DOIS ANOS ATRÁS,
RIO DE JANEIRO.
As semanas foram corridas pra mim, estava me desdobrando em duas pra trabalhar no shopping meio período, ser dona de casa e sim, tô casadinha com o meu pretinho, me deu uma aliança linda, nem tão grossa e também nem tão fina, com certeza gastou uma fortuna, tenho até medo de andar com ela na rua.
Até perguntei pra ele se não iria fazer falta esse dinheiro, dei uma pesquisada no salário de quem trabalha embarcado e não é tão alto pra isso tudo sabe, não quero parecer uma sanguessuga. De repente pegou dinheiro emprestado com a tia Kelly, sei lá. Mas ele me tranquilizou e me disse que ele investia em alguns negócios que geravam lucro pra ele e eu fiquei mais tranquila.
Até porque ele quis investir em algo que eu estou tentando ser, uma microempreendora. Como eu formei o ensino médio em adm e eu amo costurar minhas peças, tô pensando seriamente em abrir uma lojinha virtual pra mim, é de pequeno que começa né? Rogério até quis me dá dinheiro pra investir, mas eu prefiro eu mesma começar com a minha capital, com meu giro. Se der certo amém, se não der amém também. Mas nada melhor que olhar na frente e dizer que veio do seu próprio suor.
Com o meu primeiro salário eu já coloquei na poupança e já vou comprar meus próprios tecidos, só falta pensar em um nome, mas até lá eu vou vendo.
Marquei com a Bebel pra gente almoçar juntas, sinto falta da minha amiga e quero entender o motivo desse afastamento, desde que eu comecei a me envolver com o Rogério tudo mudou.
Como ele tá embarcado e só chega hoje a noite, deixei tudo montado dentro da geladeira, fiz uma rabada que ele queria comer, então era só ele tirar e esquentar no micro-ondas.
Mandei uma mensagem só avisando que estava indo almoçar com a irmã dele, antes que ele surte, se dependesse dele, colocava um gps em mim.
Chamei um uber pra praia vermelha, escolhemos almoçar no Terra Brasilis, vale muito a pena, além de lindo a comida é super gostosa e a vista então, pertinho do bondinho, já fui ali algumas vezes com o meu preto.
— Sinto falta de você Bebel, o que tá acontecendo? Sou sua melhor amiga a anos e a gente nunca ficou tanto tempo longe uma da outra, se abre pra mim minha amiga.
— Não é nada disso nega, sério mesmo...
— É porque eu tô com o seu irmão é isso? Você não gostou?
— Tá louca mona, eu te amo, você é minha best santinha, quer dizer era né — Riu e eu ri também — Só que eu só fico preocupada com você, não quero que o meu irmão te machuque, sério.
— Ele não vai me machucar amiga, eu amo aquele preto e sei que ele me ama também, do jeito dele.
— Eu sei, mas...
— Mas...? Você quer me contar alguma coisa Bebel? Pode me contar, a gente conversa sobre tudo, lembra? — Ri fraco e ela concordou fugindo do meu olhar.
— Não é nada, agora vamos deixar esse papo chato de lado e focar em você, eu vi tudinhoooo que você me mandou Babi, a coleção tá incrível, você sabe que eu vou ser sua modelo né? — Mudou de assunto e eu concordei.
— Aí, tô muito, muito animada com esse projeto amiga, já encomendei minha máquina de costura e essa semana vou lá comprar os tecidos, você vai comigo né? Quero você juntinho comigo nessa caminhada.
— Aí que tudo, tô mais preparada, já pensou em um nome?
— Af, você acredita que ainda não?
Pedimos uns drinks da casa e ficamos conversando como nos velhos tempos, que perdemos até a hora de voltar pra casa e nem vimos anoitecer, que falta eu estava sentindo disso, sério. Nos despedimos com um abraço apertado e eu chamei meu uber.
Cheguei em casa, me virei pra acender a luz e quando eu acendi, levei um susto quando vi o Rogério parado de braços cruzados, na poltrona do sofá com um copo de whisky na mão e um charuto do outro com uma cara nada boa.
— Aí amor, você quase me matou do coração. — falei me aproximando e sentando no seu colo, fui pra dar um selinho, mas ele virou o rosto.
— Ei, o que foi? – Perguntei envolvendo meus braços ao redor do pescoço dele.
— Tava bom o papo lá né dona Bárbara? Até essa hora, não dá uma satisfação, te ligo e telefone desligado, tá achando que tem algum otário aqui?
Ameacei a levantar, mais ele foi mais rápido e segurou firme minha cintura me impedindo de sair do colo dele.
— Rogério, eu mandei pra você assim que eu saí de casa! Eu estava com a sua irmã, com a sua irmã cara. Meu telefone ficou sem bateria porque eu esqueci de levar meu carregador, sério que você vai querer arrumar briga comigo a toa? Você tá quinze dias fora e nem um beijo você me deu, desviou ainda por cima.
