Herdeiros do Sol

By YOUGOT7JAMS

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Kim Jongin é o príncipe rebelde da segunda família mais importante do país e próximo na linha de sucessão ao... More

Nota da autora
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16

Capítulo 11

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By YOUGOT7JAMS

Não começou como uma sociedade.

No início, tratava-se de um clube de Literatura Clássica anônimo e inclusivo, sem que houvesse qualquer seletividade entre as Oito Famílias Reais. Era o grito silencioso contra a censura que crescia e criava raízes robustas entre os muros de St. Georg.

Estudavam Emily Brontë nas aulas de Oliver J. Williams — o primeiro, dentre os professores e tutores que Kyungsoo já tivera, a recomendar livros escritos por mulheres — quando O Morro dos Ventos Uivantes foi considerado material literário impróprio pela Academia Real e retirado terminantemente da biblioteca.

Williams não só discutia a atmosfera gótica e a complexidade dos personagens de Brontë, mas fazia questão de pontuar que Heathcliff, um dos antiheróis mais icônicos da literatura, não era um homem branco como retratado na adaptação para o cinema de 1939.

Se a escolha do livro como tema de estudo causou alvoroço entre a Reitoria, sua proibição inflou uma pequena rebelião interna e silenciosa entre os alunos mais entusiasmados pelo aprofundamento da obra.

Foi assim que Kyungsoo fundou, com o apoio velado de seu professor favorito, um clube de estudos de Literatura Clássica para ler e discutir livros censurados pela Academia, buscando ampliar seu horizonte de conhecimento.

Convidou-os para a primeira reunião um a um, secretamente. Escrevia as cartas em tinta invisível, feita a base de limão e água, e as enviava em envelopes simples lacrados com cera vermelha.

O lacre dourado foi uma idealização de Seojun, tempos mais tarde.

Era divertido, no começo. Discutiam Shakespeare, Edgar Allan Poe e Oscar Wilde, pincelando Jane Austen e Sir Arthur Conan Doyle, maravilhados em escapar dos estudos tradicionalistas com os romances e histórias de detetives.

Jongin se acomoda na cama de pernas abertas e o tronco inclinado para trás. Uma pose despreocupada, mas de mente e ouvidos alertas, escutando atentamente à história que Kyungsoo desenreda com sua voz mansa e de maneira tão lúdica.

— E os nomes? — pergunta ele. — Icarus, Apollo, Hefestus...

— Era um clube anônimo. Longe dali, fingíamos não nos conhecer, para manter o segredo intacto e garantir nossa segurança, caso alguém da Reitoria descobrisse o que andávamos fazendo. — Ele ri com a lembrança. — Tínhamos apelidos para nos referir uns aos outros em público, sem arriscar revelar nossas identidades. O meu era Icarus.

Icarus ou Ícaro. O filho de Dédalo, na mitologia grega.

— O clube sobreviveu por dois anos, até que os irmãos Oh descobriram e o tomaram para si — continua Kyungsoo, sentado no assento almofadado sob a janela. — Passaram a decidir quem era digno de participar e quem não era, exaltando as três primeiras famílias e humilhando os membros considerados indignos, mas nunca estiveram interessados em estudar os clássicos. A Torre Quebrada logo virou um ponto de encontro para festas, bebedeira e drogas.

Jongin estreita os olhos, preocupado.

— E você? O que aconteceu com você?

Ele encolhe os ombros.

— Bom, você deve imaginar. Não havia lugar ali para um Meio-Sangue, exceto como...

— Um Escudeiro — sussurra Jongin, amassando os lençóis da cama entre seus dedos, descontando ali a raiva crescente em seu peito. O resto da história é previsível. — Você foi o primeiro Escudeiro. Era o criado dele, no lugar de Sungmin.

— Sim — confirma, em voz baixa, como se tivesse vergonha do fato. — Depois disso, tentei ao máximo manter os alunos novatos longe das garras da Tríade. Inventei histórias, lendas urbanas assustadoras. Espalhei boatos sobre a Torre Quebrada ser assombrada para manter os garotos longe dali.

Jongin inclina a cabeça, encarando-o com um semblante calmo e compreensivo.

— Foi você. Esse tempo todo...

Quando Kyungsoo assente, envergonhado e inquieto, Jongin resgata a fotografia que descansa ao seu lado no colchão. Ele a segura contra a luz, observando o rosto do rapaz sorridente em primeiro plano na imagem.

— E Jiho? — pergunta, apontando com o queixo para a polaroid. — Onde o príncipe da Primeira Família entra nessa história? Ele também fazia parte...?

— Não. Por incrível que pareça, não o conheci na Tríade. Quando Jiho chegou a St. Georg, eu já era monitor e tinha conseguido escapar de Seojun. Eu o conheci por coincidência.

Certa vez, enquanto inspecionava os banheiros do Prédio Principal, ouviu ruídos suspeitos vindo da última cabine. A passos cautelosos, aproximou-se da porta semiaberta e viu Song Jiho vomitando o café da manhã. Guiou-o para a enfermaria, como era natural de seu dever de monitor, mas o episódio voltou a se repetir.

De vez em quando, após o jantar, encontrava-o ajoelhado diante do vaso sanitário, com dois dedos pressionando o fundo da garganta. Achava, a princípio, que Jiho sofria de transtorno alimentar.

Não seria tão incomum.

Diante da pressão estética imposta pela alta sociedade, assim como a restrição alimentar exigida pela mãe para controlar seu peso, o próprio Kyungsoo já havia passado por momentos difíceis na adolescência. Ainda hoje, raramente come suas refeições até o final.

— Até que eu descobri — continua Kyungsoo — que não era transtorno alimentar, mas que ele vomitava porque os rapazes da Tríade viviam escondendo amendoins em sua comida. Jiho era alérgico.

"Por favor, não conte a ninguém", implorou o garoto naquele dia, quando lhe segredou o verdadeiro motivo entre as cabines do banheiro.

Kyungsoo nunca contou.

Até agora.

— Então vocês eram... — Jongin recua e aperta os lábios, como se a mera ideia o desagradasse.

— Amigos. Só amigos — completa ele, rapidamente. — Apesar de Jiho ser dois anos mais novo, nós dois nos aproximamos rápido, porque tínhamos uma conexão natural. Éramos ambos Meios-Sangues. Mas nunca nutri por ele nada mais que um sentimento de fraternidade. Era como um irmão pra mim. Meu melhor amigo. — Kyungsoo suspira e o observa, respirando pelos lábios entreabertos. — Nunca senti com ele o que sinto com você.

Ainda que sutil, é impossível ignorar a satisfação cintilando nos olhos de Jongin. Toda aquela luz e brilho, porém, desvanecem gradativamente, e sua expressão obscurece de maneira melancólica.

— E a morte dele? — murmura num fio de voz, como se as paredes pudessem ouvi-los. — O que você sabe sobre isso?

Dentre as coisas que compartilhou hoje, essa é a mais difícil de abordar. Em parte porque Kyungsoo não dispõe de todas as memórias daquela noite. Suas lembranças traumáticas estão encobertas pelo véu generoso do esquecimento.

