Os Sons Que Fizemos (+18)

By mariaxttw

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"-Me confesse algo cruel. -ele pediu, parecendo se divertir com toda a situação. Pensei por alguns segundos... More

∴ CAST + AVISOS (importantes) ∴
Capítulo 1 | Art Deco
Capítulo 2 | Gilded Lily
Capítulo 4 | Iris

Capítulo 3 | Bandito

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By mariaxttw

This is the sound we make
When in between two places
Where are we used to bleed

—Twenty One Pilots

—Por que minha irmã está atraída por você? -a voz de Will me tirou de um transe.

Ela estava dançando "Hot N Cold", com outras duas meninas e todas pareciam estar se divertindo para caralho. As outras eu sequer sabia o nome. Eu sequer conseguia lembrar o nome de qualquer outra pessoa, nessa festa, depois do que aconteceu com Maya...

Só de lembrar no quão duro o meu pau ficou, naqueles instantes, eu já me sentia louco. Exceto, é claro, que aquele homem cortava um pouco o meu clima.

—Como? -perguntei, fingindo que o som alto da festa estava me distraindo.

E bebi mais um pouco, para forçar uma casualidade, enquanto William me encarava como se eu fosse um assassino de bebês, ou coisa parecida.

—Por. que. Maya. Está. Atraída. Por. Você.

Tudo bem. Agora, depois de ele silabar como se eu fosse uma criança analfabeta, e como se estivesse prestes a voar na minha cara, eu não podia fingir que não havia escutado.

—Porque eu sou bonito? -palpitei.

Will murmurou um "engraçadinho", depois de dar um sorriso completamente forçado, de quem não achava nem um pouco engraçadinho. Mas... bom humor era um dos meus pontos fortes. Ao menos era o que as pessoas diziam...

—D, vocês estão se comendo com os olhos, há quase uma hora.

Oh. Então era mútuo... Não era apenas eu quem estava sem conseguir tirar os olhos da menina, enquanto ela dançava ou respirava ou existia.

—E por que está com raiva de mim? -eu dei um sorriso, para disfarçar um pouco o meu medo de ela ter falado que eu estava lambendo a sua pele, agora há pouco- Essas coisas acontecem, Will. Faíscas. Olhares. Coisas de alma...

—Sabe o que também acontece? -ele riu- Minha mão voando no seu rosto.

—Jesus, cara.

Eu, honestamente, não sei porque sou amigo de William. Eu gosto dele, mas também não sei porquê.

Conheci-o nas famosas festas de Katherine Miller, uma atriz que sempre fazia essas coisas em seu apartamento, e, a gente, sei lá, se entendeu. Somos muito diferentes. Eu sou muito diferente de todo o seu grupo de amigos, na verdade, mas, por algum motivo, consigo me divertir com eles.

E eu gosto de conversar com William. Ele tem opiniões engraçadas sobre a vida e acho que eu nem preciso estar chapado, para chegar em brisas estranhíssimas, quando estamos juntos.

Mas, puta que pariu, que homem mais esquentadinho...

—Não chegue perto dela.

—Por que não?

—Porque eu não quero.

—E desde quando eu me importo com o que você quer?

Will estalou a língua, e, então, deu um sorriso cheio de intenções. Ele colocou um pouco do drink que estava em seu copo na boca, se encostou na parede e pareceu pensar um pouco.

Talvez, percebendo que o meu questionamento tinha sentido. Talvez, pensando que deveria arranjar alguma outra razão, para justificar aquilo. Ou... sei lá.

—Dylan, estamos falando da minha irmã. Isso deveria ser motivo o suficiente. -o homem continuou, falando sério, dessa vez- Não vai ser legal, se você a transformar em uma das suas vadias.

Dessa vez, fui eu quem fiquei uns instantes quieto. Porque esse era o problema de estar acompanhado de seus amigos, nas pequenas aventuras noturnas. Esse era o problema de conversar tanto com Will. Ele... sabia do meu histórico meio longo de ex ficantes, e sabia com mais detalhes do que as outras pessoas.

Aí porra. Eu precisava começar a ser discreto. E eu precisava fazer com que as pessoas me vissem com um pouco mais de seriedade...

E, buscando aquilo, eu lhe respondi, apenas:

—Talvez eu queria transformá-la em algo mais.

