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Von whaliephoria

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[EM ANDAMENTO] Em uma noite regada por música alta e luzes escarlates, Park Jimin encontrou Jeon Jungkook, e... Mehr

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02. Conexão Elementar
03. Pecado Irremediável
04. Eu quero ser seu
05. Quer comer lámen comigo?
06. O início

01. Fulgor Escarlate

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Von whaliephoria

UTOPIA CLUB
Sábado, 11:27 pm.

A ponta das botas de bico fino tocaram o chão com suavidade.

Um pé após o outro, traçando um caminho estável de passos cuja sincronia aparentava ser ensaiada, tamanha a regularidade — entretanto, não era. E até mesmo quem não o conhecia seria capaz de perceber que a elegância o pertence tal como uma segunda pele, não importa as circunstâncias.

Ombros eretos, peito aberto e pescoço erguido numa pose astuta que tornava impossível a quem visse de fora enxergar os breves instantes de oscilação corporal e piscadas incertas, causados pela embriaguez recente e moderada.

Park Jimin não estava bêbado; era muito cedo para estar. Andava sem precisar se escorar nas paredes, saberia responder com clareza quaisquer indagações que lhe fossem dirigidas, mas a visão turva demonstrava que era tênue a linha entre o estado sóbrio e o ébrio.

Precisou baixar um pouco as pálpebras quando adentrou a boate, a fim de proteger as próprias íris sensíveis, depois de ultrapassar o escuro e abafado corredor que ligava a entrada ao cerne do caos.

O lugar estava inteiramente banhado por uma luminância escarlate. Havia alguma natureza libidinosa na maneira como os flashes rúbeos refletiam sobre os móveis dispostos pelo ambiente e até mesmo sobre o bar, onde as bebidas eram servidas. O único a se salvar daquela agressividade visual era o palco localizado ao fundo, cujas cortinas — também vermelhas — jaziam fechadas, atuando como guardiãs ferrenhas do espetáculo que teria início em algum momento.

Não estava tão cheio quanto Jimin imaginou, e ele não poderia estar mais grato por isso. Fazia menos de dez minutos que saíra de um cubículo o qual não deveria ter nem mesmo o tamanho de seu quarto, mas comportava, no mínimo, meia centena de pessoas suadas e fora de si — de duas, uma: ou o serviço de vigilância sanitária estava falhando na única tarefa que tinha, ou então o dono possuía nome o suficiente para mexer os pauzinhos ao seu favor.

Por tudo que já viveu e viu durante os anos em que está imerso no mundo dos negócios, Jimin tem uma aposta particular sobre qual das alternativas é a mais provável — e esta nada tem a ver com um suposto descuido irresponsável do governo.

Ficou lá por quanto tempo suportou, até sentir o ar rarefeito enviando estímulos nervosos para sua claustrofobia inevitável. Saiu logo após beber a segunda garrafa de cerveja barata, e mal se preocupou em procurar pelo caixa; apenas depositou as notas de wons no balcão e deu no pé.

A brisa fresca do ar externo foi o que o levou até as portas do Utopia Club. Já havia ouvido falar do lugar, mas nunca teve a chance de visitá-lo antes. Sendo assim, aquela noite parecia a oportunidade perfeita.

Agora, ali estava. Sentado em uma das banquetas do bar, aguardando seu momento de ser atendido pela bartender que se movia de um lado para o outro, preparando bebidas, anotando pedidos e revirando os olhos para as cantadas bizarras de ruins vindas de caras inconvenientes.

Parecia muito trabalho para uma pessoa só, Jimin percebeu. Mas ela se virava bem, até. Sua mente criativa a transformou numa heroína-da-bebida-alcóolica, e ele quis rir do próprio pensamento bobo.

Quando chegou a vez dele na fila, a garota puxou a franja repartida ao meio para trás das orelhas e suspirou, encarando-o com o semblante cansado.

— Boa noite. O que vai querer, senhor? — Ela indagou, com uma educação inesperada vindo de alguém que devia estar há horas naquele ritmo frenético.

— Boa noite... — se inclinou para frente, forçando os olhos a lerem os caracteres minúsculos gravados no crachá preso à blusa do uniforme dela. Quando enfim conseguiu enxergar, abriu um sorriso simpático e voltou a encará-la. — Misuk-ssi. Vou querer um Manhattan, por favor.

— É pra já! — Exclamou, virando-se para ir preparar a dose.

Enquanto esperava, Jimin apoiou um braço sobre o balcão de textura vinílica. Os dedos ornados por anéis prateados batucavam a batida da música que repercutia alta pelas caixas de som. Ele olhou ao redor, pouco interessado nos homens de terno aos cantos, paquerando garotas de aparências joviais. Havia pessoas de todas as idades ali, a partir da restrição de maioridade. Casais de todos os tipos se formavam no que poderia terminar em poucas horas ou se estender por dias, meses, talvez até anos.

Jimin se perguntou se a mulher de cabelos longos e pretos voltaria a rever o homem que a segurava pela cintura, ambos dançando numa morosidade que não coincidia com as batidas frenéticas da melodia que tocava. Os dois garotos conversando no sofá seriam amigos ou apenas recém-conhecidos? Talvez futuros namorados?