Ele abre a boca, tentando reunir as informações das quais se recorda.

— Naquela noite... — começa, mas não consegue prosseguir.

Um som alto, profundo e retumbante invade o quarto. O badalar estrondoso do sino da Capela faz os dois garotos estremecerem com o prenúncio de uma missa fúnebre. Não demora até passos pesados ressoarem à distância, subindo apressadamente os degraus da Casa Clermont ou reverberando pelos corredores.

Kyungsoo respira fundo, sentindo o coração pesar.

É como vivenciar tudo aquilo de novo.



A missa em homenagem a Minho acontece duas horas após a confirmação de seu falecimento pela imprensa, repetindo-se todos os dias pelo restante da semana.

A notícia causa comoção entre os alunos, que organizam um memorial em frente à Capela, reunindo uma vasta coleção de itens para homenageá-lo: coroas de flores, cartas, fotografias, o brasão de seu uniforme com o Alce da família Choi e até mesmo o arco verde que ele usava nas aulas de tiro com arco.

Deviam ter feito o mesmo por Jiho, lamenta Kyungsoo.

Ele caminha todos os dias por ali, imaginando como as coisas seriam diferentes naquela época se Song Jiho não fosse um Meio-Sangue.

Se ele não fosse um Meio-Sangue.

— Bom dia, meu filho.

A voz áspera, porém gentil, ressoa entre uma fileira descomunal de lírios e crisântemos.

— Irmã Agnes — sussurra ele, surpreso. — Oi.

Ela veste uma túnica branca e lisa, com uma touca rígida emoldurando o rosto redondo e salpicado de manchas avermelhadas. Um escapulário lhe resguarda os ombros e um véu grosso pende da cabeça.

Quando se aproxima dele, o rosário pendurado em seu cinto tilinta com notas metálicas.

— Veio se confessar de novo, meu filho?

Os olhos azuis da Irmã Agnes o analisam friamente, como se enxergassem através dele. Como se vissem, no lampejo de medo em suas pupilas, o segredo que tanto tenta esconder.

Diante do olhar solene da freira, ele se sente minúsculo e vulnerável. Mas então pensa em Jongin, no quanto beijá-lo foi bom, eletrizante e certo.

Ele engole em seco e ergue o queixo.

— Não tenho nada para confessar — responde, corajosamente.

Ela o analisa de cima a baixo com uma expressão pesarosa. Observa-o, como se transportada para as páginas da Bíblia, como quem resgata uma ovelha perdida do rebanho.

— A confissão é indispensável, Kyungsoo, meu filho. — Ela pousa uma mão delicadamente em seu ombro. — As mãos sacerdotais são as mãos de Cristo neste mundo. São elas que removem nossos pecados e revivem nossas almas com a absolvição. Arrependa-se o quanto antes e renuncie às más inclinações. A abnegação é uma virtude.

Uma vez, no confessionário, o padre Hermann lhe disse:

Só há absolvição com arrependimento.

Kyungsoo não está arrependido.

Nem mesmo culpado.

Por muito tempo, sentiu-se corroído pela culpa. Culpava-se pelos seus desejos mundanos e reprimidos, mas também por todas as outras fatalidades. Até mesmo nas coisas mais pequenas: um deslize nas aulas de esgrima, uma nota irregular no boletim ou uma gripe prolongada. Acreditava que Deus o estava punindo por gostar de garotos.

O professor Williams costumava lhe dar conselhos dissimulados sobre a Igreja em suas recomendações de leitura, mas, às vezes, em momentos de fragilidade, aqueles pensamentos intrincados pela doutrina cristã ainda assombravam sua mente. Quando algo de ruim acontecia, Kyungsoo achava que era sua culpa.

É aquilo que vê estampado no olhar vítreo da Irmã Agnes: a crença de que alguém como ele está destinado, irremediavelmente, a ser um ímã de desgraças na Terra. A queimar no Inferno pela eternidade.

Ela retira a mão de seu ombro, como se seus pecados fossem contagiosos.

— O deslize é um erro, mas o hábito é um pecado — recita em tom cerimonioso.

Então ela se afasta, arrastando as sandálias simplórias de couro no gramado, como se flutuasse em seus trajes densos e longos.

Suas últimas palavras deixam um gosto amargo na boca de Kyungsoo.

Sujo, imundo, pecador.

Os pensamentos recomeçam, mas ele os força para longe.

Não sentirei culpa, mentaliza. Não sentirei culpa.

Ele fecha os olhos com força, repetindo o mantra tão alto em sua mente e com uma determinação tão profunda que não nota o som de passos se aproximando. Quando suas pálpebras se entreabrem, lentamente, Kyungsoo vê uma sombra se juntar à dele no gramado.

A respiração morna queima em sua nuca.

Icarus — sopra Jongin em seu ouvido.

Ele se vira com um sorriso.

— E quem é você? — questiona, encarando o outro garoto entre os olhos semicerrados pelo sol da manhã.

Apollo, é claro.

Apolo, deus do Sol, da luz, dos oráculos e profecias. Da cura, da música e da poesia. O iniciador dos jovens no mundo dos adultos. A beleza masculina em sua forma mais pura. A perfeição, a harmonia e o equilíbrio.

Jongin está com as mãos enterradas nos bolsos da calça do uniforme. Pela primeira vez desde que o conheceu, usa a gravata perfeitamente alinhada por baixo do pulôver, embora a camisa branca esteja com as mangas arregaçadas, revelando a pele do antebraço bronzeado. Seus cabelos estão vivos, com um brilho incandescente nos fios cor de avelã e uma mecha dourada e brilhante, quase metálica, se derramando de modo atraente na têmpora.

Ele parece feito de ouro.

— Apollo — repete Kyungsoo, engolindo em seco, testando a sonoridade das sílabas. — Combina com você.

Jongin alonga os lábios em um sorriso e começa a caminhar ao lado dele para longe da Capela, como se não soubesse, ou simplesmente ignorasse, o efeito que tem sobre ele.

— O que a Madre Teresa de Calcutá queria com você? — pergunta ele, curioso.

Kyungsoo dá de ombros.

— Nada de mais. — Uma mecha insistente de sua franja escura cai na testa e ele a afasta com os dedos, jogando-a para trás. — Você está livre hoje à noite?

Os sapatos de Jongin derrapam sobre as pedras a caminho do refeitório. Interrompe os passos, girando o corpo para encará-lo.

Ele arqueia uma sobrancelha.

— Por quê? Quer me chamar para um encontro?

Kyungsoo aproveita a oportunidade para avaliar a silhueta esguia de Jongin. O pulôver sem mangas ajustado ao tronco e a camisa desabotoada lhe dão uma aparência clássica e acadêmica, como um personagem de Donna Tartt.

— Quase isso — responde, desviando o olhar para longe quando se pega observando o pomo de adão dele por tempo demais. — Não terei que fazer a ronda essa noite, então pensei que podíamos começar o trabalho de Artes. Somos uma dupla, lembra?

Jongin não consegue disfarçar a careta.

