[Narrador]:
Na segunda-feira pela manhã, Mackenzie foi uma das primeiras a chegar na sala de aula, algo que, definitivamente, não era o seu normal. Porém, havia combinado com Erin, então lá estava ela, bocejando enquanto caminhava até as carteiras do fundo.
- Agora que está sóbria, pode começar a contar como aquele rolê aleatório aconteceu - Mackenzie exigiu, jogando a sua mochila no chão ao lado da sua cadeira.
Erin não a culpava, a enrolou durante o final de semana inteiro, com o argumento de que contando pessoalmente seria melhor. No fundo, Mac preferia assim também. Conversar por mensagens não teria a mesma emoção.
- Então, naquele dia, eu e Tiffany acabamos conversando e rindo demais... - Erin começou a explicar vagamente - A Karina estava junto, mas ela é uma chata, então saiu e nos deixou sozinhas, e aí nós pulamos na piscina quando uns garotos do time de futebol estavam fazendo o mesmo - Ela gesticulava, enquanto Mac tentava acompanhar a história - Quando entramos de novo na casa, foi como um acordo silencioso para que ninguém nos ver e quando eu menos imaginei, estávamos nos beijando - Deu de ombros - Foi meio que inevitável...
- Só isso? - Mackenzie comentou um pouquinho decepcionada - E depois? Eu quero saber o que aconteceu depois! Porque a Ka... - Se corrigiu - Porque eu te vi agarrada com ela, quase não se separaram. Esse papinho de "ninguém nos ver" foi um pouco de ralo. Literalmente, todo mundo viu.
- Não me importo então - Erin deu de ombros - Mas você acredita que eu pisquei e estava em casa? - Perguntou como se fosse a coisa mais impressionante do universo, mudando o foco da conversa - Em um minuto eu estava lá, beijando ela e no outro, estava na minha caminha. Foi tão louco!
- Claro, idiota - Mac respondeu, revirando os olhos - Eu te levei para casa.
- E por falar nisso, onde você se enfiou naquele dia? - Erin questionou desconfiada - Sumiu sem avisar como se eu não fosse uma mãe preocupada!
- Não fuja da minha pergunta - Mackenzie rebateu - Eu não esqueci, eu quero saber o que aconteceu depois! - Exigiu curiosa. Na verdade, ela torcia para que Tiffany ficasse tão interessada em sua amiga que esquecesse da merda do acordo delas.
- O "depois" - Erin fez aspas com as mãos - Não existe. Chegamos a trocar nossos números, mas a única mensagem que ela me mandou foi perguntando pelo seu número... - Disse, a olhando como se tivesse acabado de pensar em algo - Peraí! - Fez uma pausa dramática - Não me diga que você também ficou com ela?!
- O QUÊ?! - Mac exclamou surpresa - Ficou maluca, porra?!
- Então, por que ela queria o seu número? - Erin questionou ainda mais desconfiada - Parando para analisar agora, isso foi bem aleatório - Divagou, enquanto pensava.
- Porque a insuportável da Karina queria terminar aquele maldito exercício de física que é para entregar hoje - Respondeu, omitindo todas as partes importantes - Então ela queria me mandar mensagem para terminarmos essa merda na casa dela.
- ESPERA! - Erin falou mais alto, de repente - O EXERCÍCIO DE FÍSICA ERA PARA HOJE? - Perguntou retoricamente, batendo em sua própria testa. Ela parou no lugar parecendo ter ignorado algo muito importante - PERA, PERA, PERA... VOCÊ FOI PARA A CASA DOS BRANDMANS?! - Disse surpresa e desacreditada.
- Acho que o colégio inteiro está sabendo disso agora - Mackenzie resmungou - Fala mais baixo, idiota. Não quero que ninguém saiba que dividi o mesmo ambiente que a presidente, mancha a minha imagem.
- Nossa... Estou me sentindo naquele filme segunda-feira muito louca - Erin disse, a olhando como uma expressão engraçada.
- Não seria, sexta-feira muito louca? - Mac corrigiu retoricamente.
Ela realmente sentia pena da senhora Tieng por ter carregado aquela garota 9 meses na barriga e nascer sem cérebro daquela forma.
- Você entendeu - Erin resmungou, revirando os olhos - Agora, me conta... Como é lá? É tão grande por dentro, quanto é por fora?!
- Pior que é... - Mackenzie concordou - Acredita que eles tem um campo de futebol no quintal?!
- O QUÊ?! Malditos Brandman's! - A chinesa exclamou ainda mais surpresa - Eles são realmente podres de ricos!
- Você nem imagina...