Em segredo, gostava de observar a vida ao redor, criando roteiros que podiam nunca se concretizar. Era como uma terapia pessoal, uma válvula de escape para quando sua própria rotina se volvia tediosa e sem graça demais para suportar.

Como estava acontecendo naquele dia.

O enfado tornara-se tão angustiante que se viu obrigado a recorrer aos métodos do passado. Resolveu, então, experimentar outra vez uma de suas aventuras da primeira juventude, embora estivesse agora uma década à frente daquela época: mergulhar madrugada adentro pelas ruas da cidade.

Se lhe perguntassem, não saberia dizer por que fazia isso. Apenas começou a fazer, sentiu-se preso à liberdade que a sensação lhe trazia, e, quando se deu conta, havia virado um hobby. Seul ser uma espécie de cidade que nunca dorme por completo foi como a cereja do bolo.

As consequências não foram exatamente boas, mas Jimin não gostava de pensar nisso. Era uma parte de sua vida que tinha deixado para trás, e para a qual não planejava voltar.

Numa contradição engraçada, ali estava ele, fazendo o que fazia anos atrás.

Park Jimin poderia ser bastante paradoxal quando sua linha de pensamento não se alinhava às ações de seu corpo — o que não acontecia com frequência, pois, apesar de tudo, era um homem 98% razão. No entanto, só Deus sabia o quanto os 2% de emoção poderiam degradá-lo sem esforço.

— 'Tá na mão, senhor — sua atenção foi roubada pela voz de Mi-suk, que colocou em sua frente a taça preenchida quase até a borda pelo líquido de coloração bordô.

— Obrigado, Misuk-ssi — agradeceu, retribuindo o sorriso amistoso e a breve reverência que lhes foram direcionados.

Permaneceu empoleirado no balcão, bebericando a bebida vez ou outra, enquanto observava a movimentação da boate. Aparentemente, alguma coisa estava para acontecer, a julgar pelas mulheres bem arrumadas e maquiadas que passavam correndo entre os sofás, recebendo assobios de quem a noção faltava.

Embora também fosse homem e assim se identificasse, Jimin jamais entenderia qual motivação exata levava os seus semelhantes a assobiar para aqueles que achavam atraentes.

Afinal, que tipo de elogio de merda era aquele?

Revirando os olhos pela cena presenciada, ele voltou a se atentar ao palco. As cortinas vermelhas ondulavam devagar e, pelo curto espaço entre a bainha delas e a plataforma, conseguia ver sombras de pés diversos se movendo sob a luz amarelada que incidia dos refletores.

Cerca de dez minutos depois, a música parou e a intensidade das leds vermelhas baixaram, deixando a iluminação concentrada na estrutura ao fundo. Aplausos e gritos formaram a ovação que ecoou em resposta, todos ansiosos pelo espetáculo que teria início.

As cortinas se abriram sem pressa, revelando, num suspense instigante, os artistas por trás delas. Três garotas estavam deitadas de lado no chão, trajando shorts de cintura alta e croppeds de manga longa, além das botas de salto alto; todas as peças tonalizadas num preto carvão.

Quando a apresentação começou, Jimin reconheceu a melodia de Play With Fire, do Sam Tinnesz. As dançarinas desempenhavam passos sensuais ainda deitadas na superfície, arrancando brados eufóricos da plateia.

Muito mais contido, intrinsecamente sofisticado, Jimin balançava a cabeça no ritmo das batidas incisivas, enquanto a boca desfrutava do Manhattan que começava a esquentar entre seus dedos. Estava sentado na beirada da banqueta, um pé no chão enquanto o outro se firmava no apoio inferior do móvel.

Atraente sem sequer se esforçar para isso. Qualquer um que o olhasse seria incapaz de desviar o olhar.

Ele era acostumado com a atenção que recebia, embora não a percebesse com frequência — estava sempre concentrado em algo importante demais para se dar conta dos olhares devotos que recebia ao simplesmente andar por aí, como se o mundo devesse se curvar aos seus pés.

Não entendia o efeito catatônico que causava. Pelo menos, não até aquele momento.

Porque, no exato instante em que ele apareceu, Jimin sentiu o gosto do próprio veneno se expandir no paladar amargo.

Saindo das coxias, um rapaz de cabelos escuros e corte médio adentrou o palco enquanto ajustava as luvas de couro que cobriam as mãos de dedos longos. A calça justa, feita do mesmo material brilhante, marcava os músculos das coxas conforme ele andava, batendo as botas de salto no tablado com tanta presença que tornava impossível não notá-lo.

Mais difícil ainda era não reparar na cintura delgada que se escondia sob a fina camada da blusa de tecido transparente, a qual permitia perfeita visão dos mamilos intumescidos e o peitoral definido.

A taça de Jimin paralisou a meio caminho dos lábios.

No momento em que colocou os olhos naquela figura esbelta, que logo se juntou às garotas na coreografia sincronizada, tudo em sua volta pareceu parar. Seus olhos estavam fissurados nos movimentos delicados e simultaneamente fortes desempenhados pelo dançarino em cima do palco. A maneira como ele jogava a cabeça, sorria despudoradamente vez ou outra, rebolava no ritmo certinho da música e descia até o chão era hipnotizante.

