Champagne Problems

By MadduNyah

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Presos em problemas banais, dois desconhecidos encontram-se em um bar, pouco antes de um casamento, para bebe... More

Capítulo Único

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By MadduNyah



Ele vai se casar em algumas horas. 

E está feliz, é claro — o tempo tratou de quebrar seu coração, o tempo tratará de consertar. É o justo. 

Mas algo nele ainda diz que nada estava feito. Se sente um salto em queda livre, sem corda para prendê-lo. E ele quer ficar naquela ânsia, no mesmo lugar em que seus padrinhos e amigos estão, mas em vez disso corre para fora, pega seu carro e dirige até o bar do hotel que está hospedado e que cresceu, o mesmo hotel que ele pediu uma pessoa em casamento anos antes — e, então, como se estivesse sendo vítima de hábitos ruins, pede champanhe. Ele sabe que tem problemas com champanhe. 

— Duas taças — ela pede —, eu também vou querer. Quarto 214. — e sinaliza por uma outra. Está de vestido branco, de renda e colado no corpo. Com detalhes que sobem no pescoço e swarovskis que preenchem o corset, sinceramente? Ela parecia preparada para invadir um casamento. Seus cabelos estavam devidamente escovados, uma mistura de cachos, com ondas, com fios alisados que se misturavam as cores dourada e castanho, como se quisesse gritar que a indecisão a levou até ali. 

— É seu casamento? — ela pergunta, apontando para o traje formal do rapaz. Ele assente. 

— É o seu? — ele pergunta, observando os detalhes do vestido. 

— É. E não é. 

— Por qual está bebendo champanhe? Por ser ou por não ser?

— Estou bebendo champanhe em homenagem a quem irá beber por minha causa.

— Você me lembra alguém... 

— Você também. 

E sorriem um para o outro. Ela mexe na taça do Dom Pérignon, bebendo o resto rapidamente. O tédio a incomoda: está voltando à cidade pela primeira vez em 15 anos, pensando se as pessoas que um dia foram suas ainda permanecem sendo. Sabendo que não, continuou na sua imaginação: era uma borboleta que tinha ultrapassado o prazo de validade. 

— Então, você está nervoso com o casamento? 

— Mais ou menos... Estou pensando. 

— Em quê? 

— Sabe esse hotel? A ex dona dele, meu primeiro amor, era louca. Quer dizer, ela não era bem dona. Mas também era. Eu a pedi em casamento aqui. Enfim, bebendo por coisas banais.

— Cuidado, eu posso invadir seu casamento e indicar que você estava chamando sua futura mulher de louca logo onde vocês se conheceram... 

— Estou casando com o segundo. O primeiro me deixou. 

— Sorte a do segundo — ela ri um pouco, não tinha ironia, apenas graça. Ele não é capaz de olhá-la para ver, mas se fosse, diria que ela está linda.

— Você tem tempo para mais uma taça de champanhe? — pergunta, decidido a algo. Só não sabia o quê.

*

Estava chovendo. Céus, como estava chovendo. Sua acompanhante estava demorando a vir, será que algo aconteceu? Então, viu. Faróis amarelos frente uma chuva esguia; e o cinza das nuvens não era céu nublado quando ela estava perto. Todos os dias eram sol quando ela estava perto. Deu a mão para ela descer do carro, enquanto o chofer segurava o guarda-chuva entre os dois. Por alguns segundos, viu tudo acender. Seus olhos foram tomados por um prata inebriante de quem sabia que borbulhava — ele não precisava de mais do que um toque para saber que a amava. 

— Você está linda.

— Você também não está nada mal — ela brincou de volta, tomando em seu nariz e dando um beijo com gosto de champanhe.

— Bebendo antes da festa?

— Sabe que tenho problemas com champanhe... — E ele a puxou para perto, disposto a roubar mais um beijo, senti-la mais um segundo. Um pouco porque ela era incrível, outro porque gostava que soubessem que ela era incrível.  

— Você sabia que eu acho um charme quando fala desse jeito? Parece até que vai dar entrada no A.A amanhã cedo.

— E talvez eu entre... Você nunca deve achar que sabe mais do que realmente sabe. Meus pais, por exemplo, acham que eu estou em casa dormindo. Peguei esse vestido da Grazi, essa máscara da sessão de fantasia do hotel e, tá vendo esses sapatos? Nem sei! Achei no achados e perdidos.

— Alcoólatra e cleptomaníaca! Onde eu vim parar?

— Eu sempre disse que era louca, não foi?

— Totalmente. 

*

— Então... seu primeiro amor era uma surtada. É, podia ser pior — comenta, bebendo mais uma taça e rodando a aliança no dedo. Exatamente no lugar que ela estava desde a primeira vez que colocaram: a mulher nunca ousou tirar, tremendo que isso quebraria a magia do passado.

— O seu foi pior?

— O meu primeiro amor... Ele era certo. Era perfeito. Não era nada como o seu. 

— Conta um pouco sobre ele. 

— Bem... Eu devo a ele uma tapeçaria até hoje. 

