Toda Sua Fúria

Galing kay Ju-Dantas

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Essa história esteve completa aqui, até dia 10 de dezembro. Agora está somente para degustação. ** Livro comp... Higit pa

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10

Capítulo 3

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Galing kay Ju-Dantas


Blake

Se alguém me dissesse ontem que eu acordaria ao lado da Bree Stewart mais uma vez, como fiz incontáveis vezes nos primeiros 15 anos da minha vida, eu mandaria se foder.

Há quatro anos que o único lugar em que ela existia era na minha memória. E só quando eu baixava a guarda, quando não estava atento, ela se infiltrava sem ser convidada em meus pensamentos, me deixando puto. Porque tudo o que eu fazia há quatros anos desde que Bree me deixou sem olhar para trás, era tentar esquecer que teve um tempo em que eu tinha a impressão de que era impossível respirar se ela não estivesse perto.

Mas o destino é mesmo um filho da puta traiçoeiro porque é para o rosto da garota que eu achei que nunca mais veria na minha vida que estou olhando agora.

Mesmo que essa Bree não seja a mesma Bree das minhas memórias.

Talvez por isso ontem eu não tenha percebido que a garota que se atirou em cima de mim na cozinha era a mesma que cresceu comigo.

Não que ela ainda pareça a Bree da minha infância e adolescência.

Essa Bree é outra pessoa.

A Bree das minhas lembranças relutantes usava aparelho nos dentes e o rosto sem maquiagem. Os cabelos escuros, presos num rabo de cavalo malfeito porque não tinha a menor paciência para fazer penteados elaborados como as outras garotas do colégio. E, sobretudo, aquela Bree ainda era, em muitos aspectos, uma menina.

Assim como eu era um menino.

Essa Bree é a versão mulher da minha Bree e desde que tirei minha língua da sua boca ontem e mirei seus olhos inconfundíveis e vi a mesma confusão e choque que havia nos meus, a porra do mundo estava de ponta-cabeça.

Por segundos intermináveis achei que estivesse chapado, mas me lembrei que até aquele momento não havia exagerado no álcool, pois não queria estar com meus instintos prejudicados para a luta que havia acabado de vencer e drogas era algo que eu não usava há algum tempo.

Mas que outro motivo haveria para estar vendo Bree naquela garota bonita na minha frente?

Uma garota que usava jeans apertado e um top que mal comprimia os seios que eu havia sentido em meu peito, assim como senti todas as curvas contra meu corpo há alguns segundos, quando estava com ela em minhas mãos.

Apreciando o que meus dedos encontravam pelo caminho enquanto retribuía o beijo atrevido.

Não era a primeira vez que uma garota se jogava em cima de mim, mas acho que era a primeira vez que uma delas nem se dava ao trabalho de tentar uma sedução antes de partir para o ataque literalmente. Elas tinham os mais diferentes estilos de chegarem junto e driblar a concorrência. Ainda mais quando era noite do acordo com a Beta. Algo que já existia antes de eu entrar para a Alpha ano passado, e que a princípio achei um jogo meio ridículo e arcaico, mas que comecei a achar divertido. Afinal, eram garotas bonitas fazendo tudo para chamar a atenção e dispostas a qualquer coisa para entrar na irmandade mais restrita da universidade.

E no fim éramos só um bando de caras com tesão. Que mal haveria em sexo fácil com estudantes dispostas a se submeter a nossas vontades?

Quando aquela garota me puxou e me beijou fiquei furioso porque eu gostava de escolher e não ser escolhido, mas nos segundos de choque que demorei a segurar sua cintura para empurrá-la senti um tesão inesperado que me fez puxá-la para mais perto, e não o contrário.

Foda-se.

Ela queria um beijo, ela ia ter.

