De volta à Cabana (Disponível...

By Legotosa

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Quando criança a história preferida de Megan sempre fora a chapeuzinho vermelho.E sem saber o cruel destino,a... More

Personagens
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1-Paranóica
Capítulo 2-Eu te protejo
Capítulo 3-Consequência
Capítulo 4-Olhar assassino
Capítulo 5-Não olhe para trás
Capítulo 6-A observadora
Capítulo 7 -Pequena cabana
Capítulo 8-De volta à cabana
Capítulo 9-Bem dele e o nosso...
Capítulo 10- Um acordo
Capítulo 11- Minha Megan
Capítulo 12-Fique longe dela
Capítulo 13- Recuar para atacar
Capítulo 14- Duas almas a mesma sepultura
Capítulo 15- Um de nós irá morrer
Capítulo 16- O fruto de nossa redenção
Capítulo 17- Não ressucitará dos mortos
Capítulo 18- Último fio de esperança
Capítulo 19-Regras do jogo
Capítulo 20- Um lugar à minha espera
Capítulo 21-Espectro de mim mesma
Capítulo 22- Mercê dela e da floresta
Capítulo 23- Frio lá em cima
Capítulo 24-Maldito sorvete
Entre amor e guerra
Capítulo 25- Inferno
Capítulo 26-Monstros
Capítulo 27-Mil milhões
Aviso Importantíssimo

Capítulo 28-Sete palmos

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By Legotosa

A saliva presa em minha garganta estava difícil de dissuadir. Os dedos dos meus pés estavam retorcidos em retaliação e minha mão estava mais fria do que o cadáver dentro do pequeno caixão. Lágrimas pesadas corriam no meu rosto, mas não eram pelo morto. Eu não o conhecia, apesar da tragédia que envolvia seu estado. Era por todas as últimas 24 horas em que meu mundo havia virado de ponta cabeça e eu não sabia mais distinguir o que era real ou mera ilusão.

Os passos de Jhon e Christopher ficaram mais próximos e suas mãos repousavam no meu ombro como se avisassem, apesar do conforto que tentassem passar, que deveria colocar meus pés de volta ao chão. Eu sei que não sou eu mesma depois disso. Nunca mais seria a mesma menina que saiu para um final de semana escondida dos pais e não voltou.

A brisa gélida cortava a pele que estava exposta pelo meu vestido preto e a gramínea do cemitério tocavam meus tornozelos em uma carícia pesarosa. Os óculos protegiam meus olhos inchados dos raios solares que insistiam em perturbar minha cabeça em uma enxaqueca. E cada vez que insistia em analisar o céu, de um dos dias mais bonito que já presenciei em Virgin River, uma pontada aguda me fazia olhar novamente para o solo desgastado do cemitério municipal, composto pela grama mais verde e pelo solo mais fértil.

Um padre contratado pronunciava algumas palavras em latim, algumas poucas perdidas pelo vento e jogadas floresta à dentro. Estávamos nos limites da cidade cercados por túmulos íngremes e aura sombria, que espreitava sempre que os raios solares eram aplacados por uma nuvem pesada. Um grupo mais à frente, consolava uma mulher desolada pela perda do filho. Sabia pelos lamurios incessantes que insistiam em chocar-se com as orações em latim do padre. Ninguém podia assegurar-me que o filho que eu estava enterrando não era dela? Não desenvolvido completamente pelas circunstâncias. Mas ainda sim, uma vida.

O aperto de Jhon ficava cada vez mais forte enquanto a oração terminava. Quem diria que esses monstros poderiam acreditar em algo mais? Eu não apostaria minhas fichas nisso. Mas contra tudo, Christopher foi quem se ofereceu para chamar um padre da paróquia regional e organizar tudo o que fosse necessário para que meu filho imaginario fosse enterrado. Não mais, pois sabia que havia um corpo ali. Pequeno, tanto quanto, se não mais, que o próprio caixão. Menor que um ante-braço, mas foi capaz de sanar todas as pontas soltas que Christopher insistia em causar.

