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By catratonks

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𝐚𝐫𝐭𝐞. substantivo feminino ? ΰ₯§ 𝐒. produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concret... More

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π˜πŸ’: Quidditch World Cup
π˜πŸ’: The Triwizard Tournament
π˜πŸ’: The Four Champions
π˜πŸ’: Potter Stinks
π˜πŸ’: The First Task
π˜πŸ’: Will You Dance With Me?
π˜πŸ’: Yule Ball
π˜πŸ’: The Golden Egg
π˜πŸ’: The Second Task
π˜πŸ’: Truth Or Dare
π˜πŸ’: The Third Task
π˜πŸ’: Everything Changes
π˜π„π€π‘ π…πˆπ•π„
π˜πŸ“: Grimmauld Place
π˜πŸ“: The Silver Dress
π˜πŸ“: The Prank
π˜πŸ“: Dolores Umbridge
π˜πŸ“: Firefly Conversations
π˜πŸ“: Harry, My Harry
π˜πŸ“: The Astronomy Tower
π˜πŸ“: The High Inquisitor
π˜πŸ“: The Revenge
π˜πŸ“: The Reunion
π˜πŸ“: Midnight Talking
π˜πŸ“: Dumbledore's Army
π˜πŸ“: Weasley Is Our King
π˜πŸ“: Love Potion
π˜πŸ“: Nightmares
π˜πŸ“: Holly Jolly Christmas
π˜πŸ“: Maddie's Birthday Party
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π˜πŸ“: Draco Malfoy
π˜πŸ“: Honeycomb Butterflies
π˜πŸ“: Expecto Patronum
π˜πŸ“: The New Seeker
π˜πŸ“: Breakdown
π˜πŸ“: A Whole New Perspective
π˜π„π€π‘ π’πˆπ—
π˜πŸ”: Horace Slughorn
π˜πŸ”: The Burrow
π˜πŸ”: Weasley's Wizard Wheezes
π˜πŸ”: August 11th
π˜πŸ”: Back to Hogwarts
π˜πŸ”: Amortentia
π˜πŸ”: The Quidditch Captain
π˜πŸ”: Draco?
π˜πŸ”: Falling Apart
π˜πŸ”: The Bookstore of Mysteries
π˜πŸ”: The Curse
π˜πŸ”: Slug Club
π˜πŸ”: Champagne Problems
π˜πŸ”: Dirty Little Secret
π˜πŸ”: Sign Of The Times
π˜πŸ”: Road Trip
π˜πŸ”: Whispers and Secrets
π˜πŸ”: Shopping Day
π˜πŸ”: Rufus Scrimgeour
π˜πŸ”: The Hunt
π˜πŸ”: Valentine's Day
π˜πŸ”: Quidditch Disaster
π˜πŸ”: Sixteenth Birthday
π˜πŸ”: Liquid Luck
π˜πŸ”: Sectumsempra
π˜πŸ”: The Cave
π˜πŸ”: What Starts, Ends
π˜π„π€π‘ 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍
π˜πŸ•: The Seven Potter's
π˜πŸ•: The Birthday Party
π˜πŸ•: The Wedding
π˜πŸ•: The Murderer
π˜πŸ•: September 1st
π˜πŸ•: The Sins Of Tragedy
π˜πŸ•: Body and Soul
π˜πŸ•: Slytherin's Locket
π˜πŸ•: The Depths Of Fall
π˜πŸ•: Breaking Hearts
π˜πŸ•: Godric's Hollow
π˜πŸ•: The Sword
π˜πŸ•: The Deathly Hallows
π˜πŸ•: Bellatrix's Vengeance
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π˜πŸ•: The Talk
π˜πŸ•: The Plan
π˜πŸ•: Knives? Sure!
π˜πŸ•: The Boy Who Lived
π˜πŸ•: When Nightmares Come to Life
π˜πŸ•: Blood And Bone
π˜πŸ•: Voids
π˜πŸ•: Death Comes
π˜πŸ•: Turning Page
π˜πŸ•: Intertwined Fates
𝐀𝐅𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐄 𝐖𝐀𝐑
I. Surprises
II. Soft Kisses And Bad Dreams
III. Death's Lullaby
IV. WARNING: DANGER!
V. Hunting Season
VI. The Corner Of The Lost Souls
VII. The Letter
VIII. Sex On The Beach

π˜πŸ•: Sunflowers

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By catratonks

O enterro de Harry, bem como de Remus e de Sirius e dos outros mortos da guerra, aconteceria no dia seguinte, nos jardins de Hogwarts, que foram restaurados após a onda de carnificina em apenas algumas horas após a última batalha.

Estava nublado, com nuvens pesadas que indicavam chuva. Um espaço fúnebre fora improvisado com os caixões das pessoas que se foram, além de assentos reservados aos familiares e amigos dos mortos. Quando verifiquei o relógio pela última vez, eram dez e quarenta e cinco da manhã; o velório começaria às onze.

As melhores cadeiras foram reservadas para minha família, meus amigos e eu, logo na frente das demais. Fiquei entre minha irmã e Draco, que fora reconhecido como inocente e iniciava o processo de reinserção social, diferentemente de seus pais, que, quando fossem encontrados, iriam para a cadeia. Mamãe e Lene permaneceram ao lado de Maddie, e Ron e Hermione, perto de meu primo.

Todos usavam preto. Escolhi roupas confortáveis, pois tinha planos de ficar com elas pelo restante do dia, chorando no dormitório da Sonserina, que fora designado para abrigar as pessoas que se dispuseram a ajudar na reconstrução de Hogwarts depois de sua ruína. Minha família e eu resolvemos ficar porque Harry, Sirius e Remus iriam querer assim.

