Estúpido Cupido! ⁿᵒᵃⁿʸ

By graywson

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【 adp. 𝗻𝗼𝗮𝗻𝘆. +💘 】 Para onde vamos quando morremos? Essa é uma pergunta que todo mundo já se fez em al... More

Prólogo - parte 1
Prólogo - parte 2
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Epílogo

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By graywson

ANY G.

Eu estava de saco cheio de tudo e isso incluía me arrumar pela manhã. Ao invés das minhas roupas formais para o trabalho, eu peguei uma calça jeans com rasgos nos joelhos, uma blusa branca e calcei chinelos. Já que eu iria lá apenas para assinar a minha carta de demissão não tinha necessidade de ir bem vestida.

Cheguei ao RH da empresa e fui direcionada para a sala de Heyoon. Quando entrei ela me olhou como se eu estivesse horrível e eu sabia que sim, eu estava.

— Oi, Yoon. — sentei na cadeira de frente para ela.

— Você está doente? Se sente bem? — pareceu preocupada.

— Não estou doente. Só vim aqui para assinar a minha carta de demissão.

— Carta de demissão? — ela pareceu não saber do que eu estava falando.

— Eu pedi demissão ao Noah ontem. Ele deveria ter avisado ao RH.

— Por que você pediu demissão?

— Porque o Noah é um idiota e eu estou no meio de uma ponte frágil entre amor e ódio por ele. Não quero mais ser a secretária dele nenhum dia a mais.

— Você até que insistiu mais que a última. — riu. — Mas isso é péssimo, no que você vai trabalhar?

— Não vou.

— Como assim? — franziu a testa.

— Não vou arrumar um novo emprego por um tempo. — e nem precisava.

— Any, eu estou começando a ficar preocupada com você. — ficou séria.

— E eu estou começando a perder a paciência aqui. — fui ríspida. — Apenas veja se o Noah enviou algo referente à minha demissão.

— Tudo bem. — começou a olhar em seu computador. — Desculpe, mas ninguém foi demitido nas últimas vinte e quatro horas. Como eu disse, ele não nos avisou sobre o seu pedido de demissão.

— Uma única vez eu queria entender a cabeça complicada daquele homem! — reclamei. — Se ele não fez isso, eu farei. Vamos, redija uma carta de demissão para mim.

— Você tem certeza? De acordo com as normas da empresa, eu sou obrigada a oferecer alguns requisitos para que você permaneça conosco, além de sugerir uma reunião com o seu supervisor, que no caso é o próprio Noah.

Respirei fundo algumas vezes, dizendo para mim mesma que não seria legal gritar com a Heyoon, pois ela só estava tentando seguir ordens.

— Nós somos melhores amigas, certo? Você pode fingir que me ofereceu todas essas bobagens e que eu não aceitei. Agora redija uma carta de demissão e eu vou assinar. — tentei ser paciente.

— Any...

— Heyoon, pela nossa amizade, não insista. — pedi.

Ela assentiu com relutância e um olhar derrotado, mas começou a preparar a carta. Assim que acabou, ela foi me explicando quais benefícios eu perderia com a quebra de contrato e quais amparos a empresa poderia me dar pós demissão. Depois ela só me disse onde eu deveria assinar e assim eu fiz.

— Vai levar um dia ou dois até que enviemos para o Noah, aí sim você estará oficialmente fora.

— Um dia ou dois!? É só um papel, não dá tanto trabalho subir até a sala da presidência e pedir uma assinatura. — falei o óbvio.

— É que existem muitas coisas mais urgentes do que demissões e estas são priorizadas.

— Quer saber? Me dá isso aqui. — peguei os papéis de volta. — Eu mesma subirei e o farei assinar.

— Caramba, você está mesmo com raiva. — ergueu as sobrancelhas.

— Você nem imagina.

[•••]

Entrei na sala de Noah a passos largos e apressados. Ele falava ao telefone, algo aparentemente importante. Fez sinal para que eu esperasse, mas eu não segui sua instrução. Bati na mesa com força, deixando a minha carta de demissão em sua frente e depois cruzei os braços o encarando.

