A grama do vizinho nem sempre...

By zarthas

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Jeon Jeongguk é um garoto inocente, mas o pouco que conheceu da vida não lhe permitiu exatamente viver como g... More

avisos
Prólogo: Mimeomia
[1] Anthrodynia
[2] Liberosis
[3] The Bends
[4] Ambedo
[5] Monachopsis
[6] Nodus Tollens
[7] Exulansis
[8] Nementia
[9] Zenosyne
[10] Kairosclerosis
[11] Ecstatic Shock
[12] Ellipsism
[13] Énouement
[14] Lethobenthos
[15] Rigor Samsa
[16] Gnossienne

[17] Chrysalism

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By zarthas


Volta o cão arrependido! Bom, provavelmente eu deveria me desculpar com quem ainda vai abrir esse capítulo depois de tanto tempo, então me desculpe! 

Essa fic é muito importante pra mim e resolvi que seria incrível se eu pudesse dar um final a ela, o final que eu idealizei. No entanto, me mantive presa a um bloqueio emocional gigante em relação a ela, mas consegui depois de um tempo.

E quem for ler, bom, espero que tenha uma leitura agradável. <3 Só avisando que tem um pouco de violência nesse capítulo, então se atentem. 


Cinco minutos foram o suficiente para Jeongguk chegar a conclusão que pular da janela do escritório do seu pai não o mataria.

No entanto, era muito provável que, àquela altura, ele quebraria uma perna ou machucaria os tornozelos, isso se desse a sorte de não bater com a cabeça em algum lugar. No segundo em que seu pai o deixou trancado no escritório, embora atordoado pelas recentes descobertas, uma onda de sobriedade fez com que despertasse para realidade. Devido ao horário, gritar por socorro não surtiria nenhum efeito, mas se recusava a ficar ali, lamentando enquanto Taehyung ou seus outros amigos corriam perigo.

O pastor, na melhor das hipóteses, havia se esquecido da janela destrancada, ou subestimou que Jeongguk não teria coragem o suficiente para pular.

Seu pai não o conhecia o bastante para saber dos históricos de Jeongguk e uma janela.

Ele não fazia a menor de ideia de que Jeongguk havia descoberto um novo mundo assim que resolveu sair da sua antiga. Então, cacete, não seria aquela que o impediria. Quase como uma intuição, antes que pudesse deixar o escritório de vez, olhou ao redor. Resolveu, por fim, vasculhar as coisas do pastor.

Não tinha certeza do que procurava, nunca havia bisbilhotado nada pertencente ao pai, talvez, por isso, nunca passou pela sua cabeça que aquele homem íntegro e cheio de boas morais frente a todos fosse, na verdade, o contrário de tudo aquilo que pregava.

Após revirar um punhado de gavetas e pastas inúteis, Jeongguk não encontrou nada que julgasse útil. Prestes a desistir, com um suspiro frustrado, seus olhos se fixaram à bíblia fixa à parede, exibida como um troféu. Jeongguk resolveu tirá-la de lá. No segundo em que a segurou nas mãos, notou que ela era muito mais leve do que deveria ser. Ao abri-la, não foram as lições divinas gravadas nas páginas que encontrou. Havia uma espécie de fundo falso, que guardava um pequeno cartão SD no centro. Mesmo tentado a olhar, sabia que o tempo era precioso e dar um jeito na vida do pastor, era um assunto que poderia esperar no momento.

Agora, ele precisava dar um jeito de certificar que Taehyung estava fora de perigo.

Abriu a janela, colocou as pernas do lado de fora e, antes de tomar impulso, respirou fundo e fechou os olhos, antecipando a dor que o atingiria.

Doeria.

Doeria para caralho.

Pulou.

Puta merda. — O palavrão veio involuntário, escapuliu. Jeongguk gemeu, segurando o tornozelo com força que parecia pulsar dentro da sua cabeça.

Para sua sorte, estava certo. A altura não foi o suficiente para tirar sua vida, mas havia acontecido algo com seu tornozelo esquerdo, já que, quando se levantou e tentou firmá-lo no chão, uma fisgada de dor intensa pulsou na região. Mas não estava doendo quanto ele achou que doeria, talvez por conta da adrenalina e um pressentimento sufocante que só crescia dentro do peito.

Taehyung.

Antes mesmo de qualquer dor, física ou mental, Jeongguk só conseguia pensar nele.

Agora, com a mente menos nublada pelo choque e o estresse, não era difícil entender o lado de Taehyung, embora ainda se sentisse afetado por ele esconder e sofrido em silêncio. Se fosse sincero, não saberia o que fazer caso estivesse na pele dele. Não havia uma maneira sucinta e delicada para abrir o caixa do passado e saber daqueles segredos hediondos, capazes de mudar a vida de uma pessoa para sempre.

Nas últimas semanas, viu Taehyung definhar com os segredos guardados, a felicidade escorrendo do corpo dele a cada dia, os olhos perdendo o brilho, os sorrisos sinceros se transformando em automáticos e mentirosos apenas porque ele não queria que Jeongguk se machucasse. Taehyung fez isso para protegê-lo. Era tão simples chegar a essa conclusão.

Taehyung era péssimo com isso, era verdade. Mas seria irracional adicionar uma culpa a ele quando, na verdade, só existia um único culpado.

Foi pensando nisso que, ao chegar no apartamento e sem nenhum sinal do namorado, Jeongguk decidiu que faria qualquer coisa para ter uma boa vida ao lado dele por muito, muito tempo.

