Leite com Biscoitos | Jikook

By Hope_48

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Trabalhar durante a véspera de Natal deveria ser considerado um crime, porém Jeon Jungkook nunca ligou em tra... More

Leite com Biscoitos

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Mais uma vez atrasadas, perdoem a gente pãezinhos de mel e jovens padawans

Última oneshot de Natal

Vai ser no mesmo esquema que Sob o Visco. Tem presentinho, mas tem que bater a meta.

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Até a atualização de RED

Beijinhos e boas festas.

 "Neste Natal, que a reaproximação familiar seja o maior presente, abrindo caminho para a descoberta de novos prazeres e a renovação dos laços que nos unem."

Jungkook, cadê o relatório que eu te pedi?! Já faz 30 minutos!

Eu sinceramente acho que o que falta na vida do meu chefe, Kim Namjoon, é uma piroca bem graúda pra ele sentar! Porque não é possível que um ser humano bem comido seja tão filho da puta ao ponto de manter seus funcionários encarcerados até depois do expediente. Já formatei tantos documentos, questionários e relatórios que se alguém aparecer na minha frente me pedindo uma revisão, eu vou dar um grito tão histérico que será capaz de ser ouvido do Polo Norte!

— Já estou a caminho — digo entre dentes de trás da minha mesa, forçando um sorriso até o momento em que a cabeça dele volta para dentro de sua sala. — A caminho de me jogar de uma ponte.

— Só finaliza o que ele pediu e entrega, Jungkook — Seokjin, meu colega de mesa, se manifesta atrás de seu computador, rindo do meu desespero.

— O problema é que ele me pediu pra hoje um trabalho que eu faria em 3 semanas — suspiro, cansado, recostando-me na cadeira e esfregando os olhos, que já ardem após tanto tempo encarando uma tela. — Escravagista — xingo após me certificar de que meu chefe não está ouvindo.

— Faz o seguinte, me envia tudo o que já fez, que eu finalizo. — Jin deveria ser considerado um anjo na Terra.

Ele sempre foi tão solícito e gentil desde que chegou à empresa. Quando percebe algum colega precisando de ajuda, abre mão do próprio trabalho para ajudar. Queria ter esse tipo de altruísmo; quando sento nesta cadeira, não consigo pensar em mais nada a não ser no meu trabalho. Enquanto Seokjin ajuda, eu acumulo serviço para que nada fique menos do que perfeito. Isso já resultou em inúmeras broncas, pois me recuso a distribuir trabalho para pessoas que sei que não vão entregar um resultado satisfatório.

Se vão fazer mal feito, melhor que eu mesmo faça tudo bem feito.

— E eu vou ter que te dar aonde? — brinco. Ele sabe que não vou transar com ele, muito menos entregar o trabalho em suas mãos.

— Na escada de incêndio.

Rimos juntos da piada. Se não fosse por Kim Seokjin, eu já teria enlouquecido de vez aqui dentro. Arrumo a gravata, alinhando-a na gola da camisa e fecho o único botão do meu blazer.

— Não seria justo. Tenho mais de 10 páginas para formatar e revisar.

"Não seria justo". Até parece que essa é sua única desculpa pra não me deixar te ajudar — afina a voz para me imitar. Minha relação com meus arquivos é de extrema possessividade, como uma leoa com seus filhotes. Ninguém toca! — Quer fazer uma pausa pro café, então?

— Isso não seria nada mal.

— Eu preciso fumar também. — Espreguiça na cadeira, antes de se levantar.

— Isso vai acabar com o seu pulmão. — Estico meus braços até ouvir alguns ossos estalarem.

— Jeon Careta Jungkook. Eu tinha me esquecido do quão certinho você é. — Meu colega rola os olhos.

— Não sou tão certinho assim. — Cruzo os braços, levemente ofendido.

— Claro! E eu sou o Papai Noel. — Jin ergue a mão para bagunçar meu cabelo, mas eu logo o impeço.

— Não! Vai desarrumar.

— Chato! — reclama, fazendo um bico emburrado. — Esse seu cabelinho alinhado "vaca lambeu" não te favorece nem um pouco. Principalmente com esse terno "mamãe passa a minha roupa, por favor". Seu pau deve estar acumulando teia.

— Jin, por que você não vai se foder? — Mostro o dedo do meio.

— Eu vou mesmo. Tenho até hora marcada. — Pisca um dos olhos, sorrindo de um jeito cafajeste. — Já você deve estar há meses sem chupar uma rola. Sabia que porra faz bem pra pele?

Às vezes, tenho uma imensa vontade de socar esse idiota.

Mesmo irritado, junto-me a ele para irmos até o lounge, ouvindo-o insistentemente quase implorar de joelhos para que eu entregue meu trabalho a ele.

Assim que entrego a última pasta para Namjoon, ele me olha com aquela cara amarrada de cu sem prega de sempre. Com certeza é falta de pica. Porém, surpreendentemente sou dispensado do serviço. E não são nem 22h. É um recorde! Porém quase começo uma revolução quando descubro que Jin foi praticamente obrigado a ficar mais tempo para terminar sei lá o que.

Insisto para que ele me entregue ao menos metade, assim consigo fazer tudo de casa para quem sabe receber um bônus. E de quebra ainda consigo xingar nosso chefe sem o perigo de ser demitido. Com muito custo encho minha pasta com os documentos e dou um último aceno a ele. Pobre Seokjin, está tomando no cu no mal sentido.

Quando finalmente entro no meu carro para ir embora desse escritório — que mais parece uma prisão —, consigo respirar novamente. Meu celular está cheio de ligações perdidas que não pude atender. A caixa de recados está lotada. Enquanto dirijo rumo à saída do estacionamento, conecto o celular na multimídia para poupar tempo. Logo, começo a ouvir os recados. Todos da minha ex-mulher.

15h15:

— Oi, Jungkook! É a Lisa. Tá lembrado que prometeu passar o Natal com as crianças esse ano, não é?

Imediatamente o meu sangue gela, os olhos quase saltam para fora, minhas mãos suam no volante. Olho desesperadamente para o relógio no painel.

Hoje é dia 24 de Dezembro!

Puta que pariu! As crianças! Escuto o som de mais uma mensagem.

19h30:

— Jungkook, você está atrasado há uma hora! Cadê você? Prometeu vir buscá-los! Não vai me dizer que esqueceu.

Prometi?! Quando eu prometi isso? Há uma semana? Um mês? Um ano? Eu não me lembro! Será que foi algo que disse no automático? Soco o volante, xingando alto por toda a minha negligência e irresponsabilidade. E tudo piora quando escuto a última mensagem apitar da caixa postal.

21h25:

— O Yejun perguntou se você viria ou não, e eu disse que esteve ocupado arrumando a casa para o Natal. Sinceramente, Jungkook! A Yoona sabe que você esqueceu. Tenta pelo menos recompensá-los amanhã. Pode ser? Passo na sua casa às 10h.

Amanhã?! Às 10h?! Puta merda!

Levo a mão até a testa. Como pude esquecer? Fiquei tão atolado de trabalho nessas últimas semanas que sequer me recordei que amanhã é Natal. O primeiro natal que eu passaria sozinho com meus filhos 3 anos após o divórcio. Eu sou um idiota mesmo! Mereço o prêmio de pior pai do mundo.

Acelero até o shopping mais próximo, porém me arrependo profundamente ao ver o estacionamento lotado. Todos os corredores parecem uma selva, as lojas quase fechando, praticamente vazias de produtos. Eu nunca vou conseguir. Entro na primeira loja de brinquedos, sou empurrado por mães e pais selvagens, crianças chorando e vendedores desesperados. Com sorte uma vendedora percebe a confusão em minha expressão e vem tentar me ajudar.

— Procurando algo em específico, senhor?

Eu não sei o que responder. Do que eles gostam mesmo? Yoona vive no celular com fones de ouvidos que quase cobrem seu rosto, e não creio que acharei alguma loja de eletrônicos aberta a tempo. Yejun gosta de tudo, lembro de uma vez que ele me trouxe um caracol vivo com um brilho nos olhos, como se presenteia uma criança que gosta de tudo? Ele gosta do Batman! Ou seria do Homem Aranha? Acho que eu o vi vestindo uma camisa do Homem Aranha da última vez em que os vi. Faz quanto tempo mesmo? 3 meses?

— O que uma garota de 13 anos e um menino de 8 podem gostar?

Eu não tenho muitas opções. Afinal, a loja está para fechar e havia poucos brinquedos disponíveis. Com sorte, consigo uma bola de borracha do Homem Aranha e preciso brigar com uma senhorinha por uma Barbie feia. E põe feia nisso! Na embalagem está descrita como "Barbie Estranha". Eu, hein.

— Pode embalar pra presente? — pergunto sem graça ao notar a vendedora colocar os brinquedos direto na sacola.

— Desculpe, senhor, mas nosso papel acabou tem 2 horas. Sinto muito. — Seu olhar para mim é cheio de pena, provavelmente não consegui esconder a expressão de frustração.

No fundo, sinto que mereço isso. É o preço que pago por ser tão relapso. Meus próprios filhos. Como pude fazer isso com eles?

Perto de casa consigo dar a sorte de encontrar um mercado aberto, mas como previsto não encontro muitas opções para montar uma ceia minimamente aceitável. Um peru minúsculo, batatas ridiculamente pequenas, um chocotone murcho e algumas frutas escuras. Pior pai, mas o melhor em pechinchar preços justos. Quem eu estou tentando enganar? Até mesmo um morador de rua jogaria essa comida na minha cara.

Não sei o que é mais patético: encontrar a casa em um completo caos, lotada de papéis, roupas e embalagens espalhadas, ou saber que terei que arrumar tudo e decorar decentemente até a hora das crianças chegarem. São 23h; tenho até as 10h de amanhã. Só um milagre para fazer com que tudo dê certo.

Deixo minha pasta com os relatórios em cima da mesa e as compras na geladeira. Quase morro de crise alérgica ao desenterrar a decoração de Natal das caixas soterradas no sótão. A árvore está toda torta e retorcida por ter sido guardada de forma errada; algumas bolinhas estão rachadas e até sem pintura, a estrela está completamente amassada, o pisca-pisca todo embolado. Levará horas para desembaraçar. Eu estou muito fodido.

Enquanto tento montar a árvore — e falho miseravelmente —, meu celular vibra no bolso. Meu sangue gela novamente ao notar que é Lisa. Com dificuldade, atendo do jeito mais patético e humilhante que consigo, apoiando-o no ombro já que minhas mãos estão ocupadas com os arames da árvore.

— Lisa! — Tento soar alegre, como se tudo estivesse às mil maravilhas. — O-oi... eu...

Esqueceu, não foi? — Às vezes eu esqueço que essa mulher me conhece tão bem que é impossível esconder qualquer coisa dela.

— É que... — Nem sei por que ainda me dou ao trabalho de tentar arrumar uma desculpa para a minha negligência. Ela sempre sabe a verdade.

Deixa eu adivinhar. Ficou atolado de trabalho. De novo. — Ouço-a suspirar frustrada. — No aniversário do Yejun, foi a mesma coisa.

— Fala pras crianças que eu sinto muito. Mas eu prometo que vou compensar isso.

Assim como prometeu compensar por não ter ido ao jogo de futebol da Yoona? Em nenhum deles nos últimos anos, na verdade. Jungkook, não faça promessas que não pode cumprir. Só vai acabar alimentando falsas esperanças e frustrar ainda mais o coraçãozinho deles. É melhor parar de tentar arranjar tantas desculpas e assumir de uma vez que não quer ficar com eles.

— E-eu quero! É claro que eu quero! Eu só...

Só não pode? Não tem tempo? Eu entendo que trabalha muito... mas seria bom colocar seus filhos como prioridade de vez em quando, não acha? O Yejun te adora e a Yoona sente tanto a sua falta. — Escuto uma movimentação do outro lado da linha e reconheço uma voz mais aguda.

Mãe, já avisou que não quero ir? — Sinto um aperto no peito ao ouvir a voz de minha filha. — Por que a gente não pode ficar com você e a Jennie? A casa dela é tão mais maneira! E ela é tão legal! E os cachorros dela são muito fofos, soube que o Bud e a Lassie tiveram filhotes. Filhotes, mãe!

Reviro os olhos ao ouvir esse nome. Jennie, a namorada da minha ex e uma das minhas maiores dores de cabeça em relação aos meus filhos. Yoona é louca por ela, acha tudo o que ela faz super "maneiro". Yeju diz que ela parece uma estrela do rock. Ela é o tipo de pessoa super "good vibes" e alternativa, que acredita em energias do Universo, anda descalça no jardim de casa, tem uma horta orgânica cheia de ervas medicinais, sabe tirar tarô e fazer a saudação ao Sol. Particularmente, acho estranho e sei bem que tipo de "erva" ela cultiva na horta dela. Mas eles a adoram e eu não poderia me sentir mais humilhado em relação a isso. É uma grande facada no coração saber que seus filhos acham a namorada descolada da sua ex-mulher muito mais legal que você.

E ela nem é tão legal assim. Ter cabelo cor de rosa, um piercing no septo e um braço inteiro fechado de tatuagens não torna uma pessoa "legal". Eu também sou muito legal. Tá, eu não sou dono de um estúdio super descolado de tatuagem e piercing. E não, eu também não tenho uma casa grande com um monte de cachorros resgatados da rua, nem organizo uma feirinha de adoção todo Natal. Mas eu trabalho como gerente administrativo em uma firma de seguros, o que é bem legal. Seu carro bateu? O cano estourou? A cozinha pegou fogo? É só falar com o Jeon aqui.

E ter uma piscina e um campo de futebol não torna uma casa tão maneira assim! Eu também tenho piscina, só tá... suja e vazia. Mas nada que uma boa limpeza não resolva e o gramado depois de aparado dá pra jogar algumas partidas. E daí que a casa dela tem três andares e mais quartos do que precisa para uma pessoa solteira. E cachorros? Sério? Tá, não posso competir com os cachorros; principalmente filhotes. Mas o resto...

Yoona, já conversamos sobre isso. Os dois vão passar esse Natal com o pai de vocês.

Como se ele quisesse estar com a gente. — Meu coração quebra com palavras tão duras, e o pior de tudo é não poder me defender; porque ela está certa em se sentir desse jeito. — Deveria parar de alimentar as expectativas do Yejun, daqui a pouco ele entende o que o Jungkook não tem tempo pra gente.

Deixo a árvore de Natal cair no chão, então seguro o celular direito, prestando mais atenção. Ouvir minha filha me chamando pelo nome é a sensação mais dolorosa que já experimentei. Eu tento me lembrar qual foi o exato ponto da vida em que eu e meus filhos começamos a nos afastar. Às vezes, penso que foi culpa do divórcio, mas eu já estava ausente muito antes disso. As coisas costumavam ser mais fáceis quando Yoona era criança.

— O que foi que eu já disse sobre chamar seu pai dessa forma? E não é bem assim, meu bem. Sabe que ele ama vocês.

Esse sentimento ruim parece me corroer por dentro. Amo meus filhos, mais do que tudo no mundo. Mas sinto que meu vício em trabalho ocupa tanto minha cabeça que acabo deixando muito a desejar como pai. Odeio isso. Eu só queria ter mais tempo ou menos afazeres.

Bem que o dia poderia ter mais algumas horas.

— Ele tá sempre ocupado, mãe! Da última vez, ele trabalhou o dia todo e quando saiu com a gente deu de cara com a pizza de tão cansado. Pelo menos o Yejun achou engraçado. — O que mais me incomoda é o jeito natural em como Yoona diz isso, como se não fosse nada demais. Sou um estranho pra ela, não posso negar.

Já está decidido mocinha. Agora, pra cama. Quer falar com seu pai? Desejar uma boa noite pra ele?

— Não. Já vou ver ele amanhã o dia inteiro mesmo.

Escuto passos fortes se afastarem e um suspiro frustrado da minha ex-mulher.

— Sabe que esta será sua última chance de conseguir se redimir com ela, não é? Yoona não tem mais 6 anos, Jungkook. Uma Barbie qualquer não vai te reaproximar dela.

Olho para a boneca que comprei às pressas, xingando-me internamente.

— Eu sei — solto o ar completamente desolado.

Eu sei que você tá tentando, Jungkook. Os últimos anos têm sido difíceis para nós dois. Mas você tem que dar um jeito na sua vida e decidir as suas prioridades. A Yoona sente tanto a sua falta. Foi você que ensinou ela a jogar futebol, lembra? E o Yejun te idolatra demais; não deixe o brilho que ele tem no olhar por você se apagar também. Te peço isso pelo seu futuro com seus filhos. Eles precisam do pai. Precisam de você. Até amanhã.

