Equinócio - Twilight

By Lady_Grisha

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"E quando ele imaginou que o inverno jamais teria fim, fez-se a chegada do Equinócio, anunciando a chegada de... More

Cast
A nova doutora de Forks
A imortalidade tem o seu preço
Alguém com quem contar
Verdade inusitada
Renesmee
Mágoas de um coração inseguro
21 de março
Planos frustrados
Equinócio
NOVIDADE: Creatura

Um sorriso cicatrizante

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By Lady_Grisha

   Tendo um expediente que cobria basicamente a manhã e a tarde toda, não era de se espantar que as noites fossem o período do dia favorito de Charlie. No entanto, aquelas preciosas horas de repouso tinham ganhado um significado ainda maior após Bella ter se mudado para o Alaska, pois eram nelas que sua filha ligava para ele.

   Faziam quatro meses desde a sua partida, e o homem seguia sem entender o que a teria feito sair com tanta pressa de Forks: a baixa do Doutor Cullen na clínica podia ter sido dada com antecedência; os trâmites quanto ao processo da assinatura da escritura da nova casa podiam ter sido mencionados durante o mês anterior à partida; mas ainda assim era nítido que tal coisa não havia sido pensada sem nenhum motivo.

   A questão era: que motivo seria este?

   Nunca tivera nada contra os Cullen, mas tinha de admitir que desde que Edward se tornara seu genro, mais e mais as estranhezas e peculiaridades daquela família vinham se tornando perceptíveis aos seus olhos, chegando ao ápice quando reencontrou Bella  pela primeira vez, após a sua lua de mel. A palidez excessiva, as olheiras estranhas, a pele fria, e os olhos penetrados como o de uma raposa arisca pareciam destoar de sua imagem costumeira, tanto quanto as roupas de marca muito bem selecionadas por Alice...e de algum modo, nunca antes ela pareceu tão encaixada em sua nova família.

   De todo modo, aquelas não eram coisas que Charlie se permitia pensar por muito tempo. Tinha lhe prometido não pensar demais sobre, em troca de que ela permanecesse por perto.

   E mesmo assim ela quebrou a promessa.

   Nove da noite, com uma precisão invejável, o telefone tocou na cozinha, fazendo Charlie se levantar abruptamente da cadeira para o atender.

   “Boa noite, pai” a voz do outro lado da linha o cumprimentou, com uma felicidade genuína. Se lembrava de quando ouvira Bella falar daquele jeito pela primeira vez, num tom melodioso demais para o seu usual. Até mesmo chegara a quase desligar o telefone, em uma das vezes, acreditando ser alguém tentando lhe passar um trote, mas com o tempo passara a reconhecer aquela linda voz como a de sua filha.

   — Oi, Bells! Pontual como sempre, hein?! — riu emocionado, sempre feliz em ver que assim como ele, sua filha contava os segundos para conversarem por telefone.

   “Sabe que nunca o deixaria esperando.” Ela também riu, parecendo chegar o telefone mais próximo do rosto “Alguma novidade em Forks?”

   — Pra falar a verdade, há uma sim. Avise ao Doutor Cullen que sua substituta chegou hoje mesmo na cidade. — Charlie falou com humor, se lembrando da adorável mulher de sorriso fácil. — Talvez eu tivesse demorado um pouco mais antes de conhecê-la, mas calhou do carro dela ter derrapado a alguns metros da cidade. No fim, ela me ligou e eu aproveitei para dar as boas-vindas.

    "Olha se não é o Xerife Swan, um verdadeiro cavalheiro em armadura branca!" declarou em brincadeira, mas havia algo de estranho em sua voz, quase como se estivesse tendo problemas para processar a informação. "E como ela é?"

   — Muito simpática. Se mudou de Nova York para cá, sabe-se lá o porquê, mas não me preocupei em fofocar sobre. — dera de ombros, sem saber mais o que dizer.

   — E a...aparência? — se o tom de Bella fosse malicioso, Charlie até poderia pensar que ela estaria insinuando um possível interesse amoroso por parte do pai, mas não havia sutileza em seu questionamento. Apenas uma estranha apreensão.

   — Oras, Bells, por que eu precisaria fazer um retrato falado da dita moça, hein? Por algum acaso isso teria a ver com o que Jacob é, ou...? — “o que você é?” essa seria a forma como deveria completar aquela frase, mas sua voz simplesmente morrera antes disto.

   Afinal, o que Bella era? O que ela teria precisado fazer quando ficara doente na lua de mel?

   De repente, foi como se todo o bom humor tivesse se esvaído daquela ligação, dando lugar à desconfiança que Charlie detestava sentir em relação a própria filha. Podia ter aguentado perder seu melhor amigo, mas jamais aguentaria perder sua filha.

