Glitch • Pedri González

By alyssacstro

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FALHA ✓ | RED EDITION Desde que Alexia o deixou ainda quando terminavam o ensino médio, Pedri repudiou por mu... More

Degustação
ALEXIA
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PEDRI
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ALEXIA

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By alyssacstro

8 de outubro é o novo 1 de abril ;)

Acordei, eu acho.

Ou melhor, a minha mente acordou mas o meu corpo não. Não sei o que vem passando na minha cabeça e na do Pedri ultimamente, sendo dois animais famintos pela mesma comida, mas com certeza estamos em perfeita sincronia em relação aos nossos desejos. Não estávamos brigando para obter o que queríamos. O compartilhamento e a vontade de deixar ambos felizes e sem as máscaras do fingimento parecia ser tão mais fácil de manter o controle da vida agora. Tudo tão belo e tranquilo.

Que ironia. Controle da vida? Que espécie de controle estávamos tendo ao virar a noite em claro?

Tudo bem, talvez eu estivesse exagerando. Não viramos a noite em claro. Quero dizer, não literalmente. Pedri me acordou com beijos molhados no meio da madrugada e na segunda vez eu o acordei porque queria mais. Perdi as contas do que fizemos nas horas passadas, mas eu me sentia tão bem que até esquecia do fato das minhas pernas continuarem meio doloridas pelo segundo dia consecutivo.

E a primeira coisa que fiz foi tomar as benditas pílulas.

O engraçadinho me impediu de tomar ontem, embora eu apostasse que não valesse mais de nada, mas mesmo assim eu deveria bater nele por me deixar dolorida de novo.

Filhos agora nem de brinquedo.

Fui pega de surpresa quando o jogador disse que iríamos para Tenerife assim que levantei e o encontrei na cozinha. Eu não sabia se era uma boa ideia ter que voltar e reviver as memórias bem mais nítidas e sendo transmitidas lentamente em uma espécie de filme nostálgico na minha cabeça, mas ele argumentou dizendo que eu poderia encontrar alguma prova na casa de vovó sobre o meu nascimento, e nesse ponto ele estava certo. O meu coração batia forte só de pensar em passar pelas mesmas ruas de quando ainda estávamos na escola, porém eu e ela deixamos a ilha às pressas. Não voltamos mais e, depois que a vovó se foi, a chama da vontade se apagou com força.

Essa era outra coisa negativa também, de ir para lá. Eu me lembraria de Dona Yona e ficaria triste ao entrar no lugar que morei durante a minha infância e adolescência.

Embora eu soubesse que um dia, teria que enfrentar mais essa batalha.

E esse dia era hoje. Estava me arrumando em contra vontade e na vagareza de uma lesma, e aí o González percebeu e me ajudou a ser mais rápida. Vovó nunca foi de comentar sobre os meus pais e a vida passageira que tive em Marseille, então poderia existir muito mais coisas a se descobrir sobre o meu passado nas caixas que ela guardava, e esse foi um ponto crucial para me fazer ter mais coragem de ir. Pedri contatou imediatamente o mesmo helicóptero que fomos para Bilbao e mesmo sendo em cima da hora, não houve problemas para obter êxito no que queria.

Novidade. O senhor perfeitamente perfeito sempre tem o que quer.

E provavelmente faria duas horas que sobrevoávamos o mar do arquipélago espanhol, um azul brilhante e cheio de vida em todos os cantos que se olhava. Os meus dedos não pararam de apertar a mão dele nem por um minuto, contando em números infinitos o momento de estar em terra firme.

Porque eu odiava estar em helicópteros.

