A Chantagem (Adaptação)...

By DamianaSilvaa

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Camila Cabello é uma advogada competente e ambiciosa, uma mulher independente que não guarda espaço na sua vi... More

Introdução
1 - Negócio Fechado
2 - Caixas e Pacotes
3 - Remorso
5 - Fotos e lembranças
6 - Faz de Conta
7 - Brigas e Telhados
8 - Pequenas Confições
9 - Outras Intenções
10 - Surpresa Desagradável
11 - Fale a Verdade
12 - Na Cama
13 - Tempo e Decisões
14 - Duas Visitas
15 - Dor e Carinho
16 - A Festa
17 - Discussões
18 - Feriado
19 - O que ninguém viu
20 - Desencontros
21 - Planos
22 - Morangos
23 - Ela já foi
25 - Epílogo
Nota.

24 - Eu Também Te Amo

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By DamianaSilvaa

                       Lauren Jauregui


Minha casa estava vazia. Fria e escura. Parecia uma casca que algum animal tinha abandonado quando ficou grande demais para usá-la e agora era só um resto pequeno demais diante da grandeza do mundo.

Me recusei a acreditar em Alexia e subi as escadas gritando seu nome. Passei em cada cômodo duas vezes.

Mas ela não estava lá. Suas coisas tinham sumido. E a merda é que eu ainda conseguia sentir seu perfume. Aquele cheiro cítrico delicioso que ela deixava para trás quando passava. Estava impregnado em cada ambiente e no meu coração.

A vizinha era uma criatura irritante que ficava me seguindo e me mandando fazer alguma coisa. Me ameaçou de formas insanas que eu sequer compreendi e disse em tom de ordem que eu devia ir atrás de Camila.

Mas como? Se pelo menos eu soubesse para qual aeroporto ela tinha ido. Ainda tentei ligar meu computador e olhar o histórico de navegação. Mas se Cabello não queria ser encontrada, ela não seria encontrada. O histórico tinha sido apagado. Eu podia atravessar a rua e pedir a Jackson que viesse ao meu resgate mais uma vez. Mas a verdade é que, quando ele conseguisse, Camila provavelmente já estaria voando.

Puxei o celular e enviei uma mensagem de texto para Camila. Avisei que o vídeo tinha sido completamente destruído. Agora precisava esperar. Esperar ela pousar, ler a mensagem e, tomara, me ligar de volta.

Ela não se despediu.

Liguei de volta para o escritório. Eu estava planejando voltar para casa mais cedo. Disse à secretária que não voltaria aquela tarde. Disse que estava me sentindo mal.

Não era mentira.

Sentei no sofá e esperei a tarde virar noite. Fiquei sentada no escuro encarando a televisão desligada.

Eu nem a tinha beijado.

Não de um jeito decente.

Se eu soubesse que aquele até logo de manhã teria sido um adeus, eu… Eu teria tomado sua boca na minha por horas. Teria levado ela para cama uma última vez. Teria feito amor com ela e segurado ela nos meus braços.
Dormir agarradinha.

Max deitou nos meus pés e parecia sentir minha tristeza.

– Ela foi embora, parceiro – murmurei. – Ela abandonou a gente.

Eu me sentia uma criança.
Estava completamente perdida.

Eu tinha decidido o que eu queria: eu queria ela.

E aí ela foi e decidiu o oposto e eu fiquei ali sozinha. Sozinha e perdida.

As horas se passaram e eu tive certeza de que ela já deveria ter pousado. Matei o tempo acessando as páginas de todas as companhias aéreas e tentando deduzir qual voo ela teria escolhido.
Olhava para a tela do meu celular compulsivamente.

Vamos, Cabello. Me responde. Diz que viu a mensagem. Pede desculpas por ter ido embora sem se despedir. Diz que ficou com medo. Diz que me ama. E pronto. Acabou. Volta para cá. Volta para mim.

