Ela é uma...
Narrador | Point of View
- Lauren está ansiosa para conhecê-la Sra.Cabello, ela nunca conheceu uma cubana-mexicana.
Camila passou correndo pela senhora, apreensiva. massageou as mãos repetidamente.
- Também estou ansiosa para conhecê-la - elas voltaram o caminho inteiro até a sala de estar, onde o casaco e a bolsa estavam em cima da cadeira mas os sapatos não estavam no lugar - Mas... Eu tinha certeza que os coloquei nesse aqui.
Nunca teve problemas de memória e sempre contava os passos caso esquecesse alguma coisa no lugar, sabendo como encontrá-la depois. Mas ela não entendia como seus sapatos haviam sumido, teriam sido deixados em algum canto enquanto ela estava distraída olhando os detalhes do imóvel? Honestamente, ela não tinha uma resposta plausível que justificasse sua falta de atenção.
Se consegue perder os próprios sapatos quem dirá ser capacitada em cuidar de uma criança, uma segunda má impressão, ela estava se sabotando antes mesmo de tentar, Camila teria que se esforçar para não vacilar novamente.
- Logo os sapatos vão aparecer - disse a idosa, convencida. - Foi a Lauren, ela é uma garota que gosta de pregar peças nos outros, imagino que você tenha trazido outros sapatos.
- Sim! está bem. Não me importo com os jogos, estou ansiosa para jogarmos juntas - disse ela, procurando outros sapatos na mala.
- Se você estiver pronta, continuaremos. Eles estão esperando há muito tempo por nós.
Em outra sala, mais próxima, o avô se comunicava ao lado de uma poltrona, os detalhes dessa conversa eram confidenciais. As mulheres entraram na sala com passos lentos, Camila só consegue ouvir ele dizer "muito bonita, adoro essa cor" a que estava sentada na poltrona deveria ser a tão citada Lauren e faria questão de não pronunciar esse nome incorretamente.
- Querido! - o homem levantou-se, ajeitando o terno, cumprimentando a esposa com um aceno de cabeça. Eles não demonstravam carinho publicamente, era algo comum entre as famílias - Permita-me apresentar a Sra. Cabello.
- Sra.Cabello... - pronunciando aquele sobrenome lentamente, era diferente dos inúmeros sobrenomes comuns em seu dia a dia, os traços da mulher também eram diferentes do padrão das mulheres inglesas.
- É essa... - Os dois estavam bloqueando a visão de Camila, alguém estava sentava na poltrona e o casal saiu do caminho para ela visualizar algo incomum - A nossa filha. Lauren.
Na poltrona estava uma boneca de tamanho normal de uma criança de 8 anos, cabelos escuros ondulados e rosto de anjo como a menina da pintura, vestido branco e sapatos escuros, seus olhos eram verdes claros e pareciam quase realistas, o tom da boneca era pálido. Camila jurou que poderia ser feito de vinil de silicone, suas bochechas estavam vermelhas.
Camila ainda tinha o mesmo sorriso que daria ao casal depois de ver aquela boneca e não pôde evitar soltar uma risada sincera, será que eles estavam caindo nas boas graças de Lauren? O casal parecia frio demais para participar das brincadeiras da menina.
Sua risada aos poucos parou ao ver aquelas expressões sérias e confusas, agora ela está caindo na realidade e a Sra.Cabello olhou para o casal tentando encontrar alguma falha em suas expressões, mas parecia algo muito sério. Ela olhou para a boneca pensando mil e uma coisas para aquele casal estar realmente lhe presenteando a uma boneca cujo o objetivo é cuidar dela.
- Então você já conheceu Lauren? - Ela se virou para Austin que apareceu de repente, o rapaz entendeu aquela expressão e se apressou em se aproximar da boneca para cumprimentar a menina. - Como você está, Lauren? - O casal assistiu a interação com animação, a menina não era muito sociável e era carinhosa com o dono do mercado. -Sra.Cabello veio de longe só para te conhecer, seja gentil e tenha calma na hora de brincar. - Naquele momento, todos naquela sala olharam para Camila com sorrisos no rosto, ela estava ali parada sem reagir. - Já vou, as compras estão na cozinha - despediu-se do casal com um aceno de cabeça - Espero vê-la na próxima entrega, Sra.Cabello.
- Obrigada, Austin.
O homem olhou para Camila preocupado, ela estava congelada no lugar e a esposa lançou ao marido um olhar de conforto, a mulher só precisava se acostumar com aquela coisa nova.
O salário era excelente e o ambiente reconfortante demais para ser verdade, bastava ela cuidar de algo não vivo até o casal voltar da viagem, ela tinha dúvidas se o casal já tinha passado da hora de se aposentar especificamente para o Asilo de idosos.
Estavam paranóicos em contratar alguém por um preço alto apenas para cuidar de uma boneca irrealista?
Ela decidiu guardar as perguntas para si ou perguntar para alguém que não fosse paranóico como o casal, sua mãe sempre dizia que "trabalhe para ganhar, não pergunte por que, apenas faça o seu trabalho" ela respirou fundo, começou a sair do lugar e aproximou-se da poltrona, dando ao casal o mesmo sorriso antes de se abaixar e olhar para ela.
