Playing Against Time | Bento...

By patxom4

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(+18) Ahri Aikyo possui uma incrível herança de família: uma máquina do tempo. Junto com a sua irmã, Ayumi, e... More

Palavras Iniciais da Autora
Prêmios
Cast
Playlist
Primeira Parte [Separador]
001. O Bracelete
002. Casa de Shows
003. Dia dos Namorados
004. Sinal Vermelho
005. Na Garagem
006. Casa Japonesa
007. Inconsciência
Segunda Parte [Separador]
008. A tal da "resenha"
009. Almoço pós festa
010. Brigados
011. Ciência e Teorias
012. Culpa do TCC
013. Traíra
014. Razões e Emoções
Terceira Parte [Separador]
015. Perrengues... Dos "Brabos"
016. "Free Bird"
017. Homens de Preto
018. Teste de Learjet
019. Fedor de Querosene
Quarta Parte [Separador]
021. Dilema Emocional
022. Desabafos
023. A resposta é "não"!
024. C(ensored) Temporal
025. Despedida
Quinta Parte [Separador]

020. Albert Einstein

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By patxom4

— Você não vai pausar por alguns minutos?

Ao voltar para o meu tempo ao entrar na casa da minha tia, acabei de deparando com uma Ayumi presa nos livros feito uma condenada. Ela se encontrava sentada no sofá da sala, usando os descansos de braços para fazer anotações no seu fichário enquanto estudava um livro de anatomia humana. Entretanto, ela tinha tantos livros para estudar ainda que eles praticamente tomavam conta de quase todo o tapete central.

Claro, essa era a medicina.

— Eu tenho que levantar uma pauta? — Essa frase dela me fez compreender que não, visivelmente a minha irmã não estava nada bem.

Sabe, a transição do Ensino Médio para a Faculdade sempre é desgastante, porque nós nunca estamos prontos para o que vem a seguir. Como o esperado por mim, assim como foi a minha vez, a Ayumi não estava sabendo filtrar essa informação muito bem. Mesmo que neste momento demonstrasse motivação, eu conhecia a garota com quem eu estava lidando: ela não conseguiria chegar a lugar algum estudando dessa forma. A minha irmã era produtiva quando estudava picado várias vezes ao dia, e quando se atrevia a tentar burlar os próprios limites, ela acabava ficando meio lelé da cuca — escutando coisas aleatórias ou falando coisas aleatórias, que era o que tinha acabado de acontecer.

— O que acha de irmos ao cinema daqui a pouco? — O meu intuito com esse convite não era apenas a persuadir, mas também passar alguns minutos do meu dia ao lado da Ayumi brava e rebelde que eu conhecia. Eu estava sentindo saudades de dar motivos para ela me xingar. — Eu ainda não sei o que tem em cartaz, mas a gente pode decidir juntas na hora.

— Eu não posso sair daqui a pouco e nem daqui a algumas horas — essa sua frase saiu em tom de corte. Ela não quis nem saber de mim. — Eu tenho uma prova semana que vem e sinto que não sei nada da matéria.

— E você também sabe que não é assim que você vai aprender — cortante também foi a minha fala, mesmo que não fosse essa a minha intenção inicial com ela. — Você sabe muito bem que não, estudar não é mais pregar a bunda na cadeira e ler vários livros. Você não é assim, não passou no vestibular usando essa estratégia porque sabe que ela não dá certo para você. Por que está fazendo isso consigo mesma?

Eu consegui trazer totalmente a sua atenção para mim. Dessa vez a minha caçula trazia no rosto uma expressão confusa, de quem havia acabado de tomar uma espécie de "choque de realidade".

— Você tem razão. Eu sou uma pessoa visual — dito isso, ela se ergueu e ajeitou a postura no sofá. — Eu tenho que assistir vídeos e ver na prática para aprender.

Eu sorri involuntariamente ao ouvi-la dizendo isso. Essa era a verdadeira essência de estudos da minha irmã.

