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By lantsovz

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By lantsovz

CAPÍTULO ONZE
DETALHES





aviso: menção à violência doméstica e suicídio.








MEADOW SEMPRE ESTAVA ATENTA AOS DETALHES. Desde que era uma criança, ela havia aprendido à ler as pessoas, à analisar minuciosamente suas expressões. Ela buscava suas mentiras em um olhar traiçoeiro, suas falsas intenções em um sorriso torto, a maldade que transparecia em um gesto involuntário.

Mas, enquanto caminhava pela floresta, escutando o som dos galhos se chocando um contra o outro, sentindo a brisa gélida da manhã tocá-la, sua atenção aos detalhes não estava voltada aos perigos que poderiam cercá-la. Sua atenção estava fixa nele.

Ele contava sobre como o desconhecido inconsciente no quarto isolado de Alexandria, Jesus, havia causado uma série de problemas para ele e Rick. Meadow prestava atenção em sua história, mas eram os detalhes que a prendiam.

O detalhe em sua voz. O sotaque sulista, a forma como cada palavra soava quando escapava de seus lábios, a forma como ele dizia seu nome, a hesitação em cada frase. O detalhe em sua boca. A maneira como ela se movia timidamente.

O detalhe em seus olhos. O azul claro atento à qualquer movimentação estranha, o azul como o oceano que buscava o seu olhar escuro. O detalhe em seu cabelo. Os fios molhados pelo suor que insistiam em cobrir parte de sua face. O detalhe em suas mãos. Os músculos tensos que agarravam o arco entre seus dedos.

Detalhes que ela não deveria notar. Detalhes que pareciam ter criado raízes profundas em seus pensamentos.

A risada de Meadow invadiu o ambiente, seu riso preenchendo os ouvidos de Dixon. ─ Então, vocês acharam um caminhão cheio de comida, Jesus roubou o caminhão de vocês. ─ Ela colocou a mão sobre sua boca, tentando controlar sua risada. ─ Vocês roubaram de volta e ele apareceu em cima do caminhão. ─ Meadow afirmou, encostando seu corpo em uma árvore, retirando uma garrafa com água de sua mochila. ─ Você perseguiu ele e o caminhão acabou caindo dentro de um lago.

A Hart gargalhou, uma lágrima escapando de seu olho. ─ Esse Jesus parece divertido. ─ Ela constatou, trazendo a garrafa até sua boca, aproveitando cada gota do líquido.

─ Ele é um idiota. ─ Daryl respondeu. Ele tirou um cigarro de seu bolso, o acendendo com o isqueiro em sua mão, levando-o até seus lábios.

─ Você tem que admitir, é engraçado. ─ Meadow afirmou. O arqueiro deu de ombros, esboçando um pequeno sorriso de canto.

Detalhes. Aqueles detalhes. A fumaça que saia de sua boca, o suor em seus braços, a regata rasgada, o colete que ela havia feito para ele, a faca em sua faca. Os detalhes que, involuntariamente, atravessavam sua mente.

O arqueiro fez um sinal com sua mão, apontando para as árvores à sua frente, indicando a direção para qual ela deveria olhar. Um cervo. Um sorriso se formou em seu rosto. Um cervo se alimentando da vegetação, calmo. Os raios solares iam de encontro com sua pelagem marrom. Era pacífico olhá-lo, aquele animal lindo. Um animal que Alexandria desesperadamente precisava.

O estoque da comunidade estava se esgotando. As plantações que ela e Maggie iniciaram não cresciam. Os grupos responsáveis pelos suprimentos precisavam ir cada vez mais longe. E Meadow e Daryl buscavam novos campos de caça, mas tudo parecia ter sido dominado pela morte.

Meadow ajeitou o bastão de madeira que carregava em suas costas, seguindo Daryl. O Dixon pegou uma flecha, a preparando em seu arco. Seus dedos estavam preparados para atirá-la, mas antes que ele conseguisse, o barulho de um caminhante se aproximando assustou o cervo. ─ Porra! ─ Daryl exclamou, jogando seu arco no chão, frustrado.

Ela sabia que ele estava cansado de voltar para casa de mãos vazias. A Hart colocou sua mão sobre o ombro do arqueiro. ─ A gente vai encontrar ele de novo. ─ Ela disse, continuando seu trajeto, pegando seu bastão e o atravessando no crânio do morto. ─ Vamos, Dixon. ─ Meadow o chamou. ─ A gente nunca desiste, lembra? ─ Ela afirmou, citando as palavras que ele disse à ela uma vez, enquanto a ensinava a caçar.

Detalhes. Detalhes em sua memória com que faziam com que ela se lembrasse de cada palavra que ele já havia dito à ela. Daryl a olhou, concordando. Aqueles detalhes. A forma com seus olhos sempre pareciam conversar no silêncio.

O Sol havia mudado de posição, as nuvens carregadas de água o escondiam lentamente. A dupla havia caminhado por horas, seguindo o rastro do cervo. O rastro que parecia ter se desfeito durante o caminho. ─ Daryl, olha! ─ Meadow o chamou, apontando para a campina que eles se aproximavam.

O arqueiro preparou seu arco, esperando encontrar o animal, mas se deparou com a Hart correndo até um campo de girassóis. ─ Eu nem achava que eles conseguiam crescer nessa região. ─ Meadow confessou, passando seus dedos pelas flores amarelas da pequena plantação.

─ Não devia crescer. ─ Ele murmurou, notando a cabana no topo da colina, cercada pela grama alta, pensando que as pessoas que costumavam residir naquele local provavelmente as plantaram.

Meadow suspirou com um sorriso sincero em seus lábios. Um sinal de vida no meio de tanta morte. Ela arrancou um broto que formava suas primeiras pétalas amarelas, o colocando na orelha de Daryl, empurrando seu cabelo para trás. ─ Combina com você. ─ Ela confessou, rindo da vergonha que o arqueiro falhava em esconder.

Detalhes. O modo como ele desviou seu olhar, resmungando. O jeito como ela conseguia com que um sorriso tímido aparecesse em seu rosto. A forma como ele puxou o broto de sua orelha, o guardando dentro de seu bolso. Aqueles detalhes.

