Após sair de casa, comecei a correr o mais rápido que eu conseguia, era manhã e não havia ninguém na rua, por um lado isso era bom, afinal, ninguém ia ver como eu estava coberto de sangue, a minha camiseta branca estava encharcada com o sangue escorrendo, parecia que eu acabara de sair de uma cena de crime ou um assassinato, eu corria, e corria, e a qualquer momento eu sentia que iria cair ou desmaiar, pois a minha cabeça estava girando demais, e eu estava pegando a visão de tudo, mas eu ainda continuava a correr, e foi assim durante 10 minutos, nunca corri tanto como esse momento.
Assim que cheguei, comecei a bater na porta desesperadamente, meu estômago estava borbulhando e com embrulho, sentia uma anciã e veio uma forte vontade de vomitar, sinto o meu corpo fraco pedindo para sentar, mas eu não podia.
— Vamos, por favor abre a porta — Sussurrei pois eu não conseguia gritar.
— Já vou! Meu deus quem é o louco que está batendo na minha porta a essa hora? — Escuto a voz dizer do outro lado, logo a porta foi destravada, mas já era tarde demais, quando a porta foi aberta, apenas escutei a voz dizer:
— Aí meu deus, Kevin! — Não consegui falar, pois tudo em minha volta apagou.
...
Dor, o que é dor? Sentir um corte? Bater o dedinho do pé? Acho que... Nenhuma dor física vai superar a dor emocional que eu sentia nesse momento, pois só de lembrar que eu estava abrindo os olhos e voltando à pensar em tudo o que ocorreu, o meu coração apertava como se estivesse a ponto de implodir.
Abrir os olhos, mas estavam pesados, como se alguém estivesse pressionando a minha cabeça para que eu não conseguisse abri-los, mas sentia um enorme conforto, e sentia também um cheiro delicioso de comida fresca, aquilo me causou água na boca no mesmo instante, ao abrir os olhos, eu estava em um quarto deitado em uma cama, meus sapatos estavam no chão e o sangue que havia na camiseta estava seco, havia um pano em minha testa que agora estava frio, e molhado, o peguei e coloquei em cima da cômoda ao meu lado, sentei-me e comecei a sentir um pouco de dor que vinha do meu rosto.
— Droga! — Disse colocando a mão no estômago que também doía, me levanto um pouco tonto e caminhei até um espelho que há no canto, meu rosto estava limpo, e por incrível que pareça, o meu rosto não estava inchado, apenas com dois cortes na boca, e um hematoma rocha próximo a bochecha. Saio do quarto e caminhei pela casa até chegar na cozinha, onde encontrei a minha avó arrumando algumas coisas:
— Kevin, querido? Sente-se, não era para você ter levantado — Ela puxou a cadeira para eu me sentar, fiz o que ela pediu, minha avó era uma mulher extraordinária, e a julgar pela aparência ela não aparentava ter a idade que tinha, pois ela era tão bem cuidada que parecia ser nova, tinha cabelos loiros em um coque, e usava uma roupa confortável e um tanto estilosa.
— Obrigado por me receber, vó, eu não tinha outro lugar para ir — Disse com um pouco de dificuldade.
— Querido, o que aconteceu? Quem fez isso com você? — Ela perguntou se sentando em minha frente.
— A essa altura acho que a senhora já deve saber, minha mãe não te ligou, ou a senhora não ligou para ela?
— Não, eu prefiro saber de você do que ligar para a sua mãe — Ela segurou a minha mão.
— Foi o meu pai quem fez isso — Disse eu, ela fez um olhar completamente assustada e colocou a mão na boca — Bom, não é a primeira vez que ele faz isso, mas dessa vez foi pior, e a minha mãe me expulsou de casa.
— Você só pode estar brincando, eu não acredito nisso — Ela disse — Mas qual foi o motivo disso? — Perguntou a minha avó, comecei a contar para ela tudo o que houve, fui sincero ao ponto de dizer da festa, que passei a noite com Levi, mas é claro que não disse o que eu fiz lá com ele, e fui sincero ao dizer que menti para os meus pais sobre tudo isso, ela ficou perplexa e ao mesmo tempo tão furiosa que não sabia como reagir.
— Eu honestamente não sei o que dizer, eu estou tão irritada com a sua mãe por não fazer nada! Embora tudo o que houve, você sair de casa pela madrugada e mentir para a sua mãe nessas circunstâncias foi muito errado!
— Eu sei vó, me desculpa, eu só queria poder curtir um pouco, eles não me deixam fazer nada!
— Eu sei querido, eu sempre vi o modo como a sua mãe trata você difenre de Jack, que embora sejam irmãos, ele as vezes é tão burro que chega a dar pena — Ela se levantou e foi desligar o forno que estava assando algo, enquanto ela ainda falava, pego o celular no meu bolso e mandei uma mensagem para Levi:
— Cara? Pode me encontrar nesse endereço? É urgente, eu preciso muito falar com você.
