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By catratonks

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𝐚𝐫𝐭𝐞. substantivo feminino ? ΰ₯§ 𝐒. produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concret... More

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π˜πŸ’: Quidditch World Cup
π˜πŸ’: The Triwizard Tournament
π˜πŸ’: The Four Champions
π˜πŸ’: Potter Stinks
π˜πŸ’: The First Task
π˜πŸ’: Will You Dance With Me?
π˜πŸ’: Yule Ball
π˜πŸ’: The Golden Egg
π˜πŸ’: The Second Task
π˜πŸ’: Truth Or Dare
π˜πŸ’: The Third Task
π˜πŸ’: Everything Changes
π˜π„π€π‘ π…πˆπ•π„
π˜πŸ“: Grimmauld Place
π˜πŸ“: The Silver Dress
π˜πŸ“: The Prank
π˜πŸ“: Dolores Umbridge
π˜πŸ“: Firefly Conversations
π˜πŸ“: Harry, My Harry
π˜πŸ“: The Astronomy Tower
π˜πŸ“: The High Inquisitor
π˜πŸ“: The Revenge
π˜πŸ“: The Reunion
π˜πŸ“: Midnight Talking
π˜πŸ“: Dumbledore's Army
π˜πŸ“: Weasley Is Our King
π˜πŸ“: Love Potion
π˜πŸ“: Nightmares
π˜πŸ“: Holly Jolly Christmas
π˜πŸ“: Maddie's Birthday Party
π˜πŸ“: Happy New Year!
π˜πŸ“: Fireworks
π˜πŸ“: Draco Malfoy
π˜πŸ“: Honeycomb Butterflies
π˜πŸ“: Expecto Patronum
π˜πŸ“: The New Seeker
π˜πŸ“: Breakdown
π˜πŸ“: A Whole New Perspective
π˜π„π€π‘ π’πˆπ—
π˜πŸ”: Horace Slughorn
π˜πŸ”: The Burrow
π˜πŸ”: Weasley's Wizard Wheezes
π˜πŸ”: August 11th
π˜πŸ”: Back to Hogwarts
π˜πŸ”: Amortentia
π˜πŸ”: The Quidditch Captain
π˜πŸ”: Draco?
π˜πŸ”: Falling Apart
π˜πŸ”: The Bookstore of Mysteries
π˜πŸ”: The Curse
π˜πŸ”: Slug Club
π˜πŸ”: Champagne Problems
π˜πŸ”: Dirty Little Secret
π˜πŸ”: Sign Of The Times
π˜πŸ”: Road Trip
π˜πŸ”: Whispers and Secrets
π˜πŸ”: Shopping Day
π˜πŸ”: Rufus Scrimgeour
π˜πŸ”: The Hunt
π˜πŸ”: Valentine's Day
π˜πŸ”: Quidditch Disaster
π˜πŸ”: Sixteenth Birthday
π˜πŸ”: Liquid Luck
π˜πŸ”: Sectumsempra
π˜πŸ”: The Cave
π˜πŸ”: What Starts, Ends
π˜π„π€π‘ 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍
π˜πŸ•: The Seven Potter's
π˜πŸ•: The Birthday Party
π˜πŸ•: The Wedding
π˜πŸ•: The Murderer
π˜πŸ•: September 1st
π˜πŸ•: The Sins Of Tragedy
π˜πŸ•: Body and Soul
π˜πŸ•: Slytherin's Locket
π˜πŸ•: The Depths Of Fall
π˜πŸ•: Breaking Hearts
π˜πŸ•: Godric's Hollow
π˜πŸ•: The Sword
π˜πŸ•: The Deathly Hallows
π˜πŸ•: Bellatrix's Vengeance
π˜πŸ•: Highs And Lows
π˜πŸ•: The Talk
π˜πŸ•: Knives? Sure!
π˜πŸ•: The Boy Who Lived
π˜πŸ•: When Nightmares Come to Life
π˜πŸ•: Blood And Bone
π˜πŸ•: Voids
π˜πŸ•: Death Comes
π˜πŸ•: Sunflowers
π˜πŸ•: Turning Page
π˜πŸ•: Intertwined Fates
𝐀𝐅𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐄 𝐖𝐀𝐑
I. Surprises
II. Soft Kisses And Bad Dreams
III. Death's Lullaby
IV. WARNING: DANGER!
V. Hunting Season
VI. The Corner Of The Lost Souls
VII. The Letter
VIII. Sex On The Beach
IX. The Announcement
X. Until You Can't Breathe

π˜πŸ•: The Plan

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By catratonks

Dois dias depois do meu aniversário, Harry me disse que queria conversar com Grampo, o duende. Estávamos na cama. Eu folheava uma revista de moda que Fleur me emprestara enquanto fazia cafuné nos cabelos de Harry, que estava com a cabeça deitada em meu colo.

— Amor? — chamou ele, baixinho. — O que você acha? Acha que é uma boa ideia falar com ele?

Mordi o lábio.

— Acho que é a única opção que temos — falei, sincera, fechando a revista. — Grampo está com a espada de Gryffindor, e pelo visto não quer soltá-la. Conversar com ele é o único jeito de chegarmos a um consenso. Precisamos da espada se quisermos cumprir com a nossa missão.

— Certo. E depois? Supondo que ele aceite dá-la a nós?

— Por bem ou por mal, Grampo aceitará — falei. — Você tem que ser firme, Hazz. Imponha uma proposta, caso seja necessário. Não podemos deixar que a birra dele nos atrapalhe. Depois, seguimos com o plano.

— Que plano? — perguntou meu namorado, curioso.

— O meu plano — falei, dando um sorrisinho. Harry, interessado, sentou-se, de forma que ficasse de frente para mim, para que pudesse me ver melhor, e ouvir minha proposta. — Mas antes tenho que dizer que, algumas noites atrás, Maddie pediu que eu considerasse sua companhia, em nossos próximos destinos. Andei pensando, e por mais que eu saiba que o que estamos fazendo é confidencial, a ajuda de minha irmã seria bem-vinda.

— Mas e quanto ao fato de que Você-Sabe-Quem possui meios de acesso à mente dela?

— Maddie levantou esse tópico, dizendo que não precisávamos contar nenhum detalhe a ela. O único interesse de minha irmã é aumentar nossos níveis precários de segurança. Então, ela não está nem aí para o que vamos fazer, desde que possa tentar evitar a nossa morte.

— Bem, acho que... Acho que tudo bem. Mas confesso que tenho medo, amor. Maddie é inteligente, vai acabar descobrindo sobre as Horcruxes. Consequentemente, pode ser que Você-Sabe-Quem siga o mesmo caminho.