Eu usava o casaco que era dele, o que tornava tudo pior porque eu ainda podia sentir o seu cheiro. Hermione disse que seria melhor para mim se eu o tirasse, pois ajudaria no "processo de superação", mas recusei-me terminantemente. Eu nunca superaria Harry, nem os momentos que aproveitara com ele.

Para Hermione, era bem mais fácil falar. Ela me contou, depois que levaram o corpo de Harry para longe de mim, e após me forçar a tomar uma xícara de chá quente para acalmar os nervos, que ela e Ron tinham se beijado, na Câmara Secreta. Aconteceu quando foram buscar pelas presas do basilisco. Era óbvio que os dois estavam nos estágios iniciais de um relacionamento, pelo modo como vinham se tratando desde então, portanto Hermione deixou-se levar pela paixão. Achava que me entendia porque admitira que gostava de nosso amigo, mas era completamente diferente. Ela nunca saberia como era se apaixonar pelo melhor amigo de infância. Não entendia a dor enorme em meu peito. Especialmente porque Harry e eu tínhamos o nosso laço de almas gêmeas, e Ron e Hermione não.

Às onze horas em ponto, o homem responsável por conduzir a cerimônia fúnebre apareceu usando vestes pretas com detalhes em dourado. Ele se dirigiu até o pódio que fora montado na frente de todo mundo e começou a se preparar para dar início aos ritos. A cada instante, o cenário ia ficando mais real e mais horrível, tornando-se impossível de permanecer calma. Meu coração estava a mil por causa da ansiedade.

Percebendo isso, Draco segurou minha mão, apertando-a. Olhei para ele. Uma expressão solidária banhava sua face.

— Vai ficar tudo bem — assegurou. — Pode apertar a minha mão quando quiser se sentir melhor. E se precisar chorar, tudo bem também.

Tentei dar um sorriso de agradecimento, que saiu meio forçado devido à noite em claro. Os acontecimentos do dia anterior ainda estavam vivos demais em minha cabeça.

— Obrigada — falei.

— Você pode contar comigo, S/N.

Assenti.

— Eu sei. Você também pode contar comigo.

Fiquei pensando em como Harry e eu estaríamos naquele exato momento se ele não tivesse morrido. Acho que teríamos participado do funeral e, depois de reconstruir Hogwarts, iríamos para a casa que ele comprara para a gente. Com Sirius e Remus vivos, faríamos um almoço legal para a família, em comemoração à derrota das Artes das Trevas, na guerra, e depois seguiríamos com a vida. Mas não era real, e meus devaneios foram interrompidos pelo cerimonialista.

— Queridos amigos e amigas — disse ele, e meus olhos automaticamente se encheram de lágrimas. — Eu gostaria de dizer que estamos aqui reunidos por motivo de celebração, mas infelizmente não posso fazer isso. Hoje, no terceiro dia de maio de 1998, nos despedimos dos que se sacrificaram por nós, em detrimento da guerra recente contra as Artes das Trevas.

"Sabemos que não foi fácil. Pessoas queridas cometeram sacrifícios por nós, pois morreram lutando para que vivêssemos. Amigos, familiares, colegas de escola e de trabalho deixaram este mundo por nós. Hoje, vamos homenageá-los".

O homem limpou a garganta e respirou fundo. Fiquei pensando se ele não conhecia algum dos falecidos, se tinha um vínculo especial com um deles. Se eram próximos ou distantes. Se mantinham contato.

Em todo o caso, o cerimonialista passou os olhos pelos que assistiam. Parou quando me encarou, demorando-se por uns segundos. Então voltou sua atenção para ninguém em específico, dirigindo-se a todos ao mesmo tempo.

— Não há como falar em heroísmo sem citar Harry Potter — continuou. — Ele foi motivo de esperança para muita gente. E com razão, pois provou-se como uma peça essencial para a nossa vitória na guerra. Apesar da fama que tinha, Harry nunca deixou que esta lhe subisse à cabeça. Era um garoto gentil com quem desconhecia, muito companheiro para os amigos e para a família, e extremamente amoroso com a namorada. Harry foi a luz no fim do túnel em um momento de escuridão e desespero, pois nunca perdeu o brilho diante das situações difíceis; era resiliente, leal, cuidadoso, e um pouco teimoso, segundo minhas fontes. Mas ele também conseguia transformar isso numa coisa boa.

Algumas pessoas soltaram risinhos chorosos, atentos ao que o homem dizia. Eu, por outro lado estava ficando meio tonta de tanto chorar; e a cerimônia mal tinha começado.

O homem pigarreou de novo, o que me levou a pensar que ele talvez tivesse algum tipo de tique. Depois, um outro homem, baixo e pálido, entrou correndo e murmurou algo em seu ouvido, entregando um bilhete a ele. Foi embora, em seguida.

Erguendo as sobrancelhas, o cerimonialista desdobrou o papelzinho. Era amarelado, como se o branco estivesse sujo de café. Então, o homem me olhou de novo. Ele disse:

— Acabo de receber um pedido de S/N Mckinnon Black. Ela deseja falar algumas palavras. O espaço é todo seu, querida.

Comecei a entrar em pânico. Eu não havia pedido nada. Não que eu me lembrasse, pelo menos. A última coisa que eu queria, em um momento como aquele, era chamar a atenção geral. Meus amigos e meus familiares sabiam bem disso.

Então, quem teria dado essa notícia falsa?

Quando senti que todos me olhavam, minhas mãos começaram a tremer. Nada do que eu fosse falar seria lindo e importante o suficiente para fazer jus ao que Harry merecia. Eu preferia ficar onde estava, chorando compulsivamente até desmaiar de exaustão. Ele provavelmente desaprovaria a ideia, mas eu sabia que compreenderia.