— Até...

A ligação se encerra, mas eu continuo parado no mesmo lugar, atônito.

Lisa não é aquele tipo de ex-esposa insuportável, ela é justa. Não posso tirar sua razão em relação às minhas atitudes, suas cobranças são viáveis e certas. Na verdade ela é uma mulher incrível e sempre fez de tudo e mais um pouco pelos nossos filhos. Ela é o tipo de mãe que seria capaz de incendiar uma cidade inteira se fosse para o bem de Yejun e Yoona. Em relação a isso, eu a invejo. Por que não consigo ser um pai decente.

Deixo meu corpo escorregar até o sofá, puxando os fios, automaticamente bagunçando meu cabelo. Olho os dois presentes patéticos embaixo da árvore capenga, perguntando-me onde foi que tudo começou a dar errado.

Sei que foi antes do divórcio, talvez quando consegui uma posição melhor na empresa e, com a ambição de querer mais e mais, acabei esquecendo do que realmente era importante. Eu realmente amei a Lisa. Mas, o casamento foi esfriando porque eu não tinha mais tempo para investir em nós; éramos mais colegas de apartamento do que um casal. Com tanto trabalho, eu mal via meus filhos, e quando sobrava um pouco de tempo para passar com eles, sentia-me exausto e enfadado.

Agora, tenho que lidar com as consequências das minhas escolhas. Eu escolhi ser um péssimo pai. Mas a pior parte é ver meus filhos sofrendo pela minha negligência. Eles não merecem isso. Mesmo que nada esteja digno de um pedido de desculpas, vou me esforçar para tornar esta casa digna de um Natal perfeito.

...

E assim sua casa estará pronta para o Natal.

Se eu soubesse que minha relação com meus filhos dependeria de um tutorial do YouTube, com certeza teria tentado cometer suícido antes. Isso está patético.

Desde quando encher a casa com essência de panetone faz com que a magia floresça? Eu odeio aquele bolo de frutas cristalizadas, não existe nada mais sem graça e deprimente do que aquilo; a não ser a minha vida. Prefiro mil vezes rabanadas, mas pelo meu próprio bem não vou encostar em nada que envolva fritura. Posso trabalhar em uma empresa de seguro, mas não é como se eu quisesse colocar em prática os meus serviços faltando horas para os meus filhos chegarem.

E sinceramente, precisa mesmo de um peru, chester, tender, bacalhau e pernil para uma ceia? Eu teria comida para o ano inteiro. Sem contar que lembro-me vagamente que Yoona não gosta de peixe e Yejun é alérgico a carne de porco. Não sou como a Jennie que todo final de ano faz uma ceia com comida suficiente para alimentar um batalhão e distribui para moradores de rua. Tá, isso realmente é algo legal.

Também não é como se eu fosse conseguir arranjar essa penca de comida de última hora, tenho que agradecer de pés juntos por ter achado um mercado aberto. Eu juro que tentei o meu máximo. Joguei fora todas as bolas quebradas e feias; pendurei o pisca-pisca perto da lareira, porém ao ligar ele decidiu que só funcionaria metade das luzes; temperei e assei o peru e improvisei um purê com as batatas.

Porém, não contava que meus dotes culinários — inexistentes — estavam péssimos ultimamente e não soube administrar bem o tempo, resultando em uma ave extremamente queimada e o purê de batatas mais salgado que já provei. O que esperar de alguém que vive de macarrão instantâneo e comida congelada? A única coisa que ficou aceitável foi uma fornada de biscoitos com gotas de chocolate, ao menos isso consegui fazer corretamente.

É a pior ceia de Natal que já vi na vida, mas tentei tirar o maior proveito de tudo. Em cada processo pensei em meus filhos e como a partir de agora quero que as coisas mudem drasticamente. Mas Lisa está certa, esta é minha última chance e só de olhar ao meu redor sei que já perdi tudo. Eu sou um desastre ambulante.

De banho tomado não consigo tirar os olhos do teto ao deitar na cama, pensando na pior reação que eles terão assim que adentrarem pela porta. Eu sei que não mereço o afeto deles depois de anos de descaso. Mas manterei minha cabeça erguida e correrei atrás do prejuízo, custe o que custar.

🥛🍪

A cidade onde moro é conhecida por ser uma das mais seguras do país, mas isso não anula possíveis assaltos; principalmente se sua casa tiver lareira, ou seja, fácil acesso para alguém entrar. É ao ouvir algo se quebrando no andar de baixo que desperto de vez do meu sono. Olho para o relógio digital na mesa de cabeceira; os números marcam 03h00. Já é Natal e de presente recebo um belo susto e paranóia de que há alguém tentando invadir minha casa. Primeiramente fico esperando mais algum som e quando não escuto volto a deitar a cabeça no travesseiro.

Porém, me levanto em um sobressalto quando escuto um barulho ainda mais alto. Eu sou graduado em filmes de terror slasher e sei que a coisa mais burra a se fazer é ir atrás do barulho aterrorizante estando sozinho. Porém, assim como todos os protagonistas desse gênero, eu sou pateticamente imbecil. Então, o que eu faço? Exatamente! Achei que seria uma ótima ideia me armar com um taco de beisebol — que eu não sei usar — e ir investigar. Me sinto a própria Drew Barrymore em "Pânico". Agora só falta levar uma facada do Ghostface em pleno Natal.

Com a arma em minhas mãos, que possuem os mesmos tremores de um chihuahua assustado, tento descer as escadas discretamente. Isso mesmo, tento, porque cada um dos degraus range a cada passo que dou. Com toda a certeza, o invasor — que eu rezo para ser apenas uma gangue de guaxinins — já sabe que estou à espreita. Eu seria um ótimo protagonista de slasher. A Jenna Ortega que se cuide na próxima sequência de "Pânico", pois vou roubar o papel dela.

O barulho vem da sala, então vou me esgueirando pela parede até ter uma visão melhor do que pode estar acontecendo. E puta que pariu!

Eu nunca vi uma silhueta tão grande em toda a minha vida! Posso até dizer que quanto mais eu olho mais ela parece se expandir. Reconheço 4 pares de chifres na escuridão, que esbarram nas prateleiras, derrubando tudo. Ele emite grunhidos e rosnados estranhos e aterrorizantes, que ecoam pela sala, semelhantes aos de um crocodilo. Ou seria um leão? Não sei. Só sei que é o som de uma criatura feroz, enorme e assustadora. Aquilo é uma cauda serpenteando de um lado para o outro como se fosse uma cobra? Ai caralho, acho que me borrei!

Ao me aproximar devagar, os meus olhos dobram de tamanho, meu coração dispara, a boca seca se abre em um grito mudo, o ar fica preso nos pulmões, o frio sobe pela espinha e o corpo treme ainda mais. E o pior de tudo é que perco muito tempo assustado com a figura da criatura, que acaba sentindo — de alguma forma — a minha presença. E no momento em que ela vira na minha direção, aquele par de olhos vermelhos vibrantes fixa-se em mim. E assim, sinto minha alma deixar o meu corpo.

Gostaria de dizer que a minha primeira reação foi avançar com toda a coragem que existe dentro de mim, mas eu estaria mentindo. Pois, o grito agudo — nenhum pouco másculo —, que rasga a minha garganta é digno de um oscar. A minha segunda reação foi bater, só porque lembrei que tinha um taco de beisebol na mão, se não tinha ido com Deus.

E eu bato mesmo, sem dó! Fecho até um dos olhos para não me arrepender de estar metendo a porrada em uma criatura que com certeza vai me mandar direto para o Inferno. Atinjo-o tantas vezes que se eu não estivesse me mijando de medo, poderia até sentir pena.

— Ai! Calma aí! Calma aí! — Diz a criatura, com uma voz um tanto familiar. Na verdade, é uma voz muito doce e afável para um ser tão gigantesco e monstruoso.

Acabo congelando no lugar, pois não posso acreditar no que meus olhos veem. O tamanho do ser diminui drasticamente, ficando um pouco mais alto que eu; sua fisionomia começa mudar, tornando-se mais humana, sumindo com os chifres e a cauda. A luz da Lua fica mais intensa do lado de fora e invade o cômodo, revelando sua "nova" aparência.

Minha expressão torna-se mais chocada ainda quando me deparo com a pessoa que está à minha frente agora.

— Jimin?! — Mais um grito sai do fundo da minha garganta.

— É. Pode me chamar assim. Se quiser. — Ele sorri de um jeito sedutor.

— Como entrou aqui?! — Ameaço mais uma vez com o taco, ainda tremendo tanto pelo medo quanto pelo vento gélido que invade a casa repentinamente.

— Não é um pouco óbvio? — Indica a lareira com a cabeça. Mais uma onda de tremores atinge meu corpo ao sentir outra rajada de ar gelado adentrar no meu pijama, me fazendo bater os dentes. — Eu sinto muito por isso, sempre acabo trazendo o ar do Polo Norte comigo — explica, seguido de uma risada. — Essa sala está tão escura e fria, não acha? Vamos iluminar um pouco. — Com um estalar de dedos, as poucas luzes funcionando do pisca-pisca acendem juntamente a lareira.

Agora que ele mencionou, realmente está frio. O que não faz muito sentido, já que nessa época do ano as temperaturas costumam ser bem intensas de calor. O que ele quer dizer com trazer o ar do Polo Norte consigo?

— Nossa! Acho que eu preferia o escuro. — Seu olhar julgador varre minha sala. Indo primeiro da árvore com os presentes, até a decoração, as luzes, e quando chega na mesa de jantar só falta rir de deboche. Porém, arregala os olhos assim que vê a bandeja de biscoitos disposta na mesinha de centro. — Uh! Lanchinho.

Agora, com a luz da lareira, consigo observá-lo melhor. É ele mesmo! Os mesmos lábios cheios, bochechas rosadas, nariz esculpido, cabelos loiros e olhos amendoados. Porém, seu cabelo está bem mais claro; na verdade, branco como neve. Os olhos são de um vermelho tão intenso que parecem lentes de contato. Além disso, ele possui bigode e cavanhaque brancos, assim como o cabelo.

Suas roupas são um detalhe a parte, que me deixam boquiaberto. O Jimin que eu conheci costumava usar roupas largas em tons claros. Porém, as que ele está usando agora parecem um tipo de fantasia de Papai Noel sexy. Coturnos tratorados que facilmente esmagariam meu crânio, calça vermelha com suspensórios verdes e um sobretudo também vermelho com alguns detalhes brancos, um gorro da mesma cor com um pompom na ponta.

Mas a parte que mais me choca é o fato dele não estar usando camisa! Seu peitoral inchado e o abdômen extremamente definido está completamente exposto, apenas com os suspensórios sobre os ombros. Consigo contar cada um dos gomos levemente saltados, descendo até o osso da bacia, que desaparece no cós de sua calça, onde posso ver certo volume.

— Os meus olhos estão aqui em cima, bonitão. — Sua voz me desperta do transe e eu agradeço, pois estava quase babando.

Balanço a cabeça e volto a encarar seu rosto. Será que ele me viu babando? Ainda não creio que Park Jimin está na sala da minha casa fantasiado de gogo boy de Natal enquanto devora os biscoitos que fiz para meus filhos. E o mais espantoso de tudo: ele ainda continua jovem!

— Como está com o mesmo rosto depois de 15 anos? — pergunto, apontando o taco para ele.

— Abaixe isso antes que se machuque, meu bem. — Com o dedo indicador, ele direciona a ponta do taco para o lado. Seus olhos escarlates inebriam minha mente, mal consigo raciocinar direito. Ele se joga na poltrona e cruza uma das pernas sobre a outra, enquanto continua devorando os biscoitos. — Digamos que... eu não sou o Park Jimin que você conheceu na faculdade.

— Tá trabalhando como prostituto agora?! — suponho, ainda espantado. Jimin era tão tímido na faculdade. Como pode ter saído de um garoto gentil e adorável para essa montanha de músculos sexy? — Um dos seus clientes tem algum fetiche estranho no Papai Noel? Olha cara, nada contra com esse tipo de trabalho, mas você entrou na casa errada.

— Puta que pariu, isso vai ser difícil — Ele suspira, seus dedos apertam a ponte dos olhos. — Olha, eu não sou humano.

Eu encaro as íris vermelhas por uns dois segundos e pisco, incrédulo. Ele só pode estar sob efeito de drogas. Como resposta, acerto uma tacada em sua nuca.

— Sai daqui, capeta!

— Ai! Para com isso! — Ele reclama, mas eu continuo batendo sem parar.

— Eu vou chamar a polícia, seu maluco!

— PARA DE FAZER ISSO! — Dessa vez, sua voz sai grossa, metálica e obscura; para não dizer demoníaca. Seus olhos brilham como chamas, o que faz minhas pernas virarem gelatina. Mas tão rápido quanto ficou com raiva, sua expressão suaviza e solta um pigarro. — Desculpe. Acabei me excedendo. Vamos nos livrar disso antes que você queira arranjar confusão comigo. — Sua mão agarra o taco, que imediatamente desaparece, deixando para trás um rastro de neve. — Prontinho. Bem melhor. Que tal começarmos de novo?

— Quem é você?!

— Tenho muitos nomes, xuxu. Papai Noel, Santa Claus, Nicolau, São Nicolau, Bom Velhinho, Velho Noel, Klaus, Norte, Daddy, Ladrão. — Ele ri sexy. — Ah, e o meu favorito: Krampus.

— Krampus? — Franzo o cenho, tentando entender. — O demônio do Natal?

— Os europeus não se dão bem com chifres e eu tenho quatro. Você viu e ficou apavorado. — Ele volta a encher a boca com mais biscoitos, enquanto ainda estou atônito com tantas informações.

Isso porque eu não bebo. Imagina se eu estivesse de ressaca? Ou com o sangue cheio de droga? Deve ser o sono! Estou delirando. Lisa sempre me alertou sobre burnout. Será que alucinações estranhas com um Papai Noel sexy são sintomas?

— Então, vo-você... é o... Você é o Papai Noel? Tipo... o verdadeiro? Você existe?!

— Eu estou bem aqui na sua frente, não estou?

— Eu só posso estar ficando maluco. — Atônito e completamente em choque, deixo meu corpo cair no sofá, próximo à poltrona, onde ele continua atacando os biscoitos, que parecem não ter fim.

É um sonho! Provavelmente estou sonâmbulo e vou acordar amanhã no meio da sala! Que maravilha!

— Isso não é um sonho, xuxu. — Sinto seu olhar me queimar. Uma sensação estranha inunda meu corpo, como se estivesse prestes a incendiar.

Pisco os olhos em meio a confusão, reconhecendo um brilho devasso naquele vermelho, acompanhado de um sorriso sádico e provocante. Quando me dou conta de suas palavras fico perplexo.

— Mas... eu não disse...

— Não precisa dizer nada. Eu sei o que está pensando. É um dos meus "poderes". Posso ler seus pensamentos e desejos.

— Tá, me explica uma coisa. — Ajeito-me no sofá, para chegar mais perto e observá-lo melhor. — Se você é o... o Papai Noel... o que caralhos está fazendo na minha sala às 03h00 da manhã?

— Estou aqui porque a sua criança interior precisava de mim. Não sou apenas o cara que entrega presentes e come biscoitos. Eu, Jeon Jungkook, sou o Espírito do Natal.

— E por que o Espírito do Natal se parece com Park Jimin?

— Bom, isso meio que é culpa sua. — Ele coça a nuca e se serve de mais um biscoito.

— Minha?! — exclamo, surpreso. — O que eu tenho a ver com isso?

— Tudo, xuxu. Eu me manifesto conforme os desejos mais profundos das pessoas. No seu caso, reprimidos. E esta noite você estava tendo um sonho erótico com Park Jimin, seu crush da faculdade que você nunca teve coragem de chupar o pa...

— Eu entendi! — interrompo antes que ele termine. Já tive humilhações o suficiente por hoje. — Entendi.

— Que deprimente. Dá até pra sentir o seu arrependimento de não ter dado um beijo na boca dele naquela festa de calouros. Tudo isso porque você se achava... "hétero". — Ele faz aspas com os dedos, rindo alto da minha cara. — Imagine só o rumo que sua vida poderia ter tomado se tivesse coragem de se arriscar. Mas, não! Você tinha medo demais. O que sua família iria pensar? O que sua mãe iria dizer? Como seu pai iria reagir? Agora, olha só pra você. Um gay frustrado de quase 40 anos que já não transa há um bom tempo. Valeu a pena se reprimir tanto só para agradar os outros, Jungkook? A única coisa boa que eu posso garantir que saiu dessa sua confusão sexual foram seus filhos e mesmo assim olha aonde isso foi parar.