Um estrondo soou na campina, sendo seguido pelas primeiras gotas de chuva. Em poucos minutos, um temporal havia se formado. Daryl apontou para a cabana e Meadow assentiu, correndo atrás do arqueiro. O Dixon encostou na porta, segurando o braço da Hart, impedindo que ela entrasse. ─ Eu vou primeiro.

Ele retirou a faca de sua cintura, abrindo a porta com cuidado. Ele bateu sua mão na parede, tentando atrair qualquer caminhante que estava ali com o barulho. Então, ele entrou em cada cômodo da pequena cabana, checando cada parte da estrutura. ─ 'Tá limpo. ─ Daryl avisou, a chamando.

Suas roupas estavam encharcadas. Meadow abraçou seu corpo, tentando afastar o frio que se espalhava pela sua pele, enquanto analisava o local à sua volta. A madeira antiga que segurava a casa, os móveis empoeirados. Ela fechou as janelas, impedindo que o vento entrasse e observou a chuva pelo vidro, escutando o som alto dos raios. ─ Vamos continuar quando diminuir. ─ Ela garantiu.

Daryl começou a acender a lareira no meio da sala e Meadow vasculhou o quarto, encontrando roupas secas, as sacudindo.
─ Pega isso. ─ Ela disse, jogando uma calça e uma camisa na direção do arqueiro. Ele a olhou, negando com a cabeça. ─ Não podemos ficar doentes. ─ Ela argumentou. ─ Por favor. ─ A Hart pediu.

O arqueiro resmungou, cedendo. ─ Sim, senhora. ─ Ele respondeu. O Dixon se trocou em frente à lareira enquanto Meadow foi para o outro quarto. Ele se certificou que ela não estava perto, hesitante em retirar sua regata. Ele não podia correr o risco de ela ver suas marcas.

─ É seguro olhar, Dixon? ─ Meadow pediu, tampando sua visão com seus dedos e esperando na porta. Ele vestiu sua camisa rapidamente, murmurando um 'Sim'. Então, seus olhos azuis encontraram Meadow.

Daryl não sabia, até aquele momento, que uma pessoa era capaz de tirar todo o seu fôlego. Ele sentia como se estivesse se afogando, mergulhado nas emoções que ele não entendia e visão de Meadow era o único ar que ele precisava.

Ela usava um vestido amarelo claro longo, seus cabelos molhados soltos caiam em seus ombros. ─ O que? ─ Ela pediu, notando o olhar de Daryl. ─ É a única roupa que sobrou. ─ Hart constatou. Ela sabia que a peça de roupa não era o ideal e estava se sentindo ridícula com aquela vestimenta, esperando alguma piada do arqueiro.

Detalhes. A forma como ela conhecia tantos detalhes, mas não enxergava as palavras no olhar de Daryl.

O arqueiro desviou seu olhar, colocando as roupas molhadas de ambos na frente da lareira. ─ 'Tá boa. ─ Ele disse, quase como um sussurro. Meadow a encarou confusa, sem entender o que ele quis dizer. ─ A roupa... ─ Ele começou, mantendo sua visão fixa na lareira. ─ ... 'Tá boa.

Meadow esboçou um sorriso. ─ Isso é um elogio, Daryl Dixon? ─ Ela perguntou, colocando a mão sobre seu peito, fingindo estar chocada.

─ Esquece. ─ Ele respondeu, um sorriso de canto em seus lábios. Olhando para Daryl, ela sabia que não poderia esquecer. Ela não conseguia esquecer nada sobre ele. Nem as pequenas coisas. Nem se eu quisesse, ela pensou.

Meadow analisou os armários em volta da fogueira. Os porta retratos quebrados, as fotos haviam sido arrancadas, memórias que as pessoas carregavam quando fugiam. Ela passou os dedos pela coleção de discos de vinil, puxando o que chamou sua atenção. "Take my breath away", uma das músicas favoritas de sua irmã.

Ela caminhou até o toca-discos antigo, levantando sua tampa lentamente, assoprando para afastar a poeira, torcendo para que o objeto ainda funcionasse. Meadow colocou o disco delicadamente, ajeitando a agulha. E, quando as primeiras notas foram escutadas, ela sorriu. ─ Funciona! ─ Ela exclamou, chamando a atenção do Dixon.

Meadow estendeu sua mão para Daryl. ─ Vamos. ─ Ela o chamou. ─ A gente não sabe quanto tempo vai ficar aqui. ─ Ela tentou convencê-lo, apenas para ouvir o 'Nah' que escapou de seus lábios. ─ Vamos, Dixon, qual a última vez que você dançou com alguém?

Nunca, ele queria dizer. Ele nem sabia como. Meadow não aceitou sua resposta, segurando sua mão e o puxando para perto. Ele se sentia desajeitado, sem saber o que fazer. A Hart levou a mão do arqueiro até sua cintura, entrelaçando a outra aos seus dedos. ─ É só me seguir. ─ Ela disse. Ele sabia que ela não precisava pedir. Ele sempre seguiria.

Estava escuro. A luz das chamas na lareira era a única coisa que os iluminava. Ele analisou sua face, sua expressão serena. Tudo nela parecia tão delicado. Parecia errado tocá-la com suas mãos ásperas, seus braços sujos. Parecia um crime ansiar pelo seu toque, parecia um pecado alguém como ele tê-la em seus braços. E, naquele momento, ele não se importava em ir para o inferno por isso.

"O que você deseja, Meadow?" A voz de Deanna soou em seus pensamentos. Ela desejava esquecer. Esquecer que o resto do mundo existia, apenas por alguns minutos. Meadow encostou sua cabeça no ombro de Daryl, enquanto movia seus pés lentamente. Ela não escutava mais as notas da música, apenas as batidas do coração do arqueiro. Rápidas, bruscas, melhores do que qualquer melodia.

"O que você deseja para si mesma, Meadow?" Ela escutou mais uma vez. E, quando ela levantou seu olhar, encontrando os olhos azuis de Daryl, ela soube a resposta. A verdade que ela não admitia, o sentimento que ela lutou contra por tanto tempo.

