Herdeiros do Sol

By YOUGOT7JAMS

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Kim Jongin é o príncipe rebelde da segunda família mais importante do país e próximo na linha de sucessão ao... More

Nota da autora
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16

Capítulo 7

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By YOUGOT7JAMS

A notícia chega na manhã seguinte.

Kyungsoo desperta ao som grave e estrondoso dos sinos da Capela e percebe imediatamente que há algo errado. No Instituto St. Georg, os sinos são tocados para convocar os alunos à missa ou anunciar eventos importantes, como casamentos e batismos.

Ou funerais.

Ele se põe de pé em um pulo, ainda vestindo as calças de seda do pijama. Com um gesto apressado, afasta as cortinas que bloqueiam a vista da janela e olha para fora, para além dos muros de St. Georg e dos gramados verdejantes.

Na rua ampla, já dentro da propriedade do colégio, oito carros Rolls-Royce Phantom pretos se aproximam, enfileirados de maneira simétrica e impecável. Cada um carrega um pequeno estandarte acima da grade frontal — um para cada uma das Oito Famílias Reais.

Três batidas na porta o fazem dar meia-volta. Um padrão que já conhece muito bem.

Três toques curtos, com os nós dos dedos.

O toque dos monitores.

— Sim? — questiona, ainda com a voz arranhada de sono. — Pode entrar, Minseok.

Um rosto familiar aparece entre a porta e o batente.

— Sou eu, Baekhyun — diz o colega, baixinho. — Temos um compromisso urgente. Nossas famílias mandaram motoristas para nos buscar.

Ele franze as sobrancelhas grossas.

— É o que eu estou pensando?

Baekhyun acena com a cabeça.

— Vista-se, rápido. A preceptora está solicitando a presença de todos os monitores no pátio. — O olhar dele desvia para a janela, assistindo o brasão azul royal e dourado tremular ao vento. A Águia-Dourada de duas cabeças da família Song. — Precisamos hastear a bandeira mortuária.

Kyungsoo assente, refletindo sobre o significado implícito nas palavras. Ao mesmo tempo em que Baekhyun completa, em um murmúrio seco e fúnebre:

— O Rei Song está morto.



Para o deleite de Jongin, as aulas matinais maçantes de Latim e Relações Internacionais foram canceladas. Seria impossível sobreviver a duas horas de teorias enfadonhas depois da noite terrível que teve ontem.

Jongin não se lembra dos detalhes de como a noite terminou, mas tem a recordação nítida de brigar com Kyungsoo na piscina, cambalear no escuro e esvaziar sozinho o que restou da garrafa de vinho à beira do Canal.

Não bebeu o suficiente para estar de ressaca.

Então, por que sente tanta dor de cabeça?

A Sra. Kang o aguarda nos portões de entrada. Ao passar por ela, a mulher apoia seus dedos longos e pálidos em seu traje de luto, expressando um pesar genuíno.

— Seu motorista está aqui para buscá-lo, Sr. Kim.

É verdade. Um grande automóvel preto e lustroso o espera estacionado na calçada.

Ele puxa a maçaneta prateada sem pensar duas vezes, esperando ser recebido pelos olhos de Rahim encarando-o pelo retrovisor interno. Para sua surpresa, ele não está sozinho no banco de trás.

— O que ele está fazendo aqui?

Ao seu lado, escorado na outra janela, Junmyeon bufa. Seu primo nem se dá ao trabalho de olhar para ele.

— É o protocolo. A Segunda Família só pode enviar oficialmente dois carros — responde, com aquele tom de soberba tão próprio dele. — Nossos pais foram juntos no outro.

Jongin revira os olhos e observa o reflexo de Rahim pelo retrovisor. As horas extras de sono lhe fizeram bem.

Seus cabelos estão mais compridos e os cachos começando a alcançar a testa. A pele marrom-clara parece mais brilhante e saudável. A barba também cresceu, dando-lhe um aspecto mais másculo e charmoso. Ele parece mais velho.

— Senti sua falta, Rahim — diz Jongin, escorregando no banco de couro. — Sentiu minha falta?

— Claro, Sua Alteza Real — responde ele, fria e educadamente. Seu sorriso soa falso.

Não, ele não sentiu.

Rahim deve estar apreciando a conveniência de não precisar perseguir jovens príncipes em boates, negociar com paparazzi ou limpar vômito do banco traseiro nas primeiras horas da madrugada.

Jongin ainda pode providenciar a última parte.

O movimento do carro o está deixando enjoado.

Rahim não é seu amigo, ele diz a si mesmo. É apenas seu guarda-costas. E Jongin, afinal, é o príncipe da Segunda Família. Por que ainda espera que as pessoas sejam honestas com ele?

No mundo em que vive, poucas pessoas falam o que realmente pensam.

Rahim faz uma careta ao espiar pelo retrovisor. Estão sendo seguidos por carros de repórteres e paparazzi motorizados. Por sorte, seu guarda-costas foi treinado em direção evasiva. Ele os despista com certa facilidade e estaciona perto dos grandes portões abertos da Igreja Católica de Gyeonggi.

— Chegamos — anuncia Junmyeon, lançando a Jongin um olhar fulminante. — Tente não chamar atenção.

Mas não chamar atenção é uma missão impossível para Jongin.

Na entrada, são engolidos por flashes de câmeras, empurrados por microfones e têm seu espaço pessoal invadido por repórteres ardilosos. Ele, muito mais do que o primo, é bombardeado de perguntas.

Sua Alteza Real, tem um segundo para falar com o Royal Daily?

O que tem a dizer sobre o seu desaparecimento durante a corrida de cavalos?

Pretende disputar pelo título oficial de Príncipe Herdeiro em uma possível Seleção?

— Os chacais da imprensa — murmura Junmyeon ao seu lado. — Não temos paz nem em dias de luto.

Lá dentro, o salão imponente é decorado com centenas de coroas de flores brancas. As famílias são distribuídas hierarquicamente, de forma que a Rainha Song Yuhjung esteja no centro, à frente de todos, e a família de Jongin venha logo atrás.

Entre os presentes, destacam-se representantes das famílias reais, políticos, dignitários estrangeiros e membros do alto escalão do governo. As câmeras de televisão estão posicionadas discretamente ao redor do salão, respeitando o ambiente solene.

Todos vestem ternos inteiramente pretos e sóbrios.

Eles parecem idênticos, pensa Jongin. Como bonecos colecionáveis fora da caixa.

Enquanto o padre realiza a oração em latim, debruçado respeitosamente sobre o caixão, sua mãe se põe ao seu lado direito. Jennie surge do lado esquerdo e ele lhe oferece a mão, que ela rejeita de maneira sutil, pousando-a sobre o braço da cadeira de rodas.

Ao contrário de Jongin, Jennie nasceu para a realeza. Sua irmã jamais se permitiria demonstrar fraqueza diante de tantos olhares vigilantes.

Embora haja tantos rostos banhados em lágrimas, ele não consegue sentir a mesma compaixão. O Rei era apenas um velho decrépito sentado no trono. Um homem que cultivou laços estreitos com o fascismo em 1940 e nunca foi cobrado pela história.

É por isso que não sente raiva quando, diante de tantos semblantes infelizes, sua mãe sussurra:

— Preparem-se, queridos. Nosso legado será lembrado.