Que legal! Mais humilhação gratuita.

— Como você sabe tanto sobre mim? — pergunto, curioso e assustado.

— Eu sei tudo o que há para saber sobre você, xuxu. Te conheço desde criança, até apareci pra você uma vez. — ri, nostálgico, como se fossemos amigos íntimos. — Acho que você tinha uns 8 anos, a idade que o seu filho tem hoje.

— Eu achei que tivesse sido um sonho — sussurro mais para mim mesmo.

— Todas as crianças acham. Se me lembro bem, naquela noite, você me disse que sempre quis ganhar um cachorrinho de Natal. Pena que seus pais nunca deixaram.

Era o meu maior sonho adotar um cachorrinho quando mais novo, mas sempre que o assunto entrava em pauta meus pais inventavam uma desculpa diferente. Casa pequena; muita bagunça; latidos; xixi, cocô e pelos por todo lado; veterinário; vacinas; passear e última que acabou de uma vez por todas com a insistência:

— Mamãe disse que eu era alérgico.

— Mamãe mentiu pra você. — Jimin sorri de lado, como se acabasse de relevar o maior segredo de todos. — Você nunca foi alérgico, seus pais apenas não queriam um cachorro bagunçando a casa. Naquele Natal, seu pai te deu uma luva de beisebol e você odiou. Sempre odiou beisebol.

— Naquela noite... o Papai Noel me abraçou. Tinha um cheiro doce. E não se parecia com Park Jimin.

Lembro-me perfeitamente daquele cheiro, nunca consegui esquecer: alcaçuz.

— Naquela época você não conhecia Park Jimin. O pequeno Jeon Jungkook de 8 anos imaginava o Papai Noel como aquele velho gordo e barbudo estampado na lata de Coca-Cola. Então me manifestei da forma como você me imaginava.

— Ainda não explicou o porquê de estar vestido como um gogo boy.

Eu queria poder dizer que suas roupas não me afetam, mas meus olhos sempre recaem no abdômen exposto e uma vontade quase incontrolável de lamber me possui. Parece que algo me atrai como imã até ele, mas uma parte sã me mantém controlado de não falar ou fazer nada inapropriado. Como se o lado selvagem quisesse sair do controle e a razão está segurando a corda bem firme.

— Bom, conforme você foi crescendo, digamos que os seus sonhos e fantasias foram ficando mais... quentes. Se é que me entende. — Pisca um dos olhos, com o mesmo sorriso cafajeste. — Parece que as roupas que usam naquela confeitaria pornô no centro te deixam bem animadinho. A melhor coisa que fizeram foi abrir uma franquia dela no país inteiro. Em algumas filiais os funcionários até usam fantasias sexys temáticas de Natal. Nunca me senti tão bem representado.

Sinto minhas bochechas esquentarem e escuto um riso soprado no momento em que cruzo as pernas para disfarçar meu embaraço hormonal.

— E por que você está aqui? Vai realizar algum desejo meu? Me ensinar alguma lição que nem naqueles filmes bobos de Natal?

— Você quer que eu realize seus desejos? — Ele se inclina mais para frente na poltrona. Agora seu rosto está próximo ao meu.

— Ah... — Perco as palavras ao sentir o calor da sua aproximação, juntamente com borboletas no estômago.

— Se bem que eu acho que você realmente precisa aprender algumas lições. — Solto o ar quando ele volta a se recostar na poltrona, com as mãos atrás da cabeça. — Na verdade, é por isso que eu estou aqui. Para te ajudar a dar um jeito na sua vida.

— Mas não há nada de errado com a minha vida.

Quem eu quero enganar? Minha vida é uma merda.

— Sei. E eu sou o Coelho da Páscoa. — Dada as circunstâncias dos acontecimentos, não sei se posso rir de sua piada sem graça. Vai que a merda desse coelho é real e brota na minha sala pelado com rabinho, orelha e uma cestinha de ovos decorados, com os dele no meio. — Olha só à sua volta, Jeon. Olha só pra você. Está mais do que claro que você não é feliz.

— Mas, eu sou...

— Não é, não. Você acorda todo dia às 6h e toma o mesmo café amargo, embora deteste cafeína. Veste sempre o mesmo terno engomadinho com uma gravata bem alinhadinha — ri ao olhar na minha direção. — Quando você era criança dizia que nunca usaria gravata porque parecia uma coleira. Lembra disso?

Sua sobrancelha levanta em expectativa, e assim eu volto no tempo até aquele garotinho que almejava ser astronauta e acreditava que todos os seus sonhos tornaram-se realidade.

— Sério, se aquele garotinho te visse agora, iria rir da sua cara, principalmente do seu cabelo. — Ele estica o braço e passa a mão na minha cabeça, bagunçando os fios ainda mais. — Você sempre penteia do mesmo jeito mauricinho, o que não te favorece em nada. Passa duas horas do seu dia no trânsito para ir trabalhar num cubículo chato que você odeia.

— Eu não...

— Odeia sim. Pode tentar mentir pra si mesmo, mas não pra mim. — Ele levanta a mão e me interrompe. Engulo em seco, pois uma das mangas de seu casaco escorrega, deixando o ombro e a clavícula à mostra. — Desde que foi promovido a gerente administrativo, o babaca do seu chefe te sobrecarrega diariamente com mais trabalho, que você precisa ficar depois do horário para cumprir e levar para casa nos fins de semana, sem receber uma única hora extra.

"É o que mais se esforça naquela merda de empresa de seguros, às vezes faz até o trabalho dos outros para mostrar alto rendimento. E está de parabéns. Sua foto está sempre na parede como funcionário do mês. E todo fim de ano, você alimenta esperanças de que receberá um aumento no salário ou uma promoção de cargo.

Tudo isso pra quê, Jeon? Dinheiro? Status? Poder? Você precisa disso? Valeu a pena fazer a faculdade de administração que os seus pais queriam para ter um emprego estável? Valeu a pena reprimir a sua sexualidade e manter um casamento sem sal durante 10 anos por medo do julgamento alheio? Valeu a pena se afastar dos seus filhos por dar mais atenção ao seu trabalho?"

— O esculacho foi de graça?

— E ainda não acabou. Porque hoje você vive as consequências das suas escolhas. Sua filha te odeia e seu filho é desesperado pela atenção que você nunca pôde dar. Sua ex-mulher nunca foi sexualmente satisfeita contigo e constantemente pensa em pedir a guarda completa dos seus filhos porque você nunca tem tempo para eles e sempre acaba machucando os dois. Você trabalha como um condenado e sobrevive de macarrão instantâneo e comida congelada, enquanto o seu chefe vai para as Bahamas todo ano e é muito bem comido pelo seu colega, Kim Seokjin. Que inclusive está terminando de gozar dentro dele neste exato segundo em cima da mesa da sala de reunião da empresa.

O Jin e o meu chefe? Mas... o Namjoon é casado!

Parando para analisar agora, todas as vezes em que meu colega ficou depois do horário, se entupiu de trabalho extra. Hoje mesmo, ficou enchendo o meu saco para pegar todos os meus documentos e preencher. Sem falar na expressão nem um pouco decepcionada em ter que ficar mais tempo na empresa para servir de escravo. Agora, todas as peças se encaixam.

Como pude ser tão burro, cego e idiota?

— Ok, eu não precisava saber disso. — Sinto meu rosto esquentar ao imaginar a cena. — Há quanto tempo? — Minha curiosidade fala mais alto.

— 3 anos.

— Caralho! É a metade do tempo que estou trabalhando lá. — Me exalto.

— Pois é, até seu colega está se divertindo e você aí parado pensando no melhor jeito de bajular seu chefe. Mas, não estamos aqui para falar dos outros e sim de você. — Aponta para mim. — Sabe, Jeon, em algum momento da sua vida você foi alguém alegre e espirituoso Talvez quando era criança. Mas assim como a maioria das crianças sonhadoras, você se tornou um adulto perfeccionista, ansioso, estressado, viciado em trabalho e possui uma vida sexual nula. Faz mais de 6 meses que não transa e a sua última punheta foi pra uma foto do baterista dos Underdogs na capa de uma edição de 1991 da Rolling Stone.

Mas que droga! Será que esse palhaço sabe de todos os meus momentos vergonhosos?

— Ele tava gostoso naquela época — resmungo para mim mesmo.

— O guitarrista também não era nada mal. E aquele baixista... — Ele suspira, revirando os olhos. — Os três eram um pecado. Já me manifestei na forma deles tantas vezes.

— Como assim? — pergunto, sem entender.

— Você acha que é exclusivo, bonitão? Como eu disse, me manifesto de acordo com o desejo das pessoas. E algumas pessoas querem muito ser fodidas pelo baterista dos Underdogs. Outras pelo Brad Pitt, Scarlett Johansson, Leonardo Dicaprio, Zendaya, Timothée Chalamet...

— Você transa com as pessoas?! — Minha pergunta sai esganiçada, totalmente em choque com a informação.

Era só o que me faltava, ficar preso dentro da minha própria casa com um demônio maníaco sexual em potencial que pode me atacar a qualquer momento.

— Se for esse o desejo delas, bebê. Atendo ao que seus corações mais almejam e gritam desesperados para conseguir. Eu ajudo as pessoas. É o que eu faço. — Ele dá de ombros. — Ontem mesmo juntei um casal. Mas foi só um empurrãozinho. Só indiquei pra onde um deles tinha ido para que os dois pudessem se encontrar. Uma história muito linda. Quase chorei.

— Então essa é a tal "magia do Natal"?

— Você sempre foi muito esperto. — Um de seus olhos volta a piscar para mim. — Os presentes não são exclusivos apenas para as crianças. Adultos também podem ter sido bonzinhos durante o ano, mas eu prefiro os malvados. E você, Jungkook, têm sido um garoto mau. Muito, muito mau. — Estranho quando sua voz fica mais aveludada e sensual; a mesma sensação de borboletas torna a revirar o estômago e meus pensamentos voltam a se embaralhar. — Sempre negligenciando seus filhos, não cumprindo com as promessas que faz, faltando os jogos de futebol da filha, enrolando pra começar a construir a casa na árvore que você disse que ia fazer com o seu filho. E a tendência é só piorar.

Seus dedos tamborilam no braço da poltrona, e fico na dúvida em qual detalhe presto mais atenção; se são nas coxas grossas escondidas na calça vermelha apertada, o abdômen definido exposto, os braços enormes cobertos pelo casaco pesado, nos olhos rubros abrasadores que me queimam a cada palavra ácida proferida ou no puta sermão cheio de razão jogado na minha cara sem dó nem piedade.

— Já está tudo péssimo. Como as coisas poderiam piorar mais? — Deixo a cabeça pender para baixo, olhando meus pés se esfregarem no carpete.

— Bom, acho que você já deve saber que amanhã é um dia decisivo pra você. O dia que vai definir como vai ser a sua relação com os seus filhos daqui pra frente. E do jeito que as coisas estão por aqui, o veredito não vai ser bom.

— Eu tentei fazer o melhor que pude!

— De última hora? Em pleno 24 de Dezembro porque esqueceu completamente que havia prometido passar o Natal com eles? Você sabe que tudo está péssimo, Jeon. Sua filha tem 13 anos e não brinca com bonecas há muito tempo. Ela queria chuteiras novas. Seu filho detesta brincadeiras com bola e só quer saber de desenhar. Ele queria tintas coloridas. — Ele olha em volta, parecendo decepcionado. — A decoração está péssima e mal acabada, metade do pisca-pisca está queimado e... aquilo em cima da árvore era pra ser uma estrela? A ceia... porra! Não quero nem comentar. O purê de batatas virou uma massaroca e está mais salgado que o Mar Morto. O peru, além de estar queimado, é menor que o meu. E o seu. — Desvio o olhar levemente para baixo apenas para confirmar a suspeita. — Pelo menos nos biscoitos você acertou. Estão uma delícia — exclama ao morder mais um, deixando o bigode e o cavanhaque cheios de farelos. Suspiro de alívio por ter acertado pelo menos uma coisa. — A não ser pelo fato dos seus filhos não gostarem dos de gotas de chocolate.

A minha expressão murcha, minha postura torna-se ainda mais cabisbaixa.

— Mas...

— Nem vem com essa cara! Esses olhinhos de cachorrinho que você faz sempre que está triste com alguma coisa. A culpa é sua! Tá cansado de saber que eles são apaixonados pelos de gengibre! Mas acho que aquela pasta ali ocupou mais a sua mente do que qualquer outra coisa. Vou começar a te ajudar. — Mais um estalo de dedos e magicamente a minha pasta preta surge em suas mãos e antes que eu possa ter alguma noção de suas intenções, Jimin joga todo o meu trabalho na lareira acesa.

— Não! — Tento alcançá-la, mas é tarde demais.

O cheiro de papel e couro queimados sobe, mas o pior de tudo é que não pude sair do lugar. Não consegui dar um passo sequer, não por uma força externa sobrenatural, mas por pura falta de vontade. Esse demônio natalino tem razão. Odeio meu trabalho. Sinto até um certo alívio ao observar tudo queimar.

— Você vai me agradecer por isso, Jeon.

— Eu precisava entregar esses relatórios amanhã! Você arruinou todo o meu trabalho! — Nem consigo ficar puto. minha voz sai totalmente monótona.

— E você arruinou a sua vida! — Suas palavras atingem o fundo do meu peito. — Claro, você não imaginava que as coisas chegariam ao nível que estão agora. Há uma série de fatores que não estão sob o seu controle. Vocês, humanos, vivem em uma sociedade capitalista e a maioria precisa trabalhar e produzir ao extremo para sobreviver. A vida adulta te fez matar aquele garotinho que dizia que queria ser astronauta.

"E hoje, você trabalha demais, pensa demais, sente demais. E pela falta de uma terapia, que você, por influência dos seus pais, sempre achou 'frescura', só te resta reprimir cada vez mais suas emoções e desejos, mantendo hábitos nada saudáveis por mais uns 50 anos.

Até que, no futuro, o seu organismo colapse e te enterrem numa vala, em um cemitério qualquer, onde, com sorte, dois góticos vão transar em cima do seu túmulo, sem saber que ali jaz um esqueleto frustrado, cheio de sonhos não realizados e paixões não perseguidas porque você nunca teve coragem de se arriscar. Viveu assustado, acovardado, temeu tanto o mundo que conseguiu passar por uma vida triste e monótona sem se machucar, preso a uma rotina cíclica, um fluxo previsível, sem surpresas, sem grandes emoções, interrompido apenas pelo desgaste natural das peças.

E mesmo que quisesse mudar, talvez não conseguiria porque, só por existir, você foi condenado a ser uma engrenagem descartável de um sistema podre, injusto e desigual, onde bilhões se matam de trabalhar para que meia dúzia de ricos filhos da puta possam comprar o próximo iate... Desculpe, acho que perdi a linha de raciocínio."

Eu nem ao menos consigo raciocinar com tantas palavras duras jogadas na minha cara de uma só vez. Noto que os olhos dele estão ainda mais vermelhos, como se esse assunto lhe deixasse com raiva.

— Isso era pra me animar ou me fazer desistir?

— Para te fazer abrir os olhos, Jungkook! Olha quantas coisas você já perdeu vivendo no piloto automático. Seus filhos estão crescendo, a vida está passando diante dos seus olhos. Hora de pensar no que realmente importa e começar a viver! E me trazer algo para beber. Estou morrendo de sede. Falar sobre como o capitalismo destrói os sonhos das minhas crianças me deixa bem puto e exausto. Tem leite?

Confirmo com a cabeça, sigo a passos duros até a cozinha para servir um copo. Eu realmente já não sei mais o que estou fazendo da minha vida servindo leite com biscoitos para o Espírito do Natal sexy e tagarela que invadiu a minha casa, vomitando verdades cruéis na minha cara e queimou todos os meus relatórios do trabalho. Assim que volto, Jimin está olhando ao redor, seus dedos dançam no ar e conforme os movimenta as luzes falhas da árvore capenga acompanham o ritmo marcado.

É fascinante e assustador ao mesmo tempo. Me pego admirando seu rosto mais uma vez, notando que de fato não é o Park Jimin ali. É muito semelhante, não posso negar, porém há algumas diferenças sutis, principalmente nos detalhes. Lembro-me de uma pintinha no canto esquerdo de seus lábios e dos dentinhos da frente um pouco tortos, eu achava um charme. O cheiro também é diferente; este Jimin tem um cheiro doce de alcaçuz um tanto peculiar, já meu colega tinha cheiro de açúcar queimado e canela, como um cinnamon roll; era delicioso. Na verdade, demorei um certo tempo para entender que aquela coisa estranha que eu sentia por ele era atração. Quando me dei conta, já era tarde demais.