- É um prazer conhecê-la, Lauren. - ela segurou a palma da boneca e balançou levemente - Espero que possamos ser amigas.
- Querido, leve as malas da senhora Cabello para o quarto de hóspedes, por favor. E dona Cabello temos muito o que conversar, tenho coisas para lhe mostrar e podemos começar agora.
A jovem trabalhará sozinha e teria que administrar a rotina, o casal já contratou inúmeras babás mas Lauren rejeitou todas mesmo elas não sendo tão jovens e bonitas quanto a cubana.
Os avós, já idosos, são muito apegados a neta, e alertam que ela deve seguir uma série de regras em relação à menina.
- Você terá que acordá-la às 7 da manhã para vesti-la, você encontrará as roupas limpas nos armários do quarto.
Camila teve que vivenciar um pouco de como serão os próximos dias, Dona Jauregui fez a jovem aprenda a acordar a boneca. maneira fácil e eficaz, no momento a jovem não estava acostumada e falhou na primeira vez, ela teve que seguir os passos da senhora para aprender o caminho certo.
Lauren terá três horas de aula cinco dias por semana, e tinha uma aula na biblioteca à sua disposição, ela deu uma dica para a cubana começar com poesia, perguntou se Camila conhecia alguma, a jovem sorriu sem jeito dizendo que conhecia os três pequenos porquinhos, Dona Jauregui simplesmente ignorou as informações inúteis dizendo que ela não precisava começar com poesia.
Todos os livros funcionarão mas ela terá que lê-los em alto e bom som, Camila foi obrigada a observar as pequenas interações da Senhora com a boneca, a mulher beijou sua bochecha ao vesti-la, ajustou sua postura na cadeira quando a boneca escorregou e segurou-a o queixo da boneca enquanto falava olhando nos olhos dela.
Ela relatou que Lauren apreciar músicas e ligou o toca-discos um pouco mais alto que o normal, mas a menina sempre ficou feliz por a avó não ousar reclamar.
Ela fechou os olhos curtindo a ópera, algo que Camila achou tedioso e estressante, ela quase revirou os olhos com aquela voz nojenta, e teve que aguentar mais um pouco até a senhora terminar de aproveitar o momento.
A ópera estava tocando quando eles se prepararam para jantar, Lauren recebeu um guardanapo dobrado no colo e um pequeno aperto na bochecha da avó. Ela estava sentada em frente à cubana que ainda tinha um sorriso de incômodo no rosto, mas não opinou sobre a situação.
O avô assentiu alegremente, erguendo a taça de vinho, enquanto sua esposa cortava a carne do prato da boneca e Camila teve que beber um pouco para ter coragem de continuar assistindo e a vontade de desistir não desaparecer de suas veias.
Ela avisou Camila após vê-la quase jogando os restos de comida no lixo, eles têm o hábito de não jogar comida fora por se tratar de uma casa de campo, o que significa que estão em constante batalha com os elementos externos, clima, plantas, vermes . Principalmente vermes e tomarão certas medidas contra eles.
O avô entrou na cozinha carregando a boneca nos braços e entregou para a esposa que imediatamente se animou, o homem ia continuar relatando o restante das tarefas. O prato de comida foi colocado em um lugar que parecia uma caixa de aço, Camila não tinha ideia de onde iria parar, ela pensou hipótese de servir de alimento para os porcos.
- Fazemos o possível para manter a casa e não usar as lareiras é um pouco perigoso e, Austin faz tudo que está ao seu alcance, conseguiu pintar as janelas fechadas - pegou uma pequena armadilha nas mãos, abriu o mecanismo usando luvas e retirou o animal morto -...e eu particularmente não acho que isso seja necessário, mas a Sra. Jauregui acha que os ratos vão entrar nas paredes, e Lauren nunca gostou de animais e sempre foi muito tímida.
Ele sabia o que poderia estar se passando na cabeça de Camila e para ser sincero não sabia como as coisas acabarão tão rápido, o importante era ela saber que eles não se importavam com o que os outros pensavam, eles sabiam que sua filha sempre esteve lá.
- Ela faz parte de nós, entendeu dona Cabello?
- Eu entendo.
- Excelente.
Camila estava encostada na porta esperando o casal terminar de orar por Lauren, a menina estava deitada na cama tranquilamente o que era comum em qualquer boneca, eles se ajoelham na frente da menina para conversar com ela como se ela fosse uma criança de verdade.
Depois de ser pega espionando, a Sra. Jauregui pediu que ela lhe desse tempo para falar em particular com sua filha, o avô fechou a porta na cara da Cubana.
Depois de alguns minutos Camila não ouve mais nada vindo de trás daquela porta. O casal saiu do quarto em silêncio e ficaram de frente para a mulher.
- Ela quer você. Ela a escolheu - e pela primeira vez houve contato entre Dona Jauregui e Dona Cabello, ambas se abraçaram.
Surpresa com a ação da Jauregui, ela manteve a cabeça encostada no ombro da idosa e viu de longe a boneca sentada naquela cama com o rosto voltado para ela.