Comecei a pensar em um milhão de possibilidades de os momentos seguintes darem tremendamente errado, mas meus pensamentos foram interrompidos por Maddie, que cutucou meu ombro. Pisquei algumas vezes, atordoada, e olhei para ela. Minha irmã me encarava com entendimento nas feições que ficaram rígidas pela guerra, e pelas tristezas da vida. Mesmo assim, Maddie era linda. Se ela achava que estava numa situação deplorável, como sempre dizia a mim, eu não podia imaginar como eu parecia ridícula naquele momento, toda inchada devido ao escorrer das lágrimas e de tanto forçar o nariz para fungar.

— Vá — disse ela, gentil. — Não se preocupe, você vai se sair bem. Tente ficar relaxada que tudo dará certo.

Balancei a cabeça.

— Eu não pedi a palavra, Maddie — falei. — Não sei quem foi o responsável por essa brincadeirinha de mal gosto, mas você sabe que não fui eu. Mal tenho forças para chorar nesse momento, quem dirá para falar em público.

— Você é mais forte do que pensa, S/N — disse ela, firme. — E eu não estou falando da sua capacidade de destruir paredes e evocar um exército de mortos-vivos. Temos que falar sobre isso mais tarde, a propósito, porque você não me parece nada bem.

— Estou acabada.

— Então se acabe lá em cima, falando para todos, inclusive para a pessoa que teve a audácia de enviar um bilhetinho para o cerimonial fingindo ser você, que você ama Harry mesmo após a Morte, e que nada mudará isso — insistiu Maddie. — Não interessa que a Morte está te desafiando constantemente, seja qual for o motivo. Você a tem no sangue, certo? Então mostre isso a ela. Mostre que você vai continuar lutando, que é digna de cada fôlego que toma agora, de cada molécula de oxigênio. Se a Morte escolheu te presentear com o Poder da Destruição, ao menos mostre que você está disposta fazer o que for preciso para passar por cima dela.

— Mas... Mas e se eu tropeçar nas minhas próprias palavras? Não quero estragar minha homenagem para Harry.

— Honestamente? Harry te amaria até se você fosse um saco de lixo. Então vá lá e use a força que tem. E pense que Harry vai ficar muito orgulhoso disso.

Eu não estava muito convicta de que Maddie tinha razão a meu respeito, mas eu não podia ficar calada para sempre, pois todos aguardavam, então acabei cedendo. Fiquei de pé, me tremendo toda, e me dirigi em passos estagnados até o pódio, onde havia um microfone regulável. Mexi nele até que ficasse numa altura boa, e então meti a mão no bolso, pegando um pedaço de papel em que eu havia rabiscado durante a noite. Eu não pretendia ler o que estava escrito para ninguém, mas decidi segurá-lo porque seu conteúdo era importante para mim.

Olhei para a multidão e vi que todas as pessoas que estavam ali amavam Harry. Não mais do que eu, claro — nunca mais do que eu — , mas era impossível negar que vi nos rostos deles uma solidariedade imensa e humana, além de uma saudade que se estenderia durante muitos anos. Harry fora importante para cada um à sua maneira, sempre impressionando as pessoas com sua generosidade e com a bondade que morava em seu coração. Pensando nessas coisas, até que não seria tão difícil arrumar algo para falar. Na verdade, seria tão fácil que eu poderia passar horas contando histórias a respeito dele, sem nunca fechar a boca.

Limpei a garganta, depois as lágrimas insistentes que escorriam por meu rosto. Doeu sentir que eu estava colocando um ponto final em uma história que eu acreditava que seria para sempre.

— Eu não estava conseguindo dormir, ontem à noite, porque eu ficava pensando em Harry o tempo inteiro. Eu tentei, juro que tentei pegar no sono, mas a cada minuto que se passava, parecia impossível — eu dei um risinho, então, lembrando de meus momentos decadentes noturnos. — Acho que nunca chorei tanto — comentei. — Também acho que não vou parar de chorar tão cedo. Porque Harry... Harry era minha alma gêmea. Poucos sabem, mas nós dois tínhamos uma conexão que nos permitia conversar mentalmente, e de sentir a presença um do outro. Nunca estávamos sós. E agora que não posso mais contar com ele fazendo piadas sem graça para me fazer rir nas noites tenebrosas, entendo aquela frase que dizem quando perdem coisas importantes. "A gente só entende a enormidade das coisas que amamos quando não as temos mais".

"Enfim, eu não estava conseguindo dormir, então decidi começar a escrever um poema. O poema é sobre Harry. Eu fiquei pensando em ler para ele, e em perguntar o que ele achava. Fiquei tão concentrada que não vi o tempo passar, e me virei na cama para chamar por ele. Mas Harry não estava lá; eu havia esquecido disso. Afinal, era por isso mesmo que eu estava escrevendo o poema".

"Não conseguirei lê-lo em voz alta. Vocês todos o amavam, uns mais, outros menos, então entendem o sentimento de desolação. Harry foi importante para muita gente, de inúmeras formas. Mas para mim... É difícil de descrever. Harry era tudo, ainda é. Tivemos momentos de felicidade imensuráveis, embora..."

Então, eu a vi. Ela estava no fundo do espaço que fora designado para as pessoas que iam assistir ao enterro, sorrindo para mim sob o capuz assombroso. Era o vulto encapuzado da Morte, que pelo visto ainda não me deixara em paz; pelos sentimentos expressos, parecia ter sido a responsável por mandar que me chamassem ao pódio para falar diante de todos, no funeral de Harry.

