Conte-me Seus Sonhos

By groliveira

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SINOPSE Valentina é uma professora que adora viajar para participar de congressos. Ela sofreu uma grande perd... More

CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38 (FINAL)
Epílogo
NOTA DO AUTOR
LIVRO NOVO
Livro com capítulos a mais...

CAPÍTULO 6

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By groliveira


SEXTA-FEIRA


VALENTINA

Não quero me levantar desta cama, estou em êxtase no momento. Essa noite foi algo que não estava nos meus planos de acontecer, mas que bom que aconteceu. Olhei para meu relógio e vi que eram 7h15. Olhei para o lado e vi que Michael não estava na cama; presumi que estava se arrumando para seu turno no hotel. De repente, ele apareceu no quarto com um enorme sorriso no rosto e deu um pulo na cama. Me aconcheguei em seus braços e perguntei o porquê do grande sorriso.


– Tenho uma boa notícia. Pelo menos pra mim é uma boa notícia. – Ele disse, me abraçando também.

– Sério? Me diga o que é. – Disse sorridente, enquanto o beijava.

– Conversei com John, ele já trabalhou aqui no hotel, e pedi pra que ele me fizesse o favor de ficar só por hoje com meu turno.

– Ué, por quê? – Perguntei curiosa e já feliz com a ideia.

Ele me beijou, passou a mão em rosto e nas minhas costas e disse:

– Porque quero passar meu dia com você hoje, em qualquer lugar que você desejar, só que com você. – Passava as mãos em meu cabelo.

Não posso negar, adorei a ideia! Hoje não iria fazer quase nada, no máximo ir à biblioteca, mas me resumi a falar pra ele.

– Vou pensar no seu caso. – Disse, rindo e forçando uma cara séria.

– Sei que vai. – E me beijou delicadamente.


Depois que saí da cama, coloquei minha roupa e fui ao meu quarto; precisava de um banho. Michael fora resolver alguns assuntos na recepção. Estava nas nuvens... precisava do que havia acontecido entre nós, precisava de uma noite como foi aquela.


Estava com uma grande dúvida na cabeça. Não sabia se eu havia me entregado de tal forma para Michael pelo fato de não ter feito sexo havia muito tempo ou porque ele havia mexido comigo de uma forma como nunca havia sentido. É difícil definir agora o que havia se passado – fora bom, ou melhor, superou todas as minhas expectativas, foi disparado um dos melhores acontecimentos em minha vida conhecer Michael. Só que às vezes penso que esse tipo de pensamento se relaciona ao fato de eu estar muito carente ultimamente. Mas que seja; posso falar que a noite de hoje me fez sentir valorizada.


Depois do meu banho, fiquei um tempo deitada em minha cama. O que estava acontecendo comigo? Eu estava parecendo aquelas adolescentes apaixonadas... parece que meu cérebro não estava raciocinando direito; me forcei a pensar em outra coisa. O que aconteceu foi bom, mas não posso deixar de invadir minha mente do jeito que está acontecendo.

Saindo do hotel, ainda não havia visto Michael. Fui em direção à cafeteria. Não vi Lizzy, e mesmo assim tomei meu café. Estava tocando Superheroes – The Script. Eu adorava essa música.


Há quanto tempo não me sentia tão tranquila. Havia algo, parece que havia me libertado; estava leve, na verdade, transformada. Fazia anos que não tinha uma noite dessas, e gostaria muito que ela se repetisse.


Voltei ao hotel e havia um homem na recepção. Não era Michael; devia ser a pessoa que ele havia falado que ficaria em seu lugar. Ele estava todo atarefado, nem me viu passando. Quando fui em direção ao meu quarto, Michael estava saindo do seu. Logo fui abordada:

– Aonde você pensa que vai, mocinha? – Me disse, puxando pelo braço.

– Como assim?

– Você é minha propriedade no dia de hoje. – Disse, rindo e já me abraçando.

– Muito engraçado você. Não sabia que eu era sua propriedade. – Disse curiosa com sua informação.

– Está assinado no contrato, ué!

– Ah é? Que contrato? – Indaguei bastante curiosa e fingindo puxar pela memória alguma coisa.