Taehyung não acreditava no inferno. No entanto, nos últimos dias, tinha a terrível sensação de estar vivendo em um. Sua cabeça zunia como se estivesse prestes a explodir como uma Granada, seu estômago se revirava com uma vontade iminente de vomitar, e era como se alguém estivesse pressionando seu coração com as mãos, prestes a arrancá-lo pela garganta e deixá-lo vazio.

— Filho... — Sua mãe tentou tocá-lo, mas ele a afastou com raiva.

— Nunca vou te perdoar, Naomi. Me deixe em paz. Por favor.

— Aí, Taehyung, não começa. Eu fiz isso para o seu bem! — Ela gritou quando Taehyung começou a subir as escadas em direção à casa, indo atrás dele. Taehyung se virou, a segurou pelos braços, olhando-a nos olhos. Olhos que agora ele não reconhecia, frios e sombrios.

— Tudo que eu te peço, é que você desapareça de uma vez da minha vida.

— Você se envolveu com o filho do diabo, Taehyung. — Ela se soltou e o segurou pelas bochechas com força, obrigando Taehyung a continuar a encará-la. — Você não sabe do que ele é capaz. Jongwon, ele... Ele é um homem muito cruel.

— Jeongguk nunca teve culpa de nada, Naomi — Taehyung a empurrou de volta. — Ele não tem nada a ver com aquele homem. Você não tinha o direito fazer aquilo com ele, porra. Não tinha.

— Filho, me escuta, você precisa esquecer que esse garoto existe, sair daqui, dessa cidade, ir para outro país. É mais seguro, eu posso te ajuda-

— Você se ouve? Não sou como você que abandona as pessoas por ser uma covarde de merda.

No segundo seguinte, o rosto de Taehyung esquentou com o tapa seco que o atingiu na bochecha.

— Olha como você fala comigo, seu pirralho. Você não sabe de nada. — Ela disse entredentes, e dava para ver que estava fervendo de ódio. — Acha que sabe, se acha o espertão, mas sabe de uma coisa, porra? Quando soube que aquele homem voltaria depois de tanto tempo e moraria do lado da nossa casa, eu tive que sacrificar a única coisa que eu mais gostava nessa vida. Só para te proteger!

— Me proteger? — Taehyung riu, mas foi uma risada que doeu o peito, e então se aproximou do rosto dela, queria olhá-la nos olhos outra vez. — Você não passa de uma mulher egoísta, mentirosa e manipuladora. Você o conhecia, conhecia o assassino do meu pai.

Ela mostrou a tatuagem, estava tremendo.

— Sim, eu o conhecia como a palma da minha mão. — Taehyung sentiu a bile subir até a garganta. Seu cérebro, enfim, processando as informações com as peças finalmente se encaixando. — Mas tive que deixar tudo porque eu não aceitaria perder mais alguém. Principalmente você, Taehyung. Meu filho.

Taehyung recebeu a informação como um soco no estômago.

— Você sabia que ele...

— Não! Eu não sabia que ele mataria seu pai. Não era nosso acordo. — Ela tratou de explicar rapidamente. — Nunca quis machucar ninguém da minha família, mas não consegui protegê-lo. Você sabe como seu pai é teimoso e tinha aquele senso de justiça.

— Ele era policial, porra. Por que você se casou com um policial se você era...Uma filha da puta.

Naomi riu. Uma risada amarga e sem humor.

— Você vai me julgar quando todos os seus amiguinhos estão metidos exatamente com a mesma coisa?

— Nenhum deles matou o meu pai.

— Eu não matei seu pai! — Naomi passou a mão pelo rosto. Parecia não encontrar as palavras e profundamente perdida nos próprios pensamentos. — Eu tentei, pedi para que ele fosse embora com você, mas ele não quis, preferiu te colocar em perigo. Naquela noite, Jongwon me prometeu que só... Daria um jeito de não ser pego, eu não esperava que ele fosse... Não esperava, Taehyung. Tem que acreditar em mim. — Ela limpou as lágrimas da bochecha.

— Você sabia o tempo todo quem ele era... — Taehyung sussurrou, mais para si do que para a mãe. — Era só dizer para ele, porra. Ele não teria morrido. Ele estaria aqui.

— Taehyung...

— Presta bem atenção no que eu vou falar, Naomi. Eu quero você suma da minha vida, não me procure, não pense mais em mim e, se um dia pensar, quero que apague os pensamentos da sua cabeça.

— Eu sei que está nervoso — Ela assentiu, desesperada, de alguma maneira eufórica e perdida. — Eu vou deixar você se acalmar, depois terminamos de conversar.

— Eu nunca mais quero saber de você, Naomi? Será que você não entende que eu nunca mais quero te ter na minha vida. E nunca mais ouse chegar perto do Jeongguk. Estou te avisando — disse, antes de entrar em casa e fechar a porta com força e se jogar no sofá da sala.

Taehyung nunca achou que teria uma boa vida.

Na realidade, tinha em mente roteiros meio trágicos apenas com uma pitada de dramaticidade e adrenalina, ainda que procurasse fugir de problemas quase o tempo todo desde a morte da avó porque não tinha energia para lidar com eles, embora eles sempre o perseguissem como um fantasma.