Ainda ouvia a arruaça da galera no recinto enquanto enfiava minha própria língua em seus lábios e meus dedos em seus cabelos, para mantê-la exatamente onde eu queria, enquanto me dava conta de que a química que estava fazendo aquele beijo ser bom pra cacete provavelmente faria com que o sexo fosse melhor ainda. E foi ali que decidi com minhas mãos em sua bunda redonda e ouvindo seus gemidos que eram a resposta que eu queria – ela estava no mesmo lugar que eu – que a menina atirada estaria na minha cama em breve. Eu ia enfiar minha língua em todas as reentrâncias daquele corpo antes do meu pau fazer o mesmo.

Só não fazia ideia de que ela já esteve na minha cama antes.

Quando se afastou, me encarando em choque, demorou alguns instantes para eu entender que a garota que acabei de beijar e planejar foder era minha melhor amiga.

A menina eu não me lembrava de um dia em que ela não fosse tudo. Até simplesmente ir embora, sem se dar o trabalho de se despedir.

Como se eu não fosse nada pra ela.

Mas sim, aquela garota cheia de curvas, cabelos exuberantes e maquiagem pesada era a versão adulta de Bree Stewart. A mesma Bree que eu me esforcei para esquecer que existia nos últimos quatro anos. E assim que me dei conta de que não estava louco, a fúria me fez fechar os punhos com força e a encarar com todo o desprezo que guardei por todos aqueles anos – o desprezo com que ela me tratou ao me deixar – e dizer que não a conhecia.

E era verdade. Aquela Bree eu não conhecia. A garota bonita que se jogava em cima de estranhos.

E quando me afastei, levando todos os meus demônios sobre os ombros e pegando a garrafa de whisky e entornando como água, ansiando pelo bem-vindo amortecimento do álcool, me perguntei se ela saberia que era eu ali.

Mas pelo seu olhar de choque ela não fazia ideia.

Que inferno, que diabos Bree estava fazendo aqui?

Não escutava falar dela há quatro anos, desde que voltei de viagem ao Oregon para encontrar a casa ao lado vazia. Bree e seu pai haviam partido para outro país, sem ao menos se despedir.

Escócia, meu pai revelou.

Eu não acreditei, gritei enfurecido que devíamos ir atrás deles, não podiam simplesmente ir embora assim.

— Sei que está chateado, eram amigos, mas Evan decidiu se mudar para uma pequena cidade na Escócia, acho, para poder escrever...

— Foda-se. Ele não podia levar a Bree. A Bree não iria...

— Ela é menor de idade, vai onde o pai quer que vá.

— Inferno, ela não iria embora sem se despedir!

— Acho que ela não teve tempo, talvez te ligue...

Ainda me lembro do meu desespero. De tentar entender e me acalmar, como meu pai pedia.

Bree iria me ligar.

Mas ela nunca ligou.

Meus pais não faziam ideia para onde ela e o pai haviam ido, só sabiam que era na Escócia. E por algum tempo eu estava disposto a descobrir exatamente onde ela tinha se enfiado e eu iria atrás dela nem que fosse no fim do mundo.

E não sabia ainda como, mas eu a traria de volta ao meu mundo.

Nosso mundo. Não tinha como eu imaginar viver sem ter Bree Stewart entrando pela janela do meu quarto com seu sorriso que iluminava os cantos escuros dentro de mim.

Não me lembrava de um tempo em que ela não estivesse por perto.

Minha mãe guardou por anos infinitos vídeos de nós dois ainda bebês brincando e brigando juntos. Ela adorava dizer como eu era um menininho arredio, mas que Bree não se abalava com meu mau humor, insistindo comigo até que eu cedesse ao seu ataque de alegria.

Ao contrário de mim, Bree era uma criança fofa, terna, carinhosa. Sempre com um sorriso que conquistava todo mundo à sua volta.

Mas ela também era mandona, chorona e irritante a maior parte do tempo. Quando deixei de ser um bebê, ansiava por ter meninos como amigos. Fazer aquelas brincadeiras típicas de garotos sem ter uma menina chata reclamando que íamos nos machucar, ou que era bem mais legal ficar lendo livros bobos. E havia outros coleguinhas para compartilhar meus instintos de garoto, porém era impossível me livrar da Bree. Eu perdia a paciência e a fazia chorar constantemente e toda vez que isso acontecia, sentia como se estivesse apertando meu coração com suas pequenas mãos. Doía pra cacete e me fazia sentir tanta culpa que logo em seguida eu estava disposto a fazer qualquer coisa que quisesse. Apenas para vê-la sorrir de novo.