— É, mas você sabe que ele vai descobrir de todo jeito, mais cedo ou mais tarde.

Harry suspirou, cansado.

— É, eu sei — disse ele. — Mas e então, sobre que plano exatamente você queria me contar?

— Certo — falei. — Bem, pensei em invadirmos o cofre de Bellatrix, no Gringotes.

Ele arregalou os olhos.

— Amor, isso seria morder a isca.

— Exatamente, e é por isso mesmo que precisamos fazer isso — disse eu. — Pense comigo: é tão perigoso, tão arriscado, que ninguém ousaria imaginar que estamos considerando a possibilidade. Além disso, Bellatrix ficou preocupadíssima, achando que tínhamos arrombado o cofre dos Lestrange, o que prova que ela está escondendo algo confidencial, algo cuja existência não quer que saibamos.

— Então você acha que a verdadeira espada de Gryffindor está lá dentro? E que a que temos em nossas mãos é falsa?

— Não sei. Você vai ter que conversar com Grampo — disse eu. — Mas não é apenas isso, amor. Se Bellatrix está escondendo a espada, verdadeira ou não, em seu cofre, quer dizer que Você-Sabe-Quem teme que estejamos atrás das partes da alma dele. Ainda, o desespero na voz dela, enquanto fazia um questionário em minha sessão de tortura, pode significar que Bellatrix está escondendo muito mais que uma arma, em seu cofre. Entende aonde quero chegar?

— Uma Horcrux! — exclamou Harry. — Meu amor, você é genial, de verdade. Eu te amo — dizendo isso, ele deu um beijo rápido, estalado, em minha boca. Acabei rindo diante de sua empolgação; apesar dos tempos sombrios e da dor em nossos corações, vê-lo feliz compensava. — Vamos conversar com Ron e com Hermione hoje mesmo, certo? Então podemos mencionar a questão de Maddie, para vermos o que eles acham. Sinceramente, acredito que os dois vão topar.

— A respeito de minha irmã? Ou da Horcrux?

— A respeito de tudo — falou Harry, convicto. — Embora eu tenha a sensação de que Ron vai odiar a ideia de nos passarmos por Comensais da Morte para invadir o Gringotes. É isso o que precisamos fazer, não é?

— Acho que sim — confirmei. — Aproveite e fale com o Olivaras, tudo bem? Precisamos nos certificar de que as varinhas que temos estão em perfeitas condições. Principalmente as que roubamos.

— Nem acredito que você conseguiu meter a mão no bolso de Bellatrix e furtá-la — disse Harry, impressionado. — Tudo isso durante as coisas horrorosas que ela fez com você.

— Foi fácil, honestamente — admiti. — Ela estava tão concentrada em me fazer gritar de dor que nem notou quando peguei sua varinha, escondendo-a em minhas roupas. Não significa grande coisa, mas foi o primeiro passo da vingança que planejo para ela. Porque acredite, farei Bellatrix pagar por cada instante de agonia, por cada gota de sangue derramado, por cada lágrima. Ela vai apodrecer nas profundezas do inferno.

A resposta de Harry foi dar um sorrisinho. Notando isso, perguntei:

— Que foi?

— Senti saudades dessa sua personalidade assassina — disse ele, sincero. — Te torna ainda mais atraente, se é que isso é possível.

Dei uma risada que ficou perdida no ar.

— Obrigada. Vou levar como um elogio.

— Foi um elogio, meu amor — com isso, Harry deu um beijo no canto da minha boca, segurando meu queixo. Quando se afastou, levantou-se da cama. — Vou falar com Grampo, depois com Olivaras. Com Gui também, ele trabalha no Gringotes e pode nos passar informações úteis.

— Certo, mas tome cuidado. Não deixe meu pai ouvir a conversa de vocês, você sabe que ele vai tentar nos convencer a mudar de ideia.

Harry assentiu. Quando ele saiu, voltei a ler minha revista, esticando as pernas na cama.

Remus voltara para a casa de minha mãe sem meu pai porque tinha assuntos a tratar. Além disso, ela e Dorcas não poderiam receber papai enquanto o deslocamento dele não fosse seguro — ou seja, enquanto a guerra não acabasse, o que poderia acontecer em dias, meses, anos. Não dava para ter certeza, mas torcíamos pelo melhor.

Os minutos foram passando, e Harry não voltava. Concluí que a conversa dele com Grampo e com Olivaras demoraria mais do que eu prevera, e decidi tomar um banho para depois descer as escadas do Chalé das Conchas em busca de uma xícara de chá, na cozinha. Eu estava começando a ficar com dor de cabeça, então uma bebida quente viria à calhar.

Depois do banho, coloquei roupas confortáveis, incluindo um casaco, porque eu estava com frio, e desci para a cozinha usando as pantufas que Fleur emprestara. Eram peludas, aqueciam meus pés. Chegando lá, enchi a chaleira com água e a pus no forno. Esperei que fervesse, peguei uma caneca no armário de louças. E quase deixei tudo cair no chão quando me virei, dando de cara com meu pai.

— Nossa, você me assustou — falei, fechando os olhos por um breve momento.

Sirius riu.

— Desculpe — disse.

Balancei a cabeça.

— Tudo bem. Você também quer chá? Tem de hortelã, camomila...

— Hortelã.

— Ok.

Peguei outra caneca para ele e preparei o chá de hortelã. Senti seus olhos me observando, mas não falei nada. Não sabia o quê. Somente quando estava tudo pronto que voltei-me para encará-lo.

— Aqui — falei, entregando a ele.

— Obrigado.

O chá fumegante emitiu fumaça. Encarei-o enquanto o vi dar um gole, só então levando minha caneca aos lábios. Senti o vapor em meu rosto, e gostei muito disso. Me fazia lembrar das minhas férias de verão de antes do início do sexto ano, quando Harry e eu passávamos os nossos dias em minha cama, lendo nossos respectivos livros e bebendo alguma coisa quente; e essa lembrança de casa me fez sentir um aperto saudoso no coração.

Eu sentia tanta falta daquele tempo. Perguntava sempre, a mim mesma, se viria a experimentar aquelas sensações de novo: o conforto do aconchego de casa, a segurança de saber que nada poderia me atingir, enquanto minha família estivesse comigo. Não era mais o caso; o perigo jazia em cada fresta, em cada centímetro dos espaços abertos. Dos fechados também.

Fui trazida de volta ao presente pela voz de papai, que disse:

— Uma moeda pelos seus pensamentos.

Pisquei algumas vezes.

— Hã?

— Quero saber o que se passa na sua cabeça, nesse momento.