Outro nó estava se formando em meu estômago por saber que foi Jhon que elaborara toda o enredo que se sucedia após o falso aborto espontâneo. Foi ele que comprou o silêncio de toda a equipe que me assistiu, principalmente a Dra Xang que me lançava olharem furtivos quando estava aos seus cuidados. A mesma que utilizou um tom de veludo mascarado para enganar todos os ouvidos de que, infelizmente, eu não estava mais grávida. Seja com dinheiro ou ameaça, Jhon conseguiu enganar até mesmo Christopher, que chorou ao ver o feto. As lágrimas daquele dia estavam mais pesadas das que hoje molhavam meus olhos. Chorava pela mãe que iria enterrar um caixão vazio, para que minha mentira fosse selada a sete palmos do chão.

O padre terminou seu pequeno ritual espiritual e eu pude soltar a respiração que não deixava meus pulmões desde que saímos daquela Cabana. Os pequenos flash da luz incandescente do hospital invandiam meus olhos novamente, enquanto o barulho incessante das rodas da maca reverberavam pelo piso cerâmica maculado do hospital. Passos apressados  tentavam acompanhar e vozes gritavam no fundo da minha cabeça como uma sinfonia assustadora. Lamentos, gritos e súplicas. Tanto quanto, ameaças, raiva e ódio. O olhar desolado do ruivo. O taciturno de Jhon e o horror estampados nos de Antônio.

Foi suficiente para quase sentir repulsa de mim mesma. Quase.

Estava tão perdida na névoa de pensamentos que não percebi que havíamos passado a pequena lápide com a data atual de 18 anos atrás. Assim como aquela a nossa frente. E algumas dezenas de outras atrás. Repousei uma pequena rosa branca na lápide e observei a grama do morro se movimentar conforme a corrente de vento dançava pelas colinas. Um ritmo cessante e letárgico. Algumas ruas ao lado, Antônio parava ao lado de uma lápide, perto o suficiente para ler sua expressão corporal tensa, mas longe o suficiente para notar a escrita no granito. Até aquele momento não havia percebido que o loiro deixara nossa caravana para ir em busca da sua própria.

A brisa gélida momentaneamente acabou quando Christopher encobriu sua presença contra a minha. E seu olhar encontrou o caminho aos quais o meu percorria. Observei-o engolir em seco antes que um pequeno vinco se formasse entre suas sobrancelhas. Pequeno e quase imperceptível. Quase. Seu corpo adquiriu uma nova camada de tensão antes que seus lábios encontrassem meu rosto e murmurasse sons ininteligíveis. Observei o grande homem, vestido em um terno preto e óculos escuros, caminhar pelo cemitério em direção à Antônio como se o mundo lhe devesse algo e não o contrário. Mas por baixo da sua roupa nova de grife e atitude altiva, conseguia perceber algo mudando a aura dele, tornando-a nefasta.

Jhon ainda estava ao meu lado e como eu, observava a interação como se observa a calmaria antes da pior tempestade. Suas mãos pareciam formigar com como ele as abria e fechava e a circulação parecia interrompida para aquela área da região, se observasse as pontas dos dedos esbranquiçadas. Antes que pudesse desviar o olhar, Jhon já perceberá meu escrutínio sob si. Seus olhos eram tão escuros que pareciam uma névoa negra capaz de me engolir. Suas mãos se fecharam em punhos e seu rosto ganhou uma nova tensão curvando suas expressões.

Mas como veio, de repente, não estava mais visível. Estoico e impenetrável como uma rocha.

-Ele nunca deverá saber. Jamais!É para o próprio bem dele e o nosso...-repeti as mesmas palavras que ouvi quando Christopher e Jhon achavam que estava adormecida. Eles escondiam algo de Antônio. Estava tão perceptível que até uma faca cega poderia cortar a tensão que emanava entre os três. Pensei que o tom que usara não fosse o suficiente, quando Jhon pareceu não perceber, mas logo, observei um pingo de suor correr de sua testa e se perder sob a barba. Poderia culpar o clima, mas a rigidez de seu corpo não me enganava-Foi as palavras que Christopher disse a você.

-E o que tem?-rosnou, quase tirando um sorriso ladino das minha máscara melancólica. Querendo ou não, esse ainda era o velório do meu filho.

-O que seria mais um segredo nessa avalanche?-questionei, observando os tons pastéis de azul ao qual o céu estava inundado.

-O que você quer dizer com isso?-podia sentir sua mandíbula estalar e o tom foi tão ríspido que agora ganhávamos atenção do pequeno grupo familiar a nossa frente. Enrolei meus braços sobre sua estrutura maciça e fique na pontas dos pés para que meu rosto ficasse encaixado na curvatura do seu pescoço. Perfeito. Seria como se este monstro estivesse consolando uma mãe pela perda de seu filho.