E conforme fomos crescendo, mais unidos fomos nos tornando, apesar de nossas diferenças de personalidade. Mais possessivo e dependente eu me tornava de minha melhor amiga.

Bree era minha pessoa preferida no mundo e eu achava que sempre seríamos assim.

Até que ela foi embora.

E quando a vida tomou um rumo inesperado e sombrio, ela não estava lá pra me iluminar. E eu caí de vez na escuridão.

Só me restou enterrar sua memória dentro de mim e seguir em frente.

Então que porra ela achava que podia aparecer na minha frente de novo?

Ela correu atrás de mim e implorou para conversarmos e eu só queria que sumisse, porque sentia que todo o ressentimento que guardei estava prestes a explodir e a merda não seria pouca.

E fiz o que fazia de melhor para extravasar. Chamei um cara para briga. Sentindo certo regozijo porque lembrava que Bree odiava que eu brigasse.

Foda-se.

Ela não tem mais nenhum poder sobre mim. Não é nada pra mim.

Só que ela não foi embora, deu um jeito de ir para o porão e ficar me assistindo apanhar e bater, extravasando a fúria que ela colocou ali.

Mas se eu achava que ia ajudar, estava enganado, só estava mais furioso quando acabou.

Enfim eu a vi indo embora e para minha consternação não senti o alívio que gostaria de sentir. Subi para a sala com meus olhos varrendo o ambiente, a procurando e não encontrando, me dando conta que provavelmente tinha mesmo desaparecido.

De novo.

Tonto do soco que levei e do álcool que tomei, subi para o meu quarto sentindo-me miserável.

E de repente ela estava ali. Enfiando um saco de ervilha congelada para colocar no rosto estourado. A mesma voz autoritária que usava antes para me convencer a fazer o que queria.

E o que eu fiz? Mandei ela à merda?

Não, eu fiz o que ela queria.

Idiota.

Agora mais do que nunca eu precisava que sumisse da minha frente.

Mas Bree não estava disposta a obedecer meus pedidos para que saísse e em vez disso ficou ali me jogando na cara que não adiantava eu fingir que não a conhecia.

— Aquela era minha amiga, não essa garota que beija desconhecidos em festas de fraternidade — despejei sem me conter.

Porra, eu tinha mesmo beijado a Bree?

Bree?

E pensar que teve um tempo em que eu não podia conceber que nenhum menino a beijasse. Ainda me lembrava de Scott Dawson, um menino que fazia aula de química com Bree. Ele veio me confessar que ia chamá-la pra sair, quando tínhamos 14 anos. Mandei manter o pau dele dentro das calças se não queria apanhar. O idiota gaguejou dizendo que não estava pretendendo nada disso, só queria levá-la pra tomar sorvete.

— E não vai querer beijá-la?

Ele ficou vermelho e eram óbvias suas intenções.

— Fique longe da Bree, nem pense em chamá-la pra sair. Bree não é pra ficar passando nas mãos sujas de vocês! E avisa qualquer um que tenha a mesma ideia. Eu quebro qualquer um que se aproximar dela, entendeu?

Havia uma parte minha que sabia que estava sendo meio irracional, mas eu conhecia os garotos. Sabia como eles eram, afinal, era um deles. Eu já olhava para as meninas com outros olhos, imaginando como elas ficariam sem roupa e perdia horas batendo punheta com essas pequenas fantasias. E imaginar que algum garoto fantasiaria com a Bree ou tocasse nela com más intenções me deixava enfurecido.

Eu não queria pensar que um dia a própria Bree iria querer aquele tipo de atenção, mas naquela época, ela ainda era uma menina que há pouco nem havia se dado conta de que estávamos crescendo e que tínhamos outros limites, como nos ver pelados. Eu não queria que a Bree me visse pelado, como meu corpo estava mudando rapidamente e Deus me livre não queria ver o dela. Acho que no fundo, tinha medo de olhar pra Bree e ver que ela era como as outras garotas que eu profanava em minha imaginação sacana e nunca queria que isso acontecesse.