— Claro. Mal posso esperar.

— E depois... — acrescenta Kyungsoo depressa, com um sorriso mínimo desabrochando em seus lábios.

— Depois? — insiste Jongin sugestivamente, dando um passo para perto dele. — Icarus vai se aproximar do Sol?

Ele solta uma risada soprada.

— E deixar derreter a cera das minhas asas? Claro que não.

Na mitologia grega, Ícaro tenta fugir de Creta com asas feitas de penas e cera, uma invenção de seu pai Dédalo, mas acaba se aproximando em demasia do Sol. O calor derrete a cera e as penas de suas asas se soltam, fazendo com que Ícaro caia do céu, morrendo afogado no mar Egeu.

Eles retomam a caminhada, mas se separam entre o refeitório e o Prédio Principal. Os dois ficam parados de pé no gramado, perto de onde alguns alunos jogam croquet, adiando a despedida.

— Vejo você mais tarde, então? — pergunta Jongin, e Kyungsoo assente silenciosamente em resposta. — Traga suas tintas, Icarus.

Ele sorri.

— Traga seu corpo, Apollo. Será meu modelo.

Com um aceno de cabeça e um sorriso radiante, Jongin se afasta primeiro, adentrando o Prédio Principal em direção à sala da preceptora. A Academia Real finalmente chegou a um veredito sobre a relação indireta da Tríade com a morte trágica de Minho.

Agora, resta esperar pelas consequências.



Jongin se senta pesadamente na poltrona Charles Eames da sala da preceptora Kang, apoiando os braços no estofado escuro.

— Mandou me chamar?

Ela pisca e acomoda seus óculos na ponte do nariz anguloso para observá-lo melhor. Mal coloca seus olhos nele e já gesticula em direção ao seu pescoço, onde o colarinho está desabotoado.

— O primeiro botão da camisa, Jongin, por favor — murmura ela, em um tom cansado e exasperado. — Vejo que aprendeu a usar a gravata do uniforme escolar. Pela primeira vez, não parece que está tentando se enforcar com ela. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer, não temos?

Ele assente, forçando um sorriso.

— E eu tenho uma longa aula de Francês antes do almoço, Sra. Kang. — Ele cruza as pernas e aponta na direção da preceptora. — Então, por favor, vá em frente.

Com um sutil franzir de lábios, a mulher pousa as mãos no tampo da mesa larga de mogno. Ela inclina a cabeça, observando-o atentamente através das lentes, mas logo se recupera de seu estupor inicial.

Ela aponta para um canto do escritório.

— Seu guarda-costas trouxe sua mala.

Surpreso, Jongin imediatamente vira a cabeça para olhar. Lá está ela, apoiada contra uma das paredes: uma maleta da linha Ophidia da Gucci, confeccionada em canvas, com alças de couro marrom e ferragens douradas. Ele se sente nervoso e aliviado. De repente, uma ideia lhe ocorre.

E se tiverem inspecionado sua mala? Revistado suas coisas?

Teriam visto os documentos que roubou de Seojun?

Teriam se livrado deles?

— É uma lástima o que aconteceu com o príncipe Minho — comenta a Sra. Kang em tom sombrio, melancólico, recuperando a atenção que a mala lhe roubou. — Soube que esteve com ele no hospital. Não se preocupe, não vou perguntar como recebeu esse ferimento no rosto.

O corte em seu supercílio está cicatrizando bem, já menos evidente em contraste com os fios castanhos da sobrancelha. Os pontos serão retirados na enfermaria até a próxima semana.

Jongin bufa.

— Imagino que a Academia já tenha chegado a uma resolução.

Ele recosta no estofado e agita os pés em um ritmo ansioso. A preceptora, por outro lado, assume a impassibilidade estoica ensaiada por décadas.

— Sim — admite ela, alisando suavemente um dos anéis em seus dedos. — Sim, é verdade. A Reitoria se reuniu algumas vezes. Também entramos em contato com o Secretário Real de suas famílias. Não foi uma decisão fácil, mas chegamos à conclusão de que ele faleceu de causas naturais, e que nenhuma punição deve ser aplicada a vocês, alunos.

Jongin arregala os olhos, incrédulo. A raiva fervilha em seu estômago e ele desfere um soco no braço da poltrona, incapaz de dissimular a fúria.

— Ele foi obrigado a entrar no lago, Sra. Kang. Pode ter morrido de causas naturais, mas não teria acontecido se não fosse forçado a isso. — Ele aponta na direção da janela, onde é possível entrever parte dos jardins. — Aqueles idiotas o mataram!

— Jongin, por favor, diminua o tom de voz — demanda a preceptora, abanando o ar com calma, embora seu timbre esteja carregado de impaciência. — O incidente aconteceu fora das dependências do colégio. Não há nada que possamos fazer.

— Um príncipe morreu. Um garoto morreu e vocês não vão fazer nada?

— Como eu disse...

— Você sabe — acusa Jongin, a voz tremendo pela raiva. — Sabe o que acontece nesse colégio e não faz nada a respeito. Todo o bullying, toda a violência e trauma... Cada cicatriz escondida por baixo do uniforme desses alunos também é culpa sua. — Quando ela se mantém calada, ele continua: — Até quando vai fingir que nada acontece sob esse teto? Quantos príncipes precisam morrer para que vocês tomem uma atitude?

A mulher ajeita um fio solto em seu coque sempre impecável, tentando manter tudo sob controle. Quando ela responde, suas mãos estão entrelaçadas em cima da mesa.

— Bullying é uma praga enraizada no âmbito acadêmico, é verdade, mas não se engane em achar que é exclusividade de St. Georg. Todos os colégios nesse país sofrem do mesmo problema. É uma luta antiga: os mais fortes subjugam os mais fracos. Em um internato para a realeza, onde poder é tão importante, não é nada além de uma consequência natural. É terrível admitir, mas isso também é benéfico para as vítimas. O bullying às vezes as torna mais fortes.

A dor muda as pessoas, é verdade, mas nem sempre para melhor. Nem sempre para torná-las mais fortes. Às vezes, as feridas são apenas mais um fardo para carregar.

Jongin não aguenta mais ouvir uma palavra sequer.

Num rompante, ele se levanta da poltrona, arrancando um rangido incômodo do móvel em contato com o piso escuro. Antes de sair, apanha sua mala e se vira na direção da saída, respirando pesadamente.

Se a Sra. Kang e a Academia Real não pretendem deter a Tríade, então terá que fazer isso com as próprias mãos.

Custe o que custar.

Quando bate a porta do escritório, aplicando no gesto toda sua força e cólera acumulada, tem a impressão de que as paredes do internato estremecem com o impacto.



A respiração de Kyungsoo acelera conforme despista um dos monitores e se esconde atrás de uma das pilastras do grande prédio no Centro de Artes, as costas batendo com força contra a construção de concreto.

Ele respira fundo, desviando os olhos para as sombras erráticas de Junmyeon, fazendo sua ronda próximo ao lago da Torre Quebrada.

Jongin o segue como uma sombra, mordendo a boca para refrear uma risada.

