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By C0dexzy

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Pete pretendia aproveitar o seu fim de semana numa boa, apenas com a companhia de uma cerveja bem gelada e um... More

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By C0dexzy

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Estaciono o carro em frente à pizzaria. Minha boca está um pouco seca e, para ser sincero, o meu estômago parece meio embrulhado também. Umedeço os lábios com mais força que o normal como se, de alguma forma, eu pudesse espantar essa sensação para longe.

Vegas e eu olhamos em direção à fachada do lugar, e ele tira o cinto de segurança. Eu não me movo e acredito que a minha falta de ação chama a atenção dele. É quando escuto um riso espontâneo.

É provável que o meu semblante denuncie o que estou sentindo, o que é, no mínimo, constrangedor. Se qualquer amigo meu perceber que tudo não passa de uma invenção, serei visto com outros olhos. Sentirão pena de mim. Acredite, estou fugindo deste sentimento.

- Não está pensando em desistir, não é? - Questiona Vegas com a sombra de um sorriso nos lábios.

Continuo olhando para a fachada e para as mesas ocupadas. Consigo reconhecer o perfil de Arm daqui.

Penso no quanto eu e Vegas treinamos.

- Não - Respondo e esfrego as palmas transpiradas na calça com força. - Já estamos aqui, né? Desistir seria muito idiota, algo bem... covarde.

Vegas continua sorrindo.

- Ah, seria. - Ele afirma. - Quer saber de uma coisa?

- O quê?

- Só voltarei para o meu apartamento para encarar o Grey, o Akuma, a Okami e o Fennir quando o nosso plano estiver concluído. Somos o casal da nação, não há o que temer, Pete.

Quando diz, com sua voz calma, eu realmente sinto um alívio repentino.

Há algo peculiar em Vegas que consegue me tranquilizar nos momentos em que, caso eu estivesse sozinho, teria surtado.

Há pessoas que possuem o dom de acalmar sem muito esforço.

Tiro o cinto de segurança e encaro o painel durante alguns instantes.

- Vamos - Digo.

Saímos do carro lado a lado, o vento trazendo o perfume dele até mim de novo. Estou ciente da sua pele morna tocando a minha quando ele passa o braço ao redor do meu ombro. Mordisco o lábio e, de repente, acho uma boa ideia enfiar a minha mão no bolso traseiro de sua calça. Parece íntimo. Parece algo que um casal apaixonado faria. Ele não comenta nada ao entrarmos na pizzaria.

Meu coração está batendo forte a ponto de eu ter a impressão de que todos os clientes vão ouvi-lo. É bizarro.

Não demora um segundo para eu localizar as três mesas juntas em que meus amigos estão sentados. Os rostos se viram em nossa direção na mais pura surpresa e euforia.

Bem, estamos aqui.

- Você veio! Cara! Não acredito! - Thankun se levanta imediatamente conforme o seu sorriso cresce.

Tenho uma leve suspeita de que meus amigos apostaram que eu não pisaria aqui hoje.

- Vim - Digo quando me aproximo da mesa, retribuindo o sorriso. - Ou vocês já tinham se conformado com o meu silêncio no grupo do WhatsApp?

- A gente sabe que você é um homem ocupado. - Love se manifesta, lançandome um olhar quase acusatório. Seus lábios estão cobertos por uma camada de batom vermelho. - Olha só! Parece que você cresceu pelo menos um centímetro!

Eu rio. É claro, precisam fazer piadas com a minha altura. Eu não ligo, de verdade. Sempre fui o cara mais baixo do grupo. Inclusive, a ciência diz que homens baixos são ideais para relacionamentos. Segundo a pesquisa, os mais baixinhos são os mais fiéis. De qualquer forma, não quero ficar me gabando.

Com uma rápida vistoria, vejo Arm, seu esposo - e a filha deles que, a propósito, é muito bonitinha. Vejo Porsche - que está realmente impressionado com a minha conquista -,Kinn, Tankhun, Love e Janhea. Também vejo rostos que ainda não conheço.

Vegas está sorrindo; não parece nervoso com a situação. Meu corpo continua tenso quando nos sentamos, e suponho que Vegas percebe porque faz um carinho em minha nuca - o que me pega desprevenido e me provoca arrepios de um jeito bom.

- Bom, eu disse que traria uma pessoa, então... Este é Vegas - Apresento-o.

