Antes Que O Dia Venha - Vmin

By theaiza_

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[EM ANDAMENTO] - Vmin Jimin e Taehyung são moradores de Talsamaa, uma vila no interior do continente, as... More

Avisos, Cast, trailer e outros
Prólogo - Era uma vez
🐾 Não existem despedidas planejadas
🐾 Dizem que o tempo cura
🐾 O tempo ainda vira as páginas do livro que ele queimou
🐾 E o destino pode recair sobre você
🐾 Não estou preparado para morrer
🐾 É ele quem eu amo
🐾 Está me chamando de pecador?
🐾 Nós fingimos que estamos bem
🐾 Os momentos felizes me perguntaram se estou realmente bem
🐾 Antes que você vá
🐾 Nós fizemos um voto
🐾 É perigoso o quão destruído eu estou
🐾 Eu amo o jeito que vocês mentem
🐾 Corra e se esconda
🐾Um amor sem esperanças
🐾 Onde meus demônios se escondem
🐾 Me salve da escuridão pt.1
🐾 Me salve da escuridão pt.2
🐾 Me salve da escuridão pt.3 (e final)
🐾 Eu sou apenas humano/humana
PEQUENO AVISO!!!!

🐾Eu quero permanecer com você

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By theaiza_


Eu quero estar com você, e eu quero ficar com você

Assim como as estrelas brilhantes você está brilhando mais uma vez

Eu ainda estou bem aqui do seu lado caminhando para onde quer que você vá

Você viverá para sempre em mim, respirando profundamente dentro de mim

With You - Jimin feat. Ha Sungwoon

🐾

Vigen, 1 ano e 6 meses após a destruição de Talsamaa

Um ano e seis meses, esse é o tempo que marca a mudança na vida de todos, esse o tempo que Jimin e Taehyung não são mais próximos, esse é o tempo que os Park perderam Jiyong e Jeongyeon. Esse é o tempo que os Kim perderam Yeri e não tinham notícias de Seokjin e dos Bermount. Eles procuraram por muito tempo, deixaram cartazes em inúmeras vilas, mas nenhuma respostas veio.

Um ano e seis meses é o tempo que marca a destruição de Talsamaa, de personalidades e relações que todos ali julgavam serem eternas.

O luto não tinha sido superado, ao menos, não completamente, e Jimin considerava que, talvez, ninguém ali seria capaz de completamente superar as perdas e a dor que elas trouxeram.

Todos ali tinham tarefas determinadas e contribuíam para o crescimento da vinícola. As tarefas diárias eram árduas, mas pouco a poucos se ajeitaram e com o tempo, se habituaram, mesmo que a contra gosto.

Talvez os que melhor tenham se adaptado a nova realidade sejam Jehan e Monique, os dois, para a surpresa de todos, se aproximaram ao ponto de se tornarem um casal e Jehan assumir o bebê de Monique como seu, ainda que em uma idade jovem.

Eles se casaram alguns meses depois do nascimento da bebê, ruiva como a mãe, com olhos tão verdes como as folhas de uma árvore em meio a primavera. Deram a ela o nome de Vivian, assim como a esposa de Jungkook, um agradecimento ao bruxo por tudo o que ele fez por todos eles até aqui.

A pequena Park era a alegria de todos naquela grande mansão, seja dos Braun, dos Park ou dos Kim, todos eram apenas sorrisos para a criança, e talvez, julga Jimin, seja por meio dela que os habitantes da Mansão Jeon Braun, sejam capazes de encontrarem novos motivos para lutarem pela vida.

Jungkook ainda era bem presente na vida de todos eles ali, principalmente com as aulas diárias de Monique. Yoongi visitava com uma certa frequência, sempre prometendo que traria seu companheiro na próxima visita, o que nunca acontecia. Contudo, haviam duas pessoas que ficaram completamente marginalizadas na dinâmica que se instalou ali.

Jimin sempre os observava de longe, Leanne e Taehyung. A mulher sempre protetiva demais com o filho que agora era apenas um fantasma pálido e magro demais do homem que um dia foi o melhor amigo de Jimin.