Odiava o barulho que eles faziam quando estávamos na sala de aula. Quando ficavam tão próximos em cima da casa dos González que eu jurava que cairia bem em cima do telhado. Era péssimo mergulhar e de repente aquele ruído grave ser perceptível até debaixo da água. O mesmo susto e a perturbação sempre rondando em cada passo que eu desse como se tivesse sendo perseguida. Eu não me importaria se aparecesse algum monstro marinho e derrubasse a máquina de voo em uma dessas datas atípicas. Fantasiavam tanto essa cena no triângulo das bermudas que eu ficaria satisfeita se os meus ouvidos não ouvissem o som irritante graças à ajuda dos seres marinhos.

Então se um dia me perguntassem se eu tinha algo contra helicópteros, sim! Tenho uma lista completa do quão chato é o barulho que ecoavam. Não tinha desculpa. Com a tecnologia moderna, já deveriam ter feito os que não provocassem o som perturbador. Dinheiro e inteligência era o que não faltava.

— Não estou acreditando no que vejo!

E quando finalmente a aeronave pousou em uma área verde e plana de Tenerife, Fernando nos esperava visivelmente feliz encostado em um Jeep azul. A minha primeira ação foi de correr para abraçá-lo e sorrir quando fui erguida por alguns segundos do chão, nem parecendo que foi somente alguns dias que nos encontramos no casamento.

Embora não tivemos muito tempo juntos.

Falamos um pouco na festa depois do irmão dele aprontar comigo em público, e só o vi de manhã no café em plena despedida. Pedri os deixou primeiro no apartamento e seguiu madrugada adentro ao meu lado na comemoração.

E quando ele voltou o xinguei por isso. Não queria ir apenas eu e ele no carro. Ter a família por perto era um porto seguro para as artimanhas que o González usava.

A mesma que eu acatava vergonhosamente como uma boba derretida.

Pedri chegou ao meu lado com a minha mochila no ombro e mantive a alegria no meu rosto ao ver que o que não aparentava ser o mais velho o puxou para um abraço apertado. Sempre achei engraçado como reclamava que demonstrava carinho bem mais do que o Pedri, e até hoje, nas redes sociais, ele revelava sua indignação divertida e para todos saberem dos gestos escassos que recebia em troca.

Eu cheguei a concordar muitas vezes com ele na escola, mas aprendi que o método dos dois era diferente. era mais de dizer, e Pedri era mais de fazer.

O jogador poderia ser mais contido e não fazer um alvoroço em público, mas isso não significava que gostava menos. Ninguém além dos seus amigos poderia imaginar que ele arremataria meio milhão apenas para poder jantar comigo. Ele gostava de que somente a própria pessoa soubesse do que estava fazendo e só. Era o suficiente. Não precisava da aprovação de terceiros. Precisava da aprovação de quem ele queria demonstrar.

Mas isso não significava que não fosse tão louco quanto eu.

— Isso aqui é um marco histórico. — aponta para todos nós e depois fica no meio, nos abraçando de lado. Estávamos em terra firme agora, mas os caminhos da água salgada ficava bem próximo de onde o helicóptero pousou. Seguindo em um percurso particular entre os montes enormes da ilha em um verdadeiro rio em progresso. — Depois de quatro anos o terror de Tenerife está de volta!

Ai, meu Deus. O terror de Tenerife?

Começo a rir loucamente. Até estava parecendo não ser tão ruim assim estar de volta.

Pelo menos nesses dois minutos presente.

— Pois é.....

— E já estava passando da hora. — ele olha para Pedri, que mantinha as mãos nos bolsos. — O mano não cansa de querer a minha irmãzinha só pra ele. — e no mesmo instante vem e me abraça por completo, olhando para o irmão antes de se voltar para mim. — Sabe quantas vezes eu disse pra ele te trazer só nesse mês?

Movimento o rosto em negativa.

— Também não sei, mas foram muitas.

Reprimo a risada.

No podemos venir todo el tiempo.

Balela. — Fernando começa a andar para próximo do veículo parado na rua curvilínea deserta, sacudindo as mãos. — Tudo balela. É só o mano fazer uma ligação que o helicóptero vem deixar.