— Não chore pelo leite derramado, xuxu. — A voz solidária me desperta de meu devaneio melancólico. A culpa não foi sua por não ter se assumido na época. você estava inseguro e com medo. Cada um tem o seu tempo e não é vergonha nenhuma se assumir só depois dos 30.

— Pode parar de ler meus pensamentos, por favor? — suplico, irritado.

— É meio que impossível, todos os seus desejos estão conectados a mim. São o que me fazem estar presente aqui.

— Mas, hoje é noite de Natal. Não deveria estar entregando presentes a todas as crianças do mundo?

— Jungkook, eu sou um espírito. Sou onipresente e onipotente. Posso estar em vários lugares ao mesmo tempo. Como acha que consigo dar a volta ao mundo em uma única noite? Seria impossível se eu não pudesse me materializar em inúmeros fragmentos. Enquanto conversamos, digamos que há vários de mim atendendo aos desejos de todas as crianças do mundo. Todas, sem exceção. Até as que já cresceram. — Entrego a ele o copo e recebo uma careta desaprovadora. — Está frio.

— Você não pediu pra esquentar. — Ouço-o rosnar antes de fazer os olhos brilharem em vermelho escarlate ainda mais intenso que faz minha espinha arrepiar.

Seu corpo fica envolto por essa chama rubra muito rápida e tudo ao redor se aquece, mas logo o frio volta como se ligasse um ar-condicionado no máximo. Jimin entorna o copo, suspirando em seguida com uma expressão satisfeita.

— Ah, bem melhor.

Encaro ele, pensativo. Então volto a sentar no sofá e me inclino, para me aproximar de seu corpo.

— Já que você está aqui, tenho uma pergunta — afirmo, como em um interrogatório. — Várias perguntas, na verdade.

— Sou todo ouvidos.

Jimin se acomoda mais na poltrona, bebericando do leite e voltando a encher a boca com biscoitos. Sua pose relaxada fez as vibrações do meu corpo voltarem e sempre que isso acontece flagro um sorriso sacana antes dele voltar sua atenção à comida. Penso um pouco antes de começar. São várias perguntas e eu não sei quanto tempo tenho com ele, nem se vou vê-lo outra vez.

— Os duendes existem? — Sim, minha criança interior precisa de respostas.

— Um para cada criança do mundo. — Ele sorri orgulhoso, seguido de mais uma mordida em um biscoito.

Cacete!

— Você vive mesmo no Polo Norte?

— Claro! Por isso sempre acabo trazendo o frio comigo.

— É você quem faz os brinquedos?

— Com minhas próprias mãos. — Balança os dedos no ar, e vejo alguns flocos de neve esvoaçarem de uma forma mística e misteriosa. Parece até o pó mágico que eu via no desenho do Peter Pan.

— Você realmente voa em um trenó com sete renas? — Essa era a parte que eu mais gostava. Sempre quis ver as renas do Papai Noel.

— Nove. E tive que estacionar no seu telhado, mas não se preocupe, elas fizeram as necessidades antes da viagem.

Como é?

— E-Elas estão no telhado da minha casa?!

— Queria que eu entrasse com elas na sua sala? — Ele ri, divertindo-se com a minha expressão de espanto. — Elas iam destruir tudo! Sabe qual é o tamanho de uma rena? Elas são enormes! E a Dasher iria comer o estofado do seu sofá. Ela adora.

Acabo rindo ao imaginar uma rena do Papai Noel comendo meu sofá. Bom, eu estava mesmo precisando trocar. Já está velho, empoeirado, rachado e a cor nunca me agradou. Um marrom feio e sem graça. Sempre achei que amarelo seria melhor.

— O Coelho da Páscoa e a Fada dos Dentes existem? — Próxima pergunta do interrogatório policial coordenado pelo oficial Jeon Jungkook, de 8 anos.

— É claro que existem. A Fada é um amor, só um pouco maluca. Não pode ver dentes branquinhos que enlouquece. Já o coelho é um chato! Vive falando nas reuniões que a Páscoa é mais importante do que o Natal. Aquele orelhudo!

Eles fazem reuniões? Tipo naquele filme que eu levei a Yoona para ver no cinema. Como chamava mesmo? A Origem dos Guardiões. Não sei porque me sinto surpreso, estou conversando com um demônio natalino, era um pouco óbvio que outros seres místicos também existissem. Então, eles existem mesmo! Que incrível!

— E existe mesmo uma lista dos bonzinhos e dos malvados? E os malvados realmente recebem carvão? — As minhas perguntas se tornam mais eufóricas e empolgadas a cada resposta. De repente, sinto-me uma criança novamente, na véspera de Natal, no pátio central de um shopping qualquer, conversando com o Papai Noel depois de entregar a minha cartinha.

— Isso é um mito criado por humanos. — Ele se inclina na minha direção, chegando mais perto, com os cotovelos apoiados nos joelhos. — Não existem crianças más, e sim crianças que receberam uma criação ruim de pais irresponsáveis e com isso tornam-se adultos maus. Tudo começa na infância, Jungkook. Não é justo punir crianças que sequer entendem os próprios erros. Mas alguns adultos que se comportaram mal, como pais negligentes e irresponsáveis, podem acabar recebendo... punições. — O seu olhar torna-se sombrio e sinto meu corpo estremecer. — Mais alguma pergunta?

Quando penso na próxima pergunta, aquela euforia infantil se vai em questão de segundos. De repente, volto a ser adulto, como se a realidade me atingisse com um balde de água fria. Encaro os olhos vermelhos e respiro fundo antes de falar.

— Como faço para consertar as coisas, Papai Noel?

Eu definitivamente preciso dessa resposta, pois nem mesmo sei por onde começar a me redimir pelos meus erros.

— Pode começar pedindo desculpas aos seus filhos amanhã. — A resposta parece algo simples e bobo na teoria, como pedir desculpa a um amiguinho da escola por ter pego a borracha dele emprestado sem pedir. — E peça desculpas também ao garotinho que eu conheci anos atrás. Ainda se lembra dele? Porque eu me lembro. Se aquela criança te visse agora, acha que ela teria orgulho de quem se tornou hoje?

Pegou pesado, Noel. Muito pesado.

O Jungkook de 8 anos só queria ganhar um cachorrinho de Natal e ser astronauta. Ele não precisava se preocupar com trabalho, dinheiro, ex-esposa, filhos. Para ele, o mundo era um lugar incrível e mágico. Aquele garotinho com certeza estaria decepcionado se me visse agora.

— Não. — Abaixo a cabeça, frustrado, desapontado comigo mesmo. — Acha que eles vão me dar mais uma chance? Acha que a Yoona vai me perdoar?

Só quero ser um pai merecedor do amor deles. Quero ser alguém de quem eu possa me orgulhar no futuro.

— Bom, isso você só saberá amanhã. — Mais uma resposta simples e vaga.

— Então... é isso? Você só veio para me dar uns conselhos, queimar meus relatórios, comer biscoitos e depois ir embora? Tipo uma visita inconveniente com sessão de terapia de brinde?

Eu poderia dizer que foi mais parecido com uma sessão de tortura e humilhação, mas não nego que estava mesmo precisando de um choque de realidade.

— Visitas inconvenientes são aquelas que os anfitriões levam para irem embora. E eu sei que você não quer que eu vá, Jungkook. — Ele sorri, em seguida umidece os lábios. — Na verdade, você quer que eu fique e te coma pelo resto da noite.

— O QUÊ?! — A minha voz afina, transtornada. Como ele consegue falar essas coisas com tanta naturalidade?

— Sejamos francos aqui. Você acordou de pau duro por estar tendo um sonho erótico e o motivo do seu tesão está bem na sua frente. Então, pode vir. Vem sentar no colinho do Papai Noel. — Jimin toma uma posição mais relaxada, dando tapinhas na própria coxa, sem desviar o olhar safado de mim.

— Não, obrigado. Eu tô bem. Prefiro ficar aqui.

— Pare de tentar resistir, xuxu. E consigo sentir até o cheiro dos seus desejos reprimidos, então eu sei que está louco pra ser fodido de todas as formas possíveis e inimagináveis. — Ele fez uma pausa longa, para logo em seguida suspirar e soltar uma risada extremamente sexy. A língua passeou pelo lábio inferior, e só após alguns segundos entendi o que ele estava fazendo. — Uau! Quanta criatividade.

— Dá pra você parar de ler a minha mente?! — Eu me levanto, inquieto demais para ficar sentado. Uma apreensão repentina toma conta do meu corpo.

Esse demônio diz que realiza sonhos, mas isso está mais para um pesadelo!

— Eu até tentaria parar, mas não consigo. Todos os seus desejos vêm direto pra mim. — Mais uma pausa; dessa vez, ele se remexe no estofado, sem tirar os olhos de mim. — Caramba! Que safado!

— Chega! Eu não vou pensar! — Esfrego o rosto e ergo a cabeça, com os olhos fechados. Essa inquietação me faz andar de um lado para e o tempo todo, tento evitar olhar para ele. — É isso! É só eu parar de pensar e voltar para a cama. Quando eu acordar, tudo não vai ter passado de um sonho.

— Você pensou. E nós dois sabemos que você não vai voltar para a cama. — A todo momento sua expressão não abandona o sorriso canalha e a língua passeando entre os lábios e bochechas.

Eu vou enlouquecer se continuar aqui.

— O que você quer de mim?

Uma sensação de angústia toma meu corpo, e todo o frio que antes fazia meus pelos arrepiarem parece estar em lugar mais distante.

— A pergunta certa, Jeon, é: o que você quer? Estou aqui para te ajudar a melhorar e a realizar alguns dos seus desejos mais íntimos e reprimidos. Você quer transar comigo desde que me viu assim, bonitão. E quer transar com Park Jimin desde aquela calourada há 15 anos. Então, por que não juntar o útil ao agradável?

— Isso é loucura. — Enfio os dedos na raiz do cabelo, puxando-o para evitar de voltar a encarar esse ser tão... nem tenho palavras para descrevê-lo.

— E aí, Jungkook? — Jimin abre as pernas, apoiando ambos os braços no descanso lateral da poltrona; esfregando as mãos sobre as coxas, como se estivesse me provocando. E seus olhos ardem em brasa com tudo que passa em minha mente depravada. — Vai me servir só leite com biscoitos?

Ai, meu caralho!

Cansado de tentar resistir a esses olhos vermelhos, eu paro à sua frente e finalmente olho direto para ele.

— Por que eu transaria com você? — pergunto, já sentindo o coração bater perto da garganta.

— Seus desejos estão reprimidos a muito tempo, xuxu. Precisa resolver assuntos pendentes antes de mudar de verdade, e algo me diz que um bom orgasmo te ajudaria muito nessa nova "fase". Precisa se libertar do seu antigo eu, para finalmente ser você mesmo.

Isso não está acontecendo.

Não posso negar que estou me sentindo atraído por esse cretino desde o momento que as luzes acenderam, mas não é como se eu fosse sentar em seu colo e quicar até perder as forças. É a minha vontade? Sim. Mas independente disso, não posso transar com um desconhecido, principalmente este tendo o rosto do meu antigo colega de faculdade. Estou perdendo a cabeça!

— Meu Deus! Acho que sei qual é o seu problema, Jeon. Você pensa demais. Deveria relaxar um pouco. Pare de reprimir seus desejos. Liberte-se.

Seu tom de voz muda ao dizer a última palavra. Fica mais aveludado e sensual, impossível não ficar afetado. Sinto todos os pelos do meu corpo se arrepiarem; o ar da sala muda, está mais pesado e quente, tornando a respiração ofegante. Um calor repentino toma conta de meu corpo ao mesmo tempo que um frio sobe pelo baixo ventre. Meu coração está disparado, mas por quê? Essa sensação de pura excitação se apossa de mim. Eu não sinto isso há tanto tempo.

— O que está fazendo comigo? — Meus olhos percorrem todo o seu corpo, involuntariamente minha língua umedece os lábios. Será que estou babando?

— Nada, xuxu. Seu corpo está apenas reagindo. — Acompanho cada movimento enquanto ele tira o casaco, deixando o tórax de fora, apenas com os suspensórios. — Deixe fluir.

Enquanto observo cada mínimo detalhe seu, lembro-me de todas as vezes em que fui um covarde de merda, que não teve coragem nem mesmo para enfrentar a própria sexualidade. Penso em todas as vezes que me deixei de lado para agradar aos outros, família, amigos, patrões, pessoas que sequer se importam com como eu me sentia. Todos os desejos que reprimi, paixões que fui impedido de perseguir, sonhos que não pude realizar, sentimentos que não me permiti sentir, experiências que nunca vivi por medo. Todos os meus "e se".

E se eu tivesse me separado de Lisa anos antes. Teria sido menos traumático para as crianças? E se durante todos esses anos eu tivesse priorizado o tempo com meus filhos ao invés do meu trabalho? Yoona ainda me veria como o pai que sempre a amou? Passaríamos os Natais juntos jogando partidas intermináveis de futebol como quando ela era criança? Yejun teria um pai mais presente e não ficaria chateado toda vez que esse pai babaca desmarcasse um compromisso ou quebrasse uma promessa? E se eu mandasse o meu chefe tomar no cu e saísse de vez daquela empresa chata? Eu estaria mais feliz e com hábitos mais saudáveis do que macarrão instantâneo e comida congelada? E seu tivesse me aceitado há 15 anos? Será que teria conseguido pelo menos um beijo de Park Jimin? Será que teríamos algo a mais? Será que nos apaixonaríamos?

Tudo parece armar uma bomba dentro de mim. O arrependimento torna-se raiva e mistura-se ao desejo e à excitação. Eu vou explodir!

E eu quero explodir.

A frase "jogado aos seus pés" nunca fez tanto sentido como agora. Meu corpo perde completamente as forças, cedendo até que minhas pernas não conseguissem mais me sustentar de pé. Lentamente, caio de joelhos no carpete, mal conseguindo raciocinar o quão sedento e submisso estou. Meu coração bombeia freneticamente o sangue; posso sentir cada fibra do meu ser clamando por Jimin.

Os olhos avermelhados ganham um brilho mais intenso, e eu poderia gozar apenas assistindo-o sorrir dessa forma tão canalha. Engatinho pela sala, ignorando todos os pensamentos intrusivos que gritam ao afirmar que estou fazendo papel de idiota. Mas, quer saber? Foda-se! Cansei de ser sempre certinho, careta, chato, pontual, engomadinho, obediente e pau-mandado.

Quando chego perto o suficiente de suas coxas, minha coragem quase se esvai. Porém, basta seus longos dedos segurarem meu queixo e levantar meu rosto, obrigando-me a voltar a ficar preso naquele mar incandescente. O seu sorriso carrega uma enorme satisfação e sensualidade.

— Você vai ser um bom garoto, Jeon? Ou vai receber as punições de um garoto mau?

Meus dedos arranham o carpete, a procura de algo para me segurar; até que uma ideia melhor me vem à mente e Jimin esboça mais um de seus sorrisos cafajestes. Umedeço os lábios antes de subir minhas mãos por sua panturrilha, sentindo a textura do tecido grosso da calça; permito-me saborear este momento reconhecendo cada traço definido escondido. Ouço um arfar pesado quando alcanço sua coxa e aperto com vigor até ficar satisfeito ao esmagar o músculo.

É firme, delicioso, excitante e próximo. Levanto o olhar, tentando transparecer que não estou tão nervoso quanto parece; mas Jimin percebe e eu o agradeço internamente por não debochar de mim. Muito pelo contrário, sua mão acaricia a lateral do rosto e firma os dedos nos fios da minha nuca, enquanto a outra trabalha em abrir o próprio cinto.

Não satisfeito em me fazer grunhir de tesão ao judiar do meu cabelo, ele leva o polegar até meus lábios onde o recebo prontamente. Ponho a língua para fora, assim que o deixo direcionar o dedo para onde quiser. Ele mal me tocou e já estou enlouquecendo. Meu pau lateja sob o pijama, e uso isso ao meu favor quando o abocanho de uma vez, chupando avidamente como se fosse seu pênis. E em momento algum deixo de encarar as íris vermelhas para mostrar o quão necessitado estou.

— Esse é o meu garoto malvado. — A voz rouca me faz alucinar e nem começamos a nos divertir direito.