Não seria certo dizer que Jimin culpava Taehyung por qualquer coisa que tenha acontecido em Talsamaa, principalmente após ter conversado com Yoongi e Jungkook por tantas horas e dias. Ele entendia que Taehyung não tinha qualquer controle sobre o que estava acontecendo em sua mente, e em como a culpa o consumia por todas as mortes causadas, e também, o quanto sua imagem parece ter sido usada como uma forma de tortura psicológica pelo monstro que agora habita a mente de Taehyung.

Ele queria se aproximar, queria poder ajudar o melhor amigo e ser para ele um porto seguro, mas Jimin entendeu que Taehyung não estava pronto para isso, talvez nunca estivesse, e é por isso que se contentou a observá-lo de longe, mantendo todos os seus sentimentos guardados e aprisionados dentro de si.

Longas eram as horas que Jimin passava agachado nos galhos grossos das árvores estranhas de Vigen, observando um Taehyung que sentava por horas no penhasco e observava a imensidão verde a sua frente, com o largo Rio Dibanuo serpenteando as terras da vinícola ao fundo.

Ele prestava atenção a cada respiração, a cada fio preto dos cabelos de Taehyung ser movimentado pela brisa. Em alguns momentos ele fechava os olhos com forças e pedia para as Entidades terem piedade e deixarem ao menos que Taehyung se recuperasse, implorava para que o dessem seu amigo de volta, ele nem mesmo implorava mais para poder amá-lo como pedia nos momentos em que aprisionar seus sentimentos dentro de si se tornava algo pesado demais.

Mas no fim do dia, quando colocava a cabeça no travesseiro e observava o céu estrelado pela janela do quarto, o que Jimin realmente pedia é para que Yoongi e Jungkook encontrasse logo uma forma de parar o monstro dentro de Taehyung. Um ano e seis meses haviam se passado... Um ano e seis meses de um novo ciclo de sete anos, e novamente eles se viam correndo contra o tempo.

🐾

Talsamaa, 93 anos depois da Besta (DdB)

Mariah caminhava pelas ruas de uma Talsamaa que ainda se recuperava do último ataque da Besta, ataque que ocorreu a pouco mais de um ano antes de sua chegada.

Muitas das cabanas estavam abandonas e tomadas pela vegetação, algumas com a madeira apodrecendo e outras que eram utilizadas como fonte de material para a reconstrução da vila.

Ao longe, o que parecia ser um templo religioso se erguia com danos significativos, com paredes quebradas e inúmeras marcas de garras.

As poucas pessoas que ainda permaneciam em Talsamaa, por não terem melhor lugar para ir, ou por uma fé extrema na benevolência das Entidades, andavam de um lado ao outro da vila. O semblante pesado e ainda sofrendo pelas vidas que a Besta ceifou.

Mariah sorriu ao perceber os estragos que o Fenrir estava causando, mesmo que ainda exista em si uma leve irritação pelo feitiço estar se alastrando por tanto tempo, ver que o local e pessoas que Morgain tanto amou estavam sofrendo a fazia feliz.

Ela continuou seu caminho pelas ruas enlameadas em uma mistura de barro e neve, praticamente invisível aos olhos dos moradores concentrados em suas tarefas. Mariah nunca planejou que os ataques do Fenrir durassem por tanto tempo, na verdade, tudo deveria ter sido resolvido na noite do primeiro ataque, mas por alguma sorte ou ironia do destino, os filhos de Morgain conseguiram fugir e aumentar sua linhagem.

Para Mariah, Talsamaa era a personificação perfeita da vulnerabilidade e insignificância da humanidade e da dimensão humana. Nada nessa dimensão era para sempre, e nem mesmo tão poderoso quanto a tudo que forma a dimensão bruxa.

Ela parou quando viu a placa de madeira indicando a entrada de uma taverna, a neve encrustada nas ranhuras propositalmente causadas na madeira polida e envernizada, não seria um local fino e luxuoso como os que está acostumada, mas no momento, seria útil.

O movimento dentro da taverna não era intenso, mas ainda sim havia um número considerável de clientes, ela esperou ser atendida e pediu algo quente para se aquecer do frio. Enquanto esperava, observou a miséria que recaiu sobre o povo de Talsamaa em razão do Fenrir, ela não estava completamente satisfeita observando como a maldição e suas consequências estavam desenrolando. Ela queria um fim mais certo, queria apagar a existência de Morgain, e isso incluía seus descendentes.

