Ele é Como Rheya {jikook}

By nicolypachecos

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É o começo do primeiro dia de aula depois das férias de verão quando Jeon Jeongguk sente que o ano letivo de... More

♡ avisos ♡
[ PLAYLISTS ]
1. Ele é como uma Tangerina
2. Ele é como um Gêmeo
3. Ele é como Daphne Blake
4. Ele é como um invisível
5. Ele é como Yoongi
6. Ele é como uma Figura Sagrada
7. Ele é como Us And Them
8. Ele é como uma Criança
9. Ele é como Panqueca de Mirtilo
10. Ele é como uma Maçã do Amor
11. Ele é como Escutar uma Música Boa
12. Ele é como uma Florzinha
13. Ele é como o Sol
14. Ele é como um Filme cheio de cor
15. Ele é como um Gatinho
16. Ele é como uma Cereja
17. Ele é como Daisy
18. Ele é como um Anjinho da guarda
19. Ele é como o Amor Mais Puro
Especial de dia das mães: família de dois
20. Ele é como uma Viola Lilás
21. Ele é como um Sonho
22. Jimin é Como Rheya
23. Ele é como Meu Coração
24. Ele é como o Universo
25. Ele é como as Estrelas
26. Ele é como um Beijo
27. Ele é como um Coelhinho
28. Ele é como Chocolate
Ele é como o Livro físico de "Ele é como Rheya"
29. Ele é como um Presente
30. Ele é como o Amor da minha vida
31. Ele é como meu Porto Seguro
32. Ele é como uma Cenoura
Aviso sobre o livrinho de Ele é Como Rheya
33. Ele é como minha Vida
34. Ele é como um Conforto
36. Ele é como um Arrepio
37. Ele é como meu Paraíso
38. Ele é como uma Confusão
39. Ele é como o Amor

35. Ele é como meu Refúgio

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By nicolypachecos

JUNGKOOK

— Vamos subir e escolher os nossos pijamas? Ou você quer tomar banho primeiro? Você tá com fome? Eu disse que a gente não ia jantar, né, mas se estiver com fome, nós podemos comer!

Desde que ficou certo de que eu vou dormir aqui, Jimin parece mais feliz e afobado do que nunca.

— Claro, vamos sim. E eu não tô com fome não, Jiminnie. Você pode tomar banho primeiro — eu digo, apertando sua mão de volta. Jiminnie e eu ainda estamos na sala, de mãos dadas e, há um segundo atrás, estávamos abraçados e extasiados porque... puxa! Vamos dormir juntos!

Essa vai ser, muito provavelmente, a minha melhor noite de sono.

— Tá bom. — Jimin abre um sorriso tão feliz e tão bonito. Ele faz com que eu me sinta a pessoa mais importante do mundo, puxa. — Eu já vou te mostrar onde fica tudo, porque se você quiser algo enquanto estou dormindo, ou no banho, você pode pegar. A casa é sua também, tá? — ele diz, e vamos até a cozinha juntos. Jimin abre um dos armários embaixo da pia para me dar uma escova de dente fechada. — Eu tinha comprado essa pro Yoon ontem, mas agora é sua — ele diz e eu sorrio, assentindo.

— Obrigado — eu falo.

— Aqui tem água natural e na geladeira tem água gelada — ele fala, me mostrando o filtro de água e, em seguida, abrindo a sua geladeira. — Tem comida aqui também, se quiser fazer um banquete quando eu estiver dormindo, pode fazer.

— Tudo bem — eu digo, rindo baixinho. Jiminnie é um bobo... até parece que eu vou fazer um banquete!

— Vamos escolher os nossos pijamas — ele diz e me puxa para as escadas. Ele dá risadinhas conforme subimos os degraus e, apesar de não saber por que ele está rindo, eu rio também. Só porque ele parece muito feliz, e eu também me sinto assim, e isso tudo me deixa tão, mas tão animado, que eu não consigo segurar o meu riso de felicidade.

Puxa. Nós somos dois bobões, mesmo...

Quando chegamos ao andar de cima, Jimin para de repente e vira para mim. Seu cabelo ruivo está bagunçado e suas bochechas vermelhas quando, sem tirar o sorriso do rosto, ele pergunta:

— Por que você tá rindo?

Sua pergunta me faz rir um pouco mais. Ele fala como se não estivesse rindo também!

— Porque você tá rindo — eu respondo, sem parar de sorrir.

Jiminnie pisca um par de vezes.

— Por que será que eu tô rindo? — ele murmura, duvidoso.

Não me aguento e acabo dando uma risada meio alta — e aí, lembro que a mãe do Jiminnie já foi se deitar e cubro minha boca com a mão.

— Não sei, mas... — eu começo a sussurrar. — Eu meio que ri porque eu me sinto feliz.

Minha fala parece fazer algo com Jiminnie porque, no segundo em que a escuta, sua expressão facial muda. Ele fez aquela carinha que sempre faz quando eu consigo dizer algo com atitude.

Puxa, é tão fofo...

— Acho que esse é o meu caso também — ele diz, e sorri muito. Um segundo depois, nós rimos juntos. É tão bom e íntimo... queria sentir isso para sempre. — Vem. — Jiminnie olha para mim, sem deixar de rir, e sua mão acaricia a minha levemente antes de ele voltar a me puxar.

Entramos em seu quarto e Jiminnie abre o seu guarda-roupas. Com a mesma pressa que ele me mostrou tudo no andar de baixo, Jiminnie coloca em minhas mãos vários pares de pijama, e eu acabo escolhendo um de frio bem simples, mas que está com um cheiro bem gostoso do Jiminnie — para ser sincero, acho que foi só por isso que eu escolhi ele.

— Esse aqui — eu digo, levantando o pijama. Jiminnie, que está agachado em frente a gaveta do seu armário, se ergue.

— Eu usei esse ontem, mas tá limpo... não tem problema? — ele avisa, vendo o que eu escolhi.

Com certeza não é um problema. Na verdade, é o contrário, puxa.

— Não tem — eu digo, sorrindo miúdo. Afinal, não vou falar que escolhi porque está com o cheiro dele. Acho que pode soar meio esquisito.

— Tá bom. — Jimin sorri. — Vou tomar banho bem rapidinho porque quero que dê tempo da gente conversar bastante antes de dormir — ele diz, pegando os demais pijamas para guardá-los. — Eu vou deixar um sabonete e uma toalha pra você em cima da pia, tá? — Jimin fala, aproximando-se de mim e me dando um beijinho na boca.

É tão repentino, e tão natural ao mesmo tempo, que eu só consigo sorrir.

— Tá... — falo, piscando um par de vezes quando ele sorri, se vira e vai em direção ao banheiro do seu quarto. — Ah, eu... vou lá embaixo pegar água, tudo bem? — eu digo.

— Opa! Quer que eu vá com você? — ele pergunta, parando em frente a porta do banheiro para se virar e me olhar.

Sorrio e aceno com a cabeça, negando.

— Não precisa, já sei onde tem — eu falo.

Jiminnie sorri e concorda com a cabeça.

— Qualquer coisa me chama — ele diz, e acena de um jeito fofo, começando a fechar a porta, só a fechando completamente quando eu aceno de volta, me despedindo momentaneamente dele.

Puxa, ele é tão... tão fofo...

Com um sorriso no rosto, eu deixo o pijama cheiroso em cima da cama do Jiminnie e vou para o andar de baixo na pontinha dos pés — afinal, não quero incomodar a senhorita Park.

Assim que estou no andar de baixo, vou até a geladeira, abrindo-a para pegar a garrafa de água gelada. Coloco um pouco no copo que peguei no escorredor, e quase derrubo quando vejo o Menino deitado em cima da pia — eu não tinha notado ele antes, puxa! Que susto...

— Onde suas patas foram parar? — eu pergunto, como se ele fosse responder. — Tá parecendo uma galinha.

Menino abre os olhos por alguns segundos, e logo os fecha de novo, como se minha pergunta fosse idiota demais — até para ele, que é um gato.

Rindo sozinho, bebo minha água e guardo a garrafa quando termino. Quando ligo a torneira para lavar o copo, Menino se levanta e vem correndo para perto.