A conversa foi interrompida quando a sala começou a ser preenchida pelos alunos, indicando que o professor havia chegado.
Karina passou pela porta, sem sequer olhar em direção a Mackenzie, sentando-se em sua cadeira em completo silêncio. Diferente de sua gêmea, Henry lhe ofereceu um aceno de cabeça em forma de cumprimento, em seus lábios existia um sorriso sem mostrar os dentes.
Já Tiffany olhou disfarçadamente para Erin antes de se sentar na carteira atrás da presidente. Porém, a chinesa estava desesperada demais ao ver o professor de física para notar os olhares da outra garota sobre si.
- Puta merda! - Erin exclamou - Mac, me dá suas respostas de física! Me empresta o seu caderno!
- Era para hoje?! - Um dos garotos do time de futebol perguntou - Como assim?!
O desespero dos dois pareceu desencadear o desespero do restante da turma que possuíam o costume de esquecer de fazer as tarefas — os membros do Grêmio Estudantil eram, obviamente, exceção. Mackenzie acabou rindo pois, pela primeira vez na história do universo, fez uma atividade antes do prazo de entrega.
O professor apenas recebeu os exercícios e não deu margem para nenhum tipo de cola. No restante da manhã, as duas primeiras aulas se arrastaram de maneira chata e tediosa. Nada fora do normal.
Quando o sinal bateu indicando o almoço, Karina saiu rapidamente da sala. Mackenzie sentia como se a garota estivesse a evitando novamente. Mas, ela pouco se importava. Em alguns momentos, realmente cogitava a possibilidade da presidente do grêmio estudantil ser bipolar.
No refeitório, Erin e Mackenzie foram recebidas com o barulho dos burburinhos das conversas paralelas no lugar.
Sentaram-se em uma das mesas, Mac disfarçadamente olhava para a mesa dos membros do grêmio estudantil. Quando o seu olhar cruzou com o de Karina, a presidente fez questão de quebrar o contato visual rapidamente.
Tiffany, por outro lado, que passava pelo enorme corredor para sentar-se na mesa dos alunos do grêmio, parou ao lado de Mackenzie. Sequer ousou olhar para Erin outra vez.
- Bom dia, Coyle - Disse formalmente - E bom para você também, Tieng - Um pouco a contragosto e com um tom desanimado, cumprimentou a outra garota sem fazer contato visual.
Erin a encarou como se ela fosse um ser de outro mundo. A chinesa sabia que o beijo das duas ou a noite divertida que tiveram na festa, não mudaria o que elas eram antes disso. Então, preferiu não fizer nada, bebendo o seu refrigerante.
- Algum problema? - Mackenzie perguntou confusa quando a vice-presidente não disse mais nada por longos segundos.
- Eu preciso querer alguma coisa? - Tiffany rebateu, com um sorriso na voz.
- Sim?! - Mac respondeu como se fosse óbvio - Se puder falar logo, eu agradeço - Disse impaciente.
- Podemos conversar depois? - Era uma pergunta, mas soou como uma ordem.
Erin tinha uma enorme interrogação em sua testa, enquanto observava a conversa entre as duas garotas.
- Como se eu tivesse escolha... - Mackenzie resmungou.
A chinesa limpou a garganta, encarando sua amiga. Seu olhar denunciava que ela estava confusa com aquele assunto. Mackenzie havia esquecido totalmente de mencionar o acordo que fez com a vice-presidente. Então, a olhou como quem diz "depois eu te conto".
- Certo, então - Tiffany disse por fim, antes de se afastar para sentar com seus amigos. Mackenzie não percebeu, mas os olhos de Karina também estavam atentos para a interação entre elas.
- Agora vocês são amigas ou o quê...? - Karina perguntou curiosa quando sua amiga sentou-se ao seu lado.
- Nem de longe - Tiffany riu com a possibilidade - E vocês? Nunca te vi chamar ninguém além de mim para a sua casa.
- Isso não é verdade - KJ tentou negar, mas após analisar por alguns segundos, era realmente um fato - Mas não era como se eu quisesse, eu só queria terminar o exercício de física, não iria fazer sozinha para que ela levasse o crédito sem ter feito nada - Explicou, dando de ombros.
Tiffany a olhou desconfiada por alguns segundos, mas aceitando a desculpa que sua amiga lhe deu. Afinal, ela sabia que a presidente sempre se preocupava muito com suas notas escolares impecáveis.
- Mas vem cá... E o que foi aquilo entre você e a amiga da delinquente? - Karina perguntou sorrindo sugestiva, demonstrando todo o seu interesse no assunto - Não imaginei que ela seria o seu tipo de garota.