— Ah, nada demais. Estou um pouco nostálgica, hoje.

— Hmm — murmurou ele, dando outro gole em seu chá. Esperei que esvaziasse a caneca, que a pusesse sobre a mesa. — O que vocês querem com a espada de Gryffindor, filha?

Tentei disfarçar minha surpresa, mas acho que não consegui.

— Como sabe?

— Ouvi Harry questionando o elfo, quando eu estava descendo para cá.

— Grampo não é um elfo, pai. É um duende.

— Sinceramente, eu não ligo — disse ele, revirando os olhos. — E então?

Suspirei.

— Não posso dizer.

— É claro que pode, eu sou seu pai.

— Não, não posso, e você não tem o direito de usar essa desculpa para absolutamente tudo o que for dizer. Prometi ficar calada, é confidencial.

— Tem relação com a missão de vocês, certo?

— Não posso falar.

— Por que não?

— Ordens de Dumbledore — expliquei. — Além disso, se eu dissesse, você não iria nos deixar partir para fazermos o que precisa ser feito.

— Se for perigoso, não vou mesmo.

— Claro que é perigoso, pai! — exclamei, zangada. — Se não fosse, eu não teria quase morrido tentando escapar do Ministério da Magia. Não teria ganhado a cicatriz em minha barriga. Não teria perdido o meu bebê. Não aja como se só você soubesse o que é sofrimento, porque eu estou passando por um inferno nesse momento, e está me matando.

Ele pareceu se arrepender do que disse no mesmo instante.

— Ei, me desculpe. Você sabe que eu não quis dizer desse jeito.

— Não sei, não.

— Pois não quis — assegurou papai. — Estou sendo sincero, S/N. Me preocupo com você e com Harry, vocês são meus filhos.

Olhei-o de lado com desconfiança. Papai não parecia estar mentindo.

— Tá, mas se você começar com um papo de que Harry e eu crescemos como irmãos e que não devemos namorar por isso, me avise, porque não estou a fim de ficar ouvindo esse tipo de papo furado de merda.

— Fique tranquila, não vou.

— Mhm.

Depois disso, ocupei-me com terminar de beber o meu chá.

Por um milagre, Fleur entrou em casa bem no momento, e veio até a cozinha. Ela tinha saído para fazer compras no mercado, na cidade, disfarçada de trouxa para não ser reconhecida. Se perguntassem algo a ela, começaria a falar em francês, e ninguém perceberia porque as pessoas tendem a fugir de situações desconfortáveis.

Harry, veio atrás dela, dando uma piscadinha para mim para indicar que tinha cumprido com seu objetivo do dia. Depois do jantar, contaria tudo para Ron e Hermione, que estavam na praia, e eu.

— Comprei ingredientes para um strogonoff de frango — anunciou Fleur. — Harry vai fazer.

Na mesma hora, o meu estômago roncou. Eu amava a comida dele.

— Deixe-me ajudar — pedi, ficando de pé. Na verdade, eu queria uma desculpa para evitar o assunto com meu pai.

— Claro, amor — disse Harry com um sorrisinho.

Seguimos para o fogão, pondo aventais para não sujarmos as nossas roupas. Se papai pensou em dizer mais alguma coisa, não emitiu pensamentos em voz alta; mesmo quando Harry e eu começamos um assunto sobre quadribol, coisa que ele adorava.

Era melhor assim.

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— Fique tranquila — falei para Hermione, quando toquei no assunto de deixar que Maddie nos acompanhasse, durante o restante de nossas missões. Ron também estava ouvindo. — Se seu medo é contar a ela a respeito das Horcruxes, não faremos isso. Não temos certeza de que ela será capaz de manter a mente fechada, de evitar que Você-Sabe-Quem acesse os pensamentos dela.

Tínhamos acabado de jantar, e descansávamos na varanda da frente da casa. Estava tudo uma delícia; de barriga cheia, ninguém sentia muita vontade de sair andando pela areia da praia.

— Não sei, S/N. Quem garante que ele não vai poder enxergar através dos olhos de Maddie? Isso entregaria a nossa localização.

Neguei.

— Se fosse o caso, já teriam nos encontrado aqui, no chalé.

— Além disso — disse Harry — , uma mão extra viria à calhar, em nosso caminho até o Gringotes.

— Como assim, "em nosso caminho até o Gringotes"? — questionou Hermione, assustada. — Quando decidimos isso?

— Tive a ideia faz pouco tempo, por isso não contei antes — expliquei. — Precisamos invadir o cofre de Bellatrix porque sei que ela está guardando algo importante lá dentro. Tenho certeza, e sinto isso. Pode ser uma Horcrux, ou mesmo a verdadeira espada de Gryffindor, já que ela ficou perguntando onde eu a tinha conseguido, durante a sessão de tortura na Malfoy Manor.

— Não, a espada verdadeira está conosco — disse Harry. Em seguida, explicou: — Conversei com Grampo, como você sugeriu, e ele disse que reconheceria aquela espada em qualquer lugar. É autêntica, foi fabricada por duendes. A má notícia é que só podemos fazer uso dela levando-o conosco, porque ele se recusou a entregá-la a nós. Pensei em arrancar a espada da mão dele, mas Gui surgiu na soleira da porta bem na hora, então selei nosso acordo. Usamos a espada para o que quisermos, carregando Grampo à tiracolo, e depois a arma será dele. E ainda bem mesmo que fiz isso, porque Gui explicou que brigar com um duende seria pedir por minha morte. Então, quis saber o que eu estava fazendo ali, e precisei contar que tinha relação com a nossa missão.

— Você contou a ele que queríamos invadir o banco? — perguntou Hermione, mais perplexa ainda.

— Sim, apenas o básico. Gui trabalha lá, tem informações que serão úteis para nosso sucesso — disse meu namorado. — Também falei com Olivaras, ele disse que as varinhas que temos estão em perfeitas condições.

— Calma aí —disse Ron, gesticulando com as duas mãos. — Vocês querem invadir o lugar mais seguro de todo o Mundo Bruxo, e esperam sair sem arranhões? Vocês estão loucos, cara?

— Possivelmente.

— Isso é pedir para morrer — disse Mione, concordando. — Vocês passaram a tarde toda planejando, e nem pensaram em nos contar? Precisamos definir nossos caminhos, nossas rotas de fuga. Não podemos simplesmente surgir lá, e contar que vão nos deixar entrar pela frente.

— Estamos contando agora — disse Harry, dando de ombros.

— Olhem, vai dar tudo certo — falei. — É arriscado, sim, mas perfeitamente possível. Somos capazes, já provamos isso para nós mesmos centenas de vezes. Se não formos nós a fazermos, ninguém mais terá a chance.

