Ruptura | l.s

By 1redsabbath

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Um acontecimento passado (2010) que conduziu Harry Styles da prisão à clínica psiquiátrica por anos, quebra p... More

Esclarecimentos.
Ruptura.
Apresentação dos Personagens.
Capítulo 1 - Olá, Louis
Capítulo 2 - O beijo nunca mente
Capítulo 3 - California Dreamin
Capítulo 4 - BTK
Capítulo 5 - Acorde, Louis!
Capítulo 6 - Dois fantasmas
Capítulo 7 - "Lance de gêmeos"
Capítulo 8 - Te enlouquece perceber a rapidez com que a noite muda?
Capítulo 9 - Estou aqui para tomar o meu remédio
Capítulo 10 - Não foi o Harry
Capítulo 11 - Você
Capítulo 12 - Composição química
Capítulo 13 - Terceira Lei de Newton
Capítulo 14 - A noite é tua e eu também
Capítulo 15 - Lobo em pele de Cordeiro
Capítulo 16 - All stars vermelhos
Capítulo 17 - Sincronia
Capítulo 18 - Você me leva para casa
Capítulo 20 - Louis Tomlinson
Capítulo 21 - Here's Harry!
Capítulo 22 - É apenas tinta
Capítulo 23 - Nunca mais
Capítulo 24 - Nosso primeiro Dezembro
Capítulo 25 - O Funeral dos corações
Capítulo 26 - 2010, Parte um
Capítulo 27 - 2010, Parte dois
Capítulo 28 - Você se lembra?
Capítulo 29 - Sempre em meu coração
Referências e Inspirações.
Finais Alternativos.
Spin-off.

Capítulo 19 - Corda e Âncora

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By 1redsabbath

Passado.

Era uma manhã de Fevereiro em que uma reunião da empresa Styles acontecia na casa dos Styles durante um café da manhã. O pequeno e retraído Harry não podia se sentir mais deslocado naquela sala de estar onde um bando de adultos conversavam alto e olhavam para ele e para seu irmão como se fossem uma atração. Notava-se Heather hiperativo demais com as duas filhas de um dos importantes homens ali presente, tocando um violão de brinquedo e contando piadas inventadas por ele próprio enquanto as meninas faziam penteados diversos em seus cabelos. Os gêmeos estavam na faixa de seus dez anos.
- Então esses pequenos espelhinhos fazem aniversário neste mês, é? E então, o que vocês querem ganhar de presente do titio? Henry e... Richard? - A mão de um alto homem bagunçou os cabelos de H, que se esquivou ao mostrar uma expressão fechada de desgosto, franziu as sobrancelhas e encolheu os ombros. De não tão longe, Heather correu como um vulto e abraçou a cabeça do irmão por trás, dando ao homem um cerrar de dentes em desaprovação, quase como um rosnado.
- Você tá incomodando o meu irmão, não tá vendo não, ôôô?! nós não gostamos que mexam no nosso cabelo! E é Harry e Heather, os dois com H!
- Heather, por favor... - O pai tossiu propositalmente, lançando aos demais um sorriso forçado em vergonha.
- Tudo bem, Henrich, ele é só uma criança cheia de personalidade. Esse menininho vai dar muito trabalho!
- E eu quero ganhar uma guitarra, eu vou ser um rockstar! Harry, Harry, eu vou ser um rockstar, não vou?! O que você vai ser? - O histérico garotinho se virou para o irmão, dando pulos animados ao que segurou nos ombros dele. Harry sentiu-se deslocado ao que os olhares foram voltados para si, mas estar perto de Heath o tranquilizava.
- Eu quero ser cientista... - Respondeu, mantendo-se ereto, mas não olhava para mais ninguém além do gêmeo.
- Viu? Ele quer ser cientista. - Heath virou-se para o homem que antes bagunçara os cabelos do irmão. - Ele vai ser o maiooor cientista do mundo! O meu irmão é muito inteligente, ele faz cálculos e monta aparelhos, ele consertou o meu videogame! Eu vou buscar. Harv, me ajuda a procurar o meu videogame!! - E então o mais agitado dos gêmeos saiu correndo escancarado atrás do irmão mais velho, após puxar as mãos das meninas para irem consigo.