"O menino e a bebê... Eles merecem um teto."

"Daryl. Meu nome é Daryl."

"Eu saio por ai 'pra não me sentir preso lá."

"Eu não era ninguém. Você nem ia me ver antes de tudo isso."

"O que você deseja?". Olhando para ele, Meadow soube. Ela entendeu que a resposta sempre esteve na frente dela, ela só não tinha coragem o suficiente para aceitá-la. Ela entendeu que quanto mais ela fugia, mais ela corria em direção à verdade que ela tanto temia.

"Vá atrás do que você deseja, Meadow". A liberdade que ela sentia toda vez que ele a tocava. A paz que ela sentia toda vez que ele a entendia, até mesmo em seu silêncio. Daryl era a calmaria para o caos que existia dentro dela.

"Cuide do Spencer para mim." Seus pés pararam no momento que o pedido de Deanna cruzou sua memória. Meadow se afastou, a música havia acabado há muito tempo. ─ A chuva diminuiu. ─ Ela disse com sua voz trêmula. ─ Podemos voltar. ─ A Hart afirmou, dando às costas para arqueiro.

Ela pegou suas roupas, indo na direção do outro cômodo, fechando a porta. Ela encostou suas costas na parede, soltando a respiração que ela parecia estar segurando por uma eternidade, fechando seus olhos.

Detalhes. Aqueles detalhes que ela não podia mais ignorar. Os detalhes que faziam seu coração acelerar, os detalhes que a trouxeram conforto no fim do mundo. Os detalhes que fizeram ela se apaixonar por Daryl Dixon.

JÁ ERA MADRUGADA QUANDO OS MUROS DE ALEXANDRIA apareceram em seu campo de visão. Nenhuma palavra além do necessário foi trocada durante a volta, mas a mente de Meadow estava longe de estar silenciosa. Daryl carregava dois coelhos que havia caçado e Sasha, a responsável pela vigia da noite, abriu o portão para dupla.

O líquido queimava sua garganta a cada gole. A garrafa roubada do estoque de Alexandria que ele escondia na torre de vigia estava quase seca. O álcool era sua companhia nas madrugadas em que ele era designado a proteger os moradores da comunidade. Nas noites em que ele cuidava do lugar pelo qual seu irmão morreu, o lugar que arrancou a vida de seu pai, o lugar que enterrou sua mãe.

Lar, ele riu ao se lembrar de como sua mãe chamava Alexandria. De como Meadow chamava. Foi um lar uma vez. Até eles aceitarem Rick e seu grupo. No momento que aquele maldito grupo cruzou os portões, foi o início do fim para Spencer. E, ao assistir Daryl e Meadow retornarem, ele fechou seus punhos, sabendo que aquelas pessoas também estavam levando ela dele.

Antes que pudesse se despedir de Daryl e caminhar até sua casa, uma movimentação em frente a casa de Rick fez com que ela largasse seus pertences e pegasse seu bastão, enquanto o arqueiro sacou sua pistola.

Primeiro, ela viu o longo casaco escuro. Então, o cabelo comprido, a touca preta e o rosto escondido por uma bandana branca. Paul Rovia, Jesus, estava invadindo a casa de Rick Grimes pela janela. ─ Ainda acha ele divertido? ─ Daryl perguntou, seu tom irônico. Ela o empurrou com seu ombro e a dupla seguiu para a casa do xerife.

Eles o encontraram sentado no último degrau da escada, segurando um quadro. Carl estava atrás dele, apontando sua arma na cabeça do intruso. ─ Oi! ─ Ele disse, olhando para Meadow. ─ Eu sou Jesus. ─ Ele se apresentou.

Daryl se moveu para frente de Meadow, a escondendo com o seu corpo e mantendo o intruso em sua mira. Segundos depois, Abraham, Maggie e Glenn apareceram, todos armados.

Rick apareceu atrás de Carl, sem camisa, fechando o zíper de sua calça com Michonne ao seu lado, fazendo com que o grupo trocasse olhares. ─ Você disse que quer conversar. ─ O Grimes afirmou, vestindo sua camisa. ─ Vamos conversar.

─ COMO CONSEGUIU SAIR? ─ RICK PERGUNTOU, encarando o desconhecido sentado em sua sala. Os primeiros raios solares entravam pela janela entreaberta. O grupo estava reunido na mesa, Jesus sentado na ponta, Rick ao seu lado e Meadow do outro. Daryl se encostou na parede, ainda com a pistola em suas mãos.

─ Um único guarda não cobre duas saídas, nem janelas no terceiro andar. ─ Jesus começou. ─ Nós se desfazem e trancas são abertas. ─ Ele disse. ─ A entropia vem da ordem, certo?

─ Certo. ─ Daryl respondeu, encarando o intruso com seu olhar raivoso, a irritação em sua feição.

─ Eu vi seu arsenal. ─ Jesus continuou. ─ Eu não vejo nada assim há bastante tempo. ─ Ele confessou. ─ Estão bem equipados, mas as suas provisões estão baixas. Muito baixas para o número de pessoas aqui. 54, certo?

Meadow riu. ─ Então você se deu um tour pelo lugar. ─ Ela se pronunciou. ─ E nós temos muito mais que 54 pessoas agora. ─ Meadow garantiu, como uma ameaça.

Jesus a olhava, a lendo da mesma forma que ela tentava lê-lo. ─ Olha, a gente começou com o pé esquerdo. ─ Ele declarou. ─ Mas estamos do mesmo lado... O lado dos vivos. ─ Ele se voltou para o arqueiro. ─ Você e o Rick podiam ter me deixado lá, mas não deixaram.

─ Eu sou de um lugar que é muito parecido com esse aqui. ─ Jesus contou. ─ Minha função é procurar outros assentamentos 'pra fazer trocas. ─ Sua frase aguçou a esperança em Meadow. Outros assentamentos, ela pensou. Outras pessoas vivas. Um novo mundo. ─ Vocês são do bem e aqui é um bom lugar. Eu acho que nossas comunidades podem se ajudar. ─ Ele ofereceu.