– Venha aqui no meu quarto que lhe mostro. – E fez aquela cara de cafajeste que conheci bem no último dia.

Ri alto. – Engraçadinho você. Sabemos que se eu for eu não irei querer sair, não é?

Ok, isso foi muito espontâneo. Até demais pra mim, mas era verdade. Não estou acostumada em falar isso, não mesmo, ainda mais pra uma pessoa que conheço há tão pouco tempo.

– Hum, alguém está se soltando, hein? – Ele riu.

– Desculpa, não quis dizer isso! – Me senti embaraçada com a situação. não estou acostumada a dizer esse tipo de coisa, e não sei o porquê.

– Não mesmo? – Ele chegava mais perto de mim e passava a mão em meu cabelo delicadamente.

Fui logo desconversando sobre o assunto.

– Então aonde vamos pela tarde? Às 17h irei embora. – Disse, tentando esconder meu embaraço.

– Hum. Quero te mostrar um lugar.

– Que seria?

– Não posso dizer. É surpresa. – Ele estava bastante animado.

– Há algo que você precisa saber sobre mim. E é sério.

– Nossa, o que é?

 Ele pareceu se preocupar por um momento.

– Odeio surpresas. – Parei por um momento. – Me fala logo onde é.

Ele riu.

– Tem um lago aqui nas redondezas. Quero lhe mostrar o lugar; lá é lindo.

– Hum, será que você não irá me matar e me deixar por lá, não?! – Fiz uma brincadeira para descontrair a situação.

– É uma hipótese a se considerar. Não posso prometer nada.

– Acho que irei correr o risco, mas só dessa vez.

Saímos do hotel e fomos no carro de Michael. Levamos mais ou menos 30 minutos para chegar ao local. Era um lago lindo, e ainda tinha uma ampla área verde ao redor dele; percebi que havia vários casais no local. Alguns estavam acampando, outros, andando pelo entorno do lago, e havia aqueles que estavam fazendo um piquenique. Me bateu uma tristeza; devia ter trazido algo para fazermos aqui, que fosse um piquenique mesmo.

– Que pena, não trouxe nada. Podíamos até fazer um piquenique aqui. – Eu disse meio triste.

– Você, não. Mas eu, sim. Vim precavido. – Ele disse orgulhoso.

Depois do que ele falou, foi em direção ao carro e pegou o que ele havia trazido.

– Você é um cara esperto, sabia? Já deve estar acostumado em trazer pessoas pra cá, não é? – Dessa vez disse sério pra saber sua reação.

– Claro, são em média umas cinco mulheres por mês diferentes que trago pra cá. Fica automático, sabe? Já sei sempre o que trazer. – E se virou para arrumar alguns alimentos que havia pegado no carro.

Dei uns tapas nele, e sentamos na grama que estava verdíssima.

– Agora, falando sério. Estou triste pelo dia de hoje. – Disse sem me olhar.

– Por quê?

– É o dia que você irá embora. – Olhou para o lago enquanto ajeitava o que havia tirado do carro.

– Verdade. – Me limitei a dizer.

Ficamos sem falar por alguns momentos, só contemplando o lago. Neste momento, ele se achegou ao meu lado me abraçando, olhando em meus olhos e dizendo:

– Os poucos momentos que passamos juntos foram, pra mim, mais que especiais. Nunca vou me esquecer de você, e espero que isso se repita mais vezes. – Disse, me encarando e passando a mão em meu rosto.

– Também não irei me esquecer de você. Realmente, vir pra sua cidade valeu a pena por muitos motivos. Tenho certeza que o que você proporcionou em minha vida não será esquecido tão cedo. E era verdade. estava com medo, mas sei que o que aconteceu entre nós foi verdadeiro. no fundo, ansseava por mais.

– Que bom você dizer isso. Vou ter que arrumar um congresso por mês aqui na cidade. – Disse, rindo pra mim de uma forma ingênua.

– Raramente volto em uma cidade mais de uma vez, sabia? – Eu disse com um tom bastante sério e sarcástico.

– Toda regra tem uma exceção, sabia?

– Talvez, mas irei fazer uma forcinha e, quem sabe, irei voltar.