Levantei e tentei andar pela casa para me distrair. Mas aquilo não ia funcionar. O sofá me lembrava Camila. A cozinha me lembrava Camila. A piscina me lembrava Camila. A escada me lembrava Camila. Não vou nem falar sobre os quartos. Até o maldito telhado me lembrava Camila.

Tentei tomar um banho. Mas ficar no chuveiro também não ajudou… Não era impressão. Não era paixão ou tesão. Eu amava aquela mulher. Amava realmente do fundo do meu coração.

Tinha acontecido em uma velocidade avassaladora e me pegou desprevenida. Pegou nós duas desprevenidas. Mas eu não queria perdê-la. Queria que ela voltasse. Queria ela ao meu lado, na cama, quando eu acordasse todos os dias.

Puta merda… Ela não estaria lá de manhã.

Eu não ia conseguir.

Não ia conseguir dormir.

Não ia conseguir acordar no dia seguinte sem ela.

Quer dizer, eu conseguiria. É óbvio.

Mas não queria.

Não queria nem um pouco.


**********************************
                     Camila Cabello

Na mensagem, Lauren dizia que tinha resolvido o problema do vídeo. Ela pedia desculpas pelo comportamento da avó e me pedia para voltar. Terminou com um “beijo e eu te amo” que me fez querer morrer.

Mas o vídeo não era o meu único problema. E, de volta em minha casa, depois de algumas horas para digerir o fato de que tudo aquilo tinha sido muito bom, mas que ia ser apenas uma lembrança, eu estava bem. Ou tão bem quanto seria possível ficar naquela situação.

Joguei minhas malas no chão da sala.
Minha casa parecia vazia e oca.

– Melhor se acostumar, Cabello – falei para o nada. – É só você, de novo.

Tomar banho foi uma provação do inferno. Eu estava começando a esquecer as etapas do meu mantra de por que abandonar Lauren era uma boa ideia.

Eu precisava de um cachorro. E de sorvete.

Tentei dormir, mas ia ser impossível. Completamente impossível.

Liguei a TV da sala e estava passando Jornadas nas estrelas. Voyager.

Merda.

Nunca mais conseguiria ver meu seriado favorito.

Eu sabia do que precisava. Remexi os DVDs no armário e peguei "E o vento levou." Era isso de que eu precisava: uma boa dose de Scarlett e eu estaria pronta para enfrentar o inferno que fosse.

Já passava das três horas de filme quando senti que era melhor desligar a televisão, antes das cenas finais.

Não ia ser uma boa ideia ver aquela parte.

Não do jeito que eu estava.

*******************************

A claridade incomodou meus olhos e eu demorei alguns segundos para lembrar que tinha dormido no sofá.

De novo.

Era a terceira noite seguida.

Eu queria que aquela porcaria de férias acabasse de uma vez para que eu pudesse voltar ao trabalho e tivesse algo para me distrair.

Os últimos dias podiam ser facilmente resumidos em uma lista de ações compulsivamente repetidas.

Procurar anúncios virtuais de venda de cachorros e identificar infinitas falhas em cada um dos filhotes, que nunca eram tão perfeitos quanto o meu Max.

Digitar o sobrenome Morgado no google e descobrir se Lauren já estava noiva de alguma mulher obscenamente rica ou se sua avó tinha morrido em algum acidente trágico e maravilhoso.

Assistir a filmes de terror que absolutamente não tivessem qualquer relação com romance.

Tentar começar a ler Crítica da razão pura, de Kant, que deveria exigir foco e manter todos os meus problemas bem longe da minha mente. Mas eu tinha que reler a mesma frase oito vezes antes de conseguir considerá-la compreensível e seguir para a próxima.

Isso era feito por algumas páginas até meu cérebro traidor fazer espasmos correrem pela minha pele provocados pela lembrança do toque de Lauren. Então, tudo que eu precisava era lembrar que aquele livro – ou qualquer outro – seria muito mais interessante se pudesse ser lido enquanto ela estava ao meu redor jogando videogame, e aí minha concentração sumia e a leitura se tornava impossível.

