Notas:
Apreciem muito essa atualização pois escrevi toda ela durante a minha viagem!! A escritora também é gente, mesmo que não pareça muito.
O próximo capítulo já está no forninho.
All the love, Ruthinha ✿
────────────────────
─ Camões épico vai ser um assunto que irá se estender por muitas aulas e eu recomendo que não faltem. Não por nota, porque nem presença vou dar, mas porque vou cobrar isso como nunca e independente de qual ramo irão seguir, vão precisar saber da história dos Lusíadas. Nos vemos na próxima semana. ─ os alunos disparam pela sala, todos indo embora, alguns se despedindo de Louis.
Me ergo da última cadeira e vou até a porta da sala, fechando-a quando o lugar se torna vazio, exceto por mim e Louis. Falando nele, ele está de costas para mim, com as mãos apoiadas na sua mesa enquanto vê algo em seu notebook.
─ Tem algo muito sexy sobre você dando aulas todo sério, Sr.Tomlinson. ─ chego por trás dele ao dizer isso, mas não o abraço.
Por conta própria ele se vira e contorna minha cintura, o puxando pra si.
─ Tem algo muito desconcertante sobre ter você comigo em uma sala de aula, ainda bem que não foi meu aluno. ─ ele beija minha boca devagar, dando intervalos para morder meu lábio inferior de forma leve e provocativa. ─ Você é uma baita distração, Styles.
─ Não tente me comprar com beijos, precisamos conversar. ─ ele suspira de forma manhosa com a boca encostada na minha mas se afastada, apenas para me virar e me colocar sentado em sua mesa com ele entre minhas pernas.
─ Eu te disse que iríamos, eu só não sei se estou preparado para ter você despejando sua fúria em mim.
─ Eu não vou fazer nada disso. ─ minhas sobrancelhas se curvam em insatisfação. ─ Fiquei frustrado de início, sim, mas só porque você não me deixou explicar o meu lado. Não fiquei bravo com você, até que vi você beijando aquela mulher.
─ Eu não-
─ Tudo bem, chegaremos lá. ─ o interrompo. ─ Mas eu quero te explicar algumas coisas antes, porque querendo ou não, nós ainda estamos nos conhecendo.
Ele engole seco, como se isso fosse um impasse para nós.
─ Antes de tudo, você tem que saber que eu não sou alguém fácil de lidar. Não estou tentando te afugentar, mas você uma hora ou outra vai perceber isso, então não adianta que eu não seja honesto com você. Eu estou acostumado a ser aquele que vai embora na manhã seguinte e não liga, Louis, e apesar de que não quero ser assim com você, os fantasmas do meu passado podem assombrar a nossa relação, eu sinto muito. ─ me sinto quebrado, mas me recuso a chorar na sua frente. Ele me olha com os olhos pesados, como se soubesse de como me sinto magoado com a situação.
─ Se eu me tornei a pessoa que sou hoje, foi porque um dia outras pessoas foram aquelas a irem embora de manhã sem a mínima chance de uma ligação. Eu tenho feridas, Louis, e vou entender se você não quiser que eu sangre em cima de você. Você me merece curado. ─ Louis não me interrompe em nenhum momento, mas me pergunto se os músculos da sua mão não se tornam cansados com os repetidos movimentos de carinho que ele faz na minha bochecha.
─ Sei que você estava tão confuso quanto eu, mas fiquei chateado quando te vi ir embora porque, talvez você não entenda, mas eu me esforcei muito pra ser a minha melhor versão pra você naquela manhã, pra tentar transparecer, passando por cima de tudo que acredito e das minhas inseguranças, apenas para que você soubesse o quanto eu aprecio ficar junto de você e o quão a nossa noite foi importante pra mim. ─ termino de falar quase sem ar, e por um minuto apenas ficamos nos encarando e tentando controlar as nossas respirações descompassadas. Dando-se conta de que não irei falar mais nada, Louis toma partido.
─ Eu quero te pedir desculpas, Harry. Não queria que você se sentisse inferiorizado, porque...tudo que vem de você, é inexplicável de tão bom. Na minha perspectiva, eu só estava muito vulnerável depois de tudo que passamos juntos e me expressei mal pois também estava passando por cima de diversas inseguranças minhas para que a gente pudesse enfrentar tudo juntos. Eu posso estar tentando lidar da melhor forma com essa situação, mas eu nunca experiencei isso antes, Harry.
Eu não quero ser um fardo. Ouvir isso dói em mim e acho que transpareço um pouco isso.
─ Mas naquela manhã, depois de tudo...Quando acordei, olhei pro lado e vi você dormindo de boca aberta, babando no seu travesseiro e com uma bagunça de cachos cheirosos, foi ali que eu soube que valeria a pena passar por essa bagunça se eu tivesse você comigo. ─ ele diz sorrindo e me sinto terrivelmente manhoso com tudo isso.
─ Você não pode fazer isso comigo, Louis. Não pode entrar na minha vida e fazer uma bagunça em tudo que eu acredito apenas porque tem um rostinho bonito e beijos fantásticos.