Fiquei paralisada por um instante, sem nem ousar piscar, até que um fiapinho de cílio entrou no meu olho, e eu precisei fechar os olhos para esfregá-los. Quando os abri, o vulto havia desaparecido.

Eu estava parado feito boba na frente de todo mundo, sem mover um músculo e sem dizer nada. As pessoas aguardavam para que eu continuasse, parecendo levemente confusas com minha pausa enorme. Mas eu só conseguia enxergar em borrões agora, tomada por uma raiva incontrolável do vulto encapuzado que eu não era capaz de explicar. Ele estava arruinando tudo, mais uma vez; era uma tremenda falta de respeito aparecer no funeral das pessoas que se foram por sua causa, e ainda ficar sorrindo e querendo atrapalhar tudo. Quanta ousadia! Nessa hora, eu quis sair correndo e agarrar seus tornozelos, derrubá-lo e estrangulá-lo pela falta de tato, dando espaço para todas as coisas maldosas e sanguinárias que um dia já se aventuraram a passar pela minha mente. Mas percebi que talvez fosse isso mesmo o que a Morte quisesse de mim, e eu não lhe daria esse gostinho. Principalmente porque, embora fôssemos quase iguais, em termos de poder, eu queria provar que a minha parte humana conseguia ser melhor. E isso contava; pelo menos, eu esperava que sim.

— ... embora a Morte os tenha tirado de nós — continuei, limpando a garganta. — Harry sempre fez questão de proteger a todos que amava da melhor forma que conseguia. Ele era gentil, dono de um coração maravilhoso. Eu o amarei para sempre — falei, e em seguida fiz uma pausa, pois minha garganta ficou subitamente seca. — Como marido de mentirinha, como namorado, como melhor amigo: quando nos encontrarmos, em outro plano espacial, ainda quero ter os momentos que me prometeu, numa praia em Maldivas. Só Harry e eu sabemos do que estou falando... É, acho que ele daria um risinho agora.

Não sei bem o que falei depois, mas finalizei meu discurso com mais algumas palavras e voltei para meu assento, onde, novamente, caí no choro. Dessa vez, achei que eu não conseguiria parar.

Maddie me deu um abraço, deixando que eu apoiasse a cabeça em seu ombro durante todo o resto da cerimônia. Prestei atenção quando falaram sobre papai e sobre Remus, mas o restante dos momentos passaram por mim como um borrão, porque eu não consegui parar de soluçar nem para ouvir os discursos sobre os outros falecidos. Não sei se durou muito, ou pouco, mas o fato era que minha cabeça doía tanto que parecia estar coberta de rachaduras.

Quando o funeral acabou, as pessoas ficavam livres para visitar os túmulos improvisados. Eram caixões forjados em mármore, como o de Dumbledore, que seriam movidos caso as famílias dos mortos desejassem que fossem enterrados em locais mais apropriados. Ali ficariam acima da terra, expostos; então muitos mandariam os corpos de seus entes queridos para os cemitérios de sua escolha. O de Harry, bem como os de Sirius e de Remus, iria para Godric's Hollow na tarde do dia seguinte, para que ficassem ao lado de Lily e de James. A casa que papai tinha lá passaria para meu nome, e então eu poderia visitá-los sempre que quisesse, quando estivesse hospedada lá.

Fui a última a deixar os túmulos. Dei uma passada rápida por todos os que eu conhecia, deixando margaridas sobre cada um. Nos caixões de meu pai e de Remus, deixei florzinhas mágicas que vibravam como se estivessem tocando música, para que os momentos em que toquei piano durante a infância sempre estivessem com eles. Ver o nome de Harry escrito na pedra, no entanto, foi o mais difícil. Era como absorver a ideia, de uma vez por todas, de que eu nunca voltaria a vê-lo, e como admitir que nossos esforços para sobrevivência foram míseros.

Passei a palma da mão sobre a pedra gelada, detestando poder sentir. Nada sobrou, e aquela seria nossa última lembrança.

— Se estiver muito escuro aí dentro, você pode fingir que estamos segurando um isqueiro com as mãos trêmulas — sussurrei.

Harry, obviamente, não respondeu. O caixão permaneceu intacto, cada vez mais frio contra a minha mão.

— Estou te deixando presentes — continuei. — Meu poema é um deles. Não está como eu queria, mas sinto que você não irá se importar. Bem, aposto que você até daria um sorrisinho agora, se pudesse. Mas não dá, né. Enfim. Eu te amo. Por favor, venha me buscar o quanto antes, para o mais longe possível desse lugar que as pessoas chamam de casa. Você sabe... Você sabe que não tenho mais motivos para ficar aqui.

Minha voz estava embargada, difícil de sair. Respirei, trêmula, sem saber como eu ainda estava de pé, e fiquei parada por um tempo considerável, apática ao mundo que me cercava. Horas pareceram se passar. Quando ergui a cabeça, ao som do cantar de um passarinho que passava por ali, percebi que estava sozinha. O cemitério improvisado parecia vazio.

No entanto, eu ainda sentia que estava sendo observada. Em algum lugar, era óbvio que o vulto encapuzado da Morte esperava por mim, vigiando meus movimentos. Permaneci quieta por um segundo, depois voltando meus olhos para a floresta adiante. Algo se escondia atrás das folhagens densas e escuras. Mas se era a Morte brincando comigo, ou um animal selvagem, ficou entremeado nas sombras.

Quando retornei ao castelo, deixei um buquê enorme de girassóis sobre meu poema para Harry. Eram como os que ele sempre me dava.

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Era impossível negar que Hogwarts, à noite, sempre seria linda. Vagalumes iluminavam a propriedade inteira, especialmente os arredores do Lago Negro; era impossível não me lembrar de quando Harry me pediu em namoro, no começo de nosso quinto ano.

