha bochecha, limpando os resquícios de uma lágrima fujona.

ㅡ Eu te machuquei... me perdoa. ㅡ Seus olhos também estão cheios de água e vacilam em se manterem nos meus.

ㅡ Estamos quites. ㅡ Acaricio a marca que fiz no seu peitoral forte e sinto as suas mãos, agora livres das garras, percorrendo os meus braços até se ancorarem no meu rosto.

Embrenho minhas mãos em seus cabelos espalhados pelo chão, enquanto Jungkook me aproxima para encostar minha testa na sua.

ㅡ Eu te amo... ㅡ diz como se lhe doesse, ao que comprime os olhos. ㅡ ...tanto, tanto. Me perdoa, por favor.

ㅡ Perdôo ㅡ respondo antes de tocar os seus lábios com os meus.

Jungkook suspira no mesmo momento que eu, sinto suas mãos tremendo enquanto a sua boca me busca com urgência. Esse momento parece tão decisivo que não me importo de estar lhe tocando. Sua doença está em estágio final, se não conseguirmos a cura aceito o destino de morrer com ele. O que não consigo mais aceitar é ficar longe.

Quando a sua língua massageia a minha, sinto não apenas o calor dela. Jungkook inteiro se aquece com o meu contato. É o que observo quando me afasto e vejo um leve rubor nas maçãs do seu rosto, na sua boca. Ele olha para cada detalhe das minhas íris amarelas, como se estivesse hipnotizado. Em seguida, abre e fecha a boca.

ㅡ Quer dizer alguma coisa? ㅡ pergunto e Jungkook assente com a cabeça e retira a pulseira da sua irmã do bolso do seu sobretudo, antes de sussurrar:

ㅡ Isso é pra você. ㅡ E a coloca sobre a minha palma.

ㅡ A pulseira da sua irmã?

ㅡ Quando eu disse que perdi tudo, você falou que eu ainda tinha você e eu não acreditei. ㅡ Sua atenção intercala entre o adorno e o meu rosto. ㅡ Agora eu acredito, você ainda estar aqui, depois do que eu fiz, é a prova. Então, quero te dizer que você também tem a mim, o meu amor e a minha lealdade.

Quando os nossos olhos recaem sobre a pulseira, os diamantes amarelos dela se acendem, assim como acontece com o único diamante amarelo em seu peito. Então, ouço mais uma vez as palavras das quais tenho certeza que ele escutou também, porque elas se fazem ouvir em todo o quarto.

"Alma, sangue, voz. É o momento a ser revelado".

⟩⟩ Interestellar - Main Theme ⟨⟨

Antes a voz soava abafada, mas finalmente a reconheço, porque agora ouço nitidamente. É a voz do Rowan. Porque nem mesmo ele sabia que falava comigo?

Tomado pela surpresa, eu me levanto de cima do Jungkook e ofereço a minha mão para ajudá-lo a fazer o mesmo. Uma fumaça azul começa a se projetar do seu corpo até se formar a imagem de um lobo com o pelo azulado, brilhoso, e olhos azuis profundos. É o Ankor.

Da mesma forma, Rowan se materializa, como uma rajada de fogo que sai de dentro de mim. Agora estão os dois lobos de frente para nós, como se fossem pessoas distintas. Talvez neste momento sejam, porque as demais pessoas na sala também os observam.

O pior erro do ser humano foi se afastar dos lobos. Por causa disso, os humanos se afastaram uns dos outros também e isso gerou a Vicissitude, a resposta a esse distanciamento. ㅡ Ankor explica o que eu já sei, porém, traz uma informação inédita: ㅡ A solução que todos querem está no acordo de lealdade.

ㅡ E o que isso tem a ver com "alma, sangue, voz"? ㅡ indago, sentindo a mão de Jungkook buscar a minha, enquanto Namjoon, Tigrão e Jin se aproximam para ouvir também.

Um acordo deve ser feito entre humanos e lobos para restaurar o equilíbrio. ㅡ Rowan fala, paciente, apesar da presença intimidadora. ㅡ "Alma" diz respeito à lealdade entre o humano e seu próprio lobo. Esse é o primeiro passo para recuperar o que foi perdido. Como nós respeitamos as vontades de vocês humanos, é preciso que vocês selem esse acordo para que a vontade do corpo e da alma, humanos e lobos, entrem em concordância. Para selar uma promessa de lealdade, é necessário prometer com "sangue" na pele um do outro, onde os dois se marcam. E, por último, usar a "voz" para prometer lealdade a quem está ao seu lado.