Ele sabia que Jeongguk seria um problema quando resolveu invadir o quarto dele naquele dia. Sabia que ele, mais do que qualquer um, havia uma rede de problemas por trás. Problemas que ele não conseguiria e nem queria se envolver a princípio. Sempre odiou problemas familiares, porque, caramba, nem mesmo seus problemas pareciam ter solução. Mas, mesmo após confirmar que a vida de Jeongguk era um verdadeiro emaranhado cheio deles e que, se o deixasse fazer parte da sua, ele mudaria tudo, nunca passou pela cabeça de Taehyung desistir de Jeongguk.

Jeongguk mudou tudo.

Cada pedaço da sua vidinha insignificante.

Mudou a forma com que enxergava o mundo, ele conseguia desligar Taehyung daqueles pensamentos autodepreciativos e lhe dar um motivo interessante para acordar todos os dias. Jeongguk restaurou sua vida, porque, antes dele, tudo era só ruína e autodestruição.

Entretanto, a primeira vez que Taehyung pensou em deixá-lo ir, foi quando percebeu que, na verdade, ele era apenas mais um problema na vida de Jeongguk. E um problema dos grandes. Daqueles que te arrastam até te machucar e não sobrar mais nada além de uma bola gigantesca e maciça de decepção. Uma doença incurável que levaria Jeongguk ao estágio final. Ele achou que machucaria Jeongguk. Mas estava errado. Em todos os sentidos.

Taehyung tinha um monte de defeitos. Ele sempre se culpava por todas as coisas ruins que aconteciam na sua vida. Como se fosse um buraco negro, atraindo tudo de ruim ao seu redor e colocando em risco todas as pessoas que amava.

Agora, apesar das dores o dilacerando em cada célula, física e mental, ele só conseguia pensar que passaria por isso um milhão de vezes se fosse preciso.

Nunca, nunca se arrependeria de Jeongguk.

Seu Jeongguk. Seu inocente Jeongguk que, mesmo após conhecer um pouco mais fora da doma em que foi criado, ainda possuía os mesmos olhos gentis e bondosos. Seu Jeongguk com o coração puro e lindo, apenas cheio de amor de bondade. Seu Jeongguk que gostou de Taehyung mesmo com tantos defeitos. Seu Jeongguk com quem Taehyung pode descobrir como era estar apaixonado.

Apaixonado. Naquele momento, não era uma palavra que conseguia sequer definir minimamente todos os sentimentos que invadiam Taehyung quando se tratava de Jeongguk. Queria que houvesse alguma palavra que fosse o suficiente para que ele mesmo entendesse do que tratava aqueles sentimentos.

Não era a hora de ficar se culpando ou procurando justificativas para uma situação que mais parecia uma peça muito mal dirigida.

E se existisse mesmo um Deus, e ele fosse o diretor, tudo bem que ele odiasse um pouco o personagem de Taehyung. Desde sempre fora muito bom em improvisações.

Daria o seu jeito.

No momento, a coisa mais importante era encontrar Jeongguk e ficar ao lado dele. Taehyung queria abraçá-lo, envolvê-lo nos braços e sussurrar que tudo ficaria bem de novo. Inventaria a melhor das mentiras para tirar aquela dor que ele estava sentindo no momento. Tomaria todas as dores dele se pudesse e suportaria cada uma delas. Não era justo alguém como ele passar por isso. Um golpe tão pesado, e Taehyung sabia que, mesmo que atualmente ele tivesse se tornado um homem forte, ninguém estava preparado para ser atingido daquela maneira. Jeongguk estava sangrando, e mesmo que fosse a última pessoa do mundo que ele quisesse por perto, Taehyung não o abandonaria.

O celular vibrou no bolso.

Jimin

Taehyung, onde você está?

Taehyung

Jeongguk está bem?

Jimin

Não sei! Não sei onde ele está. Ele não me atende e não recebe minhas mensagens.

Taehyung apertou o celular nas mãos com tanta força que sentiu a pele dos dedos se abrir. Como um vulcão prestes a estourar, seu cérebro começou a dar sinais de alerta; Jeongguk, naquele momento de fragilidade, poderia estar correndo pedido. Aturdido e catatônico, procurou pelas chaves da sua moto, mas se lembrou que havia perdido na luta. A única opção era o Chevrolet de Yoongi na frente de casa.

Começou a chover assim que Taehyung fechou a porta do carro. Não fazia ideia para onde deveria ir e começar a procurar por Jeongguk. Tinha que se acalmar e pensar racionalmente as possibilidades. Mas era impossível se desapegar de cenários desastrosos e ser consumido pelo medo.

Taehyung percebeu que tremia quando segurou o volante. Não só sua mão, como seu corpo tremia pelo medo irracional, o medo gelado que congelava o sangue nas veias e fazia seu cérebro projetar as situações mais catastróficas possíveis. Mas precisava se acalmar e manter sanidade se quisesse resolver alguma coisa. Buscar racionalmente onde Jeongguk poderia estar e tentar não afogar na mente traiçoeira. Inspirou e expirou, e, um pouco menos esbaforido, enfiou a chave na ignição e deu partida.

Mas os roteiros continuavam surpreendentes, então, como se um dos cenários tomasse vida, um som de um click metálico soou pelo carro.

Taehyung reconheceria aquele som em qualquer lugar no mundo. Sentiu um frio colossal subir pela sua coluna quando o metal gelado encostou no seu pescoço e deslizou até chegar no meio da sua nuca.