Foi com isso em mente que ela decidiu permanecer em Talsamaa por um tempo, queria acompanhar de perto todo o processo até a próxima Lua de Sangue, queria ver a Besta em ação com seus próprios olhos e talvez, descobrir em como dar um fim na linhagem da irmã de uma vez por todas.

Com o passar das semanas ali, Mariah abriu sua própria taverna, usando sua magia para administrá-la e servindo a melhor comida da vila, segundo alguns talsamaanianos. Em poucos meses ali, se casou com um comerciante de tecidos e no ano seguinte tiveram seu primeiro filho, Namjoon.

Mariah sentiu seu coração se encher com algo que há muito tempo não sentia, o amor simples e puro que um dia sentiu por seus irmãos, mas agora, como mãe.

Com a convivência e a confiança não demorou muito para que Hansol descobrisse a verdadeira identidade de Mariah, e nem mesmo o lado perverso da mulher foi capaz de fazer o homem ser menos apaixonado e devoto a ela.

Dois anos depois de Namjoon, Mariah deu à luz a Jungkook, a grande paixão de sua vida.

Por um tempo, esqueceu-se completamente de sua vingança contra Morgain e se dedicou a sua família e seus negócios, sempre utilizando a magia para realizar até as mais simples tarefas. Algo extremamente perigoso para uma dimensão onde a magia é tão rara.

Ela sabia que haveriam consequência, sabia que não deveria ficar tanto tempo em uma dimensão onde a magia é limitada, e principalmente a usando inconsequentemente, mas ela não conseguia evitar. Mariah se apegou a vida e família que construiu aqui, e todas as noites antes de dormir, ela pensava em uma forma de acabar logo com a linhagem da irmã mais nova e livrar os inocentes das garras do Fenrir.

🐾

Mariah já sentia em seu corpo os efeitos pelo uso em excesso da magia, estava cada dia mais cansada e doente, os sangramentos no nariz já não eram tão incomuns, o que despertava o lado protetor de Hansol.

Ainda não havia descoberto uma forma de eliminar a linhagem de Morgain, principalmente ao descobrir que alguns haviam se espalhados pelas vilas vizinhas e se recusava a fazer outros inocentes pagarem com suas vidas para garantir o extermínio do sangue adúltero.

Ela também não estava inclinada a dar sua vida voluntariamente para desfazer a maldição, então durante a décima quarta Lua de Sangue, enquanto os gritos humanos e o uivo do Fenrir ecoavam pela floresta de Talsamaa, Mariah mais uma vez utilizava da energia da Lua para realizar um feitiço alterando parte do ataque da Besta, até que a bruxa conseguisse reunir todos os descendentes de Morgain em Talsamaa, a fera mataria duas pessoas por vez, duas pessoas que tivessem a descendência de Morgain.

Ela criou rumores pela vila, usando a magia para modificar temporariamente sua aparência, e se passando por uma comerciante qualquer que visitava Talsamaa, espalhou para os habitantes, e principalmente para os Sacerdotes, que dois jovens deveriam ser sacrificados, virgens, para garantir que não haveriam mais possíveis descendentes, um menino e uma menina, e claro, também as melhores colheitas, regras bobas, mas que dessem credibilidades a sua fala.
Claro que para que as escolhas fossem descendentes de Morgain, Mariah ficou sussurrando os nomes de forma maliciosa nos ouvidos dos sacerdotes, usando sua influência e magia para concluir seus objetivos!

Mais alguns anos se passaram, Mariah não melhorava, e até mesmo ensinar Namjoon e o pequeno Jungkook a controlarem seus poderes se tornou algo extremamente difícil. Sua pele estava cada vez mais pálida e os sangramentos mais frequentes.

— Você precisa voltar — Hansol dizia constantemente.

— Não posso, ainda não terminei minha vingança. — Ela respondia, sempre, sem alterar uma única palavra.

— Você vai morrer se continuar aqui — Ele dizia com os olhos chorosos e preocupados.

— Não posso abandonar meus filhos...

— Nós vamos com você — Hansol proferiu desesperado.