Eles recebem um olhar curto e seco da Rainha.

A monarca usa um vestido preto simples, que se estende até os tornozelos. Seus cabelos grisalhos estão levemente desalinhados, com algumas mechas castanho-escuras desprendendo-se do coque solto. Brincos pequenos e prateados adornam suas orelhas, enquanto um véu escuro e transparente pende delicadamente, como uma cortina, diante de seus olhos inchados.

Seu olhar percorre cada um dos jovens príncipes elegíveis para disputar o trono, vagando demoradamente pelos irmãos Oh, mas fixando-se de maneira mais breve em Kyungsoo. Quando seus olhos recaem sobre Jongin, a Rainha desvia sua atenção rapidamente, como se não o considerasse digno.

Song Yuhjung nutre uma clara antipatia por ele. Jongin pode sentir. E com razão, porque se dedicou durante anos para que ela o detestasse.

No momento em que a cerimônia termina, todas as lágrimas já cessaram, mas aquela sensação latente de respirações contidas ainda paira no ar. Uma atmosfera tensa de expectativa.

O caixão permanece no centro do salão, como um símbolo já esquecido. A Rainha, oculta por trás do véu, parece ter se tornado invisível.

Os membros das Oito Famílias Reais se encaram com olhares penetrantes. Pela primeira vez em gerações, não como aliados de uma grande nação, mas como inimigos compartilhando um objetivo comum.

A Seleção se aproxima.



Na aula de Protocolo e Etiqueta, uma aura lúgubre permeia o salão, mas a Sra. Inga Larsen a dissipa com um aceno polido.

— Temos muito trabalho a fazer — declara ela, com uma clareza e dicção impecáveis.

A professora, uma renomada especialista importada diretamente da Dinamarca, figura como um dos nomes mais ilustres no ramo de Etiqueta Real.

Vestida com um tailleur discreto, seus cabelos são elegantemente projetados para cima, em um penteado clássico que lembra o formato de um ninho de tecelão. Os fios eriçados, tingidos em uma tonalidade entre castanho-avermelhado e ruivo opaco, desafiariam qualquer tentativa de descrição por parte de Kyungsoo.

— Em algumas semanas, teremos o Baile de Máscaras anual do Instituto St. Georg. — Ela suspira e abre os braços, como se imitasse o abrir de asas elegante de uma garça-real. — Esse ano, o tema será Renascença.

O Baile de Máscaras é um evento de gala realizado durante o verão para reunir a alta sociedade e arrecadar fundos para instituições de caridade. É um dos raros momentos em que as jovens damas da realeza, alunas do renomado Instituto St. Marien, têm a honra de receber um convite para visitar o colégio.

Este ano, porém, com a Seleção se aproximando, o evento também assume o papel de um baile de cortejo, para que homens e mulheres ainda solteiros tenham a oportunidade de estabelecer um matrimônio real. Um acordo que nada tem a ver com escolha pessoal, mas com uma aliança de interesse político e econômico.

Foi assim com Kyungsoo e Rosé, e será assim com o restante deles.

Os alunos se dividem em duas fileiras idênticas em número e simetria, dispostas de lados opostos do salão. Kyungsoo soube que, nesse semestre, a Sra. Larsen rejeitou um estudante porque se negava a trabalhar com um número ímpar de alunos.

O som de seus passos ecoa pelo salão conforme ela desfila entre os dois grupos enfileirados, seus saltos pisoteando o chão lustroso.

— Como representantes da Coroa, certamente já estão adaptados às normas — afirma, olhando-os um por um. — Mas diante de novas circunstâncias... Lamentáveis circunstâncias, devo dizer... revisitá-las nunca é demais. Nas aulas anteriores, relembramos os cumprimentos e as regras de etiqueta à mesa. — Seu braço ensaia um movimento gracioso no ar. — Hoje, aprenderemos a valsa. A parte mais esperada do baile.

Os rapazes se entreolham com estranheza.

Inga Larsen acena levemente com a mão.

— Eu sei, eu sei. Imagino que costumava ser mais fácil quando o colégio era misto. — Ela franze o rosto em uma careta mínima, apenas o suficiente para que as rugas não se evidenciem no rosto branco-avermelhado e salpicado de sardas. — Reconheço que a ideia de ensaiar entre meninos seja... desconfortável.

— Não acho — rebate Jongin, com um sorriso travesso.

Uma provocação, é claro. Mas não para a Sra. Larsen.

Kyungsoo sustenta a postura perfeita, com o queixo erguido e as mãos unidas às suas costas, mas se permite virar o rosto.

Pela primeira vez desde o catastrófico epílogo da noite anterior, seus olhares se cruzam.

Jongin está do outro lado do Salão de Bailes — uma construção vitoriana maior e mais alta que qualquer um dos dormitórios, embora tenha apenas dois andares. Ele precisa mover a cabeça em um ângulo de quarenta graus para localizá-lo na extremidade da fileira.

A professora olha fixamente para Jongin com uma expressão azeda de desaprovação.

— Jongin, mon cher. Da próxima vez, fale mais alto e com mais calma. A clareza é fundamental na comunicação — diz ela com uma voz firme, mas serena. — É importante se expressar de maneira concisa, ainda que seja para insultar sua professora durante a aula.

Kyungsoo espia, curioso para ver a reação dele, e assiste Jongin mordendo os lábios para não rir, como se a advertência o divertisse.

Ela se desloca elegantemente pelo salão, encontrando seu lugar no centro das fileiras paralelas.

— Podemos começar? — convida ela, batendo uma única palma.

Inga Larsen repassa os protocolos de vestimenta, postura e os comportamentos adequados a serem seguidos durante uma valsa. E ainda acrescenta:

— Lembrem-se de cumprimentar seus pares antes de começar. Não importa que tenham intimidade com as parceiras, vocês devem sempre se referir a elas pelo pronome de tratamento real. Hoje, como estamos apenas entre cavalheiros, peço que dividam bem o tempo de ensaio para que todos possam guiar e ser guiados.

Kyungsoo sente o corpo gelar.

A última vez que dançou valsa foi há muito tempo, em um evento de debutantes. Na época, tinha apenas doze ou treze anos, e fora convidado pela irmã mais nova de Kim Junmyeon, Jisoo, como se ela lhe fizesse o maior dos favores.

É diferente agora.

Enquanto desliza pelo salão, nos braços de diferentes rapazes, ele prende a respiração. Há anos vem evitando um contato tão íntimo com seus colegas de turma, como se o toque masculino lhe fosse proibido, ainda que platônico.

E se eles o olharem, assim tão de perto, e conseguirem ver através dele?

E se perceberem que ele é diferente?

E se notarem algo em sua maneira de se mover, ou no modo como seu corpo se contrai ao toque de outros garotos?

A indiscutível falta de ritmo de Kyungsoo faz com que tropece e pise nos pés de cada um de seus parceiros. Minho tem mãos ásperas demais. Hoseok possui um toque pesado. Hyunwoo não consegue dançar sem olhar para os próprios pés. É um verdadeiro pesadelo.

— Troquem as duplas — instrui a Sra. Larsen, após o término de The Blue Danube, de Johann Strauss II.