- Eu peço desculpas, o Heather é diferente, um pouco agitado, ele é.. - Henrich murmurou ao se aproximar do homem com quem antes o filho falava, mas foi interrompido pela voz baixa de Harry que os encarava de olhões bem abertos.
- Eu gosto do meu irmão do jeito que ele é.
- Então... É este o mocinho que faz cálculos e conserta videogames? Invista neste gêniozinho, Henrich. Já pensou em pagar aulas extras para ele? Eu conheço uma ótima professora no Maine.
- Ele faz aulas de reforço. Os dois, na verdade. Mas somente Harry faz exatas por possuir uma facilidade que eu não entendo. Eu acho que Heather gosta mais de.. Ehm, áreas não intelectuais. Eles ainda são muito novos.
- O Heath gosta de instrumentos musicais e a arte é sim um intelecto. Ele é um guitarrista excepcional para a nossa idade. - Após as últimas palavras, H deu as costas antes que o pai o repreendesse ou fingisse um sorriso falso outra vez como quem estava escondendo a vergonha por quaisquer que fossem as ações de seus filhos, em especial, de Heather.
- O seu filho usou mesmo as palavras... Intelecto e Excepcional?
O homem ao lado de Henrich pareceu surpreendido. E era um fato inegável quando se dizia que o uso incomum de palavras difíceis no vocabulário do menino assustava, considerando que ele tinha apenas uma década de vida, sua forma diferente de ser e falar era algo a se estranhar.
Podia-se explicar com o fato de que ler era um hábito para Harry, e livros são mundos habitados por palavras e mais palavras. Dos três irmãos, somente ele possuía o gosto intenso pela leitura.

Eram apenas crianças, mas não para alguém com a mente tão limitada e que dava tanta importância à imagem e ao nome da família. Era comum que ele, o pai, repreendesse os filhos, que os tratasse como mais velhos e os estudasse como se a faculdade estivesse mais próxima do que se imaginava; essa era uma questão que atingia mais à Harry, considerando que o menino fora prestigiado com uma exímia inteligência que se mostrou superior e marcante desde muito cedo, fazendo dele o principal "foco" do pai.

Do lado de fora da casa, podendo finalmente respirar o ar puro e livre de pessoas ao redor, Harry enfim podia agir tal como sua idade; apesar de que, de modo geral, isso era mesmo quase impossível. Devido ao cérebro dotado e sua precoce sabedoria quanto às áreas de exatas e biológicas, ainda que todavia não intensamente, o garoto era incapaz de se portar como uma criança comum e tampouco era visto como uma.
Ele havia enfiado algumas canetinhas nos bolsos, as quais escondeu para pintar suas limpas unhas quando se sentou no gramado abaixo de uma árvore na parte exterior da grande casa, era algo que sempre o distraía por tempo demais; e não seria diferente em seu futuro.

- Por que você 'tá fazendo isso? Isso não vai sair mesmo das suas unhas. - De repente, uma doce voz desconhecida chamou a atenção de Styles. Ele levantou a cabeça e olhou ao redor, procurando por de onde vinha a voz; e fora quando seus olhos bateram numa caminhonete ferrugem velha estacionada frente ao portão de sua casa, de onde um par de pequenos olhos azuis, tais como o céu, observavam curiosamente o que fazia em suas unhas.
A cabeça do menino fora erguida, expondo todo o rosto marcado por olheiras e um adorável nariz arrebitado que se retorcia costumeiramente. Harry nada disse, pois suas palavras foram todas tomadas pelo encanto imediato. Ele sentiu como se acabasse de encontrar um anjo, daqueles citados em contos, ou uma fada, uma bela fadinha.
- Você parece uma garota. Eu pensei que só garotas pintassem as unhas. Você é rico, é? Que casarão... - Nada fora dito. O rosto de H adquiriu uma coloração avermelhada. - Você não fala não, ein? Você é tão estranho.. Eu nunca vi um garoto como você, assim, é que você não parece muito real.. Parece uma boneca de porcelana.