— Não tenho forças para abrir um portal capaz de levar todos nós. — argumentou desesperada, segurando o rosto do marido.

— Então você vai e ficaremos aqui te esperando voltar!

— Como saberei que realmente estão bem? — questionou alisando-o o rosto.

— Eu vou cuidar dos nossos meninos, mas você precisa voltar para a sua dimensão e se recuperar meu amor

— Não quero ficar sem vocês.

— Você vai, se recupera e depois volta para nos buscar! Vai ficar tudo bem, serão apenas alguns meses.

— Por favor, Hansol... — tentou mais uma vez.

— Você não pode morrer aqui, dessa forma miserável, não é isso que uma bruxa poderosa como você merece. Vá meu amor, se recupere, e volte para nós, volte para concluir sua vingança e buscar sua família.

Atendendo ao apelo do marido, Mariah deixou Talsamaa e voltou para a dimensão bruxa, contudo, ela nunca voltou, nem mesmo para concluir sua vingança.

🐾

Jungkook ainda não tinha uma certeza de destino, não sabia por onde começaria a procurar o irmão, e talvez, a mãe que nunca esteve presente, mas o que seu pai o disse dois dias atrás quando completou seu décimo oitavo verão clareava algumas coisas em sua mente e criava novos questionamentos na mesma intensidade.

Por tanto tempo sua mente foi tomada pelos pensamentos sobre o paradeiro de sua mãe, e, porque a mulher que era tão gentil e carinhosa consigo havia simplesmente ido embora dá noite para o dia, sem ao menos se despedir de si. Esses mesmos questionamentos voltaram a tona quando Namjoon saiu de casa dois anos atrás e nunca mais mandou notícias.

Agora, com as revelações dadas por seu pai, sabendo que sua mãe era uma bruxa poderosa e perversa, sentia que seu mundo estava desabando, ao mesmo tempo em que acontecimentos estranhos e antes inexplicáveis da sua vida, passavam a se mostrar como manifestações das habilidades que herdou de sua mãe.

Ali, na remota Talsamaa, e que vezes ou outra era atacada por uma infame Besta, Jungkook não conhecia muitas pessoas que o poderiam ajudar a controlar seus poderes, mas seu pai mencionou um nome, um muito conhecido pela vila, horas adorado, horas temido.

Incerto sobre sua decisão, Jungkook caminhou pela trilha florida, percebendo em como esse trecho da floresta sempre escura de Talsamaa parecia se abrir para receber os raios solares, transformando aquele pequeno pedaço da paisagem sempre sombria e elegante, em uma trilha luminosa e alegre.

Caminhou por cerca de trinta minutos até atingir o fim da trilha, direto em uma pequena clareira que abrigava a casa de Vivian Braun. Brincando com os dedos e mordendo os lábios, Jungkook se questionava se realmente deveria fazer, se realmente deveria pedir ajuda da mulher que seu pai diz odiar sua mãe.

Andando de um lado ao outro, múrmura sobre as possibilidades de ela nem mesmo o receber, mandando-o embora antes mesmo que ele tivesse a chance de falar algo.

🐾

Dentro da cabana, Vivian observava escondida pela janela o jovem de dezoito anos andar nervoso de um lado ao outro da clareira. Jungkook, se bem se lembrava do nome, carregava a beleza de Mariah, mas com uma aura bem mais juvenil e inocente.

Os minutos passavam, o jovem permanecia no mesmo comportamento. Perdendo sua paciência, Vivian decidiu agir, saindo de seu esconderijo atrás da janela e caminhando até a porta, apenas apara abri-la e causar um leve susto no rapaz.

— Pretende permanecer o dia todo andando de um lado ao outro de minhas terras? — Perguntou, não demonstrando hospitalidade, mas mantendo longe a rispidez.

— Desculpe, eu.. é.. eu..

— Eu? — incentivou.

— Eu gostaria de fazer algumas perguntas, talvez a senhorita possa me ajudar.

— Não sei como lhe posso ser útil

— Meu pai disse que você e a minha mãe se conheciam, e que você é o mesmo que ela.

— O mesmo que ela?

— Uma bruxa.

Vivian levantou a sobrancelha, intrigada com a resposta do jovem, era a primeira vez que alguém a denominava como tal, e a última vez que havia ouvido essa palavra foi quando encontrou Morgain pela primeira vez em sua vida nas ruas de Vigen.