Eu estava observando a paisagem na sacada de uma das varandas do corredor em que normalmente tínhamos as nossas aulas de Transfiguração com Minerva, pensando em como tudo estava perfeito nos anos que se passaram, e em como as coisas mudaram tão rápido. Essa ideia me deprimia, porque não dava para voltar no tempo e consertar tudo. Na verdade, não havia muito o que consertar, pois os acontecimentos da guerra teriam de se seguir de qualquer forma.

Maddie me encontrou lacrimejando. Ainda deu tempo de disfarçar, mas meus olhos ainda estavam vermelhos de quando eu não conseguia parar de chorar no funeral, e por causa de minha madrugada em claro. Eu estava exausta, mas a tristeza me impedia de pegar no sono. Eu sabia que só iria dormir quando meu corpo entrasse no modo automático de sobrevivência, e quando desligasse sozinho. Provavelmente dali há algumas horas.

Minha irmã parecia melhor do que eu, mas eu sabia que ela também estava mal. Harry era como um irmão para ela. Além disso, Maddie nunca teve a chance de fazer as pazes com Sirius, depois que ele voltou à vida — apenas para morrer de novo, em batalha. Quero dizer, ele não tinha morrido de verdade na primeira vez, mas agora isso era apenas um mínimo detalhe.

— Encontrei você — disse ela, suavemente. — Hermione está preocupada. Disse que você não apareceu para jantar, e que não comeu nada o dia todo. Sabemos que está de luto, mas você precisa se alimentar, S/N.

— Não tenho fome.

— Eu sei, eu sei — disse minha irmã. — Mas você precisa tentar ingerir alguma coisa.

— Maddie — adverti, virando-me para encará-la. — Eu não ligo mais, tá? Não importa se vou ter saúde ou não. Foda-se isso tudo.

Ela suspirou, sem falar nada. Tornei a observar a paisagem, sonhando acordada com Harry, fechando os olhos diante da lembrança intensa. Era demais para uma pessoa só suportar.

Maddie chegou mais perto, meio hesitante, e se apoiou na sacada ao meu lado. Acho que ela estava genuinamente com medo de eu cometer alguma loucura maior e pular.

— É alto aqui, né? — comentou. — Uma queda desse tamanho deve ser terrível.

Não respondi. Eu estava tentando não pensar nisso, porque sabia que Harry não concordaria com meus pensamentos suicidas. Se eu me entregasse à ideia, era capa de tentar mesmo. Embora... Eu sabia que nada aconteceria, o que era desesperador. Minhas sombras me salvariam, como aconteceu quando lutei contra Voldemort e derrubei a Torre de Astronomia.

E se isso significasse que eu deveria viver para sempre? Caso minhas sombras me protegessem constantemente, nada poderia contra mim, o que era péssimo. Uma vida inteira sem Harry seria como tortura. Eu certamente acabaria em algum asilo antes dos trinta anos.

Espantei esse pensamento balançando minha cabeça. Eu não poderia começar a surtar agora. Meus amigos ainda precisavam de mim, então eu queria ao menos estar de corpo presente para poder falar uma ou outra coisa para eles. Quando as coisas se estabilizassem, eu começaria a cogitar o restante, pois minha consciência não pesaria com a responsabilidade que eu sabia que deveria aderir.

Maddie pigarreou, chamando minha atenção. Olhei-a lentamente. Havia bastante preocupação em seus olhos, o que me fez suspirar. Eu não queria deixar minha família e meus amigos assim, mas eu também não queria comer. Não queria beber água. Cometer esforços para ficar bem era necessário, sim, mas também era uma realidade mentirosa. Eu até desejava conseguir me sentir melhor, mas não acreditava que seria possível. Não havia felicidade sem Harry. Não para mim.

— Você deveria ao menos tentar dormir um pouco — sugeriu Maddie. — Quando acordar, vai conseguir comer alguma coisa.

— Não sinto sono.

— Você está deplorável, S/N.

Forcei um sorriso que não chegou aos olhos.

Obrigada.

Maddie suspirou.

— Escute, eu entendo sua relutância. É muito difícil seguir em frente com toda a vida que você conhecia ficando para trás.

— Não, você não entende.

— É claro que entendo — disse Maddie, séria, me fazendo ficar totalmente de frente para ela e olhando em meus olhos. — Eu perdi minha família também. Perdi amigos. E apesar de eu não entender como é sentir falta da alma gêmea, eu também perdi um amor.

Senti seu golpe como uma facada. Maddie tivera de lidar com a morte de Tonks, e nem tivera tempo para se despedir direito. Não chorara muito durante o funeral, enquanto eu estava beirando uma síncope. Maddie era forte de inúmeras maneiras e, acima de tudo, era muito mais forte do que eu. Isso me fez sentir vergonha. Enquanto eu estava me lamentando continuamente sobre minha situação horrível, minha irmã estava tentando ser uma pessoa melhor para os outros. Me consolando, por exemplo. Eu também deveria estar dando apoio a ela.

— Não há um segundo no qual eu não me arrependa de não ter ficado com ela enquanto pude — continuou Maddie. — Eu a fiz sofrer muito, e a troco de quê? A Morte a levou do mesmo jeito, com uma machadada no peito. Mas a questão, S/N, é que se Dora não tivesse sido atingida, a vítima teria sido um de vocês. Ela morreu por uma causa nobre, e é assim que me lembrarei dela.