- É raso pensar que apenas garotas pintam as unhas. E se garotos não pintam, então eu sou o primeiro garoto que pinta as unhas. Não é nada inteligente. - E então ele cruzou os braços, mostrando uma postura de indignação e expressão brava; esta que mudara para surpresa e tímida quando escutou as últimas palavras vindo do menino dentro da caminhonete.

- Raso? O que você quer dizer com raso? Você fala tão difícil, parece até o meu professor da escola. - O garoto então abriu a porta da caminhonete e saltou para fora, de pés descalços e cabelos tão lisinhos que era impossível de bagunçar. Ele andou até a frente do portão da casa e segurou nas grades que dividiam-no do outro menino. De perto, olhou-o com mais atenção, e então ali o pequeno teve a absoluta certeza de que, de fato, aquele garoto só podia ser feito de porcelana. O de olhos azuis jamais antes vira um garoto tão diferente.
- Eu gosto das suas unhas olhando de perto. Por que seu cabelo e suas pernas são tão grandes? Caramba, você é tão pálido.. Você não sai de casa não? - A curiosidade notória do menino menor se fazia mais evidente a medida que ele observava o outro.
- E por que você é tão tagarela? - H respondeu com outra pergunta, ainda tinha os braços cruzados.
- E por que você.. - Antes que pudesse contestar, de olhos cerrados, o garoto do lado de fora do portão respirou fundo e estendeu uma de suas pequenas palmas por uma abertura entre as grades.

- Eu sou o Louis. Louis Tomlinson. Eu morava no interior, mas agora eu vou morar aqui por perto, depois do lago indo para o Porto. O meu pai trabalha no Porto, com pesca. E eu sei falar dois tipos de inglês.

Por um segundo, Harry hesitou, analisando detalhadamente aquele garoto mais baixo. Era comum para H não gostar nada de tagarelas e preferir sempre ficar afastado deles, mas, fora diferente naquele momento. Louis Tomlinson era um tipo diferente de tagarela. O de olhos verdes se levantou, parando na frente do outro menino.

- Sou Harry Styles. Eu moro aqui e não saio muito de casa, o meu pai é dono de uma empresa de Jóias, mas eu não ligo, na verdade. Eu tenho um irmão gêmeo idêntico, ele se chama Heather. E eu gosto de estudar a composição das coisas.

E então, Harry apertou a mão de Louis. Eles balançaram as mãos em cumprimento.

- Você tem um irmão gêmeo? Eu nunca conheci gêmeos, isso é engraçado. Eu duvido que sejam tão iguais assim, ele parece um príncipe assim igual a você, Harry? Até o seu nome é chique, você é da realeza! E você é um nerd, então? Eu não sei o que são composições.

Diante da pergunta inocente de Tomlinson e do restante do falatório, Styles riu, também de forma inocente. Fora natural ao rir, considerando que aquele menino descalço estava realmente o divertindo.
O menor de olhos azuis não notava o quão fascinado estava pelo excêntrico Harry Styles, e apesar do encantamento que nascia, não havia nada além da pureza de uma criança em suas demonstrações espontâneas.
Dos fundos, o pai de Harry se aproximava. O de Louis também, após deixar uma caixa no capô da caminhonete.

- Eu não sei falar o seu nome. Tom.. Tomli.. Tomilinson...
- É Tomlinson, bobão! Olha, assim, oh. Fala comigo. Tom-lin..

- Louis! Não fique no portão das pessoas desse jeito, venha aqui.
- Harry, Harry!

E então, após um murmurar um "oops", Louis e Harry soltaram as mãos e deram um passo para trás. Os dois homens adultos cumprimentaram-se com um aceno de cabeças e palavras curtas. Henrich Styles já conhecia o Pescador, o Homem do Porto, portanto, não havia muito o que dizer.

- Despeça-se e entre, em cinco minutos, ok? Você tem uma aula daqui meia hora. - Henrich acenou novamente com a cabeça antes de virar-se, com a expressão fechada e de pouca importância. Não era como se ele fosse tão apto à empatia para com os moradores do interior.

