Oceano de Python
Navio Nest — 9:00AM
O barco não demorou para zarpar, Black Rose já havia desaparecido na medida em que se afastavam da ilha, Felix ainda vestia o capuz, observando o mar levá-los para longe de onde era o seu lar.
A sensação de estar no oceano era algo familiar para si, mas não é como se conseguisse colocar em palavras. Só que alguma coisa estava o perturbando naquele momento, talvez fosse como se tudo estivesse dando errado.
Hyunjin ainda se sentia aflito, a adrenalina estava cessando aos poucos e tentava ao máximo entender como pôde se tornar um pirata procurado internacionalmente em tão pouco tempo e sequestrado o príncipe herdeiro de Black Rose.
Não sabia se estrangulava Minho por aceitar a oferta ou se jogava Jisung no mar.
— Por que aqueles guardas estavam atrás de vocês? — Dália os questionou curiosa, ainda tentando se familiarizar com os novos rostos no navio. — Que merda fizeram?
— A mesma coisa de sempre. — Changbin deu de ombros. — Minho fez merda e estragou o roubo.
— Ei! Eu não fiz nada dessa vez! — exclamou indignado. — A culpa foi toda do Chan!
— Minha culpa?! Foi ele que tentou tirar a mercadoria da minha mão. — apontou para o Han, ainda cabisbaixo e triste por suas próprias atitudes. — Teríamos conseguido se não fosse por culpa dele.
— Não é certo roubar, ainda mais sendo do meu povo!
— Ah claro, e quando que você iria comentar sobre esse detalhe?! — Hyunjin se pronunciou pela primeira vez naquele momento, com um olhar mortal na direção do ômega. — Aceitamos a oferta de vocês desde o início, o mínimo que poderiam ter feito era mencionado sobre isso! — se aproximou um pouco mais do ômega, o fazendo recuar.
— Não me lembro de lhe dever satisfação! — Felix o empurrou com toda a força que tinha, fazendo Hyunjin recuar dois passos. — Estamos pagando pelo serviço, isso é a única coisa que importa!
— "A única coisa que importa"?! — riu desacreditado. — A partir do momento que isso envolve a minha tripulação, eu tenho total direito de saber onde estou me metendo! — cerrou os punhos, trincando o maxilar. — Se eles eram o seu povo, então por que está os abandonando na primeira oportunidade?!
O ômega ainda se sentia irritado em meio a toda aquela situação, não aceitaria que falassem com Jisung daquela forma, principalmente ao notar as lágrimas se formando em seus olhos e a forma como maltratava seus lábios a fim de contê-las.
— E desde quando um criminoso tem moral o suficiente pra tocar nesse assunto?! — os demais tripulantes arregalaram os olhos, parecendo tensos após a fala do Lee. — Faça o que está sendo pago para fazer e cale a boca!
O alfa não conseguia ver a feição raivosa coberta pela sombra do capuz, quem dirá olhar nos olhos do ômega. Mas uma classe inferior elevando o tom de voz era uma afronta para o seu lobo e talvez…
Talvez gostasse de ser desafiado daquela forma.
— Prefiro morrer como um criminoso do que viver como um covarde. — cruzou os braços, olhando os ômegas com desdém. — Se não tiverem mais nenhum segredo para falar, faremos uma parada na ilha mais próxima. — se virou para Minho. — Iremos prosseguir com os reparos do navio e discutir uma rota para chegar em Lavanter.
Os fios rubros saiam de dentro do capuz, sendo soprados pela brisa do mar. Tentava ao máximo se acalmar, as falas daquele alfa o irritava profundamente, mas sabia reconhecer que o Hwang estava certo.
— A Light Pose está marcando a próxima ilha. — Dália observou o próprio bracelete, a ponta daquela bússola possuía duas luzes, uma azul e a outra verde. — É uma ilha tropical e sem habitantes, irei registrá-la no mapa. — a coloração fazia registros das ilhas inabitadas enquanto a azul registrava as que eram comerciais ou até mesmo reinos.
— Christopher, consegue ver alguma coisa ao leste?! — Enam gritou para o alfa que se encontrava no alto do mastro com um binóculos.
— Ainda está muito distante, mas consigo ver uma ilha! — respondeu de volta para a alfa.
