Apesar de toda a dor, ver o céu sobre suas cabeças, sentir o vento passar fluindo com tanta leveza passar por seus cabelos e roupas, sentir a luz ir diretamente a suas peles, carne ou ossos, foi um momento levemente aconchegante e terno, mesmo que a seriedade voltasse com a brisa, logo estava anoitecendo e eles levando suas coisas para fora do subsolo, decidiram acampar fora dali, eles montaram um acampamento escondido, para não serem pegos pelos humanos, estando desprevenidos, agora o tempo era úmido com o vendo gelado, não poderia ser diferente de baixo das árvores, em meio a floresta escura, mas as estrelas traziam pouca luz, dentre as folhas e apenas o barulho das cigarras acompanhava suas respirações, estava ficando mais frio, com isso Frisk apertou a blusa de Sans com mais força, Papyrus, que encarava entre as arvores, ouvindo os dentes de Frisk baterem pela temperatura de seu próprio corpo, se virou para ela preocupado e com seu olhar cheio de carinho, apesar de lhe faltarem olhos
"Oh, está com Frio, né?" Papyrus
Ele embrulhou seu próprio cachecol em volta do pescoço dela e sorriu, não antes de finalmente perceber a blusa
"Obrigada" Frisk
Frisk se encolheu mais, suspirando, ela quase desaparecia em meio aos panos e era levemente exagerado pensar na quantidade de coisas com significado que ela carregava agora
"Ah- Ele deixou com você, não é?" Papyrus
Ele estava meio sem jeito ao perguntar, não queria ser inconveniente, demorou alguns segundos a ela entender que ele falava da blusa, ela apenas olhou para ele com o senho franzido, pensando em como aconteceu
"Algo assim" Frisk
Seus pensamentos viajam para duas semanas atrás, quando ela estava encostada contra a parede branca do laboratório, virada para o vidro, olhando um certo esqueleto
"Ah... Parece que os assuntos fugiram, minha mente tá em branco" Sans
O esqueleto dá uma leve risada com sua piada, enquanto segura o telefone com a mão levemente tremula, ele tinha algo em mente, Frisk percebeu isso, ele estava sentado de pernas cruzadas e coluna levemente torta para frente, cotovelos em cima dos joelhos enquanto o rosto quase se encostava contra o telefone
"Passou a semana inteira pensando nessa, né?" Frisk
Ela tinha seu comum rosto sem expressão
"Não... Aqui não consigo ter ao certo noção de tempo... Mas deve ter sido mais ou menos esse tempo que pensei em outra coisa" Sans
Isso era verdade, o quarto não tinha janelas, apenas as oito luzes um em cada canto no topo das paredes, que ficavam o tempo todo ligadas, mas sobre o que ele tinha pensado, ela apenas esperou ele continuar, enquanto a seriedade do olhar a deixou desconfortável pela primeira vez, ela endireitou a postura, ainda não deixando de encostar a cabeça na parede
"O que eles fizeram com minhas coisas? Você... Sabe se eles jogaram fora?" Sans
Ele se manteve como uma estatua ao falar isso
"Eles não jogaram" Frisk
Ela falou de um jeito direto e robotizado, como se fosse um soldado em um batalhão, só faltava um "Senhor" ou "General" no final para ser uma cena fácil de se confundir
"Como você sabe disso?" Sans
Ele ri dela, era levemente estranho ela se interessar nisso, mas o rosto dela ficar vermelho, desencostar a cabeça da parede para virar o olhar em outra direção, foi uma expressão melhor do que ele imaginou, ele gostava de tirar algum sentimento verdadeiro dela, coisa que não era lá muito fácil
"Ah... Quando cheguei aqui pela primeira vez, eles estavam indo jogar fora... " Frisk
"E por que a vergonha?" Sans
"Perguntei se eles tinham arrumado outras roupas para você, no lugar delas" Frisk
"E...? " Sans
"Eles te veem como um animal... Eles não colocam roupas em animais de zoológico" Frisk
Ela deu uma leve risada ao ver ele tossir e engolir em seco, ficando envergonhado
"Oh... Então, obrigado Criança" Sans
"Mas depois disso eles deixaram eu ficar com suas coisas, mas não posso devolver elas pra você enquanto você ficar aí" Frisk
Sans pareceu se recuperar da noticia anterior, voltando a antiga seriedade, apesar de querer parecer despreocupado, se virando de costas para a parede e deixando seu corpo se deitar ali, descruzando as pernas e olhando para a outra parede, agora, a sua frente
" Não... Precisa devolver" Sans
"Por quê?" Frisk
"Pegue pra você... Ache algo pra se lembrar de mim" Sans
Frisk ficou com raiva e alterou levemente a voz
"Não fale como se fosse morrer" Frisk
"Então não fale como se pudesse garantir que eu continue vivo" Sans
Nesse momento Frisk apertou as mãos com força e deu um soco contra a parede, o olhar de Sans ficou mais triste ao olhar de canto para ela
"Nunca imaginei que ia me importar com uma humana, até te conhecer, mas não faça o mesmo comigo, Criança, vá embora na primeira oportunidade que tiver" Sans
Frisk ficou confusa, no primeiro momento ele falava para ela não se esquecer dele, depois dizia para ela ir embora?
