A ponta da minha faca afundou em sua carne com um baque surdo, perfurando sua espinha e emitindo um som abafado. Naquele instante, senti seu corpo sacudir, mas em vez de me soltar, ele me segurou com ainda mais força. Juro que senti que minha cintura poderia quebrar a qualquer momento. Ele ergueu o corpo, agarrando o cabo da faca cravada em suas costas, puxando-a lentamente, enquanto olhava nos meus olhos sem mover um músculo. Seus olhos estavam levemente vermelhos, como se as lágrimas estivessem prestes a escorrer, como se alguma emoção estivesse rasgando suas órbitas. Sua respiração, rápida e trêmula, roçou minha bochecha como uma rajada de vento marítimo.
Não sei o que ele estava pensando, só fiquei com muito medo.
Sangue azul escorria pelos espaços entre seus dedos, segurando a lâmina, como um cacho de papoulas venenosas em flor. A estranha fragrância que emanava do sangue invadiu minhas narinas e minha mente se encheu de imagens caóticas e fragmentadas. Eu não conseguia entender o que eram, mas meu peito se apertou como se fosse um saco encharcado de água, dificultando minha respiração. Recuei instintivamente, descendo pelas pedras, mas minha perna foi agarrada e ele me arrastou para seu abraço. Ele me levantou horizontalmente e nadou em direção à caverna misteriosa.
"Para onde você está me levando?!"
Gritei de medo e chutei desesperadamente o rabo de peixe que balançava embaixo de mim. No entanto, ele agarrou minhas pernas sem esforço com apenas uma garra, tornando-as inúteis. Fiquei apenas com as mãos para me agitar e coçar fracamente, incapaz de utilizar qualquer uma das habilidades de combate que havia aprendido. Eu me senti totalmente impotente sob sua força, como se eu fosse um bebê indefeso, pois seus braços eram duas vezes mais grossos que os meus! Minha luta foi inútil, pois fui levado para as profundezas da caverna como um cervo preso por uma chita. Os aplausos dos outros tritões atrás de mim soavam como uivos e gritos aterrorizantes.
A entrada da caverna estava recuando gradualmente e a luz da lua desapareceu enquanto a escuridão me consumia.
Fui liderado pelo líder tritão, atravessando uma caverna conectada após a outra, passando por imponentes pilares antigos e plâncton brilhante. Tudo ao meu redor parecia grotesco e variado, como se eu estivesse sendo arrastado para um túnel fantasmagórico que levava ao reino do submundo.
Essa terrível premonição me assustou a tal ponto que meus membros ficaram fracos e minha força para me debater e lutar pareceu desaparecer. Tremores percorreram todo o meu corpo. Não pude deixar de especular se as sereias, assim como as bruxas, gostavam de aprisionar crianças, engordá-las e depois matá-las e comê-las. Talvez aquele beijo recente tenha sido um teste para ver se eu combinava com seu gosto, e agora ele iria me levar para seu covil para me comer. Meu avô me disse que as sereias eram as criaturas mais ferozes. Se eu tivesse ouvido seu aviso e ficado longe do mar, quanto mais longe, melhor.
Naquele momento, fui levado a uma caverna com a mais densa concentração de pilares de pedra, e várias sereias respeitosas que guardavam os pilares abriram caminho para nós. Era claramente o covil da líder sereia. Ele me carregou enquanto nadávamos em direção ao centro da caverna, onde uma peculiar e grotesca floresta de pedras nos aguardava. Os caminhos internos eram intrincados e complexos, lembrando um labirinto feito pelo homem. Eu sabia que se ficasse preso lá dentro, não haveria esperança de escapar com vida.
O pânico parecia ser como pedras pesadas, aumentando uma a uma, pesando em meu coração. Lágrimas de desespero brotaram, gota a gota. Chorar era sem dúvida a coisa mais sem sentido a se fazer naquele momento, mas pensando no infortúnio que poderia vir a seguir, não consegui reprimir o choro.
O braço em volta da minha cintura apertou e o líder tritão parou de nadar de repente. Talvez meu choro tenha despertado sua simpatia (embora os tritões possam não ter tal coisa). Ele me embalou em seus braços e me colocou sobre uma rocha relativamente plana no meio da floresta de pedras. Inclinando-se sobre mim, seus olhos semicerraram-se ligeiramente, e as emoções que me deixaram confusa e desnorteada estavam escondidas nas sombras sob suas pálpebras. Olhei para ele com cautela, funguei e nem ousei respirar.