— Eu sinceramente não sei como posso lhe ajudar, só vi sua mãe algumas vezes em minha vida, e nunca de forma amigável — o semblante do rapaz de entristeceu

— Você, você consegue usar magia? Fazer as mesmas coisas que elas? Eu ouvi alguns relatos na vila...

— Não da mesma forma, mas acho que podemos dizer que sim...

— Poderia me ensinar?

O pedido pegou Vivian de surpresa, nunca em sua vida imaginou que o filho mais novo de Mariah viria até si pedindo para que ela o ensinasse a manipular as energias naturais. Também não sabia como instruir o rapaz, nunca havia ensinado algo do tipo em sua vida, não fazia a mínima ideia em como ser tutora de alguém.

— Eu nunca ensinei ninguém, não seria de grande ajuda. — tentou convencê-lo.

— Você pode me ensinar o que sabe, ou apenas demonstrar como faz. — Jungkook insistiu, sabendo que ela seria sua melhor chance.

— Olha, eu não sei se seria uma boa ideia. Eu e sua mãe não somos exatamente amigas, e existem muitos assuntos não resolvidos entre nós duas, ela não vai gostar nem um pouco e...

— Ela foi embora quando eu tinha cinco anos, não acho que ela se importe, uma vez que nunca voltou — Jungkook a interrompeu.

Vivian fechou os olhos, pensando por alguns instantes, pensando nos motivos para negar ao pedido do garoto, mas também, na vantagem de poder ter uma segunda mente para lhe ajudar a pensar em como parar o feitiço que Mariah havia criado.

— Tudo bem, mas não vai ser fácil, e vai te exigir bastante disciplina.

— Prometo que não vai se arrepender — Jungkook disse animado.

— Eu não terminei. Nos encontraremos todos dos dias aqui, antes do sol nascer. Começando por amanhã, você irá seguir todas as regras que eu listar, e se quebrar qualquer uma delas, mesmo que uma única regra, eu nunca mais irei lhe dirigir a palavra.

— Seguirei todas a risca — falou com um sorriso gigante no rosto.

— Muito bem, o vejo antes do próximo nascer do sol, não se atrase.


🐾

Jungkook voltou para casa animado e decidido a ser o aluno mais dedicado e aplicado que Vivian teria em sua vida. No nascer do próximo sol ele estava em frente a cabana de Vivian em ponto, sem se atrasar e trazendo consigo um rolo de pergaminho, uma pena e um tinteiro.

— Muito bem, chegou no horário — Vivian disse apoiada ao batente da porta — Essas são todas as regras que você deve seguir. A sua primeira lição será memorizá-las, quando terminar me chame, e se ainda estiver de acordo, daremos continuidade as suas aulas.

Jungkook pegou o pequeno rolo de pergaminho que Vivian o entregara, não era grande, mas ainda, sim, de tamanho considerável e com um número enorme de regras. O rapaz sentou-se em baixo de uma árvore, utilizando da lamparina que levou para clarear seu caminho para iluminar o pergaminho e facilitar sua leitura.

Leu calmo e atento cada palavra, deixando que todas elas se infiltrassem e impregnassem em sua mente. A maioria das regras eram coisas bobas, uma tentativa de Vivian de fazer com que Jungkook desistisse da ideia de ser treinado por ela, porém foram todas em vão.

Percebendo que não havia saída, Vivian concordou em treinar o jovem, mas manteve sua distância. Com o tempo, ele passou a habitar a cabana junto a ela, e para Vivian era bom ter por perto uma companhia que não fosse completamente estranha, principalmente após todas as pessoas que ela conhecia terem morrido, enquanto ela continuava a mesma mulher de trinta anos.

Com o passar dos anos, Vivian percebeu que a aparência de Jungkook também não havia mudado, desde seu aniversário de 25 anos a quase uma década atrás, ele permanecia com o mesmo traço jovial, os cabelos loiros agora na altura do queixo, caiam em pequenas ondas, dando-o uma imagem de inocência quando combinado com o sorriso bonito.