O meu amigo deu um sorriso incrédulo, como quem não acreditava naquela resposta.

—Como você queria fazer, com as outras 50 mulheres da sua vida? -caçoou- D, pelo amor de Deus, cara. Você chega com esse mesmo papinho toda vez, e enjoa em uma semana.

Bem, era verdade. Eu não ia mentir e dizer que não era. Porque, sim, eu tinha essa verdadeira mania de achar que uma pessoa poderia ser boa para mim, e detestar o som da sua voz, no outro dia. Mas... eu sempre era muito gentil, quando percebia aquele tipo de coisa.

Nenhuma mulher pode reclamar de grosseria ou qualquer coisa do tipo, porque eu não era aquele tipo de cara.

Mas eu era do tipo que enjoava fácil, mesmo que eu tentasse não o fazer...

—Eu a quero. -declarei, segundos depois de ver os quadris de Maya se mexerem e ela dar uma risada gostosa, quando uma de suas amigas a elogiou.

Ela era linda. Ela tomava toda atenção da sala para si, quando começava a dançar. E, de repente, nada mais importava.

Nem mesmo eu. Porque, desde que nós dois voltamos ao salão, se eu dava algum indício de que iria me aproximar, Maya ia para o outro canto e para o mais distante deles.

Eu preferia imaginar que era porque ela estava um pouco tímida, depois de ter gemido no meu ouvido, do que porque ela não me queria perto...

—Nunca aconteceu com você, porra? -eu indaguei, agora, depois de me virar em direção a ele- Você nunca olhou para alguém e apenas soube que não ia ficar em paz, se não tivesse-a?

O homem bufou uma risada, como quem se sentia bom demais para tido aquilo.

—Já. Está acontecendo, na verdade. -Will respondeu, e acho que aquilo me impressionou, já que eu esperava uma resposta negativa- E eu estou me controlando.

A minha curiosidade foi enorme. William estava gostando de alguém? Gostando de alguém e fazendo o que, exatamente? E, por que ele não tinha nos dito nada, ou por que suas expressões foram...

—Se você tem alguma porra de consideração pela nossa amizade, não mexa com minha irmã.

Aí é foda.

Eu odiava a ideia de ser um amigo ruim. Eu senti que já fui um amigo ruim para Matthew, o vocalista da nossa banda e o cara que eu mais amava na face da terra. Eu senti que fui para os meus outros amigos, em outras situações e... eu não gostava daquilo.

—Tá legal. -fiz um sim nada feliz, com a minha cabeça.

—Ótimo.

Ótimo é o meu cu. Não tem nada ótimo, aqui.

Especialmente, não tinha nada bom, quando o homem virou de costas, como quem fosse abandonar a sua festa no meio dela... E, quando eu tentei acompanhar os movimentos dele, para saber onde estava indo, acabei encontrando o olhar  com o de Maya.

Linda.

Ela estava se sentando em uma das mesas, como quem se sentisse um pouco cansada e sem ar, depois de dançar e se divertir por um tempão. As asas de anjo negro já estavam pendendo para um lado, e sua maquiagem estava borrada. Mas... a cada vez que eu olhava, ela apenas parecia mais bonita.

Talvez, ser proibida a tornasse mais gostosa.

—Onde você tá indo? -perguntei, quando o vi pegar as chaves do carro.

Tudo o que vi Will beber foi meio copo de cuba libre. Ele parecia perfeitamente sóbrio, mas, ainda assim, não devia estar pegando as chaves do carro, e correr o risco de levar uma multa...

—É Halloween, cara. Vou me divertir um pouco.

—A sua própria festa não está divertida o suficiente, para você?

—Está. Mas perseguir uma menininha vai ser mais.

Nada de explicações. Eu não sabia de quem ele estava falando e, tampouco, iria perguntar.

—Você ainda pode dormir aqui. -ele disse.

Porque ele tinha acordado aquilo, comigo. Quando eu cheguei de carro e falei que não ia beber, porque estava dirigindo -Lei que ele deveria seguir, também- Will apenas soltou um: "Durma em um dos quartos de hóspedes e deixe o carro por aí".

—Mas, eu não demoro para chegar. Travis e Zade estão de olho, por mim. -Ok. Trevor era ainda mais assustador que Will, apesar de eu gostar dele para caralho - Então, sem gracinhas, ou eu mato você.