— Você nunca fez isso antes, né? — questiona ele, e seus dentes inconscientemente voltam a mordiscar o lábio inferior.

— O quê?

— Quebrar as regras.

Ele bufa.

— Já fiz antes, é claro, mas estou enferrujado. — Kyungsoo sorri, eufórico com a adrenalina da fuga. — E hoje, por algum motivo, parece mais emocionante.

Jongin gesticula na direção da porta da Galeria.

— Tem certeza de que podemos entrar aí?

— Não podemos. Tecnicamente, estamos invadindo.

— Uh — cantarola Jongin, puxando-o pela gravata de encontro aos seus lábios. — Gosto do seu lado rebelde.

Kyungsoo se desvencilha e desvia do beijo pouco antes de suas bocas se encostarem.

— Não é rebeldia se vamos usar para estudar. — Ele encolhe os ombros e deixa um tapa estalado em seu peito. Um objeto pequeno e brilhante reluz em uma de suas mãos. — E eu tenho a chave, lembra? Não me chamam de Monitor-Chefe à toa.

Eles entram às pressas. Sobem os degraus correndo no escuro e suas risadas, combinadas em uma harmonia melodiosa e juvenil, reverberam no silêncio celestial da Galeria. Kyungsoo tem a certeza delirante de que as deusas nos quadros e as estátuas no alto das escadas viram suas cabeças para olhá-los quando passam, encarando-os com interesse.

Na Sala de Artes, Jongin olha ao redor, impressionado com a arquitetura renascentista, enquanto Kyungsoo serpenteia entre uma coleção interminável de telas e cavaletes.

— Não acenda todas as luzes, ou vão conseguir nos ver à distância. Só algumas. Esta, essa e aquela ali. — Ele aponta para um dos lustres, uma fileira de luminárias embutidas e uma lâmpada de iluminação direta que cria um ponto focal dramático no centro do salão. — É tudo que preciso.

Na meia-luz, os relevos intrincados nas paredes e o teto abobadado com afrescos se tingem de um tom areia, criando uma atmosfera que parece sobre-humana, quase divina.

Quando escolhe sua tela e reúne as tintas que vai precisar, Kyungsoo se remexe, contente, sentado de frente para o cavalete.

Ele morde o lábio inferior sem perceber.

— Tentei desenhar você outro dia — confessa baixinho, alisando a ponta macia de um pincel.

Um sorriso enviesado se desenha nos lábios de Jongin e seus olhos, brilhantes e vivos, observam o rosto de Kyungsoo pela metade, encoberto pela tela em branco.

— Achei que não desenhasse pessoas.

— Não desenho.

Kyungsoo sempre preferiu retratar a arquitetura dos prédios e a solitude das paisagens. As linhas retas nunca mentem. As texturas são distantes, impessoais. Não há apego ou intimidade com o objeto.

— E como se saiu? — questiona Jongin.

— Não muito bem. Tive dificuldade com a parte do tórax, principalmente a clavícula.

Ele arqueia uma sobrancelha.

— Ah, é? E onde fica isso?

Kyungsoo caminha até ele, abandonando o posto detrás da tela vazia, mas ainda segurando o pincel. Com o cabo de madeira, ele força o pulôver sem mangas de Jongin para baixo. Afasta o colarinho aberto da camisa com a parte macia e, então, com o dedo indicador, alisa a parte saliente do osso sob a pele quente.

— Bem aqui — diz ele.

Jongin estremece com o toque e ele percebe, secretamente satisfeito com a reação.

— É isso que sou, então? — provoca o rapaz. — Seu modelo nu?

Kyungsoo deixa escapar uma risada e volta para seu porto seguro atrás do cavalete.

— Claro que não. Se ficar nu, não conseguirei pintar.

Ele assiste, hipnotizado, enquanto Jongin retira o pulôver de cashmere, puxando-o pela bainha.

— Toma — diz Jongin, e o pulôver voa em sua direção, acertando seu rosto.

A risada de Kyungsoo é abafada pelo tecido grosso. Ele fecha o punho e segura a roupa com força, mantendo-a longe do rosto para se impedir de cheirá-la.

Há uma plataforma circular de mármore no centro do salão, onde os modelos contratados pela Sra. Mendez costumam posar. Ele tende a evitar essa aula em particular, sobretudo quando há modelos homens, inventando náuseas, dores de garganta e resfriados em troca de atestados médicos.

Em sua primeira tentativa de desenhar um homem nu, numa ingênua busca por aprimorar sua compreensão de anatomia, seu corpo respondeu de maneira imprópria conforme os traços ganhavam vida no papel. Kyungsoo arrancou a página, colou-a na parede do quarto e se tocou enquanto observava o desenho. Depois ateou fogo nele, incinerando os vestígios de seu pecado.

Na época, ainda adolescente, a ideia de se excitar com o corpo de outros homens lhe era estranha e anormal. Agora, quando se trata de Jongin, parece inevitável. Fora de controle.

Estranho seria não se sentir atraído por ele.

Jongin arranca a gravata com um gesto bruto e leva as mãos aos botões da camisa enquanto recua, andando sem olhar para trás até que esteja sentado descuidadamente na plataforma. As pernas abertas, uma mecha da franja caindo na testa. O tecido branco que cobria seu tórax escorrega pelos ombros, revelando lindos trechos de pele bronzeada.

Inapropriadamente bonito.

— Como você quer que eu fique? — pergunta ele, apoiando-se nos braços e inclinando o tronco levemente para trás.

Há duas pintas ali, sobre as costelas do lado direito, que nunca tinha notado antes. Kyungsoo imagina como seria a sensação de beijá-las. De vê-las sumirem sob seus lábios como estrelas em noites nubladas.

— Assim está perfeito. Não se mexa.

Ele começa o esboço a lápis. Tem medo que o carvão borre e manche a tela imaculada, porque não aplicou nenhum revestimento ou primer para aderi-lo à superfície. Primeiro, ele se concentra no tronco e nos braços, compenetrado na curvatura dos músculos e nas linhas sutis em seu abdômen estendido.

Corpo e Arte. Esse é o tema do trabalho.

Parece fácil quando Jongin, por si só e sem esforço, emana naturalmente a beleza masculina idealizada pelos gregos. A simetria perfeita do corpo, a linha definida do maxilar, a pele lisa como mármore polido...

Kyungsoo pensa em Michelangelo, que conseguiu imprimir em Davi os músculos fortes das coxas e as veias saltadas das mãos. Ele se pergunta, em um segundo de insanidade, quem era o homem que pousou nu para que o herói fosse esculpido — e se um dia Michelangelo fantasiou em beijá-lo.

É dessa forma que deseja eternizar Jongin em sua tela, perfeito nos detalhes mais sutis. Quer destruí-lo e reconstruí-lo em toda sua complexidade.

— Levanta um pouco mais a cabeça — instrui Kyungsoo, pressionando a extremidade do lápis contra o próprio queixo. — Assim não. Menos, e mais para a direita. Não. Espera.

