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By catratonks

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π˜π„π€π‘ π…πŽπ”π‘
π˜πŸ’: Quidditch World Cup
π˜πŸ’: The Triwizard Tournament
π˜πŸ’: The Four Champions
π˜πŸ’: Potter Stinks
π˜πŸ’: The First Task
π˜πŸ’: Will You Dance With Me?
π˜πŸ’: Yule Ball
π˜πŸ’: The Golden Egg
π˜πŸ’: The Second Task
π˜πŸ’: Truth Or Dare
π˜πŸ’: The Third Task
π˜πŸ’: Everything Changes
π˜π„π€π‘ π…πˆπ•π„
π˜πŸ“: Grimmauld Place
π˜πŸ“: The Silver Dress
π˜πŸ“: The Prank
π˜πŸ“: Dolores Umbridge
π˜πŸ“: Firefly Conversations
π˜πŸ“: Harry, My Harry
π˜πŸ“: The Astronomy Tower
π˜πŸ“: The High Inquisitor
π˜πŸ“: The Revenge
π˜πŸ“: The Reunion
π˜πŸ“: Midnight Talking
π˜πŸ“: Dumbledore's Army
π˜πŸ“: Weasley Is Our King
π˜πŸ“: Love Potion
π˜πŸ“: Nightmares
π˜πŸ“: Holly Jolly Christmas
π˜πŸ“: Maddie's Birthday Party
π˜πŸ“: Happy New Year!
π˜πŸ“: Fireworks
π˜πŸ“: Draco Malfoy
π˜πŸ“: Honeycomb Butterflies
π˜πŸ“: Expecto Patronum
π˜πŸ“: The New Seeker
π˜πŸ“: Breakdown
π˜πŸ“: A Whole New Perspective
π˜π„π€π‘ π’πˆπ—
π˜πŸ”: Horace Slughorn
π˜πŸ”: The Burrow
π˜πŸ”: Weasley's Wizard Wheezes
π˜πŸ”: August 11th
π˜πŸ”: Back to Hogwarts
π˜πŸ”: Amortentia
π˜πŸ”: The Quidditch Captain
π˜πŸ”: Draco?
π˜πŸ”: Falling Apart
π˜πŸ”: The Bookstore of Mysteries
π˜πŸ”: The Curse
π˜πŸ”: Slug Club
π˜πŸ”: Champagne Problems
π˜πŸ”: Dirty Little Secret
π˜πŸ”: Sign Of The Times
π˜πŸ”: Road Trip
π˜πŸ”: Whispers and Secrets
π˜πŸ”: Shopping Day
π˜πŸ”: Rufus Scrimgeour
π˜πŸ”: The Hunt
π˜πŸ”: Valentine's Day
π˜πŸ”: Quidditch Disaster
π˜πŸ”: Sixteenth Birthday
π˜πŸ”: Liquid Luck
π˜πŸ”: Sectumsempra
π˜πŸ”: The Cave
π˜πŸ”: What Starts, Ends
π˜π„π€π‘ 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍
π˜πŸ•: The Seven Potter's
π˜πŸ•: The Birthday Party
π˜πŸ•: The Wedding
π˜πŸ•: The Murderer
π˜πŸ•: September 1st
π˜πŸ•: The Sins Of Tragedy
π˜πŸ•: Body and Soul
π˜πŸ•: Slytherin's Locket
π˜πŸ•: The Depths Of Fall
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π˜πŸ•: Godric's Hollow
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π˜πŸ•: The Plan
π˜πŸ•: Knives? Sure!
π˜πŸ•: The Boy Who Lived
π˜πŸ•: When Nightmares Come to Life
π˜πŸ•: Blood And Bone
π˜πŸ•: Voids
π˜πŸ•: Death Comes
π˜πŸ•: Sunflowers
π˜πŸ•: Intertwined Fates
𝐀𝐅𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐄 𝐖𝐀𝐑
I. Surprises
II. Soft Kisses And Bad Dreams
III. Death's Lullaby
IV. WARNING: DANGER!
V. Hunting Season
VI. The Corner Of The Lost Souls
VII. The Letter
VIII. Sex On The Beach

π˜πŸ•: Turning Page

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By catratonks

meu cérebro cantarola
com restos de poesia
& loucura

– virginia woolf.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

Perdi a conta de quando tempo fiquei tentando dormir. Virei-me na cama de um lado para o outro, querendo achar uma posição confortável, mas não consegui pregar um único olho.