A máscara preta, com detalhes cravados em prata, cobria apenas o lado esquerdo de seu rosto e todo o perímetro da testa e nariz, de forma que a boca rosada ficasse visível. Foi por essa visão parcial que Jimin teve a súbita sensação, enquanto o observava, de que aqueles traços não lhe eram totalmente desconhecidos.

Entretanto, por mais que se esforçasse para encontrar o desenho completo em algum lugar de sua mente, não conseguia chegar a um rosto que correspondesse à beleza deslumbrante diante de seus olhos.

Para ser sincero, mal conseguia manter a concentração em outra coisa que não fosse o homem em cima do palco.

Não saberia dizer se foi a dança, o corpo exposto se movimentando sensualmente ou os trejeitos artísticos, mas, a partir do momento em que colocou o olhar nele, nada mais foi capaz de chamar sua atenção. As garotas, que também faziam parte do show, tornaram-se meras coadjuvantes na performance esplendorosa que o dançarino exercia.

E, quando pensou que não poderia ficar ainda mais caótico por dentro, os olhos de obsidiana focaram em Jimin. Nem mesmo a barreira frágil da máscara de veneziana fora capaz de abrandar o efeito que aquele contato lhe causou.

Foi certeiro, fulminante e letal.

Embora não tivesse desviado a atenção dele por sequer uma vez, Jimin não esperava ser correspondido. Não estando ocultado quase por inteiro pela penumbra que era o extremo do estabelecimento.

Mas aconteceu. Para sua completa insanidade, aconteceu.

E absolutamente nada poderia explicar o arrepio súbito que escalou sua espinha ao ser encarado por ele, que respirava pesado e cansado, mas sem nunca deixar abalar a ferocidade que resplandecia em suas íris.

Somente quando as cortinas se fecharam foi que o mundo voltou a rodar — pelo menos para o homem sentado no bar, carregando nas mãos uma taça pela metade de Manhattan.

Tudo em si fervia, borbulhava de dentro para fora. Era uma mistura disforme de sensações, as quais culminavam no mais puro desespero interno. Caótico e desconhecido, um sentimento nunca antes vivido.

Naquela noite, Jimin saiu do Utopia Bar desnorteado.

O álcool em seu sangue não ajudava; pelo contrário, parecia dilatar ainda mais os pensamentos fora de lugar, tal como acontecia com suas pupilas.

Voltou para casa com as imagens do dançarino frescas em sua mente, as quais permaneceram nítidas mesmo no dia seguinte, quando o teor alcoólico nem mais corria em suas veias. Era como se estivessem gravadas à brasa em sua cabeça, impossíveis de serem apagadas, tampouco esquecidas.

Deitado na cama bagunçada, Jimin bufou, passando as mãos pelo rosto ainda marcado pelo lençol.

— O que caralhos está acontecendo... — murmurou, confuso perante os próprios pensamentos incessantes.

Embora lutasse contra o instinto, não foi capaz de impedir as reminiscências daquele corpo se movendo com tamanha sensualidade e poder, como se soubesse exatamente o que fazia e nada nem ninguém pudesse fazê-lo melhor.

Perturbador. Era perturbador, principalmente para Park Jimin, que não se encantava com facilidade. Era difícil fazê-lo ficar eletrizado por tão pouco — as coisas nem sempre foram assim, mas, depois de tantas noitadas e experiências que fariam até Deus duvidar da veracidade, o mundo não lhe atraía como antes.

Sentindo-se bagunçado, como um elemento fora de seu habitat natural, Jimin apalpou a mesa de cabeceira até encontrar seu celular. Ligou a tela apenas para verificar o horário e, ao se deparar com o relógio digital marcando 09:12 a.m., voltou a cair entre os travesseiros. Seria ótimo dormir de novo e acordar lá pelas uma da tarde, mas, além de saber que era uma pessoa matinal demais para deixar isso acontecer, também tinha completa noção de que sonharia com ele de novo.

Sonhando com alguém que nem conhecia! Era absurdo, no significado mais primitivo da palavra.

Por sorte, foi impedido de seguir a linha repetitória de reflexões quando o celular, que agora encontrava-se em cima de seu peito, começou a vibrar. O som padrão de ligação soou pelo quarto até ele ter coragem para pegar o aparelho em mãos, a foto e o nome de Namjoon brilhando diante de seus olhos ainda sensíveis à claridade.

Atendeu a chamada de imediato, mas não teve tempo de dizer um simples e cordial "alô", pois logo ouviu o amigo bombardeando seus tímpanos:

— Você não vê as mensagens, não, cacete?!

— Bom dia pra você também, Joonie — murmurou, irônico.

— Bom dia é o caralho, Park Jimin! Eu te mandei umas vinte mensagens, desde ontem à noite, perguntando se você tava vivo, e olha só, que coisa, nenhuma delas foi respondida!

— Eu literalmente acabei de acordar.

Do outro lado da linha, Namjoon bufou, claramente exasperado pela situação. Não era um estado de espírito recorrente em sua personalidade reservada e serena, no entanto, em momentos de alerta ou instantes de agonia, não podia evitar o estresse de afetar suas atitudes.

