Dinastia Calazans - Lobo em P...

By Ju-Dantas

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Tretas de família, disputas de poder, segredos do passado e um jogo de vingança perigoso e sedutor que transf... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Epílogo

Capítulo 10

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By Ju-Dantas


Leon

Eu achava que minha família não poderia ser mais ridícula, mas eles conseguem se superar a cada dia, como agora, enquanto saímos da igreja para o sol da manhã de domingo.

Eu havia me esquecido que vovô frequenta a igreja religiosamente todos os domingos. Embora com certeza naquela época não havia um padre fashion de óculos Armani empurrando a cadeira de vovô e o bajulando enquanto fala sobre as obras sociais que precisa de doações.

— Está convidado para almoçar conosco, padre — Cassandra o convida, seguindo-os de perto, com seu vestido elegante.

— Muito obrigado, eu aceitarei o convite.

Cassandra se desmancha em sorrisos. O marido idiota segue à frente segurando a mão do filho que parece entediado usando uma roupa social.

Álvaro, Noélia e Pedro seguem de perto e mais afastados estão Fred e Babi.

O óbvio tédio de todos é surreal e me pergunto se alguém ali frequenta aquele ritual com fé verdadeira, porque desconfio que meus irmãos só estejam presentes para fazer fita para meu avô.

Mas meu olhar está em Paola, que segue à frente com Clara puxando sua mão para lhe mostrar algo com sua impaciência infantil.

Ela se vira e um meio sorriso se abre em seu rosto bonito antes de desviar o olhar para a criança que a puxa.

Faz duas semanas que tivemos aquela conversa na biblioteca e duas semanas que eu me esgueiro por entre os corredores da Mansão Calazans para ficar sozinho com uma mulher que por incrível que pareça não estou trepando.

É realmente um feito, mas Paola não pode ser conquistada com sexo. Ainda. Porém, isso não impede que eu fantasie com o dia em que não precisarei ficar apenas flertando platonicamente enquanto me esmero em convencê-la, noite após noite de que não sou como o calhorda do Fred.

Não que seja fácil resistir. Deveria ficar mais fácil, mas minha atração pela babá só aumenta a ponto de quase se tornar uma obsessão.

Talvez seja o fato de justamente, pela primeira vez, o sexo não ser o foco de um relacionamento com uma mulher. Obviamente, eu já tive muitas conversas interessantes com inúmeras mulheres, antes ou depois de levá-las pra cama. Porém, nunca tive um relacionamento em que tivesse que esperar mais que uns dois encontros para foder.

Se fosse bom, poderia durar um tempo até que eu me cansasse, mas nenhum me fez fingir que me importo por tanto tempo. Claro que já encontrei mulheres que acham que fazer joguinhos de espera é sedutor, mas essa tática nunca funcionou comigo. Gosto de ser direto e sincero. Não enrolo uma mulher para levá-la pra cama. Se ela quer estar lá, que venha. Mas não me enrole porque vai levar um fora rápido, tem mulheres demais no mundo para perder tempo com joguinhos tolos.

Porém, Paola não é como as outras. Ela é inocente e não está disposta a se deixar seduzir facilmente. Se assim fosse, nós passaríamos horas muito mais agradáveis entre os lençóis nos nossos interlúdios noturnos.

Embora, não posso negar que passar aquelas horas com Paola está se tornando inesperadamente agradável.

Paola tinha razão em dizer que não perco meu tempo sendo amigo de mulheres. Eu gosto demais de foder com elas para me basear em relacionamentos puramente platônicos. Sim, conheço mulheres inteligentes e interessantes, e as respeito como seres humanos, mas não posso negar que se me sentir atraído, eu vou pra cima sim.

Até hoje, na grande maioria das vezes, não recebi um não.

E elas sempre voltam querendo mais, porque não sou um amante egoísta. Gosto que as mulheres apreciem o tempo que passamos juntos fodendo.

Então é algo novo que eu apenas aprecie a companhia de uma mulher com quem não estou dormindo.

Eu poderia dizer que, além de me sentir atraído por Paola, e ela por mim, embora ainda não estivesse disposta a admitir, não tínhamos nada em comum.

Mas contrariando todas as expectativas, está funcionando.

Meus dias eram destinados a passar me inteirando dos negócios da família, infelizmente alocado na sala do idiota do Álvaro que conseguiu convencer meu avô de que se alguém tinha que ficar com sua sala era ele.

Fiquei furioso, mas decidi não criar um caso.

A minha hora vai chegar e posso deixar meu irmão certinho achar que ganhou um ponto. Ainda estamos em batalha e a guerra não está ganha por nenhum de nós.

E as noites, eu me esgueiro pelos corredores da mansão até a Paola.

Na noite seguinte ao nosso encontro na biblioteca, eu a encontrei na cozinha, desta vez sentada comportadamente em uma cadeira enquanto tomava sorvete.

Lembro que senti um alívio bobo, porque de alguma maneira desconfiava de que desistiria do nosso encontro ilícito.

Não que sentar à mesa da cozinha e tomar sorvete como dois adolescentes de 13 anos da década de 50 fosse ilícito o suficiente para minha fome sacana.

Ela não usava o pijama, o que era uma pena, mas estava com um dos seus vestidos brancos virginais que me deixavam louco para tirar.

— Você tem que estar sempre assim? — Ela havia indagado sem graça porque eu estava de pijama e sem a camisa.

— Está calor.

— Não é adequado.

— Qual o problema? Estou te deixando incomodada?

Ela desviou o olhar com um sorriso tímido que era uma delícia e me deixou duro imediatamente.

— Não — negou, o que era óbvio. — E você está brincando comigo, pare!

— É divertido brincar com você. E pode brincar comigo também.