— Ué — eu murmuro, vendo ele beber a água direto da torneira. Pfft. — Você é meio estranho...

Faço carinho em Menino e espero ele terminar de beber água — o que demora, ele é um gato hidratado — para lavar o copo. No momento que estou indo buscar o pano de prato para secá-lo, tomo um susto tão grande com um barulho vindo da sala que até o meu cabelo arrepia.

A casa estava tão silenciosa que eu, assustado, demoro alguns segundos para reconhecer o barulho.

Quando toca de novo, percebo que é, na verdade, o telefone da sala tocando. Tocando bem alto... meu Deus do céu, puxa.

— Será que eu atendo? — sussurro, sozinho, mas no segundo que ele toca de novo, eu percebo que devo atender. Esse telefone vai acordar a senhorita Leonor e eu não quero que isso aconteça de jeito nenhum.

Deixo o pano de prato e o copo em cima da pia e vou em passos apressados até a mesinha do telefone. Está muito tarde... quem será que tá ligando a essa hora? Tomara que não tenha acontecido nada de ruim.

Receoso, tiro o telefone do gancho. O coloco contra o meu ouvido, e digo:

— Alô...?

Por um segundo, eu penso ter escutado alguma coisa. Algo como... uma risada. Ou é uma respiração muito forte? Parece familiar, mas eu não sei de onde é.

É o Jungkook, não é?

Espera...

Não.

Não pode ser.

— E-eu... Ju...? — começo, mas sou interrompido.

Você é mais nojento do que eu esperava, Jungkook.

Quando ela responde, eu tenho certeza. Agora eu reconheço. É ela. É a minha... irmã.

É a Juna.

Sinto meu coração apertar com suas palavras acusatórias e repentinas. Tão repentinas que meu coração mal sabe como reagir, e sem que eu consiga controlar, uma angústia toma meu peito, deixando-me ansioso.

Puxa... como eu odeio ouvir a voz da Juna. Odeio como ela descobriu o número da casa do Jiminnie só para ligar e dizer coisas ruins. Odeio como ela me faz sentir pequeno e mal sem nenhum motivo.

Eu respiro fundo e balanço a cabeça para me lembrar de ser forte. Está tudo bem. Eu posso só desligar, ela não está aqui, nem vai estar. Eu vou desligar, subir para ficar com o Jiminnie e a Juna não vai estragar essa noite, não vai.

Não vai.

— Juna. Minha mãe... alguém aí em casa quer falar comigo? Porque s-se não... — Eu mordo o lábio, frustrado por ter gaguejado. — Eu vou desligar. Eu tenho que ir dormir, então...

Você consegue imaginar como a mãe e o pai vão se sentir quando descobrirem que adotaram uma bicha nojenta? — ela fala.

Apenas fala.

Sinto minha cabeça pesar.

O quê...

Não. Não, não, não. Eu tenho que desligar. Eu tenho que desligar. Ela não... eu não quero. Ela não... eu não...

— E-eu vou, vou... — eu falo, mais alto do que planejava, e minhas mãos já estão tremendo. — V-vou desli-

— "Afinal, foi uma fita que me aproximou de você. Foi uma fita que me fez perceber que eu estava apaixonado por você" — ela diz. Meu corpo inteiro esfria. — "E foi uma fita que me fez acreditar que almas gêmeas realmente existem. Eu realmente acredito que você é a minha, Jungkook... só isso explicaria o que eu sinto quando estou com você."

Não.

Não, não, não, não.

— O-o que você... — eu começo, mas não consigo terminar dessa vez. Meus olhos estão ardendo, e eu nem sei quando eles começaram a se encher de lágrimas.

Estou em pânico. Completo pânico. Porque Juna está lendo o que Jimin escreveu para mim no meu aniversário. Ela leu, então ela, ela...

Que nojo. Meu Deus, que nojo. Será que você poderia ser um erro maior do que já é?! Envergonhando a minha mãe e o meu pai que te tiraram da imundice e te deram uma casa sendo assim. Você devia se envergonhar de ser assim. Você é um lixo. É pior do que eu esperava — ela não para de falar. Não para de falar. Eu estou chorando. Estou chorando muito. — Tomara que eles deem um jeito de se livrar de você agora.

— Eles não, e-eles, você não vai... — Eu soluço.

Ah, não. Eu nem preciso contar pra eles. É só dar um tempo pra você aparecer com essa doença de bicha. É só dar um tempo pra eles descobrirem. — Não é verdade. Não é verdade, não é verdade. — O pior de tudo é como você enganou eles todo esse tempo. Agora eles vão ver a verdade, vão ver quem você realmente é-

— Eu não enganei ninguém! Para de dizer essas coisas! É mentira! — eu quase grito, e não estou pensando direito porque meu corpo inteiro está tremendo, e eu estou me sentindo pesado com todas as coisas que ela está falando. — VOCÊ ESTÁ MENTINDO!

Dessa vez, eu grito. Meu peito sobe e desce fortemente, e parece que estou sufocando. Parece que o ar de todo o mundo está acabando porque eu não consigo respirá-lo, meu Deus, eu não consigo.

Juna não aparece afetada com nada do que ela está falando. Nada. Porque, um segundo depois, ela ri.

Ela riu.

Vamos ver se eu estou mesmo.

— Para de mexer nas minhas coisas! Para de... — Eu me silencio ao perceber que ela desligou. Só... desligou.

Eu demoro um tempo para me mexer, ou fazer algo. Minha cabeça está uma bagunça, e por longos segundos, eu não sei o que pensar. Não sei o que sentir. Não sei o que fazer.

As lágrimas ainda descem livres pelo meu rosto, e eu não consigo pensar direito. Não consigo pensar em nada, na verdade. Só consigo sentir o peso gigante no meu peito, e de cara reconheço o sentimento cortante de culpa. A culpa que eu não deveria sentir, mas que Juna sempre faz com que eu sinta sem esforço.

A culpa que sinto com apenas a ideia de decepcionar os meus pais.

Decepcionar...

Você devia se envergonhar de ser assim.

Mas o que eu...

Você é um lixo.

Eu não, não sou...

É pior do que eu esperava.

Como ela... por quê...?

Eu coloco o telefone no gancho. E apesar de saber que não deveria dar ouvidos a ela, tudo que eu sinto agora são as lágrimas descendo sem parar pelo meu rosto, meu coração batendo de desespero, meu corpo tremendo, e o pior de tudo...

Culpa.

JIMIN

— Aqui, porque eu acho que vai dar pra ele sentir bem — murmuro, sozinho, enquanto passo hidratante atrás da orelha.

Sinto que vou explodir de felicidade.

Ainda não posso acreditar que sou tão sortudo! Na boa, eu vou dormir com meu namorado! Meu Deus, eu vou poder abraçar e cheirar ele a noite toda! Hoje é, definitivamente, o melhor dia da minha vida!

Aposto que o universo decidiu me dar uma palinha do meu futuro — afinal, quando a gente se casar, vai ser assim todas as noites!

Depois de mexer no meu cabelo mais uma vez, e conferir se estou completamente cheiroso, eu ajeito o banheiro mais uma vez antes de abrir a porta.

— Jeongguk, eu deixei... — eu começo, mas logo paro.

Jeongguk não está aqui.

Pisco um par de vezes. Ele ainda não acabou de beber água? Não, não tem como ele estar demorando tanto para beber água. Eu demorei um pouco no banho. Será que ele foi ao banheiro lá de baixo?

— Será que a tranca caiu de novo e ele ficou preso? — eu me pergunto, indo até a porta do meu quarto para ir atrás dele. Mas aí, penso um pouco e paro antes de abri-la. — Ou será que ele tá fazendo... cocô?

Vixi.

Se ele estiver fazendo cocô, não vai querer que eu vá lá bater na porta do banheiro. Aposto que Jungkookie tem vergonha dessas coisas, até porque ele tem vergonha de quase tudo. Acho que é melhor eu esperar ele subir, mesmo...

Mas... se ele estiver preso no banheiro, aposto que vai ficar com vergonha de pedir ajuda também, provavelmente com medo de acordar minha mãe.