Frustrada, sentei-me em meio às cobertas. Dormir sozinha depois de ter me acostumado com a presença de Harry era muito solitário. Ainda mais com tantas lembranças boas de nós dois juntos, em nossas madrugadas nos braços um do outro.

Aceitando que eu não conseguiria dormir, decidi descer até o Salão Comunal da Sonserina, para ver se eu não encontrava alguém para conversar. Talvez jogar conversa fora fosse me ajudar a relaxar um pouco, embora meus olhos ainda ardessem consideravelmente depois de tantas horas de crises de choro.

Vesti um roupão que encontrei pendurado no armário e desci. Eu até poderia usar alguma coisa minha, mas não desfiz a bagagem que minha mãe preparara, e tampouco me sentia disposta para fazer isso.

Não achei que fosse encontrar alguém junto à lareira, por mais que eu considerasse que havia uma probabilidade, mas Regulus ainda estava lá, no mesmo canto eu que eu o vira antes de subir para me deitar. Parecia na mesma posição de antes, os ombros tensos e a capa preta cobrindo seu corpo. Mesmo quando a guerra terminou, eu não o vi sem aquela capa. Talvez lhe servisse de suporte emocional.

Regulus não se mexeu quando me aproximei. Até pensei que não tivesse notado a minha presença. Fiquei pensando se era uma boa ideia conversar com ele, porque meu tio parecia imerso num mundo só seu, pensando infinitamente. Mas foi ele quem iniciou o primeiro diálogo.

— Você vai ficar parada aí, feito uma estátua? — perguntou, sem se virar.

Levemente desconcertada, forcei minhas pernas a se moverem, e por fim sentei-me ao seu lado.

— Não. Desculpe.

— Não está conseguindo dormir?

— Também não.

— Imaginei — disse Regulus.

Ele não continuou a falar imediatamente, o que me deu tempo de analisar o modo como seus olhos acompanhavam as labaredas do fogo. Observar as chamas era mesmo viciante, pois seu movimento inconstante oscilava sem um padrão concreto. Vidas inteiras, bem como mortes horríveis, jaziam no éter.

Regulus limpou a garganta. Desviei meu olhar das chamas para encará-lo, mas ele não me observava de volta.

— Fico me perguntando o que ele pensaria quando visse que estou aqui — disse.

— Quem? — perguntei, confusa.

Regulus, então, me olhou pela primeira vez sob as chamas. Se reparou resquícios de lágrimas em meu rosto, ou o inchaço de meus olhos, nada disse.

— Sirius.

Não respondi. Eu não sabia, e tinha consciência de que nunca iria descobrir.

— Nunca fomos próximos — continuou Regulus. — Não nos dávamos bem, porque no fundo ele sabia que eu havia cedido às Artes das Trevas, e que havia me alistado. Nossa família ficou orgulhosa, pois era reconhecido que eu estava abrindo mão de minha liberdade por uma "causa nobre" — então, ele me encarou nas íris. — Não há um dia em que eu não me arrependa.

— Você me parece sincero — respondi. — Não posso dizer que papai acreditaria em você, de início, porque ele era mesmo alguém intenso, e talvez até meio temperamental. Mas, acima de tudo, ele era justo. Tenho certeza de que vocês dois acabariam se acertando.

— Esse é o problema — disse Regulus. — Não dá para ter certeza.

— É. Não dá.

Ficamos em silêncio por uns segundos, mas não de modo constrangedor. Fiquei pensando em meus poderes enquanto isso, e uma ideia surgiu em minha cabeça. Era loucura, mas ainda assim, uma ideia. Regulus, pressentindo isso, negou com a cabeça.

— Você não pode trazer pessoas de volta à vida, S/N. Não é para isso que o Poder da Destruição serve.

— Mas o Poder da Destruição é o Poder da Morte! — argumentei, ficando sobre meus joelhos para encará-lo melhor. — Se posso controlá-lo... Em tese, poderei fazer qualquer coisa, incluindo...

— Não — disse ele, firme. — Não pode. Sei disso porque, quando você me libertou da maldição que me prendia ao Lago dos Inferi, e eu tive acesso ao que conectava minha devoção a você, pude saber mais sobre as habilidades que você carrega. Não pense que não fiz uma pesquisa, enquanto estava te procurando, com o intuito de te ajudar como podia. Se houvesse alguma maneira, eu saberia.