- Vamos, Louis. Eu já disse para não ficar descalço, filho. Você sempre faz o contrário.
- Eu vou me despedir do Harry Styles, ele é da realeza! - E então, o garoto correu ao carro após pedir por espera, deixando seu pai ali confuso. O pai de L aguardou no banco do motorista, pacientemente. Louis logo voltou ao portão com uma barra de chocolate em mãos e estendeu pela abertura entre as grades, entregando ao mais alto.
- Era a minha sobremesa, eu comprei com o meu próprio dinheiro que consegui vendendo peixes no Porto, mas agora é seu..! Oh, espera, só um pouco. - Num movimento ágil, apesar de dificultoso para seus dentes pequenos, Tomlinson arrancou uma pequena parte da barra antes de estendê-la novamente e sorrir com o doce ainda preso nos dentes. - Toma. Pega logo. Dá um pouco pro seu irmão gêmeo.

Harry então sentiu-se quase temblar ao que o coração bateu forte contra o peito. Ato nenhum antes jamais fora tão natural, puro e especial, vindo qualquer pessoa que não fosse o seu irmão. O sentimento novo quase desmontou o garoto ali mesmo, de pé, mas ele segurou-se; mostrou um cômodo sorriso de gratitude e encanto, e então, ao pôr a mão sobre o presente que lhe era entregue, por um segundo ele se sentiu culpado.
Louis e seu pai não pareciam ter uma vida assim tão fácil, se eles vendiam peixes para cuidarem-se, e se Louis entregava aquela barra de chocolate com tanta importância ao arrancar um pedaço para si próprio, quando é que ele poderia sentir o cheiro de um doce novamente? Não era justo, era cortante. Mas Harry não queria, e não iria, desfazer do ato afetuoso e tão espontâneo do outro garoto, portanto, ele aceitou.

- Obrigado, Louis. Pode deixar, eu vou dar um pedaço para o meu irmão sim. - Sorriu minimamente, olhando para os pés descalços que subiam e desciam no chão como quem sequer percebia o que estava fazendo; aquele detalhe jamais abandonaria a memória de H. Louis logo sorriu e se virou para voltar para a caminhonete de seu pai, mas faltava algo. Um vazio havia ficado, Harry se sentiu incomodado.
- Louis Tomili..nson! - L virou-se novamente, parando no meio do caminho.
- Sim, Harry?!
- Eu vou deixar o portão aberto amanhã.
Tomlinson riu após a fala convidativa do mais alto, terminando de comer o chocolate que sujava seus dedos e o seu nariz acidentalmente.
- Tá bem, Harry! - Ele entrou na caminhonete, se sentou e colocou os braços para fora, juntamente da cabeça, olhando novamente na direção do portão onde Styles estava grudado com ambas as mãos segurando as grades e o rosto preso numa abertura entre elas. - E não come tudo sozinho, senão a sua cara de porcelana vai ficar cheia de espinhas e você vai ter que me deixar estourar todas elas, Harry! - H então riu abertamente, um sorriso escancarado que se alastrou rosto a fora. - E vai doer, tá me escutando?! Tchau, Harry! Boa sorte com suas composições e suas unhas! - O veículo começava a se deslocar, com Tomlinson acenando constantemente.
- Eu escutei, tchau, Louis! Não esquece o caminho! Eu escutei.. Não esquece. - O tom de voz do pequeno de olhos verdes ia baixando consideravelmente à medida que o veículo sumia junto da imagem do novo conhecido.

O sorriso ficou plantado no rosto corado de Harry, que segurou a barra de chocolate com ambas as mãos e riu sozinho ao inalar o cheiro do doce. Ele correu para contar tudo a Heather; quem apreciou metade do chocolate de mui bom grado.

Depois daquele dia, apesar do quão difícil foi para os pais dos dois meninos, contribuir para aquela inquebrável amizade, eles se uniram como corda e âncora. Henrich desgostava de Louis, mas nada podia fazer contra a presença significativa do menino na vida de seu filho, pelo menos não por enquanto. O pai de Louis levava-o na caminhonete até a casa de Harry, e quando isso não acontecia, o garoto ia numa velha bicicleta. Harry, por sua vez, por conta própria ia até o outro em sua bicicleta; até que eles adquirissem o costume, quando adolescentes, de pular a janela um do outro à noite.