"Ela foi... Meu primeiro amor, acho. Neguei por tanto tempo que acreditei nisso. E quando não tive mais oportunidades, entendi a enormidade do que eu perdi. Não acho que você esteja sofrendo menos do que eu, mas suas lembranças com Harry são maravilhosas. Você precisa se segurar nelas para se manter sã, e continuar andando mesmo que as passadas doam. Porque se não fosse Harry a morrer na floresta, teria sido você. E ele não queria que isso acontecesse com a mulher que ele amava".

Dei uma fungada para tentar me livrar de novas lágrimas, mas não obtive sucesso. Enxuguei-as com o dorso de minhas mãos mesmo, com força, odiando cada batida de meu coração, cada átomo de oxigênio que me mantinha viva. Porque afinal, era isso o que estava me impedindo de minha união após a Morte com meu Harry.

No entanto, Maddie tinha razão. Eu tinha boas lembranças com ele; poderia sobreviver disso por enquanto. Pelo menos até que Hogwarts estivesse reconstruída.

— Sinto muito — sussurrei. — Eu sou uma idiota.

Maddie negou.

— Cada pessoa tem o seu jeito de lidar com as coisas ruins da vida, S/N. Você foi forte durante tanto tempo, aguentou tanta coisa. Acho que mesmo sendo auror, e tendo visto de quase tudo, nunca conheci alguém que sofreu mais do que você, e isso só mostra o quanto você aguentou até agora.

— É... Por causa de Harry, talvez — falei, e nós duas ficamos em silêncio. Depois, eu disse o que estava querendo dizer havia algum tempo: — Eu não entendo como você consegue se manter fria em situações assim. Você tem tantos motivos quanto eu para querer esquecer tudo, e parece aceitar as coisas com facilidade e seguir em frente. Eu queria poder fazer isso.

Maddie mordeu o lábio.

— Acho que, com o passar dos anos, entendi que a vida vai tentar te derrubar de toda maneira — respondeu. — Você só precisa escolher se vai deixar, ou não.

— Mas e se não houver mais como ficar em pé? E se minhas pernas estiverem quebradas para sempre?

— Então voe. Você é a dona das próprias escolhas, S/N. Se deixar que a Morte assuma as rédeas, você vai ser apenas mais uma das mulheres que te antecederam. Vai acabar nas garras dela do mesmo jeito.

— Como sabe sobre a Maldição da Morte sobre as mulheres Mckinnon? — perguntei, assustada.

Minha irmã deu um sorrisinho.

— Quem você acha que conseguiu as lembranças de Audrey para Dumbledore? — disse ela.

Fiquei totalmente chocada. Durante todo esse tempo, Maddie sabia. Talvez fosse por isso que descobrira de meu Poder da Destruição em primeiro momento, ao invés de ter espiado através de minha mente. Ou talvez a verdade fosse uma pequena mistura das duas coisas.

— Por que não me contou?

— Eu ia contar — disse ela. — Mas em uma de minhas reuniões com Dumbledore, acabei deixando a informação escapar, e ele me fez prometer ficar calada. Disse um monte sobre isso ser crucial para a vitória do Mundo Bruxo contra Voldemort, e me fez entregar a lembrança a ele, prometendo que, quando chegasse a hora, você teria acesso a essas informações.

— Que filho da puta!

— É. Entendo esse seu sentimento. Dumbledore tinha essa coisa de sempre pensar "por um bem maior", ao invés de se preocupar com a saúde mental dos outros. Foi assim com Grindelwald, assim como com todo o resto.

— Você está falando de quando ele o matou, em 1945?

— Não — disse Maddie. — Tenho quase certeza de que eles eram amantes. Tipo, pelo modo como Dumbledore falava dele, dava para notar que sua voz ficava diferente.

Ergui as sobrancelhas.

— Dumbledore nunca mencionou Grindelwald para nós. Não como se eles tivessem um passado, pelo menos.

— Dumbledore era muitas coisas, e misterioso era uma delas. Acho que ninguém nunca vai saber tudo dele, nem se essa pessoa estudar todos os livros e registros do mundo. Tem coisas sobre os corações humanos que nunca pertencerão a ninguém.

Assenti. Percebi que minhas lágrimas tinham secado, pois eu estivera concentrada no que minha irmã dizia. Senti-me grata por isso.

— Obrigada por não desistir de mim — falei, sincera. — Eu meio que já fiz isso, então é bom saber que ainda tenho com quem contar.

Maddie me deu um abraço. Foi de súbito e inesperado, mas eu estava precisando. Retribuí o gesto com a mesma intensidade, e depois nos afastamos.

— Você é minha irmã mais nova, e eu sempre, sempre mesmo, vou cuidar de você — disse ela. — Eu nunca desistiria.

Não achei que fosse possível amá-la mais, mas aconteceu. Nos segurávamos juntas e permanecíamos vivas por causa disso.

Ficamos em silêncio por uns minutos, apreciando a vista. Dava para ouvir o barulho dos grilos, o farfalhar sutil do vento contra as árvores. Eu ainda me sentia só, mas a presença de Maddie consolava.

— Tem alguma coisa que você faria se pudesse voltar no tempo? — perguntei, quebrando o silêncio.

Maddie produziu um murmúrio de concordância com a boca.

— Eu teria sido menos dura com Sirius — respondeu. — Acho que esse é um dos meus maiores arrependimentos. Eu deveria ter aproveitado o tempo que tive com ele, quando ele voltou, ao invés de ficar chateada por causa do medo de deixar que ele ficasse para depois perdê-lo de novo. Sirius foi meu pai, meu melhor amigo. Quando pensamos que ele estava morto, fiquei péssima. Mantive distância de todos para lidar com a minha dor, e isso só resultou em mais sofrimento. Eu não queria correr o risco de passar por tudo mais uma vez.

— Foram tempos sombrios — concordei.

Maddie assentiu.