O salão é preenchido pela cadência suave de Waltz of the Flowers, de Tchaikovsky, um dos maiores clássicos da valsa. Kyungsoo se vira para encontrar seu próximo par na dança e o destino — se é que tal coisa existe, orquestrada por alguma força superior — os coloca frente a frente de novo.

Seu olhar recai sobre Jongin, que se aproxima com uma postura perfeitamente ereta e uma mão escondida atrás das costas. Vestido com o traje formal do uniforme, ele parece um personagem concebido na ficção. Um príncipe saído diretamente de um romance.

No salão suntuoso, adornado com candelabros dourados e cortinas beges, ele lhe estende a mão.

— Sua Alteza — cumprimenta Jongin, com uma reverência quase cômica.

Quando suas mãos se tocam, Kyungsoo estremece. Os dedos de Jongin deslizam pelos seus, firmes e macios, provocando um arrepio que irradia da palma da mão e percorre cada centímetro de seu corpo.

Ele o conduz até um canto mais vazio do salão e os dois se inclinam em uma reverência mútua, idêntica, como se fossem espelhos um do outro.

— Vou te guiar primeiro — avisa Jongin, e leva a mão até o centro de suas costas, segurando-o firme.

O toque dele não é áspero ou pesado, mas suave e caloroso. Quente como o sol da alvorada.

Jongin transforma a valsa em algo fácil e gracioso, como se seus pés flutuassem sobre o piso brilhante. Com ele, Kyungsoo percebe o quanto seus pares anteriores foram medíocres.

Por outro lado, ele se distrai facilmente com a clavícula bronzeada exposta, os lábios carnudos entreabertos e os olhos castanho-claros de Jongin, que nunca o abandonam.

Nenhum outro rapaz jamais o olhou desse jeito.

Distraído, ele tropeça mais de uma vez.

— O que está fazendo? — repreende Jongin.

A noite não terminou bem ontem. Ele provavelmente pensa que Kyungsoo está tropeçando de propósito.

— Um jogo particular — sussurra em resposta. Seus lábios latejam, trêmulos, na tentativa de deter um sorriso. — Tentando pisar no máximo de sapatos que eu conseguir.

— Você está ganhando?

Kyungsoo pisa no pé dele de novo, com mais força.

— Sim.

O rosto de Jongin se contrai ligeiramente. Contrariando todas as expectativas, ele sorri, mordendo os lábios para descontar ali a dor que sente nos pés.

Kyungsoo encara a boca dele em adoração, fantasiando sobre como seria tocá-la com os dedos. Sentir a textura e a maciez, a curva do lábio inferior com o polegar. Experimentá-la em um momento muito particular de sua imaginação.

Como seria se tivesse permitido que Jongin o beijasse?

Será que saberia o que fazer? Como mover o queixo, quando virar a cabeça, onde colocar as mãos?

A palavra "sujo" ecoa em sua mente. Obsceno. Imoral.

O que há de errado com ele? O Rei acabou de falecer e, em vez de dedicar-se ao luto, está obcecado pela boca de outro rapaz.

Como se pressentisse seus pensamentos mais impuros e profundos, Jongin direciona um olhar desconcertante para seus lábios.

— Desculpe por ontem — sussurra ele, subindo o olhar até seus olhos, e então voltando para sua boca. — Eu passei dos limites com você. Eu não devia...

— Não, tudo bem. — Kyungsoo se apressa a dizer. — Estávamos bebendo e...

Jongin balança a cabeça.

— Se soubesse o quanto sou forte para bebida, não diria isso. O vinho não é justificativa para como me comportei ontem. Eu não devia ter descontado minha frustração em você daquele jeito. Me desculpe.

Ele gira Kyungsoo em seus braços, mantendo uma mão para trás enquanto o guia com a outra.

— Odeio isso — confessa Kyungsoo com um suspiro, permitindo-se mergulhar nos olhos castanhos de Jongin quando seus troncos se aproximam novamente. — Odeio que estejamos sempre pedindo desculpas um ao outro. Estou cansado disso.

Jongin leva uma mão ao peito para ajustar o colete. A peça confeccionada em um corte em V se encaixa harmoniosamente por baixo do paletó, realçando a silhueta da cintura.

— Vamos banir as desculpas, então — sugere ele.

Kyungsoo sorri.

— E o que dirá no lugar delas, na próxima vez que partir meu coração?

A pergunta escapa quase por acidente. O tom irônico não abraça as palavras por completo, deixando-as suspensas na breve distância entre eles.

Jongin olha para ele, analisando-o por trás da máscara que o protege do peso da confissão. Por um instante, Kyungsoo tem a certeza implacável de que ele conseguirá ver através dele. Enxergar suas verdadeiras intenções e desejos.

Na dança, eles se afastam, interligados pelas pontas dos dedos, e se aproximam de novo.

— Eu parti seu coração? — questiona Jongin, com um sorriso caloroso. — Pensei que não tivesse um. É bom saber que tem.

Kyungsoo ri e desfere um tapa em seu peito. Por alguns segundos, sua mão descansa ali, sobre os batimentos acelerados em seu peitoral.

Jongin o olha daquele jeito intenso outra vez. Do jeito que o olhou ontem antes de tentar beijá-lo.

— Jongin, Kyungsoo — chama a voz estridente da professora Larsen, quebrando o encanto do momento. Ela não parece nada contente. — O que estão fazendo? Isso não é uma dança, é um duelo. Troquem de duplas imediatamente!

Antes de se afastarem, Jongin o puxa para perto uma última vez e, com a mão na base da sua coluna, sussurra:

— Hoje à noite, no seu quarto. — A boca dele roça no lóbulo de sua orelha quando fala. — Deixe as janelas destrancadas.

Kyungsoo suspira, sem fôlego, quando ele se afasta. Mas assente, entendendo o recado.

Há muito a ser discutido em relação à Tríade e ainda não tiveram a oportunidade de conversar a sós sobre o assunto. Precisam traçar um plano, elaborar estratégias. A Seleção está se aproximando rapidamente, e a contagem regressiva está despencando.

Eles não têm muito tempo.



Park Chanyeol o alcança na sala de convivência da Casa Windsor.

Localizado no andar térreo da residência estudantil, o espaço foi idealizado para criar um senso de comunidade, onde os alunos residentes pudessem relaxar, socializar e realizar atividades recreativas, como jogar pôquer ou se desafiar em jogos de tabuleiro.

É o refúgio perfeito em dias como hoje, quando os ventos lá fora são cortantes e o fogo crepita calorosamente na lareira.

— Qual é o lance entre você e o Kyungsoo? — pergunta Chanyeol, segurando com força seu antebraço para impedi-lo de fugir da conversa.

Jongin se desvencilha do aperto dele.

— Não tem lance nenhum.

— Ah, é? Então como você explica aquela tarde na floresta? Você enfrentou Seojun para salvar a pele dele.

— E o teria feito por qualquer um. — Jongin dá de ombros. — Fiz por você naquela primeira noite, não fiz?

Chanyeol respira fundo, encarando-o com um olhar ferido.

— Eu posso permitir que as pessoas me tratem como um lorde estúpido qualquer, mas não você, Jongin. Dormimos debaixo do mesmo teto. Somos da mesma Casa. Eu te considero um amigo.

Amigo.

Jongin sente uma estranheza na palavra, uma sensação de que ela é desconhecida, quase esquecida, no seu vocabulário.