Ele se levanta outra vez e agacha diante de Jongin para ajustar sua pose. Toca o joelho dele com uma mão e seu Davi particular imediatamente compreende o comando silencioso, dobrando uma das pernas. O tecido da calça se estica, ajustado de modo pecaminoso em suas coxas e quadris.

Nervoso, Kyungsoo engole em seco. Seus olhares se encontram e ele o segura pelo queixo para virar sua cabeça na direção certa. Um toque casual, mas que acende alguma coisa entre eles. A respiração morna resvala em seu pulso e Jongin se inclina, como se quisesse ser beijado.

Kyungsoo não o beija.

Com os nervos à flor da pele, ele se levanta sem olhar para baixo, caminhando para longe de Jongin e suas pintas extraordinárias.

Dedica os vinte minutos seguintes a capturar a beleza dele e transmiti-la para a tela. Vez ou outra, Kyungsoo leva uma mão ao rosto para afastar os cabelos grossos caindo sobre os olhos e pega Jongin o observando sob a cascata de fios escuros.

O salão é grandioso e imponente. O pé direito é alto, com quase sete metros e sustentado por colunas de mármore branco, como se a Galeria fosse um templo grego construído para gigantes. A figura de Jongin, alta e longilínea, jaz sobre a plataforma como um semideus descansando na relva.

— Não parece certo — sussurra Kyungsoo para si mesmo, analisando o desenho.

Quando desenha, Kyungsoo evita a paleta de tintas, convencido de que as cores prejudicam a essência de sua arte. Seus traços são sempre mergulhados em sombras e matizes únicos, escuros e monocromáticos. O mundo de Kyungsoo é um vasto espectro de cinzas.

Já Jongin é vibrante, repleto de nuances, entusiasmado pela vida com todo seu hedonismo voraz. Um mundo inteiro de cores.

Ele olha para a maleta de tintas.

Se a alma de Jongin tivesse uma cor, seria amarela e cheia de luz. Como o Sol. O sol que nasce tímido por trás dos montes, que fica radiante ao meio-dia e se põe em toda sua glória alaranjada no crepúsculo. Ele poderia fazer um estudo inteiro sobre as semelhanças metafóricas entre o rapaz e o astro-rei. Daria o nome de O garoto beijado pelo Sol. Ou, quem sabe, simplesmente Apollo, o próprio deus encarnado.

Jongin não para de encará-lo. Ele tomba a cabeça para o lado, mergulhando metade do rosto sob as luzes amareladas de um holofote.

— Acho que nunca vou me cansar de olhar pra você.

Para seu próprio bem, Kyungsoo ignora o comentário, ainda que suas orelhas ganhem uma escala de vermelhos quase imperceptível. Ele umedece a ponta do pincel chanfrado na tinta amarela.

Conforme a tela ganha vida em tons de caramelo, mostarda e dourado, ele se inclina para trás no banco, admirando-a como o faria um estranho. À distância, como um observador incógnito.

A figura de Jongin repousa no centro do quadro com o brasão do Sol às suas costas, cintilando com um brilho etéreo. A pintura não é perfeita, mas ressalta todos os seus pontos fortes: a pele bronzeada que o faz lembrar do verão, os olhos de coloração ambarina contra a luz, a curva da mandíbula que adoraria beijar e a sombra que o queixo lança sobre o peitoral.

Embora seu torso esteja nu, são seus lábios que se destacam de maneira quase obscena. Lindos, cheios e entreabertos. Um manto de luz amarelado cobre seu tronco. Glitter dourado se espalha por seus ombros, peito e no alto das bochechas, como se fossem sardas áureas e luxuriantes salpicadas na pele.

Um garoto feito de ouro, Kyungsoo pensa.

Mal se reconhece naquelas pinceladas.

Tudo é muito vívido e brilhante. Muito íntimo.

— Elas ficam bem em você — murmura ele. — As cores.

Jongin ergue os braços acima da cabeça, alongando os músculos cansados.

— Posso ver? Meus braços estão doloridos.

— Ainda não. Depois, quando estiver finalizado — promete Kyungsoo, virando o cavalete para que a pintura inacabada fique fora de vista. — Essa é minha primeira versão de você. Não tenho certeza de que vou conseguir fazer jus ao original.

Jongin apoia um braço no joelho e descansa o rosto na mão.

— O que isso quer dizer?

— Quer dizer que tenho medo de que o desenho não saia do jeito que eu te vejo.

Jongin ergue uma sobrancelha, provocativo.

— E como você me vê?

Ele está agora de pé, esticando-se para alongar os músculos rígidos do antebraço. Jongin caminha em sua direção com uma calma perigosa. Kyungsoo nada diz, engolindo as palavras junto com a saliva.

— Não vai me responder? — insiste ele.

Num gesto furtivo, Jongin rouba um dos pincéis, puxando-o para longe quando tenta recuperá-lo com uma das mãos.

— O que você está fazendo? — Kyungsoo balança a cabeça, assumindo um semblante sério e irritado. — Ponha de volta.

No entanto, não leva em conta um detalhe crucial: Jongin nunca segue as regras.

Antes que possa recuar, uma pincelada tímida o atinge na bochecha. Assim que se recupera do golpe surpresa, Kyungsoo contra-ataca com o pincel maior, colorindo seu peitoral e o ombro direito com manchas retilíneas amarelas. A disputa se intensifica e Jongin acidentalmente derruba um dos recipientes de tinta, as palmas das mãos mergulhando em amarelo-ouro em uma tentativa desesperada de salvá-lo.

O rapaz encara as mãos sujas, um sorriso sorrateiro fazendo seus lábios se esticarem no canto direito.

Kyungsoo lhe aponta o pincel embebido de tinta como o faria em um duelo de esgrima.

— Nem pensar! — exclama ele, apavorado com a ideia. — Não. Fique longe. Se você fizer isso, eu juro...

Antes que possa concluir a frase, mãos manchadas de amarelo o surpreendem ao tocar a lateral de seu corpo e dedilhar suas costelas, arrancando dele as risadas mais genuínas que experimenta em muito tempo.

Eles se perseguem pelo salão, rindo como loucos. Lançando respingos de tinta, correndo entre estátuas e cavaletes.

Jongin sopra contra a superfície de um pote cintilante e glitter dourado se alastra no ar, rodopiando lenta e silenciosamente contra as luzes quentes. A maior parte se acumula no chão, mas centenas de partículas grudam em suas roupas e na pele descoberta de Jongin.

Kyungsoo o observa, embasbacado com a visão.

Ele parece ter saído de sua pintura.

— Vamos recriar o Sol — propõe Jongin, sorrindo e irradiando toda sua beleza dourada.

As mãos dele — grandes, pesadas e tingidas de amarelo — agarram Kyungsoo pelo pescoço, imprimindo vestígios úmidos de tinta em sua nuca e no rosto, logo acima da mandíbula. A marca dos dedos de Jongin eternizados em sua pele.

Seu toque é gelado.

Os lábios dele resvalam no cantinho da sua boca.

— Vem — chama ele, puxando-o para trás.