— Hum... tu tá brincando com a sorte... — falou com os olhos quase fechando, sabia que ele tava bêbado e chapado de maconha, coisa que eu nunca deixei ele fazer dentro da nossa casa.
— Rogério eu não vou conversar com você nesse estado, não vou mesmo. — Fiz um pouco mais de força pra sair do colo dele e consegui.
Fui possessa pra dentro do quarto, nem me importando se ele estava atrás de mim ou não, ia entrar no banheiro pra tomar um banho, quando eu só senti um puxão de cabelo me puxando pra trás.
— Quando eu falar com você, é pra não me dá as costas, tá me ouvindo?
— Rogério, você tá me machucando, se não me soltar agora você nunca mais vai me ver, nunca mais, eu vou sumir da sua vida. — Deu um estalo nele que ele me soltou na hora e eu só me afastei entrando no banheiro e trancando a porta logo atrás de mim.
Chorei tudo o que tinha pra chorar no banho, esse jeito bipolar dele me deixava maluca. Quando eu saí do banheiro, vestindo uma camisola de seda, ele já estava deitado roncando horrores, toda vez que ele bebia era isso, ficava um ciúme fora do comum e ficava agressivo, mas depois da surra que meu pai me deu, nunca mais eu deixei nenhum homem encostar a mão em mim e não vai ser o homem que diz que me ama.
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Acordei sentindo beijos molhados no meu pescoço e as mãos dele descendo pelo o meu corpo, mas eu fui mais rápida e me levantei saindo da cama, dando as costas pra ele e entrando no banheiro. O bonito foi logo atrás de mim pra me tirar da graça logo de manhã, apenas fiz minha higiene matinal e o ignorei indo pra cozinha preparar meu café, mas quando eu cheguei me dei de cara com a mesa do café da manhã toda feita. Tinha de tudo, pão, bolo, queijo, doce e tudo o que eu gostava, até flores estavam postas na mesa.
— Olha aí amor, meu pedido de desculpas, errei pô, vacilei, sabe que eu morro de ciúmes de você, fico maluco se eu te perder, eu te amo ruiva. — Falou me abraçando por trás e eu só me desfiz do seu toque caminhando em direção a mesa.
Brigada sim, sem fome nunca. Mas dessa vez eu não ia render tão fácil, ele errou e feio comigo.
— Que isso amor, vai continuar ignorando teu preto? Fiz maior mesão pra você, maltrata mesmo o coração do vagabundo, te amo mô, perdoa, você é a mulher da minha vida — fez maior voz de choro.
— Quero saber qual foi o dia que eu te fiz duvidar de mim Rogério, fala aí pra mim. — perguntei dessa vez me virando pra ele de braços cruzados.
— Nenhum amor, tu sabe que eu sou neurótico em você, não vou te deixar em paz nem depois de morto.
— Ontem você quase me agrediu e não foi a primeira vez, ontem foi um quase, amanhã ou depois você realmente vai fazer e eu não vou apanhar de você e nem de ninguém, você me desrespeitou como sua mulher, colocando minha integridade e fidelidade com você em dúvida. — Eu falava e ele só ficava quieto de cabeça baixa.
— Que tipo de amor é esse que não tem confiança Rogério? Até porque se for falar de confiança vamos falar de você né, que fica 15 dias fora, eu não tô grudada em você pra saber o que você tá fazendo, mas eu já por alguma vez insinuei alguma coisa de errado? — ele só negava e ficava calado.
— Você tem roupa passada, comida já pronta no prato é só você esquentar e quando eu tô em casa eu falto te dar na boca. Então, nunca mais na sua vida você levante a mão pra mim outra vez, porque não haverá a terceira vez, fica ciente. Eu moro embaixo da ponte, mas eu não viro um saco de pancadas na tua mão, reflete aí e depois a gente conversa, tô atrasada pro trabalho. — tentou segurar minha mão, mas eu me soltei.
Enquanto eu estava no quarto me arrumando pra ir trabalhar, ele só entrou no quarto pegou uma roupa e saiu sem nem olhar na minha cara e saiu batendo a porta.
Fiquei com o coração apertado, a gente nunca brigava tão feio assim porque depois eu sempre relevava, mas dessa vez passou dos limites, vou deixar ele pensar um pouquinho nas atitudes. Somos um casal, ninguém acima de ninguém.
Eu posso ser novinha, não ter vivido tanto, mas esses meses com ele tem me mostrado a mulher que eu quero me tornar e não vai ser abaixando a cabeça que eu vou conseguir. Já fui compreensiva demais com os outros e no final eu só me ferrei, porque na minha vez a água sempre acaba.
Restaurante Terra Brasilis
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+1 capítulo meus amores, espero que vocês tenham gostado. Babi aos poucos vai percebendo a mulher foda que ela é e não vai aceitar menos do que merece. Pra gente são só algumas páginas passadas, mas pra ela são meses rsrs.
Babi tá acordando e não vai demorar muito pra essa corda arrebentar. Um beijo, amo vocês.
Até o próximo.
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