Cogitei comprar um videogame em mais de uma ocasião. E, em mais de uma ocasião, desisti.

Não conseguia me masturbar e precisava de uma boa dose de filmes antes de finalmente conseguir dormir de cansaço.

Tudo me lembrava Lauren e me fazia sofrer. Mas, no fim, eu estava satisfeita com a minha decisão.

Pensava nisso para manter sob controle os meus impulsos de ligar para ela ou de responder suas mensagens: se após duas semanas eu já estava sofrendo assim, mal podia imaginar como seria se nosso relacionamento acabasse depois que tivéssemos ficado ainda mais tempo juntas.

Tinha sido bem melhor acabar com aquilo de uma vez.

Nós não combinávamos. Erámos opostas que não se misturavam e, em pouco tempo, isso ia ficar perfeitamente claro para as duas.
E aí ia doer. Ia doer mais do que estava doendo agora.

Parece que a velha Morgado tinha acabado me fazendo um favor, na verdade. Nunca confessaria isso na sua frente, é claro. Mas se meu coração já estava pegando fogo agora, ver Lauren me abandonar depois que tivesse mudado minha vida inteira por ela, ia ser insuportável. Mas a minha sóbria racionalidade não impedia que eu sentisse sua falta.

Sentia falta do seu sorriso lindo, do seu toque gentil, do seu abraço quente, da língua ávida. Às vezes, tinha certeza de que tinha ouvido a sua voz. Corria para a janela e por um momento minúsculo me permitia pensar que ela tinha vindo atrás de mim.

Mas não tinha… Óbvio que não tinha.

Eu era só a colega de trabalho com o corpo bonito que ela tinha levado para a cama algumas vezes. Quando reencontrasse o pessoal do escritório ia contar nossa breve história e todos iam rir.

As mulheres iam torcer o nariz e se perguntar como ela teve estômago para ficar com a “vadia da Cabello” e os homens iam parabenizá-la de um modo um pouco exagerado demais pela sua conquista.

Eu seria um prêmio, uma lembrança cada vez mais distante e uma história divertida para contar para os amigos.

Só isso.

Era tudo que eu jamais seria para alguém, não é? Vadias sem coração não têm final feliz. Elas vivem sozinhas e morrem sozinhas depois de uma longa vida amarga.

Eu olhava através da janela para o meu quintal vazio. E me odiava por sequer ter imaginado que ela viria. Por imaginar que ela se importaria.

Ela tinha dito que me amava.

É… Mas eu estava certa desde o começo: era só atração. Uma atração bem forte, sem dúvida, mas nada mais.

Já fazia mais de um dia que ela não ligava ou mandava qualquer mensagem.

Eu não sabia se o amor que ela dizia sentir tinha se transformado em ódio devido às suas tentativas de contato ignoradas, ou se tinha se transformado em indiferença quando ela percebeu que o que sentia por mim, na verdade, não era tão forte assim.

Seja como fosse, sua insistência logo se transformou em silêncio e, por um dia inteiro, uma parte cruel do meu coração alimentou a esperança de que, talvez, ela viesse bater à minha porta. Gritar comigo por eu não ter atendido o telefone e o ter forçado a atravessar o país. Eu faria birra e diria que não queria mais nada com ela, mas tudo que Lauren precisaria fazer era dizer mais duas palavras doces e eu estaria convencida. Tinha certeza de que era tudo de que eu precisava.

Mas seu silêncio durou dias e dias.

E minha campainha não tocou.

E a cada vez que eu pensava ouvir sua voz, eu corria para ver meu jardim vazio pela janela.

*******************************
                   Lauren Jauregui

Ela não tinha voltado ao trabalho.

Pensei que fosse mandar as férias para o inferno e voltar à sua vida normal. Teria sido melhor, mesmo que essa notícia significasse que ela não sentia nada por mim. Nem mesmo saudades.

Mas a imagem de Camila escondida em algum lugar, sofrendo, estava me corroendo inteiro.