— Você se conhece melhor do que ninguém, Ayumi. Não precisa ficar se cobrando tanto o tempo inteiro — para si, eu estendi a minha destra na sua direção e ela segurou a minha mão com força antes de largar suas canetas e papéis e fazer com que o seu olhar seguisse em direção ao meu. Eu aproveitei tal brecha para a puxar para um abraço forte, como um que eu não lhe dava a alguns dias. — Não fica extrapolando os seus limites o tempo inteiro. Eu já estive no seu lugar e sei que não é fácil, mas também não vai ficar mais fácil caso você continue fazendo isso.

— Eu deveria ter te pedido algumas dicas antes sobre como sobreviver à universidade — ao envolver os seus braços ao redor da minha cintura para me enlaçar mais forte ainda, ela repousou o seu queixo sobre um dos meus ombros. Nessa ocasião, aproveitei para acariciar o seu cabelo levemente. — Afinal, você é a mais velha e já é formada.

— Posso até ser a mais velha e a que já está formada, mas estamos em cursos e áreas totalmente diferentes, a única coisa que posso te dizer com convicção é para você ir no seu tempo e não esquecer de viver cada momento especial da experiência universitária. Isso vai te fazer muita falta no futuro, quando você se formar. Esquece isso de que você tem que dar conta de tudo ao mesmo tempo. Você vai reprovar em uma matéria cedo ou tarde, é unânime. Todo mundo tem que passar por essa frustração.

Ao escutar tudo o que eu disse, ela não respondeu mais nada em palavras, apenas balançou a cabeça ainda repousada no meu ombro em um sinal afirmativo. Ficamos mais alguns segundos em pleno silêncio. E confesso que, por mim, teríamos ficado ainda mais tempo por ali se ela não tivesse tido a brilhante ideia de quebrar o nosso singelo momento fofo com os seguintes dizeres:

— Você está fedendo querosene — só isso aqui foi o suficiente para eu me afastar dela o mais rápido que pude. Ao esticar os meus braços por cima de seus ombros, com as minhas mãos repousadas neles e portando uma expressão séria no meu rosto, pude perceber que a face dela estava, na verdade, confusa. Logo após me fitar nos olhos, perguntou: — Você estava trabalhando ou fazendo algum tipo de teste para começar em um novo emprego?

E a ninja Ayumi ataca novamente. Dessa vez, ela conseguiu me pegar totalmente desprevenida.

— Está tão na cara assim? — Eu a perguntei, e assim, aproveitei que já estava com o braço esticado para esticar um pouco mais para cima e dar uma cheirada em mim mesma. De fato, eu estava fedendo querosene.

Percebi a minha irmã dando de ombros na minha direção após ouvir a minha pergunta. Isso antes de me fazer uma interrogação, também:

— E você tem uma margem de quando vai sair o resultado?

— Pior que não — e foi neste momento que eu me lembrei de um ponto bem importante: durante a entrevista, eu de fato não havia perguntado ao moço que estava acompanhando a mim e ao Bento quando eu receberia uma resposta. Quando foi que eu comecei a ser tão desatenta assim? Eu não era desse jeito na faculdade. — Mas creio que na próxima semana eu já estarei fichada.

Eu esperava isso, pelo menos. Se desse certo, eu estaria dentro da empresa de Táxi Aéreo contratada pela assessoria dos meninos e junto do jatinho que eu estaria tentando impedir de cair futuramente! Isso era muita coisa. Seria um passo muito grande e muito bem dado para que o meu plano saísse como o planejado.

