Jujutsu Kaisen - Inadequada

By adri_bertolin

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Uma ômega incomum reencontra um alfa desajustado. More

O alfa perfeito
Decadencia
Deixar ir
Quebra
Minha
Lar
Guia

Biscoitos de limão

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By adri_bertolin

Passaram-se semanas antes que ele estivesse estressado e entediado ao ponto de procurar por um entretenimento diferente do habitual.

Ele renuiu algumas informações antes de agendar uma reserva no estabelecimento. A ômega era uma rejeitada, do tipo que foi marcada e abandonada por quem a reivindicou inicialmente. Alguém que não podia ter outro alfa porque ainda estava ligada ao seu primeiro, mas que suportava esse fato como se o vínculo não existisse.

Ela era independente e poderosa, do tipo boa bastante para ser um destaque imenso naquilo que fazia. Não precisava de ninguém e gostava de brincar com que se acha superior.

Uma perspectiva cativante para alguém que se acha superior à tudo.

O restaurante em si já exalava seu olhar divergente desde o momento em que ele passou pela porta. Havia um aspecto de universo infinito em suas cores, móveis e música de fundo. Algo profundo, intenso, cativante e estranhamente muito confortável.

A recepcionista o levou até uma mesa isolada que lhe proporcionava uma visão geral do grande salão. Discreta o bastante para clientes importantes e negociações privadas.

O garçom que o atendeu anotou seu pedido de bebida, algo caro, frustrado e adocicado. Mas além disso lhe surpreendeu com uma oferta incomum. Perspectiva. Seu melhor chefe se prepunha a impressiona-lo com uma suposta excelente combinação para sua escolha.

Entendendo isso como um sinal de interesse por parte da ômega, ele concordou.

Não esperava muito, sinceramente.

O que lhe foi servido, no entanto, era digno do paladar de uma divindade. Havia a crocancia picante que lhe lembrava de dias quentes no verão, a cremosidade do conforto de um cobertor no inverno e a delicadeza sutil de um manhã de primavera.

...

Ele estava vendo estações do ano em um prato na qual nem mesmo sabia o que exatamente era a comida?

Sua língua estalou no céu da boca em uma desaprovação divertida. Gojo não se lembrava de quando uma sensação tão tola havia o tomado pela última vez.

Talvez considerasse voltar, independente de interesses carnais envolvidos ou não.

- Meus cumprimentos ao chefe. – Ele comentou casualmente quando seus talheres foram retirados, ao que a beta encarregada de tal tarefa apenas respondeu com um sorriso conhecedor.

O alfa estava começando a saborear a taça recém servida da garrafa bem escolhida quando sentiu aquele cheiro de limão e sol no ar. Muito menos escandaloso do que estava no corpo de Geto, muito mais certo vindo da fonte pura.

Ele se permitiu farejar em busca da ômega, vagando com seus olhos propositalmente expostos nos óculos escuros e deixando que seu próprio aroma se espalhasse.

O que ele viu não era exatamente o que esperava. A mulher em uma blusa vermelha elegante, calças sociais e salto alto não era o problema. Seu cabelo curto levemente cacheado ou maquiagem leve também não. Ela se portava como um alfa, assim como o combinado.

A expressão era a falha. Ômegas tendem a não demonstrar horror quando são alvos de sua atenção.

A tal Uyara segurava o próprio pescoço como se estivesse com dor, talvez seu alfa ainda fosse um incômodo quando ela estava diante de presenças superiores.

- Satoru? Porra...

A ômega puxou a gola da própria blusa, como se estivesse sufocando. A marca de reivindicação estava lá, roxa pulsante, de forma que parecia até uma ferida infeccionada.

Seu corpo se paralisou, não respondendo muito bem a carga de feromônios negativos e não querendo machucar a mulher com a força com que sabia que daria sua resposta.

Ela o conhecia? Bem, isso não era exatamente uma surpresa. Embora achasse que se lembraria de ter se envolvido com alguém assim.