Jongin meio deita, meio cai, pousando de costas na plataforma ao centro do salão. Kyungsoo se deixa envolver pela aura caótica do príncipe rebelde, engatinhando por cima dele até que seus rostos estejam na mesma altura.

Uma mão o agarra pela garganta e outra pressiona o ponto em sua coluna logo acima do quadril, trazendo seu corpo mais para baixo. Jongin roça o polegar em seu queixo, conectando as pintas maiores como se formasse uma constelação.

Então finalmente o beija, encaixando a boca entre seu lábio inferior, pressionando e puxando com suavidade pelos dentes. A língua quente de Jongin invade sua boca e sua mão desliza por baixo de sua camisa.

Kyungsoo geme contra os lábios dele. Um som que soa estranho aos próprios ouvidos.

— Estou indo rápido demais? — pergunta Jongin, afastando-se o suficiente para que seus olhares se encontrem.

Kyungsoo sente o rosto arder.

— Sim — admite ele, em um sussurro fraco. — Sim, mas... não significa que quero que você pare. Só...

— Vá em frente, então. Me mostre. — Jongin inclina o queixo para cima, oferecendo-se para ele. — Me beije como você quer ser beijado.

Toda aquela rebeldia da semana anterior, quando pressionou Jongin contra a parede do prédio e o beijou impensadamente, desapareceu por completo. Sente vontade de erguer a mão e tocá-lo, mas não consegue enviar uma mensagem ao cérebro e coordenar o movimento dos próprios braços.

O deslize é um erro, mas o hábito é um pecado.

Kyungsoo o segura pelo rosto e o simples gesto, ainda agora, parece novo e desconhecido, experimental. Ainda há esperança para ele. Antes que se torne um hábito. Antes que seja tarde demais.

Jongin o encara por entre seus cílios dourados, com luzes e sombras dançando em seu rosto bronzeado. Assim, tão de perto, consegue ver as sardas quase imperceptíveis no alto das bochechas e os pelos finos e aloirados, quase invisíveis, na curva afiada de seu maxilar.

Ele se inclina e encaixa seus lábios nos dele. Os beijos de Kyungsoo são lentos e melódicos e, por isso, muito mais perigosos. Mãos firmes o seguram pela cintura e seus corpos se moldam um ao outro em uma fricção preguiçosa, peitos colados e quadris se tocando.

O atrito se intensifica e suas bocas se desprendem com um delicioso estalo.

Jongin desce delicadamente com beijos em seu pescoço, deixando uma mordida carinhosa abaixo da mandíbula. Depois afasta sua camisa acidentalmente aberta no peito para beijá-lo ali. Kyungsoo suspira, ávido e ansioso, ainda de olhos fechados. Ele se pergunta se Jongin consegue sentir seu coração pulsar sob seus lábios ou se percebe o quanto sua excitação cresceu, a tal ponto que não conseguiria esconder ou disfarçar.

A resposta não demora a vir.

Jongin desvia o olhar de seu estômago agitado, subindo e descendo pela respiração acelerada, e o observa com um brilho confuso nos olhos castanhos.

— Você nunca...?

Kyungsoo nega com um aceno sutil.

— Nunca — confirma ele, com a voz já sôfrega.

— Você quer? — Ele desliza uma mão entre seus corpos e apalpa o volume em suas calças, sentindo-o pulsar e crescer em suas mãos. Jongin cola os lábios à sua orelha e sussurra: — Quer que eu dê um jeito nisso pra você?

Isso é contra as regras, Kyungsoo quase diz.

Um pensamento que não dura muito tempo.

— Mas... — Ele ofega, observando as manchas ainda visíveis nos nós de seus dedos. — Suas mãos estão sujas de tinta.

Jongin sorri com o cantinho dos lábios.

— Não vou precisar delas.

Kyungsoo arregala os olhos e seu corpo vibra com a mera sugestão de ter a boca dele entre suas pernas. Sabe que está prestes a cometer uma infração gravíssima, mas não consegue raciocinar com clareza quando suas calças estão tão apertadas.

Ele assente com a cabeça. Por vezes, quando se deixou seduzir pela ideia de tocar-se na privacidade do quarto de monitor, sempre o fazia inundado de vergonha e culpa. Dessa vez é diferente. Rápido e impaciente, começa a desatar o cinto e o botão da calça.

Os dedos de Jongin deslizam para baixo, ultrapassando o cós da calça e rompendo o zíper, como um dia Kyungsoo sonhou que ele o fizesse. Ele abre a boca, exalando o ar sofregamente quando sente a mão pesada e quente contra o tecido da sua cueca.

Jongin gira os corpos, invertendo as posições e pressionando-o contra o piso gelado. Ele acaricia suas bochechas e deposita um beijo macio em sua boca uma última vez. Rastros de tinta amarela aparecem onde ele o tocou.

Ele afasta suas pernas e se encaixa entre elas, descendo até que sua respiração quente sopre em seu umbigo, onde a camisa acidentalmente levantou, revelando um trecho de pele exposta.

— Devagar — instrui Kyungsoo, soltando um suspiro de antecipação pelos lábios entreabertos. — Faça devagar, ou não vou durar muito tempo.

Jongin deixa escapar um riso soprado.

— Não tem problema.

Ele pressiona um beijo em seu quadril, logo acima do cós da calça, e Kyungsoo retesa o abdômen em expectativa. Jongin mantém as mãos longe, como prometido, acariciando a coxa aprisionada nas calças apertadas do uniforme.

Com um sorriso sacana delineando seus lábios, ele vira o rosto e o beija bem próximo à virilha.

— A visão é linda daqui de baixo — murmura ele, com a bochecha apoiada contra a parte interna da sua coxa.

O toque contra o tecido da calça é incômodo, insuficiente. Jongin segura nas laterais da sua calça e a puxa para baixo, descendo-a ligeiramente pelo quadril. Ele dedica um tempo lento e torturante para delinear o volume em sua cueca com os lábios, beijando e lambendo, fazendo-o se remexer sob o corpo dele.

Kyungsoo se sente quente e ofegante como se tivesse acabado de sair de um treino de lacrosse ou corrido vinte voltas ao redor do Canal, como nas maratonas de punição encomendadas pelo professor de remo no segundo ano.

Dedos flertam com o elástico da sua cueca e o puxam, aliviando a sensação de desconforto no tecido apertado.

— Você é todo lindo — sussurra Jongin, seu hálito tépido acariciando a excitação agora livre.

Kyungsoo franze a testa, aperta os olhos. Uma sensação úmida e quente se concentra entre suas pernas quando Jongin o toma em sua boca. Ele olha para cima, observando os afrescos no teto, incapaz de encará-lo.

Com uma dedicação fervorosa, Jongin afunda entre suas coxas, uma mão encaixada sob seu joelho para manter as pernas afastadas. A outra se molda ao seu quadril, segurando-o firme para impedir que se movimente. Um arquejo longo e sôfrego escapa pela boca de Kyungsoo e seus olhos umedecem com lágrimas, inundado de sensações novas e sentimentos indescritíveis.

Com um beijo úmido na ponta, Jongin o retira da boca, olhando-o e acariciando sua cintura.