Devagar, mesmo sabendo o que encontraria, ele moveu os olhos para o espelho do retrovisor, encontrando no reflexo os olhos sombrios de Jeon Jongwon o encarando de volta.

— O que você...

— É um prazer te ver também, senhor Kim. — A voz de Jongwon soou como uma explosão, carregada de uma ironia cruel. Ele sorriu, e foi um sorriso que não alcançou os olhos escuros. — E antes que tome qualquer atitude como um animal, quero que saiba, Jeongguk está comigo.

Taehyung enrijeceu, o maxilar apertado com força, os dedos apertando o volante.

— Se tocar nele...

— Você me mata, eu sei. — Ele suspirou dramaticamente e, sem desfazer minimamente o contato visual, disse; — Vamos fazer o seguinte, a partir de agora, você só me obedece, não diz nada. Se tentar uma gracinha...

— Você me mata. — Taehyung concluiu, a raiva queimando por dentro.

— É, mato. — Deu de ombros e apertou a arma no seu pescoço. — Vou te dizer exatamente aonde vamos. E você vai me obedecer, senhor Kim. Seja um bom genro e me escute, chega de conflitos familiares, não acha?

Taehyung considerou suas opções. Estava vulnerável, encurralado e não seria nem um pouco inteligente tomar qualquer atitude que colocasse a sua vida, e a de Jeongguk, em risco. Por isso, mesmo descartando as consequências que obedecer Jongwon traria, Taehyung decidiu fazê-lo.

Vinte minutos depois, Jongwon os guiou até o que parecia um prédio abandonado, longe da cidade. Percebeu, então, que não havia como recorrer a alguma ajuda, e tinha quase certeza de que não havia sido levado ali com a intenção de uma conversa para resolver as coisas.

Jongwon o empurrou, ainda com a arma colada na sua nuca, até o terraço do prédio. Chovia grosso e a madrugada estava cada vez mais gelada, apesar de absurdamente clara devido à lua cheia que iluminava o céu.

— Você não conhece esse lugar. — Jongwon disse com calma, empurrando Taehyung e se afastando para o outro lado do prédio, e, por fim, simplesmente, abaixou a arma. — Vou te contar uma história, mas esteja avisado, se eu pressupor que você vai me atacar, coloco uma bala no meio da sua testa.

— Você vai me matar de qualquer jeito. — Taehyung disse. Dessa vez, sua voz saiu sem transparecer nenhuma emoção. Não queria que Jongwon soubesse estar com medo.

— Aí que você se engana. — Jongwon guardou a arma na cintura e caminhou até o parapeito. — Particularmente, eu não gosto de matar pessoas, só quando necessário — ele sorriu e suspirou de forma dramática. — Sem contar que é um dos mandamentos da bíblia.

Taehyung deixou uma risada seca escapar do fundo da garganta e sentiu o ódio crescer no seu estômago, quase a ponto de conseguir sufocá-lo.

— Isso é algum tipo de piada? Que Bíblia é essa que você andou lendo o tempo todo? Tenho certeza que matar não é a única coisa que ela te proíbe de fazer.

Jongwon deu de ombros.

— Eu nunca disse que não era um pecador. Todo mundo tem direito a se arrepender dos pecados em algum momento. Me arrependerei dos meus mais tarde. — Ele abriu um sorriso cheio de dentes. Sempre sorrindo, como se tudo fosse algum tipo de diversão sádica e trágica. — Agora vou te explicar a história desse lugar. Primeiro de tudo, aqui foi onde seu pai morreu. Ele estava bem ali — Ele apontou para o canto do prédio, por impulso Taehyung olhou. Ainda sentia a dor da perda dilacerar seu coração, agora, mais do que nunca, com a sensação de injustiça, porque ali estava o assassino do seu pai, impune dos crimes. — Não vou deixar que sua mente seja criativa e vou te contar o que aconteceu naquela noite.

— Eu não confio no que você fala.

— Que seja, eu não preciso que acredite em mim nessa altura do campeonato. — Deu de ombros. — Ao contrário do que você e o Seokjin pensam, seu pai conseguiu o que tanto queria. Ele conseguiu destruir tudo que consegui durante anos de trabalho, o desgraçado prendeu cada um dos meus homens e apreendeu a grande parte dos meus negócios. — Jongwon fez uma pausa, como se buscasse algumas lembranças no fundo da mente, mas a expressão, o leve vincar das sobrancelhas, deixava claro que as lembranças causavam raiva. Ele olhou para Taehyung e continuou: — Não sei se você sabe, talvez não se lembre, já que era apenas uma criança, mas seu pai costumava frequentar a igreja aos domingos. E o fato de eu ser um pastor de confiança, fez com que ele demorasse chegar a quem ele realmente queria.

— Você...

Ele não deixou com que Taehyung falasse.

— Você sempre foi um pirralho sem muito interesse em religião. — Jongwon fez um gesto desdenhoso com as mãos e tirou do bolso um isqueiro de prata e um charuto grosso. O som do isqueiro ecoou na noite e fez uma sensação ruim descer pela garganta de Taehyung, tendo a perspectiva de estar sozinho ali com aquele homem. — Mas seu pai ainda acreditava em alguma coisa, ele me contava que estava cansado do trabalho e perdido de não conseguir chegar a lugar nenhum com as suas investigações. E era até interessante no começo, eu conseguia prever cada passo dele. Até que conheci melhor a sua mãe. — O sorriso dele se transformou em algo que Taehyung não soube identificar enquanto acendia o charuto. — Não é difícil conhecer lobos em pele de cordeiro dentro da igreja. Está cheio de gente assim lá dentro.