— Não necessariamente — revidei. — Aposto que há pouco escrito em livros sobre o que aconteceu com as mulheres de minha família que sofreram com a Maldição da Morte. Alguém deve ter conseguido, em algum momento.

Regulus balançou a cabeça, negando.

— Assim você só vai se frustrar. Se fosse o caso, você teria revivido aquele seu amigo, bem antes, ainda que inconscientemente. Como era mesmo o nome dele? Não sei de tantos detalhes, só ouvi rumores.

— Cedric — respondi, baixinho.

— Isso — disse Regulus. — No fim, você sabe que não é assim que funciona. Não ache que estou dizendo isso à toa, porque eu também queria que fosse possível. Queria dar um jeito de ter meu irmão de volta, porque seria legal consertar as coisas pendentes entre nós. Mas a Morte designou o Poder da Destruição com o propósito já dito pelo nome: destruir. Você pode controlar mortos-vivos, pode assassinar sem piedade. Além de outras coisas, é claro. Fazer quem você ama voltar à vida seria o oposto do que "Destruição" significa.

Suspirei tristemente.

— Odeio tanto isso — confessei.

— Eu sei, S/N. Sinto muito. Infelizmente, é assim que o mundo funciona.

Dei de ombros.

— Acho que uma guerra não seria uma guerra sem mortes trágicas.

Ficamos calados de novo, ouvindo o crepitar das chamas na lareira. Esperança se esvaiu como água, fazendo com que restasse somente solidão e espaços vazios. Deixei que me consumisse, pois era o que me restava. E subitamente senti-me ainda pior.

Divaguei para longe, então, e meus pensamentos me levaram para um mundo em que só havia flores, onde Harry e eu morávamos numa casa bonita e tínhamos nossa Adeline correndo por entre as plantas verdes do jardim da frente. Pads a acompanhava de perto, sempre cuidando para que não se machucasse, enquanto eu observava de uma distância segura, dando a ela a liberdade de que precisava para imaginar que estava brincando nas propriedades do próprio castelo de contos de fadas. A imagem, então, se desfez, formando outra ainda mais bonita, que me fazia querer chorar de emoção.

Seria sempre assim, dali para a frente? Só devaneios, cenários irreais que provinham de minhas histórias ilusórias? Viver sonhando acordada para não precisar viver de verdade? Parecia terrível. Mesmo para mim, que me acostumara parcialmente com o sofrimento que experienciei ao longo dos anos.

— No que está pensando? — perguntou Regulus, interrompendo meus pensamentos.

— Em nada — menti. — E você?

Regulus refletiu por uns segundos antes de responder:

— Quero fazer valer a pena. Quero dizer, o sacrifício dos que se foram. Não acho que mereço aproveitar a vida enquanto pessoas melhores morreram lutando, mas ao mesmo tempo acho que seria um insulto à memória delas desperdiçar os instantes que tenho.

— Parece razoável — concordei, meio distraída. Eu não pensava exatamente da mesma forma, mas entendia o que eles estava falando. — E o que você quer fazer?

Ele deu de ombros.

— Não sei. Pensei que... — mas ele hesitou. Esperei por mais uns segundos, para que continuasse, mas isso não aconteceu.

— O quê?

Regulus balançou a cabeça.

— É besteira.

— Se você quer falar, talvez não seja.

— Mas é.

— Diga assim mesmo — insisti.

Meu tio suspirou.

— Bem... Se você quiser, e permitir... Eu gostaria de tentar ser alguém para você. Tipo, eu sei que é estranho dizer isso, porque nós nos conhecemos pessoalmente há bem pouco tempo, e em péssimas circunstâncias... Mas eu sou o seu tio, e gostaria muito de tentar ser digno desse papel. Quero compensar você pelos anos de ausência, para honrá-la, e para preservar a memória de meu irmão — disse ele, parecendo bem inseguro. — Bem, mas foi só uma ideia, se você não se sentir confortável não tem problema. Eu entendo, porque até agora ninguém sabia que eu estava vivo, e que pretendia fazer o possível para derrotar as Artes das Trevas...