É, isso era verdade. Ele nem precisou se esforçar para conseguir um voo não programado. Bastou um minuto de ligação que o pedido foi atendido. Igual quando Garnacho cismou de que eu poderia voltar para a Inglaterra em um avião em seu nome. Era impressionante como tudo saía fácil pra eles.

Doce dinheiro.

Deixei de prestar atenção nas palavras alegres do e olhei para o lado, prestando mais atenção em um certo detalhe estacionado.

Um Jeep azul.

Não, não era possível.

A cor azul-clara. O mesmo modelo. Talvez a mesma placa. A sensação de que é bastante familiar.....

Não, espera aí. Ele ainda o teria?

Alterno a atenção entre os dois, apontando para a máquina que segundo a minha intuição, conhecíamos muito bem.

— Isso é.....?

E o mais novo acena lentamente com um sorriso no rosto.

Ahaaam.

Não brinca!

Mas como? — e a minha boca se abre em choque, dando voltas no automóvel eufórica no mesmo nível de ter um carro valioso parado bem aqui na estrada.

E bem, para mim ele tinha um valor inestimável.

— Ainda parece novinho!

— Passou por revisão esse ano. Pintura nova, peças novas..... — explica. — Depois que o mano foi pra Barcelona, eu assumi o volante.

Meus olhos brilhavam conforme escutava as informações e tenho certeza de que o meu coração começou a bater mais rápido.

Não era só um carro.

Era uma história! Uma parte grandiosa da nossa história.

E que milagrosamente ainda estava intacta! Eu nem podia acreditar nisso!

Pedri poderia ter vendido se quisesse e Fernando ficado com outro. Era uma lembrança viva de quatro anos atrás. Ele não se incomodava de sempre que viesse a ilha o encontrar em casa? Revivendo as memórias e sensações de alguém que dizia odiar? Uma vez o vi responder sobre um carro que ele tinha no ano anterior quando perguntaram se ainda estava usando, mas o jogador negou que o tivesse, então conclui que também tivesse optado por se livrar dessa bomba de momentos antigos personificados em tempo real. Bastava olhar que todas as buscas de manhãs na minha casa e as saídas da escola indo me deixar de volta eram transmitidas no Jeep da cor do mar.

Entretanto, estranhamente ele optou por continuar.

Olhei para Pedri, que sorria minimamente. Aposto que estava me assistindo fazer todo o rebuliço de surpresa.

Gostaria de saber o que se passava na cabeça dele.

— Agora vamos que a mamãe está ansiosa. — relembra. — Como nos velhos tempos? — e vejo a chave sendo lançada para o jogador.

Os dois me observaram à espera de uma ação.

Como nos velhos tempos seria Pedri na direção, eu ao seu lado e no meio. Ou eu no colo do González mais novo.

Todavia, essa opção não era a mais indicada agora.

Sorrio forçado.

Pode ser.

Anime-se Aaaaalex! — recebo um chacoalhar nos meus ombros e sorrio mais sincera enquanto caminho para o banco da frente, com os outros dois abrindo cada porta e adentrando como eu. — Estamos todos juntos de novo! ¡Esto es motivo de celebración!

Estamos.

Como nos velhos tempos.

Eu estava nervosa. Estar aqui me deixava. Acompanhei de longe notícias sobre a ilha pelos tabloides e desejando não estar do outro lado da tela. Cheguei a cogitar vir na surdina uma vez, mas o medo de reencontra-los era grande. Algumas pessoas que estudaram na escola poderiam me reconhecer. O restaurante da família provavelmente se tornou bem mais requisitado agora, e o fato de eu ter reaparecido se espalhar não era tão difícil. Ruan que era amigo do Pedri trabalha no maior aeroporto da ilha até onde eu sei, embora só existissem dois, então qual era a chance dele me ver assim que desembarcasse?

Muitas. Extremamente muitas chances contra mim.