*

— Eu sinto que vou morrer se continuar nesse tédio por mais cinco minutos — ela afirmou, com a mesma certeza que afirmara há 5, 10 ou há 15. 

— Não faça isso. Morrerá jovem e virgem, será um gasto de corpo bonito na Terra. 

— Sério? Tá preocupado comigo morrendo virgem, e não morrendo? Olha, é nesses momentos que eu me pergunto porque gosto de você e não de mulher... — E ele sorriu, abraçando-a com força. Deitados na areia da praia, ambos tinham o vislumbre perfeito da hora dourada no céu: o pôr do sol encantava a turistas, mas encantava ainda mais aqueles que se perguntavam como algo ocorria todo dia e ainda sim conseguia ser tão belo. 

— Então você gosta de mim, querida? 

— O quê? — ela entalou — Não começa! Eu não quis dizer isso... — E ela levantou de pressa, tirando a areia do cabelo e caminhando em direção ao mar, apenas para vê-lo correr atrás dos seus passos, como quem segue o líder. Ela era uma futura borboleta e aquela cidade era seu casulo. Todos sabiam que, quando saísse de lá, seria a mais bela de todas. 

— Eu também gosto de você — disse, abraçando-a por trás dessa vez. Beijando seu pescoço e fazendo-a se virar para ele de forma nervosa. Não sabia o quê ela temia tanto, mas ele estava ali: destinado a amá-la para sempre se assim fosse o preço... Dizem que você só ama daquela forma uma vez, ele apostava todas suas fichas nela. Apostava seu sorriso doce, sua risada honesta, seus cabelos embolados com os grãos da areia e o sal do mar, apostava até mesmo a sua pele bronzeada das tardes na praia que só eles daquela cidade compartilhavam.

— Não faz isso...

— O quê? 

— Não goste de mim.

— Por quê?

— Porque eu vou magoar você.

— E eu vou te amar ainda sim. Minha voz, minha funcionalidade, minha respiração, tudo que faço e sinto é seu. Você é minha melhor amiga e é a pessoa que quero que me acompanhe pelo resto da vida. Você é a única coisa que me importa. 

— Eu vou quebrar você.

— Tudo bem... Eu vou te amar mesmo assim. 

— Por quê?

— Algumas coisas não tem um porquê... Elas apenas acontecem. Você vai ver, logo, estaremos bebendo champanhes com amigos no nosso casamento e rindo dos seus medos absurdos, minha irmã estará te chamando de irmã e agradecendo por você ter entrado na família, porque ela sempre me odiou. E vai ser divertido dançar na madrugada com você, porque você é péssima dançarina. Te prometo... você vai ter mundo, amor, mais que tudo, você vai ter um lar. Eu vou te amar e você vai me amar também... porque eu sei que você me ama... 

E ela o amava. 

Mas estava certa: ela iria quebrá-lo.

*

— E ai?

— Ai o quê?

— Você o quebrou? 

E ela sorri. Olhando para o lustres, como quem não quisesse responder aquela pergunta, ela se pega pensando na praia e no sorriso doce do seu primeiro amor. Aquele que era a pessoa mais gentil que alguém podia conhecer. 

Ela queria que fizessem dar certo, ela queria ter dado certo. Mas ela não escolheu aquela cidade, ela não tinha motivos para ficar. Ela só tinha ele, mas, no fundo, ela também sabia que estava sozinha — sempre esteve. 

— Sim... eu o quebrei — assume, voltando a beber o champanhe. — E que fim levou sua namorada? Não a que deu certo e que vocês vão se casar hoje, com enfeites brilhantes e uma comemoração inesquecível... mas a que tá te fazendo beber champanhe com uma desconhecida no dia mais feliz da sua vida?

— Ela... Sempre cumpria as promessas dela, sabe? Era esse tipo de pessoa. Uma vez ela... ela me prometeu que eu seria feliz. Eu sou feliz. Sou muito feliz. Mas você já parou, lembrou do seu primeiro amor e pensou: o que aconteceria comigo se tivesse dado certo? — e ela assente. Ela entende o que era aquilo. Aquele sentimento que assombra todos os nossos "e'se"... Ela sabe exatamente como era ir embora para a terra do Nunca e reencontrar Wendy anos depois. Aquele é o tipo de arrependimento que nunca irá parar de arder. — Você não parece o tipo de pessoa que sabe o que é isso...

— Eu... guardo uma foto do meu primeiro amor até hoje. Na minha carteira. Roubei do instagram dele. Pareço uma louca obcecada, mas só gosto de pensar que me dá sorte... Eu sinto que perdi minha vida olhando-o de longe, em vez de ir pra perto. Acreditando que borboletas viviam pouco tempo e eu deveria conhecer o máximo de lugares possíveis, sabendo que ele nunca aceitaria me acompanhar, deixei-o para trás... Às vezes, de madrugada, me acordo e penso: e se a Cinderela, em vez de ter ido conhecer o príncipe, fosse conhecer o mundo? Quer saber o que concluir? 

— O quê?

— Que ela teria sido infeliz. 