─ Vocês têm comida? ─ Glenn o questionou, colocando sua arma em cima da mesa.

Jesus assentiu. ─ Começamos a criar animais. ─ Ele respondeu. ─ Nós plantamos, tudo de tomate até sorgo. ─ Meadow trocou olhares com Rick. O Grimes sabia o que ela queria dizer. A comunidade do intruso tinha comida, animais, plantação. Coisas que eles desesperadamente precisavam.

─ E por que devemos acreditar em você? ─ Rick perguntou.

─ Eu posso mostrar. ─ Jesus afirmou. ─ De carro, nós vamos levar menos de um dia. ─ O semblante de desconfiança do xerife se manteve. ─ Então vocês vão ver quem somos e o que temos a oferecer.

─ Você disse que seu trabalho é ir atrás de outros assentamentos. ─ Meadow constatou, a ansiedade fazendo com que suas mais agarrassem cada vez mais forte o bastão de madeira que repousava em suas pernas. ─ Isso significa que existem outras comunidades? Outras pessoas? ─ A voz esperançosa escapou de sua garganta.

Um sorriso genuíno se formou nos lábios de Jesus. ─ Seu mundo 'tá 'pra ficar bem maior.

NO TOPO DE UMA COLINA, ESTAVA HILLTOP. Cercada por longas estacas de madeira e pela vegetação baixa em seu entorno. Suas botas foram de encontro com a lama causada pela chuva, a mesma terra viscosa que impediu que o trailer de Alexandria continuasse, obrigando o grupo a finalizar seu trajeto na caminhada.

O grupo escolhido para conhecer o assentamento e avaliar seus possíveis perigos consistia de Rick, Michonne, Glenn, Maggie, Abraham, Daryl e Meadow. O caminho até a comunidade de Jesus foi marcada por imprevistos e obstáculos inesperados.

Primeiro, o resgate de membros de Hilltop que se acidentaram na rodovia, um médico chamado Harlan e Freddie, que apresentava uma perfuração em sua perna. E, depois de salvá-los de caminhantes, o grupo precisou deixar seu meio de transporte para trás, depois do trailer atolar na terra molhada.

Por fim, a relutância dos dois guardas do portão em permitir a entrada do grupo. Eles apontaram suas lanças para os membros de Alexandria, recebendo as miras de suas armas em troca. Eles não têm armas, Meadow concluiu. Jesus os convenceu a abaixar suas lanças. Disse que permitiria que o grupo de Rick entrasse com suas armas e, em troca, um pedido. "Confiem na gente", Jesus pediu.

A fala de Jesus a levou até a memória do primeiro dia com o arqueiro na floresta. "Você devia dar uma chance 'pra essas pessoas, como deu 'pra mim, Daryl". Detalhes. Aqueles detalhes que sempre pareciam levar sua mente às lembranças dele.

O som do portão se abrindo a tirou de seus pensamentos. Meadow analisava cada canto do local. Parecia uma comunidade rural rústica, as fornalhas produzindo lanças, as plantações, os animais. Trailers encostados nos muros. E, no centro, uma mansão. ─ A Casa Barrington. ─ Jesus anunciou.

Era uma estrutura antiga e alta. Um arrepio percorreu todo o seu corpo ao reconhecer o local. O museu que seu pai a levou quando ela era uma criança. ─ Era um museu da história viva. ─ O Rovia continuou. Meadow escutava suas palavras, mas não conseguia mais entendê-las. Foi como um borrão. O sentimento ruim que a memória daquele lugar trazia fez com que seus músculos tremessem.

Ela sentiu uma mão encostar em seu ombro. ─ 'Cê 'tá bem? ─ A voz de Daryl a puxou do seu transe. A Hart balançou sua cabeça, o respondendo com um aceno de cabeça e um sorriso forçado.

Dentro da mansão, Meadow respirou fundo, tentando controlar o tremor em seus dedos. Ele não 'tá aqui. Acabou. Ela repetia para si mesma. ─ Jesus! ─ Ela voltou sua atenção para o homem de terno na sala de estar. ─ Você voltou! ─ Ele exclamou. O homem olhou para o grupo armado ao seu redor. ─ E com convidados.

─ Pessoal, esse é o Gregory. ─ Jesus o apresentou. ─ Ele mantém as coisas nos trilhos por aqui.

─ Sou o chefe. ─ Gregory afirmou, esboçando um largo sorriso em seu rosto.

─ Eu sou Rick. ─ O Grimes se aproximou. ─ A gente tem uma comunidade... ─ O líder de Hilltop o interrompeu.

─ Que tal vocês irem tomar um banho? ─ Ele sugeriu. Aquele tom de superioridade em sua voz. Babaca, Meadow pensou.

─ Estamos bem. ─ Rick respondeu.

─ O Jesus vai mostrar onde vocês podem se lavar. ─ Gregory continuou, ignorando a resposta do xerife. ─ E podem voltar aqui quando estiverem prontos. ─ Ele se aproximou de Rick. ─ É difícil manter esse lugar limpo.

O Grimes apertou sua arma com mais força, assentindo. O grupo começou a seguir o Rovia pelas escadas. ─ Você toma banho primeiro e depois fala com ele. ─ Ele disse, olhando para Maggie. Em seguida, o xerife se voltou para Meadow. ─ Você vai com ela.

NATALIE, QUE SURPRESA AGRADÁVEL. ─ Gregory afirmou, abrindo a porta de seu escritório. ─ E você trouxe companhia. ─ Ele disse, analisando Meadow de cima a baixo.

─ É Maggie. ─ A Rhee o corrigiu.

─ Ah! ─ Gregory exclamou. ─ Cheguei bem perto. ─ Ele a respondeu. ─ E você é? ─ Ele perguntou, mantendo seus olhos em Meadow.

─ Meadow. ─ A Hart disse. Seus traços demonstravam seu desconforto com a forma que o homem a olhava.