Ron e Hermione trocaram olhares, depois nos encararam como se estivessem vendo dois fantasmas. Por fim, devagar, a garota disse:

— Supondo que você esteja certa, e que realmente haja uma Horcrux lá dentro, como vamos conseguir entrar?

— Temos que tomar a Poção Polissuco, é o único jeito — falei. — Vamos nos passar por Bellatrix e por outros Comensais de confiança dela, para usarmos a porta principal.

— E como exatamente você planeja conseguir um fio de cabelo dela?

— Alguns ficaram presos em minhas roupas — falei sombriamente. — Não será problema. Você acha que consegue preparar a poção até o dia trinta desse mês?

— Olha, é bem arriscado, porque normalmente demora mais, mas não é impossível — disse Hermione. — E quanto aos outros Comensais? Precisamos de pelo menos mais três fios, porque Maddie e Grampo vão com a gente. Certo? A Capa da Invisibilidade não comporta tantas pessoas.

— Dêem uma olhada nas roupas que vocês usaram no dia em que fomos capturados, acho que dá para encontrar cabelos diferentes. Um para Maddie, outros para dois de vocês. Quem sobrar vai sob a capa, com o duende.

— E você? — perguntou Hermione.

— Eu? Eu serei Bellatrix.

Nem Harry estava esperando ouvir isso. Ron e Hermione arregalaram os olhos, nervosos por mim. Eu sabia no que deveriam estar pensando: ela vai dar conta da tarefa, ou vai ficar lembrando dos traumas que experienciou recentemente? Harry, por outro lado, temia mais por minha sede de vingança que por mim, até porque sabia que eu era perfeitamente capaz de cumprir com a tarefa. Ele sabia que eu estava cega de ódio, que queria acabar com Bellatrix de todas as formas possíveis. E faria isso, mais cedo ou mais tarde.

— Você tem certeza? — perguntou Hermione, receosa. — Quero dizer, você vai ter que agir exatamente como ela. Uma falha, e estaremos perdidos.

— Confiem em mim, sei disso. Mais do que qualquer outra pessoa, tenho uma ideia do que dizer, de como me portar. Estive em contato com Bellatrix durante muito mais tempo do que gostaria, posso fazer isso.

— Sabemos que pode, amor — tranquilizou-me Harry. — Mas precisamos ter certeza de que está pronta. Se você sentir que não está confortável, podemos inverter nossos papéis.

— Estou pronta — assegurei. — Bellatrix me preparou, sem nem perceber que fazia isso. A cicatriz em minha barriga é apenas mais uma prova. Vou me passar por ela, entrar no cofre de merda e conseguir a Horcrux. Simples.

— Ah, com certeza é muito simples! — ironizou Ron. — Me diga uma coisa: o que faremos, caso a verdadeira Bellatrix descubra, e resolva nos fazer uma surpresinha no banco?

— Não vai acontecer.

— É uma possibilidade, S/N — disse Hermione. — Precisamos pensar em todas as nossas alternativas.

— Olhem, vocês têm que ser mais esperançosos — falei. — Não me olhem assim, vocês sabem que eu tenho razão.

— Hmm.

— Escutem, sei que eu não sou a melhor referência de otimismo, mas confio muito na minha intuição, e dessa vez sei que tudo dará certo. Mesmo que no final da guerra as coisas não funcionem como estamos esperando, essa missão será bem-sucedida, tenho certeza absoluta. Invadir o Gringotes será como atrair um rato com um pedaço de queijo.

— O que te faz pensar isso?

Dei de ombros.

— Estou cansada de perder para as minhas próprias fraquezas, então decidi que, a partir de agora, serei apenas eu a enfiar a faca na barriga de alguém. E não será na minha.

Hermione mordeu o lábio.

— Tudo bem, tenho que admitir que é um bom plano — disse ela. — Apesar das loucuras que precisaremos cometer para executá-lo. Mas estou curiosa, S/N. De onde veio essa sua obsessão repentina por vingança?

— Eu sou a Vingança, querida.

— Não, tudo bem. Entendo o que quer dizer. Mas é que, mesmo nos dias anteriores, você não estava agindo assim. Foi tão... Súbito.

Ergui as sobrancelhas.

— Bellatrix me torturou em nosso quinto ano por conta de uma bola de cristal — lembrei. — Matou o meu pai. Ainda que ele não tenha morrido de verdade, por muito tempo pensei que sim, e sofri imensamente com isso. Sequestrou Ginny, me perseguiu no meio do mato por uma noite inteira, me torturou de novo. Mandou uma patrulha atrás da minha cabeça, no dia da morte de Dumbledore. E então, recentemente, me torturou com uma arma que a princípio era minha, e depois com feitiços. Deu a ordem para Greyback abusar de mim, o que só não aconteceu porque Maddie o matou — quando ninguém disse nada, acrescentei: — Todos essas razões já seriam mais que o suficiente, mas depois ela cometeu justamente o crime que me fez querer ter a cabeça dela num punhal. Bellatrix matou meu bebê, Hermione, e eu juro que vou esquartejá-la, se for preciso. Vou fazê-la sentir na pele o que eu senti, nem que custe a minha morte. E não me importa o que seja necessário, ela vai sofrer.

Hermione ficou quieta, parecendo arrependida. Ron também não quis se aventurar a olhar em meus olhos. Foi a mão de Harry em minhas costas que me impediu de perder o controle.

— Desculpe, foi uma pergunta idiota — disse minha melhor amiga, baixinho.

Suspirei.

— Me passar por Bellatrix é importante — falei. — Faz parte de minha vingança. Quero que ela se sinta enganada e manipulada, exatamente como eu me senti, quando Bellatrix fingiu ser Ginny e colocou tudo a perder. Isso é apenas a primeira fase.

— E qual é a segunda?

— Descobrirei quando a hora chegar — disse eu. — Tortura exige criatividade, certo? Senão não teria graça.

— Credo, você já está incorporando a personagem — disse Ron, fazendo uma careta. — Olha, sei que você está empolgada com matar Bellatrix e tudo mais, e eu confesso que também quero que isso aconteça, porque ela contribuiu para a morte de minha irmã, mas será que dá para não fazer essas coisas estranhas que você está fazendo agora?

— Como assim? — indaguei.

— Tipo, usar os seus poderes sinistros para conjurar essa fumaça estranha.