Ele meia a taça dela e a dele. Não sabendo mais quantas tinham bebido, já não se importava se ela estava chorando ou se ele estava chorando. E sua irmã começava a ligá-lo, provavelmente irritada por seu sumiço, perguntando onde ele tinha ido no dia do próprio casamento, mas Deus sabe o que faria se continuasse ouvindo a música que dançou no dia que a pediu em casamento. 

— Eu me arrependo de não ter ido atrás dela — ele confessa: — no dia que ela foi embora. Eu sabia que ela ia dizer não, mas eu achei que fosse brincadeira. Quando ela saiu correndo, deixando o sapato para trás, eu fui um covarde e a deixei partir. Eu sempre acreditei que não se pode prender certos pássaros, ela era um desses... Era como um animal silvestre, você não pode domar e esperar que sejam mais felizes em gaiolas do que em seus habitats naturais. Não havia motivos para ela ficar comigo... Seja onde estiver, eu acho que me arrependo de não ter dito a ela que eu poderia esperar por mais tempo. 

— Nem todos conseguem ser como o príncipe da Disney...

— Mas eu deveria ter tentado. 

— Está se casando agora. Deve ter valido a pena desistir. 

— Estou me casando agora, mas ainda tenho problemas com champanhe... — E ambos riram. — bebo sempre que fico nervoso.

— Eu bebo sempre que preciso de validação...

— E precisa disso muitas vezes?

— Digamos que sou quase um alerta de cookies de sites do Google. 

Ele ri novamente, feliz por tê-la encontrado ali. E seus amigos o diriam que está louco de falar com uma outra mulher que não seja a sua futura dessa maneira, com o olhar tão terno. Mas como dizer que ele sempre esteve perdido? Dizem que, desde que ela se foi, ele foi capaz de transformar tudo que tocava em ouro. Talvez tenha tocado em seu próprio peito: não sentia mais nada há tanto tempo. 

— Quando ela te quebrou?

— Como sabe que ela me quebrou?

— Porque você fala como se ela tivesse quebrado. 

*

Ele se ajoelhou na frente de todo o salão. Olhando nos olhos da amada com delicadeza, ele tirou o solitário que um dia pertenceu à mãe do bolso com destreza e a pediu em casamento. É claro que ele sabia que ela recusaria, todos sabiam. 

— O que está fazendo? Levanta...— E ela riu fino, nervosa demais para fazer algo além disso. Naquele baile que imitava a era vitoriana, ela era a rainha em um vestido claro com muitas anáguas para deixá-lo com aspecto de realeza. Traços pintados de ouro, sapatinhos de cristais. Ela estava sendo pedida em casamento na frente de todos e não sabia como dizer não; mas ele sabia que ela ia dizer não. Não porque não o amava, mas porque a Cinderela sempre foge à meia noite. 

E ele levantou, colocando o anel em seu dedo e dando um leve beijo em sua testa. Olhando para ela como se ela tivesse total domínio de seu coração, mas, ceús! Ela nunca teve responsabilidade para esse tipo de coisa. Então, ele desejou que ela falasse qualquer coisa. Que o beijasse de volta, que o retornasse, quem simplesmente aceitasse que eles eram uma equipe, uma dupla, se não por amor, pelo show. Mas ela o deixou lá, parado. 

Estava devendo mais que uma tapeçaria à ele agora. 

Estava devendo um coração. 

E os cochilos eram extremos. "Ela seria uma noiva linda, pena que é extremamente fodida da cabeça". 

Ela fugiu correndo do pátio do hotel de seus pais e ele parou na entrada, observando-a jogar os sapatos fora para correr melhor na areia. Ela não apareceu mais na cidade depois daquele dia. Levou o coração, uma foto dele, uma garrafa de Dom Pérignon, e o anel de sua falecida mãe. "Uma alcoólatra cleptomaniaca", a cidade brincou quando ela fugiu. Só ele sabia a verdade: ela sempre cumpria suas promessas. Ela prometeu quebrar seu coração; assim fez. 

*

— Acho que todos precisam de um coração quebrado... forma caráter ou algo do tipo — ele suspira, batendo nos bolsos para pegar um cartão de crédito na sua carteira. 

— Você quer o anel da sua mãe agora, Edu? — ela pergunta retirando a aliança que usava do dedo e repassando a ele pelo balcão. — Acho que sua noiva ia gostar... 

— Não... Combina com você, Lis — e sorri para ela. Não eram mais adultos com seus trinta e poucos anos, eram os mesmo jovens de quinze anos atrás, bêbados de champanhe, sujos de areia da praia, sonhando com o dia que o feliz para sempre iria chegar. — Além disso, ele é seu. Assim como meu coração sempre foi. — E arrasta de volta para ela, que coloca em seu dedo novamente.

— A sua irmã ainda me odeia?

— A minha irmã odeia todo mundo. 

— Suponho que ela me culpe pelos seus problemas com champanhe, então... 

E se levantou para ir embora, pegando sua comanda e ajeitando os saltos no pé, assim como pôs o cabelo para trás da orelha. 

— Lis...

 Sim?

— Você seria uma noiva deslumbrante.

— Seria... pena que sou extremamente fodida da cabeça. 

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