Faço questão de deixar os sons de sucção serem altos, meus olhos a todo momento vão dos seus até o abdômen exposto, descendo até a bacia onde seu pau é vagarosamente masturbado por sua mão enquanto seus gemidos roucos ecoam pela sala. Caralho, e que pau. É simplesmente perfeito; grande, grosso, rosado, molhado e duro.

Quero tocá-lo. Senti-lo. Prová-lo.

Quero Park Jimin.

Eu sei que esse demônio sexy de Natal não é de fato o cara que conheci na faculdade e desejei com todas as forças voltar no tempo para conseguir apenas um beijo seu. Não, ele não é o meu Park Jimin, é apenas a manifestação física de um dos meus maiores desejos e fantasias. Então, mesmo que não seja propriamente o meu crush de 15 anos atrás aqui, decido aproveitar esse momento ao máximo. Afinal, faz meses que eu não transo. Chega de punhetas deprimentes para o baterista da Underdogs.

— Foda-se! — Deixo escapar assim que me livro de seu dedo e dou atenção ao que realmente é importante.

Sei que pode parecer esquisito, mas assim que passo minha língua pela cabeça inchada sinto um gosto doce. É bom. Muito bom. Tão bom que não consigo pensar em mais nada que não seja pôr tudo na minha boca. Me dedico a lamber da base até o topo, deliciando-me cada vez mais por seu gosto. E quando o ponho todo para dentro vou até o céu, tudo parece ser multiplicado por mil. O sabor doce se intensifica, o que me faz salivar; consequentemente, chupo-o com mais ímpeto.

É uma delícia. Esse desgraçado é delicioso.

Sons eróticos escapam e estou pouco me importando, na verdade isso me deixa muito mais excitado. Quanto mais engulo seu pau, mais sinto o meu latejar de tesão. Em meus sonhos devassos e fantasias sexuais, sempre imaginei como seriam os gemidos de Park Jimin. São roucos e sexy, mas manhosos ao mesmo tempo; um grande incentivo para levá-lo até o fundo da minha garganta, babando por toda sua extensão e me satisfazendo com o gosto doce dominando minha língua. Me engasgo, contudo não paro de chupá-lo até, sentir seus dedos puxarem o meu cabelo ao se retirar da minha boca e bater o pênis contra meu rosto.

— Parece que você gosta do meu pau, não é, xuxu? — A cabeça molhada pulsa em contato com minha língua, e deixo um sorriso safado escapar no momento em que Jimin puxa os fios da minha nuca para impedir mais lambidas.

Mas não é como se eu fosse desistir. Insisto ainda mais, sentindo meu couro cabeludo arder de tanto que seu aperto está firme, vez ou outra consigo encostar em seu pênis; porém é bem superficialmente.

Eu quero mais. Preciso de mais.

— Mais — choramingo, praticamente implorando, extremamente necessitado. — Por favor.

— Parece que o garotinho mau quer receber mais de sua punição, hm? — Seus dedos se enrolam mais em meu cabelo, e mal consigo puxar o fôlego quando minha cabeça é empurrada para baixo; obrigando-me a voltar a engoli-lo brutalmente.

Meu nariz toca sua virilha, lágrimas acumulam-se no cantos dos olhos, a garganta arde. Minha boca se ocupa, mas isso não impede que os gemidos lânguidos escapem. Ambas minhas mãos apertam sua coxa malhada, cravando as unhas ao arranhar com vontade; e nada supera o gemido gutural que ressona em meus ouvidos ao fazer isso. Reviro os olhos em puro deleite, sentindo a excitação tomar conta do meu ser. Eu poderia gozar só de chupá-lo.

Porém, eu quero mais do que apenas um boquete. Meus olhos vão de encontro aos seus, encarando as íris vermelhas flamejantes com fome e estima. Deixo meus pensamentos fluírem, já que esse maldito gosta tanto de lê-los então vou fazer questão de deixar bem claro tudo o que quero fazer e que ele faça comigo. Escuto sua língua estalar várias vezes e essa é a confirmação de que conseguiu me compreender.

— Jeon. Jeon. O que eu faço com um garoto mau como você?

Meu corpo se move sem que eu perceba, é natural e involuntário. Subo meus beijos e lambidas por todo o seu abdômen, sentindo cada gomo enquanto raspo as unhas na lateral de seu tronco. Faço esse caminho até sentar em seu colo, deixando cada perna de um lado. Ao sentir seu pau tocar minha bunda sobre o tecido da minha calça, rebolo vagarosamente; ondulando meu quadril em vários sentidos diferentes, ora pra frente e pra trás, ora girando para provocá-lo.

Ele agarra minha cintura com força, coordenando os movimentos, arrancando um chiado sensual e sôfrego conforme me esfrego nele ao tentar alcançar meu próprio prazer. Seus gemidos e arfadas se misturam aos meus, criando uma sinfonia sórdida. Suas mãos descem para minhas coxas, apertando com vigor e eu quase grito ao sentir a pressão forte excitante.

Já não aguento mais. Quero ele dentro de mim.

Chego perto o suficiente de sua orelha, assim que gemo manhoso, deixo as palavras exporem meu desejo.

— Me fode. — Mordisco seu lóbulo, semicerrando os olhos ao encontrar com o par escarlate abrasador.

Instantaneamente, um brilho vermelho o envolve e um frio glacial toma todo o ambiente. Tento até a impressão de ver alguns flocos de neve caírem ao nosso redor. Entretanto escuto o som de tecido sendo rasgado e sinto o ar gelado entrar em contato com a pele da minha bunda. Um grito mudo fica preso em minha garganta, porém solto um suspiro ébrio assim que meu pênis é agarrado e apertado em uma marturbação dolorosamente excitante.

Ele começa lentamente, me torturando enquanto ondulo sobre o seu colo. É uma sensação indescritível de tão boa. O meu corpo tomba sobre o seu e eu desconto tudo abafando os gemidos na curvatura de seu pescoço. Logo, vou distribuindo chupões e mordidas, que tornam-se mais fortes conforme meu tesão aumenta. Enlaço os braços em seu pescoço, minhas mãos se agarram nos fios platinados do seu cabelo.

Sinto seu bigode e o cavanhaque roçarem na minha clavícula, a textura é fofa e aconchegante. Poderia ficar assim por horas a fio sem me cansar, principalmente por todo o prazer que se alastra pelos meus músculos com todas as investidas que ele faz. Mordidas se espalham por toda a área do meu ombro, obrigando-me a jogar minha cabeça para trás a fim de soltar meus gemidos ainda mais altos. Seu toque no meu pau continua, contudo sua mão larga minha bunda para segurar o meu rosto fortemente.

É tanto prazer que mal consigo entender o que Jimin quer, mas basta uma palavra para que tudo faça sentido em minha mente.

— Chupa. — Os dedos forçam meus lábios em uma tentativa de invadi-los, prontamente obedeço sem que ele precise impor mais dominância.

Faço o mesmo que fiz em seu pau; chupo, lambo, deixo que tudo que entre em contato comigo fique suficientemente molhado. O sorriso de lado leva o resto de sanidade que ainda tenho, incentivado por isso volto a rebolar com mais força até ouvi-lo gemer em meio aos chupões na minha pele.

— Eu quero gozar — manho, sem parar meus movimentos em seu colo, porém sua mão se fecha com mais firmeza em meu pênis.

— Mal começamos a brincadeira e você já quer terminar? Realmente é um garoto muito mau, Jeon — desdenha, acompanhado de um sorriso sádico.

Solto um grito esganiçado ao ser invadido de uma vez por dois dedos. Ele começa a movê-lo dentro de mim, me levando à loucura; meu peito sobe e desce em uma cadência violenta, os gemidos tornam-se ainda mais altos e manhosos. Em seguida, começa os movimentos de vai e vem, tirando e colocando tudo de uma vez, enquanto minha garganta arde de tanto gemer. Minha respiração enfraquece e só consigo pensar que não vou me sentir satisfeito apenas com isso. Preciso de algo maior, mais grosso, mais duro, mais gostoso.

Eu quero o pau de Park Jimin.

Estou sedento, como nunca antes; mal consigo me lembrar a última vez que transei, mas posso dizer com convicção que não tive nem 1% do tesão que estou sentindo agora. Embriagado com as sensações, me levanto de supetão de seu colo e viro de costas, oferecendo meus glúteos para que ele possa fazer o que quiser. Com 4 tapas estalados e 2 mordidas em cada banda, sinto-o puxar minha cintura para que me encaixe em seu colo novamente.

O contato de seu pau na minha pele é extremamente excitante, suspiro ansioso quando suas mãos me abrem e o ajudo a posicionar a cabeça na entrada. A descida é sublime, ele me invade vagarosamente até a base; meu gemido ecoa na sala no momento em que as investidas começam. É doloroso no começo pela falta de lubrificação, mas pouco me importa, sinto-me cheio e preenchido. Subo meus pés no estofado, apoiando minhas mãos nos descansos de braço; meu corpo arqueja, o que força minha nuca a se apoiar em seu ombro e assim consigo ver sua língua umedecer seus lábios com a visão do meu pênis acompanhando o movimento de suas estocadas.

Tão selvagem quanto antes, Jimin termina de rasgar minhas calças, que deslizam até chão com o nosso sexo. E não satisfeito em apenas destruir uma peça de minha roupa, estoura todos os botões da camisa fazendo alguns voarem para longe; despindo-me de uma vez.

Ambas suas mãos seguram firme meu quadril, sua brutalidade ao me puxar e meter freneticamente em mim é surreal. Sou um corpo mole feito especialmente para obedecer a dominância desse demônio com o rosto do meu ex colega.

— P-porra, Jimin! Isso, c-caralho! M-mais forte! — Já não tenho mais controle sobre as sacanagens que digo, as palavras saem até entrecortadas entre gemidos e arfadas conforme quico violentamente.

Suas mãos agarram fortemente minha bunda, coordenando os movimentos, ao mesmo tempo que seu quadril se move de forma bruta, fazendo-o alcançar a minha próstata. Já não tenho mais fôlego, mas continuo quicando. Reviro os olhos no mais puro êxtase e lágrimas de prazer escorrem. Quero ir até o meu limite. Quero gozar como nunca gozei antes.

Uma risada safada soa ao lado da minha orelha, esse filho da puta ainda está lendo meus pensamentos, sei disso pois me puxa com tudo até que esteja inteiro dentro de mim, me fazendo arfar e gritar com tanto prazer. Sua mão sobe até minha nuca, onde segura forte os fios e me tira de seu colo. Meu corpo é jogado contra o carpete e quando tento ao menos me apoiar nos joelhos, minhas costas batem no chão ao ser virado, uma das minhas pernas é colocada em seu ombro e a outra fica no meio das suas; dando total acesso a minha entrada e meu pau. Estou totalmente exposto.

Nunca foi tão excitante ser maltratado. Não quero que isso acabe nunca.

— Parece que você quer ser tratado como uma puta, xuxu. Meu trabalho aqui é te satisfazer e atender aos seus desejos.

Quando menos espero, sou invadido novamente, com mais facilidade do que antes. Jimin me come com tanta vontade que me pego perguntando se ele tem algum limite. O som de nossas pélvis se chocando é extraordinário, seus olhos agora exalam tanta luxúria que o ar me falta nos pulmões. Nunca vi um brilho vermelho tão intenso em toda minha vida, poderia perder dias contemplando sem cansar.

— Então, me fode! Me fode pra caralho, porra! — Mal consigo terminar meu pedido, dado que no início da segunda frase, minha coluna reclama da força exercida contra meu quadril, até porque fui obrigado a arquear para sentir seu pau ser enterrado mais fundo.

Achei que seria impossível, mas suas estocadas tornam-se ainda mais fundas e intensas. Sinto que ele vai me quebrar ao meio. E eu quero que ele me quebre. Quero que ele me foda até eu desmaiar. E atendendo a esse desejo, Jimin aumenta ainda mais a velocidade, curva o corpo sobre o meu, chupando avidamente meus mamilos, rodeando-os com a língua, até que um gemido vergonhosamente manhoso rasga minha garganta. Minhas unhas curtas, cansadas de arranhar o carpete, agora judiam de suas costas e da lateral do seu tronco; arrancando-lhe rosnados guturais e roucos.

Esse demônio está me enlouquecendo.

— Me beija! Me beija por favor! — clamo, enfiando as mãos nos fios brancos; sentindo a respiração quente contra meu rosto.

— Tudo o que quiser, xuxu. — Sua boca choca-se em contato com a minha, deslizando a língua para dentro, fazendo-me provar mais do seu gosto.

Como é possível todas as suas partes serem tão doces? Que gosto é esse? Lembra muito alcaçuz, mas também... um fundo de açúcar queimado e canela. Mas é bem longe.

Meus gemidos saem alto em meio ao beijo, quando sinto o calor de sua mão envolver meu pau novamente, me masturbando com vigor, sem parar com as investidas durante nem um segundo. Sinto que estou no paraíso.

— Porra, xuxu. Não me aperta assim. — É a primeira vez que ouço-o pedir algo de mim; seria muita injustiça que apenas eu sentisse prazer.

Em contrapartida, faço o contrário do que me foi pedido. Me contraio, comprimindo seu pênis e nada é mais satisfatório do que ouvir seus gemidos e senti-lo me cobiçar ainda mais.

Ser desejado é bom pra caralho! Há anos não me sinto assim.

Quanto mais sinto seu pau me abrir, mais os desejos correm soltos em minha mente. Só que dessa vez não deixo que ele leia, afinal não há mais espaço para vergonha. Tudo escapa por minha boca.

— Me deixa te chupar — imploro, minha boca anseia por mais.

— Já quer meu pau na sua boca de novo, xuxu? — Aceno, afirmativo; abrindo a boca e colocando a língua para fora.

Ao se retirar de mim, vejo-o bombear seu pau várias vezes enquanto fica de pé. Me apresso para me ajoelhar, sentindo a ansiedade de sentir aquele sabor açucarado em minha língua novamente. Assim que a cabeça molhada entra em contato com meus lábios, a fome se apodera de mim e, sem hesitar, praticamente engulo tudo de uma vez. É tão grosso que ocupa mais do que aguento, grande o suficiente para alcançar o fundo da garganta e doce o bastante para me fazer delirar.

O ar falta, mas eu não me importo, as lágrimas escorrem, meu rosto está completamente vermelho e os cabelos grudados na testa pelo suor. Eu estou uma bagunça. E Jimin parece amar me ver assim, pois sinto novamente seus dedos se enfiaram nos meus fios empurrando minha cabeça para trás na intenção de fazer nossos olhares se encontrarem.

Já entendi que seu propósito é desfazer a merda do meu penteado alinhado. E sinceramente quero que ele bagunce tudo mesmo. Cansei de toda aquela arrumação certinha infernal. Minha mão envolve seu pau, masturbando-o lentamente enquanto minha boca dá atenção às suas bolas, lambendo e chupando para também levá-lo à loucura. Com mais um impulso de sua mão na minha nuca, praticamente engulo toda a sua extensão, indo e voltando, emitindo sons excitantes de sucção, lambendo a cabeça com afinco e aumentando a intensidade conforme seus gemidos tornam-se mais altos.

Seus dedos se firmam ainda mais no meu cabelo, coordenando os movimentos. Enquanto chupo, levo a mão ao meu próprio pau, bombeando em busca do meu próprio prazer. Porra! Isso é tão bom! Os meus olhos reviram em deleite com tantos estímulos, os gemidos saem engasgados, o suor escorre pelo meu corpo e eu mal respiro. Sinto seu corpo se tensionar e ao ouvir seu grito rouco excitado sei que ele alcançou seu ápice. O líquido quente e estranhamente doce preenche a minha boca, escorrendo pelo canto da boca.

Provo que também sei ser canalha e mostro tudo dentro da minha boca antes de engolir. Mordo o lábio inferior com a visão dele de baixo para cima, desse jeito ele parece ser muito mais alto do que já é. Tenho a impressão que seus músculos ficam maiores, como se ele já não fosse uma montanha. Mas seu peitoral largo e farto prende minha atenção por mais tempo, e uma ideia absurda surge bem a tempo do desgraçado ler e rir da minha cara de devoção.

— Interessante. Foram poucos os que já desejaram isso. Estou impressionado com sua criatividade, xuxu. — Sinceramente, já estou farto desse maldito apelido.

Com um olhar provocante, Jimin livra-se dos suspensórios juntamente com suas calças. Ambos estamos nus de qualquer amarra que nos prende, é magnífico e sublime. Ele se ajoelha diante de mim, enlaça minha cintura com apenas um braço e avança em minha boca sem aviso prévio. Minhas mãos bagunçam seu cabelo, enquanto o beijo se aprofunda cada vez mais. Entre murmúrios e suspiros devassos, consigo me impor sobre ele e empurrar seu corpo para trás, amo observar sua expressão oscilar entre a surpresa e o tesão; meu ego se intensifica só com isso.