— Eu acho que seria ótimo se você aparecesse com mais frequência — falei, interrompendo-o para tranquilizá-lo. — Você provou sua dignidade diversas vezes nos últimos dias. Acho que merece, sim, uma segunda chance.

Regulus piscou, sem acreditar.

— Sério?

— Sim — falei, dando tapinhas em seu ombro. — Você é bem-vindo à família. Falo isso por mim, mas sei que os outros também vão concordar. Não sobraram muitos de nós, na verdade. Só mamãe, Dorcas, e Maddie. E bem... Eu.

Regulus parecia dividido entre querer sentir-se feliz com meu consentimento à sua presença, e entre ficar triste com o que eu acabara de dizer. Mas ele segurou minha mão rapidamente, o que estranhei, porque eu não achei que toque físico fazia parte de suas atitudes comuns. De qualquer forma, ele a apertou brevemente, de modo consolador e amigável.

— Sirius está muito orgulhoso de você. Tenho certeza — disse Regulus. — Posso não ter convivido com ele durante esses anos que se passaram, mas meu irmão era uma pessoa ótima. Era muito melhor do que eu... Se minha palavra conta.

Dei um sorriso triste.

— Conta, sim. Muito obrigada — falei, sincera. — E quer saber? Não te acho horrível, e acho que papai não acharia também.

Regulus fez uma careta engraçada.

— Você não é muito boa com elogios, né?

— Cale a boca, é claro que sou — revidei, dando uma pequena risada.

Isso me surpreendeu. Foi o melhor que me senti desde os acontecimentos fatídicos da guerra.

Incrivelmente, pensei que, talvez, se eu tentasse, até poderia tirar um cochilo breve. Eu não queria muito, mas reconhecia que estava precisando.

— Você deveria tentar descansar — disse Regulus, lendo meus pensamentos. — Vou também, daqui a pouco.

— Certo — falei, me levantando. — Então... Boa noite?

Ele permaneceu sentado, respondendo:

— Boa noite, S/N.

Deixei a Comunal e voltei para meu dormitório temporário, subindo o lance de escadas. Fechei a porta do quarto atrás de mim e caí na cama, fechando os olhos e desejando sonhar com Harry para poder tê-lo por perto mais uma vez.

Adormeci, sentindo um aroma suave de perfume de bebê e menta.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

Acordei de súbito, no meio da madrugada, sentindo que eu estava sendo observada.

Por um instante, cogitei a possibilidade de ser coisa da minha cabeça, porque eu havia tido um sonho bem estranho, mas então senti um frio terrível, proveniente do pequeno espaço formado entre a soleira e a porta aberta. E eu sabia que a tinha fechado.

Comecei a entrar em pânico. Se a porta estava entreaberta, havia a possibilidade de eu não estar sozinha naquele quarto. O que significava que um possível Comensal da Morte poderia ter ficado escondido em Hogwarts, esperando pela oportunidade perfeita para me matar.

Peguei minha varinha e a usei para trancar a porta, sem sair da cama. Esperei por uns segundos, para ver se um assassino sairia debaixo de um dos móveis, mas isso não aconteceu. Então, me levantei e verifiquei tudo, me atentando a cada centímetro. Dei uma olhada dentro do armário, por entre a mobília, atrás da porta do banheiro; além de sob a cama, é claro. Mas ninguém esperava por mim. Ninguém visível, pelo menos.

Retornei lentamente para a cama, meus pensamentos acelerados. Eu estava considerando usar um feitiço para verificar a presença de pessoas em meus arredores, mas nem deu tempo. A porta do quarto escancarou com tudo, e o cômodo foi inundado por fumaça escura.

Tomei um susto, e fiquei em estado de alerta, há poucos centímetros da saída do quarto. Eu conseguia enxergar através da fumaça, mas ela estava tomando espaço rapidamente, o que dificultava a tarefa. Não era tóxica, e eu a conhecia muito bem. Era igualzinha à névoa preta que saía de mim, proveniente de meus poderes, e da própria Morte.

Ela finalmente resolveu me fazer uma visita.

A fumaça foi se expandindo, tomando espaço, até que limitou-se a cair devagar, ficando na altura dos meus tornozelos e ocupando cada centímetro quadrado. Depois escorreu por entre meus dedos dos pés como água, numa corrente contínua que descia as escadas do dormitório e provavelmente saía do Salão Comunal. A engraçadinha queria que eu a seguisse.