O escritório do líder de Hilltop era grande. Longas estantes repletas de livros, sofás e, no centro da parede, em cima de uma lareira, um quadro. ─ Sabe, visitei esse lugar uma vez, antes, quando era um museu. ─ Gregory contou. ─ Eu adoro esse quadro. ─ Ele confessou, ao notar o olhar da Hart sobre a peça de arte. ─ Nunca pensei que ele seria meu.

Meadow suspirou. O mundo havia acabado e ele parecia achar importante se gabar sobre um quadro. ─ É o imperador Charles V. ─ Meadow informou. ─ Van Dyck pintou. ─ O líder a encarava com surpresa. ─ Meu pai me trouxe aqui uma vez.

─ Bonita e inteligente. ─ Gregory disse. ─ Seu pai parece ter sido um homem admirável. ─ Ele concluiu, sorrindo, se sentando em uma poltrona.

Admirável, Meadow riu. Alguém como Gregory provavelmente gostaria de alguém como seu pai. A Hart manteve sua atenção nos livros e Maggie se sentou na frente do líder. ─ Onde vocês moram é tão bom quanto Hilltop? ─ Ele perguntou.

─ É só diferente. ─ A Rhee respondeu.

─ Como vocês alimentam todo mundo? ─ Ele continuou. ─ O Jesus disse que vocês têm terra para plantio, mas não plantam.

─ Estamos começando a plantar. ─ Maggie contou.

─ Vocês têm armas, então creio que tenham um bom armamento. ─ Gregory afirmou e a Rhee assentiu. ─ E a enfermaria, está abastecida?

─ E sua está? ─ Maggie retrucou. ─ Nós viemos aqui 'pra fazer trocar. Você tem o bastante 'pra isso?

Gregory sorriu de canto. ─ O Jesus me falou que sua reserva de comida está precária agora. Se as pessoas não comerem, vira um caos. ─ Ele disse. ─ Então eu vou falar claramente com você. ─ O líder anunciou. ─ Vocês não tem merda nenhuma. ─ Meadow tirou seus dedos dos livros, parando atrás de Gregory.

─ Eu quero ajudar, sou um cara legal. ─ Ele prosseguiu. ─ Mas não podemos dar as coisas de graça. Vocês podem trabalhar aqui para ganhar sua parte. ─ Gregory sugeriu. ─ Você seria uma ótima aquisição para nossa comunidade. Esperta, uma mulher bonita. ─ O líder confessou. ─ E voltando a falar bem claro... Posso fazer seu tempo valer a pena. ─ Ele piscou para a Rhee.

Meadow colocou sua mão sobre o ombro de Gregory, a apertando, escutando um gemido de dor escapar da boca do homem. ─ Eu pararia ai se fosse você. ─ A Hart aconselhou.

─ Você está me ameaçando? ─ Ele perguntou, sua voz trêmula.

─ Não, nunca. ─ Meadow respondeu, sorrindo. ─ Eu 'tô te avisando. ─ A Hart soltou sua mão, observando Gregory levar seus dedos trêmulos até o local, o massageando. Detalhes. Detalhes que demonstravam o homem fraco que ele era. ─ Vocês não têm munição. Vocês não conseguem se defender. ─ Meadow constatou, se lembrando das lanças que os guardas utilizavam.

─ Quem disse isso? ─ Ele respondeu, se levantando.

─ Nossas comunidades podem se ajudar. ─ Maggie argumentou.

─ Nós estamos indo bem. ─ Gregory afirmou, abrindo a porta de seu escritório. ─ Obrigada, Natalie, foi uma boa conversa.

PRECISAMOS DE COMIDA. ─ A voz grave de Rick soou em seus ouvidos. ─ Viemos até aqui e vamos conseguir. ─ O Grimes garantiu.

O grupo estava reunido em frente ao escritório de Gregory, conversando com Jesus. Meadow estava de pé, encostada na parede, encarando sua mão. Ela não prestava atenção na conversa, apenas revivia a cena de minutos atrás em seus pensamentos.

Ela passou os dedos pela a palma de sua mão, pensando em como ela apertava o ombro de Gregory. Pensando como ela queria machucá-lo por falar daquela forma com Maggie. Respira, ela repetiu, como Morgan havia instruído.

O barulho da porta da mansão sendo aberta bruscamente a tirou de seus pensamentos, sendo seguido por Gregory saindo de seu escritório. ─ O que aconteceu? ─ O líder questionou o homem que havia entrado na casa.

O morador de Hilltop tinha um semblante de preocupação. ─ Eles voltaram. ─ O homem informou. O grupo seguiu Gregory para o lado de fora, vendo as três figuras que se aproximavam. Uma mulher e dois homens.

─ Ehan, o que aconteceu com os outros? ─ Gregory perguntou à um dos homens. Ele caminhava rapidamente em direção ao líder, tinha um barba longa e os cabelos presos em um coque. ─ Cadê o Tim e a Marsha?

─ Estão mortos. ─ O homem o respondeu, sua feição nervosa.

─ Foi o Negan? ─ O líder pediu. Negan. Meadow havia escutado aquela nome antes. Daryl tinha contado seu encontro com homens que se diziam trabalhar para Negan.

O homem, Ethan, assentiu. ─ Eles ainda 'tão com o Craig. ─ O morador contou. ─ Falaram que deixariam ele vivo, que devolveriam ele 'pra nós, se eu te desse um recado.

─ Pode falar. ─ Gregory afirmou.

─ Sinto muito. ─ Ethan murmurou. Ele tirou a faca de sua calça e enfiou a lâmina no abdômen de Gregory.

Rick e Michonne correram para segurar Ethan, o afastando do líder de Hilltop. ─ Me larguem! ─ Ele gritou. ─ Eu fui forçado! ─ O Grimes desferiu um soco seu rosto, o derrubando.

Daryl correu para ajudá-lo, mas o outro homem que acompanhava Ethan o chutou, fazendo com que o arqueiro caísse no chão. Meadow puxou o braço do morador de Hilltop, tentando tirá-lo de cima do Dixon. O homem revidou, dando um tapa na bochecha da Hart. Ela sentiu a ardência do corte feito em seu rosto.