Jongwon assoprou a fumaça, que se condensou em uma nuvem espessa em cima da sua cabeça.

— Foi fácil convencê-la a trabalhar pra mim. O que era uma vantagem já que ela era secretária na delegacia do seu pai. — Jongwon tragou o charuto e a soltou devagar, por fim, encarou Taehyung e estalou a língua como se estivesse prestes a dizer algo que o incomodava. — Mas, no final, sua mãe foi só uma rata que agiu dos dois lados.

Taehyung recebeu a informação como um soco. Pensando que deveria ter escutado a história de Naomi, já que, assim como o pai de Jeongguk e seu pai, ela também fazia parte da equação.

— No começo eu não entendi muito bem como as coisas começaram a dar errado. — Jongwon soltou uma risada amarga. — Ela era mesmo muito boa em conseguir enganar seu pai e a mim. Mas, no final, como todo rato traidor, ela pagou o preço. Foi caro, custou a vida de alguém. E vai custar mais uma.

Taehyung piscou os olhos, algumas gotas de chuva fina caindo sobre seu rosto, descendo pelas bochechas como lágrimas. Estava frio, a temperatura era capaz de fazer com a fumaça escapasse dos próprios lábios, mas havia tanta raiva, tanto ódio queimando dentro dele, que Taehyung não conseguia sentir frio.

— O que ela ganharia agindo dos dois lados? — Taehyung perguntou, mas a voz saiu estranha aos ouvidos, robótica e sem vida. Naquele momento, era como se estivesse dentro da vida de outra pessoa. Ele sabia que o pai era policial, sabia que ele investigava casos, mas nunca teve interesse o suficiente para se envolver, mas a mãe.

Taehyung sempre achou que mãe fosse uma simples secretária na delegacia de polícia. Saber que, na verdade, ela era responsável não só pela morte do seu pai, como também havia se juntado com aquele homem, fazia Taehyung ter vontade de morrer.

— No começo eu também não sabia essa resposta. Mas quando descobri que, na verdade, ela já pertencia a algo, só estava prejudicando nós dois. Sua mãe roubou tudo de mim, e seu pai acabou com um império que demorei anos para construir. E você me tirou meu filho. — Jongwon balançou a cabeça negativamente de um jeito dramático, quase teatral. — Jeongguk. Quando penso nele, me pergunto se ele tem salvação ou se é tarde demais.

Taehyung sentiu uma onda gelada perpassar pelo seu corpo, em forma de um medo genuíno quando Jongwon amassou o charuto no parapeito.

Ele era, na mais crua das palavras, assustador. Apesar de se parecer com uma figura quase caricata de um filme ruim sobre máfia, ainda assim, tinha os olhos escuros de maldade e controle sobre algo que era a coisa mais importante da vida de Taehyung. Era pavoroso imaginar como Jongwon esteve ao lado de Jeongguk o tempo todo, manipulando, torturando das piores formas, e, pior de tudo, usando bases religiosas para transformar Jeongguk através do medo. Jeongguk era só uma criança nas mãos do diabo.

Um diabo que tirou a vida do seu pai.

Um diabo que desgraçou a vida do seu namorado.

Um diabo que Taehyung mataria com as próprias mãos.

— Tem uma coisa que não entendo. — Taehyung disse um pouco mais alto, porque a chuva aumentou e os sons dos pingos grossos abafaram o som da sua voz. Jongwon olhou para ele como se esperasse por uma resposta. — Por que voltou para uma casa ao lado da minha?

— Você tem algo que é meu.

Taehyung franziu o cenho.

— E sua mãe. Ela fugiu, de novo, quando soube que eu voltaria. Mas você atrapalhou todos os meus planos quando decidiu enfiar essas garras imundas em Jeongguk. Posso não ser o pai do ano, mas ele ainda é o meu filho.

Taehyung não conseguiu se mover a um primeiro momento, seus pés grudados no chão, seu corpo sofrendo o impacto emocional de todos os acontecimentos, como se absorvesse todas as informações de uma só vez. Ele não tinha muitas opções, morreria ali, como o pai, e a vida de Jeongguk seria um completo inferno se Jongwon continuasse livre e vivo.

Sempre foi do tipo que priorizou agir pelas emoções, sempre tomando atitudes impulsivas, meio suicidas até, e como seria diferente se sabia que, sua única perspectiva naquele lugar, seria morrer. E tentar sobreviver, não por ele, mas sim por Jeongguk, era a coisa mais racional que poderia pensar.

— Qual o seu objetivo, Jongwon? — Taehyung escolheu bem as palavras. Qualquer coisa dita agora poderia ser a causa da sua morte ou a sua salvação.

— Não é óbvio? Conseguir o que é meu de volta.

— E você acha que vai conseguir com tanta gente sabendo quem você é? — Taehyung desdenhou. Ele se sentia encurralado naquele terraço, mas poderia usar as palavras a seu favor. — Não precisa de muita coisa para ligar as coisas, principalmente se você me matar.

— Muito esperto da sua parte. Mas você acha que eles acreditariam na versão de um bandido drogado ou na versão de um pastor que só queria proteger seu precioso filho e tentou salvá-lo, mas que infelizmente foi arrastado para esse lugar horrível, ameaçado e forçado a fazer uma coisa horrível.

