Meus pais decidiram fazer um jantar na sexta para comemorar a união de minha irmã. Como o casal passará boa parte da amanhã com o cerimonial, não haverá tempo para uma conversa em família.
Isso é o que mamãe diz. Particularmente acho que ela apenas não está muito a fim de comer a comida servida na festa depois do casamento.
— Essa comidinha de fresco que eles irão servir não me agrada - Mamãe reclama.
Sungyoon decidiu convidar duas amigas e uma tia para a ocasião, devido a isso, papai e Jay se juntaram para colocar a mesa da cozinha no terreiro. Ajudo minha mãe a finalizar a lasanha e observo Sina guardar um engradado de cerveja para o freezer.
— Estou tão animada, - Diz minha irmã entrando na cozinha — Mal posso acreditar vou me casar amanhã!
Reviro meus olhos quando a ouço dar gritinhos e se jogar nos braços de Sina.
— Madrinha, você vai estar maravilhosa naquele terninho. Só não tira o meu brilho, por favor.
— Jamais faria isso. - Sina garante.
— Conto com você.
Queria rir nesse momento e dizer a Sungyoon que é impossível Sina não ser o centro das atenções. Ela é linda demais, qualquer pessoa vê isso.
Ouvimos batidas no portão e logo em seguida a voz de meu tio dizendo "Fala, cambada!" preenche o ambiente.
— Trouxemos a caixa de som.
— Leve-a lá para fora e coloque uma música boa. - Diz mamãe.
A lasanha ficou pronta no mesmo instante que as duas amigas de minha irmã chegaram, peço ajuda a Sina para levar as travessas para a mesa e organizo os pratos.
Papai está rindo e dançando com a vovó, Sina está conversando com minha tia e mamãe xinga Sungyoon por beber antes de comer.
A sensação de paz e tranquilidade é arrebatadora, pensar que em 48 horas voltarei para Los Angeles deixa um pesar em meu peito. Nesse momento os olhos de minha acompanhante se fixam em mim, como se estivesse captando o que estou pensando, ela lança uma piscadela e sorri.
Pelo menos minha volta não será tão solitária assim.
Nos reunimos em volta da mesa e oramos, agradecemos pela comida e pelas boas companhias de hoje.
— Que amanhã corra tudo bem e que os próximos dias sejam de muito amor e companheirismo, - Diz mamãe olhando para Sungyoon e Jay — Cuide bem da minha filha, está bem?
Jay acena com a cabeça e nos sentamos para comer, fico dividida entre pegar a lasanha de frango ou a de carne, mas acabo pegando uma porção de cada, Sungyoon fez o mesmo.
Repito mais uma vez e me sinto cheia, à medida que as horas passam o pessoal começa a beber mais e ficam mais alterados, Sungyoon está dançando com meu pai e mamãe com Sina. Minha tia decide ir embora devido ao horário e leva meu tio, que está super bêbado.
As amigas de Sungyoon estão cochichando em um canto e alternando olhares entre mim e Sina, provavelmente ouviram algo a respeito do que aconteceu na festa de despedida de solteiro. Respiro fundo antes de me levantar e vou até Jay, que está dormindo na cadeira com um copo de cerveja cheio na mão.
— Vamos lá, garanhão - Ajudo a se levantar - Precisa descansar um pouco antes do grande dia.
— Heyoon? - Seus olhos tentam focar em mim. — Nossa, você está girando.
— Costuma acontecer depois que se bebe muito, sabe...
Caminhamos com dificuldade para dentro de casa, minha primeira opção é deixá-lo dormindo no sofá da sala, mas Jay solta um arroto e logo em seguida vomita no chão. Grito para qualquer um ouvir e peço que limpem o chão, puxo o noivo até o corredor e abro a porta do banheiro com o pé.
— Se não estivesse tão bêbado, esfregaria sua cara naquilo até limpar.
Jay se ajoelha diante do vaso e outro espasmos vem antes de vomitar. Saio e vou até a cozinha pegar um copo de água gelado e volto.
— Aqui. - Estendo o copo.
Ele pega e toma um grande gole, ligo o chuveiro e deixo a temperatura no verão, a água quente começa a gelar e o empurro para debaixo dela.
— Obrigado, Heyoon.
— Faz parte de ser madrinha.
— Me desculpa por tudo, sabe...
— Está tudo bem, - Dou descarga no vaso — Passou.
— Não, é que... não te dei explicações quando
terminei.
— Bom, acredito que boa parte dos homens já terminaram por mensagem. Não pense que é o primeiro.
— O que estou tentando dizer é que terminei com você porque dormi com a sua irmã.
Ouço um zumbido em meu ouvido e sinto falta de ar.
— O quê?
— Eu... eu e Sungyoon dormimos juntos naquela noite que...
— A noite em que você me disse que estava passando mal.
Ele balança a cabeça e fecha os olhos.
— Não sei como aconteceu, estávamos planejando uma festa surpresa para sua mãe e aí... me desculpa, Heyoon.