Bree era minha melhor amiga. E eu a protegeria de tudo. Até de mim.

E agora, eu havia enfiado minha língua em sua boca e passado minhas mãos em seu corpo que era bem diferente daquele que me lembrava.

Bree se tornou uma mulher.

E isso estava explodindo minha cabeça.

Inferno!

Eu apreciei cada momento daquele beijo. Desejei foder aquele corpo grudado no meu e por ínfimos segundos podia ter certeza que ela desejou o mesmo.

Quão fodido isso era?

E eu ainda a odiava por ter ido embora.

Dois motivos para expulsá-la da minha vida o mais rápido possível.

— Você também está bem diferente do meu amigo! — ela me atacou vermelha.

— Alguma vez teve um amigo?

— Você era meu amigo. — A vulnerabilidade em sua voz me deixa mais puto ainda.

Ela vai fingir que se importa agora?

— Escuta aqui, se não deu pra perceber, não somos amigos. Não somos nada. Por que não volta para onde veio? Seja lá onde se enfiou todos esses anos?

— Porque eu estudo aqui. Na mesma faculdade que você, se não percebeu!

O quê?

— Não. Eu saberia. Nunca te vi aqui...

— Acho que essa faculdade é muito grande para nunca termos nos cruzado, mas comecei agora e não ano passado como você, estou atrasada um ano. Então é isso. Estamos na mesma universidade, acostume-se com isso.

— Porra! — Não era possível que a Bree tinha ido para a mesma universidade.

E pensar que foi exatamente isso que combinamos um dia.

Mas agora é tudo o que eu não quero.

— Não vou desaparecer — ela insistiu com veemência.

— Como posso ter certeza, já desapareceu uma vez. Faz isso muito bem!

Eu me levantei a encarando de cima.

Caramba, sempre fui mais alto que ela, mas agora era bem mais, porém não se intimidou.

Ela nunca se intimidava comigo.

— Eu não desapareci, eu... só me mudei! Não acho que seja motivo para me tratar assim agora, como se me odiasse!

— Eu não te odeio. Eu simplesmente finjo que não existe. É o que eu tenho feito todo este tempo e vou continuar fazendo!

— Não pode estar falando sério. Éramos melhores amigos...

— Uma melhor amiga não vai embora do jeito que foi! Queria que eu fizesse o quê? Nem se despediu, simplesmente sumiu! Sim, fiquei furioso com você. Eu odiei você! Mas foda-se. — Dei de ombros. — Deixou de ser importante, então vê se some agora. Fique longe de mim! Não quero olhar na tua cara mais!

— Opa! Atrapalho?

Tracy está abrindo a porta e olha de mim para a Bree.

— Não, entra. Bree já estava indo embora, é a especialidade dela!

Pedi que ela se aproximasse e a puxei para que montasse em meu colo na cama, a beijando.

Tracy gemeu derretida, como sempre, mas eu não estava com a atenção nela, e sim na porta batendo quando Bree finalmente se foi.

Deveria sentir alívio, mas só senti raiva.

E embora eu já tivesse ficado com Tracy inúmeras vezes, desta vez enquanto ela me beijava, não conseguia esquecer que a última vez que senti tesão com uma garota foi quando estava com minha ex-melhor amiga se esfregando em mim e foi o que bastou para acabar de melar o lance inteiro. Tracy ainda sorriu com malícia, sem entender que eu não estava a fim e escorregou o corpo para baixo, os dedos abrindo minha calça, e por um momento, pensei em deixar. Não seria possível que meu pau não reagiria a boca gulosa de Tracy, mas assim que ela abaixou a cabeça e tomou na boca, e senti a reação natural do meu membro sendo chupado, fechei os olhos soltando um grunhido de satisfação, mas não foi a imagem de Tracy que infestou minha mente, mas sim a sensação da boca da Bree sobre minha e os gemidos que ela soltou quando nossas línguas se encontraram.