Noah leu brevemente as primeiras palavras da carta e fez uma cara de poucos amigos.

— Desculpe, doutor Parker, tenho que resolver um assunto importante agora, depois eu ligo para conversarmos sobre tudo isso com mais calma. Até breve. — colocou o telefone no gancho. — O que é isso?

— Ficou analfabeto do nada? — fui sarcástica.

Ele olhou para mim e depois desviou os olhos novamente, soltando um longo suspiro.

— Eu não mandei redigirem a sua demissão.

— Eu sei. Precisei pedir eu mesma.

— A Heyoon seguiu todos os protocolos? O dia mal começou, ela não te apresentaria todas as nossas contestações tão rápido.

— Pode apostar que eu tive muito tempo para não aceitar nenhuma das coisas que a sua empresa oferece. — sorri de maneira irônica. — Agora, por favor, doutor Urrea... — peguei uma de suas canetas e coloquei sobre a carta. — Seja legal e deixe sua assinatura aqui para que eu possa dar o fora da sua vida.

Ele soltou outro longo suspiro e eu perdi mais três por cento de paciência.

— Você está bem, Any? — encarou-me. — Não parece bem. — ficou de pé e veio até mim. — Está pálida. — segurou meu rosto entre suas mãos e começou a olhar atentamente em meus olhos, os analisando.

— Essa sou eu sem maquiagem.

— Já te vi muitas vezes sem maquiagem e sua pele não é assim. — agora ele estava preocupado. — O que houve? Me conte. — acariciou minhas bochechas com os polegares.

Eu estava quase cedendo, me deixando afogar por aqueles olhos claros e marcantes. Eu queria que eles não brilhassem tanto como brilhavam agora e se fossem um pouco menos bonitos isso me ajudaria a ser mais firme.

Noah estava com um vinco de preocupação entre suas sobrancelhas e eu sabia que ele se importava muito comigo, mas era covarde demais para se deixar levar por aquilo. Junto a esse pensamento, eu lembrei que estava brava com ele e que tomei a decisão de desistir de tudo.

— Por favor, assine a minha carta de demissão. — pedi novamente, afastando-me de suas mãos.

— Any, você precisa trabalhar, mesmo que seja aqui. Já viu como anda a taxa de desemprego no estado? Não vai ser fácil arranjar um emprego, muito menos um tão bom quanto esse. Deixe o orgulho de lado e pense racionalmente.

Eu estava sendo racional, Noah, mas você jamais entenderia. Eu sobreviveria perfeitamente bem estando desempregada por três semanas. Era isso que eu tinha, míseras três semanas. E não perderia nenhum segundo daquele prazo trabalhando em um lugar que já não me agradava mais.

— Eu estou decidida. — fui firme.

— Olhe, me desculpe, ok? Aliás, perdão. Acho que a palavra perdão é bem mais forte e é o que eu deveria dizer. Sei que você me vê como um merda agora e isso me dói, mas eu não quero que você se prejudique só porque quer ficar longe de mim. Não estarei no seu caminho e não tornarei as coisas difíceis pra você. Eu só quero ter certeza de que você vai estar bem.

— Eu estou bem.

— Você tem certeza? Já viu a sua aparência? Você está doente?

— Eu não estou doente e você vai assinar a porra da minha demissão! — o empurrei até perto da mesa, pressionando-o contra ela. — Se me obrigar a ficar aqui, eu vou te infernizar.

Noah franziu a testa e maneou a cabeça para trás numa micro expressão de medo. Eu também fiquei surpresa com essa minha última frase, pois jamais fui capaz de estragar as coisas para alguém que claramente não queria o meu mal. O que estava havendo com o meu humor ultimamente?

— Acho que eu terei que correr esse risco. — ele disse antes de rasgar a carta de demissão em pedacinhos. — Mesmo que você não queira, eu vou cuidar de você e isso inclui não te deixar desempregada.