Para fazer esse acordo, é necessário que ambos reconheçam que todas as raças são iguais, pois ambas erraram. ㅡ Ankor volta a falar. Sua voz é mais aveludada quando se apresenta pessoalmente.

Embora pareçam etapas fáceis, não é tão estranho o fato de não termos conseguido a cura para a Vicissitude ainda. Humanos são extremamente orgulhosos para prometer sua lealdade.

Quando vocês se conheceram pela primeira vez, na primeira vida, o Jungkook achou que os seus olhos pareciam diamantes amarelos. Então, quando quis te dar um presente que representasse o amor dele, escolheu um colar adornado de diamantes amarelos. ㅡ Rowan parece lembrar do que nos conta. ㅡ Naquela primeira vida, ele adoeceu de uma Vicissitude leve, mas como perdeu os pais, deixou a dor e o ódio lhe vencerem. Por isso, mesmo vocês tendo descoberto a cura, ele não conseguiu se curar, foi tarde demais. Desde então, a cada vida que se passa, a Vicissitude do Jungkook encarna de uma forma mais grave, até chegar a essa vida, em que ele desenvolveu a doença ainda na infância, sozinho, sem precisar de contato com um ômega.

Como o Rowan e eu descobrimos que a salvação para a Vicissitude girava em torno da lealdade, pensamos em uma forma de mandar sinais a vocês em outras vidas. ㅡ Ankor revela o que, para mim, ainda é difícil de entender. ㅡ Imaginando que não conseguiríamos manter nossas memórias, lançamos a nossa magia em um objeto para que ele atravessasse o tempo com as nossas lembranças.

ㅡ É o diamante amarelo? É por isso que vocês lembraram de tudo? ㅡ Jungkook pergunta, olhando para os diamantes ainda acesos em minha mão e em seu peito.

Sim. Não conseguimos lembrar antes porque a joia foi fragmentada em duas: um colar e uma pulseira. Agora que os fragmentos estão com os donos originais, porque você presenteou o Jimin com uma parte da joia e a outra ainda está com você, a magia deu certo.

Cara, se a Lalisa estivesse viva, Jungkook nunca teria a oportunidade de me dar a pulseira. Então nunca saberíamos disso tudo. A não ser que ele me presenteasse com o seu colar, mas a outra parte ainda seria de outra pessoa. Destino bizarro, sei lá, viu.

ㅡ Conforme vocês foram se aproximando, o nosso inconsciente também conseguiu mandar sinais. ㅡ Ankor mira seus olhos límpidos em mim. ㅡ Quando eu arranhava você no peito, era um aviso do meu inconsciente de que eu estava perto de ser infectado, perder o controle e ser dominado pela raiva do meu lado humano. E, quando o Rowan dizia "alma, sangue, voz", eram pistas do inconsciente dele.

ㅡ Só não entendi uma coisa. ㅡ Olho para o meu lobo, para que saiba que a pergunta é para ele. ㅡ Uma vez você me disse que a cura não se tratava de apenas duas pessoas, que levaria muito tempo para as coisas tomarem um curso diferente. Como esse acordo vai salvar a vida do Jungkook, do Gui, e de todos os alfas que já estão doentes agora?

Duas pessoas não têm o poder de mudar tudo, iniciante, mas podem começar para mostrar aos outros o caminho. A cada pessoa que fizer a promessa de lealdade, ela e as suas próximas gerações estarão livres da doença.

ㅡ Não tenho a lealdade do Ankor, nem a do Jimin... talvez pelo mesmo motivo. ㅡ Jungkook engole seco, falando para o Rowan, mesmo eu estando ao seu lado e o seu lobo na sua frente. ㅡ Não é algo que se cobra e talvez eu não tenha mais tempo...

Se você sabe o motivo, vença isso. ㅡ Rowan responde simplista.