Isso me deixou tão surpresa que a raiva que eu estava sentindo, devido às lembranças de Bellatrix, foi-se, permitindo que eu notasse que ele estava certo. Uma fumaça densa e escura me envolvia, espalhando-se pela varanda do Chalé das Conchas, enchendo tudo de névoa e de preto. Cheirava à Morte; transmitia sensações. Tanto que me assustou.

Tensa, reuni concentração suficiente e expulsei os pensamentos ruins para longe. Consequentemente, a fumaça foi desaparecendo, levada pela brisa noturna. Fiquei tentada a remoer os pensamentos que relacionavam sombras ao assassinato da família de minha mãe, mas não fiz isso. Preferi permanecer distraída, determinada a nunca cometer os mesmos deslizes da geração passada.

— Desculpe — falei.

— Tudo bem — disse Ron. — Vamos mudar de assunto? Estou curioso. O que mais Olivaras disse, Harry?

Meu namorado respondeu:

— Perguntei sobre as Relíquias da Morte, e ele admitiu que contou à Você-Sabe-Quem a respeito delas. Ele queria a Varinha das Varinhas, estávamos certos. E conseguiu.

— Por favor, Harry, seja racional — pediu Hermione. — Essa história está consumindo os seus neurônios. Mas é apenas isso: uma história; uma lenda criada por fanáticos ávidos de poder.

— Você não ouviu o que acabei de dizer? — quis saber Harry, irritado. — Ele já está em posse da varinha. Está fazendo de tudo para ser invencível em duelos, com ela, porque assim espera me derrotar quando tiver a chance! Se a "lenda" não fosse real, Hermione, como isso seria possível?

— Os homens fazem de tudo pelos próprios sonhos, por mais irreais que sejam — disse Mione, paciente. — Só porque Você-Sabe-Quem mudou de varinha, não quer dizer que a história das Relíquias da Morte seja real.

— Também não quer dizer que não seja.

— Deus, Harry! Como você é teimoso!

— Hermione, vamos aos fatos. As Relíquias da Morte possuem de tudo para serem reais. Temos provas concretas: minha Capa da Invisibilidade, que é a única no mundo todo que nunca se desgastou; o símbolo no túmulo de Ignoto Peverell, que representa as relíquias; as anotações de Dumbledore no livro que ele deixou para você, em seu testamento...

— Quanta bobagem! — exclamou minha melhor amiga, revirando os olhos. — É a mesma história, sempre. Nunca algo novo! Harry, francamente, eu esperava que você fosse colocar a sua cabeça no lugar, com o passar dos anos, e não o contrário!

— Como assim, "o contrário"?!

— Não vamos brigar, por favor — pedi, interrompendo. Harry calou-se, e Hermione, emburrada, fechou a cara. — Sabemos que você não quer acreditar nas relíquias, Mione, mas Harry tem razão, temos provas. Você não pode decidir que não vai acreditar em algo só porque não tem cem por cento de certeza de que é verídico. No mundo em que vivemos, nada é garantido. Temos que nos agarrar ao pouco que temos; se é que possuímos algo.

— Eu nunca disse que não acreditava nas Relíquias da Morte porque nunca as vi de perto — protestou minha melhor amiga. — Não acredito porque é besteira.

— Mas pensou — falei. — Isso basta. E você viu uma de perto, sim. A Capa da Invisibilidade. Sinceramente, sinto muito que, para você, seja difícil acreditar no que sua mente considera como uma "história sem pé nem cabeça". Mas é real, quer você queira, quer não.

— E o que te faz estar tão certa disso?

— Porque sinto — falei, séria. — Porque a Morte se aproxima, e eu, mais do que ninguém, sei como reconhecê-la. Quando afirmo que a estou vendo com meus próprios olhos, estou sendo franca.

— Ok, tudo bem, você está certa do que está dizendo! — disse ela, respirando forte, meio irritada. Irônica. — Supondo que não seja só uma fonte aleatória da sua cabeça...

— Não é.

— ... , o que você pretende fazer? Ir atrás das relíquias? Tornar-se a Senhora da Morte, como diz a lenda, para, assim, derrotar Você-Sabe-Quem?

Neguei com a cabeça, porque na verdade era bem mais simples do que isso.

— Não sei se isso acontecerá, mas, caso ocorra, não precisaremos buscar por elas — falei. — A Morte nos encontra, sempre. Não o contrário. Para quê correr atrás dela, e de suas consequências, quando sei que ela está arrastando os próprios demônios em minha direção? Se for para termos posse das relíquias, acontecerá naturalmente, sem que precisemos forçar outros caminhos. Até porque o destino já está selado, não dá para controlar isso.

Ron conteve um arrepio na própria espinha dorsal, tremendo quase imperceptivelmente. Quase, porque claro que notei. Quando olhei-o de soslaio, buscando por uma resposta ao meu questionamento mudo, ele disse, de modo meio engraçado:

— Às vezes você é tão mórbida.

— Prefiro o termo "realista".

— Não. Não tem nada de realista nisso.

Dei de ombros.

— É escolha sua acreditar — concluí. Pelo canto do olho, percebi que Harry me olhava com preocupação, e segurei a mão dele, entrelaçando nossos dedos. — De todo modo, vamos fazer mesmo isso. Vamos invadir o Gringotes e destruir a parte da alma de Você-Sabe-Quem que anda perdida por lá. Pensemos apenas nisso por agora; é melhor deixarmos para decidirmos nossos próximos passos depois que tivermos concluído essa parte da missão.

— Sabemos disso — disse Harry, com cautela. — Mas queremos ouvir de você, amor. Você está mesmo tranquila? Está bem com o que propôs a fazer?

— "Estar bem" é uma expressão forte. Vai demorar um tempo até que eu esteja bem para realizar qualquer coisa — admiti. — Mas estou certa de que estamos seguindo o melhor caminho, e quero avançar com o plano. Preciso disso, para a minha sanidade; por mais que eu vá precisar de um ou dois meses de terapia, depois.

— Acho que uma vida inteira de terapia nunca vai conseguir apagar as coisas horríveis que aconteceram com você, S/N — comentou Ron.

Hermione deu um beliscão nele na mesma hora, e Ron reclamou de dor, fazendo uma careta e massageando o próprio braço.

— Para quê isso, Hermione?!

— Para você aprender a não ser insensível.

Com isso, não pude não rir. Estava escuro; silencioso, não fosse pelo barulho suave das ondas do mar. Embora minha fumaça me assombrasse, e a lua brilhasse no céu como se estivesse sorrindo de modo malvado, a natureza não me pareceu menos bonita por conta disso.

No instante seguinte, Maddie surgiu na varanda com um copo de whisky na mão. Ela começou a beber álcool como água no dia em que descobriu que papai ainda estava vivo, e em que todos os seus demônios mais assustadores passaram a atormentá-la novamente, lembrando-a de seus dias de sofrimento mais cruéis.