Engatinho sobre seu corpo, passando as mãos por cada gomo de seu abdômen e deito momentaneamente a cabeça em seu peitoral, apenas para esfregar um pau no outro, mas sem me esquecer do meu verdadeiro intuito. É loucura, mas eu preciso disso. Os seus gemidos roucos se misturam aos meus enquanto friccionamos nossas pélvis. Sinto que estou quase no meu limite, mas não quero gozar assim. Então, subo mais um pouco pelo seu corpo e sento por cima de seu abdômen, encaixando meu pênis no vão de seu peitoral. Nem preciso mencionar que mais um de seus sorrisos descarados me faz sentir o ápice da raiva.

Movido por esse sentimento, pego suas mãos brutalmente, posicionando-as sobre o próprio peito inchado a fim de pressioná-lo, consequentemente envolvendo meu pau ali. Os movimentos de vai e vem me matam aos poucos, pois quanto mais me mexo, mais Jimin põe pressão ao meu redor. O meu corpo tomba para frente, ambos os meus braços ficam de cada lado de sua cabeça, enquanto impulsiono as estocadas. O meu quadril se move freneticamente, de uma forma que eu sequer sabia que conseguia. Puta que pariu! Conforme o tesão aumenta e os chiados ficam mais altos, sinto que não vou durar muito tempo. Sei que estou no meu limite.

— Caralho! — Grito, ofegante, vendo meu suor pingar no seu rosto igualmente úmido.

Quando chega ao ápice da loucura, um grito mais alto ainda rasga a garganta, minha porra jorra em jatos por toda a área de sua clavícula, chegando a respingar em sua bochecha. Desavergonhado e despudorado, passo a língua em cada gota branca que encontro em sua pele. Limpando todo e qualquer vestígio meu, certificando-o de que engoli tudo mais uma vez.

— Você não cansa, xuxu? Ainda me quer dentro de você? — Seus olhos rubros brilham com meus pensamentos pairando soltos.

Ele vai continuar com essa merda de xuxu?

— Por que você não cala essa sua boca e termina de me comer? Aproveita e enfia esse "xuxu" bem no meio do meu cu!

— Que assim seja! — É claro que ele precisa ter a última palavra.

Maldito demônio gostoso desgraçado!

Assim que saio de cima de Jimin, meu braço é apertado grosseiramente e mais uma vez sou jogado contra o chão. Não posso julgá-lo, meu desejo de ser humilhado fala mais alto. Volto a ficar sob seu corpo, sendo coberto por todos os seus músculos firmes e pesados; minhas pernas enlaçam sua cintura no momento que me penetra novamente. É como se tivesse passado uma eternidade desde a última vez que o senti dentro de mim, sendo que faz poucos minutos. Estou completamente viciado nesse sexo, não quero que acabe.

Suas investidas são mais bruscas e certeiras, o ritmo diminuiu mas a força exercida me faz revirar os olhos e perceber que estou prestes a gozar de novo. Minha boca aberta demonstra que ainda consigo gemer alto o suficiente e é isso o que Jimin faz; me obriga a gritar ao acertar minha próstata inúmeras vezes, maltratando minha bunda ao apertá-la com violência. Envolvo seu pescoço, trazendo-o para perto, consequentemente unindo nossos lábios.

Esse sabor, preciso de mais. Muito mais.

Não sei como está o meu rosto, mas confesso que não desejaria me encarar agora, pois a vergonha logo se faria presente e a vontade de me esconder seria gritante. Já não tenho quase nenhuma energia, o meu corpo está completamente amolecido sob o seu domínio. Contudo, tento juntar forças para fazer um último pedido antes de chegar no meu limite. Foda-se que estou parecendo a porra de um submisso sedento. Apenas, foda-se.

— Eu quero te ver. — É um desejo tão profundo, que até Jimin fica surpreso quando peço. Parece que há alguns pensamentos que ele não consegue ler.

— Você não aguentaria, xuxu. — A rouquidão no seu tom fica mais profunda e grave, e todos os pelos do meu corpo se arrepiam.

— Por favor, se mostra pra mim. — Deixo uma lambida na lateral de seu rosto, provando pela última vez a doçura de sua pele.

Tudo ao nosso redor torna-se mais frio, uma névoa branca sobe e alguns flocos de neve recaem sobre nós. Mas eu não consigo desviar do seu olhar escarlate, que vai tomando um brilho mais intenso, reconheço as pontas do chifres irrompendo entre os fios brancos e uma cauda robusta serpenteando atrás de seu ombro. Logo minha visão fica turva, ao mesmo tempo que vejo dentes afiados crescerem em sua boca enquanto geme selvagem.

Os dois pontos brilhantes vão ganhando mais intensidade até que toma completamente meus sentidos. Meu corpo perde as forças quando sinto algo ficar mais grosso dentro de mim e uma jorrada quente ocupar todo o meu interior, inundando minha entrada. Só consigo jogar a cabeça para trás e gritar histericamente o gemido mais alto que já consegui, ferindo ainda mais minhas cordas vocais. Sei que esporrei meu abdômen inteiro, e xingo internamente por não conseguir parar de esguichar porra. Choramingo manhoso com as últimas estocadas brutas, e quando encontro novamente o carmesim efervescente, desmaio.

Completamente acabado, gozado, satisfeito e preenchido.

🥛🍪

A primeira coisa que sinto doer ao acordar são as minhas costas, logo em seguida minhas pernas e bunda. A garganta arde com a tosse seca, nem vou comentar sobre a dor intensa na lombar assim que me sento e quase deixo escapar um grito. Esfrego os olhos ao perceber a luz forte da manhã irrompendo pelas janelas. Resmungo mais algumas vezes tento me levantar sem sucesso. Que gosto doce é esse na minha boca?

Meu olhar vagueia pela sala. Parece que desenvolvi sonambulismo, pois era para eu estar no conforto da minha cama, sob os lençóis. O que estou fazendo no carpete da sala debaixo da árvore de Natal torta? Flashes de memórias assolam minha mente e uma enxaqueca enlouquecedora parece fritar meu cérebro. A brisa da manhã invade a janela e faz meus pelos se arrepiarem e o corpo estremecer levemente. Só então compreendo que estou desprovido de roupas. Tateio meu corpo e encontro meu pijama completamente rasgado, inúmeras marcas de chupões e mordidas pelo peito e resquícios de algo grudento com um cheiro doce de alcaçuz.

Foi real?!

Ao meu lado está a poltrona onde recordo-me de todas as cenas obscenas que protagonizei nesta madrugada. Sinto até uma leve vergonha por ter agido como uma puta, porém não me arrependo de nada. Pendurado no encosto está um robe de seda vermelho com detalhes em plumas brancas nas extremidades. Só pode ser brincadeira! Cubro meu corpo que encontra-se grudento pelos vários fluidos corporais que tenho plena certeza que não são só meus.

O calor da lareira já é inexistente, a lenha está em cinzas. Posso ver resquícios de papéis e do couro da minha pasta e sinto um leve alívio por ter certeza de que também queimaram até o fim. A sala está do mesmo jeito que deixei quando fui dormir, o que me traz uma sensação de desespero e fracasso. Eu falhei, mesmo com o choque de realidade de um demônio natalino estupidamente gostoso, eu falhei. Como homem, trabalhador, marido e, principalmente, como pai. Falhei com meus filhos e comigo mesmo.

Sou um fracassado.

Mas tudo piora quando a campainha começa a tocar incessantemente. Tropeço em meus próprios pés, ajeitando o robe da melhor forma possível para que esconda qualquer vestígio que meus filhos possam ver. Tento arrumar meu cabelo, que está totalmente desgrenhado, e mal tenho a dignidade de poder ver o estado do meu rosto antes de abrir a porta.

Lisa está com a cara fechada e braços cruzados, seus olhos castanhos cansados exalam toda a decepção que alimentou nesses poucos segundos enquanto tocava a campainha. Na verdade, toda a decepção alimentada pelos últimos anos. E o fato de eu atender a porta com essa carinha de "acabei de transar" não ajuda em nada a minha situação.

— Bom dia, Lisa. — Seguro a gola do robe, e sei que ela interpreta muito bem o que aconteceu apenas com uma análise de cima abaixo.

— Pelo menos está em casa — suspira aliviada, mas não menos desapontada.

— É Natal. — Esboço um sorriso amarelo singelo.

Ela faz um sinal com a mão para um carro do outro lado da rua e eu poderia reconhecer aquelas mechas rosas em qualquer lugar. Jennie está no volante e acena para nós. O carro é dela, um fusca 1953 conversível amarelo com adesivos de flores. E o carro ainda tem nome, Daisy. Sempre achei brega e meio ripongo, mas as crianças adoram.

Yejun salta do veículo com um entusiasmo que fere meu peito, pois sei que irei decepcioná-lo com a decoração capenga que montei de última hora. Já Yoona demora mais um pouco, provavelmente por estar digitando no celular e ouvindo música alta, mas assim que a vejo de pé com uma mochila nas costas não deixo de entortar o nariz para as novas mechas coloridas em seu cabelo. Pelo menos são roxas e não rosas.

— Oi, Jungkook! — A dona do cabelo cor de rosa sorri alegremente ao se aproximar; esse sorriso é tão perfeito que me irrita.

— Jennie! — Forço o sorriso.

— Adorei o que fez no cabelo. Combinou mais com você. — Ela delicadamente afasta uma das mechas onduladas, que cai sobre meu olho. Em seguida, funga, franzindo o cenho. — Perfume novo? É bem docinho. Adorei!

A fragrância se chama: "porra de demônio natalino". É a nova tendência da estação.

Como ainda me falta coragem e muita vergonha na cara para responder algo decente, decido abrir mais um pouco o sorriso sem graça. É o melhor jeito de se livrar de uma situação constrangedora.

— Papai! — Quando eu menos espero, meu quadril é atingido pelo pequeno furacãozinho chamado Yejun.

— Oi, campeão! Como você está? — Eu me abaixo um pouco para abraçá-lo.

— Com saudades! — Seus bracinhos me apertam mais forte e meu coração derrete com o ato.

Logo, Yoona se junta a Lisa e Jennie na porta, e seu olhar contrariado é o bastante para que eu compreenda que minha ex-mulher precisou de longos minutos para convencê-la a passar o Natal com o pai ausente. E sinceramente, depois do que ouvi na ligação ontem a noite, não duvidaria que os planos pudessem mudar de última hora.

— Oi, querida. — A minha voz treme da forma mais patética possível. Que ótimo! Estou com medo da minha filha pré-adolescente. — Pintou o cabelo. Ficou bem bonito.

— A Jennie pintou pra mim ontem, depois que você furou com a gente. — Uma facada teria doído menos. — Mas, valeu... Jungkook. — Ouvir isso pessoalmente é muito pior.

— Yoona! Já falei pra parar de fazer isso. Fala direito com o seu pai! — Eu nunca vou deixar de me admirar pelo esforço de Lisa até mesmo quando eu a desaponto.

Se não fosse pelos olhos, Yoona seria a minha cópia feminina. É assustador ver um ser tão semelhante a mim, com o meu sangue correndo em suas veias me lançar um olhar tão vazio de sentimentos. É como se ela estivesse olhando um estranho, o que não foge muito da realidade.

— Direito com o seu pai. — Ela ajeita a mochila cheia de bottons nas costas e entra em casa junto com Yejun.

— Yoona...

— Deixa, Lisa. Tá tudo bem. — digo assim que os vejo sumir do nosso campo de visão e irem direto para a sala. Eu só queria estar com a casa minimamente apresentável.

Lisa e Jennie se entreolham antes de me encararem mais uma vez de cima a baixo e o constrangimento de estar coberto apenas por pequeno pedaço de seda logo se apodera de mim. Precisava me humilhar ainda mais, demônio desgraçado?

— As crianças esqueceram uma caixa no carro, vou lá buscar, amor. — Jennie deixa um beijo na bochecha da minha ex-mulher, e nos deixa sozinhos.

— Francamente, Jungkook. — Ela começa a transparecer sua insatisfação. — Eu, sinceramente, espero que o cara esteja ao menos vestido aí dentro. Não quero meus filhos vendo um homem pelado circulando na sua casa.

— Não tem ninguém! Ele não... — Olho de relance para dentro apenas para garantir. — Não...

— CARAMBA! — A voz aguda de Yejun repercute da sala, nos deixando atônitos.

— Merda, Jungkook! — Lisa irrompe pela porta, correndo em direção a sala.

Todas as vozes na minha cabeça gritam em alerta, a cada passo que dou até meus filhos os pensamentos circulam e berram que eu deveria ter sido mais atento. Será que ele estava se escondendo no andar de cima? Apareceu para assustar as crianças? Ou pior, será que essa reação é pela catastrófica tentativa de convencer que decorei a casa para o Natal?

Já começo a me conformar com a decepção que vou ser obrigado a ver nos olhos deles. Porém, minha boca se abre e meus olhos dobram de tamanho ao chegar no cômodo. Só pode ser um sonho. Não consigo acreditar no que vejo.

— As meias estão cheias de doces, mamãe! — Yejun grita, animado.

Eu teria me lembrado caso minha sala estivesse decentemente preparada para receber meus filhos, mas quando acordei a minutos atrás tudo estava um completo desastre. As mesmas luzes capengas e falhadas, a árvore minúscula com os dois presentes patéticos, a ceia horrível e os farelos de biscoito de chocolate que meus filhos detestam. Porém, não é esta a visão que está diante dos meus olhos.

E não só a sala, mas toda a casa está decorada para o Natal. A árvore é enorme e está lindamente decorada com bolas brilhantes vermelhas, uma estrela dourada no topo e luzes coloridas. Debaixo delas, várias caixas embrulhadas e adornadas com laços. As meias penduradas na lareira estão cheias de doces; na mesa de centro, um pote de vidro cheio de biscoitos decorados como bonecos de neve. Os papéis que ficavam espalhados pela sala desapareceram, assim como a minha pasta cheia de relatórios. A mesa de jantar está posta com uma ceia de dar água na boca. O corrimão da escada está decorado com guirlandas e neve artificial; pelas paredes, luzes amareladas emitem um lindo brilho.

— Eu achava que você ainda usava aquelas luzes velhas. — Yoona até retira os fones para conversar melhor, os olhos impressionados percorrem por toda a sala. — Gostei da árvore.

Aquilo foi um sorriso? Minha filha sorriu pra mim?!

— Que cheiro gostoso! — Yejun corre até os biscoitos, acompanhado pela irmã.

— Olha, parece que dessa vez houve motivos para o furo. Você se superou, Jungkook. — Lisa sorri de lado, ao vir até mim e ajeita a abertura do robe. — Mas vá colocar uma roupa decente, consigo ver os chupões de longe. — Tenta disfarçar a risada. — Vamos te esperar.

Não consigo conter o sorriso no rosto, a felicidade que invade meu peito é tão arrebatadora que enquanto subo as escadas, alegre como uma criança, pulo alguns degraus e tropeços em outros.

Assim que tiro o tecido vermelho e vejo meu reflexo no espelho do banheiro tomo outro susto, pois onde deveria haver chupões e marcas de mordidas, está uma pele lisa praticamente intocada. Franzo o cenho ao tocar em cada parte que eu sei ter visto rastros desta madrugada, porém balanço a cabeça para que isso não me distraia. Meus filhos estão felizes bem perto de mim, não posso e não vou desperdiçar essa chance.

Sei que deveria estar me perguntando o porquê de toda a minha casa estar parecendo a casa do Papai Noel digna de shopping, mas depois de tudo que passei até agora nada mais pode me surpreender, então o único jeito é aceitar e seguir em frente. Ponho uma camisa verde e uma calça vermelha, volto a correr pelas escadas e a visão dos meus pequenos com os olhos brilhantes, se delicado com os biscoitos faz tudo valer a pena.

São biscoitos de gengibre? Demônio maldito!

— Você sempre faz os melhores doces, papai! — Eu já tinha até esquecido o quão reconfortante é ser chamado assim. Yejun é muito mais expressivo, já Yoona come quieta sem me lançar muitos olhares.

— Dessa vez ele acertou e não fez aqueles biscoitos com gotas. — Sua careta é engraçada e não deixo de suspirar ao vê-la pegar mais biscoitos e encher a boca. Parece que alguém ainda ama comer doces.

Isso foi um mais um elogio? Minha filha realmente gostou?