A respiração de Daryl ficou mais pesada. Ele puxou o braço do homem, quebrando seu pulso. O morador de Hilltop caiu no chão, enquanto o Dixon batia em seu rosto. O socando repetidamente. De novo e de novo.

─ 'Pra trás. ─ Ethan ameaçou, segurando uma faca no pescoço de Rick. ─ Se alguém tentar me parar, ele vai matar meu irmão! ─ Ele gritou.

Mas, nos segundos que ele desviou seu olhar do xerife, Rick conseguiu tirar a faca de seu bolso e a enfiou na garganta de Ethan. O sangue escorreu pelo seu rosto e sua roupa. Abraham segurou Daryl, enquanto a população de Hilltop assistia a cena em pânico. Um homem morto no chão, o outro inconsciente com ossos quebrados, Gregory deitado com o abdômen perfurado.

Os guardas de Hilltop apontaram suas lanças para Rick e o Grimes sacou sua arma. ─ Parem! ─ Jesus ordenou, se colocando entre o xerife e os moradores. ─ Já acabou! ─ Ele afirmou. ─ Ethan era nosso amigo, mas foi um covarde que nos atacou. Ele causou isso. ─ O Rovia declarou. ─ E essas pessoas o impediram. ─ Ele voltou seu olhar para Rick. ─ Abaixem suas armas.

Meadow sentiu o dedo de Daryl passar pela sua bochecha. Ele limpou o sangue que escorria em sua face, a olhando com cuidado. Detalhes. Aqueles detalhes que demonstravam como ele se esforçava para ser delicado ao tocá-la. Aquele toque. Ele.

O DR. CARSON CONSEGUIU DAR UM JEITO NO GREGORY. ─ Jesus comunicou, ao caminhar para dentro do escritório. ─ Ele 'tá com dor, mas vai sobreviver.

─ Eles falaram o nome 'Negan'. ─ Rick começou, suas mãos dentro dos bolsos de sua jaqueta ensanguentada. ─ Há uns dias, Daryl e Abraham toparam com uns homens dele. ─ O xerife disse. ─ Quem é esse cara?

Jesus suspirou. ─ O Negan é o chefe de um grupo de pessoas que ele chama de Salvadores. ─ O Rovia afirmou. ─ Assim que erguemos os muros, eles apareceram. Falaram com o Gregory a mando do chefe deles. Fizeram várias exigências e muitas ameaças. ─ Ele voltou seu olhar para o chão, seu tom de voz transparecia sua tristeza. ─ Então, ele matou um de nós. Rory. ─ Jesus contou. ─ Ele só tinha 16 anos. Foi espancado até a morte.

Dezesseis anos. Era praticamente uma criança. ─ Eu sinto muito. ─ Meadow declarou, recebendo um sorriso gentil do Rovia como resposta.

─ Gregory não é bom em confrontos. ─ Jesus continuou. ─ Não é o líder que eu teria escolhido, mas ajudou a construir esse lugar.

─ Ele fez um acordo. ─ Maggie concluiu.

O Rovia assentiu. ─ Metade de tudo. Dos suprimentos, da colheita, nossos animais. Tudo vai para os Salvadores.

─ E o que vocês recebem em troca? ─ Glenn pediu.

─ Eles não atacam esse lugar. ─ O Rovia afirmou. ─ Eles não nos matam.

─ E por que não matam eles? ─ Daryl se pronunciou. Meadow o olhou, notando os ferimentos em sua mão.

─ A maioria aqui não sabe lutar. ─ Jesus relatou. ─ Mesmo se tivesse munição.

─ Quantos homens o Negan tem? ─ Foi a vez do Grimes questionar.

─ Não sabemos. ─ O Rovia respondeu. ─ Já vimos grupos de 20.

─ Espera um pouco. ─ O arqueiro começou. ─ Eles vieram, mataram um garoto e vocês dão metade de tudo? Esses cretinos só são conversa.

─ Como você sabe? ─ Jesus retrucou.

─ Há um mês, a gente acabou com um grupo deles. ─ Abraham se manifestou. ─ Só sobraram pedaços e poças de sangue.

─ É, a gente resolve. ─ O Dixon garantiu. ─ Trazemos seu amigo de volta, matamos o Negan e o bando dele, você ajuda a gente? ─ O arqueiro propôs. ─ Queremos comida, remédios e uma das vacas.

Jesus voltou seu olhar para Rick. ─ Confrontos não são uma novidade 'pra gente. ─ O Grimes declarou.

O Rovia sorriu suavemente. ─ Eu vou falar com o Gregory. ─ Ele disse, saindo do escritório.

Meadow olhou para Rick e, em seguida, voltou sua atenção para a janela, assistindo os moradores de Hilltop velarem o homem morto, Ethan. Enquanto ela assistia seu cadáver ser queimado, a Hart pensava como eles haviam descoberto o que Deanna sempre queria. O novo mundo, mas esse seria construído a partir de morte e sangue.

ELE SENTIA SEU TOQUE GENTIL EM SUA PELE, enrolando a gaze com delicadeza em sua mão. Seus olhos analisavam a expressão séria de Meadow, notando o sutil curativo no corte em sua bochecha.

Involuntariamente, ele levou seus dedos até o ferimento. Ele não sabia o porquê, mas ele não controlava todas as vezes que seu corpo buscava tocá-la. Era como uma necessidade de protegê-la, confortá-la.

─ Não foi nada. ─ Meadow afirmou, ao sentir o arqueiro acariciar seu machucado.

Detalhes. Os detalhes em seu olhar a lembravam de ondas em um oceano cristalino. O olhar profundo, como se estivesse enxergando sua alma, como se visse algo que ninguém mais conseguia. Aquele olhar.

Você acha que é a decisão certa? ─ Meadow pediu, se referindo ao plano contra o grupo de Negan.

O arqueiro assentiu. ─ Você não?

─ Eu confio em você. Confio no Rick. ─ A Hart disse. ─ Eu só fico pensando... Ele chama o grupo de Salvadores, porque ele se vê como um. ─ Meadow constatou. ─ Ele é narcisista. Eu já conheci muitos narcisistas. ─ Ela confessou, finalizando o curativo na mão do Dixon. ─ Eles são mais perigosos do que parecem.