Depois de mais de vinte e quatro horas de ligações não atendidas e mensagens não respondidas, eu aceitei que a teimosia de Camila não ia me deixar vencer.

Consegui esperar quase uma manhã inteira antes de ceder à curiosidade desesperadora e ligar para o meu antigo escritório. Me garantiram que ela não tinha voltado.

Essa ligação foi razoável e completamente compreensível.

As outras doze que eu fiz, no mesmo dia, não foram. Mas eu precisava ter certeza de que ela não tinha obrigado as secretárias a mentirem pra mim. Ou talvez que tivesse entrado escondida na sua sala e ninguém a tivesse visto.

Depois de reiteradas garantias de que Camila Cabello não estava no prédio, eu desisti dessa estratégia de ataque também.

Alguns ex-colegas ligaram perguntando o que ela tinha feito… Se teria me processado de novo por alguma coisa absurda e se era por isso que eu precisava falar com ela tão enlouquecidamente.

Eu expliquei sem dar muitas informações diretas.

Afinal, o que eu poderia dizer?

"Chantageei a megera para que viesse cuidar da minha mudança e, acredite se quiser, me apaixonei por ela. Minha avó decidiu que não era uma boa ideia e a chantageou para que fosse embora. Ela deve estar dizendo a si mesma que foi embora para me proteger de ameaças da minha avó, ou para evitar que a chantagem se concretize, mas eu a conheço bem melhor agora. Eu sei que ela fugiu porque está com medo, e que toda essa conversa de chantagem e de me deixar ser o melhor que eu possa ser, é só conversa sem fundamento.
Ela está com medo de me amar.
Camila consegue ser a mulher mais medrosa e mais corajosa que eu já conheci.

Todas as noites eu chego em casa e não me sinto à vontade.

Tem alguma coisa errada com a minha casa.

Algo errado com minha cama.

Com meu chuveiro.

Com minhas refeições.

Tudo parece frio, sem gosto e incompleto. Aquela sensação pesada e horrível de que há algo faltando me acompanha o tempo inteiro. O pior é que eu sei exatamente do que estou sentindo falta."

Mas como eu faço para o inferno daquela mulher pelo menos me ouvir?

Como faço para sacudi-la e obrigá-la a perder o medo?

Joguei a cabeça no travesseiro e passei o braço pelo lado vazio da cama. O lado onde ela deveria estar. Reclamando e rosnando. Dizendo que a deixasse em paz, que ela não gosta de dormir abraçada com ninguém e que não é seguro cutucar uma mulher cansada.

Ri sozinha no escuro.

Como uma pessoa podia sentir tanta saudade de outra depois de um relacionamento tão curto?

Não fazia qualquer sentido. Mas lá estava eu, contra toda a lógica, sentindo uma falta insana da minha Camz teimosa e reclamona.

Enfiei as mãos nos cabelos. Eu não ia conseguir continuar assim.

Aquilo ia me deixar muito machucada.

Só tinha uma coisa que eu podia fazer.

*******************************

                      Camila Cabello

A noite de sábado devia estar quase terminando e eu ainda não estava nem perto de conseguir dormir. Agarrada ao travesseiro e ao cobertor que tinham sido transferidos para o sofá da sala.

Demorei para entender que não conseguia dormir na cama porque a sensação de estar sozinha me deprimia.

Na sala, a tevê ficava ligada e eu podia me distrair com a ilusão de estar acompanhada. A solidão tinha crescido sombriamente ao meu redor nos últimos dias, e a TPM certamente não estava colaborando.

Coloquei dois biscoitos na boca de uma vez e mastiguei com preguiça. Tentar achar algum canal que não me lembrasse Lauren era uma missão difícil.

Acho que era por isso que eu acabava passando a maior parte do tempo mudando de um canal para o outro, sem parar em uma mesma imagem por mais que alguns poucos segundos.