— Tudo bem, preciso respirar — reconheceu, inspirando e exalando devagar, bem próximo ao fone, permitindo que Jimin se divertisse em silêncio com as lufadas de ar. — Tudo bem, tudo bem, está tudo bem...

— Está mesmo? — Ousou indagar, guardando somente para si, num privilégio concedido pela invisibilidade da distância, um sorriso zombeteiro.

— Estou — afirmou. — Preciso me lembrar de que você é um adulto de trinta anos, e tem o direito de desaparecer quando bem quiser. Isso não necessariamente significa que vou te encontrar em alguma vala por aí.

— Eu não desapareci — redarguiu.

— Nossa, sério? Pois as doze horas de vácuo que você me deu dizem outra coisa.

Jimin bufou, deixando fluir um riso soprado em conjunto.

— Não te dei vácuo algum, Joon. Eu só... Precisava espairecer.

Um instante de silêncio se instalou.

— Algum motivo específico?

— Acho que não — balançou a cabeça, embora seu interlocutor não pudesse ver. — Só a vida em si.

— Entendi.

Não era fácil estar na casa dos trinta anos de idade — mas Jimin tinha a teoria de que não existe qualquer fase utópica nesse ciclo que envolve viver e morrer.

Ter trinta anos era desesperador, para se dizer o mínimo. O estágio de maturidade alcançado no qual se é novo demais para ser velho, mas velho demais para ser jovem. Já havia vivenciado uma quantidade de coisas que poderiam caracterizá-lo como experiente, mas também existia uma porção de outras sobre as quais não poderia discorrer, pois desconhecia.

Jimin se perdeu e se encontrou milhares de vezes até chegar onde está agora, e o looping não havia terminado. Duvidava que fosse acabar um dia.

Perdia-se para se encontrar; encontrava-se para se perder. Devia ser essa a filosofia ordinária da juventude e, caso não fosse, então ele estava vivendo terrivelmente errado.

A verdade é que não sabia. Naquele exato momento, deitado na cama em que estivera tantas vezes, tanto sozinho quanto acompanhado, Jimin não sabia o que exatamente estava fazendo da própria vida. E não sabia dizer se isso era um problema ou não, mas a ambiguidade da questão o deixava ansioso.

— Conheci um cara ontem — resolveu contar, interrompendo a ausência de sons além da estática da ligação.

— Você o quê?! — Namjoon exclamou do outro lado, perplexo com a notícia.

— Conheci um cara ontem.

Quando isso aconteceu?

— Ontem.

Como isso aconteceu? Onde?!

Jimin deu risada, achando graça da afobação atípica do amigo.

— Foi naquela boate, Utopia Club. Conhece?

— Já ouvi falar. Continua.

— Foi isso, basicamente. Acho que exagerei quando disse que o conheci — esclareceu. — Nós nem nos falamos, na verdade.

— Mas, se você está me contando sobre ele, suponho que tenha sido algo especial...?

— Talvez.

Sendo bem sincero, Jimin era uma incógnita até para quem o conhecia.

Extrovertido por natureza, reservado por opção. Era quem ele era, e jamais deixaria de ser. Um homem de poucos amigos, capacidade profissional excepcional e coração trancado a sete chaves. Havia anos desde que se apaixonou pela primeira e última vez, e não tinha certeza se viria a acontecer novamente.

Vivia uma solidão caricata. Não se importava em estar sozinho, porque os anos em que permaneceu assim lhe mostraram que sua própria companhia bastava. Era um fato sólido que muitos o queriam, mas Park Jimin não precisava de ninguém.

Essa era uma tese da qual tentava se convencer constantemente, embora sentisse, lá no fundo, a saudade triunfante de ser bagunçado por alguém outra vez — nem que por um efêmero instante. Saudade de sentir e fazer sentir, colocando à prova a gênese mais profunda da natureza humana.

— Ele era um dos dançarinos da noite — disse. — A apresentação foi curta, mas, porra, eu não consegui parar de pensar naqueles olhos até agora...

Namjoon riu da declaração regida por uma fração de lamúria.

— Eu vivi pra te ver apaixonado — confessou.

— Não estou apaixonado.

— Ainda — protestou.

— Não viaja, Joon. Eu só o vi uma vez.

— Eu estou viajando? — Zombou. — Então me diga que não quer ver esse cara de novo. Que não ficou impactado o suficiente para voltar ao tal bar apenas para vê-lo.

Jimin encarou o teto branco do próprio quarto, mordiscando a pele fina da boca enquanto ponderava. O silêncio se prolongou por meio segundo, depois um minuto inteiro e então dois, até que sua resposta se tornou óbvia sem precisar ser dita.

— Viu só? — A voz de Namjoon se fez presente. — Você quer.

A percepção fez Jimin bufar e suspirar, tudo ao mesmo tempo, usando a mão livre para tapar o rosto. Ligeiramente frustrado, apoiou o braço dobrado sobre os olhos, cedendo ao que não podia ser negado.

— Acha que eu devia? — Perguntou, duvidoso. — Digo, ir até lá de novo.

— Tenho certeza que sim. Não há nada a perder.

— É, mas pode ser que também não haja nada a ganhar.

— Isso você só vai descobrir se for.