Abri a minha bolsa e tirei de lá o meu celular de trabalho, a chave do carro da empresa e as chaves da casa dele. Coloquei tudo sobre a mesa

— Ok, já que eu serei obrigada a ser sua secretária, não quero mais ser sua assistente pessoal. Acho que nós dois concordamos que eu vou estar bem com um emprego só.

— Hum... — pareceu pensar. — Ok, você tem razão. Mas você vai andar de metrô todos os dias? — pegou a chave do carro e me ofereceu.

— Sim. — cruzei os braços.

— E se não chegar no horário?

— Vai ter que lidar com isso ou pode me demitir. — dei de ombros.

Ele sorriu de canto e negou com a cabeça, colocando a chave de volta na mesa.

— Você tomou café da manhã? Eu posso pedir algo pra nós. — pegou o seu celular.

— Não sou eu quem deveria pedir algo para você? — dei ênfase no "você", deixando claro que eu não queria tomar café da manhã com ele.

— Você não é mais a minha assistente, esqueceu? — falou sem tirar os olhos do celular. — Você gosta de panquecas doces ou salgadas? Eu com certeza prefiro doce, mas disso você já sabe.

Me mantive em silêncio e o encarando em busca de respostas. Toda essa atenção seria ótima há alguns dias atrás, mas agora só me deixava brava e eu nem entendia o porquê.

— Vamos, se sente. — puxou uma cadeira para mim e me guiou até ela. — Você precisa mesmo de algo pra reforçar as suas energias. Estou preocupado com o seu estado.

— Eu deveria ir pra casa trocar de roupa se vou ficar aqui para trabalhar.

— Não, hoje você não vai trabalhar. Eu me viro sem uma secretária. — deu de ombros. — Apenas me deixe comprar um bom café da manhã, servi-la e ter uma conversa agradável. — ele ficou atrás de mim e começou a massagear os meus ombros. — Quero saber o que tem feito nas suas horas vagas, os filmes que assistiu, músicas novas que andou descobrindo... Só quero ouvir você falar.

A massagem estava tão boa que eu me deixei levar por aquela sensação. Fechei meus olhos e concordei com a cabeça para sabe-se-lá-o-que Noah disse. Era bom estar sendo bem cuidada por ele, apesar daquela não ser a primeira vez que isso acontecia. Era quase como se ele estivesse realmente tentando dessa vez, mas isso era o que parecia antes e eu só me enganei.

Eu continuo sendo um cupido estúpido, mas agora era um cupido estúpido com as asas guardadas e os pés no chão.

— Eu estou pensando em realizar uma confraternização para todos da empresa na semana que vem. Parece que a minha fama de chefe mal está dado lugar a algo mais positivo. Estou oficialmente me tornando o chefe legal.

— Isso é bom... — falei ainda concentrada na ótima massagem.

— A massagem ou a minha ideia? — riu.

— Você.

De repente ele suavizou suas mãos e as deslizou dos meus ombros ao meu pescoço, subindo para o meu rosto. Com delicadeza, Noah me fez olhar para cima e eu abri meus olhos, vendo aquele maldito sorriso perfeito.

— Eu quero que esteja lá comigo. — dedilhou meu lábio inferior. — Ao meu lado.

Não sei se o que estava me hipnotizando era sua voz, sua beleza ou o seu toque, mas eu estava totalmente inerte em Noah. Só notei que ele se aproximava quando sua respiração tocou a minha boca e eu me dei conta de que estávamos a poucos centímetros de um beijo. Foi quando alguma coisa deu um clique na minha cabeça e eu fiquei imediatamente de pé.

— Eu acho que vou dispensar o café da manhã. — sem esperar resposta, caminhei em direção à porta, mas tive meu braço segurado.

— Vai fugir só porque eu tentei beijar você? — além de desapontado ele demonstrou estar ofendido.

— Eu finalizei a nossa história ontem e agradeceria se você não ficasse tentando me confundir como está fazendo agora. Sei que mesmo correndo atrás de mim você vai demorar séculos pra realmente estar comigo.

— Eu não vo...

