Eu matei alguém?
Não... não?
Eu matei algo?
Não... não?
Eu estou louca e imaginei isso tudo, possivelmente tendo batido no Percy Jackson mais uma vez no meio do surto?
Bem... Parece mais provável.
Acho mais provável porque, assim que Sra.Dodds evaporou, senti uma tontura e, quando fechei meus olhos, vozes me rodearam. E a espada em minhas mãos não existia mais, em seu lugar, meu batom estava jogado.
— Se afastem! Deixem-los! – Sr.Brunner foi quem me ajudou a levantar
— O que... – ainda tinha o arranhão que ela tinha me deixado, olhei para os lados procurando sua figura esquisita
— Vocês estão bem? – Grover surgiu ajudando Percy a levantar
— Cadê ela? Cadê a Sra.Dodds? – o Jackson pareceu nervoso, também estaria se o bicho que ela se tornou tivesse pulado em cima de mim
— Dodds? Não existe ninguém aqui com esse nome. – Sr.Brunner disse e me senti tonta de novo
Mais uma vez?
Não era possível que eu estivesse tendo mais um daqueles sonhos acordados.
— Como assim? – Percy perguntou, indignado
— Não existe ninguém com esse nome aqui. – Grover disse, mas seu rosto parecia dizer algo contrário
— Mais uma vez... – seu murmúrio me fez notar, não tinha sido só eu. Percy também lembrava disso
— Você também... viu? – perguntei num sussurro
— Espera aí, você lembra? – afirmei com a cabeça, aflita com a situação
— Ela evaporou e depois que eu...
— Acho que acabamos de compartilhar de uma crise de esquizofrenia. – Percy foi direto, era a primeira vez que o via sendo sério, dava vontade de rir
— Bem... Faz muito mais sentido. – tive que concordar com a teoria idiota
Ao dar uma leve olhada para o lado, enxerguei Grover, notei suor escorrendo por sua testa, também com mais pelos do que o normal.
— Precisamos ir. – o Underwood agarrou o braço do loiro, o levando para longe antes mesmo que conseguisse dizer algo
Loucos, estávamos loucos.
༒
— Expulsa! – e mais uma vez, o ciclo se repete
Eu não tinha feito nada e no fim fui expulsa.
— Eu não empurrei ninguém! Pode perguntar pro Jackson! – tentei me defender pela última vez
Percy sabia, ele tinha visto que eu não havia tocado nela.
— Sr.Underwood e Sr.Jackson já disseram o necessário para nós, nunca imaginei que fosse possível alguém ser expulso em menos de uma semana. – o diretor da Academia disse e, mesmo em silêncio, concordei
Grover desgraçado.
Jackson idiota.
— Aproveitando pra falar: Sua peruca é muito mal posicionada. – agarrei minha mochila, saindo de lá antes que conseguisse escutar mais reclamações
Ia matar aqueles garotos quando os encontrasse.
Odiava decepcionar minha mãe e, bem uma expulsão dessa definitivamente a decepcionaria.
E, no momento em que menos esperava, esbarrei em alguém, misturando nossas coisas.
— Droga, foi mal. – me agachei, o ajudando, meus olhos subiram até sue rosto e minha testa se franziu
— Ah, Hydra. – Percy Jackson abriu o sorriso mais branco que já vi na vida
Não soube controlar a raiva que senti, larguei minhas coisas no chão e agarrei sua gola, o tirando do chão com um puxão.
— Jackson, juro que vou acabar com a sua raça! – o empurrei na parede, mas, antes que fizesse qualquer coisa, uma voz grave conhecida nos interrompeu
— Senhores, melhor se afastarem. – Sr.Brunner tinha me parado dois segundos antes do primeiro soco
— Já estava indo. – não me esforcei para separar nossas coisas, agarrei o que consegui e sai dali, lançando um olhar mortal a Percy antes de ir
Ainda vou acabar com ele.
Pra que confiar em gente idiota?
Idiotas.
༒
Senti o cheiro de casa longe, literalmente a dois quarteirões de lá senti o cheiro de salsicha frita e meu estômago embrulhou.
— Próximo! – a voz conhecida me fez dar um sorriso quando a pessoa que tinha sido atendida saiu da minha frente
— Oi mãe. – o balcão se levantou em um instante, seus braços me contornando
O cheiro familiar dela me fazia sentir segura, mesmo com uma provável bronca pela expulsão.
— Minha pequenina. – mesmo já tendo recebido uma ligação do colégio, ela ainda sim doce como sempre. — Peter! No caixa! – ela gritou e, rapidamente, um novo estagiário apareceu em seu lugar
— A culpa não foi minha. – disse antes que ela falasse qualquer coisa
— Eu sei. – ela sorriu, nos levando até o apartamento no andar de cima
O mesmo cheiro de carne e gordura ainda estava impregnado no lugar inteiro.