Considerando que arrombou a minha porta, eu sabia que não tinha muita escolha. Desci as escadas me apoiando no corrimão, pois eu não estava conseguindo distinguir os degraus, e vi que eu precisaria me aventurar pelos corredores do castelo. Não que isso fosse um desafio para mim, porque eu já havia feito isso um milhão de vezes, mas eu não estava satisfeita por precisar jogar aquele novo joguinho que a Morte criava.

Regulus já tinha ido dormir, e a lareira estava apagada. Ou seja, ninguém tinha ciência de para onde eu estava indo, ou se eu iria retornar. No entanto, eu não sentia medo. Enfrentara situações piores, com toda a certeza.

Segui o rastro de fumaça por uns bons minutos, usando minha varinha para iluminar o caminho. Guardei-a somente quando me vi nos jardins de Hogwarts, iluminados pelo luar. Alguns grilos faziam barulho por entre fiapos de grama, mas eles foram parando quando ouviram minhas pisadas hesitantes na terra.

Quando percebi para onde o rastro de fumaça estava me levando, já era tarde. Eu me encontrava por entre os túmulos do cemitério improvisado, onde ocorrera o funeral, mais cedo. Mais especificamente, em frente ao túmulo de Harry.

Um ódio enorme apoderou-se de mim. A Morte estava brincando comigo, de propósito. Queria que eu visse que não tinha mais volta, que a realidade seria aquela para todo o sempre. Pensando nisso, e muito enraivecida, dei meia-volta e decidi ignorar todos os sinais que ela estava me dando, e voltar para minha cama. Eu não estava com paciência nenhuma para passar por aquilo.

Dei de cara com o vulto encapuzado da Morte assim que me virei. Precisei parar. Nunca estivemos tão perto, e ela nunca pareceu ser tão real. Dava para sentir seu poder fluindo, gelado e letal.

Fechei a cara, pois eu realmente não estava sentindo medo. Éramos semelhantes, vínhamos do mesmo lado da moeda. Se ela queria me fazer de boba, o mínimo que poderia esperar de mim eram farpas afiadas e alfinetes com ferrugem nas pontas.

A Morte sorriu. Não olhei diretamente para o que viriam a ser seus dentes, porque senti que, naquele momento, eu não devia. Isso a fez satisfeita, pois o vulto assentiu em aprovação.

— S/N Mckinnon Black. Suponho que tenha me visto no velório — disse a Morte.

Não respondi, focando unicamente em encará-la. Ela sabia que sim.

— Por que está tão mal humorada? — perguntou a Morte, com uma pitada de ironia na voz. — Você é uma heroína. Deveria estar celebrando.

— Isso só pode ser piada — despejei, sem conseguir me conter. — Se quer uma festa, arranje os convidados você mesma. Aposto que tem um monte de pessoas em sua lista.

— Cuidado — advertiu a Morte.

— Com o quê? — desafiei. — Se quisesse que eu morresse, isso já teria acontecido. E se você está pensando em acabar comigo agora, eu honestamente iria agradecer. Preciso de férias.

A Morte me observou atentamente, procurando brechas que pudesse usar para atingir minhas fraquezas. Mas construí uma armadura quase impenetrável em torno de meu corpo, então ela não obteve sucesso.

Só que a Morte não parecia estar fazendo muito esforço, o que significava que não me queria mesmo morta. Pelo contrário: parecia interessada em me fazer viver, de modo que eu sempre pudesse escapar para ter mais um dia. Afinal, eu sempre fugia das situações nas quais me metia por um triz, quase que miraculosamente.

— Olhe para o túmulo — disse a Morte, ignorando minhas insinuações.

Isso me revoltou ainda mais.

— Que tipo de brincadeirinha doentia é essa?

Olhe — insistiu, num sibilo.

Eu sabia que não tinha escolha. Caso negasse, a Morte me obrigaria. Então, me virei sobre os dois pés e olhei. Sobre o caixão, perto dos girassóis que eu deixara, bem como do poema, estava a Pedra da Ressurreição.

De início, fiquei estática, parada enquanto olhava, sem acreditar. Aquilo era um insulto. Ainda mais porque a Morte sabia disso. Quando a sensação de choque passou, peguei a pedra com as pontas das unhas, sentindo os dedos levemente trêmulos. Virei-me novamente e praticamente enfiei-a no que viria a ser o rosto do vulto encapuzado.

