Toda Sua Fúria

By Ju-Dantas

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Essa história esteve completa aqui, até dia 10 de dezembro. Agora está somente para degustação. ** Livro comp... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10

Capítulo 5

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By Ju-Dantas


Bree

Está tudo bem mesmo?

Mordo os lábios sentindo um nó fechar minha garganta ao ouvir a pergunta do meu pai do outro lado da linha.

Deixo meu olhar percorrer a biblioteca onde me refugiei esta tarde após meu primeiro dia de aula depois do fim de semana bizarro que passei.

E de maneira alguma quero dividir com meu pai aquela experiência.

Sei que deveria lhe contar que encontrei Blake na mesma universidade, mas prefiro guardar aquela informação pra mim. Assim como prefiro fingir que, contrariando seus avisos, fui totalmente irresponsável na primeira festa que participei.

Ele ficaria bravo comigo, além de preocupado e não seria justo.

Papai confiou em mim e não quero decepcioná-lo.

— Sim, tudo bem. Sobrevivi à minha primeira festa.

Festa é? — Há divertimento e curiosidade em sua voz.

— Não foi nada demais. Audrey insistiu que fôssemos a uma festa de irmandade.

Vai entrar pra uma irmandade? Não parece seu lance.

— Eu sei! Mas fale isso para Audrey.

Não precisa fazer tudo o que sua nova amiga quer, sabe disso, não?

— Claro que sim. Não sou tão influenciável assim, pai!

Eu sei que não é, mas também sei que quando gosta de alguém é muito leal. — Agora há censura em sua voz e sei que ele está relembrando o tipo de amizade que eu tinha com Blake.

— Fique tranquilo, eu e Audrey somos muito diferentes. Eu nem imagino a gente sendo muito próximas. Ela é do tipo festeira e namoradeira.

Namoradeira? Meu Deus, conviveu demais com idosos, filha — papai ri e consigo rir junto.

— Entendeu o que quis dizer.

Não há problema algum em ser namoradeira. Você é jovem e tem que se divertir. E conheceu alguém interessante?

— Pai, para! — Fico vermelha como se ele estivesse ali na minha frente e pudesse ver meu rubor culposo.

Se conheci alguém interessante que eu gostasse?

Não posso evitar a imagem do Blake que surge na minha cabeça e fico mais vermelha ainda.

Blake não é um cara interessante que eu gostei.

Não é!

Avisto Audrey entrando na biblioteca e acena ao me ver vindo em minha direção.

— Preciso desligar.

Está evitando o assunto? Então tem algo pra contar.

— Não!

Certo, não quero ser um pai chato e invasivo, só não quero que sinta que não pode me contar qualquer coisa, amor.

Fecho os olhos, de novo me perguntando se deveria contar do Blake, mas me calo.

— Não tem nada pra contar.

Espero que tenha em breve. — Ele ri. — Beijos e se cuida.

Eu desligo e Audrey senta na minha frente.

— Está escondida aqui ou é impressão minha?

Suspiro desviando o olhar.

Hoje foi meu primeiro dia de aula e eu deveria estar eufórica com a nova etapa da minha vida, mas só me sinto horrível. Física e emocionalmente.

Ressaca é mesmo uma merda e toda vez que sinto vontade de vomitar de novo, juro mais uma vez que nunca mais vou beber. Não vale a pena. Ainda mais sabendo agora do comportamento irresponsável que tive, deixando que um cara me desse droga quando acabei de conhecê-lo.

O que teria acontecido se Blake não tivesse me resgatado?

E aí vinha a pior parte da minha confusão mental.

Blake LeBlanc aparecendo de novo na minha vida.

Ainda parece surreal que depois de quatro anos eu tenha colidido com Blake. Na faculdade. É como se o destino estivesse rindo da nossa cara e dizendo "não se foge do que eu determino".

Um dia e eu Blake fizemos planos de um futuro justamente assim. Nós dois estudando juntos. Só que eu fui embora e achei que nunca mais nossos caminhos iriam se cruzar novamente.