— Certo, me avisem quando estivermos chegando. — suspirou, ainda de cabeça quente e com pensamentos confusos em relação a aquele ômega ruivo. — Estão dispensados, estejam prontos para fazermos reconhecimento da ilha.
O maior deixou o convés, indo para seu quarto deixar Poison dormindo e tomar um bom banho, estava cansado e sequer eram dez horas da manhã ainda.
Changbin não demorou a ir para a cozinha, assim como Jeongin. Enquanto Seungmin voltou para os próprios aposentos, decidiu tirar um bom cochilo antes de pararem na próxima ilha.
No convés principal estavam apenas Enam, Dália e Christopher. Felix ainda se sentia de cabeça cheia, por isso optou por explorar o navio. Assim como Jisung também decidiu fazer.
Ainda que seguissem direções opostas.
(...)
Na parte interna do Navio
Nest — 9:20AM
Han se sentia sem rumo, apenas tentando ao máximo espantar as inseguranças que pareciam lutar por um domínio em sua mente.
O navio era grande, mas precisava de uma boa pintura e algumas reformas na parte interior. A julgar pelos buracos, achava plausível que fosse as consequências de algum ataque.
O chão parecia recém limpo, mas aquelas teias de aranha estavam incomodando tanto quanto a poeira em algumas áreas. Talvez fosse a falta de limpeza e o mínimo cuidado, não saberia dizer ao certo.
Teria continuado o seu caminho até a cozinha, se não tivesse escutado um barulho de uma pequena explosão vindo do porão. O príncipe Han era conhecido por sua grande curiosidade, sempre querendo explorar cada vez mais.
Talvez Jisung não percebesse que deixar sua vida para trás para ficar ao lado de outra pessoa, não fosse uma forma de estar liberdade.
Ao parar em frente a uma das portas do porão, não se atentou a placa, apenas saiu entrando no cômodo e se deparando com uma cena um tanto cômica.
Minho estava com o rosto coberto pelos resquícios de pólvora, jogado contra a parede, com as costas apoiadas nela e o rosto contra o chão.
— Você… está bem? — ergueu uma de suas sobrancelhas, tentando processar todo o ocorrido, além da fumaça que saía de uma das armas. — Sabe que pólvora e madeira não são as melhores misturas, né?
— Ah, sério? Não me diga. — revirou os olhos bufando, praguejando pela dor nas costas. — Cê não tem educação? Não sabe pedir permissão antes de entrar?
— Eu… achei que precisasse de ajuda. — coçou a nuca envergonhado, com as bochechas um tanto rosadas. — Escutei o barulho do lado de fora, achei que alguém pudesse ter se machucado.
— Hmpf! Até parece que um mecânico e um ótimo atirador como eu precisaria de ajuda. — o olhou com desdém, recolhendo a arma do chão e algumas balas. — E se eu estivesse machucado, Seungmin iria cuidar de mim.
— Ué, então por que você estava jogado contra a parede?
— Porque eu estava fortalecendo o meu corpo.
— E para que serve esse negócio preto na cara? — apontou para o rosto do maior, adentrando o cômodo por completo.
— Skincare, já ouviu? É uma máscara de lama.
— Então por que estava saindo fumaça da arma? — apontou para o revólver em cima da mesa.
Minho não era o mais paciente de todos, na verdade era uns dos que mais se estressa fácil e ter o péssimo hábito de gaguejar piorava tudo.
Certo, admitia que de fato aquele ômega havia lhe despertado interesse, até o achava bonitinho. Mas o fato de ser tão irritante tirava todo o charme, ainda mais com aquela cara de cachorro recebendo bronca.
— Porque ela se aquece quando é disparada. — ficou de costas para a mesa, olhando o ômega nos olhos antes de cruzar o braço. — Tem mais alguma pergunta, Chapeuzinho Vermelho?!
— Na verdade, sim… — apontou para o revólver novamente. — Então é normal a arma pegar fogo? — o alfa arregalou os olhos ao ver o fogo vindo de uma das balas, se desesperando.
— Por que não me disse antes, seu imbecil?!
— Foi você que falou que não precisava de ajuda!
(...)