Minha irmã não queria aceitar a verdade consoladora porque temia estar errada. Morria de medo de agarrar-se ao fato de que meu pai estava vivo porque não queria passar por tudo de novo, caso o pior acontecesse. Não queria chorar ao perceber que ele não estava aqui; seria como queimar o próprio corpo dentro de um vulcão em erupção.

Mas Sirius era real, e Maddie ainda não se dera conta. Estava adormecida, na bolha que criara em torno de si mesma, alheia ao exterior.

Maddie sentou-se de forma que pudesse olhar para nós quatro. Ron, Hermione, Harry e eu. Havia divertimento em seu olhar, mas também havia seriedade e mais um milhão de coisas impossíveis de distinguir.

— Sobre o que estão falando? — quis saber. — A respeito de minha proposta, espero.

— Na verdade, é sobre isso, sim — falei. — Conversamos, e você está dentro. Vai poder participar das nossas missões.

— Ótimo! — exclamou ela. — O que vamos fazer primeiro?

— Bem, de zero a dez, quais são as suas expectativas para conseguirmos assaltar um banco?

Minha irmã piscou.

— Você não pode estar falando sério.

— Estamos.

— Meu Deus. Isso é loucura.

— Viu?! — exclamou Ron. — Até sua irmã, que é auror, acha isso!

— Não ligue para ele, Maddie, já temos todo o plano traçado. Precisamos apenas cuidar dos mínimos detalhes, como garantir os nossos disfarces, entre outras coisas do gênero.

— Não, S/N, você não está entendendo — disse minha irmã. — Invadir o Gringotes é impossível. De verdade, ninguém nunca conseguiu fazer isso antes.

— Nada é impossível para mim.

— Mesmo assim, mesmo com toda essa sua confiança desmedida, é extremamente arriscado. Há tantos dispositivos de segurança a serem ultrapassados, tantos detalhes que poderiam dar minimamente errado. Meu Deus, posso até perder meu emprego.

— Você está foragida, Maddie — lembrei. — Seu trabalho não importa agora. Além do mais, quando as coisas melhorarem, e a guerra tiver terminado, tenho certeza de que você receberá uma promoção, pelos serviços prestados ao Mundo Bruxo.

— Isso se vencermos a guerra. Não dá para ter certeza.

— Vamos vencer — assegurei.

Minha irmã suspirou.

— Como você consegue ser tão confiante?

— Não sou nem metade de tudo isso, mas estou tentando porque precisamos saber por onde começar — falei. — Maddie, escute, vamos fazer isso. Precisamos. Não podemos te contar todos os detalhes, mas essa invasão vai acontecer, quer você aceite vir junto, quer não. Temos um plano, não somos tão loucos. Vamos nos passar por Bellatrix e por alguns Comensais, entrar no cofre e depois sair, tudo no intervalo de funcionamento da Poção Polissuco. O duende vem com a gente, porque ele está com a espada de Gryffindor, que foi designada a mim no testamento de Dumbledore. Depois, decidimos o que fazer, para que caminho correr.

— Eu vou com vocês, sim — disse minha irmã, firme. — Eu só estava acentuando o quão louca essa sua ideia me parece. Não quer dizer que não aceitei, porque estou disposta a ir para qualquer lugar se isso significa que cuidarei da sua segurança. Você é minha irmã, afinal de contas.

Meu coração amoleceu um pouquinho.

— Que bom, então.

— Certo. Quando começarão os nossos treinos?

— Como assim? — quis saber Harry, inclinando a própria cabeça, confuso.

— Bem, todo planejamento exige um preparo — disse Maddie. — Precisamos ensaiar as nossas falas, encarar possibilidades. Afinal, é de Bellatrix Lestrange que estamos falando. Temos que saber exatamente como ela agiria, numa situação como essa. Nenhum deslize pode ser cometido.

— Eu não tinha pensado nisso.

— Claro que não. Por isso, sou um anjo na sua vida.

Estreitei os olhos, de brincadeira.

— Convencida.

— Alguém precisa ser — ela deu de ombros. — Agora, temos outra questão a resolver: como vamos entrar no cofre de Bellatrix sem uma chave? Certamente que nunca nos deixariam passar.

— Conversei com Gui a respeito disso — disse Harry. — No caso dos cofres de famílias mais antigas e poderosas, como é o caso dos Lestrange, uma simples chave não bastaria. Mesmo que eles peçam uma, não serviria como identificação. Sua ausência tampouco serviria como pretexto para nos condenarem, apesar de que vão ficar desconfiados. Mostraremos a varinha de Bellatrix. Uma varinha, muitas vezes, caracteriza seu mestre. É o que vai salvar a nossa pele.

— E como exatamente você planeja conseguir a varinha dela, sabichão?

Com um sorriso astuto, Harry olhou para mim. Olhei-o de volta conforme retirei a varinha de Bellatrix do bolso da minha calça. Todos me olharam com genuína surpresa.

— Como?!

— Sou muito discreta, quando é necessário. Levo minhas tarefas a sério — disse eu. — Roubei-a sem que Bellatrix percebesse, já pensando em minha vingança. Quer ouvir como planejo acabar com a vida dela?

— Por mais que estejamos todos ansiosos por suas ideias sanguinárias, S/N, acho que precisamos focar na nossa próxima tarefa primeiro — disse Hermione, hesitante, porém gentil.

Fiquei meio desapontada, mas não demonstrei.

— Tudo bem.

— Precisamos ficar de olho nos próximos passos de meu pai e do exército dele — disse Maddie, fazendo uma careta quando usou a designação para referir-se a Voldemort. — Eles não podem desconfiar de nada, senão não teremos tempo para agir. Mesmo que descubram nossa presença, no Gringotes, devemos estar longe quando o façam. Então, só nos restará achar o que quer que vocês estejam procurando, e sair correndo o mais rápido possível de lá.

— Por enquanto, Você-Sabe-Quem não desconfia de nós — disse Harry, concordando. — Senti minha cicatriz doer, agora a pouco. Como tenho uma conexão com ele, sei no que está pensando.

Hermione olhou de um jeito estranho para meu namorado, como se soubesse de alguma coisa e não quisesse dizer. Até pensei ter visto um resquício de percepção e medo em sua face, mas foi tão rápido que concluí que eu estava vendo coisas.

— Pensei que sua cicatriz não incomodasse mais — disse Ron. — Quero dizer, não com frequência. Você não reclama de dor faz algum tempo.

Harry deu de ombros.