Será que um dia já teve amigos de verdade?

A relação entre ele e Kyungsoo, por exemplo, é difícil de encaixar em uma só lacuna. O próprio Jongin não saberia explicá-la, mesmo que quisesse.

Amigos, parceiros, rivais. Eles são tudo isso e nada ao mesmo tempo, navegando em territórios incertos e fronteiras delicadas. É inegável que exista algo poderoso ali, algo crescendo na linha tênue entre uma amizade genuína e uma atração física arrebatadora.

— Estava pensando nisso — continua Chanyeol — e tenho quase certeza de que você não foi até a floresta só para fumar. Você estava atrás dele. Atrás de Kyungsoo.

Jongin balança a cabeça e apoia o braço na cornija de gesso da lareira, disputando o espaço com dois grandes castiçais de madeira talhada.

— Não estou entendendo onde você quer chegar.

— As pessoas estão falando sobre ele. Sobre vocês.

De repente, o calor emanado pelo fogo na lareira sopra em seu rosto como o bafo de uma criatura monstruosa e ancestral.

— Quem? — questiona ele.

— A Tríade — sussurra Chanyeol, os olhos vasculhando a sala de convivência em busca de observadores curiosos. Por sorte, não há nenhum. — Eles estão dando uma festinha na Torre. Não é uma reunião obrigatória, só uma soirée improvisada. Sehun chamou de... um tributo ao falecido rei Song, ou algo parecido. Seu nome foi mencionado na roda.

Preocupado, Jongin franze a testa.

— Por que não recebi um convite?

Não que desejasse ser convidado para mais uma das confraternizações regadas a bebidas e narcóticos da Tríade. Mas o fato de não ter recebido um convite — logo ele, que agora é um membro oficial da sociedade — não parece ser um bom sinal.

E se Seojun já tivesse começado a suspeitar dele?

E se já soubesse de seus planos, antes mesmo de colocá-los em prática?

Jongin não espera por uma resposta. Num rompante, empurra Chanyeol para fora do caminho e atravessa a sala, pisoteando tabuleiros de xadrez e peças de dominó espalhados pelo tapete.

É tarde e o toque de recolher deve soar a qualquer momento, mas ele não se importa. Escancara as portas da Casa Windsor e é imediatamente abraçado pelos ventos uivantes, mergulhando na escuridão nevoenta.



Os dedos de Kyungsoo perpassam pelas lombadas desbotadas dos livros, alisando a textura encorpada do couro e sentindo o baixo-relevo dos títulos dourados já desgastados. Algumas daquelas páginas amareladas testemunham séculos de história.

Quando pega um exemplar de Crime e Castigo, uma fração do rosto do professor Williams surge do outro lado da estante. Uma prévia da boca quase desprovida de lábios, das sobrancelhas ralas e dos olhos azul-acinzentados.

— Posso ajudá-lo, Kyungsoo? — pergunta ele, assim que percebe sua presença.

Ele nega educadamente.

— Não estou procurando nada em especial.

De fato, Kyungsoo não está na biblioteca a essa hora para alugar uma obra específica, mas para preencher o tempo livre de maneira mais eficiente. A ideia de estudar no quarto ou de ficar à espera de Jongin, deitado na cama, o deixa ansioso e inquieto.

Kyungsoo retira mais um e outro livro, empilhando-os em um carrinho de madeira, até que o semblante sereno e concentrado do Sr. Williams apareça por completo.

— Professor? — chama ele, em voz baixa.

O homem o encara através de seus óculos finíssimos.

— Sim?

— Quando tentamos afastar alguém de nossas vidas, mas essa pessoa continua voltando... — Ele balança a cabeça, tentando se livrar de um pensamento que julga estúpido e imaturo. — Quero dizer, destino. A sucessão de acontecimentos inevitáveis. Você acredita que exista tal coisa como o destino?

No Instituto St. Georg, os professores não têm permissão para oferecer conselhos ou opiniões pessoais aos alunos. Por isso, quando bate à porta da sala do professor Williams ou o procura durante os intervalos em busca de uma palavra amiga, ele recorre aos clássicos como meio de comunicação.

— Bom, alguns autores encaram o conceito de destino como se ele fosse um navio do qual somos marinheiros. Podemos escolher o curso que desejamos seguir, mas, no final das contas, somos guiados pelo vento e pelas ondas. — Ele bate o dedo indicador em um livro empoeirado de filosofia. — Arthur Schopenhauer dizia que o destino embaralha as cartas, e nós jogamos com elas. Ele acreditava que, se não podemos escolher nosso destino, ao menos podemos escolher como enfrentá-lo.

Kyungsoo suspira, apoiado na estante.

— Acha que temos o destino que merecemos?

Se o destino for uma concepção determinada pelo mérito, a presença inevitável de Jongin em sua vida poderia ser considerada uma bênção ou um castigo?

Do outro lado da seção de Clássicos, o professor se destaca com seu traje sóbrio, composto por um paletó oliva e uma gravata vermelho-escura. Seus cabelos estão cuidadosamente repartidos na lateral e os lábios se mantêm franzidos em uma expressão contemplativa.

— Não sou um homem de Einstein. Nesse quesito, prefiro o pensamento simples e passional de La Fontaine — diz ele, erguendo o indicador para recitar: — Não poucas vezes esbarramos com o nosso destino pelos caminhos que escolhemos para fugir dele.

Com isso, a figura do Sr. Williams desaparece de vista e Kyungsoo escuta o som de seus sapatos contra o piso de linóleo enquanto se afasta.

Ele o segue, caminhando às cegas ao longo da estante para tentar acompanhá-lo.

— O destino é inevitável, então? — chama ele uma última vez, torcendo para que seja respondido. O professor tem a péssima mania de deixá-lo sem respostas, sempre com uma dúvida suspensa no ar.

Kyungsoo espera.

O coração aos saltos. A expectativa formigando na boca do estômago.

— Não sei — admite o professor finalmente. Sua voz vibrante ecoa pelo corredor, parecendo vir de lugar nenhum. — Mas se eles estiverem certos, então, se remarmos contra a maré, não estaríamos indo contra o fluxo natural de todas as coisas?



À distância, escondidos sob a cortina de névoa da geada, os quatro prédios dos dormitórios se assemelham a um cemitério de edifícios abandonados.

Ele examina o segundo andar da Casa Clermont.

Subir por ali parece fácil. Jongin sabe que, por baixo da bruma gelada e dos ciprestes que encobrem a visão do prédio, há uma treliça de madeira sob a janela de Kyungsoo. Não que fique olhando para a janela dele o tempo todo. Só às vezes, quando sai para correr de manhã e o vê sentado lá, folheando seu pequeno caderno misterioso de capa preta.

Mas há uma coisa que precisa verificar primeiro.

No alto da Torre Quebrada, Seojun está sentado em uma poltrona vermelha puída, cutucando compulsivamente o rasgo no braço do estofado de veludo. Ele afunda no encosto com as pernas abertas, como um rei reclinado em seu trono. Um deus do submundo.

Como Hades, o apelido que escolheu para designá-lo na Tríade.

Não há sinal de suas sombras. Sehun e Junmyeon não estão em lugar algum.