A tal Uyara se recompôs cravando as próprias unhas na marca incômoda e a fazendo sangrar para interromper o fluxo de sensações que a atordoavam. Seu alfa suspirou surpreso enquanto o ômega dela choramingava incomodado.

A beta de antes apareceu como se houvesse sido convocada, ou como se já esperasse uma reação assim. Ela trouxe consigo uma toalha preta macia e uma dose generosa de algum whisky do estabelecimento, na qual a superior aceitou com gratidão e bebeu de uma única vez enquanto usava o tecido felpudo para estancar o machucado.

- Auto agressão não era exatamente o comportamento novo que eu esperava encontrar vindo aqui. – Ele comentou com um tom provocativo, o que arrancou um sorriso dela.

- E eu não estava esperando que o alfa gostoso exalando perigo que me prometeram fosse fazer essa coisa acordar. – Seus ombros se ergueram em um gesto de descaso, mas seu corpo bonito se moveu para se sentar a sua frente, uma provável coragem induzida pelo álcool. – Já faz tempo que não o vejo, você conseguiu continuar com a mesma cara de idiota.

Seu cenho se franziu automaticamente, mas não conseguiu se sentir ofendido, por mais que não compreendesse o sentido por trás do comentário. Ela parecia estar muito ciente de que sua companhia não era algo simplesmente esquecível, porém tinha certeza que nunca havia se deitado com nenhuma outra ômega que possuísse aquele cheiro e aquela atitude além de...

Oh.

- Você mudou o seu nome! – Ele apontou acusadoramente com um rosnado e postura agressiva que não lhe rendeu mais do que um erguer de sobrancelhas.

- E você deveria ser o meu jantar de hoje, não um vínculo se intrometendo nos meus negócios! – Sobre aquela expressão despreocupada e arrogante no rosto dela, ele tinha certeza que era um reflexo seu de quando estava se divertindo.

- Eu não estou me intrometendo! Eu nem sabia que você estava no país, ou pelo menos viva! – Ele soou frustrado, sentia seu interior se remexendo em raiva e só piorava com a indiferença que ela estava demonstrando.

A mulher o analisava, mas além de sua repulsa inicial não parecia ter muito o que dizer sobre seu amigo ter reaparecido em sua vida. Ao menos seus olhos brilhavam, era a única coisa que lhe trazia a certeza de era bem vindo.

- Não por sua causa, pode ter certeza. – Sua voz não continha remorso ou qualquer coisa semelhante, o suficiente para saber que ela não o culpava.

Um milhão de cenários diferentes sobre como ela chegou até ali surgiram em sua mente, passando aceleradamente conforme a mulher buscava o próprio celular e digitava uma mensagem rápida para alguém. Ele viu aqueles lábios carnudos se curvando em uma linguagem predatória e não pode deixar de se perguntar o que diabos o mundo havia feito com ela.

Não que estivesse muito além de uma imagem amadurecida da ômega que foi sua parceira, mas, de alguma forma, ela não parecia a mesma. Era estupidez achar que ao se encontrarem toda aquela conexão voltaria, porém, saber disso não tornava o agora menos frustrante.

Aquela marca ainda era a sua, não era? Como isso podia ser possível?

- O que aconteceu com você? – Cada palavra veio arrastada com um misto de dor e vontade de se deitar na frente dela, com a barriga para cima para ser acariciado como um bom menino.

- Eu esfaqueei o assassino que a sua família mandou para me quebrar e ele ficou tão impressionado que me protegeu. – Uyara falou do mesmo jeito que falaria sobre o clima, sem nenhum indicio de uma adolescente frágil que foi arrancada de sua estabilidade e jogada para ser morta por qualquer alfa que se prestasse a fazer o serviço. – Depois que me recuperei o bastante e aprendi a lidar com o vinculo solitário, meu novo amigo me emprestou uma boa quantia em dinheiro e me mandou para fora do país para encontrar uma forma de crescer sem as merdas daqui. – Ela olhou ao redor com carinho. – Eu gostei do que vi e fiz, mas aqui é minha casa e sempre soube que ia voltar.