E, mesmo que ainda estivesse incerto, ele sabia que iria. Porque, assim como a determinação o movia, a covardia não costumava pará-lo.

☽☾

UTOPIA CLUB
Domingo, 10:07 pm.

O vento gélido denunciou a presença já escassa da chuva leve que havia caído sobre as ruas de Seul por volta das cinco da tarde. Agora, tudo o que restara foram os pingos espaçados castigando cabelos recém arrumados e corpos desprovidos de algum agasalho quente.

Como o homem precavido que era, Jimin se preparou à risca para a ocasião. A calça jeans cinzenta era tão justa que deixava evidente os músculos proeminentes das pernas; no torso, uma camisa branca qualquer, que encontrou dobrada na poltrona ao lado do guarda-roupa, e cuja visão era parcialmente tampada pela jaqueta de couro que ia por cima. Nos pés, as mesmas botas que pisaram pela primeira vez no Utopia Club estavam presentes, prestes a pisar pela segunda.

A polidez de sempre o acompanhou enquanto caminhava pelo corredor de entrada. Logo avistou as luzes incandescentes do interior do estabelecimento, da mesma forma que se lembrava. A ausência de qualquer teor alcoólico no sangue o concedeu a proeza de analisar melhor o ambiente, e só então percebeu o quão grande era a boate.

A majestosidade, que ia desde as luzes quentes até a decoração bonita, não passava despercebida, e até o aliviava, depois de tantas visitas a bares insalubres e quase à beira do inóspito. Entretanto, por mais confortável que fosse, Jimin estava ali sob o pretexto de uma missão muito específica, da qual não planejava se perder.

Por onde eu começo?

Com as mãos apoiadas nos quadris, ele ergueu o queixo para alongar o campo óptico e pensar no que deveria fazer primeiro. Seu olhar vagou pelas mesas dispostas no perímetro, bem como os sofás carmesim que as rodeavam. Avistou o palco ao fundo, prendendo a atenção nas cortinas de veludo vermelho, que, na noite anterior, revelaram o que viria a se tornar sua maior perturbação durante as horas seguintes.

E, por mais inquietante que a sensação fosse, Jimin queria vê-lo de novo.

Não procurou saber ou dissecar as motivações internas que o levaram ali outra vez, porque tinha a convicção de que, às vezes, a ignorância é uma benção.

Uma sensação conhecida de déjà vu o tomou no momento em que caminhou até o bar ligeiramente lotado, posicionando-se ao fim da fila. Quando chegou o seu momento de pedir, quem o recebeu foi a bartender que já conhecia, Mi-suk.

— Ah, eu me lembro de você! — A garota exclamou, sorrindo para ele. — Veio aqui ontem, não foi?

— Não sabia que meu rosto era tão marcante assim — Jimin brincou, apoiando os braços cruzados no balcão.

— Então não deve se olhar no espelho com frequência — argumentou, dando-lhe uma piscadela, atitude esta que roubou uma risada descontraída do homem. No mesmo tom de riso, ela perguntou: — O que vai ser hoje, senhor?

— Por favor, me chame de Jimin. Ser chamado de senhor faz com que eu me sinta um velho.

Mi-suk achou graça, soprando uma risada.

— Tudo bem, deixe-me reformular: o que vai querer, Jimin?

— Bem melhor — suspirou em alívio. — Uma Margarita, por favor.

A bartender acenou com a cabeça, anotando o pedido num bloquinho de notas, antes de destacar a folha e deixar na fila dos drinks a serem preparados.

— Você parece menos atarefada hoje à noite — Jimin comentou, enquanto a observava se movimentando em conjunto com um outro rapaz, que parecia responsável por montar e servir as bebidas.

— Graças a Deus, eu estou — concordou, abaixando-se para pegar uma porção de taças limpas em algum compartimento embaixo do balcão. — Ontem a boate passou por alguns imprevistos, então acabei tendo que assumir o bar sozinha.

— Pelo que pude ver, você se saiu muito bem na tarefa — elogiou, ganhando um sorriso feliz em resposta.

— Obrigada, s... Quero dizer, Jimin-ssi.

Ele também sorriu, em um último ato antes de se calar para deixá-la trabalhar em paz.

Desviou o olhar para o palco a alguns metros de distância; as sombras estavam ali de novo, aparecendo no vão entre a bainha e a plataforma. Sentiu-se incomodado pela súbita sensação de agonia que revirou seu estômago ao ver as cortinas tremulando. Era patético estar ansioso para ver alguém que sequer conhecia.

Porra, era rídiculo.

Por outro lado, não é como se tivesse opção. Não podia escolher o que sentir, quando sentir ou por quem sentir. Simplesmente vinha, acontecia, e seu único livre arbítrio era como lidaria com a situação.

Jimin possuía uma ótima inteligência emocional. Embora se sentisse, vez ou outra, perdido e sem rumo, sabia lidar com a tristeza, a solidão, o ciúme e qualquer outro sentimento que dependesse de si para ser controlado.

Entretanto, não sabia lidar com a atração nem com nada que a envolvia. Nunca soube.

Nesses casos, apenas deixava acontecer, afogando-se na miscelânea estranha de sensações impossíveis de serem controladas, tampouco compreendidas por completo.