Sua garra palmada descansou na minha cabeça, acariciando suavemente meu cabelo como se me confortasse silenciosamente. Senti seu braço tremer levemente, aparentemente cheio de excitação, muito parecido com uma pessoa faminta que finalmente conseguiu um bife que salvou sua vida, mas teve que suportar a vontade de devorá-lo. Eu estava realmente com medo de que ele pudesse abrir a boca de repente e me morder. Meu avô me avisou que as sereias primeiro confundiam suas presas antes de comê-las, e era evidente que ele estava fazendo exatamente isso agora.
"Não tente me confundir. Quase não há carne no meu corpo e eu não teria um gosto nada bom!"
Cerrei os dentes, forçando os soluços, e levantei o cotovelo contra sua garganta, mesmo sabendo que ele poderia facilmente arrancar meu braço fino com uma mordida. No entanto, de repente ele embalou minha nuca, o que me assustou, me fazendo estremecer. Senti sua garra úmida e afiada se movendo atrás de mim, me abraçando. Seu nariz roçou meu pescoço, respirando fundo como se estivesse sentindo meu cheiro.
O arrepio repentino que percorreu minha espinha me deu arrepios e eu lutei, tremendo incontrolavelmente. No entanto, seus braços fortes suprimiram facilmente toda a minha força, e sua cauda de peixe emaranhou meus tornozelos, impedindo-me de me mover. Quanto mais eu lutava, mais forte se tornava seu aperto, como se quisesse me esmagar contra seu próprio ser. Em extremo pânico, instintivamente mordi seu ombro, mas sua garra membranosa pressionou minha cabeça, encorajando-me a morder com mais força. Seus lábios roçaram minha orelha enquanto ele murmurava profundamente: "Me chame de Agares"
Agares?
As sílabas pareciam ir diretamente dos meus tímpanos para as profundezas do meu coração, deixando-me atordoado e incapaz de me mover.
A sensação de medo diminuiu um pouco, permitindo que meus pensamentos voltassem ao normal. Foi só nesse momento que percebi um fato milagroso que havia esquecido: eu conseguia realmente entender a linguagem da sereia.
A sereia líder não parecia ter nenhuma intenção de me machucar; em vez disso, ele estava tentando se comunicar comigo e me pediu para chamar seu nome. Além disso, há pouco, ele também chamou meu nome. Como isso poderia ser? Ele me conhecia? Eu nunca tive contato com criaturas perigosas como sereias antes. O que estava acontecendo?
"Chame-me de Agares. Chame-me pelo nome que você me deu. Estou esperando por esse dia há tanto tempo, Desharow."
Os lábios perto da minha orelha murmuraram suavemente, e sua grande garra palmada massageou meus ombros. Sua voz era incrivelmente penetrante e possuía algum tipo de magia. Quase involuntariamente, pronunciei suavemente as sílabas que pareciam desconhecidas e estranhamente familiares. "A... Agares.?"
"Estou aqui."
A líder sereia chamada "Agares" respondeu em voz baixa. De repente, sua garra palmada embalou minhas nádegas, exatamente como um pai segurando um filho nos braços. Minhas pernas não tinham para onde ir, então tive que colocar meus joelhos em seus ombros, me deixando desconfortável e paralisada em seu abraço. Ele beliscou meus dedos dos pés, depois agarrou minhas panturrilhas e, finalmente, colocou suas garras palmadas em minha cintura, como se estivesse medindo sua espessura e tamanho. Na verdade, em suas garras, meu corpo parecia frágil e delicado. Talvez essa constatação tenha feito com que ele perdesse o interesse em me consumir.
Ao pensar sobre isso, notei que a expressão da líder sereia era semelhante à de alguém olhando para um bem querido, com a cabeça baixa com grande interesse enquanto examinava meu corpo. Seus olhos viajaram centímetro por centímetro de baixo para cima, finalmente levantando-se para encontrar meu rosto. Naquele instante, senti como se pudesse ver redemoinhos escondidos naqueles olhos profundos, desejando me atrair. Talvez ele tenha tentado fazer com que sua expressão parecesse amigável e gentil, mas esse olhar ainda me assustava.
"Ei, pare de me segurar assim! Eu não sou uma criança!" Empurrei seus ombros, tentando me libertar de seu abraço. No entanto, naquele momento, ele se inclinou, seu corpo me envolvendo por cima e seus braços formando uma restrição estreita.
"Não tenha medo de mim, Desharow." Ele olhou nos meus olhos, e eu senti como se ele quisesse me engolir inteiro, seus lábios quase roçando meu nariz. "Você pertence a mim. Você não é apenas meu descendente, mas também meu cônjuge. Nada pode tirar você de mim."