Pouco a pouco, à medida que cresciam, mais inseparáveis e costurados ficavam. Da amizade inocente, nasceu uma intensa paixão, e dessa paixão, o amor; talvez, muito possivelmente sempre tenha sido, o sentimento somente precisava do devido tempo para amadurecer.

Presente.

No trânsito, Harry e Louis conversavam na tentativa de fazer a viagem até Liverpool parecer mais leve e curta. Louis, no volante. Eles estavam indo ao encontro do Dr. Garreth para a consulta mensal de H, e, claro, também para que Louis finalmente obtivesse uma conversa em particular com o médico.
Alguns dias haviam passado desde o evento no trabalho de L; este que ganhara alguns dias de folga após tanto trabalho e estresse. Harry trabalhou tranquilamente durante aqueles dias, ainda que, sempre ao passar pelo corredor do quarto onde o pai estava hospitalizado, sentia-se incômodo. Ele sempre parava na porta, olhava lá dentro, hesitava e então seguia o caminho pelo corredor. Ele se recusava a entrar no quarto e olhar no rosto do pai, mas não havia ódio nutrido, mas sim, um rancor inegável.
Styles havia se despedido de seu irmão gêmeo antes da viagem, por telefone, já que Heather comunicou estar migrando de bar em bar com uma nova banda de rock para tocar em novos ambientes musicais.

- Como o Henrich está? Sabe, desde o infarto. Você está bem com isso? - L indagou, mas sem desviar os olhos da estrada.
- Me disseram que ele não teve melhora. Eu não entro no quarto onde ele está. É indiferente para mim, eu não sei dizer. - Em resposta, H suspirou e passou uma das mãos nos cabelos, encaixando uma mecha atrás da orelha.
- Vá no seu tempo, e está tudo bem. E se não for, tudo bem também.
Um silêncio então se fez presente, por alguns segundos, antes que Tomlinson se pronunciasse outra vez.
- A Nora... Ela vai acordar do coma? - Diante da pergunta alheia, Harry olhou para ele de relance e ponderou por um instante.
- Vai. Até dois ou três meses.
- Ah. - O mais baixo então respirou fundo, batucando os dedos ansiosos no volante. - Eu estava esperando... Um momento para falar com você sobre isso e sabe, Harry, não é que eu esteja me lamentando pelo o que houve com ela, o que me preocupa de verdade é que você tenha sido o responsável.
- Não é como se fosse um costume para mim fazer o que eu fiz, eu nunca fiz nada parecido antes e não vou fazer novamente. Eu só não achei justo que ela jamais tenha pago por tudo o que fez, e continuaria sem pagar.
- Como tem tanta certeza de que ela vai acordar? Se ela não acordar, você sabe o que isso significaria, é..
- Não se preocupe, querido. Eu não tentei matá-la. - H então pousou uma das mãos por cima de uma das dele no volante, por um segundo, onde deixou uma carícia antes de afastar e cruzar as pernas. - Eu mesmo reproduzi... As pílulas que ela já tomava. Calculei a quantidade certa de substâncias para não ser fatal.
- ... E se alguém descobrir em algum momento?
- Não vai acontecer.
- Como você pode ter certeza?
- Ela foi levada até o hospital quando teve a overdose, não haviam remédios com ela, ela deve ter tomado antes de sair de casa. As amostras são enviadas para o laboratório de química medicinal, onde eu lidero, e sou eu quem determino quais substâncias causaram uma overdose. É a etapa final. - Enquanto ele se explicava, Louis acendia a um cigarro com uma das mãos.
- Isso só... Só.. Eu não sei como vou abordar isso com o seu médico. Nós... Depois dessa consulta, nós vamos superar isso. Vamos.. conviver com isso, com o tempo vai ser como se não tivesse acontecido, vai ficar tudo... sob controle. Ela vai acordar, e você nunca vai ter feito isso. 'Tá tudo certo. - O mais velho deu um fundo trago no cigarro, subindo e baixando as pontas dos pés no chão. E então, ele pousou uma mão na coxa do outro e suspirou. - Não 'tá tudo certo, mas eu vou cuidar disso e vou cuidar de você. Vai ficar tudo bem. Vai sim. E eu te amo, querido, eu disse isso? Estou dizendo agora.
- Já está tudo sob controle. - Respondeu o mais alto em voz baixa. - Eu sinto muito. Não quero que você me inocente e tenha que conviver com essa carga. Eu fiz coisas más à pessoas más para proteger vocês. Você e o meu irmão. Já está feito, mas esse peso é meu, Louis. Eu não deixaria, em hipótese alguma, você ocultar nada que eu tenha feito. - H murmurou, olhou-o e tomou a mão dele, contornando as linhas na palma carinhosamente. Pensativo, apenas respirou fundo com os próprios pensamentos. Não poderia voltar a tomar atitudes que atingissem ou prejudicassem Tomlinson de alguma forma, não mesmo. - Eu amo você também.