Ela procurou por respostas para isso, mas nenhum livro ou material ao qual ela tem acesso continha a resposta que quer ou precisa. Ela se pergunta se Jungkook, em algum momento de sua vida, foi amaldiçoado como ela, apesar de ela nunca ver razão para isso.

Jungkook é uma pessoa doce, sempre tratando todos bem e extremamente educado, de todo o tempo que é seu aprendiz, nunca demonstrou um comportamento que justificasse receber tal desgraça em sua vida.

Vivian aos poucos foi ganhando confiança nele, e contando as informações que sabia sobre a Besta e a maldição. Outra coisa que mudava com o passar dos anos é como ela o olha e percebe. Os sorrisos tímidos, os olhares brilhantes, como as bochechas de Jungkook sempre se pintam de vermelho quando ela o flagra observando-a.

Ela não pode dizer que desaprova ou desgosta das ações dele, porque no fim, vem fazendo o mesmo. Quanto mais o tempo passa, mais Vivian gosta e se satisfaz da presença e companhia de Jungkook em sua vida.

Foi assim, que em uma tarde ensolarada de primavera ela se pegou surpresa quando Jungkook finalmente tomou coragem para se declarar e professar seus sentimentos com as palavras mais belas que Vivian já escutou em sua vida, e mesmo que seu coração tivesse se trancado desde a sua experiência com Mirlen, Jungkook com seu sorriso bonito e jeito gentil soube exatamente o caminho para derrubar todas as muralhas que Vivian ergueu.

Ela não havia como negar os sentimentos do homem, mesmo que quisesse, em todos esses anos convivendo com ele, cada simples respirar de Jungkook a fazia se apaixonar ainda mais. Eles conversaram, e decidiram caminhar devagar nessa jornada, e por mais que Vivian fosse algumas boas décadas mais velhas e não pudesse ter filhos, isso nunca se apresentou como problemas para Jungkook.

Eles estavam apaixonados.

O primeiro encontro organizado por Jungkook, a primeira vez que seguraram as mãos, o primeiro beijos, tudo era mágico, tudo era um encaixe perfeito, mas na mente de Vivian ainda existia aquele medo que a lembrava da maldição de Morgain, e isso a fazia temer por seu futuro ao lado de Jungkook, um que ela desejava muito ter.

A noite, quando se deitava para dormir, ainda em camas separadas, ela esperava a respiração pesada e o ronco baixo do homem, silenciosamente deixava as lágrimas saírem e chorava seu medo, no momento em que Jungkook falasse que ama ela sabia que teria apenas sete anos.

Infelizmente, para o casal, isso não demorou a acontecer.

Quando Jungkook proferiu as palavras pela primeira vez, ele esperava que Vivian tivesse uma reação diferente, ou ao menos positiva. Ele sinceramente não conseguia entender a razão pela qual ela o abraçou com tanta força e chorava desesperadamente em seu peito dizendo que não queria o perder.

Foi só mais tarde naquela noite, quando Vivian estava mais calma, e depois de muitas canecas de chá, que ela finalmente explicou a Jungkook sobre a maldição que Morgain colocou em si quando se viram pela última vez.

Jungkook abraçou Vivian e deixou que ela se confortasse em seus braços, segurando as próprias lágrimas e sentimentos para dar apoio a mulher que ama. Ele tinha muitas perguntas a fazer, pensamentos e possíveis soluções, mas ainda não era o momento, não assim de forma desesperada, Vivian já havia o instruído sobre como a magia deve ser usada com calma e racionalidade, nunca com os sentimentos a flor da pele.

Quando Vivian dormiu, Jungkook a colocou cuidadosamente na cama, cobrindo-a com cobertas grossas e ajeitando o travesseiro. Ele apagou a chama das lamparinas e deixou uma única acesa, levando-a consigo para a mesa de estudos, ele pegou um livro específico na estante, um que já vinha estudado há algum tempo e virou toda a noite folheando as páginas, concentrado nas palavras, buscando alguma saída que permitisse Vivian viver por mais do que sete anos ao seu lado, mas não encontrou.

Pela manhã, os dois tomaram o desejum em silêncio, trocando pequenos olhares significativos, com a bochechas coradas e sorrisos bobos. Jungkook tomou a coragem e a iniciativa para se aproximar e com o consentimento de Vivian, beijar-lhe apaixonadamente. Todo o dia se passou em uma bolha de amor e carinho, com Vivian se permitindo sentir o que não sentia a mais de um século, permitindo que seu coração batesse por outra pessoa que não fosse ela.