Mas isso não me impediria de seguir para o outro aeroporto. Ficava bem mais perto de casa por ser no norte da ilha se eu fosse parar para analisar.

Só que assim que o pensamento me surgia, a raiva também vinha de brinde, e tudo era apagado imediatamente.

Abaixei o vidro da janela que estava pela metade e olhei para as ondas quebrando próximo da praia, não podendo a areia ser vista porque a estrada era em um contorno lateral das grandes montanhas, o ponto de bronzeamento e afins ficava logo abaixo. Um verdadeiro percurso de curvas e despenhadeiros. Não era um caminho que vínhamos com frequência naquela época, mas eu me lembrava de acompanhar Pedri quando parentes chegavam de viagem e ele tinha que buscá-los quando Fernando não podia. Era arriscado porque ele não tinha carteira e a fiscalização próximo do aeroporto sempre foi mais forte, mas eu servia de cúmplice mesmo assim.

A preocupação que hoje não existe mais.

Os meus olhos se fixaram no azul infinito e apoiei os braços na janela, repousando minha cabeça conforme sentia as rotatórias no volante de vez em quando. Nada parecia ter mudado. O calor convidativo de Tenerife pela manhã. A maresia presente. O vento no meu cabelo. Pedri dirigindo. O trio reunido..... Estávamos lá em todos esses momentos e a incrível sensação do déjà vu era sufocante. Não foi ontem que nos formamos e nada era mais importante do que simplesmente sair à toa?

Não estive presente no último dia de aula, no entanto. E imagino como deve ter sido receber a confirmação da conclusão dos estudos sem mim. Em como ele estava.

Idealizamos tanto que iríamos juntos para Barcelona. Independente dele mais afirmar do que questionar, eu gostava da ideia. O acompanhar nos jogos e não perder a magia da rotina que eu tinha grudada com ele não era algo que eu cogitava reclamar.

Mas hoje eu gritava insatisfação aos quatro ventos.

Não esqueci o quão bruto foi a maneira que Pablo Gavira falou comigo ontem, e talvez eu pensasse em algo para devolver depois, porém ele estava ridiculamente certo. Pedri foi o que mais idealizou o nosso futuro na cidade espanhola. Escutar todos os dias que quero ir embora provavelmente doesse quando se lembrava do que prometeu. Ambos vivendo o passado no pensamento de que seria o futuro um do outro.

Não foi o que aconteceu.

— Segue para a casa da tia Mira. — ouço Fernando dizer.

— Mamãe não está no restaurante? — e logo Pedri pergunta.

— Não, hoje é o aniversário da Adella. Festa na piscina, galera reunida..... Essas coisas.

Endireito a minha postura, olhando para frente antes de desviar para o González mais novo e ver o que eu já imaginava. A exata reação de quem não queria estar em lugares barulhentos e com muita gente demonstrada em um silêncio insatisfeito.

Exceto em estádios. Era o único ambiente com essas mesmas características que ele se encaixava.

E que ironicamente o levou a ser reconhecido.

Em menos de dez minutos, os pneus pararam em frente a uma casa branca típica de pessoas ricas. Eu me lembrava de Adella ser alguns anos mais nova do que nós, mas provavelmente ela já tivesse ou esteja perto de terminar o colégio. Música abafada foi perceptível assim que saímos do Jeep, e não me atentei em carregar minha mochila para dentro. Pedri que não precisou trazer nada porque como descobri recentemente, ele manteve o costume de voltar quando podia.

E não iríamos demorar aqui, certo? Eu pretendia ir na casa da vovó ainda hoje. Não contava com uma comemoração.

Mas o meu pensamento se esvaiu pelo ralo com o passar dos minutos. Fernando nos arrastou para a mesa de familiares no lado externo e de frente à piscina com os convidados de Adella. O oferecimento de comida foi imediatamente feito, o pedido para aproveitar e apenas relaxar no primeiro dia também, e tudo foi levando uma coisa com a outra. Os meus planos não incluíam ficar mais do que vinte e quatro horas na ilha, mas pelo o que eu andei escutando, Pedri decidiu estender até o ano novo.