Satoru sabia que aquilo era como um relatório, como se a posição dele tornasse obrigatório uma justificativa em relação à sua vida e Kioku encontrasse prazer em fazer disso uma piada.

Ele não estava esperando a onda de possessividade que isso lhe trouxe, como se ela estar envolvida com algum tipo de macho perigoso fosse uma ofensa pessoal e fosse um direito seu exigir exclusividade para destroçar cada um que tenha ousado tocar nela. Não melhorava muito o seu humor lembrar-se de como exatamente sua presença tornou-se conhecida.

Deveria ter sido ele a salva-la, não a pena de seu executor.

Seu monstro interior era uma fera terrível e egoísta, mas essa não era uma característica da qual ela não se lembraria.

- Parece que você saiu bem... – Foi o que ele conseguiu responder, com uma birra infantil que fez a ômega rir.

- Não tão bem quanto você. O restaurante é mais seu e do Sugu-kun, afinal. – O corpo da mulher estava relaxado em uma posição que exalava poder, exatamente como havia a ensinado.

- “Sugu-kun”? – Sua mão se tencionou automaticamente por puro instinto. Não sentia o seu alfa tão ativo a tanto tempo que isso chegava a ser um incômodo.

- Um alfa alto, com cabelos negros compridos e depravação interior escondida por um sorriso doce, tenho certeza que conhece. – A forma com que ela disse isso, com a luxúria de memórias despertadas contaminando até o seu cheiro, aquilo o fez ver vermelho.

Ele não percebeu o que estava fazendo. Ou talvez tivesse percebido e apenas não se importasse porque a garota que conhecia jamais teria criticado seu comportamento inconveniente e personalidade horrível.

Gojo avançou. Literalmente. Colocando-se de pé e curvando-se na direção dela com um rosnado de comando exigindo submissão que teria colocado a maior parte dos alfas de joelhos.

Mas isso não teria o mesmo efeito sobre ela, sabia que não, era a porra do motivo que os tornou amigos em primeiro lugar.

Satoru sentiu o odor de medo da sua ômega paralisando sua violência por um instante, por um único segundo. Um truque fácil. O suficiente para reverter a expectava inicial e ouvir um barulho de ossos se quebrando antes de registrar a dor.

Um deus como ele não estava acostumado a algo assim, à sensações mundanas que lhe traziam vida. Mal se lembrava de como era ter alguém tão fodidamente próximo de seu patamar que era capaz de surpreende-lo superando-o repentinamente como apenas ela fazia.

- Oh, ele morde. – A voz dela veio próxima ao seu ouvido, com um sussurro provocador. – Não se empolgue tão rápido, Satoru, ou eu vou me empolgar também.

A risada que saiu do fundo de sua garganta foi o som mais sincero que produziu em anos. Seu corpo tremeu e seus feromônios exalaram excitação, o que pela indicação do aroma dela era recíproco, apesar do cheiro de sangue e do incômodo nariz quebrado.

Porém, repentinamente, ela se afastou, grunhindo como se a ferida fosse nela. A mão áspera soltou seus cabelos como se eles queimassem e a mulher se jogou de volta na cadeira ofegante como se houvesse feito muito esforço. A marca estava inchada de modo doentio outra vez, tendo sua tentativa anterior de contenção muito bem invalidada.

Gojo se levantou um pouco para olhar. Ela estava uma bagunça, era adorável.

- Seu ômega interior está exigindo que seja uma boa menina? – O sorriso cafajeste que ofereceu teria a tornado ainda mais bem humorada se não estivesse tão perturbada.

Uyara acenou em concordância, escondendo o rosto com as mãos e resmungando para si mesma por aqueles instintos estúpidos.

- Ele quer se ajoelhar e implorar para que você me aceite de volta. – A ideia a horrorizava de tal forma que lhe rendeu um arrepio capaz de estremecer seu corpo. – Aparentemente o processo de humilhação exige boas maneiras que eu não tenho.