- Não foi nada demais e nem vai se repetir - Tiffany respondeu - Ela nem mesmo faz o meu tipo se quer saber. Tão babaca quanto a amiga...
- Tem alguma coisa que você esqueceu de me falar? - KJ questionou confusa.
- Não, mas continua sendo uma babaca - Disse, olhando para as duas garotas que passavam em direção a saída do refeitório - Eu vou ao banheiro, já volto - Karina limitou-se apenas a concordar com a cabeça.
Mackenzie e Erin caminhavam, enquanto conversavam sobre as pessoas que a chinesa havia ficado aquela noite, antes da vice-presidente. Algumas delas, deixou até mesmo Mac surpresa.
- Coyle! - Ouviram a voz atrás delas, chamando a atenção de ambas as garotas.
- Eu? - Mackenzie perguntou confusa ao observar Tiffany se aproximar apressadamente.
- Podemos conversar agora? - Questionou. Ela agia como se Erin não estivesse ali.
- Vai lá, te vejo na sala - Erin informou, as deixando sozinha. Sabia que de alguma forma ou de outra, Mackenzie lhe contaria sobre o que se tratava depois.
Tiffany arrastou Mackenzie até a sala do grêmio estudantil, fechando a porta atrás de si, para que ninguém as visse conversando.
- O que você quer, porra? - Mac perguntou impaciente - Matou alguém e vai me contar? Pra quê isso tudo? Tem meu número poderia ter mandado mensagem, sei lá.
- Só queria dizer que encaminhei o seu boletim dessa semana para o diretor e como combinado, te avaliei positivamente - Tiffany informou.
- Obrigada...? - Mackenzie falou incerta.
- Agora você me deve uma - Ela concluiu - Eu cuido do seu boletim informativo e você me ajuda, lembra?
- E o que você quer? - Perguntou, revirando os olhos.
- Eu chamei a Elizabeth para sair hoje - Falou - Mas eu não disse que era um encontro, ela deve achar que vamos sair como amigas ou algo assim - Pressionou os lábios em descontentamento e suspirou.
- Onde eu entro nisso...? - Mackenzie questionou, unindo suas sobrancelhas.
- O problema é que ela ainda não aceitou, disse que vai estar ocupada hoje a noite trabalhando na loja dos pais dela - Tiffany lamentou.
- E o que eu tenho a ver com isso? - Mac perguntou simples e diretamente, porque embora estivesse sendo divertido ver a vice-presidente choramingando por uma garota, ainda não havia entendido em que parte entraria nisso.
- Bom... - Tiffany ponderou e a encarou - Você poderia substituir ela hoje - Sugeriu - São apenas quatro horas, vai passar em um piscar de olhos, sabia? - Ela disse, sorrindo sem mostrar os dentes.
- Você está me zoando, né? - Mackenzie deixou o ar sair de sua garganta em uma risada desacreditada.
- Não...? - Tiffany falou como se a garota a sua frente fosse uma retardada. Já Mackenzie a olhava como se ela fosse uma maluca.
- Vai se foder, Quilkin - Disse silabando as palavras - Eu não vou perder meu tempo, enquanto você sai com a Elizabeth e se diverte as minhas custas.
Mackenzie quis passar por Tiffany, mas a garota a impediu.
- Eu cumpri a minha parte, estou pedindo apenas um favor em troca - Tiffany tentou amenizar, usando um tom mais baixo que antes.
- Não insiste - Mackenzie pediu - Isso não vai rolar - Frisou, torcendo para que a outra garota entendesse de uma vez que ela não estava disposta a fazer aquilo - Eu não vou substituir ninguém para você aproveitar a sua noite, vice-presidente.
Sem chance, jamais, nunca, de forma alguma, de jeito nenhum.
Mackenzie se recusava completamente.
[...]
[Mackenzie Coyle's Point of View]:
Eram quase nove da noite e o ponteiro no relógio de parede parecia não estar disposto a sair do lugar.
Merda.
Em algum momento daquela conversa com a vice-presidente mais cedo, acabei sendo convencida. E, embora não soubesse de que forma Tiffany tenha conseguido aquilo, sentia-me completamente derrotada. Quilkin era persuasiva e disso eu tinha conhecimento, mas não imaginava que cairia na sua lábia outra vez.
Suspirei entediada, enquanto lia um texto qualquer sobre artistas coreanos na revista em minhas mãos. Meus pés se mexiam freneticamente indicando a minha ansiedade em ir embora.
Quinze minutos. Esse era o tempo que me separava da liberdade, daquelas quatro horas eternas.