Eu teria que acatar porque tecnicamente eu estava nas mãos dele.

Assim que soube eu não gostei de não ter sido avisada, mas pensei que ele pudesse ter achado que eu não iria contradizê-lo. Quero dizer, isso até poderia ser verdade, só que eu acreditava em uma outra versão dos fatos. Ele ter me arrastado para cá na pretensão de me impedir de passar a virada na Inglaterra se encaixava como uma luva nessa história.

E bem, se ele tiver mesmo pensado isso, acertou na mosca. Eu pretendia ir pra lá. Pretendia ir passar minutos dourados com o meu afilhado recém-nascido.

Fora que eu me lembrava da sua indignação em, segundo as suas palavras, tê-lo deixado pela segunda vez por causa dos cinco dias. Pedri não gostar de que eu fosse próxima dos meninos não era novidade, e nunca escondeu a sua missão em me manter aqui pra sempre. Não seria difícil imaginar que ele tenha pensado nesse plano repetido de me ter por perto mais uma vez.

Ele fazia tudo com cuidado e articulado para não dar errado, certo? O que era mais um feito em meio a tantos? Me manter com ele aqui poderia ter sido a sua estratégia.

Eu só não sei ainda de qual.

O sol queimava na minha pele com força, e a água do mar mascarava o ardor se eu estivesse em solo seco. As ondas quebrando no fim — ou no início — da areia da praia, e estava gritando para Fernando voltar logo porque alguém o chamou, mas aposto que o retorno não teria uma previsão tão certa assim. Ele sempre foi o mais sociável de nós três.

Era difícil achar quem não gostasse dele.

Olhei para a cor única em imensidão a minha frente, as mãos constantemente se movimentando para me manter salva de afundar. O quão insignificante você se torna dentro do oceano? De um mundo inteiro praticamente inexplorado e com outra forma de oxigênio? Li uma vez que os mares eram o equivalente a universos dentro da terra, e todas as vezes que os admiro, não tenho dúvidas de que essa afirmação é verdadeira.

Mas o meu favorito sempre será esse daqui.

O que acontecia de extraordinário na minha rotina de Manchester? No máximo andar nos ônibus de andares e ficar feliz por reproduzir uma cena dos filmes. Ou quem sabe tirar as fotos nos famosos telefones públicos de cabine e sorrir em ir para um trabalho dos sonhos todos os dias, e mesmo assim não era o que eu estava acostumada. Sempre parecia faltar algo. Nada se comparava a segurança de respirar tranquilamente por estar em casa.

Casa.

Eu estava em casa.

— Alex!

Me virei, estreitando os olhos e encontrando quem passei a dividir o mesmo endereço na beira da praia.

O que ele queria dessa vez? Já não passávamos praticamente vinte e quatro horas grudados e desfilando por aí?

Sua mão se movimentou em chamado.

— Comer.

E não contive o rolar de orbes com a típica preocupação em me empurrar comida.

— Não quero! — gritei.

— Alex. — insistiu.

E ah, meu Deus. Ele não desiste nunca.

Movimentei o meu corpo oposto ao dele.

Ignora-lo poderia ser uma boa estratégia.

Eu não estava com fome e não queria sair da água. Posso ter voltado nos tempos de criança em parecer um peixinho querendo somente se divertir, mas aqui era melhor do que subir e encontrar o amontoado de gente andando para lá e para cá, pulando na piscina ou se pegando em algum lugar escondido. A casa continha uma escadaria que levava para a praia, e foi inevitável não lembrar de um certo episódio caótico no período escolar.

Pelo menos dessa vez eu não precisava ficar nua e embarcar em rituais que nunca existiram.

Até porque eu cresci e, na bagagem de todas as coisas ruins que passei, aquela Alexia ganhou mais força.