— N-ão é assim. — a voz falhou com a verdade dolorosa. Não acreditariam em Taehyung. Ainda mais com uma ficha suja na polícia. — Você acha que Seokjin não vai dar um jeito de acabar com a vida, seu filho da puta?

— Ele não me preocupa. Mas não consigo imaginar como sua mãe reagiria caso algo acontecesse com o filhinho precioso dela. Ela é meio perigosa quando está brava. — Ele torceu os lábios. — Deveria ter enfiado uma bala na cabeça dela, assim como fiz com seu pai.

Taehyung enrijeceu com a menção cruel, a mão fechada em punho e as unhas cortando a pele. Num impulso, ele deu um passo largo, a distância diminuiu consideravelmente e Jongwon observou, com os olhos afiados, cada passo seu.

— Vou matar você. — Taehyung rosnou.

— Não, rapaz. Não sou eu quem irá morrer essa noite.

Jeongguk tirou o capacete, desceu da moto e correu, mesmo com dificuldade por conta do tornozelo dolorido, como se sua vida dependesse disso. Tudo estava muito escuro para que acertasse o caminho, e a chuva densa não ajudava, mas, se Seokjin e o localizador de Taehyung estivessem certos, era naquele prédio abandonado que eles estavam.

Estar ali era irracional e perigoso. Entretanto, tempo era uma coisa que Jeongguk não tinha. O simples fato de imaginar Taehyung com seu pai, fazia com que Jeongguk perdesse qualquer medo que ameaçasse surgir dentro dele. E naquele momento, medo era só uma palavra distante, embora temesse que Taehyung se machucasse.

Apenas com a lanterna do celular e o localizador como guia, Jeongguk subiu as escadas até o terraço, o coração batendo forte no peito como se a qualquer momento fosse escalar sua garganta e sair pela boca. A porta de emergência estava destrancada e ele sentiu um solavanco quando a abriu com violência. Sentiu o vento gelado ricochetear contra sua bochecha, mas os sentimentos fervendo dentro dele não permitiram que o frio o envolvesse.

A primeira coisa que ele viu foi Taehyung e, tão cego de pavor e alívio, correu para abraçá-lo.

Seria diferente se Taehyung não tivesse escutado um estrondo da porta se abrindo atrás dele. Por instinto, ele se virou.

Foi com pavor puro e grotesco que Taehyung reconheceu a silhueta de Jeongguk naquelas sombras difusas em meio a torrente de água.

Meu Deus, Jeongguk.

Jeongguk não tinha que estar ali.

Não, não, não.

— Como? — Taehyung sussurrou, as gotas das chuvas se acumularam nos cílios, e ele piscou, desejando que a imagem de Jeongguk não passasse de uma ilusão da própria cabeça. Mas ele estava ali. — Jeongguk. — Sua voz saiu mais alta do que pretendia.

— Taehyung?

Jeongguk correu e, antes que pudesse dizer que ele precisava sair dali e perguntar porque ele estava mancando, Taehyung foi surpreendido quando os braços dele o esmagaram. Durou breves segundos, segundos que foram capazes de trazer uma onda indescritível de conforto e desespero nas mesmas proporções, e antes que ele pudesse se afastar e o segurar pelos braços para se certificar que tudo estivesse bem, Jeongguk sussurrou;

— Vim salvar você.

— Você está bem? — perguntou, analisando com os olhos cheios de carinho e preocupação.

— Agora estou — sorriu. — Você... — E quando seu olhar foi além de Taehyung e viu por trás dele, o sorriso deu lugar a uma expressão de desespero e raiva.

— Emocionante. — A voz de Jongwon soou despretensiosa e absurdamente fria, ecoando no meio da noite barulhenta e vertiginosa. — Muito emocionante, Jeongguk. Agora, sim, uma reunião de família maravilhosa.

— Seu psicopata maluco. — Jeongguk avançou na direção dele, com raiva, mas foi impedido quando sentiu a mão de Taehyung segurar o seu pulso e puxá-lo para trás do seu corpo.

— Você costumava ter mais respeito pelo seu pai, Jeongguk. — Ele disse e torceu o nariz, deu de ombros enquanto alisava a luva de couro naquela postura narcisista. — Não fale assim. É pecado.

— Como você tem coragem de falar de pecado comigo!? — Jeongguk gritou. Gritou tão alto que o som pareceu durar alguns segundos na cabeça de Taehyung. Olhou para Jeongguk, ele estava tremendo, a água deslizando pelo rosto e os lábios frouxos e arroxeados.

— Você se acha muito incrível agora, não é? — Jongwon deu uma gargalhada. Fria e sombria, que ecoou pela noite como um grito de horror, e Taehyung cogitou segurar a mão de Jeongguk e arrastá-lo dali. Mas havia consequências e ele não tinha como saber se poderia lidar com elas. — Vou te contar uma coisa, você não é, filho. Nunca foi, ainda é o mesmo garotinho imundo de pecados, cheio de medos e inseguranças de sempre.

Foi a vez de Jeongguk rir.

— Você não consegue mais entrar na minha mente, Jongwon. Nem como pastor, nem como pai. — A voz de Jeongguk soou alta e confiante, e, munido de toda aquela confiança, deu um passo para frente, e Taehyung o acompanhou, olhando cada movimento de Jongwon. — E ao contrário de você, vou ter uma boa vida, feliz e livre. Enquanto você vai apodrecer na cadeia.

