Terça-feira, céu um pouco nublado, como de costume, mais frio do que os últimos dias. Caminho do carro até à esquadra, vou à receção e peço para falar com o agente James. Vejo as horas. Ainda é cedo para o curso, teremos tempo para conversar.
- Bom dia Jennifer! –James fala alegremente –acompanhe-me a esta sala –disse seguindo para uma porta cinzenta, igual a tantas outras naquele corredor
- Bom dia agente James –falei e entramos para a sala
Provavelmente uma sala de interrogatórios ou de espera, para recém presos, sem janelas, apenas com uma mesa e duas cadeiras. A sala parecia fria, apesar do aquecimento, aparentava ser fria e desconfortável. Sentei-me numa cadeira e ele sentou-se do outro lado da mesa numa outra cadeira.
- Eu estive a ler o seu currículo, revi a entrevista, e analisei todo o percurso escolar e o curso de tiro por acabar...-falou enquanto olhava para as minhas mãos que brincavam com o relógio no meu pulso esquerdo
- E...?-interrompi-o
- E a menina Jennifer para além de merecer sucesso e parecer ter um grande instinto será uma mais valia para a nossa esquadra –olhou-me –quando acabar o curso de tiro poderá fazer parte da minha equipa de investigação criminal, para já pode começar a conhecer as instalações e essas coisas habituais
Sorri. Só posso estar a sonhar!
- Está a convidar-me para trabalhar aqui? E fazer parte da sua equipa? –falei empolgada
- Sim –James recostou-se na cadeira e sorriu
Sorri ainda mais. Controla-te Jennifer, é o emprego da tua vida, é o teu sonho, não estragues isto agora. Tentei não festejar muito, seria tipo uma dança ou algo do género, porém contive-me. O agente foi buscar o contrato para assinar e discutirmos mais sobre o assunto, assim como colocar dúvidas.
- Brevemente irei para tenente, tenho que começar a formar a minha equipa e será um prazer trabalhar consigo –falou enquanto assinava os papeis
- Parabéns!! Agradeço pelo privilégio de ser uma das escolhidas –estiquei a mão assim que nos levantamos
- Os bons sempre se distinguem! –esticou a mão e assim selamos o contrato, cordialmente, com um aperto de mãos –Trate-me por James, somos colegas de trabalho
Anui. Olá James, meu novo colega de trabalho.
- Todo o prazer será meu, ao trabalhar consigo James –falei já á saída
- Não seja má, vamos partilha-lo! –riu
(...)
- Assinar o contrato de trabalho com o James, curso de tiro, almoçar sozinha à beira da praia, ginásio, ir-me despedir do pub e fazer o jantar –falei enquanto metia mais uma garfada à boca e relembrava todos os acontecimentos
- Não páras um segundo! –exclamou Eleanor e pegou no telemóvel –devo ir sair com o Thomas, não te importas pois não?
Ri-me.
- Nem vou parar! E vou-me empenhar mais no ginásio, ele pode-se lembrar a qualquer momento de querer provas físicas –olhei para ela a sorrir para o ecrã luminoso –o que é que me adiantava importar? Aliás, tu és a miúda que depois de tanto namoro, quase casamento, ainda sorri feita parva para o telemóvel
Sorriu e voltou a comer.
- Oh Jenny...-sussurrou –provas físicas? Ele quer é fazer as provas contigo!
- São o casal perfeito, eu sei - ri-me e comi –El, está caladinha sim?
Jantamos e arrumamos a cozinha juntas. Depois El trocou de roupa e saiu, eu convidei Jack para vir ter comigo. Demorou pouca a chegar. Hoje foi daqueles dias que poucas mensagens trocamos, falamos no ginásio e aquele 'Bom dia' acompanhado com um sorriso e um beijo na corrida matinal.
Assim que abri a porta abraçamo-nos. Um doce cheiro a perfume invadiu-me e, incompreensivelmente, gostei. Adorei. Adorei o leve perfume do Jack, que marcaria a sua passagem, que não enjoaria numa longa viagem e que fazia mudar totalmente a minha visão sobre perfumes. Ele sorriu.
- Olá gostoso! –disse e voltei a cheirá-lo
- Olá baixinha! –olhou-me - desculpa o perfume, mas, pensei que não ia estar mais contigo hoje
Semicerrei os olhos.
- E só por isso já ias às gajas todo emperfumado! –dei-lhe um murro
- Claro! Tempo é dinheiro! –pegou em mim como se fosse um saco de batatas, segurando-me pelas pernas enquanto eu me equilibrava no ombro –é para o quarto? –caminhou
- És tão engatatão –dei-lhe uma palmada nas costas –sim, senhor convencido que é bom!
- Não sou convencido, eu sou bom –riu-se e atirou-me para a minha cama
- Ai Jack –suspirei - és tão parvo, já estou arrependida de te ter convidado! –falei enquanto lhe atirei uma almofada
- Oh bebé, não te preocupes, só te quero a ti –devolveu-me a almofada, porém atirando-a
Sorri ao ouvir tal coisa. Quem me dera que fosse verdade.