Disso eu tinha certeza.

Mergulhei por alguns segundos e olhei para o lugar que antes o González estava quando procurei por ar. Totalmente livre da sua presença. Me admira ele querer ficar lá no meio da bagunça e ter voltado tão facilmente, mas em compensação eu não o teria me perturbando para comer por mais tempo.

Bem, foi a inocência que pensei.

O silêncio ao redor da presença humana era estranhamente esquisito. Não parecia ser o mesmo de quando deixou a água. Era semelhante aos filmes de terror, onde tudo se focava na ausência de barulho e a personagem ficava sozinha a procura do vilão na casa. Até nas cenas em que os tubarões surgiam de repente e mostravam os dentes poderia se encaixar no sentimento que eu estava sentindo agora.

Ser observada, mas não encontrar nada.

Sentir algo por perto, mas ver tudo em seu devido lugar.

Ou achar que estava.

Um grito saiu da minha garganta ao perceber um toque na minha perna submersa e me remexi bruscamente, pensando no pior e na concretização do meu pensamento. Não era uma parte rasa e por mais que a minha imaginação tenha idealizado os mesmos monstros marinhos que pedi para protagonizarem como no triângulo das bermudas, o aparecimento repentino de um santo em forma de diabo me disse que eu estava redondamente enganada.

É claro que só poderia ser ele.

Fico chocada o encarando enquanto que Pedri nada menos que sorria, passando as mãos nos cabelos para conter as gostas de água salgada conforme me preparo para o estapear.

E ele ri quando o faço.

— Você quer me matar de susto? — mantive o estapeio intacto. — Cheguei a pensar que fosse um tubarão.

O sorriso dele aumenta, achando graça.

El tiburón es Ferran.

Ah, que engraçado.

Muito piadista.

Pedri continuou com o divertimento nos lábios independente da minha frase irônica. Os olhos castanhos brilhando em contraste com o cintilar da água azul.

Tão bonito.

Perde-lo há quatro anos deteve da mesma coloração do atlântico, embora agora fosse diferente. Eu não me sentia triste. E não era cinza também. Sem vida. Contando mais um mês sem ele igual a Bella à espera do Edward. Lamentei por mais de mil dias sentir o vazio impreenchível em um ambiente estrangeiro e principalmente por tentar apaga-lo na mesma esperança de conhecer alguém que nunca encontrou, mas eu e a personagem famosa do mundo dos vampiros não detínhamos de tudo em comum.

Eu não fiquei esperando por ele. Não fiquei na janela almejando que me encontrasse por alguma mágica e batesse na minha porta. Posso ter tido momentos em que fraquejei ao pensar no González, mas não demorava muito e a suposição dele estar bem melhor sem mim me tirava desse devaneio melancólico.

Vi sua rede social feliz. Vi os novos amigos que fez. Certamente não achei que ele fosse se privar de fazer novos laços porque não estávamos mais próximos, porém eu estaria mentindo se dissesse que vê-lo bem demais me irritava. Ele deveria sentir o peso do que fez em uma culpa eterna.

Mas o jogador parecia não dar a mínima para o fato de termos nos conhecido.

Logo, eu não deveria sofrer.

Não por ele.

Senti o rodeio na minha cintura e o choque dos nossos corpos, envolvendo-o pelo pescoço. Toca-lo era como perceber que tudo o que eu sempre quis estava bem aqui, na minha frente, e ironicamente me obrigando a ser a sua prisioneira.

Minha cabeça não girava muito bem.

— Não tem ninguém aqui. — ele fala.

— Eu sei.

E eu gosto disso. Ele também. Não nos dávamos bem com um bando de estranhos. É por isso que sempre escapamos de burburinhos igual quando fomos para o cinema na primeira noite do baile. Estávamos acostumados em protagonizar os quadrinhos do morcego e da gata astuta.