- Eu nunca teria me aproximado de você se fosse a ômega boazinha que os outros idealizavam para ser minha esposa.

Sua mão buscou pelo nariz machucado e o torceu de volta para o lugar, fazendo um barulho tão prazeroso quanto aquele do momento em que quebrou. Cofiando em seu próprio bom sistema imunológico para terminar de cura-lo.

- Essa parte de mim acredita que se eu fosse, nunca teríamos nos separado. – Os olhos muito escuros estavam baixos, com uma melancolia que não era exatamente dela.

- Claro que não, já que nunca teríamos ficados juntos. - Isso trouxe boas risadas a ambos. - E no pior dos cenários, seríamos mais infelizes do que fomos até agora. – Ele esticou a mão, procurando pela dela. Uma atitude de conforto que nenhuma outra pessoa conseguia despertar.

- É verdade. – Ela o olhou de volta, aceitando sua mão.

Foi quando o celular dela escolheu tocar. O que teria sido prontamente ignorado, se o nome na tela não houvesse chamado mais atenção do que seu alfa recém reaparecido era capaz de fazer.

Seu interesse apareceu com força, desligando o ômega desesperado e a tirando rapidamente do foco. Ainda assim, ela o procurou pedindo permissão para atender.

- Eu vou dar alguns segundos para você perceber o que está fazendo antes que comece a reverenciar. – Satoru comentou, se afastando para encostar no acolchoado de seu acento, com uma expressão que não escondia sua vontade de rir dos instintos dela.

A mulher franziu o cenho, muito ciente de que estava se rendendo aos impulsos estranhos de seu lobo interior novamente. Lhe causou um bufo divertido quando ela se virou irritada e o dispensou com um dedo do meio enquanto atendia ao telefone.

Qualquer um que passasse tempo o suficiente com o Gojo provavelmente o ouviria convicto sobre sua própria força e capacidades inigualáveis, mas, na ausência de uma plateia, se destaca apenas que nenhuma de suas palavras eram um exagero. Sua arrogância é pura e simplesmente fundamentada na verdade.

Baseando-se nisso, não foi um desafio para sua ótima audição escutar o que estava sendo dito do outro lado.

“Sua graça dignaria um pouco de atenção para não me deixar esperando aqui fora, filha da puta?”

Uma das sobrancelhas muito brancas e perfeitamente desenhadas do alfa se ergueu impressionada. Não pela óbvia falta de amor a própria vida que vinha daquela voz, mas pela tranquilidade com que a ômega reagiu a ela. Um sorriso suave se espalhou por seu rosto e até seus feromônios mudaram para uma canção carinhosa.

- Por que eu deveria? Os seguranças se impressionaram com a sua cara de cachorro sarnento e não te deixaram entrar? – Ela respondeu, com uma preocupação fingida que espantaria a qualquer um que não a conhecesse.

Resmungos vieram do outro lado e isso a fez rir.

“Eu só quero me poupar a dor de cabeça do seu alfa me ver por aqui.”

Se antes aquela pessoa já tinha a sua atenção, agora ele tinha toda a sua disposição de perturba-lo diante de seus olhos. Aliás, era exatamente isso que Satoru ia fazer em seguida, já estava com o impulso necessário para se erguer e dar uma resposta audível, porém cinco palavras o detiveram.

- Eu não tenho nenhum alfa. – Uyara falou como se esse fosse um tópico exaustivo, mas não parecia irritada. Suas costas estavam voltadas para aquele que um dia foi o seu companheiro e ela não demonstrou a mínima tensão ou receio com sua presença. – Não vou demorar, menos estresse por favor.

Seja lá quem fosse, foi desligado em seguida. Estava curioso com como não lhe parecia ser alguém estranho, mas o albino não foi capaz de associar a quem era em seu presente estado de inquietação.

Engraçado como aquela indiferença atual doeu mais poderia conceber.