Eu me sento no sofá, ao lado de Lisa, para ficar mais perto deles que estão sentados no carpete se acabando nos biscoitos. Sinto a mão da mãe dos meus filhos em meu ombro, então olho para ela, me deparando com um sorriso orgulhoso.

— As crianças têm uma surpresa para você. — Ela diz, animada. — Não é, Yejun?

— É sim! — Yejun limpa a boca cheia de farelos de biscoito, corre até mim e pula em meus braços. — É um presente muito legal, papai!

— É mesmo, campeão? — Eu envolvo seu pequeno corpo, tratando de colocá-lo em meu colo. Que saudade.

— Mamãe disse que é uma coisa que você sempre quis. — Yoona se aproxima timidamente, as mãos enfiadas nos bolsos. Posso ver um sorriso singelo em seu rosto e isso enche meu coração de alegria.

Porém, meu sorriso morre assim que escuto meu celular tocar em cima da mesa. É Natal, quem poderia estar me ligando tão cedo? Nem meus pais se dariam ao trabalho, pelo menos esperariam até depois de 12h. Quando leio o nome do meu chefe no visor, sinto toda a minha felicidade ser sugada, dou um último para Lisa que compreende do que se trata a ligação. Yoona imediatamente revira os olhos e se afasta, frustrada; Yejun perde o brilho e abaixa a cabeça, sem tirar os braços de mim.

— Sr. Kim?

Que ótimo que atendeu, Jungkook. Fiquei sabendo que levou alguns relatórios pra casa. Sempre disposto, você vai longe desse jeito. Quero que me envie tudo preenchido até às 15h.

— Mas são mais de 400 páginas! Sem contar que é Natal!

Eu sei disso, por isso estou contando com você. É o único que tenho confiança para pedir isso no feriado.

Olho para Lisa e para as crianças, me deparando com seus olhares tristes e decepcionados. Yoona bufa e cruza os braços, desapontada, Lisa faz menção de pegar Yejun, provavelmente pensando que eu vou me levantar agora mesmo para começar a trabalhar.

— Yoona, vai pro carro, filha. Eu já estou indo.

Minha filha já começa a se levantar para pegar sua mochila. Porém, antes que Lisa tire Yejun do meu colo, eu o aperto mais, recusando-me em afastá-lo. Olho para os olhinhos cheios de esperança de meu filho, depois para a decepção refletida nas íris de minha filha. Levo a mão até a lateral da cabeça de Yejun e pressiono levemente contra meu peito, abafando seus ouvidos. Firmo o celular na orelha e respiro fundo. Me desculpem, crianças, pelas palavras de baixo calão a seguir.

— Escuta aqui, Sr. Kim, por que o senhor não vai tomar bem no meio do olho do seu cu? — E assim, eu digo as palavras presas na minha garganta, há anos engolindo desaforos e abusos.

— JUNGKOOK! — Lisa berra desacreditada e só consigo achar graça do sorrisinho de lado de Yoona.

Como disse?!

— O que você ouviu, seu arrombado do caralho! — Continuo, e minha filha leva as duas mãos até a boca para segurar a gargalhada. — Vai tomar no cu! Vai se foder, porra! Por que você não aproveita o feriado e enfia o "peru" do Seokjin bem fundo no seu rabo? Quem sabe se ele te comer direto você para de encher a porra do meu saco! O meu ovo, Sr. Kim que eu vou trabalhar em pleno Natal!

CHEGA! VOCÊ ESTÁ DEMITIDO!

— Ótimo! Fantástico! Pode mandar a minha carta de demissão por e-mail e eu espero que a indenização caia na minha conta em até 30 dias úteis. Agora, com sua licença, Sr. Kim, eu vou passar o Natal com a minha família. Boas festas! E feliz Ano Novo!

E sem pensar muito nas consequências atiro o celular para bem longe, espero não ouvi-lo pelas próximas semanas.

— Querem abrir os presentes? — pergunto, animado, vendo todos me encararem, completamente em choque.

— O papai disse uma palavra feia! — Yejun gargalha. — Ele ficou doido de tanto trabalhar.

— É, acho que fiquei sim. — Olho para ele, em seguida para Yoona. — O trabalho estava deixando o papai doente, então eu decidi sair.

— Você foi muito foda! — Minha filha oferece o punho para que eu dê um toque.

— Yoona! — Lisa a repreende antes de mim, tentando esconder o próprio sorriso divertido. Como pais devemos dar o exemplo, mas é quase impossível não rir.

— Quê? Ele foi. — Ela dá de ombros.

Mesmo que ver esse sorriso lindo estampado no rosto da minha filha seja uma das coisas que mais me alegrou nos últimos meses, não posso esquecer o meu lugar de pai e que não compactuo com ela falando palavrões antes da idade adequada. Se bem que eu não dei o menor exemplo agora.

— Voltei! O que eu perdi? — Jennie surge na sala com uma caixa nos braços, ostentando uma alegria exagerada para alguém que acordou tão cedo.

Essa mulher deveria ser estudada.

— O papai mandou o chefe dele tomar no...

— Yejun... — Advirto antes mesmo que ele termine.

Imediatamente Yejun cobre a boca para logo em seguida falar bem baixinho:

— Naquele lugar.

Jennie olha para mim com um misto de confusão e alegria.

— Então... você finalmente abriu os olhos, bonitão?

— Já era hora. — Dou de ombros. — Quer ajuda com a caixa? Parece pesada.

— Não precisa. As crianças têm um presente. — Ela se aproxima e põe a caixa no chão, logo à minha frente, onde Yoona e Yejun se agacham e ficam cada um de um lado.

À primeira vista, não entendo o intuito. No entanto, assim que a tampa se abre, vejo um cachorrinho peludo encolhido no fundo da caixa e sinto meu coração transbordar de felicidade. Uma mancha marrom cobre todo o olho esquerdo e mais outra um pouco menor sobre o dorso; o resto é um pelo branco como a neve. Meus batimentos estão tão acelerados que deixo-me escorregar do sofá até o chão, com a mão sobre o peito para tentar me regular. O filhotinho está tão ansioso que fica em pé nas duas patas traseiras e se apoia na caixa, abanando o rabinho ao olhar diretamente para mim.

— É... é pra mim? — A minha voz embarga, o nariz funga, sinto meus olhos marejados.

— É claro, né, papai! — Yejun faz carinho no cachorro, que lambe tudo o que vê pela frente.

— É um filhotinho da ninhada da cachorra da Jennie. — Yoona explica. — Mamãe disse que você sempre quis ganhar um cachorrinho de Natal.

Eu aproximo as mãos trêmulas da caixa; com cuidado, pego o cachorrinho nos braços e acaricio seus pelos enquanto ele lambe minha mão. Olho para Lisa e Jennie, que estão sentadas lado a lado, no sofá, com as mãos dadas e sorrindo alegremente para mim. Eu sorrio de volta em agradecimento. Lisa pisca um olho pra mim; até hoje me espanto com o fato dela me conhecer tão bem. Já nos divorciamos faz 3 anos e ela ainda lembra do presente que eu queria ganhar de Natal quando criança.

— Escolhe um nome pra ele, papai! — Yejun pede, animado.

Vejo Yoona hesitar em dizer alguma coisa, mas desiste ao olhar para mim. Dou o meu melhor sorriso a ela, me aproximo, puxo-a para um abraço de lado e digo, rente ao seu ouvido.

— Pode escolher o nome dele por mim.

Um sorriso ilumina seu rosto. Já faz tanto tempo que não a via desse jeito tão... empolgada. Comigo.

— Toby. — Sua voz sai sussurrada, e me vejo na obrigação de apertá-la mais contra mim.

Essa é a minha garotinha tímida.

— É perfeito, Yoona. — Beijo o topo de sua cabeça e rio ao ver seu rosto enrubescer ao mesmo tempo que se encolhe junto a mim.

Yejun se junta ao abraço enquanto Toby pula e late animado em meu colo.

— Bom, acho que vocês estão muito bem cuidados. Vamos, querida? — Lisa enlaça o braço no de Jennie, que logo retribui o contato.

Enquanto Yejun e Yoona correm pela sala sendo perseguidos por um filhote alucinado, acompanho-as até a porta para me despedir.

— Feliz Natal, garotas. — Digo assim que me encosto no batente da porta.

Minha ex-mulher me assusta quando abraça meu corpo sem aviso prévio, demoro um pouco para retribuir, mas logo estamos dividindo um aperto caloroso e amigável. Ela passa a mão no meu rosto e me deixo aconchegar com o toque; Lisa é e sempre será, acima de tudo, uma grande amiga. Nosso casamento pode não ter dado certo, mas os frutos que vieram dele nos une.

— Feliz Natal, Jungkook. — Seu sorriso me aquece.

— Feliz Natal, bonitão! — Jennie estapeia minhas costas quando Lisa se afasta.

E deixando de lado todo o meu orgulho e ciúme, eu a abraço. Tá bom, eu admito. Ela até que é legalzinha. Quem eu quero enganar? Ela é muito legal! Ela me deu um cachorro! E está fazendo bem para os meus filhos. Lisa me contou que desde que a conheceu, Yejun têm ficado menos na frente televisão e cada vez mais interessado em arte; e Yoona adquiriu mais segurança nos jogos e fez mais amizades na escola. O mínimo que eu posso fazer é agradecer.

— Obrigado por fazer nossos filhos felizes — digo baixinho ao seu ouvido, antes de soltá-la.

Obviamente ela não consegue se conter e me abraça novamente para não demonstrar a expressão de choro. Dou alguns tapinhas em seu ombro, ela é bem emotiva.

— Eu que agradeço a você e a Lisa por presentearem o mundo com crianças tão maravilhosas.

Eu aceno uma última vez quando as vejo partir com o carro, sentindo o peito mais leve. Minha casa está um caos, ouço gritos e latidos por toda parte. E não contente com a pequena desordem, me junto trazendo mais barulho para este lugar que há anos não sabia o que era um pouco de diversão. Até o momento que a enorme árvore de Natal é derrubada em cima de todos.

— Tá todo mundo bem, aí? — Me certifico.

Acabei de virar o pai legal, não posso destruir tudo nessa altura do campeonato. Não quero ninguém no hospital nesse Natal. Escuto um "estamos" alto em conjunto e logo recolocamos a árvore no lugar, em meio a muitas risadas.

Decido que agora é o momento perfeito para os presentes, mesmo que eu não tenha nenhuma participação na escolha deles. Vasculho entre as caixas e encontro o nome de Yejun, uma criança de 8 anos recebendo presente é como participar dos Jogos Vorazes, meu filho parece ensandecido com os olhos fixos no embrulho colorido. Enquanto o monstrinho destrói o papel, trato procurar o nome de Yoona e assim que encontro sento ao lado dela no chão.

— Aqui, filha.

Estou tão curioso quanto ela para saber o que tem ali, mesmo que uma vozinha na minha cabeça esteja gritando: eu já sei! Assim que ela desvenda as chuteiras roxas, consigo ver aquele mesmo sorriso lindo voltar. Sou tão apaixonado pelos meus filhos.

— São exatamente as que eu queria! Onde conseguiu? Essa cor estava esgotada.

Um demônio do Natal estalou os dedos fez elas pra você. Foi isso o que aconteceu.

— Dei meu jeitinho. — Dou de ombros, sorrindo.

— Valeu... p-pai. — Eu sei que isso é uma coisa simples, mas vindo de Yoona é demais!

Permito que ela venha até mim, me abraçar. É tão reconfortante saber que ainda sou um porto seguro para minha filha, pois suas mãos me apertam em busca de abrigo. Agora compreendo as palavras desta madrugada sobre hoje ser um dia decisivo na minha relação com eles. Se tudo não tivesse mudado, se eu não tivesse mudado, tudo teria ido por água abaixo.

— Eu te amo, Nana. — Cheiro seu pescoço ao chamá-la pelo apelido antigo.

— Pai, não me chama assim! Eu não tenho mais 6 anos! — Ela esconde o rosto rubro na curva do meu pescoço.

— TINTA ACRÍLICA!!! É TINTA ACRÍLICA!!! MEU DEUS!!! — Yejun grita tão alto que eu e sua irmã nos assustamos. O garoto está tão possuído que corre de um lado para o outro, quase sem sair do lugar, pulando tal qual um canguru bêbado.

Toby, corre por toda parte, latindo animado e farejando tudo, explorando a casa. Yejun o persegue por onde quer que ele vá. Enquanto Yoona me ajuda a limpar os retalhos de papéis de embrulho rasgados. Porém, um grito histérico de Yejun vindo dos fundos chama a nossa atenção. Imediatamente largamos tudo para ir e corremos para verificar.

— A piscina! — Yejun grita, completamente maravilhado.

Os olhos de Yoona brilham tanto quanto os meus. A piscina está cheia e limpa, com boias e bolas flutuando sobre a água cristalina; o gramado está verde como nunca esteve e perfeitamente aparado; até mesmo a árvore possui bebedouros pendurados nos galhos para os pássaros. Meus filhos observam tudo encantados, com sorrisos de orelha a orelha. Em seguida, olham para mim, pedindo permissão.

— O que vocês estão esperando?

O demônio do Natal realmente pensou em tudo, porque no quarto das crianças, além de chocolates e balas debaixo dos travesseiros, ele deixou roupas de banho e toalhas estendidas sobre as camas. Até eu fui presenteado com uma bermuda vermelha com desenhos de bonecos de neve. Não demoramos para pular na piscina e aproveitarmos da melhor maneira o calor que está fazendo hoje. Brincamos de guerra de água, demos pulos de bomba, jogamos bola. Tenho orgulho de dizer que pude libertar a minha criança interior. Até mesmo Toby pulou na piscina e com a nossa ajuda, aprendeu a nadar.

Porém, escuto a campainha tocar várias vezes, o que me obriga a sair da piscina e entrar em casa, molhando todo o carpete. Quem poderia ser? Se for algum desgraçado querendo espalhar a palavra de Jeová eu bato a porta na cara. Não tenho nenhuma obrigação em escutar esse pessoal enchendo a porra do meu saco. Já me preparo com o discurso na ponta da língua, vou usar a desculpa de ser satanista dessa vez. Vai ser divertido. Porém, nada havia me preparado para reencontrar aquele rosto tão familiar diante da minha porta.

O mesmo nariz arrebitado e redondo, os olhos estreitos, as bochechas cheias, o sorriso brilhante com o dente da frente um pouco tortinho, sem falar nesse cabelo loiro — quase platinado — que faria qualquer um enlouquecer. O moletom natalino é um charme a parte, mas o que realmente me chamou atenção foi um floco de neve cair milimetricamente calculado na raiz do cabelo. O que não faz nenhum sentido, já que aqui não neva nessa época do ano.

— Papai Noel?! — Deixo escapar sem querer, me arrependendo imediatamente ao ver sua expressão confusa.

— Estou tão velho assim? — Ele dá um sorriso tímido e sem graça.

Park Jimin não mudou absolutamente nada em 15 anos. Claro que há a diferença de idade, a última vez que o vi estávamos no auge dos nossos 20 anos. Mas agora, nossa! Não sei dizer se ele está mais atraente ou se são as cenas depravadas dos meus desejos dessa madrugada voltando à tona, mas preciso assumir para mim mesmo: Que homem!

Ele nunca foi o tipo de cara que vivia na academia, então lembro-me dos seus poucos músculos, não é bem isso o que vejo aqui. Mesmo usando uma roupa mais larga é perceptível que seus braços estão maiores e mais definidos, assim como suas coxas debaixo da calça jeans preta. Ele está perfeito.

Quando volto meu olhar ao seu rosto vejo que o minúsculo floquinho de neve derrete sem que ele perceba. E o sol acaba batendo com mais vigor contra seu rosto, o que faz um brilho avermelhado surgir em meio ao castanho. Demônio desgraçado.

— Nã- Não! Me desculpa... Jimin... É... P-Park Jimin, não é? — Eu me enrolo todo para falar. Que bela primeira impressão para um reencontro.

— Eu te conheço?

— Jeon Jungkook. Da... da faculdade. Eu sentava atrás de você em Filosofia... II... Vo-Você me passou cola na prova final.

— Jungkook? — Sua cabeça tomba um pouco para o lado. — Ah, meu Deus! Jungkook! — Seu sorriso se abre mais e eu perco mais a sanidade. — Eu nem me lembrava dessa prova.

— Eu lembro porque precisava muito da nota. Você salvou o meu semestre naquele dia.

Jimin suspira e só agora noto que está segurando uma travessa cheia de rabanadas. Se ele soubesse o meu fascínio por essas belezinhas não estaria me arriscando com isso na frente da minha casa. Eu mataria qualquer um por essa travessa. Se meu filho pareceu um animal selvagem com as tintas acrílicas, é porque não me viram disputar rabanadas com Yoona. É mortal!