E veja só.

Para deixar a situação ainda mais confusa, eu o ataquei com um beijo.

Um beijo? Eu enfiei a minha língua na boca do menino que cresceu comigo como meu melhor amigo!

E isso não é o pior.

Agora não sei o que fazer com o fato de que gostei daquele beijo. Eu apreciei cada segundo em que estive com nossos lábios colados, nossos corpos colados.

Blake não é mais um menino, é um homem alto, forte e cheio de atitude que me deixa fraca só de me olhar, como hoje de manhã no quarto dele.

Coro de vergonha a cada vez que me lembro dele saindo do banheiro só com uma toalha nos quadris, deixando o resto à vista dos meus olhos sequiosos.

Eu tinha achado alguns caras atraentes antes, como algum ator em um filme ou algo do tipo, afinal, vivia em um vilarejo cheio de idosos. O menino que beijei era bonitinho, mas nem sequer o vi sem camisa. Então, nunca tive a oportunidade de me atrair por um cara "real".

E é uma droga que agora esteja atraída por Blake.

Sinto como se estivesse cometendo um pecado ou algo do tipo, o que é meio ridículo, não somos parentes nem nada.

Agora Blake nem me considera uma amiga, e pensar como ele me odiou por todos esses quatros anos, sem me perdoar por eu ter partido, no tanto que me despreza e me tratou mal ontem e hoje de manhã, me expulsando de sua vida, me deixa triste demais.

Nunca imaginei como seria reencontrar Blake, acho que nos primeiros tempos na Escócia, talvez sim. Achava que havia a possibilidade de ele me encontrar, embora soubesse que papai não deixou nenhum contato com os LeBlanc. Mas Blake não me deixaria ir assim, pra sempre, deixaria?

Só que Blake nunca foi atrás de mim. Ele sofreu com minha ausência, assim como eu sofri por deixá-lo para trás, e ainda assim ele não foi atrás de mim.

Seu coração não me perdoou.

E eu deveria me conformar com esse fato. Vivi quatro anos sem Blake e poderia viver o resto da minha vida. Mas qual a garantia que nossos caminhos não se trombariam de novo?

— Vamos, tem que me contar! Você transou com o Blake LeBlanc?

Arregalo os olhos, horrorizada, quando entendo as insinuações de Audrey.

— Não, de onde tirou esse absurdo?

— Oras! Eu estava bem louca ontem e não me lembro de muita coisa, mas todas as meninas hoje de manhã estavam comentando como o Blake levou você para o quarto dele.

— Meninas?

— Aparentemente fiquei tão mal que a Carly teve que me levar para o quarto dela, eu não tive sorte de ser levada para o quarto de um gatinho da fraternidade! — Ela rola os olhos. — E parece que acabei com minhas chances de entrar na irmandade.

— Por quê?

— Porque elas não gostaram de me ver dando perda total. Como foram mesmo as palavras de Hannah, não queremos mais uma Molly Sanderson, você está fora.

— Quem é Molly Sanderson?

— Ah, eu também não sabia de quem ela estava falando, mas aí a Carly me contou que é uma menina que teve uma overdose numa festa no semestre passado. A coisa ficou feia, ela nem voltou. E a Hannah estava meio fora de si, muito brava com o tal do Dominic Jackson.

— E quem é esse?

— Um deles. Um traficante. Não se lembra dele? Ele estava também na festa, eu lembro meio vagamente, um gostoso cheio de tatuagem e cara de mal...

— Credo, um traficante, Audrey!

— Ai, nossa, calma, não é pra tanto. Ele é um aluno veterano que passa drogas. Quer dizer, segundo a Carly ele domina a área e todo mundo morre de medo dele e de seus comparsas. Parece que ele mora numa cobertura e é muito rico, mas ninguém sabe se é dinheiro do tráfico ou se ele já era rico. Enfim, a Hannah não gosta dele, porque o culpa pela overdose da tal Molly e ela estaria com medo de manchar a reputação da irmandade e não quer ninguém usando drogas, ou pelo menos ficando muito doida com isso.