-Se não quer que ganhemos atenção indesejada, se controle...-argumentei contra sua pele, depositando um beijo logo depois. O gosto salgado de seu suor, provocava minha língua. A tensão parecia emanar de seus poros-Certas coisas devem permanecer em segredo. Vocês sabem disso melhor do que eu...-comuniquei, esfregando minhas mãos em sua costas-Christopher não precisa saber daquele pequeno incidente no hospital de Virgin River. Nossa confiança ainda esta sendo construída, para que um infortúnio desse possa abala-la...

Suas mãos ásperas agarraram os cabelos perto do limite da minha nuca fazendo com que minha cabeça se inclinasse em um ângulo desfavorável para que pudesse encontrar seus olhos-Você acha que fugir quando estava tentando te acobertar é um infortúnio?-praticamente rosnou contra minha cara-Você não sabe quanto autocontrole estou utilizando para não simplesmente te ensinar boas maneiras, aqui e agora...Velhos hábitos...

-Ninguém está te impedindo...-murmurei em desafio. Todos os meus sentidos estavam em alerta e à flor da pele. A voz no fundo da minha consciência berrava para que eu corresse e nunca mais parasse. Mas isso não era possível, não depois do que eu descobri. Não seria tão fácil. Ao mesmo tempo, uma sensação de segurança fluía em uma corda bamba entre Christopher e eu. Tão frágil e opaca que ameaçava desintegrar-Mas duvido que seria capaz de desobeder seu dono, como um pobre cachorrinho que é...

Jhon estreitou seus olhos e sua mandíbula parecia estar prestes a rachar. Sua linguagem corporal emanava carnificina, eu pressentia.

-Você.não.sabe.de.porra.nenhuma-rosnou contra meu rosto e antes que pudesse ganhar mais atenção sobre nós, depositou um beijo na minha bochecha que pareceu mais queima-la-Você se esqueceu com quem está falando?-sorriu galanteador. Naquele momento o Sol resolver dar as caras novamente e iluminar seu rosto perfeitamente simetrico, apesar da dureza de suas feições-Apesar de achar que está protegida debaixo das asas de seu pai, ratinha, você não está!-seu sorriso foi capaz de aumentar ainda mais e causar reviravoltas no meu estômago-Imagine a decepção que ele ficaria se soubesse que a filhinha dele é um putinha que adora cavalgar os dedos do seu titio...-debochou, trazendo os mesmos dedos que antes estavam entre minhas coxas para acariciar meu rosto, deslizando pela curvatura do meu pescoço-Christopher pode ser o mais cruel, se quiser! Tem pessoas que nascem ou se tornam ruins...Seu pai é os dois! E você não quer ficar desse lado...

-Em quem você acha que ele vai acreditar?-peguei seus dedos grossos apertando contra os meus-Em um homem que não consegue segurar o pau nas calças ou em sua pobre filhinha?-questionei lançando-lhe o olhar mais doce que pude. Por um instante percebi que Jhon não respirava, pela forma como seu rosto e pescoço adquiriram tons avermelhados.

Ele estava corando?...

-Acho que teremos que descobrir...-resmungou, avançando o mesmo caminho que Christopher e Antônio minutos antes percorreram. O grito agudo estava preste a cortar minha  garganta, mas fui capaz de conte-lo a tempo.

-Acho que Antônio deveria saber que você e Christopher escondem algo dele...-Antes que pudesse perceber sua mão agarrava minha garganta, o suficiente para causar desconforto-Acho que ele é seu calcanhar de Aquiles?-disse com dificuldade-Ou está mais para metade da laranja?

-Sua merdinha...-cuspiu, mas foi bruscamente interrompido pelo grupo de pessoas que caminhavam em direção a saída do cemitério. O mesmo grupo que antes velava o filho daquela mulher. A mesma, pareceu observar a cena que causavamos por tempo demais, antes de seguir o mesmo caminho que os outros percorriam.

Mais passos antecederam antes que Christopher e Antônio se juntassem a nós novamente. Ambos tão tensos quanto Jhon e eu-Isso não acabou...-ouvi ele dizer antes que fosse tomada para os braços fortes de Christopher. Ele cheirava a frescor e gel de banho. E seus braços eram tão aconchegantes que pareciam uma cama confortável depois de um dia de cansaço. E eu queria odia-lo ainda mais por isso.