É, eu com certeza devo ter feito alguma cara muito óbvia depois da minha última fala. Isso porque, nos segundos que fiquei viajando na maionese em relação ao meu talvez futuro emprego, a minha irmã estava me encarando de uma forma como se fosse capaz de ler os meus pensamentos — vindo dela, eu não duvidava que estaria mesmo, mas enfim... Quando voltei a fixar o meu olhar sobre a minha caçula, eu pude ver claramente estampado na sua face que ela desconfiava da minha pessoa. Tal tese foi reforçada no exato momento em que ela abriu a boca e pronunciou as seguintes palavras:

— Não é em dois mil e vinte e três, né?

Sabe aquela pergunta que soa mais como se fosse uma afirmação? Sim, era exatamente essa. Ela não queria tirar a dúvida de que era nos anos dois mil. Ela simplesmente tinha a certeza de que aquela entrevista de emprego aconteceu nos anos noventa. E como vocês sabem tão perfeitamente quanto eu, queridos leitores, ela estava totalmente certa. Como sempre. Tudo o que me restou foi revirar rapidamente os meus olhos e negar com a cabeça, para ver se eu conseguia tapear ela de alguma forma. Infelizmente não deu certo.

— Ahri, você está ciente da merda que está fazendo? — Agora essa frase realmente me deu medo. Ela pronunciou isso de uma forma tão grosseira que mesmo que não tenha sequer se movido do seu lugar, eu senti como se ela estivesse me dando uma surra. — Você por acaso perdeu totalmente a noção do certo e do errado? Virou uma delinquente?

— E você sabe qual é o seu problema? — Ah, para. Me chamar de delinquente foi o cúmulo do ridículo. Confesso que isso me fez perder a paciência na hora e partir para cima dela com palavras, da mesma forma como ela estava tentando fazer comigo. — Você simplesmente não escuta o que os outros têm a dizer e sai tirando conclusões precipitadas! Por acaso me perguntou o que tem a ver uma coisa com a outra e por que eu fiz a entrevista de emprego lá?

Sim, eu consegui dar o troco à altura. Pela sua expressão de soberba ao cruzar os braços na frente do seu peito e me olhar de soslaio, eu tive a convicção de que não, ela não tinha sequer pensado quais teriam sido os meus motivos para comparecer àquele local de entrevista. Com certeza ela estava tentando disfarçar uma expressão de espanto ou até mesmo de derrota, ou sei lá, algo do tipo.

— Então diga quais foram as suas motivações — ela disse isso de uma forma bem... Como posso dizer... Irônica. Pelo seu tom, certamente estava duvidando que eu pudesse ter algum motivo plausível para ter feito aquilo. Felizmente eu tinha a minha resposta bem concreta na ponta da minha língua.

— Eu tenho o único objetivo de evitar o acidente, e você está ciente disso — foi uma afirmação, porém apesar disso, ela confirmou que realmente sabia fazendo um sinal positivo com a cabeça depois que eu falei essa primeira frase. — Então, Ayumi! Eu estava pensando inicialmente em apenas me testar, porém, quando cheguei no local, cheguei à conclusão de que seria de bom tom para o meu objetivo estar trabalhando no passado, já que o problema está no passado!

— E para isso você precisa fazer a burrada de se atolar de trabalho por lá? Apesar de parecer tentador o fato de que os anos noventa possui mais emprego, você não pensa que você pode arriscar a sua realidade em dois mil e vinte e dois se você inventar de construir toda uma segunda realidade por lá? — Indignada com o meu argumento, ela disse isso. Porém eu também estava indignada com algo. Dessa vez, estava com o fato de ela não ter ouvido a minha explicação completamente e ter saído julgando algo que não era verdade.

— Será que dá pra você calar a boca e me ouvir? — Sim, eu deixei que toda a minha raiva saísse e acabei aumentando o meu tom de voz com ela. Foi só assim que consegui fazer a Ayumi morder o canto esquerdo do seu lábio inferior e passar a me encarar com um semblante que não fosse de deboche, pelo menos. — Você acha mesmo que eu iria cair na cilada de arrumar um emprego lá se não fosse na porra da tal Madri Táxi Aéreo, a responsável pelo tal Learjet 25D que caiu com a banda em noventa e seis?