Mandei a mensagem para ele junto o endereço da casa da minha avó, no mesmo instante ele respondeu:
— Estou à caminho, espero que esteja tudo bem.
Eu queria dizer à ele que não, não estava tudo bem, eu precisava muito conversar e tirar um pouco de toda essa dor que estava em mim, e eu sei que Levi me ajudaria só estando ao meu lado, enquanto eu esperava, a minha avó ainda falava...
— Eu não julgo você por querer se divertir, na sua idade eu fazia coisa bem pior — Ela se sentou.
— Jura? O que a senhora fazia de tão absurdo? — Sorri sem graça.
— Eu nem te conto, se eu for contar toda a história do que eu já fiz, a gente passa uns dez dias conversando — Ela sorriu para mim.
— Às vezes, eu gostaria tanto que eu tivesse uma relação com meus pais igual eu tenho com a senhora — Falei, uma onda de tristeza tomou conta de mim, minha vó se levantou de novo quando foi desligar outra panela — Eu não sei o que eu fiz para eles, eles me odeiam e me desprezam, qual é o meu problema?
— Você não tem nenhum problema querido, a sua mãe é narcisista e ela sempre foi assim, eu tive medo por você quando descobri que ela estava grávida, e eu sabia desde o início e disse à ela que colocar aquele homem dentro da sua casa era um erro! Foi por isso que o seu pai foi embora!
— Como é que é?! — Perguntei assim que ouvi aquelas palavras saírem de sua boca, minha vó tampou a boca com as mãos e arregalou os olhos como quem acabara de contar um segredo absurdo, e bom, isso acabou de acontece, e eu não tive outra reação à não ser me levantar e perguntar outra vez.
— É... Eu...
— Vó? Repete o que a senhora disse, por favor não tenta mudar de assunto ou dizer que falou isso sem pensar, vamos! — Fui até próximo dela, ela suspirou e vi a sua boca trêmula, estava assustada, e deu para ver como a sua face corou.
— Kevin, por favor, independente do que eu te disser aqui, eu preciso que se acalme e...
— Vamos vó, por favor me diga que isso é verdade! — Eu queria, eu realmente queria que isso fosse verdade, eu queria ter a certeza de que aquele homem não era o meu pai, mas tive medo de saber da verdade, e se o meu verdadeiro pai fosse pior?
— Escuta, aquele homem que está na sua casa, o Francis, ele não é o seu verdadeiro pai — Ela colocou as mãos em meu rosto de forma delicada, meu rosto esquentou e senti lágrimas escorreram.
— Francis é pai biológico do Jack, e não o seu, a sua mãe se casou com ele quando você tinha apenas 3 anos, desde então ele está lá — Um ódio fatal dominou todo o meu corpo, o meu coração doía como se estivesse sendo esfaqueado por mil facas afiadas, aquele homem não é o pai! Ele foi a causa de toda ruína em minha vida.
— Aquele homem não é o meu pai! — Disse baixo, minha avó semicerrou os olhos — Ele não é o meu pai! — Repeti.
— Kevin, querido?
— Ele não é o meu pai! — Falei alto, ela se assustou — Eu fui maltratado durante toda a minha vida por aquele desgraçado, ele me espancou por anos e ainda queria ter posse do que é meu?
— Kevin, por favor se acalme, eu sei que isso tudo é muito bombástico, mas...
— Calma? Não dá para ter calma, aquele maldito acabou com a minha vida e ninguém nunca disse nada! — Gritei, eu chorava e sentia tanta dor que me senti capaz de derrubar uma parede com as mãos, minha avó também chorava, eu me senti mal por fazê-la chorar e já estava me culpado por gritar com ela, ela não tinha culpa de nada, mas o meu ódio estava incontrolável, portanto, dei as costas e comecei andar até a porta da frente.
— Kevin? Aonde você vai? — Ela me chamou, eu não respondi, assim que abri a porta dei de cara com Levi que subia os poucos degraus de escada que havia.
— Puta merda, Kev! O que aconteceu? — Ele perguntou, sua expressão foi tão preocupante e espontânea que pude ver o quão assustado ficou quando me viu, eu também não o respondi, passei reto por ele mas ele me puxou pelo braço.
— Kevin?! — Ele ficou em minha frente segurando os meus braços — O que aconteceu?
— Aquele homem que está em casa não é o meu pai! Ele é o responsável por todos esses hematomas que você está vendo, por favor, saia da minha frente — Falei, eu senti que rangia os dentes de ódio, e me lembrei da minha mãe que fazia a mesma coisa quando estava com raiva, e lembrar disso me fez pensar que eu era igual a ela, o que me causou mais ódio ainda, me desprendi de Levi e voltei a andar.
— Kevin, por favor, o que você vai fazer? — Ele perguntou, eu parei de andar e olhei nos fundo dos seus olhos:
— Eu vou acabar com aquele desgraçado!