Apertei o botão do controle remoto e a tela exibiu um documentário sobre castelos. Eu achei que ia começar a chorar, mas a campainha tocou me fazendo pular no sofá sobressaltada. Olhei para o relógio no meu pulso.

Àquela hora… Quem poderia ser?

Eu sabia quem eu queria que fosse.

Mesmo sabendo que deveria ouvir Marilyn.

Mesmo sabendo que tudo podia dar errado e que eu acabaria sofrendo muito mais do que tinha sofrido naquela semana.

Mesmo sabendo que megeras como eu não deveriam ter um final feliz.

Mesmo com tudo isso: eu sabia quem eu queria que fosse. Tinha certeza.

Encostei o rosto no olho mágico e sorri. Ia ser horrível ouvir o que ela tinha para dizer e seria impossível me livrar dela se conversássemos cara a cara.

Mas minha cama estava mais fria e mais vazia do que eu podia concordar. Meu coração não aguentava mais e meu corpo agiu sem pedir minha autorização.

Abri a porta e Max pulou em cima de mim.

– Oi, garoto! – cocei suas orelhas. Estava com quase tantas saudades dele do que estava de Lauren.

Quase.
– Você disse que ia esperar.

Levantei o rosto. Ela tinha ficado mais bonita? Mais gostosa e irresistível nos últimos dias? Era possível?

Dei um passo para o lado para lhe dar passagem e ela entrou na minha sala.

– Você me fez ter que atravessar o país inteiro, Cabello. E não vou nem falar sobre como você me ignorou todos esses dias. Nem mesmo uma ligação! – Seus lábios estavam espremidos e irritados.

– Eu não ia conseguir me despedir de você – expliquei fechando a porta. Max estava passeando pela minha casa e explorando a mobília desconhecida. – Ia acabar desistindo de ir embora.

E por que isso seria uma coisa ruim?

– Porque… Porque é. – Mordi o lábio e tentei controlar minha respiração.

– Eu sei o que a minha avó fez. E eu já resolvi. Você recebeu alguma das minhas centenas de mensagens?

– Recebi.

– Eu liguei. Várias vezes. Por que não me atendeu?

– Lauren… Não é só o vídeo. Eu disse a ela que podia colocar na internet. Disse a ela que eu não ligava.

Seus olhos se abriram exageradamente.

– Você disse o quê?

– Não aguentava mais essa coisa de chantagem. Ela disse que ia colocar na internet, pois que colocasse.

– Então… Então, por que você foi embora? – Eu conseguia ouvir na sua voz que ela sabia a resposta para aquela pergunta.

– Porque sem mim você pode ser grande. Eleonor foi bastante clara sobre tudo o que você estaria perdendo se ficasse comigo, e eu não achei justo te fazer escolher isso.

Ah, cala essa boca! – largou os ombros, exausta.

– Como é?

– Você foi embora porque é uma medrosa! Ficou com medo de se envolver, de se abrir… Medo de se permitir ser vulnerável e sofrer.

– E você me culpa? Essa semana foi horrível!

Horrível porque você me ama, sua mulher impossível! – reclamou alto. – E não precisa nem me dizer isso, porque eu sei exatamente o quão horrível ela foi e sabe por quê? Porque eu te amo e por que foi horrível para mim também.

Engoli a seco e cruzei os braços.

Queria que ela me abraçasse mais do que queria viver.

– Eu errei várias vezes nessas últimas semanas. Fui injusta com você em mais de uma ocasião. Mas, desta vez, você fez besteira, Karla. Não devia ter ido embora.

– Eu queria que você tivesse todas as oportunidades que quisesse – repeti. Se eu confirmasse em voz alta… Se dissesse que ela estava certa e que eu estava morrendo de medo ia começar a chorar. – E você mesmo disse que não era como sua irmã. Você disse que gostava da sua família antes.

– É. E aí metade da minha família morreu por causa do jeito como minha família conduz os negócios e eu abri os olhos. Você pediu para eu confiar em você, que você não estava me traindo ou só querendo vingança. Eu errei, mas aprendi. Eu confio em você. Estou te pedindo que confie em mim. Não me mudei por rebeldia, Camila. Eu não quero mais aquela vida. Nunca mais.