— Acho que me acostumei, por isso não tenho falado — disse ele.

— E o que está havendo agora? — perguntou Maddie.

— Ele está com raiva. Sabe que você escapou, Maddie, e está... — Harry hesitou, e isso me fez sentir um aperto muito forte em minhas entranhas.

— O quê?

— Está planejando um ataque.

Hermione e Ron arregalaram os olhos ao mesmo tempo, chocados. Senti meu coração parar também; eu nunca poderia negar.

— Um ataque? Como assim? — perguntou Mione, nervosa. — Onde?

— Não sei, e acho que ele não decidiu ainda. Está analisando as possibilidades que tem. Quer tomar o controle do restante do Mundo Bruxo logo, antes que façamos algo que ele abomine.

— Por exemplo?

— Você sabe, Hermione. Até mesmo melhor do que eu — disse Harry, sério. — Quando Você-Sabe-Quem descobrir das coisas que andamos fazendo, atacará. E nada, nada mesmo, ficará em seu caminho.

Meus amigos estavam agitados, percebi. Mesmo Maddie parecia tensa. E embora eu não pudesse dizer que permanecia calma, porque minha ansiedade consumia, sim, minhas veias, conter meus sentimentos não foi tão difícil. Com o tempo, fui aprendendo a controlar minhas emoções, assim como meus poderes. Meus disfarces não eram perfeitos, mas bastavam. O gelo em meus olhos, pincelados por uma curiosidade medida, provavam esse fato.

Nada ficaria no caminho de Voldemort; era verdade. Assim como nada bloquearia o meu.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

— Vou embora amanhã — disse meu pai, de repente.

Estávamos caminhando juntos na praia, apreciando o finzinho da tarde em silêncio. Alguns dias se passaram desde que meus amigos, minha irmã, meu namorado e eu começamos a treinar nosso comportamento para que pudéssemos nos passar por Comensais da Morte, então eu estava muito estressada, cuidando de cada mínimo detalhe de minha performance. Minha atuação, como Bellatrix, precisava ser perfeita.

Fiquei tão obcecada por me sair bem que passei a não conseguir fazer coisas básicas, como dormir e comer. Chegou no ponto em que Maddie, irritada com o meu perfeccionismo exagerado, me expulsou do quarto que tínhamos ocupado para nossos preparativos e me mandou dar uma voltinha na areia da praia. Foi isso o que fiz, e acabei encontrando papai no meio do caminho.

Tomada pela surpresa, encarei-o, cheia de dúvidas. Só então percebi que Sirius tinha aparado a barba recentemente, assim como as pontas dos cabelos.

— Por quê? — perguntei.

— Remus e eu vamos voltar a morar juntos — explicou ele. — Os Comensais pensam que a casa está abandonada, então vamos refazer nossos feitiços de proteção e nos mudar. Sua mãe precisa de um descanso, precisa de um tempo sozinha com Dorcas. Mas vamos nos ver diariamente, então nem vai dar tempo de ela sentir a nossa falta.

— Ah.

— É engraçado, ter Marlene brigando comigo de novo, quando quebro algum copo, ou quando sujo o piso de areia, trazendo terra para dentro com minhas patas de cachorro — continuou ele. — Tendo a fazer isso com frequência, mas às vezes é de propósito. Senti falta de sua mãe. Não somos mais casados, mas meu amor por ela é terno.

— Ela também sentiu a sua — afirmei.

— Lene é minha melhor amiga. Não como você e Harry, claro. Desde de que me casei com Remus tive a certeza de que sou gay. Tipo, definitivamente.

Dei uma risada, olhando-o de esguelha. Um sorriso brincalhão preenchia seus lábios, e uma espécie de sentimento cheio e quente tomou conta de meu peito, inchando meu coração. Papai deve ter percebido, porque ficou sério subitamente. Falei:

— Fico feliz que esteja de volta, pai.

E estava mesmo.

Sirius limpou a garganta para disfarçar a pitada de emoção em seus olhos. Fingi não notar, brincando de chutar um pouco de areia e observar os grãos sendo levados pelas correntes de ar. Logo seria noite, estava esfriando. O jantar ficaria pronto; comeríamos durante uma conversa agradável. Parecia perfeito.

Para quê tanta melancolia, no entanto? Um pedaço de ar entre nós parecia dormente.

— Você vai lembrar de mim, não vai? — perguntou papai, de súbito.

— Por que não lembraria?

— Não sei. As coisas vão mudar, quando você for morar com Harry. Não vamos nos ver todos os dias, ou fazer as coisas que costumávamos fazer, antes de tudo dar tremendamente errado. Tenho medo de nos afastarmos.

Meu coração apertou-se.

— Pai. Não precisamos nos afastar, nunca. Nossas tardes de compras, nossos almoços e jantares em família, nossas noites de jogos... Tudo isso vai continuar sendo como antes, só que meio diferente. As coisas mudarão, sim, mas não quer dizer que deixarão de ser perfeitas.

Ele não negou, mas também não respondeu. Era um consenso mudo.

Ficamos em uma espécie de silêncio confortável por bastante tempo, até que o sol começou a se pôr. O céu foi ficando laranja, depois vermelho; uma pintura em tons de cores quentes, formando um degradê. Gaivotas, ao longe, fizeram barulho, batendo asas. Afastaram-se da terra firme, despreocupadas com os momentos seguintes, sem saber para que lado ir. Elas forjavam o próprio destino, eram donas de si mesmas. Admito que senti inveja.

A brisa me abraçou como um manto quente, invadindo meu espaço pessoal. Não me importei; se os próximos segundos fossem ser os meus últimos, eu estaria satisfeita; o fim da tarde era sempre a hora mais melancólica. Me perder ali seria como me encontrar novamente, depois de muito tempo.

— É tão lindo — murmurei, baixinho. — Você acha que é para lá que seguem as almas perdidas, após o juízo final?

— Para o sol?

— Sim.

Papai piscou.

— Talvez.

Acabei sorrindo.

— Seria legal.

— É, seria.

— Será que eles estão nos olhando, de lá? James, Lily, Ginny, e... Adeline?

— Quem é Adeline?

Minhas bochechas estavam molhadas; eu nem havia notado.

— Minha filha.

As sobrancelhas de papai arquearam-se em surpresa. Ele me encarou com um tipo de compaixão, mas era um sentimento bonito. Quis morrer para não precisar experimentar aquela sensação de novo.

— Quer que eu seja honesto?

— Sim.

— Não acho que o bebê que você perdeu tenha esse nome — disse meu pai. — É apenas um pressentimento, claro, mas mesmo assim. Sua Adeline ainda vai nascer, minha filha.