Por algum motivo estranho, apresentar pessoas sempre me deixou meio nervoso. Talvez seja por conta da pressão de servir de ponte para dois ou mais desconhecidos.

- Prazer em conhecê-los. - Ele diz educadamente com um sorriso que alcança os olhos. Tenho certeza de que ele já conseguiu cativar todo mundo na mesa. - O Pete fala muito sobre vocês.

Não é mentira. Fiz questão de fazer um resumo da personalidade de cada um desta mesa para que ele não se sentisse tão perdido.

- O que ele disse? - Arm pergunta. - Deixa pra lá, não sei se quero mesmo saber. Só... não acredite nele. Este cara é malandro.

Todos riem.

É o suficiente para eu conseguir relaxar um pouco.

- Somos boas pessoas, eu juro! - Janhea diz. Ela sempre teve uma beleza inegável, e, com o passar dos anos, parece muito mais segura de si.

- Aquele é o Porsche, certo? - Vegas pergunta bem próximo ao meu ouvido, inclinando a cabeça para o meu melhor amigo.

Porsche devolve o olhar para nós. É engraçado como está impresso no semblante dele que está gostando da nossa brincadeira, ele tem uma espécie de poder que ninguém além de nós tem nesta mesa. O poder da verdade.

- Olha o jeito como ele olha pra gente - Cochicho de volta. - Parece orgulhoso.

Vegas ri soprado perto da minha orelha.

Interrompo a respiração imediatamente por puro reflexo e apoio os cotovelos sobre o tampo da mesa.

De repente, não sei o que fazer com as mãos.

A velocidade com que os meus amigos mudam de assunto é impressionante. Começamos falando sobre como o calor está maltratando todos nós sem piedade, sobre como, há anos, as matérias pareciam muito complexas do que na verdade são. Falamos sobre os filmes em cartaz nos cinemas (o que abriu possibilidade de marcarmos para assistir algo), e depois falamos sobre como o nosso antigo professor de filosofia provavelmente bebia antes de lecionar. Eu sempre desconfiei disso, mas nunca contei a ninguém. É engraçado saber agora que eu não era o único

De repente, começamos a conversar sobre Cobra Kai e o trabalho impecável que estão fazendo - porque, no ensino médio, todos gostávamos de Karatê Kid.

Estou explicando que criei uma simpatia gigante pelo Lawrence - o personagem que me irritava muito anteriormente -, quando sou interrompido.

- Vocês não começaram sem a gente, né? - Reconheço imediatamente a voz animada de Tay atrás de mim.

Quando me viro para trás, eu o vejo com um sorriso animado. Ele está mais alto e o seu cabelo está mais escuro de modo que seu rosto se destaca. Tay não está sozinho; reconheço o homem logo atrás dele. Dara. Ele olha rapidamente para nós com um sorriso. Ele está de mãos dadas com Kamon. Juntos, eles se parecem um casal de estrelas prestes a pisar no tapete vermelho.

Dara está do jeito como eu me lembrava, embora o rosto esteja com traços mais definidos. A pele parece um pouco mais dourada. Claro, exibe o bronzeado que conseguiu em Búzios. E Kamon, bem... ele é... simplesmente... divino. Os cabelos lisos e descoloridos parecem de seda. Ele é elegante e tem traços únicos dos quais meninos se matariam para se parecerem pelo menos 10% com ele. Pergunto-me como pode alguém ser ainda mais bonito pessoalmente do que nas fotos.

Lembro de Dara me dizer uma vez que todas as pessoas que parecem perfeitas são, na verdade, muito artificiais.

Acho que ele mudou de opinião.

Eles ocupam seus lugares à mesa e há uma espécie de comoção porque agora o nosso grupo está completo.

- Então, parece que acabei de achar o meu alvo - Vegas sussurra e seu meio abraço se intensifica, de modo que nossos rostos ficam extremamente próximos.

É bom e perigoso ao mesmo tempo.

Isso acontece exatamente no momento em que Dara desvia os olhos do rosto impecável de Kamon, para, enfim, olhar para mim. Sei que não é fruto da minha imaginação, mas seus olhos se arregalam de um jeito quase imperceptível. Conheço este olhar. Dara está perplexo.

"Pois é, Dara! Estou acompanhado! Você não esperava por isso, não é?"