A porta do cômodo foi aberta. ─ Meadow. ─ Jesus a chamou. ─ Gregory quer falar com você.

─ Eu vou com você. ─ Daryl declarou, se levantando.

A Hart negou com a cabeça. ─ 'Tá tudo bem, Dare. ─ Ela o assegurou, seguindo o Rovia.

Dare, ele repetia em seus pensamentos. Os raros momentos em que ela deixava escapar seu apelido. Detalhes. Como ele gostava de sua voz o chamando, como ele ansiava por ouví-la dizer seu nome. Os detalhes que faziam a voz de Meadow bagunçar todos os seus sentidos.

QUANDO MEADOW ENTROU NO QUARTO DE GREGORY, Maggie já estava na frente da cama do homem ferido. Ele estava deitado, pálido, um enorme curativo em seu abdômen. As cortinas fechadas impediam que os raios solares iluminassem o cômodo.

─ Meadow, querida! ─ Ele exclamou, sua voz estava trêmula, o suor escorria pela sua face. ─ Eu estava falando para a Natalie como é engraçado essa conversa. ─ Gregory contou. ─ Eu ofereci que vocês trabalhassem aqui pela sua parte e ela negou, mas agora, esse acordo de acabar com os Salvadores, não é a mesma coisa? ─ O líder sorriu. ─ Eu tinha a vantagem e aproveitei. Não foi pessoal.

─ Nós vamos resgatar o Craig e cuidar do Negan e dos Salvadores permanentemente. ─ Maggie interviu. ─ Em troca, você nos dá metade dos seus suprimentos.

O homem gargalhou. ─ Metade, querida?! ─ Ele repetiu. ─ O Craig não vale isso. Ele é um fraco. ─ Gregory afirmou. ─ Não sei se eu quero ele de volta.

Meadow fechou seus punhos. ─ Maggie, posso falar com o Gregory à sós? ─ A médica pediu. A Rhee assentiu, saindo do cômodo.

─ O quadro que você gosta... O Charles V. ─ Meadow começou, caminhando pelo quarto. ─ Ele foi um dos primeiros imperadores que conseguiu controlar várias dinastias ao redor do mundo. Um líder forte, as histórias dizem. ─ A Hart relatou. ─ Diferente de você. ─ Ela disse, parando ao lado da cama do homem.

─ O que você disse? ─ Ele perguntou, seu olhar com raiva.

Meadow se sentou na cama, se aproximando de Gregory. ─ Uma coisa que eu aprendi com o meu pai foi como reconhecer homens fracos. ─ Ela declarou. ─ E você, Gregory, é fraco. ─ A Hart sorriu. ─ Hoje foi uma demonstração da sua fraqueza. É só uma questão de tempo até essas pessoas descobrirem isso também.

─ A pergunta é quem vai conseguir sua cabeça primeiro. ─ Meadow confessou. ─ Eles ou o Negan. ─ Ela disse. ─ Metade e nós vamos resolver o seu problema.

Gregory levantou suas mãos, batendo palma lentamente. ─ Parabéns. ─ Ele murmurou. ─ Conseguiu um acordo.

A Hart se aproximou mais alguns centímetros, seus lábios próximos ao ouvido de Gregory. ─ E mais uma coisa. ─ Ela afirmou, colocando sua mão em cima do ferimento do líder de Hilltop e o pressionando, escutando o som de agonia que saiu de sua garganta. ─ O nome dela não é querida, nem Natalie. É Maggie. ─ Meadow informou. ─ Mas tenho certeza que você vai se lembrar disso.

A médica se levantou, saindo do quarto e encontrando Jesus e Maggie do lado de fora. ─ Ele vai precisar de um curativo novo.

A LUZ DA LUA CHEIA ILUMINAVA AS MANCHAS DE SANGUE que ainda estavam em sua mão. Sangue do ferimento de Gregory. Morgan ia estar decepcionado comigo agora, Meadow pensou.

O amigo de Rick havia oferecido ajuda à ela depois do ataque à Alexandria. Ele disse que poderia ajudá-la a controlar sua raiva. Meadow aceitou, porque ela sabia que estava cedendo cada vez mais ao ódio que se escondia dentro dela. Era como uma fantasma que a tentava constantemente.

Ela estava na sacada do quarto que foi cedido ao grupo de Rick. A Hart não conseguia dormir, toda vez que ela fechava seus olhos os mesmos pesadelos a torturavam.

A luz da sacada foi acesa, fazendo com que ela se voltasse para a figura que surgiu ao seu lado. ─ Queria te mostrar isso. ─ Glenn afirmou, entregando à ela uma pequena fotografia. Um ultrassom.

A médica esboçou um largo sorriso em sua face, uma lágrima se formou em seu olho. Meadow o abraçou. ─ Eu 'tô muito feliz por vocês. ─ Ela contou.

Glenn sorriu, mas a Hart notou a preocupação em seu olhar. ─ Qual o problema? ─ Ela perguntou.

─ Eu 'só me preocupo com ele crescendo em um mundo assim. ─ O Rhee confessou.

Meadow passou os dedos pelo o ultrassom. ─ Ele é sortudo. ─ Ela afirmou. ─ Você vai ser um ótimo pai. ─ A Hart admitiu. ─ Não importa como o mundo vai estar, Glenn, um bom pai, uma família... Isso é o que importa. Isso é o que torna o mundo melhor.

NO CAMINHO DE VOLTA PARA ALEXANDRIA, Meadow sentou no fundo do trailer, sozinha, mantendo seu olhar na janela, vendo o cenário da natureza durante o caminho. Sua mente parecia seu inferno pessoal, rodeada de sentimentos que a consumiam pouco a pouco.

A perda de Aiden, Reg e Deanna. Spencer, que havia perdido toda sua família de uma forma tão rápida e lenta. O noivo que precisava desesperadamente de sua ajuda, mas ela não sabia como salvá-lo de seu sofrimento. E Daryl. Cada emoção parecia pesada demais para ela carregar.