Antes que eu possa comentar algo, Namjoon se aproxima ainda mais, enquanto Seokjin e Tigrão permanecem juntos um pouco mais próximos do leito.

ㅡ Tratem dessas questões pessoais depois, vamos falar de métodos. ㅡ O cientista começa com os seus papos científicos. ㅡ Vocês disseram que é preciso do contato do sangue na pele um do outro, por meio de uma marca. De que forma eles precisam fazer isso, para dar certo?

Sei que Namjoon pergunta isso temendo pela saúde abalada do Jungkook. Esse se torna o meu medo também.

Uma marca provisória, como a que fizemos no alfa, não é o suficiente. Lealdade se promete com marca definitiva. ㅡ Rowan direciona o seu olhar de fogo apenas para Namjoon agora. ㅡ Pelo menos um dos dois precisa estar no cio.

O seu está perto. ㅡ Surpreendendo a todos, Ankor roça o focinho no pêlo avermelhado próximo da orelha do Rowan. ㅡ Posso sentir isso.

Vocês humanos são lentos para perguntar o que querem, apressem-se. ㅡ Ignorando o carinho que recebe, Rowan lança seu olhar mais entediante para nós. ㅡ Não podemos ficar nessa forma para sempre.

ㅡ Certo, tenho uma pergunta. ㅡ Tigrão se desespera, quando ouve que os lobos não ficarão fisicamente aqui por muito tempo. ㅡ No meu caso que estou com os meus dois parceiros acamados, como vou fazer isso?

Tratem deles, quando estiverem prontos, todos os humanos e lobos envolvidos devem fazer o acordo de lealdade. ㅡ Rowan responde Tigrão, enquanto Ankor já se deitou ao seu lado, esperando-o concluir.

ㅡ Como eu vou tirar um alfa, no estado de saúde em que o Yoongi está, da cama? ㅡ Namjoon arregala os olhos, com preocupação genuína, apesar de manter sua postura calma.

Rowan, em contraposição, apenas o olha em silêncio, como se lhe perguntasse silenciosamente "Vou ter que resolver tudo mesmo?" Ankor, por outro lado, parece mais comovido, porque é ele quem oferece uma solução.

Callum é um lobo esforçado, quando lhe disserem o que precisa fazer para alcançar a cura, ele emprestará as suas últimas forças ao seu humano. Quando ficarem minimamente bem, não percam um tempo que vocês não têm mais.

Os lobos sequer esperam por nossos agradecimentos, evaporam da nossa frente, mas nos deixam com um pouco menos de dúvidas.

Encaro Jungkook ao meu lado, ainda tão cansado e desestabilizado pelo luto que está vivendo, e pelo surto que teve junto com o seu lobo. É como se tivesse mergulhado tão fundo que, agora que voltou para a superfície, precisa respirar muito para se recuperar.

Eu seria capaz de lhe prometer a minha lealdade, apenas para que ele tivesse a cura. Entretanto, sei que precisa acontecer de forma sincera, ou a cura ficará ainda mais longe. Entendendo isso, sei que o ponto de virada está todo nas mãos do Jungkook, não nas minhas.

Puxo o seu corpo para um abraço e beijo os seus lábios macios, demorando no toque. Pedindo, implorando, silenciosamente, para que ele tenha coragem de enfrentar o pior demônio que já se instalou em sua mente, mesmo sabendo que esse é o pior momento da sua vida para aceitar os ômegas como seus semelhantes.

Preciso ter fé no Jungkook, não posso suportar perdê-lo outra vez.


Gostaro?

Nenéns, em Janeiro vai ser a pré-venda do último livro de 88° ANDAR, e eu vou continuar escrevendo Essência nesse tempo, mas pfv n fiquem perguntando por att pq isso me deixa birutinha. Eu sempre trago atts recheadas, mas isso requer tempo e dedicação, principalmente na reta final da história. Prometo o meu melhor se vcs forem pacientes. 💜

Me sigam no insta @autoralune e acompanhem as atualizações da Lunelandia por lá. Quem for postar no twitter me marca @LuneInfinie e usr a #perfumedelobo que eu dou rt 💜

Feliz natal, feliz ano novo, boas festas, fiquem com quem vcs amam e até o próximo ano! Bjo e um tapa na bunda! 🎇🎄

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