– Contarei os dias para que isso aconteça. Espero que você possa primeiramente ter vontade de me ver novamente, e tenho certeza que irei te recompensar.

– Você é um tanto enigmático, mas quem sabe, conforme o tempo, me fale realmente o que se passa com você. – Ele ainda era um pouco fechado. Às vezes tinha a impressão de que ele queria falar algo, mas parava no meio do caminho e não dizia nada.

– Complicado, viu? Acho que só depois do centésimo encontro que você saberá tudo sobre mim. Será que você aguenta até lá?

– Talvez. – Disse, dando de ombros.

– Pois é, senhora do "talvez". Você só conhece essa palavra? Se eu sou um enigma, você é uma grande dúvida. Esse seu "talvez" me mata. – Ele fez uma cara preocupada.

– Felizmente (ou infelizmente) você terá de conviver comigo e, quem sabe, esses "talvez" desapareçam.  Que tal? – Dei a ideia a ele.

– Sinceramente? Talvez! – E rolou sobre a grama.

– Idiota. – Dei um soco em seu braço.


Michael me beijou neste instante. Calor percorreu todo o meu corpo, o queria perto de mim, queria seu beijo, seu corpo, só não admitia. Como uma pessoa em tão pouco tempo pode fazer sua cabeça ficar maluca desse jeito? Não sabia a resposta, mas era melhor aproveitar o pouco tempo que ainda teria.


Ficamos longos momentos nos beijando, praticamente a parte final da tarde. Será que eu iria conseguir dormir direito hoje? Será que Michael iria se lembrar de mim? Será que algum dia iremos repetir isso? Eram tantas perguntas, e todas sem respostas definidas...

Dessa vez, as horas que passamos juntos pareciam minutos. Tudo foi muito rápido, conversamos bastante sobre tudo novamente, com uma simplicidade incrível. Nos divertimos, rimos, e nos beijamos – como nos beijamos; parecia uma colegial, só pensava em beijos. Só que uma hora tudo chega ao fim... momentos ruins, momentos bons... E o meu dia estava chegando ao fim.


– Não queria que acontecesse agora, mas tenho que ir embora. Pretendo chegar antes de escurecer em minha cidade. –  Olhei fixamente para ele. era difícil dizer isso.

– Não acho uma boa ideia você ir agora. Temo que a estrada que você pegará esteja infestada de zumbis, sabe? Não queria que você se transformasse. É melhor você adiar para o mês que vem sua volta, viu?! Você já viu The Walking Dead, não é? – Ele disse, tentando parecer sério.

– Engraçadinho você, não muda nunca. Mas é sério, preciso ir mesmo. Ainda tenho muitas tarefas a fazer.

– Em vez de um mês, pode ser uma semana. Que tal? – Ele fez um beicinho.

– Hum. Deixa eu pensar. Não, infelizmente não será possível.

– Um dia?

– Larga de ser insistente, você sabe que se eu pudesse eu ficava. – E era verdade, queria ficar. se pudesse, ficaria vários dias, mas precisava voltar.

– Será?

– Hum, talvez.

– Você com seu "talvez" de novo. – Ele parecia irritado dessa vez, mas não deixou transparecer tanto.

– Brincadeira, mas é verdade. Se pudesse ficaria, sim, mas agora tenho que ir.

– Certo. Vamos, então. – Ele disse um tanto quanto relutante.

Voltamos para o hotel e, como já havia deixado tudo organizado no quarto, só busquei minhas coisas e as coloquei em meu carro. Era chegado o momento mais difícil do meu dia, minha despedida. Não queria ir embora, não mesmo. Mas tenho que aceitar o fato de não morar aqui, e de que minha vida está em outra cidade. Não queria aceitar...

– Então, Michael, vim me despedir de você. – Estava triste, me controlando para não demonstrar tanto.

– Isso sim é uma notícia triste. – Suas feições estavam desoladas. Parece que me tornei algo pra ele nesse pouco tempo juntos.

– Eu sei, meus momentos aqui na cidade foram muito bons. Adorei o tempo que passei com você, de verdade. Você é uma ótima companhia, tudo foi muito bom com você.

– Isso é verdade?