A rotina dos dois não havia mudado muito, mas agora iniciavam e terminavam o dia nos braços um do outro, aproveitando o carinho e o sentimento que compartilhavam. Secretamente ambos buscavam uma forma de livrar Vivian da maldição que Morgain jogou sobre ela, e permitir ao casal que vivessem juntos por quantos anos fossem possíveis, mas no fim do dia, ambos escondiam o desespero e a frustração de não encontrarem respostas.

Alguns meses se passaram, e quando nenhum deles conseguiam mais aguentar a agonia de permanecer em Talsamaa, procurando respostas para a Besta e para a morte de Vivian, a bruxa propôs que eles deixassem toda essa confusão de lado por um tempo e retornassem a Vigen. Ela queria aproveitar o tempo que tivesse ao lado de Jungkook, amá-lo como ele merecia e se deixar ser amada como merecia. Se ela não podia resolver os problemas que ela, Morgain, Mirlen e Mariah criaram, ela se permitiria ao menos uma vez na vida ser egoísta e pensar na própria felicidade.

Jungkook aceitou na primeira proposta, e em poucos dias eles já estavam trancando toda a cabana com fortes correntes, e em uma pequena carroça, pegaram a estrada rumo a Vigen, para uma viagem que seria longa, e provavelmente sem volta.

Não foi difícil se adaptarem a uma vida em Vigen, não foi difícil esquecer todo o caos de Talsamaa e ficarem na própria felicidade. Os anos que viveram juntos foi como experimentar a verdadeira magia, sentiam se tão vivos como se antes fossem apenas meros fantasmas observando vidas passageiras ao seu redor.

Em Vigen, Jungkook e Vivian adotaram dois órfãos de treze anos, os quais não possuíam magiam, mas traziam muitas alegrias a suas vidas. Eles viram os filhos crescerem, se apaixonarem e começarem a construir as próprias famílias, ainda jovens, mas felizes.

Com a porção de terra que Vivian herdou do pai, eles criaram uma pequena fazenda, a qual deixariam para os filhos no futuro, um não tão distante. Sete anos após Jungkook se declarar para Vivian, ele embalou a esposa em seus braços, cantando para ela doces melodias enquanto observava a vida abandonar seu corpo frágil a cada respirar, mas não antes de prometê-la que ele descobria uma forma de para a Besta, nem que levasse toda a sua vida para isso.

Demorou muitas semanas na companhia dos filhos e pequenos netos para que Jungkook começasse a se recuperar da perda, saber que aconteceria em algum momento não tornava a dor menor, mas talvez, tenha tornado-a mais fácil de administrá-la. Os dias passavam rápido demais, e Jungkook sentia que estava mais entorpecido para os acontecimentos ao seu redor do que gostaria.

Com o tempo ele percebeu que havia mais perguntas em sua mente do que respostas, mesmo quando passava os dias sobre os livros, tentando cumprir a promessa que havia feito a Vivia, percebia que menos havia evoluído, e assim uma luz se acendeu em sua mente. Talvez a resposta não estivesse ali, em Vigen, em livros, e talvez nem mesmo em Talsamaa. Talvez eles não tinham feitos as perguntas certas, talvez eles tivessem os meios de pesquisas erradas, mas ele sabia de uma, ou melhor, duas pessoas que poderiam ter as respostas que ele precisa, ele só precisaria encontrá-las.

A grande questão é que Jungkook pouco se lembra de sua mãe, Mariah, mas ele se lembra de seu irmão, Namjoon, e algo em si diz a ele que se achar um, acha o outro, ele só precisa procurá-los, mesmo que não saiba por onde começar, ele só precisa ir, para longe de Vigen, para longe de Talsamaa, só as Entidades sabem para onde, mas ele precisa ir, porque só assim será capaz de cumprir a promessa e finalmente se juntar ao grande amor de sua vida.


🐾

#AQODV #ABestadeTalsamaa


Bom, vejo vocês na próxima, espero que gostem!


xoxo, Aiza.

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