— Acho que posso entendê-la. Estou chocada que eu deixei o Ryan batizar minha bebida.

— Não fica assim, é normal.

— Não é normal! Nem lembro o que rolou!

— Espera, não lembra o que aconteceu com o Blake?

Eu coro.

— Não aconteceu nada com o Blake, para!

— É o que diz...

— Não aconteceu, Blake só me tirou de lá pra me proteger, porque eu estava mal.

— Pra te proteger? Conta outra! Ele estava te secando e depois daquele beijo...

— Não me lembra do beijo e Blake não estava me secando, ele me detesta.

— Por que te detestaria?

— Eu e Blake nos conhecemos desde criança.

— Oh... sério?

— Sim, éramos vizinhos até os 15 anos, muito amigos. Melhores amigos, crescemos juntos, éramos muito próximos, mas eu fui embora e perdemos contato.

— Como assim? Ninguém perde contato hoje! Tem internet.

— Eu sei, mas... — Não quero contar a Audrey que tem algumas questões naquela história que prefiro deixar escondida, então apenas dou de ombros juntando meu material para escapar das perguntas curiosas. — Acabamos nos afastando ainda assim.

Eu me levanto.

— Vou comer um lanche e voltar ao dormitório... Tchau.

A semana passa em uma calma bem-vinda em que não vejo Blake em nenhum lugar. Obviamente o campus é enorme, mas ainda assim eu confesso que estava com medo de topar com Blake em algum momento e o quão constrangedor seria.

Todavia, o tão temido encontro não acontece, o que vai fazendo com que meu estômago, que se revirava de medo a cada aula que eu entrava, e em cada canto que eu caminhava pelo terreno da universidade, vá se acalmando e quase posso acreditar que aquele momento surreal com Blake foi fruto da minha imaginação.

O problema é que agora que sei que ele está próximo de novo não posso evitar lamentar que nossa amizade tenha terminado de forma tão abrupta, causando aquele abismo entre nós.

É dolorido e triste pensar que um dia eu e Blake não conseguíamos imaginar nosso futuro distante um do outro. E agora, estamos na mesma universidade, mas nunca estivemos tão distantes.

Tento não deixar aquela dor me afetar, enquanto corro para me adaptar às aulas e à minha nova rotina, mas toda vez que coloco a cabeça no travesseiro, relembro com requintes de morbidez todos os diálogos com Blake e é como se ele estivesse esmurrando meu estômago quando lembro de toda fúria que ele guarda contra mim.

E desejo, bem no fundo do meu peito, que pelo menos possa me perdoar. Sei que nunca mais vamos ser amigos, nunca mais seremos os inseparáveis B&B, mas não gosto de imaginar Blake sentindo todo aquele rancor, aquela raiva que o transformou num cara agressivo daquele jeito.

— Oi, linda.

Tomo um susto ao me virar na cafeteria depois de pedir uma mocha e me deparar com Ryan.

Sinto certa aversão agora ao me lembrar do que ele fez.

— Oi, Ryan.

Ele franze o olhar ante minha frieza.

— Está brava comigo?

— Acha que tenho motivos? — rebato com ironia e ele coça o cabelo.

— Não me lembro de ter feito nada para chateá-la.

— Aposto que não lembra mesmo. — Tento passar por ele, mas Ryan puxa meu braço.

— Ei, calma, seja lá o que fiz, desculpa. Na verdade, estava meio chapado, não me lembro de muita coisa, mas a gente estava se divertindo.

— Estávamos nos divertindo até demais. Não costumo deixar que caras me droguem...

— Espera. Não fiz nada sem seu consentimento!

— Talvez não, mas fui bem idiota em concordar e sabe Deus o que teria acontecido se Blake não tivesse me tirado da festa totalmente fora de mim!

— Está exagerando. Não estava tão mal assim, só estava se divertindo. E Blake não devia ter se aproveitado disso.

— Não, Blake não se aproveitou de nada! O que está falando?

Ele ri com escárnio.