Eu revirei os olhos, mas absorvi perfeitamente as suas palavras. Absorvi, mais ignorei um pouco,  porque, quando virei o meu corpo de volta, vi ela. Eu não conseguia não vê-la. E, ao vê-la, eu não conseguia não lembrar de ela dançando, tão delicada, tão quente, tão tudo...


Eu gostava de sentir o olhar dele, quando eu virava o rosto. Eu gostava de que ele era mais um dos homens que me observavam e, ao mesmo tempo, não era. Eu gostava de que Dylan tinha se afastado de todas as outras meninas da festa. Eu gostava de não poder chegar perto, porque tornava as coisas mais divertidas.

Mas, em um segundo, eu me cansei.

Will podia ter indo embora -e Deus sabe para onde, já que não deu explicações a ninguém-, mas os seus dois ridículos amigos, Travis Malik e Zade Tamura, conseguiam ser ainda mais insuportáveis.

—Vocês dois não tem nenhuma garotinha para atazanar não? -questionei, quando senti os passos deles, 10 segundos depois de eu me encaminhar até o jardim.

—Mas você é a nossa garotinha favorita. -Travis falou, com um sorriso no rosto.

E, naquele instante, eu quase ri, internamente, lembrando do meu irmão.

"Não é porque eu gosto dos meus amigos, que eles são legais".

Porra, eu tinha total consciência de que aqueles outros dois não eram legais. Não era como se eles tentassem sequer esconder suas idiotices, afinal.

—Vai se foder, Travis. -e quando eu vi o outro sorrindo, no canto, eu senti necessidade de completar- E você também, Zade.

Não tive como não bufar, de ódio. Eu não estava fazendo nada de errado. Eu estava tentando tirar aquela cena com Dylan da minha cabeça, com um pouco de diversão e álcool -o que não estava funcionando muito-. E, mesmo assim, aqueles dois não saíam do meu pé.

Às vezes, acho que, para aquele trio de perturbados, irritar pessoas consegue ser mais prazeroso do que buscar verdadeira diversão, em festas.

Honestamente, eu achava qualquer menina que se enfiava nos lençóis de um dos três -incluindo o meu irmão amado- estúpida para caralho. Quem, em sã consciência, escolheria viver sob o olhar de pessoas tão idiotas, como eles?

Puta que pariu. Eu realmente não sabia como Dylan conseguia gostar um pouquinho sequer deles. O guitarrista era tão...

—Para ser honesto com você, estou um pouco ofendido. -Travis continuou- Passo todos os meus dias tentando te conquistar, e um artista com sotaque idiota consegue sem se esforçar?

Zade deu de ombros, como quem se importasse muito pouco, mas concordando. Eles dois eram péssimos. Por mais que o japonês fosse um pouco menos ruim, todos eram terríveis, e andar em bando apenas piorava suas situações.

A única coisa que me impedia de ficar insegura, perto deles, era que eu sabia que Travis falava muito mais do que fazia. Afinal, faz três anos que eu o conheço. Faz três anos que eu recebo as suas cantadas. E, uma vez, retribuí só pela curiosidade, e  eu vi-o rir e se afastar.

Zade, às vezes, olhava para mim, mas só quando William está perto. Acho que apenas para irritá-lo.

Eu não gostava daquilo. Eu não gostava de estar no meio deles e, muito menos, de ser um brinquedinho.

Com Dylan... com ele foi diferente. Nós estávamos a sós. E acho que ele gostou de mim por outra coisa, e não apenas pela diversão de fazer algo errado, mesmo que essa última deixasse tudo bem mais quente.

Ou, talvez, nem tivesse gostado tanto assim, já que nem tentou se aproximar depois.

—May não é burra o suficiente para cair na sua, cara. -Zade caçoou.

—Burra o suficiente? -eu quase rosnei.

Se aquilo era uma tentativa de me ressaltar, com certeza, foi bem falha. E eu percebi isso, quando a risada de Travis saiu, fazendo o seu corpo vibrar em divertimento.

—Não foi isso que eu quis dizer. -O homem reprimiu o sorriso.

—Acho bom. Ou eu vou socar a sua cara.

Senti a mão de Travis tocar a minha cabeça, no mesmo instante, fazendo um movimento que se assemelhava à carícia em um animal.

—Estamos ensinando direitinho.