No entanto, aos seus pés, há um garoto sem camisa apoiado sobre as mãos e os joelhos, que Jongin não reconhece imediatamente. As costas, marcadas com pequenas cicatrizes de queimadura, estão alinhadas em uma linha reta — como uma mesa de carne e ossos.

Após uma última baforada no cigarro, a Serpente exala a fumaça, que se eleva no ar em espirais, formando uma sequência suave e fluida de círculos. Depois, apaga a bituca no garoto. Ele grunhe baixinho e arqueia as costas, o rosto encoberto pelos cabelos ruivos.

— Ficou sabendo, Jongin? — pergunta Seojun, quando o percebe entrar pela porta. — Parece que andaram roubando nosso estoque de vinhos.

O questionamento não é ingênuo.

Ele sabe. Sabe que foi Jongin.

— Ah, não — replica ele com falsa incredulidade, o corpo apoiado em uma das pilastras. — Quem faria algo tão perverso?

Jongin seguiu o conselho que recebeu de Kyungsoo em seus primeiros dias em St. Georg. Cavou um buraco e enterrou a garrafa na floresta, fundo o bastante para que o padre Hermann não pudesse rastreá-lo. No entanto, não esperava que Seojun sentisse a falta de uma única garrafa.

— Sungmin — chama a voz estrondosa de Seojun, acenando com o queixo para o champagne na mesa. — Sirva bebida ao nosso príncipe herdeiro.

— Sim, senhor.

Prostrado de quatro no chão, Sungmin rasteja até a mesa ao lado da poltrona sem erguer o rosto. Obediente, submisso, como o restante dos outros Escudeiros.

Jongin se aproxima e empurra a taça de volta para ele.

— Você primeiro — oferece a Seojun.

A Serpente alonga os lábios em um sorriso reptiliano. Suas pupilas escuras estão dilatadas e a mão esquerda continua repuxando o tecido exposto no braço da poltrona, de novo e de novo. O ruído constante é perturbador.

Seojun está visivelmente drogado.

— O que foi? — Ele franze a testa. — Não confia em mim?

— Não — responde Jongin com honestidade. — Sou um príncipe, Seojun. Não confio em ninguém. Imagino que você, como duque, entenda o que quero dizer.

— Muito bem.

Sem tirar os olhos dele, Seojun se serve de uma taça, sorve um longo gole de champagne e abre os braços, triunfante. Ainda assim, Jongin não bebe. Seu olhar recai sobre o rapaz ajoelhado. As bochechas vermelhas. Os dentes rangendo. A pele pálida e arrepiada pelo frio. Algumas cicatrizes são escuras e recentes, outras rosadas e mais antigas.

Mais garotos passam por ali e, de vez em quando, apagam seus cigarros nas costas dele.

Um cinzeiro.

Sungmin é um cinzeiro humano.

— Está frio — comenta Jongin, casualmente. — Peça ao seu Escudeiro para colocar um casaco.

Ele balança o pé, agitado.

— Cuide do seu lorde de estimação como quiser, mas não me diga como devo cuidar do meu.

Jongin tenta uma nova tática:

— Ele não terá serventia se ficar resfriado.

— Por sorte, tenho ideia de outros que possam substituí-lo — responde Seojun, com um balançar de ombros.

Jongin pensa em Kyungsoo na floresta, aprisionado, debatendo-se como uma ave ferida, as costas arranhadas pelo tronco da árvore.

Quanto Kyungsoo teria sofrido durante todos esses anos?

Quanto precisou suportar?

Risadas escandalosas ressoam do outro lado da torre. Diante da lareira apagada, há um grupo de garotos sentados em um semicírculo. Abaixo deles, se estende uma tapeçaria brocada e antiga, com relevos bordados a ouro no tecido bordô.

— Estou dizendo! Ele é um charlatão — diz um dos rapazes, inclinando o corpo para a frente como se contasse um segredo. — Uma vez, vimos o padre Hermann com as costas eretas dentro da Capela vazia, saudável como um jovem de vinte anos. Quando nos viu, ele imediatamente se lembrou de que é corcunda e relaxou os ombros.

Outro garoto, sentado no outro extremo do grupo, franze o nariz em uma careta enojada.

— Não gosto do jeito que o padre olha pra gente.

— Ele é nojento — concorda um outro. — Uma vez, quando fiz serviço comunitário na Capela, ele tentou me tocar. E para quê, afinal? Aposto que mal consegue ficar duro debaixo daquele saiote. Um velho asqueroso e pederasta, ainda por cima, é isso que ele é.

— Esse lugar está cheio de bichas — comenta o primeiro.

Jongin estremece à menção da palavra.

— Qual é mesmo o nome daquele professor de Literatura? Aquele com nariz aquilino e caído.

— Oliver J. Williams, o dramaturgo.

— Isso, isso mesmo. Soube que ele já tem mais de cinquenta anos e nunca foi casado. Woobin já viu uma daquelas obras banidas, aquela do Oscar Wilde, em uma pilha de livros na sala dele.

— O Retrato de Dorian Gay! — Alguém arrisca um palpite propositalmente equivocado e todos na sala riem, exceto Jongin.

— Dorian Gray — corrige o garoto chamado Woobin, com uma risada.

Na poltrona, Seojun vira o champagne como se fosse um shot de whisky, esvaziando a taça de uma só vez. Parte do líquido escorre pelo queixo e pela camisa branca do uniforme.

— Sabe de uma coisa? — questiona ele, secando o rosto com a mão. — Devíamos fazer algo a respeito.

Ele cruza as pernas e apoia os pés nas costas de Sungmin, os sapatos de couro pressionando as cicatrizes esféricas e doloridas.

— Tradição, Honra, Prestígio, Disciplina e Excelência — recita com solenidade, seus dedos tremendo enquanto os levanta um por um, contabilizando cada palavra. — Esse é o lema do nosso colégio. Esses comportamentos promíscuos e perversos ferem nossa honra e tradição, nossos princípios, e por isso devem ser aniquilados. Arrancados pela raiz.

Lentamente, sorrisos sádicos se formam nos lábios dos rapazes sentados. O baralho de cartas, as seringas de drogas vazias e as garrafas de bebida ficam esquecidas no tapete. Um deles ergue seu copo de whisky pela metade e declama:

— E com minhas próprias mãos faço justiça!

— E com minhas próprias mãos faço justiça! — entoam os outros, em uníssono, erguendo seus copos, taças ou um punhos cerrados.

Jongin se sobressalta quando um braço pesa em seus ombros, aprisionando-o em um abraço lateral. Seojun exala o cheiro pungente de cigarro, álcool e suor. Ele se debruça sobre ele de propósito, para que não possa ir embora. Para que seja testemunha.

Com um sorriso perverso e um ar quase filosófico, ele se volta para o seu grupo de adoradores e murmura:

— Eis o que proponho...



Passados cinco minutos depois das dez horas da noite, Kyungsoo ouve batidas tímidas no vidro de sua janela. Agarrado ao parapeito, Jongin acena, com um sorriso travesso nos lábios. Ele empurra o vidro e desliza silenciosamente para dentro do quarto, como um ladrão habilidoso faria.

Impaciente, Kyungsoo levanta da cama e corre para a janela para trancá-la e fechar as cortinas.

— Você está atrasado — resmunga.

— Eu sei — responde Jongin, enquanto afrouxa a gravata do uniforme no pescoço. — Eu estava preso no ninho das cobras.