— Não foi o que rolou? Não me lembro muito bem, mas me contaram que passou a noite no quarto do Blake.

Fico vermelha com as insinuações do Ryan.

— Não foi assim. Como disse, eu estava mal. E Blake apenas cuidou de mim. Nada aconteceu.

— Nada aconteceu? Tem certeza?

— Sim, eu tenho! — Fico brava por Ryan insinuar que Blake poderia ter tirado alguma vantagem de mim.

Blake jamais faria algo assim.

Tem certeza? Você conhece esse novo Blake?

Ignoro a voz desconfiada dentro de mim, porque não posso conceber que Blake tenha mudado tanto assim.

— Difícil acreditar que Blake leve uma garota para seu quarto e não se aproveite disso.

— Pois nada aconteceu, entendeu?

— Bem, certo. Acho que fico aliviado, achei que talvez você e Blake...

— Não, eu e Blake nada!

— E ainda está com raiva de mim mesmo? Você estava segura. Não ia deixar nada te acontecer.

Quero dizer que ele nem lembra em que estado estava, mas me calo.

— Olha, deixa pra lá, está bem? Vamos esquecer isso.

Agora consigo passar por ele e sair da cafeteria, mas Ryan segue ao meu lado.

— Então já que somos amigos de novo...

Levanto a sobrancelha.

— Somos amigos?

— Por que essa cara de censura? Por acaso está decepcionada?

— Não!

Ele ri como se estivéssemos flertando e eu nem sei se isso é um flerte de verdade. O que eu sei?

— Certo, já que estabelecemos isso. Amanhã vai ter uma festa — ele me passa um flyer com o nome de um bar —, vai ter show dessa banda, é incrível. É aniversário de uma amiga. Apareça.

— Está me convidando pra sair?

— Se quiser colocar como um encontro. — Ele pisca e se afasta me deixando confusa olhando para o flyer.

Claro que eu não vou a festa nenhuma.

— Claro que você vai — Audrey insiste quando sento na cama bufando ainda de calcinha e sutiã já arrependida de ter deixado me convencer a ir à festa da amiga do Ryan.

— Não acho uma boa ideia.

— É uma boa ideia! Ryan é um gatinho e está a fim de você, qual o problema?

— Ele disse que somos amigos.

Ela revira os olhos enquanto passo blush.

— Sei, amizade com benefícios é ótimo.

Faço uma careta.

— Nem sei como isso funciona!

— É simples, vocês são amigos, mas se pegam. É ótimo para deixar a situação descomplicada. E aí pode sair com mais caras e não fica presa a um namorado... Vá se arrumar, já estamos atrasadas.

Eu me levanto indo até o armário, ainda desanimada.

Não sei se quero ser amiga do Ryan e muito menos amiga com benefícios dele.

E quando contei à Audrey do convite e minha vontade de não aceitar, ela falou que eu era louca.

— É só uma festa! Você só vai se divertir. Ninguém vai te obrigar a nada que não queira. Não é pra isso que estamos aqui?

— Achei que era pra estudar?

— Isso também, mas somos jovens e só se é jovem uma vez!

No fundo, sei que Audrey tem razão e por isso que agora examino minhas roupas um pouco desanimada.

— Nem tenho o que vestir! — Fuço no meu armário.

Não tenho muitas roupas, não era como se eu tivesse muitas ocasiões sociais na Escócia. E essa semana não fui à lavanderia e tudo o que sobrou eram as roupas mais velhas que eu tinha.

— Quer usar algo meu?

— Não! Não posso ficar usando suas roupas.

— Então precisa ir às compras.

— Acho que sim...

Eu visto um jeans surrado e a única coisa que encontro minimamente apresentável é a camiseta do Blake.

— Vamos logo. — Audrey começa a mexer no celular. — Já chamei o Uber.

Sem pensar muito, pego a camiseta do Blake e a visto.

Tento não me sentir deslocada quando chegamos ao bar que fica a uns dez minutos do campus e o local está cheio. Audrey aperta minha mão e me leva até onde está algumas meninas da irmandade e me censuro por não deduzir que elas estariam lá. O que me faz questionar tarde demais se os amigos de fraternidade do Ryan também estarão.