– Claro que é. – Disse na mesma hora.

– Então, me responda: Que dia te verei novamente? – Ele me perguntava sério.

Essa era a pergunta que eu estava com medo de responder. Na verdade, não sabia da resposta, nem nada do que iria falar para ele.

-Ainda não sei. – Me limitei a dizer.

-Só que nos veremos, não é? – Ele parecia querer alguma prova de que, pra mim, fora especial meu tempo aqui.

Como diria isso pra ele? Ainda não tenho a certeza dessa resposta. Quero vê-lo claro, mas temo pelo que virá depois. Se Michael nutrir alguma esperança falsa por mim, não sei o que fazer. E ainda tem o fato de não morarmos na mesma cidade, que nossas vidas estão em locais diferentes.

– Provavelmente, sim. – Meio que abaixei minha cabeça. acho que foi minha pior decisão dizer isso e não olhar diretamente para ele.

Temo que ele não tenha gostado desse "provavelmente". Vi, pelas suas feições, que ele ficou um tanto preocupado. Não queria mentir pra ele. Não sei se nos veríamos de novo, eu queria, mas há coisas que se passam em meus pensamentos também. Todos nós temos problemas, e eu também tenho segredos, problemas, coisas a serem ajustadas.

– Michael, tenho que ir. Mas queria lhe fazer um pedido antes! – Disse decidida.

– Sim, pode falar. – A esperança havia renascido em seus olhos.

–Podemos nos corresponder por cartas? Pelo que você disse, não é muito adepto a computadores. Que tal a ideia?

– Sim, sem problemas. – Ele pareceu distante depois do que falei.

– Olha, meu endereço é esse. – Entreguei a ele. – Saiba que sempre irei te responder. Por favor, se cuida. Todos os momentos com você foram especiais, quero que saiba disso.

– Saiba também que guardarei em meu pensamento tudo que passei com você.

Nos abraçamos. Dessa vez não houve nenhum beijo, acho que cortei o clima depois daquela frase. Complicado, sempre estrago os momentos bons, incrível. Fui em direção ao meu carro, os olhos de Michael percorriam meu corpo, sentia isso. Era melhor eu entrar logo no carro... não posso olhar pra trás, senão vou querer voltar, sei disso.

***

MICHAEL

O que pensar neste momento? Há quanto tempo não me sentia assim... Aqui na cidade não há nenhuma pessoa com a qual eu tenha uma grande afinidade, e justamente alguém de outro lugar me fez repensar sobre a vida e a forma como estou vivendo. Não há como negar que Valentina mexeu com todos os meus sentidos, despertou algo adormecido em mim, criou um laço que eu não esperava criar tão cedo com alguém. Havia muitas coisas para lhe contar e explicar certas situações, mas por medo não tive coragem de fazer... não só por receio, como também porque, se eu lhe falasse o que já aconteceu comigo, ela não iria nunca mais voltar a me ver, e nem eu poderia vê-la novamente.


Que desejo insano eu tenho quando a vejo, nem sei explicar o motivo. Ela é linda, tem suas manias, às vezes até me irrita, mas gosto de suas perfeições e de suas imperfeições. Era alguém que passaria tranquilamente muito tempo da minha vida. Mas também posso estar dizendo isso por estar sozinho, mas o fato é que nunca encontrei ninguém parecido com ela, e que bom que a encontrei. Irei fazer de tudo para estar o mais próximo possível da sua vida.

Não sou muito fã de cartas, mas, como foi um pedido dela que trocássemos correspondências, acatei com a maior alegria possível, até porque não quero perder o contato dela, e sinto que isso será muito importante em minha vida.


Em algum dia terei coragem de contar minha vida a ela, pelo menos espero que um dia eu possa lhe dizer sobre...

***

VALENTINA

Estou sentindo uma mistura de sensações no momento. Não sei bem explicar o que sinto, ou melhor, sei, sim: alegria, tristeza, felicidade, desapontamento, saudades. Ou seja, é inexplicável, me sinto bem e mal ao mesmo tempo. Me sinto bem pelo tempo que passei aqui, mas, ao mesmo tempo, me sinto mal por ter que ir embora. Me sinto bem por ir pra casa, mas mal por voltar à vida normal que levo na minha cidade. Não sei, sou um misto de confusões.