É a primeira vez de Jongin em seu quarto, mas a julgar pelo modo como ele tira os sapatos e se joga despreocupadamente em sua cama, parece tê-lo visitado uma dezena de vezes.

— Está congelando lá fora — comenta ele, puxando um cigarro e o isqueiro do bolso interno do blazer.

Sem hesitar, Kyungsoo arranca o cigarro da boca dele.

— Você não vai fumar no meu quarto.

— Está bravo?

— O que me entregou? — rebate ele, com as sobrancelhas grossas contraídas. — A testa franzida ou o tom de voz mortal?

Jongin sorri e estica as pernas.

— Viu só? Você consegue ser engraçado.

As luzes do quarto já estão apagadas, como dita as regras dos dormitórios. Se não fossem os dois abajures e uma antiga lamparina a óleo, aconchegada na beirada da escrivaninha, o cômodo estaria mergulhado na escuridão.

Na meia-luz do quarto, Jongin arregaça as mangas da camisa e se reclina nas almofadas. Kyungsoo o assiste repousar com um braço atrás da cabeça, os dois primeiros botões da camiseta se desfazendo com o gesto. A pele do seu peitoral, maravilhosamente exposta entre as lapelas brancas, é quente e dourada sob as luzes alaranjadas bruxuleantes.

— Se queremos que isso funcione — propõe Jongin —, você precisa me contar tudo que sabe sobre eles. Todas as forças e vulnerabilidades da Tríade.

Kyungsoo engole em seco.

Jamais poderia revelar tudo que sabe, ou não seria capaz de convencê-lo a levar o plano adiante.

Certos segredos precisam continuar enterrados.

— A Tríade é muito maior do que você pensa — revela ele, sentando-se no pequeno sofá sob a janela. — Não são só os irmãos Oh ou os alunos envolvidos, mas também uma legião de adultos agindo por trás deles. A família Oh financia boa parte dos projetos da Academia Real, não só de St. Georg, mas do St. Marien e dos outros internatos juvenis.

— É por isso que eles nunca são punidos — conclui Jongin. — Por isso ainda estou preso aqui.

Kyungsoo assente.

— Essa é sua maior chance. Se você ameaçar o sistema deles, sua expulsão seria encomendada por Seojun por conta própria. A Tríade é a sua porta de saída.

— E você? — pergunta ele, com as sobrancelhas arqueadas em preocupação. — Você estaria arriscando tudo se me ajudasse.

O olhar de Kyungsoo percorre a parede ao lado do armário, onde certificados emoldurados atestam seus seis anos consecutivos como o aluno de maior destaque do internato. Seu histórico é impecável, com uma trajetória perfeita. Para a Academia Real, encarregada de avaliar os candidatos para a Seleção, não há concorrente mais adequado do que ele.

Desafiar a Tríade pode significar o fim de um trabalho árduo de anos para se tornar herdeiro do trono.

Mas ele decide que vale a tentativa.

A Terceira Família está um degrau acima dele na linha de sucessão. Se os irmãos Oh forem expostos e renegados pela Academia Real, o caminho até o trono estará livre.

— Eu sei, mas isso não pode continuar. Não quero que eles façam com outros o que fizeram comigo e com... — Kyungsoo engole as palavras finais juntamente com a saliva alojada na garganta. — E acho que temos uma boa chance. Afinal, você é da Segunda Família, Jongin. Se tem alguém que pode derrubá-los, esse alguém é você.

Jongin brinca com a gravata frouxa, como se esse fosse apenas mais um assunto rotineiro.

— E os outros membros da Tríade? Eles não seriam um empecilho?

Kyungsoo nega com a cabeça.

— Eles são o elo mais frágil. Existe uma minoria tão cruel e sádica quanto Seojun, mas a maioria está refém do monstro que a Tríade se tornou. Alguns estão descontentes, exaustos. Eles não têm para onde fugir, mas estão cansados desse jogo de poder. Eles só precisam de uma oportunidade para se rebelar.

Jongin assente, analisando a afirmação em silêncio.

Os olhos de Kyungsoo são atraídos pela figura que repousa em sua cama, os cabelos castanhos com delicados reflexos dourados espalhados pelas almofadas. Ele imagina que o aroma dele permanecerá ali, impregnado nos lençóis, quando se deitar para dormir.

O pensamento lhe arranca um sorriso.

— Podemos agir de dentro para fora. Envenenar a mente deles contra os Anfitriões — sugere Jongin, enrolando despreocupadamente o tecido da gravata nos dedos. — Acha que estariam dispostos a virar o jogo? Os Escudeiros, pelo menos.

Mais uma vez, Kyungsoo balança a cabeça.

— Não adiantaria. Para derrubar a Tríade, temos que destruir o que a sustenta.

Para exemplificar o que está dizendo, ele alcança o baralho sobre a cômoda e empilha as cartas cuidadosamente, dispondo-as em um pequeno castelo de papel.

— Se derrubarmos a base da pirâmide deles, todas as outras peças cairão como efeito dominó. — Ele ameaça uma das cartas com um peteleco e a pilha inteira desmorona. — Os irmãos Oh não se escoram nos membros da Tríade, porque possuem autoridade suficiente para agir sozinhos. Eles são apenas peões, tão prisioneiros de Seojun quanto os Escudeiros.

Jongin se endireita no colchão, pondo-se sentado, e estala a língua.

— Parece muito arriscado. Acha que daremos conta? Só nós dois?

— Por enquanto, quanto menos pessoas souberem, melhor — responde Kyungsoo. Ele lê a intenção de Jongin nas entrelinhas, então explica: — É muito arriscado envolver Chanyeol nisso, pelo menos até termos certeza de que ele é confiável e está do nosso lado. Se precisarmos de uma mão amiga, conheço monitores que estariam dispostos a ajudar.

Embora Baekhyun e Minseok não sejam exatamente seus amigos, eles são as pessoas com quem tem mais proximidade. Como chefe dos monitores, poderia confiar neles de olhos fechados.

De repente, Jongin salta da cama.

— Tem mais uma coisa — ele diz, abaixando o tom de voz e se aproximando de Kyungsoo no sofá. — A Tríade está tramando algo. Algum tipo de missão de purificação, ou higienização, sei lá. — Jongin parece querer dizer mais alguma coisa, mas apenas completa dizendo: — Vou continuar de olho, acompanhar de perto.

Kyungsoo revira os olhos.

— Eles adoram esse tipo de coisa. Gostam de jogar xadrez com as peças do colégio. Me avise assim que souber de mais informações.

Jongin responde com uma reverência sarcástica, um sorriso leve repuxando os cantos dos lábios.

— Sim, meu príncipe.

Seus olhares se encontram, e Kyungsoo segura a respiração. Jongin o observa de cima, radiante como o sol sob as luzes do quarto, lançando sombras em seu rosto até obscurecê-lo completamente. Como se ele fosse o dia, e Kyungsoo a noite.

Seus olhos deslizam para os lábios dele e depois para os botões abertos da camisa. Jongin parece contemplá-lo da mesma maneira, pois quando seus olhares se cruzam novamente, os dois o desviam ao mesmo tempo.

Jongin umedece os lábios, parecendo nervoso, e aponta para a janela com o queixo.