Ai, meu Deus. O que eu faço?

— Já sei... vou esperar um minuto, e se ele não der sinal de vida, eu vou lá — murmuro sozinho, andando até a minha cama. Me sento.

Fico olhando fixamente para o relógio na minha parede, esperando o minuto passar. Quando falta dez segundos, eu me preparo para colocar os meus pés no chão mais uma vez e ir atrás do meu amor.

Mas a porta do meu quarto abre.

Não é mais necessário descer. Jeongguk está aqui.

Eu sorrio.

— Guk, você demorou, eu até ia... — começo, mas, antes que eu termine de dizer, algo chama a minha atenção e faz o meu sorriso sumir.

É Jeongguk. Ou melhor: é a forma como Jeongguk está agora.

Por que ele parece tão cabisbaixo?

— Guk, o quê... — eu começo, e me levanto de vez da cama.

Antes que eu possa me apressar para ir até ele e perguntar o que aconteceu, Jeongguk se move na direção do banheiro, tão rápido que eu mal consigo acompanhar. E antes que eu possa dizer algo, ele entra e fecha a porta com tudo, sem olhar para mim, sem me responder.

Meu Deus. O que aconteceu?

— Jungkook... — Pisco um par de vezes, meio sem reação. Foi tão repentino. —  Jungkook, você... você esqueceu o pijama — eu falo, me aproximando da porta do banheiro.

Ele não responde, e com isso, minha preocupação apenas cresce.

— Jungkook... o que foi? O que aconteceu? Você tá bem? — Franzo o cenho, encostando-me na porta do banheiro. — Você precisa de alguma coisa? Você...

N-não. — Eu escuto ele dizer. Céus. Por que sua voz soa tão quebrada e rouca? — Des-desculpa.

Ele está chorando?

— Jungkook — eu chamo, e meu rosto inteiro contorce de preocupação. Meu Deus. Por quê? — Desculpa por quê? O que foi?

Eu só... — ele soluça. — Não é na-nada, eu vou, eu só...

— É claro que é algo, você não tá bem — eu digo. — Meu amor, você até esqueceu do pijama. O que houve?

Eu só... — Ele se silencia. — Desculpa...

Meu Deus.

Meu peito se enche de angústia.

— Não precisa se desculpar — eu digo, tentando deixar minha voz menos desesperada. Eu não sei o que está acontecendo, mas com certeza não vou ajudar me desesperando.

Eu respiro fundo. Meu coração está acelerado, e é difícil segurar a vontade de quebrar a porta no meio para vê-lo, abraçá-lo, e fazê-lo se sentir amado. Mas eu tento não colocar minha angústia acima do que ele está sentindo. Porque isso não é sobre o meu desespero... isso é sobre ele. É sobre Jeongguk e sua tristeza...

Por isso, eu respiro. Respiro bem fundo. Mais de uma vez. E quando sinto que me estou relativamente mais calmo, eu digo:

— Guk, eu entendo se você precisar ficar um pouco sozinho. E se não quiser falar sobre isso também. Se você quiser, eu posso dormir com a minha mãe, e você pode ficar com a minha cama... você pode me dizer, tudo bem? Eu só quero que você se sinta bem — eu digo, alto o suficiente para ele escutar, mas sem alterar o meu tom de voz calmo. — Eu vou deixar o pijama aqui na porta do banheiro, e vou lá embaixo ver televisão... se você quiser que eu fique aqui com você, é só me chamar — eu digo, me virando para ir até a cama e pegar o pijama.

No momento que estou com eles em mãos, escuto a porta do banheiro abrir.

Me viro calmamente, e olho para ele. Olho para Jeongguk.

Ele colocou só um pouco do rosto para fora, e ainda está cabisbaixo, mas, agora, eu posso vê-lo. A visão faz meu coração se partir em milhares de pedacinhos.

Seu rosto está todo vermelho. Sua boca está curvada para baixo, como se ele estivesse segurando o choro com toda a sua força. E dói. Dói muito ver ele assim.

Meus olhos enchem de lágrimas no momento que encontram a visível dor de Jeongguk. Preciso me segurar muito para não começar a chorar também. Eu não quero que ele se preocupe comigo, mas é difícil não me sentir afetado pela sua chateação. Então, aproveito que ele não está olhando em meus olhos para secá-los e inspirar antes de ir, com muita calma, em sua direção.

Sem invadir seu espaço, estendo o pijama em sua direção. Jeongguk mal se move quando o pega, e só faz com que eu queira chorar mais quando abraça as peças de roupa, parecendo tão frágil que dói.

— Não... — ele murmura, tão baixinho que eu mal escuto. — Não precisa ir lá embaixo...

Eu presto atenção em suas palavras. Quero perguntar se ele tem certeza, se ele ficar sozinho só durante o tempo do banho é o suficiente, se ele precisa de alguma coisa, mas... não pergunto. Não quero fazer ele se sentir sufocado.

Então, apenas aceito.

— Tudo bem — eu digo. — Se você precisar de alguma coisa, pode me chamar. Eu deixei o chuveiro no mais quente, mas pode mudar se quiser — eu falo, e não consigo me segurar quando, de coração apertado, pergunto: — Você quer um abraço?

Jeongguk não diz nada por alguns segundos. Quando estou prestes a dizer que está tudo bem se ele não quiser, ele levanta os olhos na minha direção e, por um momento, faz contato visual.

Seus cílios estão úmidos, assim como seus olhos redondos. Um segundo depois, ele fica cabisbaixo de novo. Mordendo o lábio, Jungkookie assente com a cabeça.

Ele quer. Ele quer um abraço.

Não espero mais. O puxo pelas costas e o abraço com força, pressionando os meus dedos em seus cabelos, dando-lhe todo carinho que tenho. Quero que ele sinta, nesse abraço, que sempre estarei aqui por ele. Que ele nunca vai ficar sozinho.

E que, jamais, precisa se desculpar por estar triste.

— Vai ficar tudo bem, Guk — eu murmuro, com bastante carinho. — Vai ficar tudo bem, eu prometo...

Após minhas palavras, Jeongguk se esconde ainda mais em meu abraço, e posso sentir quando ele funga fortemente contra o meu ombro. Ele não me abraça de volta porque ainda está abraçando o pijama, então eu apenas o seguro em meus braços e garanto que ele sinta como eu sempre vou estar aqui por ele. Jeongguk sempre poderá voltar para os meus braços. Ele sempre pertencerá ao meu abraço e meu amor.

Esfregando a testa em meu ombro, Jeongguk suspira e soluça baixinho, tremendo. Sinto seus olhos molhados se esconderem em meu pescoço, e não ouso parar de fazer carinho em seu cabelo.

— Eu tô aqui — eu sussurro, descendo os dedos pela sua nuca. Jeongguk choraminga. — Eu sempre vou estar aqui...

Pelos próximos segundos, eu apenas abraço, acarinho e sussurro palavras reconfortantes para Jungkook. Tenho que me segurar para não deixar minha voz tremer, nem os meus olhos lacrimejarem, e é bem difícil. Mas mantenho em mente que o mais importante agora é Jungkook. Talvez ele se sinta ainda pior se me ver chorando... mesmo que eu esteja chorando por o amar demais.

Depois de um tempo, nos afastamos. Eu subo minhas mãos para o rosto de Jeonggukie por um segundo, apenas para me aproximar e, na ponta dos pés, dar um beijo em sua testa quentinha.

— Vou te esperar na cama, tá bom? — murmuro, olhando-o com cuidado.

Jeongguk balança a cabeça repetidamente, concordando. Só então, eu me separo, me afastando para que ele possa fechar a porta do banheiro. Dou a ele o espaço que ele precisa.

No momento que fico sozinho no quarto, solto um longo suspiro trêmulo. Coloco a mão sobre o meu peito e, apertando, sinto que esse abraço também me aliviou, mesmo que só um pouquinho. Ainda quero chorar, mas vou me segurar. Preciso me segurar...

Eu apago a luz do quarto, acendo o abajur, e caminho pelo quarto certo de que preciso me distrair. Por isso, vou até a minha escrivaninha, à procura da minha fita favorita. A fita 13.