Houve um silêncio de compreensão após o último dito de Styles. Eles pararam para reabastecer o veículo e comer alguma comida de estrada. Não havia nenhuma tensão entre eles, desde muito cedo se habituaram a compreender e lidar com a forma que cada um tinha de lidar com determinadas situações. Havia preocupação, é claro, principalmente por parte de Tomlinson, mas ele não sentia que algo estava errado ou fora do lugar; era uma estranha sensação de comodidade, por mais que a preocupação e ansiedade gritassem muito alto.

[...] Quando o sinal fechou e o veículo parou, os olhos grandes verdes do mais novo foram parar no veículo parado ao lado, onde viu uma criança no banco de trás a comer uma barra de chocolate enquanto assistia a algo num Tablet. A lembrança vivida na mente do homem fez-o sorrir minimamente, e então ele girou a cabeça na direção do mais velho que conduzia o volante, segurou-o numa das mãos e manteve esta contra sua barriga, acariciando os dedos.

- Barras de chocolate me trazem boas lembranças. - Comentou H, distraindo-se ao que mexia com os dedos do mais velho que roçavam carinhosamente no tecido roxo escuro de seu suéter. A gola da roupa cobria o pescoço do maior, fazendo com que seu rosto pálido e cabelos livremente soltos se destacassem.

- Eu consigo visualizar perfeitamente a imagem de você anotando toda a composição química do chocolate no mesmo dia, e eu sei que você fez isso... Com dez anos de idade! Era engraçado, porque você tinha a mente de um cara adulto, um gêniozinho indomável. - Tomlinson então riu, negando com a cabeça ao olhar para Harry em divertimento. H sorriu de volta, jogando a cabeça no assento para trás. - Eu te achei tão fascinante quando nos conhecemos. Eu achava que você era um extraterrestre.

- Eu fui tão empolgado contar ao Heath sobre você naquele dia, e eu só conseguia repetir: "Heath, aquele menino me chamou de príncipe!" e Heath estava, tipo, - E então Styles mostrou uma expressão emburrada e cerrou os olhos. - "Harry, você não sabe o que tem nesse chocolate. Não é como se fosse como A Fantástica Fábrica de Chocolate!" - Diante da expressão no rosto do mais novo, L não pôde evitar rir outra vez, ainda que, ao que Heather fora mencionado, o mais velho calou-se por um instante e apenas subiu a mão até o rosto de Harry, onde pousou e acariciou.