— Lar doce lar. – ri, empurrando para os lados as bagunças de Alex, um colombiano nojento que trabalhava na lanchonete e dividia apartamento com a gente
Pisei em uma caixa de pizza e tenho quase certeza que ela se mexeu com meu toque.
— Estamos saindo, só volto amanhã. Livie está no comando hoje. – minha mãe tem uma breve conversa com o homem, que não discute muito para que a conversa não dure e ele consiga assistir seu jogo de futebol em paz
— Saindo? Pra onde? – agarrei as malas que ela me entregou sem discutir
Trocando a roupa suada de trabalho por um moletom, minha mãe pegou a chave de seu carro e me ajudou a descer até o veículo.
— Precisamos ter uma conversa séria, mas estamos atrasadas. Não vai ter como dormir na estrada hoje, te explico tudo no caminho. – ela falou de forma confusa, como se estivesse aflita
— Tá tudo bem? – entrei no carro e pus o cinto, contagiada com sua apreensão
— É seu cheiro. – ela respondeu de forma rápida
Pisquei algumas vezes, um pouco ofendida com a forma dita mas, não tentei argumentar muito, dando uma conferida em mim.
— Foi mal, eu tive que andar da estação até aqui, não tive tempo de passar um desodorante. – me expliquei, um pouco envergonhada por estar cheirando tão mal a ponto de desconcentra-la
— Não esse tipo de cheiro. – ela checou os retrovisores, dando ré até sair da vaga onde estacionava
— Hm... Se você quiser eu entro e tomo um banho rápido...
— Hi... – “ Oh não ”
Ela só me chama de Hi quando o assunto é sério.
— Eu preciso te contar a verdade. – pensei que ela ia admitir que comeu meu chocolate na semana passada mas parecia algo mais sério que isso
— Pode falar, mãe... – meu coração batia forte com a ansiedade
— Sabe aquelas histórias de deuses e mortais que eu te contava? – tentei buscar na memória e algumas delas me relembrei. — Onde os deuses desciam e se apaixonavam por mortais, e seus filhos se denominavam meio-sangues?
— Ah, sim, bem legais, por quê? – queria saber logo do que se tratava
— Elas eram reais, não sei como te explicar isso mas tudo era real, e... – estava achando algo errado, estava tendo outra crise? Talvez a esquizofrenia tenha chego num nível alto demais
— O que você tá falando, mãe? – tentei pôr tudo na cabeça, mas não fazia sentido
— Eu tô tentando te dizer que você é uma meio-sangue, Hydra. Filha de um deus e uma mortal, uma paixão de verão. – meu cérebro não funcionava direito
— Eu não sabia que era tão indesejada assim. – olhei para frente, observando a avenida com uma tempestade enorme, de longe observei a sombra de um bode
— Não é isso minha pequenina, é que...
No último segundo antes de atropelar o animal, minha mãe conseguir parar, fiquei aliviada ao perceber que ele estava vivo, as pernas para o alto se mexendo me tranquilizaram, até que não fizeram mais...
Era Grover Underwood o bode que minha mãe saiu do carro para ajudar, e pior do que isso, era ele quem ela havia aberto a porta para, deixando o entrar no carro.
— Mas que...
— Estamos atrasados Sra.Emory, Sally não está em seguro, precisamos buscá-la. – chifres.
Ele tinha chifres.
Cotocos de chifres e pernas de bode.
Só pode ser brincadeira.
Grover Underwood era...
Um bode?
— Estou alucinando ou um bode com o rosto do garoto que me fez ser expulsa acabou de entrar no carro? – perguntei a minha mãe, certeira de que ela me daria algum remédio
— Hydra, olá. – Grover acenou para mim
— Eu acho que tô passando mal. – minha mente não sabia o que era real e o que não era
— Não contou a ela? – Underwood perguntou a minha mãe
Precisei abrir a janela do carro para buscar ar, me sentia claustrofobia.
— Estava tentando quando você apareceu no meio da pista! – eles se conheciam?
— É tudo alucinação... – sussurrei para si, com certeza de que logo passaria tudo isso
O estrondo que ouvi pareceu ser o pneu mas era só a chuva aumentando sua força sobre nós.
— É ali onde eles estão. Os trago aqui para irmos logo, está cada vez mais perigoso. – Grover disse a minha mãe e desisti de fingir não escutar
— Por quê!? Por que está cada vez mais perigoso? – o questionei
— Não conseguimos mais esconder seu cheiro... – seu olhar sério me fez bufar
— Alguém me dá a merda de um desodorante!
A primeira coisa eu faria depois de sair dessa crise seria comprar cinco Rexonas.