Me sento na minha cama e pego na mesa de cabeceira o walkman que ainda está aqui. Tiro a fita de aniversário, coloco a fita 13, e dou play um segundo antes de pôr meus fones.

Quando a primeira música toca, eu respiro fundo, e tento não pensar no rosto triste de Jeongguk. Jimin, não chore, Jimin... não chore, não chore, pense em gatos, gatos felizes, gatos usando chapéus de aniversário...

Fico um tempo nessa "meditação", e algumas músicas passam. Depois de uns minutos, me deito na cama e espero ansiosamente meu amor sair do banho.

Quando Us and Them está chegando ao final, a porta do banheiro se abre e Jeongguk sai por ela.

Eu me ajeito na cama, e olho para ele com muita atenção. Seu rosto parece mais corado do que antes — provavelmente por causa da água quente — e o meu pijama está um pouco largo nele — o que me faz ficar meio bobo de amor, mas a situação não me deixa aproveitar completamente — e ele fica um pouco sem jeito quando está completamente fora do banheiro. Ele parece mais calmo, mas também muito chateado e choroso, e isso é visível em toda a sua postura encolhida e reclusa.

Me aproximo da beira da cama e, com um sorriso calmo, dou leves batidinhas no colchão, bem ao meu lado. Um pouco sem jeito, e sem fazer contato visual, Jeonggukie vem até a cama, com as mãos na cintura de um jeitinho meio... peculiar...

É quando eu percebo que ele tá segurando a calça do pijama para ela não cair.

Pfft... a calça tá caindo? — eu pergunto, dando um sorriso.

Jungkook assente com a cabeça, esboçando um sorriso bem pequenininho. Isso acalma o meu coração por um momento.

— Acho que eu tenho um alfinete por aqui. — Eu engatinho até o canto da cama, e me debruço para alcançar a gaveta da mesinha de cabeceira. Fuxico um pouco dentro dela e encontro o alfinete. — Minha mãe é cheia dos alfinetes, e fica deixando eles pela casa... diz ela que essa foi a melhor invenção do ser-humano.

Volto para perto dele e, apertando a calça, encaixo o alfinete. Jungkook continua sem dizer nada, mas parece escutar tudo que eu digo, porque me fita com toda atenção.

Tirando as mãos do seu pijama, me ajeito na cama e me encosto na parede, descansando as costas. Jeonggukie faz o mesmo, subindo na cama, ficando pertinho de mim.

Aceitamos o silêncio pelos próximos segundos.

Até que eu me viro para ele.

— Guk — eu murmuro. Guk não me olha, mas demonstra que escutou com um aceno. — Você quer conversar sobre o que aconteceu?

Jeongguk não responde de primeira. Ele se mantém cabisbaixo, e parece pensar... pensar muito. Estou com tanta saudade da voz dele e dos seus olhos agora que parece que ele não fala e não me olha há anos. E eu sei que isso soa muito dramático para a situação, mas é diferente demais ver o meu amor tão retraído assim.

O que de tão ruim pode ter acontecido enquanto eu estava no banho?

— Você... — ele sussurra. Sua voz está rouca e quebrada e parece que ele vai voltar a chorar a qualquer momento. — Você vai ficar com pena de mim...

Eu franzo o cenho e imediatamente nego com a cabeça.

— Não vou... não vou mesmo — digo. — Eu posso me sentir triste com você, mas não vou sentir pena.

Vejo a boca de Jeonggukie tremer e ele encolhe as pernas na cama. Ele junta as mãos em cima do próprio colo e embola os seus dedos uns nos outros, mexendo-os de forma nervosa. Sua inquietude mexe comigo e me deixa tenso junto dele.

— P-promete...? — ele pergunta, com a voz trêmula.

Eu engulo em seco e confirmo com a cabeça, assegurando:

— Prometo.

Jeongguk suspira com pesar. Eu observo ele olhar para as próprias mãos, para o colchão, para o próprio colo, e noto quando ele suspira fortemente, precisando abrir os lábios para puxar o ar, como se respirar fosse difícil demais. Assisto como sua boca treme e entorta, como se ele não fosse aguentar a dor que o assombra.

Dói.

— Eu, eu... — ele diz. Lágrimas enchem os seus olhos. — É que, é que... eu me sinto tão culpado, e, e, e eu...

Jeongguk soluça e as lágrimas deslizam pelas suas bochechas. Ele leva as mãos até o próprio rosto e, no momento que o cobre com elas, parece desabar, porque seu choro se torna audível.

Meus olhos ardem, e dessa vez sinto que não vou conseguir segurar minhas lágrimas. Eu levo minhas mãos, repentinamente trêmulas, até os seus ombros, e faço carinho como posso. Estou respirando com força, e me sinto muito... mal. Muito triste, e muito perdido, porque uma das pessoas que eu mais amo está desabando na minha frente e eu não posso fazer nada além de estar ao seu lado.

Eu não posso tirar essa dor dele, por mais que eu queira tanto, tanto, tanto...

— Ei, meu amor... — eu chamo e continuo fazendo carinho nele. — Não precisa dizer se não quiser, tudo bem? Não, não precisa... — gaguejo e, com as mãos ocupadas, não posso evitar a lágrima que desce pelo meu rosto.

Eu não aguento ver ele assim... o meu amorzinho...

— Eu so-ou... — Jungkook soluça e sua voz é abafada pelas suas mãos. — Ji-Jimin, eu sou...

Eu franzo o cenho e escuto com atenção. Olho para ele e tento entender o que ele está querendo me dizer.

É quando ele se abre:

— Eu sou adotado.

Ele fala.

Oh.

Apesar da revelação me surpreender, o sentimento sobressalente é de confusão. Afinal, Jeongguk está assim porque se sente culpado. Ele se sente culpado por ser adotado? Por que ele se sentira assim? Eu não consigo entender...

— Tá bem — eu digo, porque o que menos quero é fazer grande caso disso. Eu não quero que ele se sinta estranho ou diferente por causa da minha reação. — Mas você sabe que isso não é um problema, e que você não precisa se sentir culpado, não é? — eu digo, e vejo ele negar com a cabeça repetidas vezes. — Eu nunca sentiria pena porque isso não é motivo de pena... isso não é um problema, nunca vai ser.

Jeongguk continua negando com a cabeça e, de repente, encolhe mais as pernas. Ele tira as mãos do rosto para escondê-lo em seus joelhos, se abraçando e virando a cabeça para o lado oposto ao meu.

Agora, não consigo ver nada além de sua nuca que eu tanto amo.

— Eu sou adotado e a minha irmã me, me odeia por isso, ela sempre me odiou... — ele diz, e sua voz está tão embargada que é quase difícil de entender. — Ela diz que... q-que eu sou uma decepção para eles, e que eu deveria ser grato a eles, e isso sempre me aterrorizou tanto, que, que sempre que erro, sinto tanto, t-tanto medo deles se arrependerem de terem me adotado, que eu não consigo, não consigo n-nem... — Ele para, fungando. — À-às vezes sinto tanto medo que não consigo respirar...

Eu franzo o cenho, e apesar das lágrimas estarem descendo pelo meu rosto sem permissão, eu não vacilo quando falo:

— Sua irmã não sabe de nada! Você não precisa sentir que deve algo aos seus pais porque... poxa, eles te adotarem não foi um favor que eles te fizeram! Você não deve nada a ninguém! Eles são seus pais, assim como são os pais dela, você ser adotado não muda nenhuma dessas coisas — eu falo. — Seus pais já te fizeram sentir assim?

— N-não, mas ela fala tanto, tanto isso... q-que às vezes eu acho que pode ser verdade...

— Não é. — Que raiva! Se eu pudesse, enviaria Juna para o outro lado do mundo, para que ela nunca mais possa fazer Jungkook se sentir assim. — Você precisa contar pros seus pais que ela te diz essas coisas! Ela não pode fazer isso com você, Guk, não é justo, ninguém tem o direito de te fazer sentir assim!

Jeongguk balança a cabeça, negando com muita sutileza.

— E-eles não sabem.

Eu pisco um par de vezes, confuso.