Foi por isso que, quando as cortinas começaram a se afastar, ele simplesmente abriu mão do ceticismo que até então resistia em seu âmago. O palco foi se revelando aos poucos, centímetro por centímetro, numa câmera lenta existente somente nos olhos de Jimin. A primeira dançarina se pôs à vista, depois a segunda, a terceira, a quarta e, por fim, o único dançarino do grupo.

O único dançarino, que, para a completa decepção de Jimin, não era o mesmo rapaz mascarado que olhou em seus olhos na noite anterior.

A maneira como a frustração lhe caiu sobre os ombros foi visível, óbvia.

Não era ele.

— Ei, Jimin-ssi? — Ouviu a voz de Mi-suk soar, capturando sua atenção. Virou-se para a garota, que o encarava com curiosidade.

— Perdão?

— Sua bebida — apontou para a taça posta à sua frente.

— Oh, muito obrigado, Misuk-ssi — agradeceu, curvando o pescoço numa breve reverência.

— Não quero ser intrometida, mas... Aconteceu alguma coisa? — Perguntou, um vinco enfeitando o espaço entre as sobrancelhas delineadas enquanto ela o avaliava com certa preocupação. — Você parece meio aéreo.

— Não, não foi nada — mentiu, gesticulando a mão num trejeito displicente, ao passo que usava a outra para levar a bebida até os lábios.

— Tem certeza?

O fato de ela reforçar a própria dúvida fez Jimin ponderar.

Não era ele.

Não conseguia conter a frustração, e não queria ter que juntá-la à curiosidade inquietante. Determinado como era, precisava de respostas, alguma justificativa que acalmasse seus nervos trazidos à flor da pele.

Ergueu o olhar para Mi-suk, permanecendo em silêncio pelo que deve ter contabilizado o total de cinco segundos. Quando a garota arqueou o sobrecenho, foi quando reuniu coragem para perguntar:

— Quem era aquele garoto de ontem? Aquele que dançou na apresentação da meia-noite.

— Está falando do Jungkook? — Indagou, depois de pensar por algum tempo.

Jungkook.

Então o nome dele era Jungkook.

Novamente, a sensação de dèjá vu foi sentida.

Dessa vez, inflamada pela familiaridade dos sons. A pronúncia das sílabas juntas não parecia estranha...

— Sim — afirmou, a despeito da incerteza que tinha. — Acho que sim. Não é o mesmo que está se apresentando hoje, é?

— Ah, não — apontou em direção à figura em cima da plataforma. — Aquele ali é o Taehyung. Ele não pôde dançar ontem, então o Jungkook ficou responsável por substituí-lo.

O estômago de Jimin afundou.

— Ah.

A decepção deve ter ficado estampada em seu rosto, pois não demorou para Mi-suk abrir um sorriso travesso, ancorado no canto de seus lábios pigmentados por um vermelho intenso.

— Jungkook está aqui hoje — informou, encarando o homem à frente para testar qual seria sua reação.

E, transparente como não costumava ser, Jimin ergueu os olhos em um átimo, a expectativa brilhando nas íris castanhas.

A bartender riu.

— Você parece interessado — observou, tombando a cabeça para o lado.

— Eu não...

— Relaxa, não precisa se explicar — abanou a mão. — Afinal de contas, é o Jungkook. Acredite em mim, eu entendo.

Jimin concedeu-se um instante de silêncio, sem saber o que poderia dizer a seguir. Estava inegavelmente curioso, mas não queria parecer desesperado. Além disso, por mais gentil que Mi-suk fosse, não se sentia confortável para falar sobre tal assunto com ela.

Por essa razão, resolveu fazer uma última pergunta, para fins de confirmação do que havia sido informado:

— Ele está mesmo aqui?

— Hm-hum — reiterou num gesto, fazendo seu cabelo, preso em um rabo cujas pontas lisas eram cor-de-rosa, ondular de um lado para o outro. — Deve estar no camarim, agora. Mas logo ele sai.

Ele assentiu, pondo-se de pé. Sorriu para a garota simpática, antes de dizer:

— Obrigado pela conversa e pela bebida, Misuk-ssi — agradeceu. — A gente se vê.

— Volte sempre, senhor Jimin — piscou para ele. — E boa sorte com a nossa estrela.

O homem deu uma risada baixa e acenou para ela, enfim dando as costas para o bar. Caminhou pela boate, transformando-se num borrão escarlate em meio às luzes coloridas. Parou num canto meio escondido, de onde tinha visão panorâmica de todo o lugar.

Não sabia o que estava fazendo, mas optou por seguir seus instintos e ali ficou, bebericando a dose de Margarita esporadicamente. A taça já estava quase vazia quando resolveu se movimentar, dando alguns passos em direção a um sofá desocupado. Não foi com a intenção de se sentar; estacionou atrás do móvel, exalando um suspiro enquanto passava o olhar por cada rosto desconhecido.

A angústia começava a se alastrar em seu peito quando, inesperadamente, ouviu um sopro de voz ao pé de seu ouvido.

— Procurando por alguém?