Desviei o olhar da revista quando o sino da porta ecoou pela loja, revelando a pessoa que durante todo o dia decidiu ignorar a minha existência. Na sua casa, as coisas pareceram tão fáceis entre nós, como se fossemos amigas normais, mas agora tudo estava de volta ao normal.
Karina Brandman usava um moletom e a jaqueta ridiculamente verde do grêmio estudantil, enquanto o capuz do casaco cobria seus cabelos. Ela passeava pelos corredores, focada demais nas estantes para notar a minha presença.
Seus dedos analisavam as palavras escritas nas embalagens, parando na sessão de doces. Mais do que o necessário, a presidente analisava algo, parecendo pensar. A observei segurar dois chocolates diferentes e encará-los, enquanto suas sobrancelhas estavam unidas, na tentativa de decidir entre os sabores.
- Eu prefiro o branco - Disse alto, atraindo o seu olhar quase imediatamente.
Karina me encarou confusa, provavelmente por não me esperar ali.
- Como se eu me importasse - Ela debochou, colocando o chocolate branco de volta no lugar e ficou com o meio amargo nas mãos.
Idiota.
Deixei uma risada anasalada escapar, enquanto Karina decidiu que iria apenas me ignorar, continuando suas compras normalmente. Ela caminhou de um lado para o outro, pegando alguns salgadinhos, finalizando ao parar no corredor que ficava a minha frente.
- O que faz fora do castelo tarde da noite, Karininha? - Perguntei quando a presidente parou no balcão para fazer o pagamento.
Karina deixou suas compras sobre o balcão que nos separava, retirando o capuz de seu moletom. Ela não parecia irritada, impaciente ou de qualquer outro jeito que costumava ficar quando estava perto de mim. A presidente apenas soltou o ar pelo nariz em um riso contido.
- Isso não te interessa, sabia? - Respondeu, fingindo um sorriso - Por isso também não vou perguntar o que você faz aqui - Karina desviou o olhar, deixando-o vagar sem interesse pelas embalagens de cigarros que ficavam nas prateleiras atrás de mim.
A presidente tentava fingir naturalidade, mas notei sua pressa em ir embora. Aparentemente, eu estava incomodando sem nem mesmo fazer nada e aquilo soou tão divertido que, propositalmente, levei o dobro de tempo para registrar as suas compras e receber o seu dinheiro. Com toda calma do mundo, contei as notas lentamente, sentindo o seu olhar mortal em mim.
- Dez, onze, doze... - Murmurei, ouvindo seu suspiro impaciente - Treze, quatorze... Olha só, você me deu duas notas a mais, deveria ter cuidado - Brinquei, fingindo uma falsa preocupação - As pessoas podem se aproveitar da enorme generosidade que você tem, presidente - Devolvi suas notas, oferecendo o meu melhor sorriso irônico.
Karina pegou a sacola no segundo seguinte e sem dizer uma palavra, deu as costas e saiu da loja, fazendo o pequeno sino ecoar novamente quando passou pela porta.
A pequena visita da presidente serviu para me divertir um pouco e fazer o tempo passar mais rapidamente, pois 5 minutos depois dela sumir da minha vista, pude comemorar por, finalmente, ir embora daquele inferno.
Enquanto fechava a loja resmungando, primeiro (1º) pelo o vento absurdamente gelado que batia contra o meu corpo e segundo (2º) por a vice-presidente está se divertindo naquele encontro.
Eu torcia para que ela se engasgasse com alguma bebida e cuspisse tudo no rosto de Elizabeth que deveria ter trabalhado no meu lugar. Malditas!
Senti o celular vibrar copiosamente em meu bolso, notificando novas mensagens.
Depois de rir do drama desnecessário de Erin, compartilhei a localização em tempo real com a pateta que chamava de melhor amiga. Caminhei pela calçada, respondendo algumas mensagens. Meu corpo estava encolhido pelo frio, praguejando-me mentalmente por ter esquecido o moletom em cima da cama antes de sair.
[...]
[Narrador]:
5 minutos antes.
Karina saiu da loja e soltou um longo suspiro como se estar perto da outra garota lhe roubasse todo o ar em seus pulmões.
Tudo relacionado à Mackenzie Coyle para a garota Brandman era complicado. Ela não negava o fato de que o tempo que passaram em sua casa, principalmente com Hank, foi legal. Claro, ainda ficou com raiva grande parte do tempo, pois Coyle sabia como testar a sua paciência. Porém, no geral, foi divertido para ela.
Mas, Mackenzie Coyle e ela eram como água e óleo, não se misturam.