Carly é a primeira a nos ver.

— Olha quem apareceu.

— Oi, Carly... — Audrey dá um oi geral para as meninas que nos medem com aquele ar de superioridade que começo a conhecer bem.

Sinto-me mais deslocada ainda, mas Audrey não parece se importar.

— E aí, quem faz aniversário?

— A Tracy. — Carly aponta para a menina que a última vez que a vi estava montada no Blake o que me deixa com um gosto amargo na boca.

Ai merda.

A tal Tracy se aproxima com cara de poucos amigos.

— Parabéns, Tracy! — Audrey a abraça como se fossem velhas amigas. — Lembra da Bree?

— Lembro sim, a menina que atacou o Blake.

Coro de vergonha, mas Audrey está rindo.

— Ela mesma. Ficou com ciúme? Não vai me dizer que você e Blake têm alguma coisa...

— Audrey, para — eu peço mortificada.

— Só querendo deixar a situação clara.

— Pra quê? Sua amiga tem algum interesse no Blake? — Carly questiona.

— Claro que não! — refuto incomodada.

— Mas passou a noite com ele — Carly insiste.

— Não passei a noite com ele. Blake apenas me levou para seu quarto apagada. Não tenho nada com ele!

— E é bom não querer. Não acho que seja o tipo dele — Tracy diz.

— E qual o tipo dele? — Audrey indaga. — O seu, Tracy?

— Audrey, chega. Vamos pegar alguma coisa pra beber? — Eu a puxo para longe.

— Menina chata! — Audrey resmunga. — Até parece que ela tem algum direito sobre o Blake.

— Talvez ela tenha, o que você sabe? — Paramos em frente ao bar.

— Que ela é só uma das ficantes dele, não é como se tivesse direito de ter ciúme de você.

— Ela não estava com ciúme.

— Estava sim! Ela está se mordendo de ciúme. — Audrey ri e pede duas cervejas.

— Eu não vou beber.

— Vai sim. Tem que aprender a beber, só isso. Olha lá...

Ela aponta para a porta e noto que Ryan chegou e ao lado dele alguns caras da fraternidade. E Hannah está entre eles, segurando a mão do namorado.

E logo atrás, Blake surge. Todo de preto e com cara amarrada.

Sinto meu coração dar um salto mortal e meu estômago apertando. Desvio o olhar para minha bebida, mas não consigo fingir que não me importo por dois segundos, antes de voltar minha atenção ao grupo que se aproxima das meninas.

Tracy praticamente pula em cima do Blake e ele apenas aceita que ela o beije no canto da boca, a mão apertando sua bunda, antes de soltá-la com um olhar de enfado.

Ele não gosta da Tracy? Qual é a deles?

E então Ryan me vê e vem em nossa direção.

— Você veio.

— Sim, eu vim.

— Ei, Ryan. — Audrey sorri pra ele. — Agradeça a mim por tirar nossa menina da toca. Ela não queria vir.

— Por que não?

— Não sou muito de festas — respondo.

— Agora você é! — Audrey bate o ombro no meu.

Ryan está sorrindo pra mim como se esperasse algo, me deixando sem graça, e Audrey olha de mim pra ele com um olhar divertido.

— A banda vai começar, vamos. — Ela me puxa para frente do palco e Ryan nos segue.

A música começa a tocar um rock e Audrey dança e eu me movo junto, tentando desfazer o nó de nervosismo no meu estômago.

— Estou feliz que tenha vindo — Ryan se inclina e sussurra no meu ouvido colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

Não falo nada porque não sei o que dizer.

Mas sinto uma comichão na nuca e me viro para notar que Blake está a alguns metros de distância, encostado na parede fumando um cigarro e a atenção fixa em mim.

Por um momento sustento seu olhar. Não sei o que estou esperando. Talvez que ele acene pra mim, ou sorria?