Vegas percebe a tensão repentina e parece achar a situação engraçada. Pela visão periférica, capturo seu sorriso divertido e seus dedos começam a deslizar pelo meu braço descontraidamente. A nossa atuação segue perfeita.

Dara olha para os dedos tatuados de Vegas brincando em minha pele. Eu também conheço aquele olhar. Dara está julgando-o silenciosamente. Eu daria tudo para ler a mente dele agora.

Alguém comenta algo, porque Kamon solta uma risada elegante como se os seus seguidores no Instagram estivessem assistindo-a agora através de uma live. Por isso, Dara quebra o olhar por um segundo ou dois, para depois voltar a olhar para mim. Ele acena com a cabeça uma vez. Retribuo o aceno, e nossos olhares se afastam.

Posso dizer que estou satisfeito com a reação dele

Sinto que dei a volta por cima.

Não demora para começarem a servir as pizzas - e aparentemente todo mundo está faminto. Eu me sinto bem aqui, é bom rever estas pessoas que fizeram parte da minha adolescência, relembrar das histórias engraçadas - outras nem tanto assim -, e perceber que continuam sendo boas pessoas.

- Lembram daquele show de talentos que o professor de artes inventou? - Arm pergunta.

Há uma risada coletiva.

- Até hoje tenho fotos das apresentações. - Love comenta ao tirar as azeitonas do pedaço da pizza dela. - Eu nem acredito que tive coragem de cantar Avril Lavigne na frente de todo mundo!

- Eu lembro! - Minha voz sai mais empolgada do que eu planejava. - Quando você terminou de se arrumar, me perguntou como estava...

- Você disse que ela precisava passar mais lápis de olho! - Completou Janhea apontando para mim e rindo. Então, olhou para todo mundo com uma felicidade contagiante. - Pete ficou indignado, claro! Como assim a Love queria cantar Avril sem o clássico escuro nos olhos? Seria um crime imperdoável!

- Pete sempre foi muito atento aos detalhes - Para a minha surpresa, é Vegas quem diz. - Ele não perde uma. É uma das coisas que mais gosto nele.

Ok, eu realmente não esperava por isso.

- Que amor! - Love comenta e inclina ligeiramente o corpo para a frente. - Como vocês se conheceram?

Eu sabia que fariam esta pergunta. Tão previsível. Sinto-me muito confortável por estarmos preparados.

Olho instintivamente para Vegas . Ele devolve o olhar com um sorriso gigante e depois, encara a mesa. Sei que ele mesmo quer contar, então eu nem tomo a palavra. Na verdade, eu começo a comer meu precioso pedaço de pizza de quatro queijos.

- Moramos no mesmo condomínio já faz um bom tempo. Sou personal trainer, tenho vários clientes no condomínio, sabem? E eles começam a se exercitar cedo. Então, por uma das janelas da academia, eu sempre via Pete . Às vezes ele passava a pé, sempre tão elegante, tão bonito e apressado. Outras vezes, eu o via de carro. Não vou mentir, ele sempre chamou a minha atenção - Começo a mastigar com mais intensidade enquanto sou encarado por vários olhos impressionados. Meu rosto está ficando mais quente. - Até que um dia, por obra do destino, ficamos presos no elevador

- Cara, sério? - Arm pergunta, as sobrancelhas inclinadas. - Na mesma hora?

- Era pra ser! - Vegas responde com humor. - Começamos a conversar a partir daí... E, bom, aqui estou.

Quando ele termina, Vegas me surpreende ao aproximar o rosto do meu. Eu nem tenho tempo de assimilar o que está acontecendo quando sinto seus lábios fechados se encostarem sobre os meus. Por puro reflexo, minha mão pousa na nuca dele.

Há a quentura, suavidade e gentileza na ação dele. É um leve selar cuidadoso. Quando se afasta, sorrindo, começo a perceber como o meu coração bate com pressa, quase como se eu estivesse correndo uma maratona infinita.

Ele acabou de garantir o nosso Oscar. Ninguém pode negar.

- Você apareceu na hora certa, eu acho que o Pete ainda detesta elevadores, né? - Tankhun pergunta.

- Como ele disse, era pra ser - Resolvo me manifestar. - Vegas ficou conversando comigo, tentando me distrair para que eu não surtasse.

- E ele não surtou. Ainda bem! - Vegas completa. - Parece que fui útil.

- Vocês são bonitos juntos. - Milk comenta.