— Você sabe que não vai funcionar! — disse eu, com raiva. — Não sei de onde tirou isso, mas eu não vou tolerar que brinque comigo assim!

— Harry Potter tinha a pedra desde o início — disse a Morte. — Estava dentro do Pomo de Ouro, e ele foi descobrir isso quando chegou à Floresta Proibida para morrer.

— E daí? Não funcionaria mesmo.

— Exatamente. Mas o que chamou a minha atenção foi que ele nem ao menos cogitou voltar parcialmente à vida. A maioria das pessoas iria preferir isso a morrer completamente — disse a Morte. — E isso me intrigou.

— Harry não era como a maioria das pessoas — falei, enraivecida.

E então, com ódio, joguei a pedra no chão e pisei com força em cima dela, quebrando-a. A Morte não iria me fazer de boba quando bem entendesse. Em seguida, saí andando, passando por ela e retornado ao castelo. Não me interessava mais ser feita de fantoche. Se ela queria que eu permanecesse sob suas garras, não seria eu quem facilitaria esse trabalho.

A Morte, no entanto, não pareceu surpresa. Deixou que eu chegasse aos portões da frente antes de passar por mim, bloqueando minha entrada.

Suspirei, fechando os olhos e abrindo-os de novo. A Morte não fez comentários sobre eu ter quebrado a Pedra da Ressurreição; na verdade, não pareceu nem um pouco impactada com isso. Mas tudo bem, porque não era a minha intenção causar uma cena.

— O que você precisa para me deixar em paz?! — perguntei, com ódio. — O que você quer?!

— Te parabenizar — respondeu a Morte.

— Verdade? — perguntei, ironicamente. — Pelo quê?

"O Poder da Destruição será perpétuo nas gerações seguintes de sua família, sendo dado somente a mulheres, até que alguma delas seja poderosa o suficiente para controlá-lo. Nem todas herdarão o meu presente. Quando isso acontecer, Destruição será feita, e ela será vingada" — disse a Morte. — Isso te parece familiar?

Revirei os olhos.

— Bem, foi o que você disse a Audrey, minha antepassada. O que tenho a ver com isso?

— Absolutamente tudo, Mckinnon Black. Você foi a única em sua família, desde o momento em que lancei a praga sobre ela, que conseguiu controlar o Poder da Destruição. Além disso, você cumpriu com o que sentenciei. Livrou-se da Maldição da Morte.

— Mas como, exatamente? — questionei, cruzando os braços.

"Destruição será feita, e ela será vingada". Quando isso acontecesse, você estaria livre — explicou a Morte. — Destruição foi feita quando Bellatrix Lestrange assassinou o seu bebê, e ela foi vingada quando você cometeu assassinato. Mais do que isso: sua raiva expandiu de tal maneira que aconteceu muito mais em um curto intervalo de tempo.

Cruzei os braços.

— Ainda não entendo. Por que você ficaria feliz com isso? Pensei que gostasse de ficar na minha cola, me perturbando incansavelmente.

— É um insulto você achar que a Morte não tem nada mais importante para fazer do que atazanar uma garota de dezessete anos, então vou fingir que não escutei — disse o vulto encapuzado, com irritação.

— Bem — falei, erguendo as sobrancelhas — , se estou livre da maldição, imagino que isso signifique que não terei mais meus poderes.

— Não — disse a Morte. — Significa que seus filhos... Suas filhas, mais precisamente, não vão herdá-los. As futuras gerações agora estão livres, graças a você.

— Não vai adiantar muito — falei, dando de ombros. — Não vou ter filhos, muito menos filhas.

A Morte pareceu surpresa.

— Não vai?

— Não. Não sem Harry — respondi. — Quer mais alguma coisa, ou posso ir?

A Morte abriu passagem. Decidida a seguir meu caminho, deixei-a para trás. Porém, quando ouvi-a falar de novo, parei. Só por uns segundos.

— Você foi digna, Mckinnon Black — disse. — Não pense que te submeti a tanto porque achava que era manipulável. Não: fiz isso porque uma fênix renasce das cinzas, e porque te vejo como uma. Eventualmente, é o que vai acontecer com você.

Minha garganta ficou seca.

— Como? — perguntei, porque eu estava perdida. Não acreditava que as coisas melhorariam com o tempo, muito menos que eu fosse aguentar viva até lá.