— Acho melhor eu voltar.

Mas Kyungsoo agarra seu pulso antes que possa dar mais um passo.

— Não — decreta ele em tom firme e irredutível.

— Não? — pergunta Jongin, com as sobrancelhas franzidas em confusão.

Lentamente, os dedos de Kyungsoo, que antes estavam tensos em torno de seu pulso, relaxam, mas não o soltam por completo. Ele o segura com delicadeza, acariciando com o polegar as veias levemente saltadas em seu antebraço.

— É muito tarde para voltar agora. Junmyeon está encarregado da ronda e ele não deixa nada passar. Será mais seguro se ficar aqui — garante Kyungsoo, sentindo o braço quente pulsar sob seu toque. — Durma comigo esta noite.

As palavras o surpreendem, como se tivesse lhe escapado o controle da própria língua. Como se conduzido por uma força divina e irrefreável.

Ele relembra as palavras de Oscar Wilde, saboreadas na adolescência em segredo, em páginas arrancadas e escondidas sob o colchão como retalhos de uma euforia proibida.

Neste mundo, há apenas duas tragédias: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, e a outra a de os satisfazermos.

Kyungsoo flutua no limbo entre as duas coisas: sem avançar ou se entregar aos seus impulsos, mas observando-o com olhos brilhantes, à espera.

Jongin entreabre os lábios, depois fecha. Ele balança a cabeça levemente.

— Não é uma boa ideia.

— Fica — pede Kyungsoo de novo.

Dessa vez, não como uma ordem, mas como uma súplica.

A pulsação de Jongin acelera sob as pontas de seus dedos, latejando e vibrando como se seu coração tivesse dominado o corpo inteiro. Kyungsoo vê seu queixo se mover e os lábios formarem um murmúrio antes mesmo que as palavras lhe escapem pela boca.

— Fico — sussurra ele.



Eles não dormem tão cedo.

Quando a madrugada se alastra, lentamente, como o escoar de um relógio de areia, Jongin passa a explorar seu quarto com uma curiosidade ávida. Seus dedos percorrem estantes de livros, folhas de anotações, uma câmera analógica quebrada e pilhas de enciclopédias. Balançam a cortina das janelas, brincam com um espelho giratório.

E Kyungsoo permite que ele faça todas essas coisas, porque a ideia de dividir a cama o deixa ansioso e apreensivo. Precisa mantê-lo distraído.

— O que é isso? — pergunta Jongin, ao encontrar os papéis de carta em cima de sua escrivaninha. — Você escreve para a sua família?

— Às vezes, mas não com a mesma frequência que fazia no começo — confessa Kyungsoo. Ele lança um olhar triste às páginas com bordas decoradas. — Essas folhas são para outra pessoa. Minha mãe insistiu que eu escrevesse cartas para a minha... futura noiva. Para cortejá-la, nas palavras dela. Mas duvido que eu saiba como fazer isso.

Jongin pisca, seu pomo de adão movendo-se na garganta ao engolir saliva. Pode imaginar o que se passa na cabeça dele sem que precise perguntar.

Uma noiva. Em breve, Kyungsoo terá uma noiva.

Mas Jongin se recupera rapidamente e se volta para ele com um sorriso largo e maroto.

— Posso te ajudar, se quiser.

Kyungsoo deixa escapar uma risada.

— O que você escreveria? — questiona ele.

Seu sorriso cresce ainda mais, e Jongin arrebata os papéis em branco com os dedos ágeis. As longas pernas aprisionadas nas calças do uniforme deslizam pelo quarto até Jongin alcançar sua cama. Ele sobe e fica de pé sobre o colchão, fazendo dele seu palco e esbanjando seu charme jovem e espontâneo.

— Sou péssimo com as palavras, então acho que roubaria as de outra pessoa. — Ele ergue os papéis em frente ao rosto como se pudesse ler um poema invisível escrito na superfície. — Se te comparo a um dia de verão. És por certo mais belo e mais ameno. O vento espalha as folhas pelo chão. E o tempo do verão é bem pequeno.

Kyungsoo pensa em dizer o quanto odeia aquela tradução, mas está muito ocupado rindo.

Ainda que o tradutor tenha tido o cuidado de preservar o destinatário como alguém do sexo masculino, a tradução lhe parece muito simplista se comparada a outras, que possuem mais complexidade e riqueza de nuances.

Ele mantém o pensamento para si mesmo.

— É um clássico — diz ele —, mas não acho que seria uma boa ideia enviar um soneto que Shakespeare escreveu pensando em outro homem.

Jongin abaixa os papéis em suas mãos, revelando a curva de um sorriso presunçoso.

— Por quê? Acho que seria a escolha perfeita.

Kyungsoo respira fundo, sentindo o corpo inteiro em chamas. No fundo, ele entende o que Jongin quer dizer.

Sei que é em mim que você pensa quando deveria estar pensando nela.

Ao recitar o próximo poema, Jongin estica uma das pernas e apoia a mão sobre o peito, e Kyungsoo perde o fôlego. É impossível não admirá-lo ali, com a pele reluzindo à luz dos abajures e as maçãs do rosto brilhantes pinceladas de dourado.

Sua beleza é abrasadora, ardente, com a sensualidade natural e vivaz de um personagem de Ovídio. Uma beleza imortalizada em sonetos e poesias.

Jongin é um dia de verão.

Ela caminha em beleza como a noite — recita ele, os olhos cintilando com divertimento. — De clima sem nuvens e céu estrelado. E toda a perfeição da escuridão e da luz encontra-se em seu semblante e seus olhos.

Ainda que as palavras estejam no feminino, sente que elas são direcionadas a ele, e mais ninguém. Kyungsoo sorri por dentro, refém do olhar luminoso de Jongin.

Sua boca está terrivelmente seca.

Beberia uma garrafa inteira de água agora.

— Isso é Byron — diz simplesmente. — She walks in beauty.

— Você gosta?

Kyungsoo responde em um sussurro:

— É meu preferido.

Um sorriso sutil se desenha nos lábios de Jongin. Ele dá um longo passo para fora do colchão, fazendo o estrado ranger.

No entanto, no processo de descer da cama, seu cotovelo esbarra em uma pilha de livros grandes, derrubando o exemplar de Diplomacia, de Henry Kissinger. O livro cai aberto pela metade, revelando um pequeno caderno preto escondido entre as páginas.

Kyungsoo se prepara para correr na direção dos livros, mas é tarde demais. Jongin já está agachado, abrindo o caderno que por tanto tempo manteve confidencial.

Os olhos castanhos cintilam à luz amarelada das lâmpadas enquanto explora seu diário visual. Uma coleção feita a grafite ou carvão que ilustra seus pensamentos e desejos mais secretos.

— Isso é incrível — murmura Jongin, folheando seu caderno de desenhos.

Eles são, em sua maioria, fachadas dos prédios de St. Georg e paisagens que já visitou. Kyungsoo gosta da estética arquitetônica dos edifícios do internato e do desafio técnico que eles proporcionam, com uma variedade de formas, linhas, texturas e detalhes interessantes para ilustrar.

Talvez haja um fundamento freudiano para explicar sua preferência por linhas retas, proporções, perspectivas e a monotonia da arte urbana monocromática, em vez da anatomia, postura e movimento das figuras humanas. Ele explora as curvas em estátuas de anjos, deuses e gárgulas, mas nunca pessoas.