Tava aqui uma revelação que fez a minha irmã mudar a sua carranca em questão de segundos. Se mostrando chocada inicialmente, ela passou a ficar incomodada do nada e depois ficou visivelmente amedrontada. Se antes estava mordiscando levemente o seu lábio inferior, a partir daquele momento ela passou a morder com mais força do que antes. Ficou assim por alguns segundos, sem falar nada. Eu, por outro lado, estava começando a acalmar os nervos à flor da pele que a caçula conseguiu deixar anteriormente. Depois de respirar fundo duas vezes e pronta para me levantar, dar a meia volta e ir para o banheiro tomar um banho e depois relaxar um pouco, eu parei onde estava ao ser surpreendida pela voz da Ayumi.

— Ahri — sabe, o que me fez realmente olhar mais uma vez na direção dela foi o fato de eu ter percebido o seu tom embargado. Ao recair o meu olhar sobre a sua face, notei que ela estava com um olhar realmente amedrontado. O nosso contato visual se estendeu por alguns segundos, até o momento em que ela decidiu quebrar o gelo entre a gente e dizer bem pausadamente: — Eu fiz uma descoberta.

Assim como a minha revelação anterior pegou ela de surpresa, a sua também surtiu o mesmo efeito sobre mim. Que tipo de descoberta? Como ela tinha descoberto? E, o mais importante, como o que ela tinha para contar seria relevante para a minha missão no passado, tendo em vista que estávamos falando sobre isso até poucos minutos atrás? A Ayumi com certeza não mudaria de assunto tão repentinamente, a menos que o novo assunto tivesse algo a ver com o antigo.

Eu me virei completamente para ela mais uma vez. Agora a menina foi até o puff que fica ao lado da mesa central da sala e pegou o seu tablet que usava para estudar. Feito isso, ela o ligou, procurou por algum arquivo e o abriu. Antes de me mostrar, entretanto, ela me fitou nos olhos mais uma vez, parecendo receosa, e disse:

— Existe uma teoria que diz que, apesar de não ser impossível viajar no tempo, tudo o que se passou é intocável e inalterável — dito isso, o seu tablet foi estendido na minha direção e eu pude o pegar. Nele estava aberto um artigo que dizia mais a respeito dessa teoria que ela tinha acabado de citar. Tinha um nome específico: teoria da autocorreção. Enquanto eu lia atentamente o que estava escrito, a caçula enfiou o dedo no meio da tela e rolou todo o conteúdo para baixo. Ao chegar no final de todas as páginas, ela falou: — Einstein dizia, na Teoria da Relatividade, que era possível apenas viajar para o futuro. Sabemos hoje que isso não é verdade, e nós conseguimos provar que não é. Entretanto, Einstein era um cara enigmático. Eu tenho as minhas dúvidas de que ele sabia que era possível viajar ao passado, mas não queria vir a público falar isso.

Só para contextualizar, deixem-me explicar a lógica da Ayumi, começando pela teoria que eu disse o nome anteriormente. A autocorreção diz que, mesmo que seja alguma coisa de um jeito A, ela vai acontecer de um jeito B, porque o universo programou para que ela acontecesse dessa forma. Assim sendo, uma viagem ao passado não criaria um paradoxo no futuro, levando o futuro a acontecer dentro dos mesmos parâmetros planejados anteriormente. Essa teoria casa com a ideia da Ayumi de que o passado é intocável, porque se algo está destinado a acontecer, ele vai acontecer de uma forma ou de outra.

Sobre Einstein, o buraco é um pouco mais embaixo. Para entender, eu preciso que vocês pensem junto comigo.