– E vai preferir viver como uma advogada subalterna medíocre? – Ouvi as palavras de Eleonor saindo pela minha boca.

Meu deus… Aquela mulher tinha algum tipo de magia negra…

– Advogada subalterna medíocre? Eleonor fez algum tipo de lavagem cerebral em você? – riu. – Tenho uma posição excelente e ganho muito bem, obrigado. Estou… Aliás… Nós duas estamos muito acima da média da população. Foi isso que ela quis te convencer? Que eu seria infeliz com você porque não seria rica?

– Você poderia ser mais, Michelle. Bem mais do que já é.

– Poderia. Mas para isso eu teria que pagar. E o preço que a minha avó cobra, geralmente, é bem alto.

– Ela disse que ia congelar seus fundos. Eu não sei como isso funciona para você. Não sei o quanto depende disso. Eu não podia deixá-la…

– Camila… Eu não sou uma Morgado. Eu sou uma Jauregui.

Mantive os braços cruzados e os olhos nela.

– Se Eleonor congelar meus fundos Morgadi, não faz qualquer diferença para mim por dois motivos: Primeiro, eu já não uso aquela porcaria de qualquer modo. Segundo: eu tenho todas as ações e fundos de investimento do meu lado Jauregui. É uma família bem rica também, sabe? Não uso o dinheiro de nenhum dos dois lados porque gosto de viver com o meu salário. É suficiente para mim e para Max.E creio que seja suficiente pra você também.

– Ninguém vai me sustentar, Jauregui – rosnei.

– Eu sei. E é precisamente o que eu estou dizendo – sorriu. – Mas se algum dia eu estivesse passando fome… – exagerou, gesticulando –, eu ainda seria dona de um terço de Las Vegas. Acho que eu ficaria bem.

– Eu estou com medo – murmurei. – É verdade, você está certa. – Ela sorriu, discreta e satisfeita, e eu quis parar de falar e beijá-la. – Mas esse outro problema também é uma realidade! Se você voltar para casa, agora, sem mim, você tem todas as possibilidades do mundo, Lauren. Você pode ser o que você quiser e depois pode mudar de ideia e ser outra coisa. Mas se você voltar comigo, um monte dessas oportunidades vai desaparecer. Você acha que não se importa agora, mas pode mudar de ideia. Não quero que se ressinta por isso. E, principalmente, não quero que seja obrigada a fazer algo que não quer por uma decisão tomada por paixão – dei de ombros. – Você tem que entender suas prioridades. Escolher o que você quer fazer com a sua vida, ter as opções de ser o que você quiser… Isso é o Plano a. Eu sou o Plano b, Lauren. E você não pode botar o b na frente do a porque não é assim que o alfabeto funciona.

– Só tem um problema com a sua lógica. – Ela passou a mão na nuca com aquele sorriso doce e lindo no rosto. – Você não é o Plano b. Nem o Plano a. – Colocou as mãos na minha cintura e me puxou naquele abraço que eu adorava. – Você é pré-requisito, Cabello. Sem você não tem plano.

Lauren passou os nós dos dedos na maçã do meu rosto e me beijou. Eu me entreguei naquele beijo macio e deixei ela me abraçar. Há poucos minutos eu tinha achado que nunca mais ia sentir aquela boca. Segurei seu rosto entre minhas mãos e a beijei de volta com carinho e saudade.

– Comprei duas passagens de volta – ela sussurrou contra os meus lábios. – Você volta comigo.

– Eu não tenho voto? – ri.

– Não. Porque você foge sem se despedir por motivo nenhum, sem sequer me explicar o que está acontecendo. Esse é o tipo de coisa que gente doida faz – riu. – E gente doida não tem voto. Você volta comigo. Além do mais, a vizinha me ameaçou.

– Alexia? – Eu tive que rir.