Seus lábios gordos lhe direcionaram um sorriso quando seus olhos negros voltaram a contempla-lo. Diferentemente do alfa, que poderia se descrever como muito confuso, ela parecia estável agora. Imperturbável. Satoru não estava acostumado que alguém o olhasse de cima, mas não conseguia dizer que o que ela estava fazendo era algo além disso.

- Você parece ter negócios a tratar... – Ele se viu dizendo, seu corpo se retraindo involuntariamente, como se estivesse tentando se proteger. Seu lobo interior estava atordoado, amedrontado por aquela onda de sensações que não entendia.

- Eu tenho, de fato. – Não podia deixar de pensar que a mulher esperava que fizesse alguma coisa e realmente houve um tempo que poderia ter dito facilmente o que era, já haviam sido como duas metades de um todo, entretanto, agora parecia que aquele tempo não passava de uma invenção distante. – Mas suponho que poderia ficar, se você me pedisse.

Isso, ao menos, o Gojo entendeu um pouco mais pelas entrelinhas. Não havia a mínima ideia do que aquela mordida causava à ômega, porém ainda havia essa possibilidade de que fosse parcialmente funcional e que suas ordens seriam irrecusáveis para um vinculo tão ferido. Não que os alfas normalmente não conseguissem causar um efeito parecido utilizando a voz naqueles semelhantes a ela, a diferença estava no fato de que Uyara poderia lutar contra o comando de qualquer um que se impusesse a ela, menos o dele, porque em teoria ainda era como uma extensão de seu próprio corpo.

Ele fez um gesto de dispensa, como se não se importasse, e lhe deu o melhor de sua expressão zombeteira, com um esticar de lábios grandioso que deixou seus caninos afiados bem a mostra, mesmo que essa ultima parte não tenha sido proposital. Nem havia percebido o momento em que suas presas desceram.

- Não vou a lugar nenhum.

O que, é claro, ela não possuía nenhuma razão para acreditar. Embora, por qualquer que fosse o motivo, Kioku resolveu deixar isso de lado e assentiu como se confiasse nele para cumprir a simples promessa. Como se ele ainda fosse confiável para se depositar a mínima quantia de fé, mesmo depois de tudo.

Seu cheiro mostrou alegria por um segundo, tão breve que não teria notado se não fosse, bem... Gojo Satoru... e se uma fornalha de biscoitos de limão não fosse até hoje o que procurava quando precisava de um pouco de felicidade. Sinceramente, ele não queria saber como respondeu para ela nesse tempo todo com seu próprio aroma, mas podia sentir uma pitada de chocolate amargo em algum lugar.

O alfa cheirava como chocolate quente e inverno, como uma bebida açucarada para um senhor caralho em contraste com a eminência de uma avalanche. Não era incomum que despencasse a temperatura de um lugar se estivesse de mal humor, mas também já haviam lhe dito que, se houvesse a sorte de presenciarem seu estado de espirito mais acolhedor, encontrariam o calor de uma lareira quentinha, um leve cheiro de madeira queimada e chocolate quente do tipo amargo. Que fosse unicamente pelo fato de que amargo era como Uyara preferia, apenas os dois sabiam.

Ainda estava pensando em biscoitinhos com chocolate quente quando a viu fisicamente se movendo para longe.

A viu buscando algo de dentro da cozinha e indo para a porta da frente. Ele teria imaginado que toda a ocorrência se tratava de algo mais importante que uma entrega de torta, mas supunha que podia compartilhar do anseio por aquelas tortas de limão tal qual seu atual pseudo inimigo parecia fazer. Ah sim, o estranho se encaixava nessa categoria por enquanto. Satoru tinha essa tendência a ser particularmente rancoroso as vezes.

Curioso era que não conseguia identificar a presença de quem estava parado lá fora. O mundo para si era um grande emaranhado de estímulos sensoriais que o enlouqueceriam se não fosse capaz de se adaptar. Porém, nunca deixou de conseguir acompanhar e poderia dizer sem dificuldades, se quisesse, onde estava cada pessoa no prédio e nas ruas mais próximas, bem como quais eram os seus gêneros secundários, quais eram as suas variações de humor e à que cheiravam. Um talento horroroso se lhe perguntassem, mas muito útil no seu ramo. Entretanto, o ponto era que sabia dizer que havia alguém lá interagindo com a ômega, mas não conseguia perceber nada sobre a pessoa.