Albert Einstein foi um Físico muito inteligente, isso é um fato. O segundo fato é que ele não contava tudo o que ele sabia para terceiros, o que, no meu ponto de vista, o fazia ficar ainda mais inteligente. Essa pauta levantada pela Ayumi sobre ele não falar publicamente sobre viagem no tempo ao passado fazia muito sentido quando analisamos o fato de que ele não poderia simplesmente afirmar que viajar para o futuro era possível e para o passado não. Certo, eu compreendo que essa parte pode ter ficado um pouco confusa, então vamos com calma.

De acordo com a Teoria da Relatividade, o tempo não passa da mesma forma para todo mundo. Para exemplificar isso, vamos pensar em um buraco negro intergaláctico. Ele possui uma imensa força gravitacional por ser originado a partir do colapso entre dois ou mais objetos gravitacionais, sendo, assim, capazes de sugar tudo o que tem ao seu redor. Um buraco negro intergaláctico vai sugar, por exemplo, as galáxias X, Y e Z. Entretanto, dentro da elipse que faz a trajetória até que tais galáxias cheguem ao centro do buraco, a galáxia X está mais próxima de chegar ao centro do que a Y, que está mais próxima do que a Z. Sendo assim, devido às distorções que o campo gravitacional do buraco negro causa nas três galáxias de forma diferente, a que está mais próxima do seu centro terá o seu tempo correndo mais rápido, contrário do que acontecerá com a que está mais distante. Aplicando essa teoria na nossa realidade de viagem no tempo, faria sentido associar a distorção do tempo com o tempo gasto para trocar de ano com o bracelete. De acordo com a lógica da minha caçula, que disse com todas as letras que achava que Einstein sabia da possibilidade de ir ao passado, eu imediatamente liguei o que eu entendi da fala dela com uma coisa que, a partir daquele momento, começou a batucar na minha cabeça.

— Está querendo insinuar que a Relatividade ficou pequena para o nosso bracelete e que o Einstein possivelmente previu que alguém que inventasse de viajar no tempo tendo como base a teoria que ele escreveu adivinharia o pensamento dele sobre o passado ser moldável? — Essa minha dúvida era super compatível com tudo o que foi dito e pensado anteriormente.

— Eu tenho certeza — vi a minha irmã cruzando seus braços na frente do próprio peito. — Albert Einstein sabia muito bem o que falava, Ahri. Se ele conseguiu previr um buraco negro em uma época que não tinha nem um porcento da tecnologia que se tem hoje, porque ele não pensaria sobre a viagem no tempo para o passado? A única explicação plausível que eu encontro é que ele sabia que ir ao passado não criaria um paradoxo para afetar o futuro.

Essa explicação dela fazia muito sentido. Talvez fosse por este motivo que eu e a minha irmã continuassemos levando a mesma vida, em teoria, que tínhamos antes de viajar no tempo. Talvez se parassemos de ir para os anos noventa, as coisas para a banda seguiriam o mesmo curso que estavam programadas para seguir antes de os conhecer pessoalmente.

— Agora presta atenção, loira — eu meio que me perdi nos meus pensamentos ao colocar em mente a hipótese que citei anteriormente. Fui despertar apenas quando a minha caçula falou comigo novamente, me fazendo voltar a minha atenção para si. — Você sabe me explicar porque os números três, seis e nove são tão importantes para o nosso bracelete funcionar?

— Nikola Tesla achava que esses eram os números que abriam espécies de portais para desvendarmos os maiores mistérios do mundo.

— E você conhece o Projeto Filadélfia muito bem, não conhece?

— Melhor do que você imagina.

Um experimento da Marinha estadunidense denominado de "Projeto Filadélfia" aconteceu na época da Segunda Guerra Mundial. Ele consistia em arranjar uma forma de deixar as tropas marítimas dos norte-americanos em questão invisíveis, para que pudessem atacar aliados da União Soviética sem levantar suspeitas e/ou deixar rastros. Sim, era uma ideia genial, embora possa parecer utópica para vocês que estão lendo. Entretanto, o que a minha irmã queria dizer era apenas um adendo: a base para o experimento do Projeto Filadélfia foi a teoria do três, seis e nove de Nikola Tesla, a mesma teoria que a minha família usou para conseguir encontrar um meio de viajar no tempo. Só até este ponto da conversa eu já pude deduzir mais ou menos aonde a Ayumi queria chegar. Mesmo assim, eu a esperei falar o que achava, para que as minhas suspeitas fossem confirmadas.