Jongwon, pela primeira vez, pareceu atingido pelas palavras de Jeongguk. O sorriso maldoso que nunca o abandonava, havia desaparecido, agora os lábios estavam comprimidos e o rosto vermelho de raiva. Em um movimento rápido, quase um impulso, ele levou a mão até a arma que havia guardado dentro do paletó e apontou na direção dos dois, especificamente na direção de Jeongguk.

Jeongguk então pareceu se dar conta. Seu pai apontava uma arma na sua direção. E Taehyung sabia, por mais absurdo e dolorosa que fosse a hipótese, sabia que Jongwon seria mesmo capaz de atirar no próprio filho se fosse para se livrar de problemas.

Mas, mais do que isso, sabia também que, apesar das desvantagens, Taehyung não deixaria que nada acontecesse com Jeongguk.

Ele encarou Jeongguk, encarou Jongwon, ambos em uma batalha silenciosa de olhares, como se o passado voltasse em forma de um fantasma mórbido, responsável em trazer as dores que ficaram silenciadas durante toda a vida.

Taehyung não conseguia dimensionar como Jeongguk se sentia. Mas dava para ver, o corpo falava, exibia o sofrimento na sua mais pura forma e a dor que ele estava sentindo. Ele ainda queria envolver Jeongguk nos braços, dizer palavras de carinho até que toda a dor se diluísse e esvaziasse dele. Até que sobrasse apenas a vitalidade brilhante que Jeongguk possuía.

Imaginou como seria se tudo fosse diferente. Se tivesse conhecido Jeongguk de outra forma, em um outro momento. Como seria se ele fosse apenas mais um garoto aleatório por aí esperando ser encontrado em uma barraquinha de cachorro-quente, que conquistasse Taehyung só pelo sorriso bonito. Imaginou como seria se a vida fosse um pouco mais gentil e Jeongguk pudesse ser livre desde sempre. Faria ele se apaixonar e o pediria em namoro e prometeria o mundo se ele quisesse. Namorados, amantes, quem sabe se casar em algum país por aí e, numa hipótese meio maluca, adotar crianças.

Taehyung quis rir desses pensamentos, tão fugazes e intrometidos. Ele queria tanto, tanto um futuro com Jeongguk, que seu corpo estremeceu quando ele finalmente percebeu que, talvez, a possibilidade não passasse de pensamentos distantes e sonhadores. Taehyung viu a boca de Jeongguk se movimentar e dizer algumas palavras, parecia com raiva, mas o som não chegou aos seus ouvidos, pai e filho estavam falando e falando. Discutindo as amarguras que guardavam um do outro durante a vida toda. E então Taehyung só pensou que, se alguém merecesse alguma coisa ali, esse alguém seria Jeongguk.

Só ele e ninguém mais.

Naquele segundo em que chegou àquela conclusão, tudo pareceu se desenrolar como em um filme em câmera lenta. Mas aconteceu muito rápido, de repente, Taehyung estava na frente da arma, lutando para tirá-la da mão de Jongwon . Seus sentidos haviam se desligado, e sua única reação foi tentar, de alguma forma, livrar seu Jeongguk daquela ameaça. Jongwon era um homem forte. E Taehyung sentiu um solavanco violento quando seu corpo foi empurrado no muro do parapeito, o corpo de Jongwon pressionando o seu, a arma entre eles, a chuva molhando os corpos. Sentiu a sensação de queda livre, a altura daquele lugar o mataria. Daquele jeito, Jongwon estava perto, o rosto muito próximo do seu, o rosto dele tremia de puro ódio, os olhos absurdamente maldosos que transbordavam em uma vontade lúcida de matar alguém. Em uma explosão de adrenalina, Taehyung conseguiu inverter a situação e o empurrou com força para o outro lado, mas antes que pudesse puxar a arma para dominá-la ela disparou.

E então, tudo ficou vermelho.

Jeongguk ouviu o som do disparo como se estivesse em um ambiente fechado e pequeno. Reverberou diretamente do seu coração e foi como ser empurrado de um penhasco muito alto, com a certeza de que morreria com o impacto da queda. As pernas perderam as forças, e ele desejou, mais do que qualquer coisa, desejou de todo seu coração, que Taehyung não tivesse sido o alvo.

Ambos estavam se olhando, muito próximos um do outro, o som da arma caindo no chão foi seguido de um gemido doloroso. Ele viu, com horror puro nas veias, o sangue escorrer e a chuva levá-lo no mesmo instante. Jongwon se afastou, parecia aturdido e perdido os olhos arregalados como se não acreditasse no desenrolar da cena, apalpando o próprio corpo, as mãos sujas de sangue.

Foi então que Jeongguk viu o corpo de Taehyung cair no chão no mesmo instante que a porta de emergência sofreu um solavanco brutal. Ouviu ao longe a voz de Seokjin e mais de algumas pessoas, mas Jeongguk não conseguia acompanhar, ele caminhou a passos trêmulos, quase como se lutasse para ficar acordado, na direção de Taehyung.

— Ei, Taehyung — Jeongguk se abaixou e colocou a cabeça dele na coxa. — Taehyung.

Taehyung fez uma careta e gemeu. Ele abriu os olhos, estavam sonolentos e os lábios arroxeados pelo frio.