"O que quer com isso tudo?" Frisk
"Não quero que me vingue, seja feliz longe daqui, não quero ser seu amigo para você virar como eles por minha causa" Sans
Sans parecia completamente descontraído ao dizer isso, como se não fosse grande coisa, Frisk se arrastou até mais perto do vidro, como se entendesse porquê ele estava agindo assim
"Sans" Frisk
Sans não a respondeu
"Sans..." Frisk
"Está na hora de deixar essa pequena brincadeira de lado... São apenas memórias, pode fazer memórias melhores" Sans
Ele deu uma risada e deixou o telefone no chão, encarando a parede a sua frente
"Não, Sans!" Frisk
Ela não sabia o que dizer, mas ela queria que ele voltasse a responder ela, queria continuar a conversar com ele, queria que as coisas continuassem para que ele pudesse ir embora logo, voltar para o subsolo... Talvez ela pudesse o convencer a deixar ela ir junto, talvez a vida ali na superfície não fosse tão importante, talvez os monstros deixassem ela viver com eles, talvez... Talvez a dessem uma segunda chance, mas não valeria a pena se não levasse Sans de volta com ela, talvez os pensamentos de Papyrus sobre ser um herói tivessem ficado presos em sua mente, ou talvez Sans apenas fosse um ótimo amigo
Sans manteve silencio e os cientistas chegaram ali, pedindo para ela sair, esperando por algum tempo do lado de fora, ela soube que eles conseguiram conversar com Sans, nisso ela desistiu de esperar e saiu dali, indo até as coisas dele, pegou sua blusa e a colocou, voltando apenas no dia seguinte, quando ele a viu, ele sorriu, vendo que concretizou o pedido sobre as coisas dele, mas ficou 3 dias sem responder pelo telefone novamente, ele queria que ela fosse viver uma outra vida, mas a companhia dela era tentadora demais para ele conseguir a ignorar, por isso, não resistia e se deixava levar pelo momento, se arrependendo depois... Bem, até tudo que ela viu e chegar o momento presente, aonde ela jazia no escuro, ao lado do irmão dele, sem dizer nada
"O que quer dizer com 'Algo assim'?" Papyrus
"As palavras dele foram frias demais para eu gostar de repetir" Frisk
Papyrus se sentiu mais confuso e triste, não sabia exatamente o que ouve, por isso a confusão, mas pensar no Sans dizendo palavras frias, era tão impossível que tentar imaginar fazia ele sentir uma mistura de dor e tristeza torturantes
Frisk chegou mais perto de Papyrus, que se sentava em um tronco de arvore cortado, enquanto Frisk anteriormente se sentava em uma pedra, ela se senta ao lado dele no tronco e encosta a cabeça contra ele deixando uma única lágrima rolar
"As coisas nunca mais serão as mesmas, né?" Frisk
"Não, elas não vão.... " Papyrus
Ele coloca a mão na cabeça dela e faz carinho na mesma, ouvindo ela soluçar, segurando para não chorar mais, ela queria parecer forte por alguma razão
"Não significa que ela nunca mais serão boas, apenas que vamos ter as memórias de hoje e aprender a lidar com elas... Se ainda estivermos vivos, vamos encontrar outras formas de sorrir juntos de novo" Papyrus
"Será...?" Frisk
"Sim, afinal, eu! O Grande Papyrus! Vou me certificar disso! É uma promessa, ok?" Papyrus
Ele olha para Frisk, que o encarava, dando um sorriso gentil e acolhedor, isso faz ela se sentir mais calma e segura, ela devolve o sorriso enquanto fecha os olhos, mas estava tão tarde e ela tão cansada, que acabou dormindo, isso fez Papyrus dar uma risada baixa
"Não devia mentir para a Criança, você não sabe se vai poder cumprir com a promessa" Undyne
"Apesar disso, ela continua uma criança, não devemos preocupar ela com nossos problemas de adultos" Papyrus
"E desde quando você tem esse tipo de responsabilidade?" Undyne
Ele ri fechando olhos, achando nisso uma forma de não encarar os olhos de Undyne para poder parecer despreocupado, talvez tenha aprendido isso com Sans