— Eu acho que a gente não pensou em um ponto antes de viajar no tempo, loira — Ayumi caminhou a passos lentos até o sofá da sala. Em seguida se sentou e se espreguiçou nele. — Vamos falar de fatos. Tendo em vista que mais da metade do nosso bracelete consiste no passo a passo que Tesla "ensinou" quando escreveu a teoria, com o passar do tempo, nós ficaremos semelhantes com os estadunidenses que foram as cobaias do governo. Como ficou a tropa do navio utilizado no experimento depois do experimento acontecer e dar errado?

Sabe o momento de um filme de ficção científica em que o gênio acaba de perceber que a resposta para o seu problema estava o tempo todo debaixo do seu nariz? Foi exatamente desse jeito que eu fiquei no exato momento em que ela terminou a sua linha de raciocínio. Não era atoa que a Ayumi passou vários minutos fazendo uma palestra particular para mim: ela realmente me fez pensar sobre algo que eu jamais imaginaria sozinha anteriormente. Acerca disso, eu a fitei com olhos ansiosos antes de voltar a encarar o seu tablet que se encontrava nas minhas mãos, ainda que eu estivesse quase que desnorteada de mim.

— Eles ficaram loucos — foi aqui que eu descobri que toda aquela conversa era, na verdade, um grande enigma. Um enigma que a minha caçula provavelmente não encontrou a resposta sozinha, mas que, naquele momento, eu a encontrei. Essa era a verdadeira prova de que nós duas éramos melhores quando trabalhávamos em conjunto. — Eles pagaram um preço por terem mexido com algo que estava além da nossa dimensão, que foi a loucura contínua.

Eu pude perceber pela expressão que ela fez neste momento que eu havia de lhe dar a peça que faltava para completar o seu quebra-cabeça. E para o meu, eu consegui concluir mais um ponto, que se encaixou perfeitamente no que eu pensei anteriormente:

— Ayumi, e se, na verdade, o nosso bracelete não for um instrumento de viagem no tempo, mas sim um transportador de dimensões? — Novamente, eu a fitei nos olhos. Dessa vez pude notar ela me encarando com um semblante de choque de realidade na sua face. — Tipo, faria sentido se continuássemos nessa dimensão e a teoria do paradoxo afetasse o nosso tempo. Entretanto, você pesquisou se eu consegui evitar o acidente dos meninos e o Google te mostrou que não. Se é assim, talvez não seja para essa mesma realidade que estamos indo.

Aqui, nessa parte, eu claramente consegui a deixar confusa, por mais que a minha teoria fizesse total sentido para mim. Bom, eu queria não acreditar nela, sendo sincera. Queria acreditar que eu estava lidando com um único Bento e que eu conseguiria salvar ele naquela realidade na qual eu pertencia. E eu tenho certeza que eu fiz uma cara de decepção muito óbvia neste momento, porque a minha caçula, que até então estava incrédula e me encarando enquanto eu teorizava, se levantou do seu lugar e veio em minha direção. Envolveu o seu braço direito ao redor dos meus ombros e me puxou para perto de si o bastante para colar os nossos corpos em um abraço aconchegante. Ficamos por alguns assim, até o momento em que ela optou por quebrar o gelo que reinou entre nós e dizer:

— Eu dou um voto para a teoria da autocorreção, para mim é a que faz mais sentido. Entretanto, eu tenho que admitir que realmente, por hora, precisamos manter as nossas opções em aberto — ela parecia um pouco robótica falando assim. Tipo... Não parecia a Ayumi otimista que eu conhecia. Sua cabeça deveria estar a mil. Bem, eu não falei nada logo após, o que lhe deu a brecha perfeita para que continuasse a dizer mais coisas. — Ahri, eu acho que só tem uma pessoa que pode ajudar a gente a desvendar este mistério: o próprio Bento.