A ponta dos dedos se intensificaram na minha pele, e os lábios do espanhol se misturaram com os meus como em uma dança típica de onde viemos. Quente. Um ritmo viciante e que instiga por mais. Ambos estávamos sendo castigados pelo calor humano dentro e fora das camadas físicas do corpo independente de que existisse incontáveis litros de água ao nosso redor, mas eu nunca reclamaria da minha boca ter uma amizade bastante íntima com a dele.

Pelo menos não em pensamento.

Tentei esquecer dessa sensação. Da vontade de repetir de novo. Tentei barrar os flashbacks dizendo à mim mesma que era a hora de seguir em frente, mas se tornava impossível quando tudo o que eu via me lembrava ele.

Seja entrar em estádios ou ganhar novos irmãos ligados ao futebol. Os dias de sol raros onde se poderia ir à praia mas que não era a mesma coisa de Tenerife.....

Simplesmente vê-lo na TV.

Qualquer migalha era o combustível perfeito para me lembrar de que o máximo que eu teria dessa nova versão de Pedri González, era através da mídia e se escondendo em jogos atípicos contra o time inglês.

Só que ele parecia bem real e próximo de mim agora.

— Não gosto de te ver sozinha.

— Mas eu estou bem aqui.

Pero no puedes mantener la guardia baja, Alex. — sua expressão fica mais séria. — E se não fosse eu te assustando?

Eu daria um jeito, oras. O empurraria. Daria socos. Sei nadar, de qualquer forma, e quem poderia vir até aqui, afinal? Duvido que alguém vá querer deixar a animação a metros acima para vir para um lugar que poderia com toda certeza ser considerado sem graça. Aqui a música ficava distante, e não tem bebidas sendo servidas por golfinhos de graça.

Pedri movimenta o rosto em negação, me beijando mais uma vez por longos segundos e com selinhos incontáveis mesmo que não tivesse se contentado com a minha resposta.

A sua preocupação parecia verdadeira, mas não consigo imaginar o porquê.

— Alguém pode nos ver. — falo.

E olho para frente afim de notar alguma presença estranha. Eu ficar flutuando no meio do mar não era a única coisa a se preocupar, Pedri não gostava de ser indiscreto, e beijar em público deteria de possíveis consequências.

No me importa.

Como não importa? É claro que importa.

E se alguém aparecesse e tirasse uma foto? Duvido que ele acharia legal ver a imagem circulando por aí e eu sendo apontada como sua nova namorada. Por mais que eu nunca tenha o visto de compromisso sério com alguém em Barcelona.

Mas em compensação, na vida de solteiro.....

Tentei retirar essa ideia da cabeça para não ficar com raiva e focar no agora. Não imagino o que ele quisesse fazer além da determinação em me manter bem alimentada, então não questionei quando o jogador me arrastou para fora da água e senti a areia quente me lembrar de que não estava mais voando em outro universo. Juntei as mechas do meu cabelo e as pressionei na esperança de conter o encharque salgado, olhando de soslaio a forma artística que as gotas deslizavam pelo mesmos músculos desenhados que apareceram em uma capa de revista espanhola. Lembro de ter passado alguns minutos processando o que exatamente os meus olhos estavam enxergando.

Vermelho.

O vermelho ardente. A proibição. O desejo. O ódio. Com certeza o vermelho seria a cor escolhida para representar o meu sentimento de surpresa e todas as misturas citadas acima.

Além da admiração.

E do erro.

Porque depois de todo esse tempo, eu ainda sentia os mesmos entusiasmos da garotinha apaixonada pelo melhor amigo que morava na ilha.

Volto a olha-lo e sorrio, segurando em sua mão estendida no convite de subir.

— Tem a tortilla que você gosta.

Mas eu ainda não queria subir.

— Pede para o trazer.

— Ele está ocupado.