— Quer dizer que por duas semanas você estava comendo a minha irmã e tinha a cara de pau de olhar nos meus olhos depois?!
— Heyo... - Jay vomita outra vez.
Deixo-o se virando sozinho e caminho aos tropeços para fora de casa, Sungyoon ri e vem em minha direção.
— Desculpe pela bagunça, - Diz minha irmã vou limpar.
Meus olhos encontram o de Sungyoon e contenho minhas lágrimas. Revivo nossa última briga e me pergunto como ela conseguiu olhar nos meus olhos e mentir na minha cara. Em que momento ela parou de ser a irmã mais nova e mimada para a irmã mais nova, mimada e mentirosa? Ela me traiu. Ele me traiu.
Passei meses da minha vida tentando encontrar motivos e defeitos que fizeram Jay terminar comigo, mas na verdade a falta de caráter não foi minha. Apenas deles.
O desgosto é tão evidente em meu rosto que Sungyoon não nota minha mão indo em direção a sua face. O barulho do tapa é tão alto que todos ficam em silêncio e se aproximam.
— Você mentiu pra mim! - Grito com ela.
— Heyoon!!! - Sungyoon grita de volta.
Nesse momento Jay saí totalmente molhado e um pouco consciente da situação, ele caminha até Sungyoon e a abraça.
— Me desculpa, eu... - Minha irmã começa a dizer.
— Não, - interrompo e levanto minhas mãos — Não quero saber.
Meus pais se aproximam, assim como Sina. É nítido quando você percebe que as pessoas sabem de algo. O olhar de preocupação no rosto, a pena, é indicativo o suficiente para entender que todos estavam cientes e não me contaram.
— Vocês sabiam, não é? - Solto uma risada forçada.
— Querida, — Diz meu pai — Queríamos te contar, mas não achamos o momento propício.
— Não acharam o momento propício?! - Grito. — Estão de brincadeira comigo? Eu passo anos da minha vida me perguntando que porra eu fiz de errado pra merecer um término por telefone, enquanto isso eles fodem um com o outro!
— Minha filha, só descobrimos depois que foi embora. - Diz mamãe.
— E não acharam prudente falar? Aposto que todos devem estar pensando que além de ex, a corna está ajudando no casamento. Que maravilha!
— Me desculpa, Heyoon. - Diz Sungyoon chorando.
Mordo meu lábio inferior antes de dizer:
— Não estou puta pelo que aconteceu, e sim porque mentiu pra mim. Você jurou que só pensaram em sair juntos depois que ele terminou comigo. - Abraço a mim mesma — Mas também sou idiota, deveria ter desconfiado.
Viro-me e vou direto para o meu quarto, ouço meu pai me chamar diversas vezes, mas não o respondo. Sento-me na cama e cubro meu rosto.
A porta do quarto se abre e logo em seguida se fecha. Não preciso levantar a cabeça para saber quem é.
— Por que não me contou? - Pergunto.
— Eu queria contar.
— Por que não me contou? - Torno a perguntar.
— Heyoon, - Sina se ajoelha e segura minhas mãos - Acredite em mim quando digo que eu queria contar, eu tentei.
— Então decidiu suavizar tudo transando comigo?
A dor em seus olhos faz meu peito ficar vazio, eu sei que a culpa não é dela, sei que não era o dever dela me contar. Mas algo dentro de mim se parte, tenho vontade de gritar, chorar, quebrar toda a mobília da casa.
Não consigo me conter.
— Por que dizer, não é mesmo?! Você foi paga para fingir ser minha namorada, não contar merdas como essa.
— Heyoon...
— Não! Faz parte do pacote fazer as mulheres que te contratam se apaixonarem por você? Ou fez isso apenas comigo? Gostou da sensação de me ter e saber que eu fui feita de trouxa todo esse tempo? É até engraçado, eu odiar o fato de terem mentido para mim por tanto tempo, sendo que estou fazendo isso desde que cheguei.
— Heyoon...
— Ficou comigo por pena, não foi? Quem te contou?
— Sungyoon... Mas foi depois que voltei de viagem.
— Por favor, saia! Gostaria de ficar sozinha. - Soluço.
Sina não diz nada quando se levanta e saí do quarto. Ouço ela e Sungyoon discutirem, até que minha irmã abre a porta.
— Heyoon, por favor.
— Não se preocupe, Sungyoon, não vou estragar o seu casamento. Pode ter certeza que amanhã estarei sorrindo e dizendo todas as coisas certas para que pensem que somos uma família grande e feliz. Mas hoje não vou fingir que está tudo bem. Então quero que vá embora.
Não sei em que momento me levantei, troquei de roupa e me deitei, só me lembro de ter chorado a noite toda. Sina não voltou para dormir comigo, uma parte de mim quería que ela tivesse entrado e me abraçado, uma parte de mim praticamente desejava isso, mas agradeço ter respeitado o meu espaço.
Acordo na manhã seguinte e todas as suas coisas não estão mais por perto, o cheiro de seu travesseiro é a única coisa que restou.
★★★
essa família é muito unidaa