— Não sabem do quê?

Vejo Guk intensificar o aperto no abraço que está dando em seus joelhos.

— Não sabem que eu sei que eu sou adotado...

Eu o olho. Preciso de alguns segundos para entender o que ele acabou de dizer, e mais alguns para pensar no que isso significa. Quando ligo todos os pontos, a angústia que me toma é tão pesada que parece empurrar o meu coração para o meu estômago. É uma sensação horrível.

— Não acredito... — eu digo. — Se eles não te contaram, você descobriu...

— A Juna — ele diz o que eu mais temia escutar. — Em um dos meus aniversários, ela me mostrou tudo que compro-provava... e me contou que eu s-sou adotado, e disse que se eu contasse pros meus pais que eu sei, eles não iam me querer m-mais, e eu sei que não é verdade, m-mas nem consigo pensar em di-dizer que eu sei. E depois disso, ela começou a dizer que eu ia ser abandonado e devolvido...

Não.

Não, não, não. Eu não posso acreditar. Eu não consigo acreditar.

— Eu, não... como? — murmuro, porque estou arrasado com tudo que estou escutando, porque, meu Deus.

Como ela pôde dizer isso para Jeongguk?

Como ela pôde contar algo com essa importância para Jeongguk, apenas para aterrorizá-lo?

— D-desde então, eu sempre quis ser perfeito... m-mas, meus pais... eles me ajudaram a ficar mais calmo com o tempo, e eu não... não me sinto mais tão pressionado, porque vejo que a Juna só mente. Ela mente para me magoar, e... e eu tento não me importar mais... e meio que consigo, só que... — a cada palavra que ele diz, sua voz fica mais quebrada e trêmula. É como se ele não fosse capaz de terminar sem ficar completamente desolado. — M-mas hoje ela disse que... que eles iam ficar com nojo... porque sou... — Ele soluça tão pesadamente que seu corpo treme e dá um solavanco. — Porque sou, porque sou... — Ele se aperta. — Porque sou uma bicha... no-nojenta...

Uma... um...

— Por que... por que ela...?

— Ela encontrou nossas coisas, e ela... ela disse que estou enganando eles, e que eles vão se arrepender de terem me adotado p-por isso... — ele fala. — Eu não, n-não... não consigo...

Não...

Não, não, não.

Esse é o meu limite.

Eu mal vejo quando meu corpo se move e eu, sem pensar duas vezes, puxo Jeongguk para mim. O abraço e quando ele estica as pernas para me abraçar de volta como se precisasse disso tanto quanto eu, o aperto mais. E eu nem consigo terminar de recebê-lo em meus braços quando, sem hesitar, começo a dizer:

— Isso não é verdade, não deixa ela te fazer acreditar nisso! — eu falo, apertando ele com cada vez mais força. Minha respiração treme e Jeongguk me abraça com força. — Meu amor, por favor... o que ela diz não é verdade. Não é!

— M-mas e se...

— Não é! — eu digo. Me afasto dele para segurar os seus ombros e, no escuro do quarto, só consigo ver seus olhos marejados por causa da luz do abajur. Mesmo assim, os fito intensamente. — Guk, nada que a sua irmã diz é verdade... você sabe. Ela só sabe falar besteira, ela nunca falou nada que preste. Por que agora seria diferente?

Jeongguk sustenta o meu olhar, e parece pensar de verdade na minha pergunta.

— P-porque... — ele trava. Algo dentro dele ainda o puxa para as piores suposições. — Porque... e se... e se isso for diferente? E se isso fazer eles não me amarem ma-mais?

— Isso nunca vai acontecer porque não é diferente — eu falo, porque não é. Eu não posso acreditar que é. Não posso. Eu não vou aceitar. — Por que os seus pais parariam de te amar porque você está apaixonado e feliz?

— P-porque é diferente, e...

— Quando é amor, é amor — eu digo. Jeongguk está me olhando com atenção. — Não faz diferença se é diferente, Guk... é sempre diferente para todo mundo. E eu sei, e você sabe que os seus pais te amam e sempre vão te proteger. Sempre. E a Juna não pode fazer você acreditar no contrário... ela não merece conseguir isso. Ela não sabe nada sobre o amor. — Balanço a cabeça. — Ela não sabe.

Jungkook fica em silêncio, apenas me olhando, e estou tão afobado, bravo, triste, e perplexo, que não consigo segurar minhas palavras — ou eu mesmo, em geral. Acho que nunca me senti tão frustrado quanto me senti ouvindo tudo que Jeongguk tem que passar com a sua irmã. Eu costumo dizer que não odeio ninguém, mas eu com certeza a odeio.

Eu sinto ódio pela Juna.

E eu espero que, um dia, ela descubra o irmão incrível que ela tem e o ame da maneira certa, mesmo não merecendo amar alguém tão bom como ele.

Jeongguk continua me olhando e parece surpreso, ao mesmo tempo que parece estar lentamente se acalmando.

Quando percebo isso, me afasto com muita delicadeza, apenas para ir até o banheiro. Lavo e seco o meu rosto na pia, pego uma caixa de lenços e volto bem rápido para Jungkook.

— Aqui... — eu digo, entregando a caixa de lencinhos. Jeonggukie a segura com todo cuidado. — Tem água na mesa de cabeceira também. Você quer beber um pouco?

Ele assente, bem lento. Pego e entrego a água para o meu amor.

— Você não quer também...? — ele pergunta, segurando o copo cheio, e ainda soa amuado.

— Eu trouxe dois copos, vou beber só um golinho do outro depois — falo. Então, tento aliviar o clima: — É que minha bexiga é muito pequena e eu não quero sair da cama essa noite por nada — eu digo, sorrindo de lado. Jeongguk ri e é lindo de ver.

Me aconchego ao seu lado e observo quando ele começa a beber a água calmamente. Seu peito ainda está tremendo, mas ele parece mais presente agora. Parece mais ele, de alguma forma. Isso me alivia muito.

Quando termina de beber a água, Jungkook pisca um par de vezes, olhando para o nada. E então, dá um suspiro pesado.

— Puxa... — murmura.

"Puxa"...

Meu coração esquenta.

— Tá tudo bem — eu falo, erguendo minha mão. Faço carinho em suas costas. — Aqui tá muito pesado? — pergunto, movendo minha outra mão para o seu peito esquerdo. Jungkook assente com a cabeça, fungando. — Quer deitar?

Antes de responder, ele me olha. Com uma expressão chateada, Guk abaixa a cabeça.

— Me desculpa — ele diz, muito de repente. — Eu não queria... não queria que a nossa noite juntos fosse assim. — Ele suspira com pesar.

Eu nego com a cabeça e intensifico o carinho em suas costas.

— Você não precisa se desculpar por nada — eu falo. — Não esquece que eu te amo. Te amo triste e feliz. Só te amo...

Jeongguk funga mais uma vez, e parece que seus olhos se enchem de lágrimas, porque ele os coça rapidamente.

— Eu... — ele murmura, e parece tão sensível. Eu só quero protegê-lo de todos esses sentimentos ruins. — Eu acho que quero me deitar...

Eu sorrio. Pego o copo na mão dele, e deixo na mesinha de cabeceira de novo. Então, levanto o edredom que cobre a cama, e me aconchego.

Jeongguk, que está terminando de assoar seu nariz, se levanta e vai até o banheiro com os lencinhos sujos em mãos. Escuto o barulho da pia e depois de um tempinho, ele volta para perto da cama.

Com um sorriso no rosto, levanto a coberta e dou tapinhas no espaço do meu lado, dizendo:

— Vem cá...

Jeongguk me olha e parece um pouco tímido quando sobe na cama. Dou espaço para ele no colchão chegando mais para trás e, assim que ele está deitado, o cubro com o cobertor.

— Pronto — eu murmuro, cobrindo seu peito com cuidado. Depois, aconchego minha mão ali. — Está bom assim?

— Sim, bastante... — ele diz, bem baixinho. Tão fofo.