Começamos a caminhar e um último olhar para trás, percebi que Jhon retinha o mesmo olhar feroz que me lançara quando abriu a porta da pequena sala do hospital de Virgin River.

Um momento o quarto estava lotado de muitas pessoas correndo para todos os lados, apesar do diagnóstico ser falso e no outro não havia mais ninguém e o momento foi definido. Não houve tempo para trocar as roupas hospitalares que vestia. Sangue escorria onde havia pequenos acessos ligados às minhas veias. Meus pés chicoteavam contra o chão, descalços. Os corredores pareciam intermináveis. As luzes piscavam e davam a sensação de becos sem saídas. Vozes e gritarias escapavam do quarto onde eu deveria estar. Mas o tempo ainda parecia interminável, apenas para provocar, enquanto eu virava o corredor e tentava achar uma saída.

Estávamos no segundo andar e antes que pudesse achar o elevador, Jhon saia pelas portas de metal do objeto forçando-me a correr em direção oposta. Trombei contra vários enfermeiros e pessoas que passavam pelos corredores. Objetos caiam. Os sons pareciam supersônicos. Meu coração pulsava acelerado contra meu peito. O ar faltava os pulmões e a visão estava quase desfocada,mas ao avistar um telefone, tão antigo quanto poderia ser, em cima de uma mesa qualquer me fez parar.

O barulho da discagem de botão parecia insurdecedor. Meus dedos estavam falhos, mas eu lembrava bem o número de telefone da minha mãe. O tempo parecia se encurtar, mas nunca chamou. Apenas uma voz automática que dizia que o número não existia. Suspirei antes de tentar mais duas vezes depositando com ódio a bugiganga sobre a mesa cheia de papéis.

Um grito escapou dos meus lábios quando o barulho insurdecedor do telefone começou a tocar. Esperançosa, atendi como se a voz do outro lado me fosse conhecida, severa como sempre e exigente, mas doce quando queria.

Uma dor aguda apertou meus órgãos quando recebi a uma voz masculina, mas como eu havia pensado, me era conhecida.

-Megan...-sussurou clamando-Meg...

-Thomaz?-questionei. Sua voz não era mais calorosa como antes, muito me os brincalhona, mas ainda sim não podia te-lá esquecido.

-Megan...-outro suspiro afobado.

-Thomaz, nós precisamos sair daqui! Você conseguiu falar com a polícia? Meus pais? Seus pais? E quanto a Jenne?-questionei sem parar.

-Ela está morta. Todos estão...

Sem perceber, lágrimas pesadas já rolavam pelas minhas bochechas e meus dedos se curvavam contra o telefone antigo como se fosse a única ponte entre minha vida antiga e o agora.

-Eu sinto muito...-lamentei com a voz embargada-Eu tentei buscar ajuda, mas fui sequestrada. Eu estou presa em uma cabana no meio da flor....

-Eu sei onde você está...-respondeu.

-Como?-murmurei pasma-E porque você não foi me ajudar?-gritei. Um nova camada de raiva surgindo sobre a tristeza.

-Eu não posso, não agora! Você não sabe quem são essas pessoas, Megan! Eles dominam a porra da cidade! O xerife, os policiais, a porra do comércio. Eles mandam em tudo.

-Thomaz, por favor, vai atrás dos meus pais! Eles vão saber o que fazer! Eu prometo!-clamei em desespeiro.

-Não dá, Meg. Eu sinto muito!-a decepção banhava suas cordas vocais.

-Como não?-quis gritar novamente.

-Eles não te conhecem....

-O-oque?

-Você ainda não existe...

-Do que você está falando, porra, Thomaz?

-Eu não sei como isso é possível, mas quando atravessamos aquela camada invisível e gelatinosa na floresta, voltamos no tempo. O que quer dizer que sua mãe ainda não te conhece.

-Thomaz...-grunhi como se isso fosse algum tipo de brincadeira.

-Você tem algum jornal por perto?-questionou. E antes que percebesse meus olhos vagavam a mesa cheia de papéis. Uma manchete sensacionalista chamava a atenção para si, mas logo foi roubada pela data atual, que constava 18 anos atrás. Quando não era possível, que eu sequer existisse.

Antes que pudesse responde-lo a porta foi aberta bruscamente e meus dedos levaram o telefone de volta ao gancho.

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