"Como eu poderia entrar para a Guarda Real e ajudar todo um exercito se nem posso ajudar uma garotinha? Como poderia salvar meu irmão, se não posso nem tirar os tormentos dela, para que ela possa dormir? Se eu não tentar a ajudar, como eu conseguiria ajudar quando eu tiver que o ajudar a superar seus traumas?" Papyrus
Undyne com um sorriso contido dá um tapa nas costas de Papyrus
"Boa!" Undyne
Porém ela esqueceu que isso acertaria Frisk, que acordou choramingando
"Opa..." Undyne
O tempo voltando a correr como agora caiam gotas de água do céu, Papyrus segurava as mãos de Frisk enquanto eles giravam pulando nas poças d'água na grama, dando risadas
"Se você soltar, vai ter que... Assumir para o Sans que sentiu falta das piadas dele quando o salvarmos!" Frisk
"Ei, se você soltar... Vais ter que ficar uma semana... Sem comer meus espaguetes!" Papyrus
No mesmo momento Frisk soltou e caiu sentada em cima de uma poça se sujando de lama, enquanto soltava risadinhas, Papyrus apoiando as mãos na cintura
"O que foi isso, Senhorita Frisk? Está com medo de assumir o quanto ama meus espaguetes? Eu sei, eles são tão incríveis que chega a ser desperdício comer todos os dias, você tem razão" Papyrus
Ele sorri orgulhoso e ela se levanta suspirando, ela não estragaria a diversão dele, mas alguém parou a dela
"Huhum" Undyne
Os dois olham Undyne, que saiu dentre as arvores
"As analises foram mais difíceis pela chova, não ter apoio dos cães foi realmente complicado... Por isso vou perdoar a negligencia..." Undyne
Ela parecia cansada, andava ultrapassando seus limites, ficando noites em claro, Frisk sabia que ela foi uma ótima escolha em quem confiar
Por mais que queira parar no tempo e ver mais dos pequenos momentos da viajem, o tempo não parou para eles e os dias voaram, mas para um esqueleto, pareciam estáticos no mesmo lugar, diferente da poeira que era varrida depois de cair no branco, mas sim como as dores em seu olho esquerdo, que não cessaram por nem um instante depois que os experimentos avançaram para a parte fisica
Ele estava caído no meio de seu lado da sala branca, olhando a porta enquanto tinha uma espécie de crise, com tremores, medos rondando em sua mente, tortura e febre, mas isso não duraria mais do que 3 horas, como era algo psicológico, não afetaria nas pesquisas, ou talvez ajudasse, para entender os comportamentos de seus poderes apesar de seus sentimentos e se tinha algo relacionado, ele abraçava o próprio corpo e esperava a aquilo passar, essas crises começaram quando ele percebeu que Frisk não voltaria, ele se abalou mais do que imaginava com a ida dela, talvez tivesse sido o melhor para ela, não significava que deixava de doer, essa ansiedade o corroía
Ele tinha olhos cansados e desistentes, até ele ver um ponto preto na sala, inicialmente pensou que estivesse perdendo a consciência novamente, mas não, então acreditou ser uma alucinação e aceitou essa hipótese, vendo da sombra se forma um ser completamente escuro, mas era alto e seu formato lembrava algo humanoide, logo aquilo ganhou cores e ele teve certeza que tinham injetado algo nele, verde escuro, laranja cinzento e vermelho batido não eram cores a se ver em qualquer lugar juntas, não era possível que um cientista usando roupas assim tivesse entrado ali, mas tirar sua atenção de seus pensamentos anteriores e ter sua atenção naquilo o aliviou levemente, ele se sentou e tentou identificar a criatura, ele era pálido demais para ser um humano, e aqueles traços negros... Foi então que se tocou quem era
Gaster encarou Sans de cima a baixo e deu um sorriso, ele atravessou o vidro como se ele não existisse e puxou Sans para ele ficar de pé por sua camisa branca
"Olá Jovem, posso saber o que eles estão querendo de você?" Gaster
A boca de Gaster não se moveu, mas Sans escutou a voz dele dentro de sua mente, tão clara como o quarto que estavam, Sans tinha poucas forças, Gaster estava o segurando de pé, se abaixando para ficarem uma altura próxima, quando Sans disse em uma voz carregada de cansaço
"Pai?" Sans