A única coisa que ele me ensinou, na vida, -além de ficar longe de caras assim- foi a dar socos. Os três, na verdade. E, por mais que eu nunca tivesse usado os aprendizados posteriores, eu os agradecia por isso. Nada melhor do que aprender com os piores.

—Mas use essa raiva com quem está te secando, e não com a gente.

Quando eu vi ele apontando para Dylan, percebi que, obviamente, eu deveria ter ficado na minha. Obviamente, eu não deveria ter falado a Will, sobre a minha queda momentânea. Obviamente, eu não imaginava que ele levaria tão a sério e, principalmente, moveria seus amigos, também.

—Achei que gostasse dele.

—De Lawrence? -Travis riu- Acho que eu amo o cara. Eu beijaria-o, até.

Zade deu um pequeno risinho. E eu fiquei quieta, tentando não encará-lo demais, agora que tinha uma loira gostosa se aproximando...

—Realmente não entendo a lógica masculina.

—O que é tão difícil de entender? -Tamura perguntou.

E eu bufei, pela milésima vez na noite. Porque tudo era difícil de entender. Eu não entendia de onde surgia esse sentimento de posse sem sentido, porque eu sequer era amiga deles dois. Ao menos, não de verdade.

Também, não entendia Will. Não entendia qual era a porra do problema de eu me divertir. Não era como se eu quisesse namorar Dylan, para receber um monte de chifres a vida toda. Eu só queria...

—Quer saber de uma coisa? -cortei o assunto, me sentindo já cansada- Aproveitem a festa e garantam que ninguém vai vomitar no meu sofá caríssimo. Eu vou dormir. Estou cansada.

Me sentia, mesmo, cansada. O dia de ensaios havia sido horrível, eu não estava conseguindo atingir os tons corretos das minhas próprias músicas, todo essa síndrome de proteção de Will começou a me trazer memórias ruins de dias que eu gostaria de esquecer e, se eles iam ficar enchendo o meu saco, eu preferia ir para a cama.

Talvez, eu tenha passado menos de duas horas na festa da minha própria casa. E, talvez, eu tenha ouvido algumas reclamações dos homens, quando dei de costas, para subir as escadas, sem me despedir de nenhuma das minhas amigas.

Qual era a chance de eles cuidarem de tudo e, quando eu amanhecer, a casa estar inteira?

Bem, eu não sei. Provavelmente, muito baixa. Mas isso era problema de William. Era ele quem inventava essas coisas e eu, honestamente, odiava quando tinha muita gente na minha casa. Era estressante.

Enquanto eu tirava a minha maquiagem e tomava banho, escutando o barulho abafado do lugar, um monte de coisas passaram pela minha cabeça. Eu me perguntei se ele havia me visto sair, porque, antes, parecia ter notado bastante a minha presença. Me perguntei se agora ele estava olhando para outra pessoa. Me perguntei se, alguma vez, na vida, tive uma obsessão repentina por alguém.

Mas não. Eu nunca tenho. Eu tenho 20 anos e a última vez que retribui o beijo de alguém, foi quando eu tinha 15, e senti atração por uma garota pela primeira vez. A última vez que eu escolhi me aproximar de alguém, da maneira que eu fiquei de Dylan, foi na mesma época.

De repente, me senti mal. Porque fiquei apenas poucos minutos com o homem. Aquele mínimo de atenção não deveria ter mexido tanto comigo, mas...

Ah, foda-se. Foda-se isso.

Foi estranho que eu quisesse tanto tocar em alguém, mas eu seguia achando que ninguém deveria causar esse efeito em mim. E eu só deixaria meu corpo disponível para um homem, quando ele fosse algum cavalheiro sem listas gigantescas de ex peguetes modelos...

Minha cabeça recostou o travesseiro e meu cérebro começou a conseguir ignorar o barulho distante, enquanto meu corpo se sentia cansado. Eu tive que pedir aos céus para que os meus sonhos fossem tranquilos, pois nunca eram. Quando a mente era cheia, os devaneios sonâmbulos também eram.

•••••••••••••••••••••••••••

As mãos atravessaram o meu corpo, como se ele quisesse tomar uma parte de mim. Eu não sentia. Eu não sentia o seu toque, sob a minha pele, por algum motivo, que eu precisava agradecer aos céus. Mas, ainda assim, eu sentia a repulsão subir pela minha espinha.