Abraham sentou ao lado do arqueiro, o mostrando o ultrassom de Glenn e Maggie. ─ Você já pensou nisso? ─ O ruivo questionou. ─ Se estabilizar.

Daryl voltou seu olhar para Meadow, que mantinha sua atenção presa na paisagem. ─ Você acha que a merda se estabilizou? ─ Ele respondeu.

ERA NOITE QUANDO ELES ADENTRARAM OS MUROS DE ALEXANDRIA. Rick pediu para que todos os moradores se reunissem na Igreja. Ele explicou o plano, contou sobre como toda a comida que eles haviam recebido veio com um preço. Eles precisavam invadir a base dos Salvadores e matar cada um deles.

O Grimes argumentou que Negan os acharia mais cedo ou mais tarde e que, agora, eles tinham a vantagem. Morgan contestou, propondo que o grupo conversasse com Negan, que, talvez, se Rick mostrasse que poderiam matá-los, eles se renderiam. Mas Rick não corria riscos. Alexandria não podia mais correr riscos.

Meadow foi uma das últimas pessoas a deixar a Igreja e, ao sair do local, ela sentiu uma mão agarrar seu braço. ─ Você concorda com isso?! ─ Spencer perguntou. ─ Isso é assassinato, Meadow.

─ Spencer, é nossa única opção. Nós precisamos comida. ─ A Hart tentou argumentar. ─ E eu confio no Rick.

O Monroe riu ironicamente. ─ Claro. ─ Spencer afirmou. Ela sentiu o cheiro de álcool que emanou de sua boca.

─ Spencer, você 'tá bebendo de novo? ─ Meadow pediu, decepcionada. ─ A gente precisa conv...

─ Eu não sei mais quem você é, Meadow. ─ O Monroe esbravejou. ─ Você não vê que desde que esse grupo chegou, tudo mudou?! Eu perdi minha família por causa deles! ─ Ele exclamou. ─ Agora o Rick até te convenceu a ser uma assassina, igual ele.

A Hart o encarou. Uma assassina. ─ Ei, cara... ─ Daryl, que escutou o tom raivoso do Monroe, se aproximou, tentando intervir.

─ Não se mete, caipira. ─ Spencer afirmou, empurrando o arqueiro. ─ Você acha que eu não vejo o jeito que você olha 'pra ela? ─ O Monroe continuou, soltando uma risada. ─ Olha 'pra você, Dixon. Um velho fracassado. ─ Spencer o empurrou mais uma vez. ─ Meadow sempre teve pena de pessoas como você.

─ Spencer, fica quieto! ─ A Hart gritou, tentando afastar seu noivo do arqueiro.

Daryl fechou seus punhos, os apertando com tanta raiva que ele podia sentir as unhas cortarem sua pele. Ele viu o desespero na feição de Meadow e deu às costas para Spencer. Ele não faria isso. O Monroe não valia a pena.

─ Você não vai a lugar nenhum. ─ Spencer declarou, segurando a roupa do arqueiro com força, rasgando o colete que Meadow havia feito e sua regata, revelando suas costas nuas.

Cicatrizes. Suas costas estavam cheias de cicatrizes. Os olhos de Meadow estavam arregalados, era como se ela tivesse ficado paralisada. Ela conhecia aquele tipo de cicatriz. ─ Eu... Eu não sabia. ─ O Monroe tentou se justificar. Daryl tentou esconder suas costas com as peças de roupa rasgadas e caminhou em direção a sua casa.

─ Qual o seu problema?! ─ Meadow exclamou para Spencer.

Ela correu atrás do arqueiro, parando nas escadas de sua casa. ─ Daryl, espera. ─ Ela pediu.

Ele se virou para ela, seu semblante com tanta mágoa, tanto ódio. ─ Eu sei como... ─ Meadow tentou dizer.

─ Você não sabe merda nenhuma. ─ Daryl disse. Ela conseguia sentir a raiva em sua voz. ─ Você é só uma patricinha entediada que quer brincar de arco e flecha. ─ O arqueiro continuou. ─ Volta 'pro seu conto de fadas, princesa e me deixa em paz. Eu não preciso da porra da sua pena.

É o que pensa de mim? ─ Ela perguntou, sua voz tão baixa, como um sussurro, porque ela temia a resposta.

Daryl deu às costas para Meadow, fechando a porta em sua cara. A médica encostou suas costas na madeira áspera da porta, deslizando até sentir o frio do chão gelado sob seu corpo, enquanto lágrimas silenciosas molhavam seu rosto. ─ Meu pai... Ele gostava de bater na gente. Muito. ─ Ela começou, sua voz estremecida. ─ Minha irmã sempre tentava me proteger, mas uma vez, ele me bateu tanto que fui internada. ─ A Hart contou, passando seus dedos sobre sua camiseta, os traçando sobre a cicatriz em seu abdome. ─ Hemorragia interna.

Daryl prestava atenção em cada palavra, encostado do outro lado da porta, seus olhos lacrimejando. ─ Ele era um político influente, então ele sabia como esconder. ─ Meadow respirou fundo, cada memória dita em voz alta era como uma ferida sendo aberta novamente. ─ Aria fazia de tudo 'pra cuidar de mim, ela até se casou 'pra deixar o meu pai feliz.

A Hart passou a mão pela sua bochecha, tentando limpar suas lágrimas. ─ Mas o marido dela era igual ao meu pai. ─ Meadow afirmou. ─ Ela viu que nunca se livraria daquela violência. ─ A médica segurou o colar que ela carregava em seu pescoço. ─ Quando eu encontrei ela na banheira... Era tarde demais.

─ Eu nem sei se você 'tá me ouvindo. ─ Meadow murmurou, sua respiração falha. ─ Eu só queria que você soubesse que eu entendo.

Detalhes. Os detalhes que fizeram Daryl não abrir sua porta naquela noite. Os detalhes nas palavras do arqueiro que a cortaram mais fundo do que qualquer lâmina.

Detalhes que os destroçaram pouco a pouco, restando pedaços de seus sentimentos silenciosos e cicatrizes abertas.

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