Jimin se virou tão logo absorveu as palavras sussurradas. Num primeiro instante, virou-se para ter a certeza de que estavam falando com ele. Quando o fez, foi necessário um novo ínterim determinante para seu cérebro reconhecer o rosto diante de seus olhos.

Um átimo de lembranças corridas, memória por cima de memória, numa tentativa caótica de elementar em absoluta resolução consciente quem era aquele.

Porque, embora houvesse descoberto seu nome há poucos minutos, Jimin percebeu, num momento de reconhecimento súbito e inusitado, que não conhecia somente aquela versão de Jungkook.

— Não pode ser — murmurou para si mesmo, mas alto o bastante para ser escutado sob as batidas lentas da música que tocava.

— O que não pode ser? — Jungkook indagou, sorrindo de canto enquanto avaliava de perto os traços do rosto que vira na noite anterior.

Ele é ainda mais bonito de perto, pensou.

— Eu conheço você — Jimin disse, ainda encarando-o com as pálpebras cerradas.

Era uma coincidência brutal demais para ser assimilada tão rápido.

— Conhece? — Franziu as sobrancelhas cujo contorno era perfeito, como se tivesse acabado de ser feito. Mordeu o lábio inferior, fitando o teto por um momento de ponderação, antes de voltar a fitar o homem à sua frente. — Nah... Eu definitivamente me lembraria se tivesse te conhecido antes.

Jimin não pôde evitar rir, desviando a atenção para a taça de vidro que condensava em sua mão.

— É a segunda vez que me dizem algo parecido esta noite.

— Sério? Tsc... — estalou a língua, cruzando os braços ao soltar um suspiro profundo. — Isso não é nada bom.

— Por que não?

— Significa que tenho concorrência — esclareceu, permitindo que um sorriso pequeno e ardiloso se ancorasse no canto dos lábios finos, revestido por uma fina camada de gloss. — E, se estiver minimamente interessado em saber, não sou o tipo de pessoa que compete com outras.

— Está querendo dizer que não vai insistir? — Arqueou as sobrancelhas, o olhar irônico denunciando alguma zombaria intrínseca.

— Ah, não, não foi isso. Você entendeu errado — gesticulou, rindo baixo pelo equívoco. Sem pudor algum, deu um passo à frente, deixando-os tão próximos que foi capaz de sentir a respiração tépida batendo em seu pescoço desnudo quando se inclinou, sussurrando rente ao ouvido alheio: — Eu sempre ganho. O fato de haver concorrência é uma péssima notícia para a outra pessoa, não para mim.

Ele voltou a se afastar, fazendo-o de maneira lenta e intensiva, arrastando o olhar por todo o rosto de Jimin até estar olhando-o nos olhos. Jimin, por sua vez, carregava no semblante uma serenidade que não refletia a balbúrdia que zumbia em seu interior.

Eram muitas coisas ao mesmo tempo, razão e emoção se enfrentando numa batalha cruciante e covarde.

Sabia perfeitamente, desde o momento em que botou os olhos naquele rosto e o reconheceu na fração de uma reminiscência longínqua, que deveria parar por ali e evitar qualquer aproximação iminente.

Sabia o que era o certo a se fazer, mas que culpa tinha se o erro lhe parecia tão atrativo?

Que culpa tinha se estava tão intrigado por aquelas orbes escuras como a noite, e cuja intensidade não havia deixado seus pensamentos mesmo após um dia inteiro? Que culpa tinha Jimin por se sentir embriagado pelo perfume doce que ele exalava, como se o usasse com o único propósito de marcar o olfato de cada um que o sentisse?

Decerto, não podia assumir a culpa como se ela o pertencesse unicamente, mas assumiria as consequências de seus atos impensados.

— Quer dançar comigo? — Jungkook perguntou, interrompendo sua frágil linha de raciocínio.

A batalha em seu consciente continuava, cada lado gritando uma ordem diferente. Mas o ceticismo já havia o abandonado há muito, então foi fácil ceder à tentação e calar as vozes em sua mente.

— Sim — respondeu, num ato impulsivo do qual poderia vir a se arrepender em um futuro próximo.

Só vou saber se fizer, pensou, relembrando o que Namjoon lhe dissera mais cedo.

E foi assim que, mesmo hesitante, seguiu Jungkook quando este tocou sua mão e o puxou para o meio da pista, mantendo-os frente a frente durante todo o caminho. Quando pararam, ele avaliou o copo quase vazio na mão de Jimin, tombando a cabeça ligeiramente para o lado. Por fim, lançou ao outro uma olhadela travessa antes de pegar a taça para si, levando-a até a boca e virando o resto da bebida agora quente.

A tequila desceu rasgando sua garganta, mas a dosagem de limão atenuou um pouco o amargor. Contraiu o cenho ao engolir tudo, soltando um som de satisfação em seguida.

— Você vai ficar me devendo uma bebida — Jimin fez questão de dizer, embora encarasse a situação com bom humor.

Jungkook se afastou para deixar a taça sobre uma mesa qualquer, e logo estava de volta, com o mesmo sorriso convencido de antes.

— Te pago toda a bebida necessária se for pra te ver aqui mais vezes. Pago até mais do que isso, se quiser — alegou, apoiando os braços nos ombros dele. Com muito mais incerteza, Jimin levou as mãos a se apoiarem na cintura desnuda pela blusa curta, e precisou respirar fundo ao sentir a pele quente sob seu toque.