- E eu não te quero –sentei-me na cama - amor platónico não correspondido! –sorri e olhei-o
Agarrou a minha cara com as duas mãos e olhamo-nos nos olhos.
- Não sejas tontinha –sorriu
(...)
*Jack a narrar*
Horas passaram como se fossem minutos. Sempre ouvi dizer que quando estamos com quem gostamos tudo passa mais depressa e eu não podia estar mais de acordo. Estar com a Jennifer é sem dúvida das melhores coisas. Já contamos as novidades, já brincamos e zangamos, ela organizou a secretária e eu escrevo num papel que ela é uma idiota. Tem música no telemóvel e está deitada na cama. Faço um avião com o papel e atiro-lhe. Adoro a nossa relação pelo simples facto de poder ser eu mesmo sem ela me julgar. Reclama por ter levado com o avião, abre, sorri e volta a reclamar. Pousa o avião no chão, ao lado da cama e volta a deitar-se de barriga para baixo a olhar para parede vidrada.
Apesar de pouco, hoje voltou a chover, agora o céu tem nuvens e a lua está redonda e grande, estamos na fase de lua cheia.
- Jack, podes apagar a luz? –fala e olha para mim
- Vais ficar cheia de sono e depois rabugenta –apago a luz e deito-me ao lado dela
- Tu gostas na mesma de mim –fala e sorri. Põe-se de lado e eu ajeito-me atrás dela também de lado –olha lá para fora, a lua está tão bonita e podes ver as nuvens a passar por ela –fala pausadamente
(devem ouvir I Won't Give Up On Us- Jason Mraz, está no link externo)
Fiz o que me pediu. Estava uma linda noite. A lua iluminava o quarto, as nuvens passavam vagarosamente sobre a roda branca um pouco manchada e a Jen estava deitada à minha frente. Agarrei-a e sorri. Sorriu também. Ela é tão linda e detesta quando o digo. Continuamos a comentar o céu, escuro e manchado por nuvens ainda mais escuras, não se viam as estrelas, apenas a bonita lua. A luminosidade do quarto diminuía quando as nuvens passavam pela lua. A música era agora calma. Demos as mãos.
- Eu sabia que ias ser uma excelente pessoa, por isso é que te conheci –falou
- Sempre me pareceste ser mais do que mostravas e a minha curiosidade deu-me um grande bem –dei-lhe um beijo no ombro – tu!
Ambos sorrimos. A Jennifer louca também tem um lado calmo, mais que misteriosa, ela é especial. Novamente silêncio. Quebrei ao sussurrar-lhe a letra da música.
- I see that you're come so far, to be right where you are, how old is your soul?
- I won't give up on us, even if the skies get rough, I'm giving you all my love, I'm still looking up –sussurou em resposta
- And when you're needing your space, to do some navigating, I'll be here patiently waiting, to see what you find –sussurrei novamente e ela virou-se para mim a sorrir
Passou a mão pela minha barba e eu aproximei-me. Ela estava deitada de costas e eu, ao lado dela, tinha a cara frente a dela. Olhei-a nos olhos, olhava-me os lábios, olhei os lábios dela, vermelhos e meigos. Sentia a respiração da Jennifer na minha cara e a sua mão na minha nuca a acariciar-me. Estávamos em silêncio e desta vez não o queria quebrar. Os nossos narizes roçaram um no outro e Jen fechou os olhos. Parecia gostar tanto disto como eu. Passei os meus lábios nos dela. Macios. Desejei tanto este toque. A sua mão parou. Beijou-me de volta, um calmo e doce beijo. Ela queria tanto isto quanto eu. Retribui-lhe o beijo. Desejei tanto estes lábios. Acabamos a sorrir.
Abracei-a e a minha cabeça ficou no seu ombro, com a boca quase encostada ao seu pescoço. Arrepiou-se com a minha respiração. Sorri novamente.
Esta miúda tem um efeito em mim que nem eu consigo perceber.
Voltamos a posição anterior e olhamo-nos. Engoli em seco.
Espero não ter feito asneira.
- Desculpa Jen...-disse
- Eu gostei Jack –respondeu-me
Deitamo-nos lado a lado, de costas para a cama e a olhar o teto. A ouvir o final da música e a sorrir. Demos as mãos novamente e uma nova sensação invadiu-me. Tantas sensações em fracções de minuto. Amor, desejo, carinho, medo, paixão, borboletas. Começou outra música, Animals dos Maroon 5, particularmente diferente da anterior e ela riu-se. Num salto levantou-se, colocou-se de pé em cima da cama a fazer playback e a mão a fazer de microfone.
Jennifer, não podias ser um bocadinho normal?
Ela voltou a rir-se e por momentos pensei que tinha feito o comentário em voz alta.
Como eu te adoro, morena.
***
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