O tom do líder tritão era ao mesmo tempo amoroso e agressivo. Deixei de lado o medo em meu coração e recuei como uma maré crescente.
Meu coração batia descontroladamente como um tambor e, naquele momento, de repente encontrei um leve ponto de brilho azul levemente aceso em seu peito, como se houvesse algo luminoso escondido sob sua pele.
A curiosidade tomou conta de mim e estendi a mão para tocar o ponto brilhante. De repente, uma estranha sensação elétrica surgiu das pontas dos meus dedos e chegou às minhas veias. Vislumbres e imagens fugazes brilharam vividamente em minha mente - cenas tão familiares, como se tivessem aparecido inúmeras vezes em meus sonhos ou talvez algo que eu tivesse experimentado, mas esquecido.Um calor ambíguo cresceu dentro de mim e senti um desejo inexplicável de estar perto da sereia líder antes de mim, como se ele fosse a presença mais amada e familiar deste mundo. No entanto, esse sentimento permaneceu vago, desaparecendo sempre que tentei compreendê-lo.
Confusa, mas instintivamente motivada, levantei a cabeça e olhei em seus olhos profundos. Com minha mão pressionada firmemente contra seu peito.
"Há cinquenta anos você está aqui. Desharow. Vou devolver seu futuro para você."
O significado daquelas palavras era difícil de compreender, e eu abri meus olhos perplexo, e meus olhos se arregalaram em descrença quando olhei para ele. No entanto, antes que eu pudesse entender tudo, Agares abaixou a cabeça e beijou meus lábios abruptamente. Minha mente ficou em branco por um instante, mas desta vez eu sabia que a intenção da sereia líder não era determinar se eu poderia ser comida. Foi motivado por outro motivo, que me encheu de uma sensação maior de medo.
Meus nervos estavam uma bagunça dentro do meu crânio enquanto eu instintivamente me debatia e chutava na tentativa de me libertar. Mas seu rabo de peixe envolveu minhas pernas com força, me arrastando ainda mais para dentro da água. Sua grande garra palmada se entrelaçou com meus dedos, segurando minhas mãos com firmeza. Sua língua abriu meus dentes, quase engolindo meus lábios com os seus, mordiscando, devorando e sugando minha saliva como um lobo sedento.
Senti como se tivesse sido transportado de volta àquela noite de pesadelo durante o treinamento militar pré-serviço. O banheiro escuro estava cheio do som ecoante da água corrente, muito parecido com a água corrente nesta caverna. Depois de terminar o banho, fiquei sozinho, sentado em um banco do vestiário, me vestindo. De repente, um homem alto, cheirando a álcool, atacou-me por trás, prendendo-me no chão e beijou-me violentamente, tal como a sereia estava a fazer agora. Não ousei imaginar o que teria acontecido naquela noite se eu não tivesse nenhuma habilidade de autodefesa. No entanto, aqui estava eu mais uma vez, preso numa situação que me aterrorizava, pois a minha força era insignificante em comparação com a da sereia.
No momento em que minhas calças foram rasgadas pela pressão de seu rabo de peixe entre minhas pernas, o medo e a raiva acumulados irromperam do meu peito, e eu não consegui mais conter os gritos sufocados. As ações da líder sereia congelaram de repente e ele ergueu o corpo, olhando para mim com uma pitada de pânico. Sua respiração estava pesada, mas sua cauda de peixe relaxou ligeiramente. Aproveitando a oportunidade, eu rapidamente rastejei para fora dele, desferindo um chute feroz, e então cerrei o punho e desferi um golpe poderoso em seu rosto, produzindo um baque surdo de carne encontrando osso em sua bochecha.
"Besta nojenta!"
Eu sufoquei as lágrimas e choveu maldições sobre ele, assumindo uma posição de combate no recife.
A sereia líder ergueu sua garra palmada e enxugou o sangue que recebeu da minha surra, mas parecia ter um sorriso malicioso enquanto olhava para mim. Seus lábios se curvaram levemente, como se minhas palavras o tivessem lembrado de algo divertido. Por um momento, ele pareceu perdido em pensamentos enquanto olhava para mim.
Percebi inadvertidamente que havia um certo volume entre as escamas de peixe na parte inferior do abdômen. Juro que era maior do que tudo que eu já tinha visto, até comparado ao tamanho de um homem negro. De repente, compreendi suas intenções e minha bunda doeu de repente. Isso era algo que eu só esperaria que acontecesse em um bar gay, uma situação que nunca havia encontrado antes. Nunca imaginei que as sereias gostassem desse tipo de comportamento!