- Belíssimos! Tô até com inveja! - Porsche diz, e Kinn dá um tapa no braço dele de brincadeira, e depois se vira para pegar mais um pedaço de pizza.

- Achei romântico. Minha história com Arm não foi assim. - Pol comenta. - A gente se conheceu numa festa. Foi tudo muito rápido, mas deu tudo certo.

- Mas é claro que deu - Arm diz parecendo um pouco indignado. Se não estivesse sorrindo, eu diria que ficou um pouco ofendido. - A Bomi está aí como prova. - Ele olha para a filha deitada no carrinho lilás e faz um carinho na mãozinha direita dela. - Não é, minha filha?

Nunca imaginei que Arm seria um pai babão.

É engraçado e, ao mesmo tempo, surpreendente.

Os vários sabores de pizza chegam com rapidez até nós e a conversa corre. Fazendo uma análise não muito profunda, noto como os meus amigos amadureceram. É claro, crescemos, somos adultos agora. Nossos assuntos são completamente diferentes do que tínhamos no ensino médio. Somos as mesmas pessoas, mas com mentalidades distintas. Quando foi que isso aconteceu?

Então descubro que Love e Janhea trabalham juntas - gerenciam uma loja de perfumes importados. Tankhun está no último período de arquitetura. Arm é um grande gênio da computação. Kinn e Porsche estão cursando medicina. Como eu já disse, Kamon é uma estrela e Dara gerencia um escritório de contabilidade, o que, segundo ele, é extremamente estressante.

- Eu mal posso esperar pelas férias. - Dara confessa e franze o nariz.

Ele não parece estar muito feliz com o trabalho. Não consigo me imaginar trabalhando numa área que não me faz feliz. Deve ser uma tortura acordar cedo, sabendo que vou para um lugar que detesto, para fazer coisas que também detesto.

Vegas, por exemplo, quando conta sobre o seu trabalho, deixa perceptível o quanto ama o que faz. Seus olhos adquirem um brilho, e ele parece se sentir livre. Aproveito para olhá-lo bem de perto, observando os detalhes de seu rosto, e como ele se posiciona para conversar com os meus amigos. Ele é tão descontraído que sinto uma leve pontinha de inveja. Existe algo diferente nele, algo autêntico que captura a atenção de todos com facilidade. Como era de se esperar, os meus amigos parecem gostar muito dele.

E aqui, nesta situação, eu sinto um aperto esquisito quando me pego imaginando como seria interessante se este relacionamento de mentira fosse real.

Arm faz uma brincadeira e Vegas ri. Eu me afundo na cadeira e me ajeito ao redor do braço de Vegas, aproveitando para me aconchegar. É confortável. O aperto é gentil, quente e me transmite uma energia fascinante. Quando ele ri de novo, eu escuto o som da risada com mais atenção e sorrio também.

As pizzas daqui são deliciosas. O lugar é tranquilo. Há uma música ambiente tocando. Estou feliz

- E o seu bebê, Tankhun? - Love pergunta.

- Ficou em casa com o Tem. Hoje, infelizmente, a nossa filhinha estava mais chorona que o normal, então achamos que trazê-la não daria certo. Choros e cólicas intermináveis. - Seu semblante se transforma, ele está mesmo se lamentando.

Também nunca imaginei que Tankhun seria um pai tão preocupado.

Mas seu humor logo muda quando ele começa a contar sobre como é gratificante ter um bebê.

- Ela está começando a reconhecer o mundo agora. E começou a morder a própria mãozinha e a levar objetos à boca o tempo todo. É lindo e assustador. Tem e eu passamos muito tempo vigiando o que ela está fazendo.

Tankhun não consegue parar de sorrir.

Todos estão sorrindo com ele.

- Espera só ela começar a ter mais equilíbrio! - Arm comenta. - Cara, depois ela vai começar a engatinhar. Tenho tantos vídeos da Bomi engatinhando pra lá e pra cá! Nunca vi ninguém gostar tanto de explorar a casa.

- Com licença, eu vou ao banheiro. - Kamon diz repentinamente, já se levantando com uma rapidez assustadora. Ele mantém a cabeça baixa, os cabelos ocultando o rosto. Mesmo caminhando com pressa, há uma graciosidade em seus movimentos.

Por outro lado, sinto uma energia esquisita pairando no ar. O que aconteceu em uma questão de segundos.

Dara move os lábios. Ele está cabisbaixo.