— Eu espero. — aumento o meu sorriso inocente, não precisando da confirmação de Pedri para saber que ele tinha captado a minha vontade de permanecer aqui. O sol contrastava em nossas peles e era bonito como os castanhos escuros do González ficavam naturalmente mais claros e intensos. Brilhantes. E mesmo que a cor dos meus cabelos o tivessem feito me dar um novo apelido, Pedri era uma personificação perfeita dos traços espanhóis somados ao moreno da pele bronzeada.

Poderíamos ser diferentes em personalidade, mas em aspectos físicos...... Era como se fosse um espelho. Dois reflexos em um. Éramos ambos especiais porque ninguém teria essa familiaridade em pontos específicos como tínhamos um com o outro. Ninguém viveu nada da magia de Tenerife como vivemos juntos. Ninguém ao lado dele. Ninguém ao meu. Nascemos aqui e desbravamos aqui os mesmos gostos e segredos que gostávamos de manter.

Como sair por aí de madrugada.

Pedri não foi o único que se sentiu sozinho durante esses anos. Ninguém me refletia tão bem quanto quem foi o meu melhor amigo, e eu não seria insensível de dizer que nada disso me fez falta estando a horas de distância em um território inglês.

Os seus olhos me observam atentamente.

— Você seria capaz?

— O que?

— De me amar.

As batidas do meu coração se aceleram com a pergunta, entrando em colapso com o carinho no meu rosto e a expectativa por trás do seu olhar.

Eu seria? Seria capaz de ama-lo outra vez?

Brigávamos com frequência, não nego, mas as vezes em que disse que o odiava..... Não era verdade. Não cem por cento. Eu não o odiava.

Não de verdade.

Talvez o Gavi sim, aquilo era um ser precisando urgentemente de uma benção forte e reza braba que eu nunca conseguiria suportar, mas o Pedri não. Ele passava longe desses termos. O ódio usado não era o mesmo para cada um.

Exceto quando Pedri tentava me controlar.

— Eu não te odeio. — falo convicta, desviando a atenção para o lado. Eu pensei desde o princípio da minha vinda para a Espanha de que o antigo Pedri não gostava de mim como antes, mas era nessas oscilações que víamos o que estava escondido. — Eu só..... — suspiro. — Acho que ainda temos muito o que conversar.

Porque eu não esqueci do que ele me fez. Precisávamos dessa conversa.

Mas se o arrependimento o atingiu antes da batalha final, poderíamos pensar em uma possível reconciliação.

Isso claro, depois dos seus joelhos estarem de novo postos ao chão. Vou até ver se consigo grãos de milho com o se for realmente sério.

Bem, ele merecia.

Ele e os seus amigos.

Pedri assente em silêncio, certo de que chegou a hora que tanto adiamos. As trocas de farpas acabaram e agora era o momento de ir direto ao ponto. Não existia lugar melhor para fazer se não onde a nossa confiança foi construída. Se tudo começou e acabou aqui, tudo deveria ser acertado aqui.

Acertado ou não acertado.

Eis a questão.

— Você vai querer ir hoje? — ele pergunta. E eu sabia que essa menção se referia a casa da vovó. Precisávamos procurar por alguma coisa sobre o meu nascimento, e Pedri reconhecia que a minha volta depois de tanto tempo desencadearia as tristezas que deixei guardadas em um baú lacrado.

E então nego com a cabeça.

— Vou seguir o conselho de relaxar e aproveitar o primeiro dia. Amanhã nós vamos procurar e...... Fazer o que tem que ser feito.

Além do que, ele merecia tanto quanto eu. Um pouco de paz. Sem problemas. Sem conflitos por vinte e quatro horas. Estávamos em casa. Juntos. No nosso lugar sagrado. Não era uma coisa que se acontecia todos os dias. Muitas conversas ainda estavam programadas para acontecer, e até lá, eu tenho que estar totalmente pronta para enfrentar todas elas.

Enfrentar de vez os meus fantasmas do passado.

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