─ Por que não? Somos uma bagunça muito linda juntos. ─ não me contenho, avançando em sua boca como se nunca pudesse estar longe dela. ─ Agora, você e essa boca devem ir pra longe da minha sala imediatamente antes que você me distraia novamente do meu trabalho e aí sim serei demitido. ─ sussurra, desgrudando os lábios molhados dos meus.
─ Tentador, assim teria você mais horas, só pra mim. ─ falo manhoso, mas pego minha mochila e vou em direção a saída, sendo acompanhado por Louis.
─ Não suma, ok? Seu namorado falso precisa de notícias.
─ Não sei se você está sendo um bom namorado falso, mas irei pensar no seu caso. ─ beijo sua bochecha e saio, virando para trás tempo suficiente para o ver escorado no batente da porta.
É, estou apaixonado.
⁂
─ Todos nós agradecemos pelo seu relato, Payton, e devo relembrar: Aqui é um ambiente sem quaisquer julgamentos, então sintam-se à vontade para contar sobre suas histórias. ─ a mulher loira, com um corte irritante e uma voz incrivelmente mais irritante ainda diz. ─ É a sua vez, Gus. Pode compartilhar sua história?
─ Tanto faz. ─ tiro os olhos dos meus joelhos e encaro o dono da voz. Ele não parece estar aproveitando tanto a terapia em grupo como alguns aqui estão, e isso de alguma maneira chama a minha atenção. ─ Meu nome é Gustán, tenho 24 anos e fui diagnosticado com transtorno pós traumático após ver meu namorado apanhando na minha frente. Satisfeita?
─ O que te traz aqui, querido?
─ Isso está machucando as pessoas que eu amo, então...preciso me livrar disso.
─ "Isso", o transtorno que você se refere com tanto desprezo faz parte de você agora. São suas histórias, a experiência que você vivenciou. Aqui não te traremos a cura mas sim o entendimento do seu transtorno para que você saiba lidar de uma forma que não machuque as pessoas que você ama, como você disse que está fazendo e, principalmente, não te machuque. É para isso que serve a nossa terapia em grupo.
Quase reviro os olhos pela menção da terapia em grupo. Me sinto ridículo cada vez que sou lembrado de estar aqui. Não deve ser novidade para ninguém que esse tipo de psicologia é desprezível ao meu ver, mas eu estou tentando me transformar em um ser humano menos ignorante, ou melhor dizendo...estou tentando "lidar com isso de uma forma que não machuque as pessoas que eu amo."
Apesar dessa motivação, quem mais me recomendou isso foi a minha terapeuta. Aparentemente, passei tanto tempo sendo negligenciado e deixado sozinho na minha infância que cresci como um adulto que se sente o único com esses sentimentos, então sair da minha zona de conforto e ver a realidade problemática de outras pessoas pode me ajudar.
A sessão acaba rápido e então vou em direção aos bolinhos que estão me chamando na grande mesa posta. Estou bebendo meu café quando sinto alguém tocar meu ombro.
─ Olá? Sou Gustán. ─ ele me estende a mão e eu a agarro, cumprimentando-o.─ Você é novo aqui, certo?
─ Algo assim. Sou o Harry, prazer.
Tenho que admitir, ele é lindo. Parece que saiu de algum romance do catálogo da Netflix. Sua pele é meio morena, seus olhos são em um tom claro de marrom e ele tem cachos curtos.
─ Por que não falou nada hoje?
─ Aparentemente, por ser meu primeiro dia aqui tenho passe livre para não me expor e passar vergonha na frente de todo mundo.─ dou risada, mas percebo que talvez tenha estragado essa conversa com o meu senso de humor irônico. ─ Quer dizer, não que você tenha passado vergo-
─ Não, tudo bem! É um pouco vergonhoso mesmo, tenho que admitir. Além do mais gosto disso tanto quanto você, Harry. ─ ele sorri charmoso e sinto um peso se soltar de meus ombros cansados. ─ Mas não ache que irá se livrar na próxima sessão, está bem? Se esquecerem de você eu mesmo os lembro.
─ Você não faria isso. ─ aperto os olhos em sua direção e ele levanta os ombros com um olhar suspeito. ─ Não quero te decepcionar, mas nem sei se virei uma outra vez. Sinto muito em atrapalhar o seu plano maligno.
─ Não te culpo, mas agora preciso de outra desculpa para saber dos seus problemas e me sentir menos pior por ter exposto os meus na sua frente, assim ficamos quites. Que tal me passar seu número. ─ de forma inconsciente ele molda um bico nos lábios e uma feição pidona.
─ Tudo bem. ─ concordo em um aceno o dou meu celular para que ele salve seu número, não checando antes de guardar ele em meu bolso.
─ Eu adorei conversar com você, Harry. Acho que nossa aversão por terapias em grupo são parecidas, mas tenho que buscar minha afilhada na creche, então...te mando uma mensagem mais tarde, pode ser?
─ Pode sim, prazer em te conhecer Gustán.
─ O mesmo, Harry. ─ ele agarra minha mão e beija as costas dela, logo depois passando pela porta e me deixando para trás com uma cara de quem está com dor de barriga.
Talvez essa terapia em grupo não seja realmente um bicho de sete cabeças, afinal.