Apertei os lábios, sentindo-me ainda mais assustada e à beira das lágrimas, mas me recusei a deixar escapar uma única lágrima.
"Não tenha medo, Desharow."
Ele ergueu as pálpebras e olhou para mim, estendendo cautelosamente sua garra em direção ao meu tornozelo. Mais uma vez, balancei meu punho em direção ao seu rosto, mas ele rapidamente pegou minhas duas mãos, puxando-me gentilmente em sua direção. Perdendo o equilíbrio, tropecei em seus braços e seu corpo poderoso me pressionou de volta contra as rochas.
Ele separou meu cabelo e sua língua lambeu suavemente e lentamente minhas lágrimas. Depois, traçou o lóbulo da minha orelha e continuou descendo pelo meu pescoço, como se um invasor ambicioso estivesse tomando território centímetro por centímetro, reivindicando o que desejava.
Deitei-me nas pedras, respirando rapidamente em estado de pânico, e ouvi-o sussurrar sedutoramente em meu ouvido: "Não vou deixar você sentir nenhuma dor."
De repente, um grito estridente veio não muito longe. Aquela voz soou tão familiar que chocou meu coração. A líder sereia parou de me violar e eu rapidamente me levantei dele, seguindo a direção do som.
Eu vi um tritão de cabelo preto e cauda prateada parado na água não muito longe. Sua aparência era surpreendentemente familiar e não pude deixar de encará-lo com curiosidade. Ele olhou para mim e, naquele momento de contato visual, de repente percebi algo: ele se parecia exatamente com a versão mais jovem do meu avô, conforme mostrado em suas fotos antigas.
"Você não deveria estar aqui." a líder sereia avisou friamente. Notei que sua expressão havia mudado; seus olhos brilharam com um brilho arrepiante, como se ele estivesse preparando uma terrível intenção de matar.
O tritão de cauda prateada estava olhando para mim e seus olhos carregavam uma expressão séria. Isso me intrigou ainda mais porque ele era exatamente igual ao meu avô nas fotos antigas. Porém, meu avô faleceu em um naufrágio há vários anos, então era impossível para ele estar aqui e se transformar em tritão.
"Ele não cresceu o suficiente para suportar o seu nível, meu rei. O 'ninho mãe' reparou seu corpo; você é muito poderoso." O tritão baixou a cabeça, seu tom humilde enquanto afundava na água. No entanto, seu olhar permaneceu em meu rosto, carregando uma forte sensação de relutância. "Você deveria levá-lo para ver sua antiga concha corporal. A concha pode nos ajudar a recuperar nosso verdadeiro eu, certo? Não há garantia de uma integração suave com seu eu atual. Se houver uma rejeição interna."
A velha concha do corpo? Renascer cinquenta anos depois? O que isso significa? Eu não pude deixar de congelar, minha mente em completo caos.
A sereia líder estreitou os olhos e olhou para o outro tritão por alguns segundos antes de me abraçar de repente e nadar mais fundo na floresta de pedras.
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O autor tem algo a dizer:
Deixe-me explicar com antecedência. Embora o enredo subsequente responda às perguntas dos leitores sobre o contexto, vou esclarecê-lo primeiro <_< A linha do tempo atual é cinquenta anos após a morte de Desharow. Atlântida foi salva por Agares, então ele iniciou a planejada guerra dos tritões. No plano, seu avô foi enviado como emissário para acasalar com humanos e gerar descendentes. Foi assim que Desharow renasceu, ao mesmo tempo em que originalmente deveria nascer<_<. O início de toda a história é em 1991, quando Desharow tinha 21 anos, então nesta linha do tempo, estamos em 1984 e ele tem 14 anos.
Quanto a Rhine... Ele vem de um mundo paralelo invadido, então sua morte anterior não afeta a linha do tempo atual, incluindo a Segunda Guerra Mundial e outros eventos, que permanecem iguais à linha do tempo original. Se não estiver claro, tudo bem; será explicado claramente no texto principal.
A propósito, alguns leitores podem se perguntar se o novo Desharow e o antigo Desharow são a mesma pessoa. Posso confirmar que eles são a mesma existência, não uma cópia um do outro. Após uma integração bem-sucedida, o velho corpo perecerá, mas será apenas o velho corpo de Desharow. Todas as memórias de sua vida anterior são totalmente transferidas para o novo corpo.
É uma relação de recortar e colar, não de copiar e colar! O novo e o antigo eu são fundidos, não substituídos. Você pode pensar nisso como uma travessia mística da alma.
Falando nisso... Levjet na verdade não é o avô de Desharow.