- E o mais cômico é que ele comeu depois. - Tomlinson completou, arrancando do mais alto uma espontânea gargalhada; daquelas que apenas ele era capaz de arrancar e escutar.
Pouco a pouco, o som do riso era diminuído. A mão do menor, antes no rosto do outro, agora estava repousada no verde fosco da calça dele.
Os olhos verdes fecharam-se com firmeza ao que uma pontada de dor tomou a cabeça de Styles; ele pôs a mão sobre a testa e estranhou, mas nada disse. Ao abrir os olhos, com a visão na direção do retrovisor, ele fora tomado por um susto silencioso ao que enxergou um homem de cabelos loiros compridos, segurando uma espingarda de caça, contendo somente um olho, pois no lugar de onde deveria estar o outro olho, estava o buraco exposto de um tiro rodeado por sangue; era o outro caçador, e a imagem ilusória se manifestava através do trauma não lembrado, da memória bloqueada de 2010. Ele estava ciente.
Harry reprimiu o susto apesar do arregalar de olhos e o tremor notório nos lábios, não permitindo que qualquer reação pegasse Louis em assombro e mais preocupação. Ele baixou o olhar e envolveu a mão alheia em sua coxa com precisão, juntando os dedos como se a qualquer momento algo pudesse interferir e levar um para longe do outro. Louis olhou-o de relance, estranhando a postura do companheiro.
O incômodo se intensificou quando, ao virar o rosto devagar e olhar por cima do assento, o homem sem um olho empurrou a ponta da espingarda contra as costas do assento onde Harry estava e manteve aquele ato contínuo. O mais novo virou novamente a cabeça para frente e respirou fundo, fechando os olhos e apertando a mão do outro em seu colo.

Tomlinson sentia a tensão e os calafrios provocando espasmos leves em H. Ele imaginou o que estaria acontecendo, o que era mais provável de estar, portanto, não soltou a mão do maior nem por um segundo.
- Babe, me conte... O que está vendo. Conte para mim, estou aqui.
- ... O homem de um olho só. - Ele respondeu num sussurro falho. Seus olhos permaneciam fechados. - Ele está batendo uma espingarda nas minhas costas, ele.. Está sentado no banco de trás. - E então, quando as palavras faltaram devido à sensação angustiante de estar sendo golpeado e observado, ainda que imaginariamente, ele apertou a mão do mais velho com mais força, de modo com os estalos de seus dedos com os dele pudessem ser ouvidos, e puxou o ar dos pulmões com precisão, tentando controlar a respiração.

- ... All the leaves are brown
And the sky is grey.. - Sabendo que aquela música costumava ser o escape de Harry em momentos em que se via desamparado, muito assustado ou prestes a entrar em uma possível crise, Tomlinson começou a cantar entre pausas, com suavidade, em som suficientemente moderado para que o outro escutasse.
- I've been for a walk
On a winter's day, y-eh

E escutar aquela calmaria costumeira na voz tão familiar e reconfortante daquele ao seu lado, sem dúvidas, fora algo que Harry desejou ter tido em todos aqueles anos em que passou sendo visto como um perigo naquele instituto.
Tanta falta ele fez, tanta, tanta; remédio algum tinha a capacidade de transmitir maior paz, de trazê-lo de volta à realidade sem precisar de esforços consideráveis, como L tinha. A voz de Louis agindo como um calmante natural e único poderia tê-lo poupado de muita piora, caso o mais velho não tivesse sido impedido de vê-lo durante aquele longo período afastado.

- I'd be safe and warm
If I was in L.A.
California dreamin'
On such a winter's day...

Quando os olhos verdes apagados por medo e brilhosos por discretos lacrimejos se abriram novamente, os golpes da espingarda batendo em suas costas haviam cessado e a imagem do homem sem um olho desaparecera do retrovisor; de qualquer forma, por garantia, ele olhou para o banco de trás. Já não havia nada lá.

- Não há nada lá que possa te machucar, querido. Descanse um pouco.
- ... Eu costumava sonhar com sua voz nessa música. - Ao sussurrar o pensamento que escapou em palavras, um pouco aéreo apesar de aliviado e mais leve, o mais novo então se virou de lado no assento, para o lado do assento alheio, e encolheu-se minimamente ao deitar a cabeça sobre o encosto. Tomlinson olhou-o por alguns segundos, dando a ele um doce sorriso de linha que quase fez desaparecer seus olhos. As pupilas dos pequenos azuis dilataram-se e ele suspirou em alívio.
- Eu te acordo quando chegarmos. Estarei bem aqui.

Harry então fechou os olhos devagar, entregando-se ao cansaço.

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