   “O senhor tem razão. Eu...eu não sei o que tinha na cabeça perguntando sobre ela” Bella se desculpou, parecendo mortalmente envergonhada consigo mesma. Uma longa pausa se fez em seguida, e Charlie se perguntou se não deveria fazer o mesmo também. “Talvez eu devesse desligar.”

   — O quê?! Mas e você?! E Renesmee?! — ele se apressou em interrompê-la, se recusando a suspender aquele momento. — Não teriam novidades quanto a nova casa, ou alguma historinha divertida, ou...? — começava a gaguejar enquanto se atropelava nas palavras, até que uma nova voz se fez audível.

    "Boa noite, vovô!" uma voz tão doce quanto a de Bella exclamou, fazendo o coração de Charlie se esquentar em alegria. Podia só conhecer Renesmee há um ano, mas a amava como se a conhecesse a vida inteira.

   — Boa noite, Nessie! Está meio tarde para estar acordada, não? Sua mãe desnaturada ainda não te colocou na cama? — ele riu, apesar da voz embargada. Não queria ficar triste na presença da neta, mas o nó que se formava em sua garganta aos poucos se tornava insuportável.

    "Ela até tentou." o riso infantil da garota foi o mais adorável que já ouvira na vida. "Mas eu insisti que ela me deixasse permanecer acordada até ela ligar para o senhor...Estou com saudades, vovô."

   As vezes o vocabulário de Renesmee, tão variado para uma criança de apenas 3 anos, o deixava um tanto escabreado, mas como havia prometido a Bella, não havia nada que ele não fosse capaz de ignorar pela sua família.

   — Também estou com saudades. — admitiu de coração partido, tentando pela última vez se controlar, levando os dedos até o topo do nariz, se esforçando para frear as lágrimas que começavam a emergir.

   Mais silêncio se fez do outro lado da linha, e por um instante Charlie imaginou que teriam desligado a ligação, até ouvir:

   “Pai, nós te amamos” Bella comentou num tom contido, parecendo sentir mais por ele do que por si mesma.

   — Eu também amo vocês. — Ele respondeu, e desta vez o som da ligação sendo cortada se fez perceptível, o fazendo ver que por mais uma noite, ele estaria sozinho na residência Swan, contando os minutos até o dia seguinte, onde poderia iniciar mais um expediente.


...


   Quando amanheceu, Charlie seguiu mecanicamente até o banheiro, fazendo suas higienes matinais para se preparar para ir para a delegacia. Se todos já o conheciam por seus modos introspectivos, ainda foram capazes de se espantarem com o silêncio mortal com que ele seguiu pelas horas seguintes.

   Era óbvio que Charlie não lhes contaria o motivo por trás de seu semblante mortificado, mas em seu interior suplicava para que Bella retornasse sua ligação naquela noite, e que o tempo que perderam no dia anterior, fosse compensado no dia de hoje.

   Nem mesmo teve vontade de sair para o intervalo do almoço, mas após muita insistência de seus colegas de trabalho, decidiu por dirigir até o Carver's Café e fazer o seu pedido habitual. Nem mesmo se prestara a observar a movimentação na lanchonete, não levantando seus olhos do prato até ouvir os sininhos da entrada tocarem, junto a uma voz recém-conhecida.

   — Boa tarde. Teriam lugares junto ao balcão? — ninguém menos do que a Doutora Natalie perguntava a atendente, os olhos verdes brilhando enquanto sondava o estabelecimento.

   — No período matutino e vespertino é raro termos as banquetas vagas. —  a garçonete respondeu com humor. — Porém, ainda temos algumas mesas livres. Sinta-se a vontade para se sentar em uma delas, que logo voltarei para recolher o seu pedido! — concluiu, afagando amigavelmente as costas da forasteira, pouco antes de se afastar para voltar e finalizar o atendimento de outros fregueses com quem estava conversando anteriormente.

   Os olhos de Natalie se arrastaram preguiçosamente pelo estabelecimento, parecendo se agradar com o que via, até enfim notar a figura do xerife que a observava a distância.

   — Boa tarde, Xerife Swan! Não esperava encontrar o senhor aqui! — ela deu aquele seu sorriso de bochechas marcadas, desfilando até a mesa onde ele se encontrava.

   — Poderia dizer que tal coincidência se deve ao fato de esta ser uma das poucas lanchonetes locais, mas isto tiraria todo o mérito do bom gosto nos pratos! — Charlie retribuíra a empolgação, estendendo a mão para que se cumprimentassem. — Verá que a comida aqui é maravilhosa!

   — Estou aberta a sugestões quanto ao que pedir. Confesso que preferia estar fazendo minha comidinha caseira, mas ainda não tive tempo de abastecer minha dispensa. — ela meneou a cabeça, por fim dando de ombros.