Ficamos em silêncio durante um tempo.

Bom, pelo menos eu não fui o único a sentir a energia ruim.

- Foi mal, é que... - Dara para durante um momento para tentar encontrar as palavras. - Esse assunto de filhos é meio delicado pra gente. Ele passou por dois abortos espontâneos.

É como se eu acabasse de levar um soco no estômago.

Sinto as palavras dele, o peso do seu desabafo. Sei que o grande sonho do Dara é ser pai. Sempre foi.

Nem consigo imaginar o quão doloroso foi para ele perder dois filhos.

Olho para a pizza descansando em meu prato e quando volto a olhar para o meu ex, fisgo o momento exato em que ele limpa uma lágrima intrometida no canto do olho.

- Nossa, cara, foi mal! A gente não tinha a intenção. - Arm diz.

- Não, eu sei. Tá tudo bem. Não tinha como vocês saberem.

Janhea e Love trocam olhares rápidos, então as duas pedem licença e vão em direção ao banheiro.

Eu me remexo na cadeira. Não sei o que dizer. As palavras estão presas na minha garganta.

- Sinto muito que isso tenha acontecido. - Vegas diz. Há algo diferente no tom de voz dele. Um pesar intenso e verdadeiro.

Dara olha para Vegas e assente.

- Estamos aqui disponíveis para você, Dara. Você sabe disso, não é? - Porsche pergunta.

Ele limpa os dedos engordurados no guardanapo.

- Eu sei.

- Somos amigos. - Tankhun afirma.

Milk assente, mas opta pelo silêncio.

Kinn sibila um "sim"

- Você pode contar com a gente. - É a única coisa que consigo dizer.

Ele me olha nos olhos. Um sorriso mínimo de agradecimento surge.

Consigo me lembrar perfeitamente do dia em que estávamos deitados sobre o tapete do quarto dele. Como sempre, fazia um calor terrível e o ar-condicionado velho de seu quarto foi obrigado a trabalhar com afinco, mas não estava adiantando tanto. Foi quando Dara me revelou sobre o seu grande sonho de ser pai. Ele falava com tanta vivacidade nos olhos, com um anseio tão grande, que mesmo eu que nunca senti vontade de ter filhos, consegui imaginar uma miniatura de Dara correndo pela casa.

Para mim, era um passo muito grande. Eu não me sentia preparado para ser pai - ainda não me sinto, é uma responsabilidade muito grande e eu, definitivamente, não estou pronto -, então não comentava muito sobre o assunto.

Somos diferentes em muitos pontos, e é evidente que foi por isso que o relacionamento não deu certo.

Aquele pequeno momento - o tapete, o calor e as confissões - já faz muito tempo. Mas o sonho dele continua grande.

- Valeu, gente. - Dara fala após soltar um suspiro.

Fico pensativo. Não sei como posso ajudá-lo de verdade, ser útil. Não quero apenas dar um tapinha nas costas dele e dizer que tudo melhorará. Mas sei que há situações em que não há nada a fazer, a não ser demonstrar apoio.

Porsche consegue, lentamente, tirar toda a tensão que se formou entre nós. Até consegue fazer Dara rir. Porsche sempre consegue.

Já estou no meu quinto pedaço de pizza. Acho que Vegas está no sétimo.

- Você quer algo para beber? - Vegas pergunta baixinho para mim. - Vinho?

Bebidas não estão inclusas no rodízio, mas Vegas não dá a mínima quando pega o cardápio elegante sobre a mesa para avaliar o que servem por aqui.

- Eu não posso beber. Estou dirigindo, lembra?

- Posso ser o motorista da volta. Vou comprar um refrigerante pra mim. - Ele diz aproximando o cardápio para que eu também possa ler. - Merlot?

Eu faço que sim.

Vegas chama o garçom e faz os nossos pedidos. Os outros também aproveitam e fazem pedidos.

Quando as garotas voltam com Kamon para a mesa, percebo que o rosto de Kamon está um pouco vermelho, mas ele parece estar se sentindo melhor agora. Ele se senta, arrumando suas vestimentas, e Dara segura a mão dele com carinho e beija as costas da mão como se ele fosse o seu maior bem precioso.

É um casal bonito de verdade. Eles se combinam muito, e eu me pego desejando que eles consigam ser pais. Eles merecem.

O bebê será bonito pra caramba.