– É. – Ela levantou as sobrancelhas, fingindo medo. – Ela consegue ser bem assustadora.

– Está sendo uma boa aluna!

– Percebi! – beijou meus lábios, que se abriam em um sorriso. – Ela me ameaçou com alguma coisa de biscoitos. Disse que ia mandar os biscoitos atrás de mim se eu não te trouxesse de volta. Não sei o que ela quis dizer, mas soou horrível. Eu não quero biscoitos atrás de mim, Cabello. – ela disse, fingindo uma voz assustada.

Eu estava rindo como uma criança.

– Por favor, você tem que voltar.
Coloquei as mãos nos seus ombros.
– Nada mudou – continuou. – Você ainda tem mais algum tempo de férias. Vem ficar comigo. A gente para durante a semana e pensa no que vai fazer. A gente decide algo juntas. Você não pode decidir sozinha! Não sei de onde tira esses seus planos absurdos…

Lauren passou o polegar nos meu lábio inferior. Eu fechei os olhos e sorri.

– Eu fiquei pensando no que Scarlett faria. – Segurei seu pescoço e a puxei para mais perto. Ela veio, obediente. – Ela deixou o homem que amava ir embora porque era melhor para ele.

– Aí você pensou em fazer o mesmo comigo?

– Seguir Scarlett nunca falha – decidi, birrenta.

– Você tem certeza de que já assistiu a esse filme? – Ela me apertou ainda mais. Até quase doer.

Mas eu não me incomodei. Queria que ela me apertasse o mais forte que pudesse e que me mantivesse o mais próximo possível.

– Porque eu acho que você confundiu as histórias de amor, Camz. O amor da vida de Scarlett não é o homem que ela deixa ir. É o homem de quem ela não desiste.

Ela estava certa. Eu estava sorrindo.

– E quando você conhece a determinação de Scarlett, você tem certeza de que ela vai consegui-lo de volta.

– Porque ela não desiste. – Mordi o lábio.

– Viu? Não sei como você pode ter achado que era uma boa ideia ficar sozinha. Você precisa de mim até para interpretar o seu filme favorito.

Dei um tapa no seu braço.

– Não se divirta às minhas custas ou eu boto você pra fora.

– Não! Não faz isso. Essa vizinhança é meio louca – constatou, brincando com os cordões do meu roupão. – Tinha uma moça se masturbando ali do lado de fora quando eu passei… ai!

Espalhei tapas pelo seu corpo, mas os tapas logo viraram carícias e as carícias viraram beijos mais intensos.

– Diz pra mim, Cabelll. Você está nua debaixo desse roupão?

– Talvez – provoquei. – E, por sinal! Você se lembra desse roupão?

– Como eu poderia me esquecer? Você estava usando quando achou que eu queria trocar o vídeo por sexo.

– Que foi o que você acabou fazendo. – Fiz um beicinho debochado.

– Ei, Max! Vem aqui! Roupão é mais legal de puxar do que toalha! Vem aqui, garoto.

Atiçou o cachorro usando os cordões. Max acreditou na brincadeira e puxou um deles. Lauren me segurou por um dos braços e me desembrulhou como se eu fosse um presente.

Eu estava completamente nua a não ser por uma lingerie vermelha. Ela umedeceu os lábios.

– Você já acabou com a bobagem? Ou eu vou ter que continuar o discurso para te convencer sobre como eu me sinto antes de você finalmente aceitar que eu não vou a lugar nenhum sem você?

Eu te amo – suspirei.

– É. Eu já sabia. – sorriu e levou mais um tapa no ombro. – E já que estamos aqui… – disse olhando ao redor –, alguma chance de eu ser apresentada àquele vibrador?

– Sem dúvidas – sorri, safada. – Eu te mostro como usar.

Ela espremeu os lábios em um sorriso discreto.

– Eu também te amo.

– É. Eu sei – repeti.


__________________________________

Último capítulo pessoal. O próximo será o epílogo.

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