— Você não vai olhar pra mim? — pergunta, com uma pontada de decepção na voz. — Tudo bem se não quiser. Eu sei que é a sua primeira vez. — Ele puxa sua mão em direção ao próprio rosto, incentivando Kyungsoo a tocá-lo. — Só me diga se quiser parar.

Kyungsoo se apoia no cotovelo do braço livre e ergue levemente o tronco, assistindo-se aparecer e desaparecer na boca dele. Seus olhares se encontram, febris, e mesmo com a língua ocupada, Jongin continua observando-o em adoração genuína.

Ah, meu Deus, ele pensa.

Jongin com certeza já fez isso muitas vezes antes.

Ele é gentil, mas dedicado, e faz coisas com a língua que nunca imaginou nem em suas fantasias mais absurdas.

Os dedos de Kyungsoo passeiam na bochecha dele, traçando a linha da mandíbula, brilhante e salpicada de glitter. A franja do cabelo de Jongin se derrama em seu abdômen, ocultando seu rosto dourado, e ele leva o indicador até os fios iluminados para afastá-los da testa, querendo admirá-lo enquanto Jongin o coloca em sua boca.

Depois move os dedos até a parte de trás da cabeça dele, a mão fechando-se em seus cabelos ao senti-lo umedecendo toda sua extensão com a língua. Ele segura com mais força, ditando o ritmo a seu próprio gosto, e descobre que assim pode controlá-lo. E a ideia de controlar um rebelde como Jongin é muito excitante.

Jongin gosta daquilo, percebe ele. Da firmeza com que segura seus cabelos.

Uma mão dele abandona sua coxa, guiando-se cegamente para abrir o botão e o zíper das próprias calças. Ajoelhado, Jongin escorrega a mão até sua ereção, tocando-se sobre a cueca.

Kyungsoo empina o quadril, deslizando mais fundo na boca dele. Morde os lábios, silenciando os gemidos, mas sua respiração ressoa trêmula e abafada. Seu coração dispara, frenético, tão forte e alto que consegue senti-lo pulsar na garganta.

— Jongin... Ah... — chama ele, puxando seus cabelos com mais força, a cintura projetando-se para cima, de encontro à boca dele. — Se você continuar assim, eu vou...

Kyungsoo atinge o orgasmo vergonhosamente rápido. Quando seu corpo estremece, alguma coisa interior se destrói e se reconstrói. A pessoa reprimida sob as obrigações de príncipe perfeito se vê livre pela primeira vez.

Jongin dura um pouco mais, tombando sobre seu tronco e enterrando a testa em seu pulôver manchado de tinta. Quer esticar a mão e tocá-lo ali, onde ele mais precisa, mas não o alcança. Então apenas envolve seus ombros e pescoço e o abraça com força, assistindo-o se estimular até alcançar o ápice sozinho.

O corpo pesado de Jongin cede sobre o seu, forjado para um encaixe perfeito. Como se, de alguma forma insana, sempre tivesse pertencido ao seu abraço.

Ainda ofegante, Kyungsoo o aperta contra si, as pernas entrelaçadas em seu quadril. Com um suspiro, ele afasta os pensamentos obscuros rondando sua mente. A vergonha e a culpa rastejando em seu estômago. Ele volta a observar os afrescos no teto estrelado. Se olhar para o lustre por tempo suficiente, poderia fingir que a luz ofuscante é um sol.

— Tudo bem? — sussurra Jongin, com a voz arrastada e preguiçosa. Seus dedos deslizam sobre seu braço e Kyungsoo se sente arrepiar, a pele ainda sensível pós-orgasmo.

Ele faz que sim com a cabeça, mas continua encarando o teto.

— Se você não disser nada nos próximos vinte segundos — prossegue Jongin —, vou começar a achar que me odeia.

Finalmente, Kyungsoo abre um sorriso.

— Não te odeio nem um pouco — confidencia ele.

— Ah, não? — Jongin ergue a cabeça para observá-lo e seu queixo desenha cócegas em seu abdômen. — Quanto gosta de mim agora?

Kyungsoo sorri, uma mão delineando os músculos sutis em suas costas nuas e outra enroscada em seu cabelo. Quando responde, vira a cabeça, evitando encará-lo.

— Quero dedicar todos os sonetos de Shakespeare pra você — dita ele, em um tom velado de brincadeira, embora seja a coisa mais genuína que já disse a alguém.

Eles compartilham uma risada abafada e cúmplice. Então Jongin se ergue em seus antebraços e sobe para pressionar um selinho em sua bochecha, depois em sua testa e nos lábios. Eles se beijam, um sobre o outro, e suas cores se misturam. Troncos se tocando e as mãos deslizando aqui e ali, deixando impressões digitais de tinta amarela nas roupas e peles um do outro.

Quando enfim se afasta, o sorriso de Jongin é radiante.

Seus corpos, juntos, adquirem nuances quentes sob as luzes alaranjadas. As peles cintilam, com salpicos luminosos de glitter reluzindo como partículas solares. Amarelos, dourados e brilhantes.

Como se fossem feitos de Sol.



No sábado seguinte, o dia amanhece chuvoso.

Gotas abafadas ressoam no telhado e filetes escorrem pela vidraça da janela como lágrimas prateadas dos céus.

Na sala de convivência da Casa Clermont, Jongin observa as paredes escuras abarrotadas de quadros e relógios. As poltronas e sofás verdes de couro alinhadas ao redor de uma mesa central de madeira escura.

Acima da cornija saliente da lareira, há uma ânfora dourada doada à instituição na época do Rei Song II — um vaso antigo onde Song Woojin e Song Yebin, famosos amantes desafortunados como Romeu e Julieta, costumavam trocar cartas secretas de amor.

Jongin olha para o alto das escadas, esperando a aparição de uma figura familiar.

— Estranho — comenta Baekhyun, debruçando-se sobre a mesa de centro. Seu cotovelo esbarra no tabuleiro e derruba as peças de um jogo de xadrez abandonado. — Kyungsoo não costuma se atrasar.

Minseok ajeita a franja da cabeleira castanho-avermelhada e lança um olhar de esguelha para o rapaz sentado de pernas cruzadas.

— Jongin não deveria ficar aqui muito tempo — diz ele, mas falando diretamente com o Byun, ignorando sua presença. — Vão começar a suspeitar se virem alguém da Casa Windsor visitando a sala de convivência errada.

Baekhyun desfere um peteleco e derruba um cavalo sobre o tabuleiro de xadrez.

— Não se preocupe, as Serpentes não estão por perto. Eu me certifiquei disso antes de marcar essa reunião.

— Quando é que você virou o chefe do grupo? — reclama Minseok, pessoalmente ofendido.

Baekhyun o ignora com um aceno floreado e continua:

— Os irmãos Oh viajaram ontem à noite para um compromisso real em Verona. Eles vão visitar um hospital infantil de câncer, distribuir alguns cavalos de brinquedo e sorrir para as câmeras como se fossem anjos. Enquanto isso, nós tentamos descobrir uma forma de provar que eles são demônios.

— Ainda não sabemos se Jongin encontrou algo útil.