— Foram, sim — disse ela, com um tom de mistério. — Foi como estar perdida num mar de gente feia e nunca encontrar uma luz que mostrasse a saída.

Uma risada triste involuntária escapou de minha garganta.

— Você não presta — brinquei.

Maddie riu.

— Eu sei.

— Mudando um pouco de assunto... E Draco?

— O que tem ele?

— Você pensa em dar uma chance? Agora que Voldemort já era, e que Draco está oficialmente do nosso lado?

Minha irmã hesitou um pouco antes de responder:

— É cedo para dizer. A perda de Tonks ainda é recente. Além disso, Draco é uns quatro ou cinco anos mais novo do que eu. Tenho medo de deixar a desejar, e de não ser boa o suficiente.

Balancei a cabeça.

— Você é a melhor, Mads, e a diferença entre vocês não é tão grande, porque têm uma idade que permite que fiquem juntos — falei. — E sobre Tonks... Acho que ela ficaria feliz, contanto que você estivesse feliz também.

— Eu sei — suspirou Maddie. — Vou pensar sobre isso. Mas você também precisa, S/N. Você sabe que Harry também ficaria feliz se você seguisse em frente.

Revirei os olhos, subitamente irritada.

— Ah, não começa.

— Sobre o que as minhas garotas favoritas estão falando? — perguntou Draco, aparecendo do nada.

Tomamos um susto, e nos viramos para encará-lo. Draco usava seu terno preto de sempre e tinha as mãos nos bolsos. Maddie estreitou os olhos para ele, tentando intimidá-lo. Como resposta, meu primo deu um sorriso cínico, seguido de uma piscadinha.

Maddie revirou os olhos, parecendo transtornada. Mas eu sabia que ela estava fazendo drama.

— Nada — respondeu. — Vou ignorar o que você disse sobre "garotas favoritas".

— Sei — disse ele.

— Maddie só está fazendo drama — falei. — Estávamos apreciando a paisagem e falando sobre vagalumes. Só isso.

Minha irmã concordou na mesma hora, parecendo agradecida por eu não mencionar que Draco fora um de nossos assuntos.

— Entendi — disse meu primo, aproximando-se mais. Ele olhou propositalmente nos olhos de Maddie, fazendo um movimento mínimo com as sobrancelhas. — Viu? Conversar comigo não é tão difícil.

— Você está convencido demais — retrucou minha irmã. — Acho que ficou animado com a possibilidade de sermos amigos, e já está se exaltando.

Draco me encarou, indicando Maddie com o queixo.

— Ela é sempre teimosa assim?

— Ah, com certeza — afirmei.

— Muito obrigada — ironizou minha irmã. — Me sinto lisonjeada.

— De nada — falei. Depois, perguntei a Draco: — O que está fazendo aqui?

— Na verdade, eu não sei. Estava caminhando mesmo, pensando na vida, quando ouvi vozes. Andei um pouco mais e me deparei com vocês duas — disse Draco. — Mas eu já estava pensando em voltar para a Comunal da Sonserina. Suponho que saibam a senha.

Neguei.

— Não. Nem sei aonde vou ficar.

Maddie e Draco trocaram olhares. Apesar das provocações entre eles, os dois até que estavam se entendendo. Afinal, construíram uma espécie de amizade durante o período em que Maddie ficara presa sob a Malfoy Manor.

— Talvez seja melhor irmos, então — disse Maddie. — Mamãe trouxe uma bolsa com coisas suas, então você precisa organizar tudo antes de dormir.

— Maddie, eu já disse que...

— Que não está com sono, eu sei — completou ela. — Mas você precisa descansar, S/N. Você é poderosa, mas não é de ferro. Quanto tempo faz que você não dorme? Uns dois ou três dias? O seu corpo precisa de descanso, você querendo, ou não.

— Sua irmã tem razão — disse Draco. — Não me olhe assim, você sabe que só estou querendo ajudar.

Suspirei.

— Vocês vão parar de me perturbar se eu concordar com o que estão dizendo?

— Sim — disseram ao mesmo tempo.

— Tudo bem, então — respondi, irritada. — Vamos logo, antes que eu mude de ideia.

Maddie e Draco me levaram até as masmorras, que era onde estava localizada a Sala Comunal da Sonserina. A senha era "Veneno de Cobra". Quando entramos, não dei muita atenção a quem tentou falar comigo. A Comunal estava lotada, pois muita gente quis ficar para ajudar a reconstruir Hogwarts. Ainda dei um "oi" para Minerva e para Slughorn, mais por educação do que por entusiasmo. Tudo o que eu queria era um pouco de sossego.

— Minerva disse que você não precisa dividir o quarto com ninguém — disse Draco. — Eu falei a ela que você poderia ficar com o meu dormitório, se quisesse. Acho que suas coisas já devem estar lá.

Fiquei agradecida por ele ter constatado que eu não iria querer a companhia de ninguém, por enquanto. Eu precisava de espaço para ter crises existenciais e para chorar quando sentisse vontade. O que vinha sendo frequente.

— Obrigada.

— Não precisa agradecer — disse Draco. — Escute, meu dormitório é bem grande, porque meu pai pagava uma quantia extra que me dava direito a não dividir o quarto com ninguém. Era solitário, mas às vezes era bom.

— Se era solitário, por que você não pediu a seu pai que parasse de pagar à mais?

Draco deu de ombros, e Maddie acompanhou o movimento com o olhar, prestando atenção sem perceber que fazia isso.

— Eu não tinha opções — respondeu. — Você quer que eu te leve até lá? É a segunda porta à direita, quando você sobe o primeiro lance de escadas.

— Acho que não — falei. — Posso ir sozinha. Mas obrigada.