Bebo o vinho devagar para apreciá-lo. Sempre bebi vinho devagar, eu gosto de sentir o sabor da uva na língua. Vegas se contenta de verdade com a Coca com muito gelo e duas rodelas de limão.

E as conversas continuam.

Ele continua deslizando os dedos em meu braço sem pressa.

Eu continuo encolhido dentro de seu meio abraço.

Comemos mais três fatias assim, grudados.

Acho que ele não está incomodado com a nossa aproximação - pelo contrário. Às vezes, ele apoia a lateral do rosto no topo da minha cabeça, e às vezes nossos amigos olham para nós com sorrisos gentis; é assim que descubro que todo mundo gosta de apreciar demonstrações de afeto.

O fato é que não somos o único casal na mesa, mas sigo tendo a impressão de que somos o mais observado. Tenho por mim que talvez eles não conseguiam me imaginar com outra pessoa que não fosse Dara, já que diziam sermos perfeitos um para o outro.

Meu celular toca. O visor me avisa ser Leslie, a minha secretária. Não é incomum eu receber ligações dela, mas é domingo. Leslie nunca me liga aos domingos.

- Com licença - Peço ao me levantar da mesa e vou até lá fora. Encosto-me na pilastra quando atendo a ligação.

Leslie pede mil desculpas, mas diz que acabou de receber a notícia que Boun Noppanut, o ator em ascensão, revelou no Instagram qual foi a empresa que preparou a festa de seis anos da filha dele. A princesinha da Coreia do Sul.

- Sei que é domingo, mas estamos falando de Noppanut. - Ela explica empolgadamente. - É importante que você saiba o que está acontecendo na empresa! E claro, fiquei ansiosa demais para te avisar só amanhã.

Fico muito feliz ao ver que o nosso trabalho está sendo reconhecido, porque trabalhamos duro para chegarmos até aqui.

- Acontece que em questão de horas, já querem que a nossa companhia organize mais de sete eventos. - Ela diz com ênfase total, o que me provoca arrepios. - O que significa que somos a grande referência do momento!

Eu lhe dou instruções de como seguir e aviso que passarei na empresa amanhã durante a tarde para uma reunião. Terei que abdicar um dia das minhas férias, mas é por uma excelente causa

- Por favor, avise aos funcionários - Digo com um sorriso. - Faremos com que não se arrependam de terem escolhido a gente.

Ainda estou sorrindo quando a ligação é finalizada.

Pela visão periférica, noto que Dara acaba de se aproximar, encostando-se na mesma pilastra. Entre seus dedos, um cigarro queima com afinco. Ele fixa o olhar no movimento da rua enquanto puxa as substâncias tóxicas para os seus pobres pulmões.

- Piercings e tatuagens, hein? Não sabia que você curtia - Observa ele.

- Não sabia que você curtia cigarro - Respondo.

Ele me olha com a sobrancelha arqueada, mas um sorriso torto no canto dos lábios deixa claro que ele está feliz em conversar comigo.

- Touché! Parece que realmente mudamos com o tempo. E você? Está bem?

- Estou - digo e ele assente quase imediatamente. - Tudo nos conformes.

- Isso é bom

Dizem que conversar com o ex-namorado é desconfortável, e, caramba, eu tenho que concordar. Mas, mesmo assim, não quero que exista um muro entre nós. Não precisamos ser inimigos, afinal tivemos uma história muito bonita.

- Já faz um tempo - Diz ele -, e eu fico feliz em saber que você encontrou outra pessoa. - Dara franze as sobrancelhas, entreabre os lábios, mas sua voz aparece de novo apenas segundos depois. - Eu sei que fui meio cruel e mesquinho quando terminamos, eu me lembro de dizer que você ficaria sozinho.

Ele abre um sorriso sem graça.

- Tá tudo bem. Você estava com raiva e foi um momento meio conturbado.

- É, mas eu queria me desculpar mesmo assim. Eu não precisava ter sido babaca.

- Tá tudo bem - Olho nos olhos dele com firmeza. Observo o resquício daquele menino tímido que morria de vontade de explorar o mundo e dizia morrer de medo de me perder. - Já passou.

- Sem ressentimentos?

- Sem ressentimentos - confirmo com um aceno. - E eu queria te dizer que você tem mesmo o meu apoio, ok? Sei que o que vocês passaram deve ter sido muito difícil, na verdade, não posso imaginar como foi, mas... se precisarem de mim, estou aqui. O Kamon é um homem lindo e vocês têm uma sincronia muito bacana. Vai dar tudo certo pra vocês.