Os olhos de Gaster se arregalaram em surpresa, depois em tristeza se encheram de lágrimas
"Qual... Qual dos dois?" Gaster
Sans tentou parecer tranquilo e divertido ao fazer uma piada
"Seu favorito... Sans, é claro" Sans
As palavras de Sans iam morrendo e ele perdendo a voz, Gaster deu um pequeno sorriso enquanto as lágrimas caíram, ele puxou o corpo fraco de Sans para se apoiar no seu, em um rápido abraço e se levantou
"Aonde... Como..." Sans
Gaster apenas fez carinho no crânio dele, como se pedisse para ficar em silencio, ele viu que Gaster tinha alguns aparelhos estranhos nos quais ele estava controlando para poder fazer isso de atravessar paredes, quando Sans viu, eles estavam passando por corredores de metal e depois de pedra, logo ele percebeu ao olhar para cima, algo estranho, tantos pontos distantes, era tão longe, que tipo de teto seria? Tinham brilhos e cores em tons escuros, algumas coisas que lhe lembravam lã como as de suas pantufas, mas pareciam se desfazer mais fácil e terem os tecidos bem mais leves e afastados, fora serem gigantes, ele voltou a achar que estava alucinando de tão estranho que aquele teto parecia
"Está vendo?" Gaster
"Acho que seria difícil... Não ver" Sans
Gaster deu uma risada e também olhou para cima
"Isso é o céu, filho" Gaster
Os olhos de Sans se arregalaram e ele ficou maravilhado ao olhar para cima, dando um doce sorriso desgastado
"Mais legal... Do que pensei" Sans
Sans suspira e deixa os olhos começarem a se fechar, pegando no sono vendo aquela paisagem, enquanto Gaster tentava fugir, o levando a um local escondido, naquela pequena cidade, lá ele consegue comida e algumas coisas, ficando dentro de um grande caixote de carga de navio, até Sans acordar e comer o que Gaster conseguiu para ele
"E... Como está 8532?" Gaster
"Papyrus, como está Papyrus, é o nome que dei para ele" Sans
Sans apoiava a cabeça contra a parede, olhando para o teto, mas Gaster o olhava com empolgação
"Papyrus, claro, não vou me esquecer... Ele apresentou alg-" Gaster
"Não fale como eles, Papyrus teve uma vida feliz, é o bastante?" Sans
O rosto de Gaster se encheu de compreensão
"Sim... Como ele é?" Gaster
Sans suspira e o encara de forma mais empolgada
"Alto, igual você... Sonhador... Animado e cativante" Sans
"Oh... Parece bom" Gaster
"Sim... Um dia ele vai entrar para a guarda Real... Acredita? Nem parece que os humanos o fizeram a partir das suas células" Sans
"Ponto para nós! Ele é nossa primeira vitória" Gaster
Ambos deram risada
"Mas... O que te trouxe?" Gaster
Sans não disse nada, apenas olhou para uma caixa fechada e seu olho brilhou azul, logo a tampa da caixa também ficou azul e voou até o lado da caixa
"Tenho isso, eles querem para eles" Sans
Gaster olhou para baixo se sentindo culpado
"Não fique assim... Não é porque tenho sua herança genética que você é culpa-" Sans
Com Sans parando de falar de repente, Gaster o olhou viu ele inclinar o corpo sobre o rosto, com as duas mãos em cima do local de seu olho "especial", ele de repente tinha começado a sentir muita dor, ao usar sua magia azul
"Isso... É normal?" Gaster
Então a tampa da caixa começa a se alto esfarelar batendo em vários lugares próximos, fazendo uma grande bagunça
"Não consigo... Controlar.... Preciso... Desligar" Sans
Gaster se aproxima de Sans e o abraça, Sans fica algum tempo assim até sua magia azul desligar sozinha, ele começou a chorar de desespero
"Isso era a única coisa útil que eu tinha... Pai, o que eles fizeram comigo?" Sans
Gaster teve bastante paciência em tentar ajudar Sans, o acalmar e pensar positivo, mas era difícil quando nem sequer o conhecia, apesar de nunca ter deixado de amar o pequeno esqueleto, que por sua vez amava usar suas pantufas rosa e correr pela neve, sujando seu cobertor vermelho, agora esse mesmo pequeno esqueleto, estava em seus braços, depois de ser machucado, e talvez o machucassem de novo e ele não poderia fazer nada quanto a isso... Por enquanto