   Bastou alguns segundos conferindo as opções para ela gesticular para a garçonete, pedindo uma Salada Cobb e um chá gelado. Mais um pouco, e o pedido já estava chegando à mesa. A essa altura Charlie já havia terminado o próprio almoço, mas se propôs a estender aquele tempo com a doutora pedindo um cafezinho para fechar sua conta.

   — Você tinha razão. — murmurou com a mão na boca, abafando um suspiro após provar de uma garfada de seu prato. — A comida daqui é realmente boa!

   — Forks pode não ser reconhecida por ser ensolarada, mas ao menos sabemos como forrar nossos estômagos! — ele concordou com um riso baixo. — Como tem passado seu segundo dia aqui?

   — Bom, como lhe disse no dia anterior, o ferimento não foi nada demais. — ela sorriu, apontando para o curativo na testa, e que era facilmente disfarçado pelas madeixas loiro-morango. — Então fui liberada vinte minutinhos depois, e pude andar em primeira mão até minha casa. Vernon também não demorou a trazer o meu carro, o que acredito que eu deva agradecer mais uma vez a você. — apontara desta vez para Charlie, agradecida por sua consideração em ter ligado tão rapidamente para o reboque. — De resto...Bom, só estou desencaixotando o que trouxe comigo, enquanto aguardo o caminhão de mudança chegar com o restante.

   — Alguma previsão de chegada? — ele perguntou curioso.

   — Devem chegar amanhã, no mais tardar. Mas não estou exatamente com pressa, já que ainda tenho uma semana de licença antes de assumir oficialmente as coisas no hospital... — novamente dera de ombros, pondo um fim em seu extenso depoimento sobre suas últimas 24 horas. — Ah, e agora estou aproveitando essa salada em boa companhia. Então acho que tenho me saído bem em minha nova vida em Forks. — agora sim concluíra, trazendo uma rodela de ovo à boca.

   Charlie se viu rindo mais uma vez, um pouco atordoado com o quão fácil era falar com aquela mulher. A última garota com quem se lembrava de conseguir conversar assim, com tanta leveza, era Renée, que por sua vez era assim pelo seu espírito dado a aventuras e mergulhos no desconhecido. Uma cidade como Forks nunca teria sido vista como alvo de estadia permanente para ela — queria o Swan ter reparado isto antes de estreitarem tanto a relação — mas ao contrário de sua ex-esposa, Natalie havia ativamente escolhido Forks, aquela cidadezinha que era a epítome do pacato.

   Se lembrou das palavras da doutora no dia anterior: “Já chega de cidades grandes”. Só gostaria de saber o que a teria feito fugir assim.

   — Me avise quando o caminhão chegar. Amanhã será fim de semana, então terei o dia livre.

   — Não mesmo. — ela protestou, de repente séria demais para ele compreender. — Folgas são dias sagrados! Não pode pensar em desperdiçar eles ajudando uma completa estranha!

   — Eu não tinha nada planejado mesmo. — ele deu de ombros, não mentindo. Era verdade que, em outros tempos, teriam as pescas com Harry e Billy, mas o Cleawater havia falecido, e o Black...bom, já fazia algum tempo que não falava com ele.

   Natalie permaneceu o encarando, os olhos verdes semicerrados como se duvidasse de suas palavras e tentasse entender as suas intenções. Mas no fim  seu sorriso retornou ao seu rosto, acentuando as maçãs de seu belo rosto.

   — Certo, irei aceitar essa gentileza, mas agora estarei lhe devendo dois favores: um pelo reboque, e outro pela mudança! Pretendo compensar um te convidando para um almoço amanhã. O segundo deixarei ao seu cargo para escolher quando quiser. — concluiu de forma brincalhona, se fazendo de enigmática.

   Foi quando o rádio do oficial apitou, com a chamada de um de seus colegas perguntando onde estaria.

   — Acho que extrapolei o horário de almoço... — ele murmurou acanhado, diante da risada dela. — Mas então fica combinado da forma que você disse: Amanhã estarei lá para te ajudar!

   — Espere só mais um instante: Vou precisar do seu número para ligar amanhã, não? — a mulher o lembrou, pegando um guardanapo para o estender. — Teria caneta?

   Sim, ele tinha uma caneta que era a fiel companheira de um bloquinho de notas que ele carregava no bolso, no caso de precisar aplicar alguma multa. Charlie nem mesmo hesitara antes de lhe dar o número, trocando apenas mais algumas poucas palavras antes de enfim se despedirem.

   Era isto: era apenas a segunda vez que interagiam e mais uma vez Natalie lhe fizera sorrir.

   Charlie Swan só podia rezar para aquilo se tornar um hábito entre os dois.

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