Adorei o Congresso, adorei a cidade também, apesar de gostar de cidades grandes. E o principal, adorei o tempo que passei com Michael. Não achei que poderia ter uma tamanha afinidade com alguém em tão pouco tempo. Conversamos como se nos conhecêssemos há um longo tempo. Ele expôs seus medos, problemas, suas batalhas diárias. Eu também contei boa parte da minha vida pra ele, e ele sempre com um sorriso no rosto e com conselhos valiosos para mim.


Sempre tive muitos amigos, mas, em sua maioria, mulheres. Nunca tive uma grande proximidade com amigos homens, igual tive com ele. Não fui julgada em momento nenhum sobre o que lhe disse, sobre minhas decisões ou arrependimentos. Isso se deve muito pelo fato dos vários julgamentos acerca dele; o que acontecera é algo que ainda irá mexer por muito tempo em sua cabeça, infelizmente.


Espero que eu tenha feito alguma diferença em sua vida, pois na minha ele fez, e muita. A maior parte do tempo que passei com ele fora especial de alguma forma. É estranho como o mundo gira e nos apresenta pessoas diferentes e, de um certo modo, nos aproximamos delas e descobrimos seus medos, desejos e sentimentos. Não sei o que se passa na cabeça dele agora, mas queria muito saber...


Após a saída do hotel, parei em um mercado para comprar algumas coisas. Quando estava me preparando para ir embora da cidade, vi algo que não poderia esperar. Logo em meu para-brisa havia um recado, era um bilhete pequeno em que estava digitada alguma coisa. No momento em que o li, meu coração acelerou. O bilhete dizia:


NÃO CONFIE NELE.

TUDO FOI PLANEJADO...

O que é isso? Olhei ao redor, não havia ficado nem 10 minutos dentro do mercado, alguém colocara esse bilhete bem na hora que estava lá dentro. Mas quem? E por quê? Não fazia a mínima ideia do que acabara de ocorrer, sei que foi tudo tão bem, a estadia foi boa, o Congresso fora excelente e ainda havia conhecido Michael, que era uma pessoa tão boa, que se mostrou extrovertido e presente sempre, agora o porquê desse recado, não entendi. O que foi planejado? Meu Deus, não quero preocupação por agora. Mesmo assim resolvi guardar o bilhete, liguei o carro e fui embora do mercado em direção à saída da cidade.


Mesmo em direção à minha cidade, o bilhete me assombrava. Será algum tipo de pegadinha? Michael não colocaria esse tipo de bilhete pra mim nem de brincadeira, sei disso. Mas quem mais sabia do que nós tínhamos passado juntos? Não conseguia raciocinar direito nesse ponto. O fato é que alguém colocou o bilhete lá, e tenho duas opções: Foi alguma brincadeira muito sem graça, ou alguém estava me alertando para algo que só essa pessoa sabia.


Cheguei em casa, nada como estar em casa. Imediatamente ganhei algumas lambidas de Jeff e vi que o quintal estava limpo. Terei que agradecer muito à Lilian, que quebrou esse galho pra mim. O tempo que passei com Michael foi muito bom, fiquei tentada a permanecer lá por mais tempo, mas não achei que seria uma boa ideia. Acabara de conhecer Michael, e, por mais que o que ele despertou em mim tenha sido algo fora do normal, achei melhor voltar pra casa.


Prometemos nos corresponder por cartas. Ele é uma pessoa especial, pelo menos pra mim se tornou. Ele já passou por muitas coisas na vida, não quero que tenha falsas esperanças sobre nós; posso decepcioná-lo, e não quero isso. O tempo dirá, mas algo que sei é que há muito tempo não me senti bem com uma pessoa igual me senti com ele.

Havia avisado o horário que chegaria em casa pra Lilian. Exatamente 30 minutos depois da minha chegada a campainha tocou; era ela.


– E aí, gata, pegou o gostosão lá do hotel? – Foi logo entrando e dizendo isso, com um sorriso no rosto.

– Boa-tarde pra você também! – Olhei para ela, balançando a cabeça negativamente.