Empurrei Tracy com força desta vez, fechando a calça e me levantando, ignorando sua confusão enquanto perguntava o que tinha feito de errado.

— Nada, apenas não vai rolar.

Desci as escadas, pronto para tomar um porre, mas parei irritado ao ver que Bree não tinha ido embora como exigi.

Ela ainda estava ali, dançando com sua amiga morena e Ryan.

Porra, que merda Ryan estava querendo com ela?

Ele era um cara legal, mas assim como todos nós, não perdia tempo em pegar quem queria. E pela sua expressão enquanto acompanhava Bree, ele a queria.

E Bree queria Ryan?

Eu nem sei qual das opções mais me enfurece. Meu primeiro instinto foi ir até lá e arrastar a Bree de perto dele ou de qualquer outro cara que quisesse seduzi-la. Ou talvez quebrar os braços do Ryan, que a mantinham perto, enquanto sussurrava algo em seu ouvido ao lhe dar mais um copo de bebida.

Porra, Bree não bebia.

Ou bebia?

Eu não fazia ideia do tipo de vida que ela levava nesses quatro anos longe de mim. E este fato me deixava frustrado pra cacete.

Eu não conhecia essa Bree. Essa garota atraente que mexia o corpo bonito com sensualidade como se soubesse o que fazia com cada cara que ia se juntando ao seu redor. Que aceitava o copo de bebida de um cara que acabou de conhecer do mesmo jeito que aceitava os sussurros ao pé do ouvido com um sorriso no rosto.

O sorriso que, por mais que eu negasse, ainda era o mesmo da minha Bree.

Da Bree que se enfiava na minha cama e me obrigava a ler seus livros idiotas, que suspirava com comédias românticas bobas dos anos 90, que me lançava um olhar todo agradecido cada vez que minha mãe a tratava como filha, afinal, eu disse que podia dividir minha mãe com ela. Ainda me lembrava das duas rindo juntas ao piano, tocando aquela música chata dos Carpenters que mamãe amava tanto.

O que me faz ter mais raiva porque Bree não deixou só a mim. Ela deixou minha mãe, que sempre a tratou como filha. Assim como meu pai, que embora mais comedido, afinal, Bree tinha um pai maravilhoso, gostava dela como da família.

Por um tempo, eu culpei Evan Stewart o odiando com todas as minhas forças por tê-la levado para longe, embora meus pais tentassem amenizar lhe dando razão.

— Você tem que entender, querido — mamãe dizia em sua infinita paciência. — Nós também gostávamos muito do Evan e da Bree, era quase como da família, mas Evan tem sua vida, seu trabalho e suas prioridades. E a Bree como filha dele tem que segui-lo. Se seu pai arranjasse um emprego no Alasca, nós iríamos juntos e a Bree ficaria aqui.

Mas eu não queria entender.

Porque não fazia sentido que eles tivessem simplesmente ido embora sem deixar um único contato.

— Eu também acho uma pena — mamãe comentou quando falei sobre este fato. — Não sei se aconteceu algo, talvez tenha, não tem como saber, apenas respeitar. Ele deve ter seus motivos, mas não fique com raiva. Vai ter outros amigos e sempre terá boas lembranças da Bree.

Mas eu não queria as boas lembranças. Eu a queria ali comigo. Do jeito que sempre foi e de como seria sempre.

Agora eu observava essa Bree na minha frente com um ressentimento feroz. Ela podia ter mudado tanto?

A única coisa que sentia por essa Bree era raiva. E a merda é que eu não deveria sentir nada. Mas cada vez que ela sorria era o mesmo sorriso. Sua voz, embora com uma entonação mais adulta, ainda era a mesma voz da minha amiga. E o jeito que ela falou comigo no quarto, ainda era o mesmo jeito mandão da antiga Bree e, como naquela época, eu não consegui falar não.

Eu tinha que dar um jeito de ela ir embora, mas antes que pudesse tomar alguma atitude, Ryan passou por mim em direção à cozinha e encheu dois copos com mais bebida.