Escutamos as risadas dos nossos amigos lá longe e, por reflexo, olho para as mesas juntas. A cena é bonita. Eu me sinto tão bem que não consigo descrever. Vegas passa a me olhar, joga o cabelo para trás e pisca de um jeito tão bonito que sinto algo balançar dentro de mim.

- Ele parece gostar muito de você - Diz Dara, jogando o cigarro pela metade na calçada. Ele pisa com a ponta do sapato para apagá-lo. Eu me sinto aliviado por não precisar sentir mais o cheiro ruim de nicotina.

- Você acha?

- Basta reparar - Diz de um jeito gentil. - Ele te olha como se você fosse a coisa mais especial

Volto a olhar para Vegas , que agora ri graciosamente de algo que Tankhun e Love disseram. Ele fecha os olhos, o corpo balançando com o riso e concorda com a cabeça. Ele também está se divertindo muito aqui, o que me deixa feliz. Ele não deixou seus gatos sozinhos à toa na tarde de um domingo do mundo.

- Aprendi muito com você, sabia? - Meu ex comenta de repente. - Eu era apenas um garoto imaturo na época, e você me ajudou a crescer. Então, obrigado. Acho que ainda não disse o quanto sou grato.

Nunca tive a sensação de ter só perdido tempo com Dara. Apesar dos problemas que tivemos, graças a ele, eu consegui me entender melhor. A adolescência é uma fase meio complicada, o casamento dos meus pais foi uma catástrofe e eu ainda tentava lidar com essa situação tão ruim, mas Dara sempre me estendeu a mão. Ele ouvia meus desabafos, sabia o que dizer e como dizer.

- Eu também quero te agradecer, Dara. Você é um cara muito legal.

É bom ter conseguido demonstrar o meu posicionamento após o término.

Quando voltamos aos nossos lugares, Vegas torna a passar o braço ao meu redor gentilmente. Ele deixa um beijo no topo da minha cabeça e apoia a bochecha ali mesmo.

- Está tudo bem? - Ele me pergunta.

- Sim - Assinto, e devo dizer que estou gostando muito do calor do corpo dele contra o meu. É confortável. - Você acredita que Boun é o grande responsável pela divulgação da companhia onde eu trabalho? A procura pela empresa está sendo imensa.

- O ator? - Ele me pergunta visivelmente impressionado

- Ele mesmo. Acho que hoje é o meu dia de sorte.

Vegas sorri com a bochecha ainda apoiada em minha cabeça.

- Também deve ser o meu. - Ele diz.

Ficamos dessa forma até o fim da confraternização.

É um pouco tarde quando nos levantamos da mesa. Alguns dos nossos amigos já foram, e, sinceramente, sinto minhas bochechas doerem de tanto que ri. Se eu soubesse que a confraternização seria tão divertida, não teria ficado tão ansioso nem pensado em inventar um milhão de desculpas para não vir.

- Vê se não some! - Arm diz enquanto segura Bomi nos braços. Ele pisca para mim e eu assinto.

Porsche me puxa para um abraço meio descoordenado, o que acaba me arrancando uma risada. A gente não se vê pessoalmente há alguns dias, mas uma das coisas que eu mais gosto em nossa amizade é que não precisamos estar grudados o tempo todo para ficar claro que nos importamos muito um com o outro.

Do nada, ele também abraça Vegas apertado, e dá dois tapinhas amigáveis nas costas dele.

- Cuide bem do meu menino, ok? - Ele olha nos olhos de Vegas, o que me deixa meio sem graça e meio indignado. - Você parece gente boa.

- Você também.

- É claro que sim, afinal de contas, sou o melhor amigo deste aí - Aponta para mim. - Ele não escolheria qualquer um para ocupar o posto.

- Mais convencido que você, impossível - Reclamo e balanço a cabeça de um lado para o outro.

Kinn faz uma careta para mim, concordando com o que eu disse.

- Realista, Vegas. É o que eu sou - Diz ele com um sorriso brincalhão. - Mas é sério, voltem com cuidado.