Draco assentiu. Dei um abraço nele, e outro em Maddie, e segui para meus novos, mas temporários, aposentos. Não cheguei a ver Ron e Hermione para desejar-lhes uma boa noite. No entanto, localizei Regulus, em frente à lareira acesa. Devia ser estranho, para ele, retornar depois de tantos anos.

O dormitório de Draco era realmente enorme. Uma cama de dossel grande e macia me esperava, as cobertas parecendo convidativas. Tirei a bolsa que minha mãe preparara de cima delas, colocando-a numa poltrona próxima à mesinha de cabeceira, e caí com tudo em meio aos travesseiros.

Nem tive tempo de analisar a arquitetura do cômodo antes que as primeiras lágrimas viessem. Minha respiração ficou irregular, e por mais que eu tentasse, não consegui contê-la. Deixei que o choro me consumisse viva, que me queimasse de dentro para fora, causando o pior e mais agonizante ardor do mundo. A crueldade da Morte parecia cada vez mais acentuada.

Primeiro, pensei na conversa que tive com Maddie. Depois, senti-me horrível por pensar que eu estava com inveja de Ron e de Hermione. Apesar de que eu sempre torci muito por eles, parecia péssimo, para mim, que Harry e eu não pudéssemos ter a mesma coisa depois da derrota de Voldemort.

Quando eu soube que ele deveria morrer, achei que eu não pararia enquanto não apagasse a existência da humanidade da Terra. Eu queimaria terrenos e dizimaria populações, sem me importar com como estava fazendo isso. Mas não foi assim. Senti-me impotente, apenas, como se sangue não mais fluísse por meu corpo em chamas. Quebrada. Vazia. Nada parecia ser bom o suficiente para me consolar.

Hermione tinha razão. Eu acabaria explodindo. Isso se já não o tivesse feito.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

Poema de S/N para Harry: "Girassol".

Num campo florido aberto
Repleto de rosas e de carmesins,
Balançando ao som das asas
Das libélulas e dos serafins,
Encontrei um girassol.
Grande, exuberante, amarelo.
Meio desproporcional.

Contudo, era singular.
Folhas faltavam;
A cor, a desbotar,
Entristecia;
Já não era mais jovial,
E aos meus olhos brilhava tanto que,
na vista entorpecente,
doía.
Extravagante como diamantes em cristal.

Às vezes, as outras flores falavam.
Afinal, eram todas tão iguais
Que, por mais lindas que fossem,
Não se diferenciavam nem no tom
– nem as de cor lilás.
E quando perguntavam:
"Por que você segura
Esse pequeno girassol
Tão longe do chão e
Tão perto da terra
Que não tem mais fim?
Tão perto do peito,
Do seu coração,
Assim?!";

Eu respondia:
"Meu girassol é a única flor do jardim
Que compete com o Sol.
É murcho e diferente,
Amarelo, porém saliente;
Exibe a cor das folhas
Que caem no Outono
Que antecede o Inverno nascente.
Odeia multidões que riem,
Detesta chorar lágrimas que brilham,
Prefere a tranquilidade do poente".

Sua opinião não importava.
Meu girassol não era como
As outras flores do jardim,
Mas era meu;
E eu gostava.
Gostava tanto que, em meus confins,
Só havia ele;
Meu amor,
Profundo e eterno,
Que esperava em terrenos hostis.

Meu girassol não absorvia mais água.
Eu o regava,
Regava,
Regava;
Mas a Morte sempre vence,
E não havia mais o que esperar
Na estrada.

Então, em um dia,
Naquele dia do ano
Em que dá tudo tão errado
Que a gente se pergunta:
"Que diabos eu fiz para merecer
O castigo que deveria ser dado
A quem quer morrer?",
O meu girassol virou fumaça.
Livrou o mundo de sua graça,
Como veneno em água misturado;
Nenhuma pétala ficou para valsa.

Fui ao enterro sozinha.
E quando me perguntaram, respondi:
"Gosto do que os outros não dão valor
Porque também sou uma girassol pequena,
Porque murchei,
Sentindo dor,
E sobrevivi".

Sobre o túmulo,
Deixei um grão de areia colhido na praia.
Por que, de todos os infinitos que há,
Dentre as partículas sob o mar
Ao redor do mundo,
Escolhi o grãozinho minúsculo
Que parecia tanto com os outros
Que ninguém ousaria pensar
Que fosse digno de mais um segundo?

Porque,
Às vezes,
Somos tão diferentes que somos iguais.
Porque meu girassol destoava dos demais,
E era feio,
E estava morrendo,
E fora reduzido a pétalas sazonais;
Mas continuava sendo flor.

Porque eu queria que meu girassol soubesse que era exatamente como um grão de areia;
Porque era bonito,
Especial;
Porque fora escolhido entre milhões,
Já que eu o amava,
E que era meu
– só meu;
Me admirava [...].

Porque,
Se girassóis enxergassem
Através de espelhos,
O essencial
– verdadeiro,
Deixaria de ser invisível aos olhos.

——————————————

notas da autora:

oii gente! esse capítulo precisou ser dividido em duas partes, então a segunda metade vai sair na próxima semana! eu até postaria logo, mas vou para a praia na quinta-feira, e o meu aplicativo do wattpad no celular não está funcionando direito.

o que acharam desse capítulo? ultimamente estou sem ideias do que escrever nas notas finais.

recentemente li o vol. 5 de "heartstopper", terminei "icebreaker" depois de meses, e li "quebre os seus sapatinhos de cristal". estou terminando "jogos vorazes", e depois vou ler "melhor do que nos filmes". como estão as leituras de vocês?

o próximo capítulo está muito bom, estou ansiosa! um beijo gente! até semana que vem!

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