Eu o segui e exigi que a Bree fosse embora.

— O quê? — Ryan riu sem entender e provavelmente já bem bêbado para compreender o que quer que fosse.

— Bree tem que ir. Agora.

— Não! Ela está comigo!

— Ela não está com você. Se livre dela.

— Vai se foder. Sabe as regras. Eu escolhi ela. E vai ficar.

— O que está rolando? — Hannah se aproximou, farejando a confusão.

— Parece que Blake não está entendendo as regras. Eu escolhi Bree e ela fica. Não interessa que ela é sua ex-amiguinha de parquinho e está com ciúme, cai fora!

Respirei fundo sentindo a raiva começando a me dominar.

Não queria brigar com Ryan, mas puta merda. Qual a dificuldade de entender?

Porém antes que eu pudesse pensar no que fazer, Travis, um dos caras da fraternidade e namorado da Hannah, a líder da irmandade Beta, entrou na cozinha com uma expressão preocupada.

— Dom está aqui.

— O quê? Você não disse que esse dealer estava proibido de pisar aqui? — Hannah indagou irritada.

E eu sabia por quê. Não é como se Hannah não curtisse uns pegas como a maioria ali, mas desde que uma das suas garotas teve uma overdose há alguns meses, todo cuidado era pouco, já que os olhos estavam em nós.

Molly Sanderson teve uma overdose enquanto estava com um dos caras da Alpha na nossa casa.

Dominic Jackson, o Dom, como o chamavam, era um veterano da universidade que dominava a cena do tráfico no campus e sempre foi figura presente nas festas das fraternidades. Porém, depois do episódio da Molly eu o proibi de aparecer.

Ele não gostou nada, mas sabia que era melhor se manter nas sombras por um tempo até a poeira baixar. O ano letivo acabou e outro começou e aparentemente Dom achou que o embargo estava acabado.

Se fosse outro dia, eu estaria furioso e preocupado em convencer, por bem ou por mal, que Dominic Jackson sumisse da minha festa, mas hoje eu não estava nem aí.

— Foda-se — resmunguei, enquanto Ryan aproveitou a distração e se foi, levando mais álcool para a Bree.

Inferno!

— Achei que tinha falado pra ele não vir aqui! Não quero mais nenhuma garota tendo overdose e eu me ferrando no meu último ano! — Hannah se irritou.

— Então vai lá e manda ele ir embora, se está tão preocupada!

— Ei, cara, não é assim. — Travis se colocou entre nós. — Hannah não tem que se meter com este cara! Ele é um traficante, porra!

Irritado, eu fui para a sala para encontrar Dominic Jackson sentado no sofá, com um sorriso presunçoso. Ele era um cara alto, com suas roupas pretas e tatuagens que cobriam praticamente todo seu dorso e braço, até o pescoço. E rapidamente percebi que seu exército já estava espalhado pela sala, distribuindo balas e o que mais quisessem.

— Não foi este o combinado. — Eu me sentei ao seu lado.

— Relaxa, LeBlanc, não quero problemas. Só vim me divertir, essas noites das novatas na irmandade são sempre interessantes! — Ele levou a garrafa de cerveja à boca com um olhar malicioso para as garotas que dançavam do outro lado da sala.

Dentre elas, Bree.

— Precisa manter seus negócios longe daqui.

— Ah é? Mas parece que todo mundo está curtindo os meus produtos...

Inferno, ele tinha razão. Já podia sentir a diferença no ar.

Não é a primeira vez que entorpecentes rolam solto nessas festas. Eu mesmo não estava nem aí até o episódio com Molly, que havia quase morrido e nem voltou para a faculdade, me deixar em alerta.

Nem todo mundo tinha controle sobre o que usava e agora eu era o líder da fraternidade, embora eu me perguntasse por que diabos eu quis aquele posto. Talvez o fato de precisar de um propósito. De uma distração.

De algo que deixasse eles orgulhosos para variar, embora eu dissesse a mim mesmo que não me importava.