— Eu estava falando sério quando disse que não confio em você.

Noah largou o meu braço e assentiu devagar.

— E já que eu tenho o dia de folga, até amanhã, doutor Urrea. — dei as costas e saí de sua sala.

[•••]

NOAH U.

Nos dois dias seguintes Any fez o possível para ser uma péssima funcionária. Ela não chegava no horário, atrasava na resolução de suas tarefas e me tratava com rispidez sempre que falava comigo, além de ir embora antes de mim, o que era algo que secretárias geralmente não faziam.

Tentei ser sempre gentil, dizer sim para tudo o que ela queria, mostrei o meu interesse sobre o dia dela e sua vida pessoal, além de deixar sempre um presente, seja uma flor ou algum doce em sua mesa quando eu chegava pela manhã. Apesar dos meus esforços, eu não conseguia ir mais além do que isso pois Any era eficiente em me expelir sempre que eu me aproximava.

Como o aniversário dela seria na sexta, eu resolvi que iria presentea-la. Eu sabia que era seu aniversário por causa de sua ficha, até porque ela nunca me disse quando nasceu. Eu sabia que ela adorava coisas vintage e lembrei que minha avó guardava muitas relíquias em seu sótão. Talvez aquelas coisas me dessem alguma ideia original para o presente.

Na quinta, saí da empresa direto para a casa dela.

— Confesso que achava estranho essa mania que a senhora tinha de guardar tudo, mas agora dá pra entender. — eu disse enquanto puxava a escada que dava para o sótão. — É bom quando as lembranças são físicas.

— Eu disse que eu estava certa sobre isso. — sorriu. — Eu tenho certeza que você vai encontrar algo que agrade a Any. — falou convicta.

Subi as escadas e comecei a abrir as caixas antigas. Me distraí um pouco com coisas da minha infância e da infância do meu pai. Brinquedos antigos de diversos tipos, alguns precisando de uma restauração, outros em ótimo estado.

Uma das caixas mais antigas me chamou a atenção. Nela estava escrito "Lia e Lil". Eu sabia que era sobre a melhor amiga da minha avó, a mulher curiosamente idêntica à minha Any.

Quando abri, encontrei alguns discos antigos todos com os nomes das duas assinados nas capas, indicando que pertenciam à elas.

Achei dois colares idênticos com pingentes de girassol que deduzi serem colares da amizade.

Um álbum de fotos com a inicial das duas foi o que mais me chamou a atenção. Ao abrir, vi uma coletânea de fotos organizadas pelo período de tempo. Nas primeiras as duas eram crianças pequenas, depois pré adolescentes, adolescentes e enfim adultas. Em todas elas pareciam estar se divertindo. Sempre tiravam fotos se abraçando ou beijando a bochecha uma da outra. Na última, elas estavam abraçadas atrás de uma mesa com um bolo enorme. Atrás havia uma faixa parabenizando os meus avós pelos seis anos de casados.

Aquela foto era estranha porque Lil não parecia tão animada quanto minha avó estava. Na verdade, era o mesmo sorriso triste que a minha Any me lançava quando queria mascarar suas más emoções. Agora o jeito como elas eram parecidas estava começando a me assustar.

Vasculhando em outros álbuns, eu encontrei uma foto do baile de formatura dos meus avós. Nelas estavam os dois, Lil e o cara que era provavelmente o seu par. Ela usava um vestido vermelho bufante e estava com um sorriso radiante, mais feliz do que em qualquer outra foto que eu vi. No verso, estava anotado "Amelia, Nathan, Any e John. Baile de formatura, 1968."

Encontrei uma foto do aniversário de 20 anos da Ny, onde ela soprava as velas em um bolo. Atrás havia uma data e eu congelei ao notar que era no dia seguinte... assim como a minha Any.

Imediatamente eu fiquei de pé, peguei todas aquelas fotos e saí do sótão.

Encontrei minha avó tomando chá na sala de estar.

— Encontrou algo interessante, querido? — sorriu docemente.

— Sim. A gente precisa conversar.

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