Guk está deitado com a barriga para cima, olhando para o teto serenamente. Posso observar, daqui, seu rosto bem de perto e ver os resquícios da sua crise de choro. Vejo em suas bochechas que continuam rubras, no nariz que parece ainda mais redondo, e nas bolsinhas rosadas sob seus olhos. É de partir o coração...

Continuo o observando com carinho e não sei bem o que dizer. Na verdade, não sei nem se deveria dizer algo agora. Sinto que Jeongguk precisa de um pouco de tempo para processar e entender o que aconteceu, e apesar de querer vê-lo completamente bem, sei que não posso fazer nada para que isso aconteça agora. Só posso esperá-lo sentir todos esses sentimentos. Acho que só assim ele vai se sentir melhor.

— Eu... — ele sussurra, de repente. Meus olhos estão perdidos em um ponto do seu pescoço e, no momento que escuto a sua voz, os subo para o seu rosto novamente. — Eu... obrigado. O que você disse, e como disse... me fez parar de chorar, e... — Ele funga. — E isso foi bom... na verdade, foi bom finalmente poder contar isso pra alguém.

Eu pisco um par de vezes, escutando com atenção.

— Contar sobre o que sua irmã faz? — pergunto, curioso.

Jeongguk nega suavemente com a cabeça, sem me olhar.

— Sobre... eu ser adotado...

Sua fala me pega de surpresa. E muito.

— Eu... você nunca contou isso pra ninguém? — eu pergunto, sentindo meu coração se agitar.

Ao mesmo tempo que me sinto feliz por ser o primeiro a ficar sabendo — o que é sempre especial —, eu também me sinto triste ao pensar que Jungkook nunca pôde desabafar sobre isso com alguém antes.  É muita coisa para guardar... não é justo.

— Não — ele confirma, umedecendo os lábios. — Sempre senti vergonha... tenho medo de sentirem pena de mim — ele fala e então, finalmente vira o rosto para mim. — Obrigado por... não me tratar diferente por causa disso. — Seus olhos piscam lentamente. — O jeito que você agiu... me fez sentir que não é nada demais. E isso foi muito bom...

Eu o olho com amor, e nego suavemente com a cabeça.

— Não tem que agradecer. — Sorrio um pouquinho. — Obrigado por confiar em mim... você pode sempre me contar tudo que te magoa. Não quero que guarde essas coisas para você. Faz muito mal.

— Eu... normalmente, quando coisas assim acontecem, eu só... só choro até me acalmar — ele diz, baixinho, e está olhando para mim, mas não nos olhos. — E demora muito, mas... quando comecei a falar com você, parece... puxa, parece que foi mais fácil e eu consegui parar.

Eu dou um sorriso pequeno e minha mão, que ainda está pousada em seu peito, sobe até o seu rosto. Toco e acaricio, com muito cuidado, sua bochecha quente e macia, tentando demonstrar todo amor que sinto através dos meus dedos e afagos.

— Quando falamos o que sentimos, meio que colocamos pra fora o que tem de ruim dentro da gente... e isso faz bem, não é? — digo. Jeongguk volta a olhar nos meus olhos. — Por isso que eu quero que você saiba que sempre pode desabafar comigo, porque nunca vou te julgar ou sentir pena. Eu sempre vou escutar o que você tem a dizer. Assim, nada de ruim que você carrega vai precisar ficar só dentro de você.

Jeongguk respira fundo e quando meu polegar acaricia a pontinha do seu nariz, ele fecha os olhos com cuidado.

— Mas aí... — Abre os olhos. — Mas aí não vai ficar dentro de você? Eu não... puxa vida, eu não quero que você fique se sentindo mal — ele sussurra. E pergunta de uma forma tão genuína que eu sinto que ele realmente sente medo da possibilidade.

Eu sorrio, erguendo e juntando minhas sobrancelhas, porque sinto, na preocupação de Jeongguk, um carinho tão singelo e bonito que o meu coração se enche de amor.

— Eu já te disse, Guk... essas são as consequências de amar alguém. Nada vai me fazer mais feliz do que compartilhar com você todos os sentimentos que existem. — Sorrio. Ele abre os olhos. — Os bons e os ruins... cada um deles. Eu te amo de verdade.

Jeongguk me olha tão profundamente que a intensidade dos seus sentimentos é palpável. Ele mexe os lábios uma, duas, três vezes. Como se tivesse algo na ponta da língua, mas não conseguisse dizer.

Ao invés disso, os seus olhos dizem, e eu entendo. Neles, vejo como Jeongguk também me ama. Vejo como ele está se sentindo amado agora. É... simplesmente inesquecível.

— Eu... — sussurra, sem parar de me olhar. — Tudo bem...

Eu sorrio mais, e subo minha mão para a nuca de Jeongguk. Me aproximo dele na cama e, com suavidade, toco os meus lábios em sua bochecha.

— Eu quero que você se lembre — eu murmuro contra sua bochecha. — Eu sempre vou estar aqui por você. — Deixo um beijo sob seus olhos.

Meu amor concorda com a cabeça com tanta sutileza que, se eu não estivesse tão perto, não perceberia.

— Uhum... — ele diz em um pequeno fio de voz. A cama se movimenta quando Jungkook se mexe, surpreendendo-me quando ele me segura pelos ombros. — Eu... puxa, eu também vou estar... sempre... — Sinto sua mão em minha nuca.

Está gelada, me arrepia, mas eu não me importo. Principalmente quando Jeongguk usa ela para me trazer para mais perto e me dar um beijo cheio de ternura.

Suspiro. Fecho os meus olhos e o beijo de volta, sentindo meu coração, enfim, se acalmar depois da tensão e chateação que o final dessa noite trouxe. Quando Jeongguk afasta os seus lábios dos meus, eu volto a beijá-lo mais uma vez, porque sentir sua boca na minha me faz sentir tão bem. Tão bem. E eu preciso sentir que tudo vai ficar bem. Seus beijos sempre, sempre fazem com que eu sinta que vai ficar tudo bem.

Sempre.

Jeongguk suspira um pouco e, quando me afasto e abro os meus olhos, ele já está me olhando. Sorrio.

— Você quer que eu te abrace ou quer me abraçar? — eu pergunto baixinho.

Meu questionamento parece pegar Jeongguk de surpresa porque ele arregala os olhos e, depois, ri um pouquinho.

— Eu... — ele murmura. — Acho que quero abraçar você...

Sua escolha faz meu coração palpitar, assim como palpita sempre que ele demonstra que quer muito me carregar na garupa da bicicleta. Esse Jungkookie... ele gosta tanto de mim, hehe...

— Tudo bem — eu digo, virando na cama. Estou quase desmanchando e virando a maior meleca-humana do mundo por estar prestes a ficar a noite toda de conchinha com o meu amorzinho. — Você pode me abraçar, mas da próxima eu é que vou abraçar você..

Jeongguk ri baixinho e eu também, mas estou sendo muito sério. Da próxima vez ele não vai escapar do meu aperto.

Jeongguk demora um pouco para me abraçar — sua mão muda de lugar muitas vezes enquanto ele tenta —, mas quando finalmente consegue, é tão bom que eu me sinto nas nuvens. É bom. É leve. Faz com que eu me sinta... seguro.

Sua mão, macia e suave, se aloja na minha barriga, e posso sentir seu peito tocando minhas costas. Seu rosto se aconchega no meu ombro, seu nariz toca meu pescoço, e seu cabelo se espalha pela minha pele. Sinto que posso não conseguir dormir essa noite. Não com ele me abraçando assim. Não quando estou me sentindo tão mais apaixonado por ele.

Seus dedos, em minha barriga, me seguram como se não ele não quisesse me deixar ir e a sensação é devastadora.

É... apaixonante demais.

— Jiminnie... — ele murmura, bem pertinho.

Meu coração acelera com o som da sua voz.

— Oi... — eu sussurro.

Jeongguk me aperta mais. É indescritível.

— Você disse que eu não preciso agradecer, mas eu... puxa, eu... obrigado mesmo — ele murmura. Sinto sua canela tocar a minha. Por baixo das cobertas, faço carinho em seu pé com o meu. — Você sempre, sempre... me faz feliz... e bem... e seguro.