— Você é a sua própria ruína, e toda ruína cai. No entanto, as raízes sempre são maiores, e mais fortes — disse a Morte. — Você vai ficar bem.

Virei-me para olhar por cima de meu ombro, mas a Morte havia sumido.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

Quando voltei para o quarto que eu estava ocupando, no dormitório da Sonserina, as sombras e a fumaça haviam se dissipado. Isso me deu certo alívio. Mas, por via das dúvidas, resolvi trancar a porta. Eu não queria ser incomodada de novo.

Deitei-me na cama para tentar dormir de novo, mas eu estava inquieta, mexendo no meu anel de compromisso com Harry em torno de meu dedo anelar. Eu estava me sentindo muito mal, e com muita vontade de chorar. Harry seria o único que me acalmaria num momento assim, mas ele não estava mais comigo para isso.

Por fim, meia hora se passou, e eu desisti. Sentei-me na cama, esfregando os meus olhos, sem sentir um pingo de sono. Ao mesmo tempo, eu estava exausta. Então, chequei o relógio de parede para ver que horas eram: três e meia. Os meus amigos só estariam de pé às oito, então não tinha nada de interessante que me distraísse enquanto isso. Portanto, resolvi tomar um banho quente. Nada melhor do que isso para fazer passar o tempo.

Segui a passos vagarosos até o banheiro de Draco, que era imenso. Os azulejos eram verdes, e a banheira reluzia em mármore preto. Fechei a porta apenas por hábito, e removi o roupão e as roupas em seguida, ficando nua. Liguei o dispositivo que acionava a saída de água para encher a banheira e adicionei espuma, bem como sais de banho. Quando estava suficientemente cheia e quente, entrei, só então sentindo que meus músculos estiveram muito tensos durante todo o dia.

Fiquei brincando com a espuma, meio entediada, até que me deitei completamente, ficando só com a cabeça para fora da água. Sem querer, acabei dormindo. Na verdade, o certo seria dizer que o meu corpo sucumbiu à exaustão.

Acordei porque meu corpo escorregou, minha cabeça afundando na água. Tomei um susto, achando que eu estava me afogando, e me sentei enquanto segurava nas bordas da banheira, respirando diversas vezes. Fechei os olhos e os abri de novo, para espantar a confusão de minha cabeça. E depois comecei a lavar o meu cabelo.

Demorei bem mais do que o normal, mas por fim terminei meu banho e saí da banheira. Enxuguei-me com uma toalha macia e vesti o roupão de novo, amarrando-o de forma que não se soltasse de meu corpo. Penteei meu cabelo, passei desodorante e perfume. Eu tinha posto minhas coisas de higiene no banheiro antes de tomar banho, então estava tudo meu ali. Bem, menos as minhas roupas.

Pronta para voltar para o quarto, resolvi dar uma espiada nos armários do banheiro, por curiosidade. Não encontrei nada de muito útil, a não ser uma vela dentro de um recipiente de cerâmica bonito. Achei que seria uma boa acendê-la, para deixar o ambiente mais confortável. Harry e eu sempre acendíamos velas, em casa. Mas não encontrei fósforos. Deveria haver algum nas gavetas da escrivaninha de meu primo, então resolvi procurar — eu só estava fazendo aquilo porque sabia que Draco não se importaria, é claro.

Quando saí do banheiro, deixei cair a vela no chão. A cerâmica que a envolvia quebrou-se em alguns pedaços, produzindo um baque sonoro que foi parcialmente abafado pelo grito que saiu de minha boca. Nunca que eu esperaria me deparar com um cenário daqueles; seria a Morte, brincando comigo novamente? Ela amava fazer isso. Mas eu também poderia estar enlouquecendo, o que era uma possibilidade bem válida, considerando o amontoado de problemas pelos quais precisei passar ao longo dos anos. Especialmente por causa dos acontecimentos dos últimos dias.

Harry estava sentado em minha cama, definitivamente vivo, com o poema que eu escrevera para ele em uma das mãos. E pétalas de girassol na outra.

——————————————

notas da autora:

próximo capítulo é o último, e então vou postar mais outros sobre o que aconteceu depois da guerra! ainda vai demorar um pouco para vocês se livrarem de mim... e não pensem que me esqueci de que prometi a vocês uma cena bem específica na praia... :)

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