— Nossa. Já faz tanto tempo. Isso tem uns... 10 anos?

— 15 na verdade. O que está fazendo aqui em pleno Natal? — Coço a nuca, tentando não aparentar tanto nervosismo.

— Eu me mudei faz uns dois dias.

— Uau! — exclamo, surpreso.

— Pois é. Praticamente na véspera de Natal. — ri sem graça.

— Corajoso.

— Pai! — Yejun me chama, mas logo gruda em minhas pernas ao encarar Jimin.

— Você tem filhos. — Vejo um vislumbre de desilusão em seu olhar.

— Ah... é... — coço a nuca timidamente.

— Você é solteiro, tio? — Meu filho pergunta, entrando na minha frente com os olhos vidrados na travessa de Jimin.

— S-sou. Sou sim. — Vejo suas bochechas tornarem-se levemente rosadas. Sempre achei esse detalhe adorável.

— O meu pai também! — Meu filho levanta o braço, apontando para mim.

— Já chega, mocinho. Pra dentro agora! — Dou meu melhor sorriso amarelo, sem acreditar na vergonha que estou passando na frente do meu ex-colega.

Logo dou de cara com a expressão divertida de Yoona, pela sua pose consigo compreender o que deve estar se passando naquela cabecinha juvenil e não sei se quero que os pensamentos intrusivos e sem filtros dela sejam expostos. Conheço muito bem o que aqueles braços cruzados, a sobrancelha arqueada e a língua passeando entre as bochechas significam. Problema!

— Desculpe por isso. — Só quero encontrar um buraco para enfiar minha cara.

— Tá tudo bem. — Noto seu olhar recair algumas vezes sobre o meu abdômen desnudo e molhado. Sinceramente não sei se fico sem graça ou feliz com isso.

— Divorciado. — A palavra simplesmente escapa, sem que eu perceba. — E-Eu sou... divorciado. Por que eu disse isso? É tão embaraçoso.

— Entendo. — Flagro o sorriso esperançoso e isso faz com que borboletas dançem na minha barriga.

— Vai passar o Natal com a sua família? — pergunto como quem não quer nada, e vejo a expressão dele murchar um pouco.

— Infelizmente não. Minha família mora em outro estado e não tenho nenhum parente por aqui.

— Sinto muito.

— Pai, para de flertar e chama logo ele pra ficar com a gente! — Yoona berra do outro lado, com um sorriso faceiro.

Ter filho é benção, disseram. Mas nunca ninguém avisa os contras e as vergonhas que vai passar por culpa deles.

Nós olhamos um para o outro, acanhados, como dois adolescentes. Suas bochechas estão tão vermelhas quanto as minhas. Quase me esqueci de como ele ficava adorável quando estava com vergonha.

— Gostaria de ficar para o almoço? — convido, implorando ao Espírito do Natal para não levar um fora na frente dos meus filhos. Yoona iria rir de mim pelo resto da vida.

— Gostaria de ficar para sempre?! — Yejun se junta à irmã para me infernizar. O meu rosto torna-se ainda mais rubro.

— Desculpe. — Aperto os olhos e os lábios, implodindo de tanta vergonha. — Se não quiser, eu entendo perfeita...

— Eu adoraria. — Sua mão pousa sobre meu ombro e mais uma vez nossos olhares se encontram.

Viajo no brilho vermelho que me seduz, Jimin sempre teve esse poder sobre mim. Nunca vou esquecer daquela festa da calourada que participamos, foi a primeira vez que questionei minha sexualidade. Ele parecia tão seguro de si, tão confiante; enquanto comigo só bastou trocar 4 palavras para eu ter uma síncope e dar um fora nele.

— Pra sempre?! — Os meus olhos dobram de tamanho.

— O almoço, Jungkook. — Ele explode em uma gargalhada extremamente gostosa. E mais uma vez sinto-me derreter de constrangimento.

— Ah! C-Claro... Pode... pode entrar. — Um pouco sem jeito, dou espaço para que ele entre. — Seja bem vindo... — Olho de relance para Yoona, que sorri daquele jeito que eu tanto amo. — à nossa casa.

E no exato mesmo segundo em que Jimin coloca o pé para dentro da nossa sala, olhando admirado para a decoração, ele é recebido por uma bolinha de pelos que não para de latir e pular em suas pernas.

— Oi pra você também, bebê! — Ele fala com uma voz doce adorável e se curva um pouco para acariciar seus pelos.

— Esse é o Toby — explico. — Ele é novo aqui também.

— Ele é lindo! — Jimin se derrete com o filhotinho, que não deixa de lamber sua mão nem por um segundo. Em seguida, ele olha em volta. — Sua decoração também. Combina com o dono da casa.

E assim eu me derreto ainda mais com o seu olhar naturalmente sedutor e o sorriso iluminado capaz de aquecer o coração do próprio Grinch.

— Obrigado.

Demônio Natalino dos infernos!

Trato de vestir uma camisa antes de acompanhá-lo até os fundos, onde meus filhos já estão brincando novamente. Assim que chegamos, Jimin põe a travessa de rabanadas sob a mesa da varanda, em frente a piscina, que foi prontamente atacada por mim e meus filhos quando recebemos a permissão. Não escondemos o quão selvagens somos, com direito a guerra de boca cheia e lançamento na água quem desse uma de engraçadinho e pegasse mais que o permitido.

Meu ex-colega optou por não desfrutar da piscina, algo sobre retoque de cabelo e não querer que fique verde. Não entendi muito bem, mas não nego que ele ficaria lindo com qualquer cor. Para recompensar o ataque animalesco aos seus doces, trato de buscar uma bandeja com os biscoitos e servi-la a todos.

— Biscoitos? — Vejo uma certa hesitação na hora de pegar um, porém ele decide por não comer.

— São de gengibre? — pergunta sem graça. Aceno que sim, e dessa vez sua expressão é tristonha. — Eu... sou alérgico.

— Ah, droga! — Termino de entregar o resto para Yejun que enche a boca ao sair correndo com Toby em seu encalço.

— Tudo bem, não tinha como você saber.

Completamente sem graça, eu volto para a cozinha. O meu coração está acelerado, minhas pernas parecem gelatinas e eu me sinto um imbecil. O que é isso? Voltei a ter 17 anos? No entanto, quando coloco o pote de biscoitos na prateleira, me deparou com outro cheio de biscoitos com gotas de chocolate idênticos aos que fiz ontem. Demôniozinho safado!

— Gotas de chocolate? — Seu olhar se ilumina quando volto para a varanda com os biscoitos.

— Não gosta?

— São os meus favoritos.

— Ah, então é você quem gosta desses biscoitos. — Yoona comenta ao se aproximar. — O papai vive fazendo eles achando que a gente gosta, parece que ele pensava em outra pessoa ao fazer...

Me livro da minha filha da maneira mais madura que existe no mundo, jogando-a na piscina, enquanto ela ri de forma divertida. Yejun se agarra na minha perna e pede para que eu faça o mesmo com ele. E assim eu faço. Jogar seus filhos na piscina é uma ótima tática para livrar-se de certos inconvenientes. Jimin me olha levemente assustado, porém consigo ver suas bochechas vermelhas e o sorriso tímido. Tão lindo!

Eu me sento ao seu lado, na mesa da varanda para que possamos conversar sem que eu tire os olhos das duas praguinhas que eu chamo de "filhos". No entanto, antes que eu ou Jimin digamos qualquer coisa, Yejun surge como uma assombração à frente do nosso convidado.

— Você gosta de pizza? — Meu filho pergunta à Jimin.

— Ah... sim. Eu adoro pizza. — Ele sorri e sinto que posso morrer feliz ao vê-lo interagir tão lindamente com uma criança.

— O meu pai gosta de passar pizza na cara. Não é, papai? — Humilhado pelo próprio filho. Acho que está na hora de iniciar a terapia.

Nem preciso de um espelho para saber que meu rosto está vermelho como um tomate. Jimin olha para mim com um sorriso de lado e diz:

— Molho de tomate faz bem pra pele.

— Eu ouvi de alguém que outra coisa faz bem pra pele. — comento ao me lembrar da infeliz piada de Seokjin sobre a minha vida sexual inativa.

— O quê, papai? — Os olhinhos se direcionam para mim.

Puta merda! Sem saber o que fazer, olho em volta, na busca de qualquer coisa que possa servir de resposta. Os meus olhos param na piscina à nossa frente.

— Piscina! — respondo. — Água de piscina.

— Você tá mentindo! — Yejun me repreende. — A Jennie disse que a piscina resseca a pele e o cabelo.

— A Jennie... tá errada. — insisto. A Jennie pode ser muito legal, fazer minha família feliz, e até ter me dado um cachorrinho muito fofo, mas nunca vou deixar de sentir ciúme.

— Não tá não! — Meu filho exclamou, irritado. — Ela sabe mais que você sobre cabelo e pele. Você mexe com papel.

— Por isso mesmo sei que ela tá errada. — Às vezes eu tenho a mesma maturidade que o meu filho de 8 anos.

— Não tá não!

— Tá sim!

Sei alguma coisa sobre cabelo e pele? Não. Me sinto ofendido quando o meu filho diz que a madrasta dele sabe mais do que eu sobre algum assunto? Extremamente. Uma pequena discussão quase teve início se não fosse Jimin para interferir.

— Protetor solar, pequeno. — Ele diz a Yejun. — Isso é bom pra pele.

— Tá vendo, papai? Ele sabe mais que você! — Ele aponta para Jimin. — Moço, você devia conhecer a namorada da minha mãe. Ela sabe muito sobre essas coisas. Mais que o papai.

— Já que faz bem pra pele, por que você não pede pra sua irmã te ajudar a passar protetor solar, filho? Vai lá, anjnho. — falo a última palavra entre dentes.

Aproveita e pede pra Jennie te dar um kit de tinta acrílica!

Quando Yejun vai até Yoona, finalmente me vejo à sós com Park Jimin.

— Era porra, não é? — ele diz, depois de esperar meu filho estar longe o suficiente para que não possa nos ouvir.

— Como? — Mal acabei de me recuperar da última humilhação e meu rosto já está corado novamente.

— Deu pra ver na sua cara. — Alguns segundos são o suficiente para que ele compreenda o duplo sentido, e seu rosto toma um vermelho intenso. — Não! Eu não quis dizer que você usa porra na cara. Meu Deus! Preciso calar a minha boca, que situação constrangedora!

Explodo em uma gargalhada estrondosa, com direito a sentir minha barriga doer e o ar faltar nos pulmões. Há quanto tempo eu não me divertia desse jeito? Realmente, a vida que vivi até agora foi a mais monótona e sem graça do mundo. Até Jimin esquece da vergonha passageira e se junta a mim. Quando percebemos, os dois adultos estão rindo até lacrimejar tal qual duas crianças, enquanto meus filhos assistem de longe sem compreender absolutamente nada. Ao cessar das risadas, ficamos mais um tempo em silêncio, como dois jovens tímidos, sem saber exatamente o que dizer. Apenas observamos meus filhos brincarem alegres com o nosso cachorrinho igualmente alegre.

— O Toby é cheio de energia. — Ouço-o comentar enquanto o cachorro não para de latir sempre que uma das crianças mergulha na água. — Ficarei mais do que feliz de ter ele como meu paciente.

— Seu paciente? — Logo um estalo de memória me assola. — Verdade! Você fazia medicina veterinária. Como pude esquecer disso?

— Estou abrindo uma clínica, por isso me mudei pra cá. Assim fico mais perto do trabalho e dos meus filhos.

— Você também tem filhos?

— Meus gatos — ri assim que me tranquiliza. — Nunca casei. Acho que não tava na hora.

— Entendo.

— Escuta, você vai achar que é maluquice minha, mas... eu tô com uma pergunta presa na garganta. Como se eu precisasse dizer isso. — Jimin encolhe as mãos em nervosismo, puxando as cutículas antes de falar. — Você... por acaso... estaria procurando um trabalho?

— Na verdade, eu meio que fui demitido não tem nem duas horas.

— Que ótimo! Digo... perdão. Eu sinto muito.

— Não sinta. Eu odiava aquele emprego.

— Que bom que fez o que era melhor para você. É que estou precisando de alguém na parte administrativa da clínica e todos os currículos que chegam são tão... bleh. — Ele põe a língua para fora e rimos juntos com essa reação.

— Te envio depois do feriado. — Pisco um dos olhos, me envergonhando logo em seguida. Não sou mais adolescente pra fazer essas coisas.

Se controla, Jungkook!

— Você se lembra... daquela calourada em que eu te ofereci uma cerveja?

— Claro que lembro. Eu nunca vou me esquecer do dia em que quase me borrei nas calças ao falar com você.

— Sério? — Ele ri. — Pelo que eu me lembro, você parecia tão desconfortável comigo, até recusou cerveja.

Eu desconfortável com Park Jimin? Isso é humanamente impossível.

— Fiquei muito nervoso. Era tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que entrei em pânico.

— Eu lembro que você disse "Valeu, cara. Mas eu tô de boa." Um tempo depois eu te vi bem louco, beijando a... quinta garota? —Ele engrossa a voz, me obrigando a rir da minha versão patética de anos atrás.

— Meu Deus, que horror! Eu definitivamente estava tentando provar algo pra mim mesmo e falhei miseravelmente.

— E conseguiu provar?

Você ajudou bastante! Quase todas as minhas punhetas depois daquela calourada foram pensando nele.

— Claro! Dez anos de um casamento sem graça provaram pra mim que eu, com certeza, sou gay.

— Meu Deus! — rimos em uníssono.

— Acho que é por isso que eu parecia tão... "desconfortável" com a sua presença.

— Eu achava que você não gostava de mim. — Ele ri ao se lembrar.

— Na verdade era o completo oposto. Eu meio que tinha uma... quedinha por você, mas não sabia o que era aquele sentimento na época.

O que deu em mim? Enlouqueci de vez? Como pude tentar flertar com ele na frente dos meus filhos de maneira tão descarada? Minha vergonha na cara foi para a puta que pariu depois dessa madrugada, só isso para explicar o que está acontecendo.

— Você tinha? Então, não tem mais? — Ele me lança um olhar provocante e logo meu rosto enrubesce.

— Eu nunca disse isso. — Devolvo o mesmo olhar. Agora sim estamos flertando. — Será que eu posso te recompensar te chamando para tomar... um café, quem sabe?

— Uau! Eu não esperava por isso.

— Muito apressado? — Acho que estou muito afoito.

— Atrasado. 15 anos.

— Se você não quiser, eu entendo. Você tem todo o direito de me dar um fora. Eu... — As palavras somem quando sinto um breve beijo ser depositado na minha bochecha. Só assim para calar a minha boca.

— Eu ia amar. Que tal depois do Ano Novo?

— Perfeito! — A minha voz treme e sinto as bochechas queimarem

— Só, por favor, vamos evitar aquela confeitaria pornô. Entrei lá sem querer e me senti na obrigação de comprar uma piroca recheada pra não reclamarem que eu estava ocupando a fila sem necessidade.

— Meu Deus! — Não consigo segurar a risada.

— Foi constrangedor.

— Eu imagino.

— Quem poderia imaginar que depois de tanto tempo estaríamos morando na mesma vizinhança. Loucura, não é?

— Vai ver a magia do Natal nos uniu.

— Estou feliz em te reencontrar, Jungkook. — Eu poderia morar no sorriso de Park Jimin.

— Eu também, Jimin.

E também estou feliz em me reencontrar.

Ouço a campainha mais uma vez e peço para que Jimin tome conta das crianças. Quando abro a porta não encontro ninguém, olho para os lados à procura de alguém na vizinhança, mas está totalmente deserta. Surpreendentemente um frio sobe por toda a minha espinha, o que é estranho; pois o céu está limpo e o dia ensolarado.

Ouço guizos bem distantes, mas o que me tira um sorriso satisfeito é ao olhar para baixo e encontrar uma carta. Não há selos, ou remetente, apenas destinatário. Jeon Jungkook. Em uma letra cursiva caprichada, o cheiro doce familiar faz minhas bochechas corarem e antes de abrir, verifico se estou sozinho.

"Para Jeon Jungkook,

Espero que a partir de hoje seus Natais sejam tão doces e prazerosos quanto leite com biscoitos.

Ass. Krampus."

Fim.

O que acharam? Nós amamos escrever nessa pegada mais sobrenatural.

Gostaram do JK bem safadinho?

Teremos epílogo, mas sem previsão no momento.

Boas festas!

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