— É verdade que ele é inteligente, mas por que você acha que só ele pode nos ajudar com isso? Por que não os nossos pais ou a tia Miyuki? Só por que o Bento é estudante de Física?

— Não, nada disso — neste momento ela olhou pra mim para responder. — É porque ele foi o gênio que compôs a música "Uma Arlinda Mulher" dos Mamonas. Você já parou para analisar a letra?

Neste momento a minha mente vagou por um imenso "puta que pariu". Eu tive vontade de gritar e apertar a minha irmã quando ela se lembrou desse detalhe importantíssimo.

"Uma Arlinda Mulher" era uma das minhas músicas favoritas da banda apenas pela passagem: "você foi agora a coisa mais importante que já aconteceu neste momento em toda a minha vida / um paradoxo do pretérito imperfeito complexo com a Teoria da Relatividade". Essa música simplesmente era genial não somente nesta estrofe, mas em todas. Se soubéssemos analisá-la corretamente, ela poderia ser a peça-chave que faltava para termos as respostas que tanto procurávamos sobre o bracelete.

Eu só não sabia que era o Bento quem tinha a composto. Saber a inspiração para a letra da música seria um passo importante a ser dado por mim e pela minha irmã, isso porque essa pista nos ajudaria a descobrir se estaríamos na nossa mesma dimensão ou em uma dimensão diferente quando viajamos no tempo. Por isso o Bento foi o indicado pela minha irmã para nos ajudar a desvendar este enigma. Ele não precisaria saber do bracelete, porque ele nos daria pistas sem saber do que realmente se trataria.

A Ayumi era um gênio. Eu não consegui me conter quando as ideias refrescaram na minha mente, logo larguei um beijão na bochecha dela neste momento, a irritando facilmente e a obrigando a me afastar de si.

— Se eu soubesse que você ficaria tão melosa, eu não teria nem tocado neste assunto, eca — não ligando para essa sua frase, eu tentei me aproximar dela novamente para lhe depositar mais beijos nas bochechas, porém a garota conseguiu desvencilhar da minha mira e me imobilizar por trás das costas, indignada com as minhas reações. — Você não consegue se controlar, não?

— É que eu estou feliz por você ser tão inteligente! Não posso?

— Poder, pode, mas não desse jeito nojento — por cima do meu ombro, eu a vi fazendo uma careta. — Isso não era tudo o que eu queria falar com você. Ainda tem mais uma coisa de outro assunto.

— Então se você me soltar, nós podemos conversar normalmente.

— Eu só vou te soltar se você se comportar como uma pessoa normal. Promete que não vai me agarrar?

Eu ia agarrar ela depois dessa nova conversa, sim, mas por hora eu preferi prometer que não iria apenas para ela deixar de me imobilizar. Os meus pulsos estavam começando a doer, inclusive.

— Pois bem — com o trato feito e eu novamente livre, ela pôde falar o que queria. — Eu andei pensando em uma coisa a respeito dos Mamonas e do acidente. Acho que você pode ter pensado alguma vez em tal hipótese, mas também acho que talvez a tenha descartado. Eu quero te dizer para repensar nela com bastante cuidado.

— Hipótese? — Sim, eu fiz uma cara de confusa para ela. — Que hipótese?

— A de um possível assassinato.

Em outras palavras, a de o acidente deles ter sido, possivelmente, planejado. Sim, eu havia pensado nisso anteriormente, e sim, eu realmente havia descartado a hipótese. Isto porque eu estudei o acidente a fundo. Mesmo que, no meu ponto de vista, não houvesse sentido o acidente ter acontecido espontaneamente, também eu não via sentido que ele fosse algo planejado.