— Você tem que sair-

— Não se preocupa. Seokjin e os outros estão aqui. — Jeongguk conseguiu dizer, mas os sentimentos estavam sufocando-o. Ele balançou a cabeça positivamente, como se buscasse um conforto que não existia, e, com os dedos trêmulos, agora manchados de sangue, tirou o cabelo de Taehyung do rosto dele. — Está tudo bem agora, podemos ir pra casa.

— Casa. — Taehyung repetiu e suspirou devagar. — Já estou em casa, coração.

Jeongguk não previu quando um soluço escapou da sua garganta e se transformou em um choro doloroso. Notou a cor sumindo aos poucos do rosto dele, mas tratou de afastar os pensamentos e o segurou com mais força.

— Acabou. Nós vamos conseguir ser feliz agora, amor meu. — Ele apertou Taehyung com cuidado e se desesperou quando viu os olhos deles se fecharem. — Ei, Taehyung, não dorme. Por favor, não dorme.

— Tô tão cansado. — Taehyung abriu os olhos, pareciam ainda mais opacos e vítreos, tão pesados, mas dava para o esforço que ele fazia para mantê-los abertos. — Tão cansado, Jeongguk.

— Eu sei, mas você não pode dormir, Taehyung. Fica acordado, tá? Fica comigo, amor. — Jeongguk olhou para os lados pela primeira vez à procura de ajuda e gritou o nome de Jimin. Vislumbrou com pavor uma poça vermelha que os rodeava, cada vez maior, se espalhando por todo terraço e se misturando com a água da chuva.

Ele então viu Seokjin, Yoongi e Jimin. O pastor estava imobilizado, preso sobre os cuidados de Yoongi que o mantinha no chão enquanto pisava sobre as costas dele, as mãos amarradas às costas.

— Jeongguk. — Taehyung chamou, a voz nada mais que um sussurro. Jeongguk abaixou o olhar, Taehyung fazia o esforço de sorrir. — Não gostei muito de ter perdido essa virgindade.

Uma risada dolorosa escapou de Jeongguk.

— Idiota, não faz esse tipo de piada, não é engraçado.

— Coração.

— Oi, Tae. — Jeongguk fez um carinho no cabelo dele.

— Amo você. Amo tanto você.

Antes que Jeongguk pudesse responder, Jimin se abaixou ao lado de Taehyung.

— Taehyung, não dorme. Se você dormir eu mesmo vou te arrebentar. Seu idiota, você levou mesmo um tiro, porra. — Jimin tirou a jaqueta e pressionou no corpo de Taehyung. — Jeongguk, mantém ele acordado.

Jeongguk assentiu, um pouco perdido e sem conseguir formular um pensamento inteiro.

— Jimin... Não vou pedir que cuide dele porque você foi muito melhor do que eu fazendo isso — Taehyung tossiu e algumas gotas de sangue pintaram os lábios pálidos. Jeongguk sentiu o desespero engolfá-lo, mas respirou fundo, tentando ser forte por Taehyung.

— Hey, Taehyung, você não pode fazer isso, tá me ouvindo? — Jeongguk o segurou pelas bochechas, encarando-o. — Lembra que você me cativou? Hein, porra? Você se lembra? E se você acha que você não é responsável por mim, está muito enganado.

Taehyung riu, os dentes manchados de sangue.

— Esse livro é uma porcaria, coração. Aquela maldita raposa...

— Cala a boca, para de falar merda! Você não vai morrer, não no meu turno — Jimin grunhiu, determinado, mas Jeongguk conseguia ver como os olhos dele estavam vermelhos pelo choro, as lágrimas caindo e se misturando com a chuva. — Vamos levar você até o hospital. Seokjin, Yoongi, precisamos ir. Agora!

Jeongguk se sentia estranho. Como se fosse espectador de um pesadelo interminável, sentia o coração bater devagar, mas em um pulsar forte e alto dentro do peito. Fechou os olhos e começou a fazer a única coisa que o acalentava em momentos como esse.

— Querido Deus... 

III

Significado do título: Chrysalism. A tranquilidade confortável de se estar dentro de casa durante uma tempestade.



AMEI escrever essa diferença de POV na hora da ação. 

Bom, vamos lá, eu comecei a escrever essa fanfic lá pra 2018? Acho que foi assim, foi a primeira long fic que postei no spirit e a primeira que me motivou a continuar a escrever, eu sempre tive tudo dela plenjado, inicio meio e fim, mas nunca consegui de fato terminar, resolvi postar aqui no wattpad. só que como tudo que escrevo, personagens criam vidas e os roteiros são mudados, minha cabeça mudou muito desde 2018 para cá, minha visão de escrita, então gradualmente eu passei a não gostar de mais nada que eu escrevi nos últimos anos. No entanto, eu não acho justo não dar um final digno a esses personagens tão amados por mim.

outra coisa que eu queria dizer; nunca foi minha pretenção fazer uma fanfic para educar alguém sobre religião e bons costumes, muito menos fazer um personagem que tem fé, se tornar ateu. isso nunca. e por mais que tenham discursos que vão contra isso, eu realmente não me importo muito porque, bom, é o meu personagem que se criou através de alguns sentimentos e vivências muito semelhantes. me identifico muito com o jungkook e algumas pessoas tbm. enfim, acho que é isso. 

se alguém leu e ainda lembra dessa fic, que bom viu? obrigada e me desculpa pela demora.

ah, e tenho uma long fic sendo postada aqui no meu perfil!! leiam melodia estelar, é bem gostosinha e muito diferente de a grama <3 

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