Funguei, abraçando as lágrimas. Percebendo isso, papai envolveu meus ombros.

— Concentre-se nesse pôr do sol maravilhoso, S/N — pediu, com calma. — Adeline será como ele: arrebatadora, inesquecível. Prometo que o momento vai chegar, você e Harry merecem. Mas vocês precisam aguentar firme, até lá.

— Se sobrevivermos — falei.

— Vão sobreviver.

— Você não pode ter certeza.

— Não, não posso. Mas acredito — disse ele. — E você?

— Eu?

— Sim. Você acredita?

Harry e eu tínhamos nos casado de mentirinha, traçado as linhas de nosso futuro imaginário que queríamos que fosse verdade. Na saúde e na doença. Na riqueza e na pobreza.

— Acredito — respondi, temerosa.

Até que a Morte nos separe.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

À noite, no chuveiro, quando ninguém estava olhando, caí no choro. Minha dor era tanta que, na falta de uma forma de alívio, cravei minhas unhas em minha própria pele, até que estivesse sangrando. Fumaça saía de mim, minhas Sombras e Trevas tomando conta de tudo. Até pude jurar, fechando os olhos por um momento, que vi meu tio Regulus, juntamente aos mortos-vivos que moravam no fundo das águas do Lago dos Inferi, sorrindo para mim. Era cruel, vil de todas as formas. Mas não tive medo, sabendo que nada superaria meu desejo por matança.

Quando deixei o banheiro e abracei Harry, sob as cobertas, deixei de ser menina, de todas as formas. Tornei-me mulher.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

Papai realmente foi embora, no dia seguinte, e me fez prometer que eu não ia fazer nenhuma besteira. Eu sorri, e o envolvi uma última vez, sabendo que era exatamente isso o que eu planejava. Depois, Ron, Hermione, Maddie, Harry e eu retomamos nossos preparativos para o dia em que invadiríamos Gringotes, o banco de segurança máxima dos bruxos.

Não há muito o que detalhar. Treinamos nossa atuação. Preparamos a Poção Polissuco, nos certificando de que tínhamos os ingredientes de que necessitávamos (incluindo fios de cabelo). Refizemos nosso estoque de alimentos, para o caso de precisarmos acampar de novo. No fim de abril, estávamos prontos, e nada nos pararia.

No momento de irmos, tomamos tempo para nós mesmos. Hermione tomou um banho, depois conferiu nossos pertences mais um milhão de vezes. Ron foi conversar a sós com o irmão. Harry e eu nos despedimos de Fleur. Apenas Maddie parecia tranquila, e mesmo assim suas mãos suavam com sutileza; minha irmã era boa demais em esconder a própria ansiedade, mas eu notava. Não era por nada que queria seguir o mesmo caminho que ela, na carreira profissional.

Combinamos que nos encontraríamos nas dunas afastadas da praia às sete em ponto, obviamente fora dos limites de proteção do Chalé das Conchas. Estando prontos, ou não; não importava. Aconteceria de todo jeito.

E eu estava atrasada.

Olhei-me no espelho do quarto, prendendo a minha faca de prata no cós da calça. Eu tinha afiado a lâmina, já limpa do sangue de minha barriga, na noite anterior. Bellatrix usara a arma para me apunhalar, mas não significava que a adaga deixara de ser minha em algum momento. O prazer de usá-la para dilacerar a garganta de quem se pusesse em meu caminho seria meu, e nada mudaria isso.

Eu sabia que minha escuridão era enorme, mas não deixaria que ela tomasse conta; não permitiria que meu destino fosse o destino da família de minha mãe, todos mortos por causa dos poderes obscuros que herdei de minha avó. Diferentemente dela, eu podia controlá-los. Prometera a mim mesma que nunca cometeria o mesmo erro.

Ainda encarando meu próprio reflexo, fechei os olhos quando ouvi Harry me chamar, através da mente. Estou indo, respondi a ele. Eu precisava de alguns instantes para absorver as coisas que vi quando encarei meus próprios olhos, através do espelho.

Não tive dúvidas de que eu era linda. Minhas curvas; a carnificina em meus olhos, acompanhada por uma elegância meio sedutora; essas coisas compensavam as Trevas que apareciam por entre as frestas abertas de meu corpo, expondo meu coração. Eu não estava podre, reconheci isso quando o momento chegou; cheirava à rosas vermelhas, aquelas do tipo que têm espinhos que te fazem sangrar. Cuidado sempre é necessário: eles são afiados o suficiente para rasgar pulsos e cortar veias. Mas podei meu jardim, reguei minhas plantas; eu estava pronta para mostrar que, ainda que fosse necessário, meu sangue não seria o único a ser derramado.

Uma brisa suave, que não tinha nada a ver com os ventos que moviam as ondas da praia, tocou meu rosto. Um pedido mudo para que eu abrisse os olhos. Quando o fiz, e desviei minha atenção para a soleira da porta, um vulto encapuzado me encarou de volta. Tinha dentes afiados e um sorriso amarelo ardiloso.

— Você está pronta — sussurrou a Morte. — Aceite-me.

Nem precisei pensar antes de dizer "sim". O mundo saberia meu nome, e eu mostraria a eles do que eu era capaz.

——————————————

notas da autora:

oii gente, tudo bem? o que acharam do capítulo?

demorou mais do que o previsto para eu postar esse capítulo, mas gostei muito de escrevê-lo. principalmente a cena final 😁 e para quem teve dúvidas: não, não foi um sonho. a s/n realmente viu o vulto.

minhas aulas voltaram, infelizmente, mas eu até que estou animada. voltei a conseguir estudar sem ficar exausta quando fazia isso, finalmente saí do meu bloqueio 🙏🙏🙏 além disso, mudei de turma na escola, e isso me fez muito bem. não posso entrar em detalhes aqui, mas tenho mais de um motivo específico.

não tive tempo de acabar de ler meu livro de míseras 200 páginas, mas se hoje eu conseguir, posso tentar fazer isso. confesso que estou com medo de saber o que vai acontecer no final.

não sei quando o próximo capítulo vai sair, mas já escrevi boa parte dele. porém vocês sabem que eu estou no último ano, né? é muita coisa para administrar, sinceramente não sei nem como estou conseguindo fazer tanta coisa.

falta um único mês para o meu aniversário!! não estou nem acreditando KKKK, vai ser no dia 5 de setembro, numa terça, tenho quase certeza.

me contem o que vocês fizeram/pretendem fazer hoje!! eu vou só estudar mesmo, e talvez leia meu livro.

beijos gente, até a próxima 💕💕 bebam água e se cuidem!!

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