Engraçado, até parecia como...

A porta se abriu de novo, permitindo um rápido deslumbre do corpo alto de um alfa distinto com cabelos pretos e olhos verdes. Alguém que havia lhe se tornado muito familiar nos últimos anos, mas que de alguma forma não conseguia associar muito bem a existência em conjunto daqueles dois.

A memoria de quem havia sido a ponte entre Uyara e Suguru apareceu como uma mancha toxica em sua mente. Indo além disso, a mulher havia mencionado brevemente sobre como aquele que deveria tê-la matado ter sido o mesmo que a salvou e o Gojo não era ignorante à que tipo de serviço Fushiguro Toji prestava, muito pelo contrario, era exatamente por isso que havia o procurado em primeiro lugar. O que lhe revelava um fato que arrepiou seu corpo em violência e fúria no momento que percebeu.

Toji sabia.

A porra desse tempo todo, ele sabia.

Por que mais se referiria ao suposto alfa de Kioku justo agora, se não soubesse exatamente quem era a única pessoa que poderia levar esse titulo?

O sabor de sangue inundou sua boca, prova de que estava descontando seu impulso de alguma forma.

Só a hipótese de que alguém tão próximo poderia tê-la devolvido e não a fez intencionalmente, assim como a escondeu, era uma justificativa boa o suficiente para dispensar toda a sua contenção e agir com a exata indignação que seu lobo exigia que fizesse. Só uma coisa o impediu.

“Eu não tenho nenhum alfa.”

Porque essa era a verdade, afinal. Seu assassino particular era um idiota frio, cruel e sádico, mas apenas para o trabalho. Ele era pai orgulhoso, muito perdido sobre isso e particularmente terrível, porém ninguém poderia dizer que ele não tentava. Era um lobo solitário que faria qualquer coisa pelo bando que conseguiu, alguém que ficou tão destruído pela perda daquela que foi sua ômega que foi preciso uma força inigualável para traze-lo de volta.

Satoru conseguia ver agora, o que foi a força inigualável.

E, mesmo assim, sabia que o homem o respeitava o suficiente para não deixa-lo abandonado na mesma dor. Que confiava o suficiente em si para saber que traria aquela ômega de volta para ele se pudesse. O que significava que só uma coisa poderia tê-lo impedido de fazer o mesmo favor por si nessa situação em que se encontravam.

Esse não era o desejo de Uyara.

A hiperconsciencia disso o fez perder o folego, muito literalmente. Não conseguia respirar.

Nem havia percebido isso na forma com que todos os seus sentido se direcionaram para esse sensação, não até a sua visão começou a escurecer e seu coração bateu tão forte que começou a doer em seu peito.

Seu corpo tremeu quando percebeu essas coisas. Parecia que estava morrendo e podia dizer com certeza que não estava deixando nada disso transparecer por fora, esse era outro de seus talentos. Podia colocar um escudo que escondia tudo sobre quem era, desde de sua presença até seu cheiro, ficando imperceptível também, quase como intocável, ou como se estivesse em uma overdose de supressores.

O tempo se distorcia ao seu redor. Se passando mais lentamente.

Não era uma novidade que as pessoas escolhessem se afastar eventualmente. Usava esse fato como uma piada e francamente não se importava, já havia se acostumado ao ponto de que as vezes se surpreendia contemplando aqueles que ficaram. Só havia uma grande constante que o acompanhou desde a infância, sua companheira era sua grande exceção...

Acreditava que era o mesmo para ela, mas todas as palavras que saíram da boca da ômega se repetiam em sua mente e estava mais do que óbvio de que ela sabia onde ele estava, mas também escolheu não procura-lo.

Não conseguia respirar.

Quando Uyara voltou, o grande e incrível Gojo Satoru não estava mais lá.

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