Riu baixo, mal sabendo se pela situação absurda em que se encontrava ou pelo que foi dito.

— Já disseram que você é muito atrevido? — Indagou, encarando-o de perto. Tão perto que os narizes quase se tocavam.

— Bastante — sorriu. — E eu nem te mostrei nada ainda.

Os corpos se aproximaram. Jungkook foi o maior responsável pela façanha, sorrateiro como era, e o fez de maneira que o outro só notou quando sentiu a frente dos quadris se tocando. Os dedos ornados de anéis apertaram a pele por baixo da barra do cropped; Jimin estava com a respiração levemente ofegante enquanto seu olhar avaliava com cautela o rosto à sua frente.

Reparou nos olhos redondos, cujas pálpebras estavam pintadas por um delineado preto e delicado; o nariz proeminente que se encaixava perfeitamente nos traços fortes; o arco do cupido demarcado, sob o qual brilhava os lábios finos e rosados.

Era tudo muito atraente, de maneira quase injusta, mas Jimin sentiu um neurônio se esvaindo de verdade quando notou a pinta bem abaixo da boca recoberta por uma fina camada de gloss.

Exalou uma lufada de ar entrecortada, a qual se misturou à respiração calma de Jungkook. Ao fundo, as batidas lentas de "Redbone" (Childish Gambino) serviam de ritmo para o movimento dos corpos espelhados, que se mexiam igualmente devagar. Sem tirar os olhos da boca robusta de Jimin por um instante, Jungkook cantarolou o verso que tocava:

— If you want it, you can have it...

(Se você quiser)
(Você pode ter)

Uma mensagem sublime que não carecia de interpretações profundas. Ditas com clareza, sem auxílio de vírgulas, as palavras sussurradas rente aos lábios alheios foram precisas. Jimin resfolegou discretamente, mais fraco do que caberia confessar, encarando os olhos de azeviche que o fitavam com veemência.

— If you need it, we can make it...

(Se você precisar)
(Podemos fazer)

A eroticidade implícita que envolvia a boate servia de entorpecente para quem respirava o ar escarlate. Era como se tudo acontecesse com naturalidade, movido por uma energia apelativa, levando-os à utopia — fácil e fingida, cruelmente fugaz.

Jungkook inclinou o tronco, aproximando-se até tocar o peitoral de Jimin. Os corpos estavam juntos, se roçando numa fricção indevida, mas indiscutivelmente deliciosa, e o único centímetro de distância existente era entre os rostos ainda resistentes.

A cintura de Jungkook foi apertada com mais vigor; os fios escuros da nuca de Jimin se entremearam nos dedos longos. O hálito quente de um se misturava ao odor de hortelã do outro, unificando o sabor único que ambos estavam sedentos para sentir no paladar — na ponta e então em toda a língua, desbravando o desconhecido.

Um centímetro. Era tudo o que faltava.

Menos, e menos, e menos, até que...

Você não é para mim, Jungkook — antes que as bocas se encontrassem, Jimin murmurou. Jungkook ergueu, devagar, as pálpebras que já haviam se fechado, numa manifestação física do quão entregue no momento ele estava. Um vinco se formou entre as sobrancelhas, e, para piorar a confusão em sua mente, Jimin finalizou: — Não pode ser.

— O que quer dizer com isso? — Perguntou no mesmo tom contido, dois decibéis abaixo do comum.

Em resposta, Jimin deu um passo para trás. As mãos abandonaram a cintura descoberta e subiram até os cotovelos alheios, tocando-os com cuidado apenas para tirá-los de seus ombros.

Quem os visse ali, separados por uma barreira invisível repentinamente imposta, jamais diria que estavam prestes a fundir-se alguns instantes antes.

Um suspiro foi expelido. Jimin, que antes mantinha o olhar no chão, subiu a atenção para o rosto perfeito de Jungkook.

— Desculpe — proferiu, referindo-se a algo que o garoto não entendia o que era. — Eu preciso ir.

Simples assim, ele se virou e foi embora.

Sua atitude súbita e imprevista deixou Jungkook estático, preso a um estado de inércia que o impediu de agir a tempo. Quando finalmente recobrou os sentidos, Jimin havia desaparecido, ocultado por alguma névoa mágica, como se nunca tivesse passado por ali.

A única coisa que denunciava sua existência prévia, comprovando não ter sido fruto de um mero delírio provocado por uma mente fértil, era o cheiro amadeirado que permaneceu impregnado nas roupas de Jungkook. Forte e inebriante.



[N/A] OLAAAAAA, COMO ESTÃO?

Me digam: gostaram desse primeiro cap??? Quero saber a opinião de vcs!

"Excêntrico" é o início de uma nova jornada, e eu espero que vocês possam trilhar esse caminho comigo.

No próximo capítulo vamos descobrir mais sobre a vida do Jungkook e um pouquinho sobre o Jimin também!

Eu devo ir postando no Instagram algumas coisas em relação a história. Se alguém quiser seguir, meu user lá é @ leitorautora_ 💕

Com amor e excentricidade,
Anna.

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