—Maya, você vai dominar o mundo. -Victor comentou, enquanto olhava em direção ao espelho, que refletia as nossas imagens borradas- Com esse corpo, não vai haver uma pessoa que não queira te olhar...

Por favor, pare de me tocar.
Por favor, não me enxergue dessa forma.
Por favor, apenas... apenas deixe que eu me troque, em paz.

—As homens vão te desejar, e as mulheres vão querer ser você.

Senti aquele comentário me tontear de forma irracional. Porque era mentira. Era uma total mentira. Ele estava mentindo para mim, e nós dois sabíamos disso.

Ao olhar o meu sorriso, no espelho, eu percebia que ele estava vacilando, quando eu falei:

—Eu só tenho 16. Não sirvo para inspiração feminina nenhuma...

Victor riu. E eu odiava o fato de ele ter um sorriso perfeitamente branco, porque o tornava menos asqueroso do que, de fato, era.

Eu odiava que ele era tão gentil, com as pessoas. Eu odiava como as suas palavras pareciam ser doces, e eu me sentia culpada por me incomodar com seus elogios. Eu odiava que sua aparência era bonita, porque... ofuscava a maldade que estava em seus olhos.

Ou eu estou surtando.

Talvez, seja um delírio.

Ele era um bom homem. Ele estava comigo desde os meus 14, e tudo o que fez, até agora, foi me colocar em cima do mundo  e... acreditar que eu poderia ser alguém.

—Linda, as mulheres querem a sua juventude. -ele disse, enquanto tirava o cabelo da parte frontal do meu rosto, deixando que a visão se tornasse mais limpa —E eu vou garantir que você sempre se pareça com essa Maya do espelho.

Independente de sua fala, eu não conseguia ver beleza, em meu próprio reflexo. Tudo o que eu enxergava era uma adolescente imunda.

—Uma rainha latina, no pop. Deus, eu amo isso. -ele disse, seus olhos azuis claros refletindo excitação— Eu amo você. -ele completou.

Victor sempre me dizia isso, mas, eu não sabia se era verdade. Eu não sabia se, de fato, ele me amava, ou amava o projeto que estava fazendo de mim. Sei que eu jamais conseguia dizer de volta, mesmo que ele já tivesse feito tanto...

Em geral, eu não sabia me declarar para as pessoas. Minha mãe era um pouco distante. Meu pai morreu muito cedo, deixando de me ensinar, de fato, como aceitar aquele tipo de carinho. E... eu praticamente não tinha amigas.

Eu tinha William.

E ele também não sabia dizer que amava as pessoas, mas dizia à mim. Ele me amaria, e me protegeria de tudo o que há de ruim, fora de casa...

Mas ele não estava me protegendo das palavras de Victor, ou da beleza dele. E eu queria fazer alguma coisa, quanto à isso.

Meu empresário inclinou o pescoço, que formou quase um "C", para alcançar o meu ombro, porque ele era muito maior que eu. E, então, depositou um beijo, ali.

Eu não resisti. Fiquei completamente paralisada, sentindo os seus lábios, que pareciam macis, mas foram ásperos, em minha pele. E segurei a minha vontade de protestar.

Eu era uma mulher pequena. Tinha músculos e concentrações de gordura nas coxas e no quadril, e as pessoas diziam que isso me tornava encorpada. Mas, em termos de estatura, eu era abaixo da média feminina. E muito abaixo da masculina.

Victor era um avatar, perto de mim, fazendo com que eu me sentisse minúscula, em todos os aspectos.

—Você é a melhor, das meninas. -ele disse- É a única que eu tenho vontade de ficar para mim.

Por que?

O que eu tinha de errado?

Por que as outras eram apenas clientes, em seus olhos, e eu era alguém que poderia ser tocada, dessa maneira? Por que o meu espaço pessoal não existia, e o das outras sim?

—É a única que eu tenho ciúmes, ao ver o sucesso. -ele continuou- Mas, não se preocupe. Isso não vai me dominar. Porque uma coisinha linda como você, precisa e vai continuar brilhando, se depender de mim.

Eu me mexi, para afastar-me dos beijos dele. Mas Victor mordeu o meu ombro. Mordeu com força, mas, ainda assim, eu estava protegida da sensação tátil.