Meu coração, já tão cheio de amor, fica ainda mais quente agora. A forma que Jeongguk diz essas coisas soa diferente... é tão mais intenso. E tão mais bom.

Toco sua mão, que está na minha barriga, com a minha. Faço carinho em seus dedos e dou um suspiro longo e melodioso.

— Você sempre me faz sentir tudo isso e muito mais, meu amor... — eu digo, com toda a sinceridade que há em meu coração. — Obrigado também...

Jeongguk me aperta mais em seus braços, e estamos tão próximos agora que eu tenho certeza de que não quero sair daqui nunca mais. Quero ficar para sempre nos braços de Jeongguk. Para sempre.

— Boa noite... — ele sussurra. — Minha vida...

Eu perco o fôlego. Mais uma vez.

Puxo sua mão em minha barriga, e deixo um lento beijo nela.

— Boa noite, meu amor.

Apesar de ter sentido que não conseguiria dormir tão cedo, algo na forma que os dedos de Jeongguk acariciam minha barriga me deixa sonolento. Sem perceber, eu começo a adormecer. Posso sentir o momento que Jeongguk pega no sono na maneira que sua respiração pesa e sua mão, aos pouquinhos, para de se mexer.

E é com a sensação de segurança e amor que eu, lentamente, me perco em minha própria consciência e finalmente caio no sono.

JUNGKOOK

Pela manhã, sou acordado pelo som da buzina dos meus pais.

Quando abro meus olhos, Jimin ainda está dormindo, e apesar de eu ter adormecido abraçando ele, agora é ele que está me abraçando. Não sei como, nem quando isso aconteceu, mas eu gosto da sensação — mesmo que a sua perna em cima do meu quadril esteja um pouquinho pesada.

Dou um sorriso e, com um pouco de esforço, consigo me desprender do seu abraço e me sentar em sua cama — sem acordar ele!

Posso escutar algumas vozes lá embaixo, e uma com certeza é da minha mãe. Puxa, ela já chegou...

Olho para Jiminnie perdido no mundo dos sonhos e a forma que seu cabelo ruivo está cobrindo seus olhos é muito fofa. Seus lábios estão entreabertos, deixando seu dentinho da frente bem à mostra. É tão lindo que, puxa, faz as minhas bochechas doerem...

Puxa, eu gostaria de poder ficar e dormir mais. Mas é melhor eu descer logo. Se eu ficar aqui, a mãe do Jiminnie vai subir e acordar ele, e é melhor eu deixar ele dormir bastante. Ele parece estar em um sono tão gostoso... eu não quero que ele acorde antes de aproveitar esse sono por completo, não quero mesmo.

Saio da cama do Jiminnie — o que é doloroso de fazer porque, puxa, ela é tão confortável — e vou até o seu banheiro. Ontem eu deixei as minhas roupas dobradas sobre a pia, e logo eu troco o pijama gostoso e cheiroso de Jiminnie por elas, deixando-o dobrado no mesmo lugar. Assim que termino, saio do banheiro, encontrando Jiminnie ainda dormindo — mas agora, está virado para a parede.

O abajur ainda está ligado, mas a fresta de luz que entra pelo pequeno espaço entre a cortina é o que mais ilumina o quarto. É dessa forma que eu vejo um caderninho e um lápis em cima da escrivaninha do Jiminnie.

Dou um pequeno sorriso. Me aproximo da mesinha e, bem rapidinho, deixo um recado em uma folha do seu caderno. Rasgo com cuidado, dobro, e vou até a cama.

— Tchau... — eu sussurro, bem baixinho, quando deixo o bilhetinho embaixo do seu travesseiro. — Minha vida... — eu digo, e apesar dele nem estar escutando, dizer isso ainda faz minhas bochechas arderem.

Puxa. Eu gosto muito de chamar ele assim...

Jiminnie está em um sono pesado, então mal sente quando me aproximo para, timidamente, deixar um beijo em sua cabeça. O cheiro do seu cabelo é tão bom que eu sinto cada vez menos vontade de ir embora, puxa...

Calço os meus sapatos, termino de pegar as minhas coisas e saio pela porta do seu quarto, que estava encostada. A fecho para que o barulho das nossas mães — que estão tagarelando horrores lá embaixo — não o acorde, e desço as escadas.

Minha mãe é a primeira a me notar e abre um grande sorriso ao me ver.

Sinto meu coração doer. Muito.

— Olha só quem acordou! — ela diz. Leonor se vira para mim e dá um sorriso.

— Eu já estava indo acordar vocês — ela fala, me olhando. — O Jimin não acordou?

— Não... ele tá num sono bem pesado — eu falo, rindo um pouquinho. — Bom dia.

— Bom dia — Leonor diz.

— Bom dia — minha mãe diz, olhando-me com atenção.

Aos poucos, a sensação de tranquilidade que acordar ao lado de Jimin trouxe, passa. Sem ela, as lembranças chegam e eu praticamente travo nas escadas, angustiado ao pensar no que Juna me disse ontem, o que ela sabe, e o que ela pode ter feito.

Sinto meu coração apertar, e desvio os olhos dos da minha mãe, tentando ao máximo disfarçar ao descer os degraus mais rapidamente.

— Vamos indo, então? — mamãe diz, assim que me aproximo dela.

Eu confirmo com a cabeça.

— Obrigado por me receber, Leonor — eu falo, agradecendo ela com uma reverência.

— Não foi nada, querido. Obrigada você por ter vindo — diz ela. — E você tem que passar aqui pra gente continuar essa conversa! Finalmente achei alguém que gosta da mesma novela que eu.

— Tenho mesmo! — minha mãe diz, e eu apenas escuto enquanto elas tagarelam mais um pouco sobre a novela. É um pouco engraçado, até...

Depois de um tempo, elas finalmente se despedem, e minha mãe e eu caminhamos em direção ao carro. Quando vejo que é meu pai que está no volante, abro um sorriso e corro para mais perto para falar com ele.

— Pai! — eu chamo, sorrindo.

Meu pai abre a porta do carro apenas para eu conseguir abraçá-lo, e eu faço isso sem pensar duas vezes.

— Filhote! Como foi a noite? — ele pergunta, me abraçando de volta. — Que saudades, garotão.

O seu abraço é tão bom. Puxa, eu estava com muita saudades...

— Foi legal — eu falo, me afastando um pouco. Meu pai me olha com atenção.

— Que bom! Sua mãe me falou que vocês iam ver um filme. Quero saber se ele é bom! A gente tá querendo alugar um pra ver hoje, todo mundo junto. Eu, você, a sua mãe e a Juna.

A...

A Juna.

"Será que você poderia ser um erro maior do que já é?! Envergonhando a minha mãe e o meu pai que te tiraram da imundice e te deram uma casa sendo assim".

Meu peito aperta. Puxa. Por que eu tenho que ser tão fraco? Só a menção do nome dela faz aqueles sentimentos ruins virem com tudo...

É muito frustrante.

— Ah... — eu murmuro, e sinto minha boca tremer, mas não posso chorar. Não na frente deles. — Foi legal — eu digo, me afastando do meu pai. Percebo que minha mãe já deu a volta para entrar no carro e, de repente, sinto a sensação de estar incomodando. É sempre assim. — Desculpa... vou entrar no carro.

Eu me viro, e sinto uma culpa tão repentina que não consigo mais olhar para o meu pai. Sinto ele me seguir com o olhar quando finalmente entro no carro, mas finjo que não percebi. Eu me aconchego no canto e, com um suspiro pesado, tento me concentrar em não chorar, mas é difícil porque, a cada segundo, eu desperto mais. E despertando, todos os sentimentos ruins voltam, um a um.

Puxa. Eu pensei que já tinha esquecido, mas... vê-los me fez me sentir tão mal de novo. Tão... culpado.

Eu odeio muito isso.

— Jeongguk — meu pai me chama, de repente. Murmuro, mas não levanto a cabeça. — Tudo bem, filho?

A maneira que ele faz essa pergunta machuca. Machuca muito... mas não é culpa dele.

— Sim... — eu falo, bem baixinho.

Espero o carro começar a andar depois de responder, mas ele não anda. E depois de um tempo, eu sou obrigado a levantar o olhar. É quando encontro meus pais me olhando. Me olhando com muita atenção...