Não sei, mas ele continua muito sério e eu me viro com uma sensação ruim no peito.

— Ei, Ryan, busca mais uma bebida pra gente? — Audrey pede e ele se afasta. — Para de fazer essa cara! — Audrey sussurra no meu ouvido.

— Que cara?

— De virgem indo em direção ao sacrifício, para de ser boba!

— Só fico sem graça, parece que Ryan está flertando comigo.

— Está e você com essa cara de dor de barriga! Para!

— E tenho que agir como?

— Flerte com ele também! Dance, sorria, se mova com sensualidade! Mostre que está a fim também.

— E se não estiver a fim?

— Não está?

Dou de ombros.

— Não sei...

— Amiga, é só um cara. Você pode se divertir com ele aqui, e só. Se quiser beijá-lo também pode e se quiser ir pra cama com ele, dou a maior força! E se depois de tudo não quiser mais olhar na cara dele, pode também. Apenas faça o que tem vontade e não se preocupe com nada. Não faça disso uma grande coisa!

Sacudo a cabeça em afirmativa e Ryan volta com nossas bebidas. Ele sorri pra mim, batendo a garrafa na minha, e me obrigo a sorrir de volta.

Talvez Audrey tenha razão e eu esteja sendo muito boba.

Viro-me para a banda e solto o ar devagar, sentindo a música e tentando apagar as preocupações da minha cabeça. E principalmente tentando esquecer que Blake está ali em algum lugar me observando.

Depois de algumas músicas eu me afasto em direção ao banheiro e não consigo evitar procurar Blake com o olhar apreensivo, mas ele não está em lugar nenhum.

Sinto certo alívio e uma decepção que não deveria estar ali.

Porém, quando saio do banheiro, fico surpresa ao ver Blake encostado na parede do corredor.

Eu paraliso sem saber se sigo em frente, o ignorando, ou não.

Mas a vontade idiota de falar com ele é mais forte.

— Oi, Blake.

— Oi, Bree.

Ótimo, ele está falando comigo. Já é alguma coisa.

— Espero que tenha desistido de entrar na irmandade.

Eu me surpreendo com suas palavras.

— Quê?

— Não é lugar pra você.

Como é que é?

Eu me irrito.

— E quem é você pra saber se é lugar pra mim ou não?

— Você sabe que não é.

— E o que tem a ver com isso? Não é como se ainda fôssemos amigos.

— O quê? Quer ser minha amiga de novo?

— Eu tenho essa opção?

— Não.

— Então é isso. Não somos mais amigos e você não tem direito de opinar sobre o que eu devo ou não fazer. Então se eu quiser entrar para a merda de uma irmandade ou uma gangue, eu vou entrar e não pode impedir.

Nem sei por que estou dizendo isso, sendo que não tenho o menor interesse em entrar em irmandade nenhuma, mas estou furiosa por Blake achar que tem direito de dizer o que eu posso ou não fazer, sendo que me trata como menos que lixo desde que nossos caminhos se cruzaram.

— Está ficando com o Ryan? — ele questiona do nada.

— Não é da sua conta.

— Está?

Levanto o queixo.

— E se estiver?

Seu rosto é uma máscara de contrariedade.

Em um segundo ele está na minha frente, tão próximo que consigo sentir sua respiração na minha língua.

Recordando que não faz muito tempo eu estava respirando em sua boca.

Merda. Péssima lembrança.

— É pra isso que está aqui? Para ficar com um monte de caras?

— Talvez! — provoco. E percebo seu olhar escurecer ainda mais.

— Eu realmente não te conheço mais.

— Tem razão. Não me conhece.

Passo por ele e volto para a pista, furiosa.

Quem Blake pensa que é?

Não quer mais ser meu amigo, me trata como uma estranha, mas acha que pode ditar o que devo ou não fazer?

Não é da conta dele se eu fico com Ryan ou com um milhão de caras diferentes.

Irritada demais para parar, avisto Ryan e sem pensar eu me jogo em cima dele, assim como me joguei em cima do Blake há uma semana.

Que se dane.

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