Segundo andar do Navio
Nest — 9:20AM
Em busca de um bom banho, Felix não se atentou em descobrir em qual cômodo estava. Se sentia cansado e o ainda estava era de manhã, lidar com aquelas pessoas estavam esgotando sua bateria social.
O ômega queria despir-se daquelas roupas e dormir. Havia ficado tão ansioso em arrumar tudo para colocarem seus planos em ação, que sequer descansou durante a noite.
Deixar toda a vida para trás era uma loucura, estar no meio de piratas era uma loucura ainda maior. Sabia do quanto estava se arriscando por Jisung, das coisas que não pensou duas vezes em abrir mão.
E teria feito tudo de novo, não se arrependia disso.
Se não fosse por aquele ômega, não fazia ideia de como seria a sua vida. De qual rumo teria seguido naquele tempo obscuro para si.
Sem pais, sem uma insígnia familiar e com uma aparência peculiar, Felix era apenas um fantasma em meio as pessoas, não havia um lugar para retornar, quem dirá um canto para ir.
Adentrou o como e surpreendeu-se com o tamanho daquele aposento, ainda que fosse simples. Não havia se atentado aos detalhes, mas sentia-se na necessidade de explorar.
No canto do quarto, de frente para uma janela, havia somente um chapéu, mapas e algumas moedas de ouro. Só que aquilo não era o suficiente para prender a sua atenção e sim uma bolsa aberta na cadeira.
Haviam alguns tesouros ali, porém apenas um em específico havia lhe chamado atenção.
Um colar com um pingente de safira, além da armação do cordão ser metal, com pequenos pingentes em formatos de concha.
Aquela pedra era familiar para si, aquele azul recordava-o das profundezas do oceano. Suas íris foram se tornando da mesma cor do pingente e o cristal se tornou incandescente com aquela ligação. Estava prestes a segurá-lo em suas mãos, se não fosse por um pequeno barulho.
O som abafado vinha debaixo do chapéu, curioso do jeito que era, não demorou muito para segurá-lo em suas mãos.
Ao se deparar com algo que parecia ser só uma cobra de pelúcia ou até mesmo uma réplica, decidiu tocá-la, logo depois passou uma de suas unhas por aquele negócio.
Até que não satisfeito e gostando da textura, desferiu um tapa na mesma, empalidecendo na hora ao ver a cobra se movendo e as íris escarlates brilhando em sua direção.
A Mamba-Negra estava pronta para dar o bote, fazendo o ômega cambalear para longe da mesa, desnorteado com aquela situação, sequer ouviu os passos de mais uma pessoa no cômodo.
— Poison, para! — a voz firme do Hwang era o suficiente para parar a cobra de imediato, assustando ainda mais o ômega, esbarrando contra seu corpo e os desequilibrando.
O menor era quase esmagado pelo corpo acima do seu, resmungando de dor em sua cabeça e costas, fazendo o capuz cair e sequer se dando conta disso.
— Puta merda, eu sou jovem demais pra morrer esmagado por um armário. — resmungou de dor, fazendo Hyunjin se erguer um pouco e se afastar alguns centímetros do corpo do menor.
O alfa arregalou os olhos, encantado pelo rosto angelical, pintado por lindas sardas e os olhos azuis escuros, além do cabelo vermelho dando um lindo contraste. As bochechas do maior se tornaram rubras ao deixar o olhar cair para os lábios carnudos do ômega, naturalmente rubros e muito tentadores.
Em contrapartida, Felix se sentia preso naqueles olhos escuros, envergonhado em ser encarado daquela forma. Seu olhar vacilou e deixou o rosto chamativo do Hwang em segundo plano, analisando o torso desnudo do alfa daquele ângulo, sentindo o corpo se aquecendo aos poucos.
Até chegar na cintura para baixo, coberto por apenas uma toalha, esta que estava se afrouxando aos poucos e deixando sua pélvis visível, fazendo o menor desviar o olhar na hora. Além de estar com o rosto tão vermelho quanto o próprio cabelo.
— Capitão, nós estamos chegando na ilha e…
Notas finais:
Espero que tenham gostado! Os navios dos piratas tendem a ser grandes, então o Nest não seria tão diferente nesse história.
Demorei, mas felizmente retornei! Pequenas interações dos Minsung e Hyunlix, será que teremos mais? Quem será que abriu a porta?
Até logo!