É quando tenho certeza. Eles já sabem. Eles perceberam que não estou bem.

— Querido... não precisa mentir. O que foi? — minha mãe pergunta, e se vira completamente para me olhar. — Quando me viu de manhã você pareceu chateado, e agora pediu desculpas ao seu pai sem motivo. O que está acontecendo? 

Meu pai também presta atenção, e até desliga o carro. Quando os olho, e percebo seus rostos preocupados me olhando com tanta atenção, sinto que não vou conseguir segurar. Eu vou... chorar.

Fico em silêncio por alguns segundos, sem saber o que dizer, porque não quero contar o que aconteceu. Não quero que eles saibam que eu sei. Não quero preocupá-los... e não quero decepcioná-los.

Eu não posso decepcioná-los.

— Nada. Eu só... — murmuro. E aí, algo surge em minha mente. — Tive um sonho ruim...

Meus pais se olham por um segundo antes de voltarem a me fitar. É quando meu pai pergunta:

— Ruim como, filho?

Eu olho nos olhos dele. Procuro, com todo meu ser, qualquer coisa ruim neles. Procuro tudo que Juna diz que eles sentem de ruim por mim, tudo...

Mas não encontro... nada. Nada disso.

Nada além de preocupação.

Nada além de amor.

Então, por que ainda dói tanto?

— Sonhei que... — Eu abaixo a cabeça. Meus olhos se enchem de lágrimas. — Que vocês me abandonaram porque... — Engulo em seco. Acho que uma lágrima escapou, mas não consigo ter certeza. — Porque não gostavam mais de mim porque fiz algo de, de e-errado...

Eu mordo minha boca com força, porque não quero soluçar. Não quero chorar muito. Não quero preocupá-los, não quero mesmo, puxa, mas é muito difícil dizer o que eu sinto agora... mesmo que eu não esteja realmente sentindo isso por causa de um sonho.

Só é tão... difícil.

— Oh, meu amor... — Escuto minha mãe tirar o cinto e, de repente, ela passa para o banco de trás. Suas mãos seguram minhas bochechas e, quando percebo, estou deitado em seu peito. — Foi só um pesadelo... eu nunca vou deixar te amar, meu filho...

— Foi só um sonho ruim — meu pai diz, e escuto o barulho do banco do carro quando a mão dele toca a minha cabeça. Puxa. Ele está se esticando todo para fazer isso. — Você assistiu algo ruim de noite? Dormiu de barriga cheia? Que sonho terrível, filho...

— E foi pior porque não estava lá em casa com a gente — minha mãe diz, tão carinhosa que eu me escondo mais porque não consigo parar de chorar. Puxa. Por que a Juna diria coisas tão ruins sobre eles? Eles são tão bons. Tão bons... — Foi só um sonho, meu amor... não há nada nesse mundo que você, ou qualquer um possa fazer para eu deixar de te amar, te amar menos, te abandonar... Eu vou até o fim do mundo por você, meu menino... você tem que se lembrar sempre disso.

Puxa... por que dói? Por que ainda dói tanto?

Tento esconder o meu choro, mas o soluço que solto me entrega, e é o suficiente para a minha mãe suspirar alto e me abraçar com mais força, como se quisesse me proteger desse "sonho". Desses sentimentos horríveis...

— Jungkook — meu pai chama. — Jungkook, olha para mim.

Eu engulo em seco. Mesmo trêmulo, levanto a cabeça e olho nos olhos do meu pai. Olho mesmo.

É quando ele diz:

— No momento que você chegou nesse mundo, eu prometi te amar com todo o meu coração. Te proteger de tudo que eu puder te proteger. Porque você é o meu filho. — Ele me olha com seriedade e sinceridade e suas palavras acertam o meu coração em cheio. E é muito... bom. — Você nunca precisa ter medo de algo assim. Porque nada, nunca, vai mudar isso.

— Nada — minha mãe repete, do meu lado.

Meu pai ainda está olhando para mim e eu não sei o motivo, mas, ele ser tão sério e direto me faz aceitar as suas palavras com menos dificuldade. Tanto que, sem perceber, paro de chorar... e tremer.

Meu pai sorri.

— Entendido?

Com um pouco de esforço, eu assinto com a cabeça, fungando fortemente.

— E-entendido — falo, secando minhas bochechas com as mãos, porque realmente entendi.

Dessa vez, eu... eu realmente sinto que entendi. Ou... quase isso.

— Muito bem — ele fala, e se vira para frente. E aí, liga o carro. — Agora vamos para casa comer e ver um montão de filmes!

— É isso aí — minha mãe diz, e me abraça de lado, bem apertado. — Mas desista de ficar na poltrona da sala, porque eu não vou te largar hoje, tá me ouvindo? Vai ficar é no sofá com a pobre da sua mãe.

Eu rio um pouco, e meu coração finalmente fica mais leve.

— Tudo bem — digo, suspirando.

— Isso que dá chorar na frente da sua mãe — meu pai diz, no volante.

— Você fala como se não fosse passar no quarto dele três vezes essa madrugada para ter certeza de que ele está bem — mamãe diz, e nós rimos porque meu pai faz mesmo isso. Desde que eu era bem pequeno...

— Verdade... — eu digo, fraquinho, mas já estou me sentindo melhor. Bem melhor.

— Agora vocês me deixaram sem argumentos — meu pai diz, e nós rimos mais um pouco.

No momento que saímos da rua do Jiminnie, sinto minha mãe segurar minha mão. Olho para ela de lado e, com atenção, ela me observa.

Depois de alguns segundos, ela pergunta:

— Meu amor... foi só isso que te deixou triste mesmo, não é? Promete que não está escondendo nada da gente?  — ela questiona. — Foi realmente só um sonho?

Eu olho para ela. Sinto meu estômago gelar, e meu coração apertar, mas não hesito. Com um sorriso no rosto, eu respondo:

— Sim, mãe. Eu prometo. — Aperto a mão dela. — Foi só um sonho.

📼

Boa noite, meus amorinhos!

Quanto tempo, né? Eu finalmente voltei, e dessa vez eu não vou demorar muito pra voltar de novo! Pelo menos eu posso com certeza confirmar isso para capítulo 36 (o próximo) porque ele já tá prontinho também e eu vou liberar mais pra frente, assim que eu concluir mais o 37! ☝️

Eu demorei tanto pra voltar porque eu queria ter pelo menos alguns capítulos prontos antes de voltar a atualizar. Eu não queria soltar um capítulo que eu consegui escrever e depois sumir de novo, sem saber quando eu ia voltar. 🥺 Apesar de que sempre que eu falava que eu tinha um capítulo pronto, vocês já vinham falando pra eu postar hehehe! Mas eu queria poder voltar com mais consistência porque eu quero muito finalizar essa história pra vocês e depois continuar ela (na segunda temporada Nós e Eles como alguns de vocês já sabem hihi)! 💟

Eu espero que vocês tenham gostado do capítulo. Eu ainda não vou revelar uma data pro próximo capítulo, mas eu acredito que vai ser ainda neste mês ou no comecinho de novembro! Se vocês quiserem, podem acompanhar o meu Instagram e o meu Twitter para mais informações: @nicolypachecos 🧡

Muito obrigada por todo o carinho que vocês têm e pelas mensagens no quadro. Eu sempre vinha ver e eu não conseguia acreditar que vocês sentiam a minha falta. Então sempre que eu via alguma coisinha, eu ficava com os olhos cheios de lágrimas tentando lidar com isso (e era muito engraçado, porque assim, quando alguém falava "volta a vida", eu já tava chorando. Na verdade não era engraçado. Era meio triste eu ficar chorando, mas eu gostava da sensação de que vocês estavam esperando pra ler mais um pouquinho das minhas histórias)! Então eu tô me esforçando muito pra conseguir voltar a 100% e pra trazer bastante novidades pra vocês.

Espero que tenham gostado do capítulo! Obrigada por lerem e por acompanharem com tanta determinação! E o próximo vem aí muito em breve. Beijinhos e até a próxima! 🥺🧡✨

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