— Mas os meninos não tinham motivos para serem mortos — ainda confusa, eu retruquei, e a resposta que eu recebi da Ayumi foi bastante imediata:

— Aí é que você se engana, Barbie girl. No ponto de vista da sociedade, o que mais tinha naquela época eram motivos para matarem eles.

Ela falou com tanta convicção de si que me fez querer entender quais motivos eram realmente aqueles, porque, de acordo com as minhas pesquisas anteriores, eles não existiam. Porém a minha caçula deve ter me lido quando eu pensei dessa forma, porque não demorou nem dois segundos para que ela respondesse:

— Hello? Terra chamando Ahri! — É, eu realmente viajei neste momento. Voltei a prestar atenção nela quando ela falou comigo dessa forma. — Você não parou pra pensar que os Mamonas surgiram muito rapidamente e já foram para o pedestal, desbancando todos os artistas mais importantes da época? — É, nisso ela tinha razão. — Além de tudo, o pessoal de direita odiava eles, e a família do Dinho sempre foi esquerdista e nunca fez nem questão de esconder isso! Você não se toca que pode ter dedo político no meio de tudo isso, não?

Cara, eu realmente não havia pensado por este lado anteriormente. Se bem que fazia muito sentido, porque, afinal, a gente estava vivendo no Brasil. Vocês, leitores brasileiros, sabem muito bem como as coisas funcionam por aqui quando o assunto a ser tratado é política. Existe uma rivalidade intermitente na nossa sociedade.

— Você tem razão — refletindo melhor sobre tal hipótese naquela hora, eu cheguei à conclusão de que eu realmente não deveria descartar ela sem antes averiguar os fatos. Mesmo que eu achasse pouco provável, estes pontos que Ayumi levantou eram demasiadamente interessantes para serem simplesmente jogados fora. — Estando dentro da Madri Táxi Aéreo, vai ser bem mais fácil para eu conseguir investigar isso.

— E eu sei que você vai encontrar o que realmente aconteceu naquela noite de dois de março. Você é, tipo, a maior gênio da aviação que eu já conheci em toda a minha vida.

— Sério? — Um elogio vindo da minha irmã? Confesso que aquilo me pegou bastante de surpresa. — Mais do que Santos Dumont?

— Não exagera, né? — Sua feição mudou repentinamente para a de alguém entediado, o que indicava que a caçula não havia me feito um elogio tão limpo assim, sem nenhuma pontada de ironia na voz. Eu deveria ter desconfiado antes. — Eu não conheci o Santos Dumont, mas se tivesse conhecido, o patamar da conversa seria outro!

Sabe aquela agarrada que eu fiquei de dar nela depois que ela me soltou? Pois é, eu a dei neste exato momento. Não pelo mesmo motivo de antes, mas apenas para que ela ficasse esperta comigo.

4966 palavras.

Oiiieeeee pessoinhas, como vocês estão? Eu estou ótima, graças ao bom Deus! Então, acabou que eu dei uma sumida (mais uma vez), né? É a faculdade, gente, e final de semestre sempre é uma benção para todos, não concordam? Bom, mas vamos falar de coisa boa? A Ahri bateu 7k de leituras, e é por isso que eu vim aqui atualizar mais um capítulo!!!! Eu posso até estar meio ausente, mas sempre estou dando uma entradinha no wattpad para conferir as boas novas. E sempre que acontece alguma coisa legal, eu faço um esforcinho para vir aqui atualizar um capítulo novo para vocês em comemoração. Agora, na próxima, provavelmente vai acontecer quando essa história aqui pegar 800 votos. Vamos fazer isso acontecer? Compartilhem muito com os seus amigos, porque essa meta não tá difícil de bater não, hein!! Beijinhos, se cuidem e até o próximo capítulo!! <3

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