— Vamos lá, cara. Parece tenso esta noite. Sabia se divertir antes — Ele enfia a mão no bolso e tira um pacote com o pó branco inconfundível. — Pela casa.

Eu hesitei.

Sim, e já tinha experimentado todos os tipos de drogas que se tem notícia, mas há algum tempo percebi que nada disso adiantava e agora só fumava maconha às vezes. E álcool.

Porém, depois dos acontecimentos das últimas horas, talvez não fosse má ideia.

Peguei o envelope e antes que pudesse ir em frente, escutei risadas femininas próximas.

— Tem algo aí pra gente, gato?

Levantei o olhar e era a menina que estava com a Bree caindo de bêbada e atrás dela estava a Bree, no mesmo estado.

Ela ria e mal conseguia se manter em pé.

— O que daria em troca, querida? — Dom sorriu de forma predatória a avaliando e depois passando para a Bree.

E foi nítido o jeito que os olhos dele brilharam mais forte.

Fechei os punhos.

— O que quiser...

— Não de você, estou falando com sua amiga.

— Bree? — A amiga de Bree riu. — É com você, Bree... Uau, dois caras na mesma noite...

— Para, Audrey. — Bree se segurou na amiga. As duas rindo feito idiotas.

Ela não reparou que eu estava ali, aparentemente, e franzi o olhar. Ela estava com uma expressão vaga, vazia. Os olhos opacos. Pupilas dilatadas.

Porra.

— O que você usou? — Eu me levantei furioso e preocupado.

— Oh! Blake? O que faz aqui? — balbuciou.

— Inferno, o que você usou? O que te deram? — Eu a segurei pelo ombro, a sacudindo.

— Ei cara, não põe a mão nela, não. — A amiga tentou defendê-la, mas estava tão tonta que caiu no sofá.

— Deixa a garota, Blake — Dom pediu com diversão na voz. — Ela parece que quer mais alguma coisa pra ficar alta. O que quer, querida?

— Cala sua boca. Não vai dar nada a ela, porra!

— Me deixa, Blake! — Bree tentou me empurrar. — Eu só quero um pouco mais do que Ryan colocou naquela bebida. Me deixou tão bem...

O quê?

Naquele momento vi tudo vermelho.

Ryan estava morto. Morto.

Eu o procurei com o olhar, mas não o vi em lugar nenhum, provavelmente estaria dando um pega em algum canto e deixou Bree sozinha depois de drogá-la.

— Acho que estou tonta... — Bree balbuciou e decidi que eu podia matar Ryan depois.

Ignorando os chamados do Dominic e da Audrey, peguei Bree no colo e a levei para o meu quarto.

Ainda xingando eu a coloquei na cama enquanto ela resmungava coisas sem sentido.

— A festa acabou? Eu estava me divertindo.

— Cala a boca, você vai dormir! — Tirei seu sapato.

— Vou? Não posso dormir com essa roupa, está me machucando...

Peguei uma camiseta minha e sem pensar duas vezes, tirei sua calça e blusa, deixando-a de calcinha e sutiã preto. Não a olhei em nenhum momento, como se ela fosse uma freira que não pudesse ser profanada, ou minha melhor amiga que não deveria ser desejada.

Peguei uma blusa de alguma banda que tinha jogada por ali e a vesti, colocando-a embaixo das cobertas.

Bree bocejou ainda meio agitada.

— Não deixe eu dormir aqui, Blake, meu pai vai ficar bravo se não voltar pra casa — sussurrou antes de cair no sono.

Não consegui evitar uma risada que continha uma dose de tristeza nostálgica porque era o que ela dizia sempre que adormecia no meu quarto.

Mas o riso acabou num engasgar dolorido.

Senti falta disso. Senti falta dela.

A coisa mais difícil que fiz na vida foi me desapegar da Bree. Tive que esquecer que precisava dela como se fosse um membro do meu corpo que perdi em guerra.

Não posso deixar entrar na minha vida de novo.

_______________________________

Nota da autora

Olá

Espero que estejam gostando da história!

Hj ela lançou completa na Amazon!

grande beijo

Ju

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