O olhar curioso de Jongin se detém em um de seus desenhos mais conturbados. É a paisagem da Torre Quebrada, com a água escura e ondulante do lago confundindo-se aos escombros pontiagudos. Mas há algo nele, principalmente na maneira como o preencheu de sombras e de linhas pretas carregadas, que o faz parecer um lugar sinistro e assombrado.

Há uma inscrição no canto inferior direito:


"O Inferno está vazio e todos os demônios estão aqui."

(De A Tempestade, Shakespeare)


— Então é isso — conclui Jongin, com uma euforia de quem descobriu uma verdade universal. — Desenhar. É disso que você realmente gosta. Você é um artista, Kyungsoo. Um idealista!

Não, ele pensa. Sou um príncipe. Nasci para ser um príncipe, e nada além disso.

— Mas por que todos os desenhos estão em preto e branco? — continua Jongin, tagarelando sozinho. — O que você tem contra as cores?

Kyungsoo se aproxima com passos duros e arranca o livro das mãos dele, antes que possa mergulhar mais profundamente em seus pensamentos. Antes que veja algo que não deveria.

— Nunca mais toque nisso — resmunga ele, devolvendo o caderno e o livro à pilha da escrivaninha.

— Não seja tímido. — Jongin estala a língua. — Você tem muito talento.

Kyungsoo ignora o elogio.

— Deveríamos dormir — decide ele, para encerrar o assunto. — Vou apagar as luzes.

Ele desliga os abajures, mas deixa a lamparina acesa por mais algum tempo. No breu absoluto, os demônios do passado costumam visitá-lo em seus sonhos, assombrando-os até se transformarem nos piores dos pesadelos.

A cama é espaçosa o suficiente para abrigar duas pessoas, porém não o bastante para que durmam sem que seus corpos se toquem. Silenciosamente, Kyungsoo desliza para debaixo dos lençóis, como se a cama fosse mais de Jongin do que sua.

Com o rosto virado para a parede, ele encara as rachaduras miúdas na superfície enquanto Jongin se desfaz da gravata e da camisa do uniforme. Ele ouve o ruído metálico da fivela do cinto, imaginando se as calças dele por acaso cederam na cintura, revelando as curvas em V da linha do abdômen que seguem até suas virilhas.

Kyungsoo se remexe, desconfortável com os próprios pensamentos.

Então, sente o peso e o cheiro do perfume dele. O corpo seminu de Jongin engatinha para cima do colchão, ocupando espaço na cama com seus ombros largos e sua temperatura incandescente. Um braço resvala em suas costas e Kyungsoo estremece com o calor de sua pele.

— Boa noite, então — diz Jongin, puxando o lençol até cobrir o umbigo.

Kyungsoo não responde.

Tem medo de que, se o fizer, ele perceba o quanto está trêmulo e sem fôlego. O quanto seu corpo reage ao menor de seus estímulos.

No entanto, antes que perca aquela cena para sempre, ele gira na cama e arrisca um último olhar para guardá-la em sua mente. Do contrário, jamais poderia tentar desenhá-la, se um dia quisesse.

O brilho tênue da lua espreita pela janela, iluminando levemente os contornos de seus corpos. A luz dourada da lamparina brilha no ombro de Jongin, virado para ele, com os olhos âmbar semicerrados e os cílios reluzindo como ouro.

Na penumbra do quarto, eles se encaram. Olhos nos olhos, olhos na boca, no pescoço, clavículas e peitorais descobertos. Passeando por trechos de pele onde seria proibido tocar.

Sem dizer uma palavra, Jongin se aproxima, devorando a distância que os separa na cama. Seus braços roçam um no outro e seus joelhos se chocam por baixo dos lençóis.

Essa é uma noite única e proibida.

Kyungsoo inspira e exala, tentando conter a respiração acelerada. Ele estende a mão na direção do rosto de Jongin, mas hesita, com os dedos flutuantes desenhando sombras em seu rosto bronzeado.

Antes que possa se afastar ou desistir da ideia, porém, Jongin move a cabeça de encontro à sua mão, oferecendo-se a ele.

— Jongin... — arqueja, num tom não muito mais alto que uma respiração.

Quando toca a sobrancelha dele com as pontas dos dedos, afastando uma mecha castanho-dourada dos olhos, sente-o respirar mais profundamente. A reação serve-lhe de incentivo como a inspiração que alimenta a criatividade de um artista.

Ele segue o contorno das sobrancelhas de Jongin, traçando a curva delicada e perfeitamente arqueada. Seus dedos deslizam suavemente pelos olhos, sentindo a textura das pálpebras, a maciez dos cílios a fazerem-lhe cócegas no indicador.

Em uma investida perigosa, Jongin toca seu queixo, erguendo-o com cuidado para poder beijá-lo. Mas Kyungsoo segura sua mão, aperta-a e a afasta.

— Não — sussurra ele. — Só... fica parado por um instante.

Cada toque é uma descoberta.

Kyungsoo acaricia as maçãs do rosto de Jongin, capturando a sensação quente e convidativa de cada curva. Seus dedos continuam a explorar, descendo em direção ao maxilar, onde ele traça o contorno firme da mandíbula com os dedos, sentindo-a rígida quando ele engole em seco.

Na luz alaranjada, a tez adquire um tom bonito de citrino. Kyungsoo ofega, transbordando desejo, quando seu polegar desliza lentamente pelo lábio inferior de Jongin. Sua boca é suave, cálida e macia. Ele a pressiona de leve e Jongin instintivamente entreabre os lábios, expirando o ar em seus dedos.

— Você vai me beijar, Kyungsoo? — pergunta ele, com um suspiro inquieto.

Ele sente o calor irradiando da pele de Jongin.

Os olhos dele estão brilhantes e enevoados de excitação, os lábios ainda entreabertos em um convite silencioso. Jongin está se contendo, resistindo à tentação de tocá-lo, e aquilo o faz arquejar ainda mais, fazendo o peito subir e descer a cada respiração.

Kyungsoo sente o sangue pulsando forte nas veias.

— Não — responde ele.

— Você me quer? — insiste Jongin, e sua voz é um sussurro acariciando sua pele, os lábios se movendo contra seus dedos exploradores. Ele o provoca, roçando a boca em seu polegar.

— Quero — sussurra —, mas não devo. Não posso.

— Isso te assusta?

— Sim.

Jongin olha diretamente em seus olhos, observando-o através de seus cílios iluminados.

— Me assusta também — confessa ele.

Kyungsoo segura seu rosto quente com as duas mãos, sobressaltando-se com a facilidade com que se acostumou à maciez dele, à temperatura de suas bochechas. Eles respiram juntos, recuperando o fôlego perdido.

De repente, Jongin o surpreende, pressionando os lábios na ponta de seus dedos.

É tão íntimo quanto um beijo.

A intensidade do seu desejo desabrocha com rapidez, abalando-o profundamente.

Ele recua, alarmado.

Por um momento, um único instante, vislumbra o peito agitado de Jongin sob os lençóis, banhado pela luz suave da lamparina. Com um suspiro longo e profundo, Kyungsoo elege um ponto fixo no teto e o encara, ofegante, torcendo para que o sono venha logo.

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