– Sabia que você não iria resistir, a vida é curta, hein?! Mas você fez o certo. – Deu um tapinha em meu ombro.

– Você nem sabe o que eu fiz. – Retruquei.

– Sei sim. Dois motivos: Sua ligação e essa sua carinha aí. Acho que ele te fez bem, viu?! Mas se não rolar nada entre vocês dois, me passa o contato dele, vai que... – E fez uma cara lerda pra eu ficar com ciúmes.

Risos. – Você e suas piadinhas... isso me lembra dele. – E refleti por um momento.

– Viu, tô falando! O boy te deixou louca. – Ela ficou frenética. não podia conversar demais com ela.

Risos. – Obrigada por cuidar do Jeff e arrumar a bagunça que ele deve ter feito no quintal. Tenho sorte de ser sua amiga.

– Não há problemas. Agora, falando sério: como foi lá na cidade? – Dessa vez disse séria.

– Foi bom, aproveitei bem, conheci grande parte da cidade. O Congresso foi bom, agora quero somente descansar. Mês que vem estarei de férias, ainda não sei o que vou fazer.

– Você pode ir pra Notre Ville, fiquei sabendo que lá tem um hotel maravilhoso, e me falaram que o dono do hotel é um gaaato! – Disse, tentando parecer séria.

Risos. Meu Deus, você vai falar isso até quando? – Prossegui. – Mas a verdade é que o tempo que passei com ele foi muito bom. Quando ele começou a se abrir, vi que era uma pessoa totalmente diferente do que aparentava ser. Ele é misterioso, não me contou muito sobre sua vida, mas é uma pessoa que já passou por maus momentos. Ele só precisa de tempo pra se abrir.

– E você, pretende estar presente neste tempo?

Essa era uma boa pergunta. Eu pretendo? Prometemos nos corresponder, e quem sabe fazer uma visita, mas ainda não sei ao certo o que fazer, ainda mais depois daquele bilhete. Por que motivo aquilo foi parar no meu carro? O que era essa história de que tudo fora planejado? Não faço a mínima ideia do que pensar.

– Quem sabe. – Me limitei a responder.

– Está bem, só pense bem no que você irá fazer. – Prosseguiu. – Igual ao que você falou, não dê falsas esperanças a ele. Sei do que você passou, mas também sei o que ele passou, pelo que você me contou. Ele parece ser uma pessoa sozinha e um tanto quanto carente. Mas também sei de outra coisa: você estava muito feliz ao telefone, e sinto que você está feliz agora falando dele. Dá pra notar que ele fez diferença em sua vida, e, se isso for verdade, pelo menos em minha opinião, quando uma pessoa faz diferença positiva, mínima que seja em minha vida, eu irei fazer de tudo para mantê-la por perto.

Ela está certa. Minha vida ultimamente está na mesma, nada de novo, poucas expectativas ao meu redor. Essa semana fez diferença, sim, em minha vida. Me senti muito bem, me senti querida, por mais que fora pouco tempo que passei com Michael. E, além de tudo, me pareceu que ele foi muito sincero comigo falando que eu era especial.

– Irei pensar bem no assunto, mas, no geral, você está certa. Ao final das contas, temos que dar valor em quem dá valor na gente. Prometemos nos corresponder por cartas, vamos ver se ele irá se lembrar de mim, não é?

– Ele, não sei, mas acho que você, sim, não é?

Risos. – Quem sabe. – Tomara que ele se lembre de mim, porque me lembrarei dele, com certeza.

– Olha, sei que você irá tomar a decisão certa. Dê tempo ao tempo, e, por falar em tempo, tenho muitas coisas para fazer hoje ainda, nem irá dar tempo de tomar um cafezinho aqui. Depois eu passo com mais tempo para uma visita, hoje está corrido demais pra mim. Passei mesmo pra ver como você está, segunda nos encontramos na escola, certo? – E foi logo se encaminhando para a saída.

– Ok, até segunda-feira! Vou descansar um pouco. Ultimamente ando cansada demais.

Nos despedimos, e fui direto para minha cama. Meu último pensamento fora Michael, e então peguei no sono.

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