Então, para Karina, tudo o que aconteceu no final de semana deveria ser apagado de sua mente. Nada mudou entre elas e deveriam se tratar como sempre se trataram.
Mas quem Karina queria enganar? Ela quem a chamou para sua casa, ela quem a quis ensinar a dançar, ela quem deu o primeiro passo para beijar a garota. E, obviamente, KJ não estava agindo racionalmente.
Na verdade, ela sentia que deveria parar com aquilo e tentar manter a boca de Mackenzie calada até a formatura. E, de fato, havia a calado, mas com a sua boca não era a atitude correta.
E se Henry tivesse chegado ou até mesmo sua mãe?! Somente pensar na possibilidade a fazia se sentir enjoada.
Diferente de si, Mackenzie Coyle não havia nada a perder.
Parou no lugar ao ouvir seu celular tocando, estranhando a ligação repentina. Fazia pouco mais de 15 minutos desde que saiu de casa.
- Oi, mãe... - Disse ao atender.
- Karina Brandman, onde você está?
- Eu apenas saí para comprar algumas coisas - Respondeu calmamente - Aconteceu alguma coisa?
- Isso não é hora de uma garota caminhar sozinha pelas ruas, ainda mais sem avisar! Fiquei sabendo pelo segurança!
- Eu já estou indo para casa, não precisa fazer um escândalo por isso... - Suspirou cansada. Era tão exaustivo às vezes.
- Esteja em casa em 5 minutos ou eu mesma irei atrás de você.
- Sim, senhora.
A mulher sequer se despediu, desligando a ligação. Karina sentia vontade de jogar o celular, pressionando o aparelho fortemente entre seus dedos. Às vezes, ela queria ser como seu pai e sumir por alguns dias, voltando semanas depois como se nada tivesse acontecido, mas jamais poderia.
Porém, todo o seu ódio foi desviado para a pessoa que esbarrou em si.
- Me des... Presidente? - A voz de Mackenzie soou confusa.
- Eu não tenho um segundo de paz na vida - Karina resmungou.
- Ei, calma aí! - Mac levantou as mãos em rendição - Que bicho te mordeu? Cadê os chocolates que você comprou? Eles ajudam naqueles dias, sabiam?
- Cala a boca, por favor - KJ pediu, revirando os olhos.
- A não ser que você estivesse me esperando - Mackenzie falou sugestiva para provocá-la, deixando um sorriso de lado escapar de seus lábios. O sorriso que Karina tanto odiava.
- Você é tão irritante...
Inevitavelmente, KJ percebeu quando o corpo de Mac deu leves espasmos devido ao frio. Por estarem perto, poderia ver claramente os pelos de seus braços arrepiados.
- O que está fazendo, Brandman? - Mac perguntou confusa ao vê-la retirar a jaqueta verde.
- Veste - Disse, quase em uma ordem, jogando a jaqueta em direção à garota a sua frente.
- Não - Negou prontamente - Tenho medo de pegar sua chatice.
- Chatice é ter que conviver com você - Rebateu impaciente - Agora veste essa merda, se for pra você morrer, que seja uma morte mais trágica do que uma hipotermia.
Mackenzie ponderou e resmungou uma série de xingamentos antes de vestir a jaqueta. No segundo seguinte, enfiou as mãos nos bolsos para aquecer seus dedos, quase congelados.
Karina se permitiu observar, era estranho. Nunca imaginou um dia ver Mackenzie Coyle usando uma peça do grêmio estudantil. Mas, precisava admitir, verde combinava com seus olhos.
- Eu não gosto mesmo de você - KJ disse de repente.
- Acredite, é totalmente recíproco - Mac respondeu, sorrindo amarelo.
- Se eu estou falando com você agora, é porque você esbarrou em mim.
- Sim.
- Nós duas nos odiamos.
- Correto - Mackenzie concordou com o cenho franzido.
- Ótimo, só estou confirmando - Karina disse.
E, sem mais nem menos, virou-se para ir embora, deixando para trás uma Mackenzie bastante confusa. Porém, a garota sabia que, quando tratava-se de Karina Brandman, nada parecia ser muito racional da sua parte.
Cogitava realmente a possibilidade da garota ser bipolar.
- Finalmente eu te achei! - Mac virou-se ao ouvir a voz de Erin distante, no início do quarteirão. Acabou soltando um suspiro aliviada, um minuto a menos e sua melhor amiga a teria visto com Karina, um verdadeiro pesadelo.
Para encurtar o caminho, Mackenzie caminhou até ela. E, só percebeu seu erro ao ver a expressão confusa e surpresa de Erin, olhando fixamente para a jaqueta do grêmio estudantil.
Merda!