Quando a brisa noturna bate em meu rosto assim que pisamos na calçada, sinto-me renovado. Ainda estou eufórico por estar ao lado de Vegas. No meu carro, ele assume o volante. Devo dizer que fico um pouco fascinado com o jeito como ele está no controle. É a primeira vez que sento no banco do carona em meu próprio carro.

- Você está prestes a descobrir como sou um ótimo motorista - Comenta Vegas ao se ajeitar no banco.

Ele abre a janela, de modo que o ar agita seus cabelos. A luz amarelada do poste ilumina a sua pele, e eu posso afirmar: é uma das coisas mais bonitas que já vi. Tento não o encarar durante muitos segundos, não quero que ele me ache estranho, mas é difícil.

E durante todo o trajeto, penso no momento em que ele encostou seus lábios nos meus, como a quentura me envolveu, e o jeito como ele pareceu gostar da minha mão em sua nuca.

Não quero que a noite acabe.

Não quero que o nosso namoro de mentira chegue ao fim.

Quando ele estaciona o carro na minha vaga da garagem, eu ainda estou me sentindo meio deprimido, mas disfarço ao máximo.

- Seus amigos são pessoas incríveis. - Ele diz quando desliga o carro e solta o cinto de segurança. - Queria que o pessoal do terceiro ano da minha sala fosse assim

O estacionamento não está tão iluminado, mas ainda consigo observar os olhos dele brilhando de empolgação.

- Eles não eram? - Pergunto, apoiando a parte de trás da minha cabeça no encosto.

- Só estávamos juntos por obrigação. Era fácil perceber o quanto todo mundo estava louco para se distanciar, eu não dei sorte de cair numa turma tão legal quanto a sua. - Ele diz num tom baixinho como se, finalmente, me revelasse uma informação que guardou durante muito tempo.

- Eles gostaram muito de você - Digo -, deu pra perceber.

- Convencemos todo mundo, não acha? - Ele pergunta, embora já soubesse a resposta. - Ganhamos o Oscar?

- Ganhamos - Respondo e um sorriso inevitável insiste em aparecer nos meus lábios.

Ficamos quietos por um instante, então pergunto:

- Você não me achou idiota depois do que Dara disse?

- Como assim?

- Você sabe, eu planejei o nosso relacionamento de mentira porque não queria ser julgado - Digo, olhando no fundo dos olhos dele. Sinto que as palavras estão vindo com facilidade até mim agora, então não posso ignorá-las. Preciso, de alguma forma, desabafar. - E, então, quando Dara mostrou estar sofrendo com algo tão sério, algo real, eu me senti a pessoa mais mesquinha do mundo.

Vegas me encara com atenção.

- Você sabe que cada pessoa tem os seus problemas, certo? Você não tem que comparar os seus com os dos outros - Ele diz. - Não tinha como você saber, de qualquer forma. Para você, incomodava ser o único sozinho na mesa. Você deu o seu jeito, e, particularmente, fez isso muito bem. Dara é outro caso. E você o apoiou, mostrou que se importa... fez a sua parte. Não tem que se torturar por causa disso. - Ele umedece os lábios e seu tom é muito acolhedor. - Se for assim, eu sempre terei que anular os meus problemas por saber que existem outras pessoas passando por coisas piores. Mas não é assim que funciona.

Isso faz todo o sentido do mundo. Acredito que ele consegue sentir uma espécie de alívio em mim neste exato momento, porque abre um sorriso diferente. Além de eu ter me sentido um verdadeiro idiota depois da confissão de Dara, fiquei receoso; não era a minha intenção que Vegas me achasse infantil. É ótimo saber que, em momento algum, ele pensou em me julgar

Quando deixamos o carro e tomamos o elevador, a porta se fecha e, como é de se esperar, apenas nós estamos neste espaço pequeno e que, de alguma forma, é a nossa cara.

Eu não consigo não sentir o clima de despedida.

O elevador está funcionando perfeitamente hoje, e é inacreditável que, logo eu, deseje que ele pare de novo.

Não quero ter que voltar para a realidade. Não quero que o domingo chegue ao fim. Não quero que Vegas deixe de ser o meu namorado.

O oitavo andar está chegando.

Não quero que ele saia do elevador.

Vegas olha para mim.

Eu olho para ele.

A porta do elevador se abre.

╰━─━─━─≪ - ≫─━─━─━╯

Oioi meus amores, como estão?

Eai, gostaram do cap de hoje?

Estamos na reta final, faltam apenas 2 caps para acabar 😭😭

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