Ele continuou me mordendo, até que tivesse sangue em sua boca, e eu não entendia porque não doía. Talvez, o nojo do meu próprio corpo estivesse tão intenso, que eu não conseguia pensar em mais nada até que...

—Sua vadia! -ele gritou, enquanto tossia.

Dei um passo para trás, sabendo que lágrimas começavam a jorrar dos meus olhos, enquanto eu o assistia tossir. O sangue manchava a minha roupa. O som dele me atravessava. E...

—Piranha! -ele gritou, mais uma vez, e dava passos descontrolados, como se estivesse se debatendo.

Parecia que Victor estava convulsionando, e eu queria gritar por ajuda, mas eu não conseguia. O que eu fiz? Eu apenas fiquei calada, mas por que sua pele estava ficando roxa?

Ele passava a mão pelos lábios, tentando limpar o sangue da boca, como se estivesse envenenado. E, então, não conseguia respirar.

Achei que eu não estava fazendo nada. Mas...

—É sua culpa. -ele disse, já se sentando no chão, usando a parede para segurar o seu corpo- Eu te coloquei no topo, Maya. Tudo o que eu fiz foi amar você...

As lágrimas começaram a deixar a minha visão turva, e a voz começou a voltar, à minha garganta. Mas eu não conseguia me mexer. Eu não consegui ir em direção à ele, e nem sentir piedade. Apenas culpa. Apenas dor. E ódio, pela vergonha que era estar me aliviando...

—Ele fez isso, por sua culpa. -Victor berrou mais uma vez, sua imagem se tornando distante, em minha cabeça- Aquele... homem... tem uma alma imunda, como a sua.

Ele não tinha. Ele era uma boa pessoa, apenas não deixava os outros verem...

—Não. -eu choraminguei.

—Ele é pior. Ele sempre foi ruim, mas você o transformou em um monstro....

—Não. -gritei, dessa vez.

Meu coração estava parando. Eu sentia como se fosse uma queda livre, e eu não conseguia respirar. Eu não conseguia. Não conseguia. Eu ia ficar nisso para sempre. Eu...

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Will! -eu acordei com o meu próprio grito.

Meus batimentos estavam tão acelerados, que eu achava que ia morrer. Mas eu não ia. Eu não ia, porque isso acontecia sempre, e eu sempre sobrevivia, da forma mais corajosa que eu poderia.

Me deixei respirar. Não tentei me acalmar nos primeiros instantes, me lembrando das palavras da minha terapeuta, sabendo que eu precisava de uns segundos para entender que eu estava de volta à realidade.

Percebi que as minhas mãos estavam pressionando os lençóis, com uma força desgraçada, de forma a branquear os nós dos meus dedos. Meu coração batia tão rápido, que machucava a minha caixa torácica. Minha cabeça estava tão acelerada, que eu sentia um peso de formar nela.

Então, comecei a contar até 10, e a segurar a minha vontade de gritar, pelo meu irmão.

Olhei em direção ao relógio e vi que já passava das quatro da manhã e a casa estava quieta para caralho. Eu não sabia se ele tinha voltado. Eu não sabia se ele estava dormindo fora -o que quase nunca acontecia-, mas eu esperava que sim. Porque se Will tivesse me ouvido, eu me sentiria mal, por não mais aguentar atrapalhar as suas poucas horas de sono.

Por favor, que eu esteja sozinha. Ou não. Eu odiava estar sozinha. Então, que eu não esteja sozinha, mas que eu também não tenha acordado o meu irmão...

Eu não queria mais falar sobre pesadelos ou coisas parecidas, porque isso só o deixaria mais maluco, com o resto do mundo. Ele tinha seus próprios traumas para lidar com, e eu não ia ser mais um peso. Eu não suportava a ideia de ser uma preocupação, para William.

E eu não suportava mais a ideia de ter ele me protegendo do mundo, mesmo quando o mundo poderia me fornecer coisas boas...

Mas os seus braços me faziam falta. Eu queria ele me segurando e me lembrando de que a vida real era essa, e que nós a enfrentaríamos juntos. Eu queria ele fazendo jus ao título de melhor irmão do mundo, mesmo que as pessoas não entendessem o porquê de eu afirmá-lo.

Eu vi a porta se abrir, em pressa. Me senti mal no mesmo instante, imaginando que eu tinha acordado-o, mas... Não foi Will, que apareceu em meu quarto.

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