Jongin se apoia em seus antebraços e estica as pernas preguiçosamente. Os papéis escondidos sob seu blazer do uniforme despontam em seu peito.

— Quando Kyungsoo chegar — promete ele, empurrando o documento dobrado para dentro das roupas outra vez. — E eu estou bem aqui, caso ninguém tenha notado. Parem de falar como se eu não estivesse.

— Certo — aquiesce Baekhyun. — Então, nenhum sinal de um traidor até agora?

Jongin levanta uma sobrancelha.

Havia observado os garotos na casa de veraneio da família Oh, mas não percebeu nada suspeito.

— O que é esse Traidor, afinal? Como devo encontrar alguém sem saber exatamente o que estou procurando?

Baekhyun e Minseok se entreolham, avaliando quanto daquilo que sabem vale a pena revelar.

Por fim, é Minseok quem se debruça com os cotovelos na mesa, a cabeça apoiada nos braços de maneira quase inocente.

— Você já deve ter ouvido falar da tragédia do verão passado — sussurra ele, o tom sombrio em sua voz contrastando comicamente com a pose infantil. — Quando Song Jiho morreu, Kyungsoo foi acusado pela morte do príncipe. Não sei dos detalhes, mas acontece que ele só não foi expulso de St. Georg porque alguém depôs como testemunha em favor dele.

Alguns dizem que não foi um acidente, disse Chanyeol na noite da cerimônia de iniciação. Dizem que ele foi assassinado por um dos alunos.

Ele balança a cabeça.

Não, não poderia ser Kyungsoo.

Alguém que alimentava andorinhas no tempo livre e fazia serviços comunitários voluntariamente pelo colégio, não poderia ter assassinado o melhor amigo.

Jongin olha para as escadas novamente, com a sensação de que estão sendo observados. Mas não há sinal de Kyungsoo ou outro aluno no alto dos degraus.

— Podemos descartar o Chanyeol, então — observa Minseok. — Ele ainda não estudava em St. Georg no verão passado.

— Ele não era residente, mas passou as férias aqui.

Jongin chacoalha a cabeça.

— Não, não pode ser ele. Entramos na Tríade juntos. Não tem chance de ele ser o Traidor. — Ele desvia o olhar do rosto de Baekhyun, encontrando um par de olhos felinos de uma coloração castanho-avelã. Não tinha pensado nisso antes, mas... — E você, Minseok?

O rapaz pisca, confuso.

— Hum? O que tem eu?

— Você também é um Kim, e faz parte da Segunda Família tanto quanto eu. Por que não é membro da Tríade?

Ele pigarreia, inflando o peito de modo orgulhoso.

— Bom, eu tenho meus princípios. Não quis...

— Mentira — rebate Baekhyun, franzindo os lábios para conter uma risada. — Minseok não conseguiu decodificar a carta. Não passou nem no primeiro teste.

— Ei! — protesta o outro monitor.

— A burrice às vezes é uma dádiva, meu amigo.

As risadas de Baekhyun e Minseok ecoam na sala de convivência. Até mesmo Jongin deixa escapar um riso soprado, irrefreável, o som sufocando os passos ruidosos que se aproximam acima deles, arrancando gemidos da madeira desgastada dos degraus do dormitório.

Kyungsoo para ao pé da escadaria abraçado a um exemplar de A Fabricação do Rei, de Peter Burke.

— Desculpe. Perdi a noção do tempo.

Baekhyun analisa a capa do livro que ele carrega.

— Estava estudando?

— A Seleção está chegando — explica, dando de ombros. Porém, seus dedos encontram-se manchados de tinta amarela, revelando a verdadeira causa do atraso: estava trabalhando no quadro.

O olhar de Kyungsoo encontra o seu do outro lado do cômodo e Jongin subitamente é tomado por uma onda de calor. Talvez tenha se sentado próximo demais ao fogo crepitando na lareira, ou apenas ainda sinta a euforia do encontro íntimo de ontem à noite.

Como se pressentisse seus pensamentos, Kyungsoo engole em seco e desvia o olhar, nervoso.

Em vez de se sentar ao seu lado, o rapaz opta por sentar-se junto a Minseok no tapete.

Ele o está evitando? De novo?

Ou apenas prefere manter distância em público?

Não o culparia se fosse o caso. Quanto mais se aproximam, mais difícil se torna disfarçar seus sentimentos. Vê-lo já despertara uma faísca em Jongin. Se Kyungsoo lhe direcionasse um sorriso, por menor que fosse, certamente teria incendiado a sala.

— Estamos todos aqui — profere Baekhyun, apontando com a cabeça na direção dos documentos e, na sequência, para a mesa de centro. — Mostre o que encontrou.

Jongin suspira e desdobra os papéis. Kyungsoo empurra as peças de xadrez para ceder espaço ao documento.

— O que é isso? — pergunta ele.

— São registros de venda. — Jongin aponta para os valores exorbitantes no canto direito das folhas. — Vejam. Não parece estranho? Acho que a família Oh desvia dinheiro através da venda de cavalos.

— Bom — comenta Baekhyun, contente. — Isso é bom. Temos alguma coisa.

No entanto, os olhos de Kyungsoo ainda estão fixos na página, lendo e relendo os nomes impressos no canto oposto do papel. Bella, Ginger, Misty, Luna, Star, Princess... Seu rosto escurece sob as sombras do cômodo e seus olhos se arregalam, as sobrancelhas levantando-se em uma expressão de choque.

Kyungsoo parece congelar por um instante, até que ele ergue o olhar para os amigos.

— Não são cavalos — murmura ele, horrorizado. — São pessoas.

— Mulheres, mais precisamente — diz outra voz, grave e esnobe, ressoando distante na sala de convivência.

Os quatro rapazes inclinam a cabeça e olham para cima, tendo o vislumbre fantasmagórico de uma silhueta se desprendendo das sombras em direção à luz de um lustre antigo.

Baekhyun não perde tempo e apanha as folhas com rapidez, escondendo-as no colo.

Junmyeon — grunhe ele, como se o nome não passasse de um insulto. — O que você quer?

O Monitor-Chefe da Casa Windsor não desce as escadas. No uniforme casual do colégio, o broche dourado de monitor e o brasão solar bordado no suéter cintilam como ouro sob as lâmpadas amareladas. Parado no alto da escadaria, ele põe em prática sua maior aptidão: observar as pessoas de cima.

— Sabia que estavam tramando alguma coisa — diz ele, exultante pela descoberta. — Bom, não sejam tímidos. Por que não compartilham comigo o que mais vocês descobriram? Eu ficaria feliz em ajudar.

O Byun faz jus ao título de lorde da Sétima Família e escancara os caninos em uma expressão raivosa, expondo os dentes como o perdigueiro em seu brasão.

— Por que confiaríamos em você?

Junmyeon apoia os braços no corrimão de madeira, o corpo inclinado para a frente. Uma claridade alaranjada dança em seus lábios, onde um sorriso zombeteiro toma forma. Ele ri, e então sussurra lá de cima:

— Porque eu sou o Traidor.

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