Não sei se ela pegou o duplo sentido das minhas palavras, mas apenas riu, continuando a tomar seu sorvete de morango, enquanto eu pegava um pra mim e me sentava à sua frente.

Eu queria dizer que ela podia brincar comigo o quanto quisesse, mas resolvi recuar para não assustá-la. Por enquanto.

— Então, por que estamos aqui? — ela questionou.

— Gosto de ver você.

— Estou por aqui o dia inteiro, e você parece bastante ocupado, ouvi dizer.

— Aposto que ouviu. Vamos, me conte.

— Quer que eu faça fofoca?

— Claro que sim. Comece por meu avô.

— Ele está feliz com sua volta.

Isso me deixava satisfeito. Ainda não tive tempo de conversar a sério com meu avô, deixá-lo saber o tipo de empresário que eu poderia ser. Mas em breve esse será meu próximo passo. Primeiro quero saber tudo sobre o Grupo Calazans.

E também não esqueço que vovô deixou claro que não basta mostrar uma boa visão de negócios. Se eu fosse um fanfarrão como meu falecido pai, de nada ia adiantar. E meus irmãos hipócritas estavam ali, encenando seu teatrinho da enganação e deixando meu avô satisfeito.

Mas agora você tem Paola.

Eu tinha mesmo? Eu ainda me perguntava se levaria aquele plano até o fim. Casamento era um passo enorme e definitivo demais para meu gosto.

Nunca pensei em casamento, até aquele momento. E nem sei se um dia pensaria a sério. Meu sócio havia se casado com a namoradinha da faculdade e parecia feliz, mas ele era um nerd que provavelmente ficou muito feliz quando uma garota lhe deu bola. Eu tinha qualquer mulher que quisesse, por que escolher uma?

Mas não estávamos falando daquele tipo de amor brega do qual os relacionamentos românticos são feitos, e sim de um casamento visando um propósito bem maior.

Seria possível?

No fundo, eu nem acreditava muito nesse tipo de amor romântico, paixão para a vida inteira e coisas do tipo. A maioria das pessoas se apaixonam e se casam para no fim viverem casamentos cheios de hipocrisia, traição e tédio.

Quando não acabava em divórcio.

Veja meus irmãos. Álvaro e Noélia estão mesmo felizes? Nem consigo imaginar aqueles dois transando pra valer. Mesmo quando jovens pareciam um casal de velhos.

Cassandra parecia ter mais tesão pelo padre do que pelo próprio marido.

E Fred era um passador de DST ambulante. Provavelmente Babi deveria dar seus pulos fora do casamento também se não estava nem aí para o fato de o marido passar o dia correndo atrás da babá.

— Sim, vovô está contente que o neto fujão voltou para o seio da família.

— Contente a ponto de eleger o neto fujão como seu sucessor?

Ela deu de ombros.

— Vamos, Paola, ouvi dizer que você e vovô são unha e carne.

— Sim, nós conversamos, mas ele não me conta tudo.

— Ele não lhe contou a quantas andam as chances de cada neto?

— Álvaro é sempre bem cotado. Não há nada que o desabone. Ele gosta do estilo de Álvaro, mas seu avô não é bobo e sabe que ele é conservador até demais e que talvez alguém mais arrojado seja melhor.

— Como eu?

— Como Fred.

Faço uma careta de desagrado.

— Fred é um idiota.

Sim, além de me inteirar de como os negócios da Calazans funcionam, eu também ando especulando como meus irmãos trabalham.

Álvaro é quase o trabalhador do mês, embora, muito rígido e praticamente todos os funcionários o odeiem. Fred é o chefe legal. Simpático, acessível e dado a fazer conchavos e trocas com funcionários que se mostram talentosos. E já saquei que é assim que ele se faz na Calazans sem ter que botar a mão na massa. Ele é esperto o suficiente para trazer para sua equipe gente boa e disposta a trabalhar e usá-los como bem entende, enquanto ganha a fama em cima disso. Sua equipe, por enquanto, parece bem fiel, embora não deva ser difícil em algum momento aparecer alguém insatisfeito de fazer tudo enquanto o chefe leva a fama.

Imagino que Fred deva usar de suas artimanhas para mantê-los calados e colaborativos e tenho que descobrir o que é.

Rodrigo é um pau-mandado de marca maior, mas eficiente. Ao que parece até pouco tempo estava feliz de seguir Álvaro, mas depois do AVC de vovô, Cassandra o estava pressionando para mostrar serviço.

Rodrigo é o que menos me preocupa. Não tem sangue Calazans e não consigo ver vovô o elegendo como sucessor. Porém, não posso subestimar Cassandra.

Ela é capaz de tudo quando quer algo, pois não passa de uma cobra manipuladora.

— Fred tem ganhado pontos com seu avô.

— Provavelmente vovô não sabe que Fred está te importunando.

Ela desviou o olhar, incomodada com o rumo da conversa e eu me censurei.

— Não, óbvio que nunca contei ao vovô, porque nunca aconteceu nada entre mim e Fred. Somos amigos.

— Já falei que sou seu amigo, não precisa mais do babaca do Fred.

— Posso ter mais amigos do que um só! Não seja ciumento.

— Com você, eu sou ciumento. Sou seu único amigo e ponto final.

Ela riu como se eu estivesse apenas brincando. Óbvio que não estava. Mas decidi manter as coisas leves.

Por enquanto.

Ela não demorou para se despedir e eu a deixei ir, e mesmo sem termos combinado nada, estávamos novamente no mesmo lugar na noite seguinte.

— Senti sua falta no jantar hoje. Por que não janta com toda a família? As crianças estavam lá. Achei que estaria junto — comentei.

— Claro que não tenho permissão, não sei se esqueceu, mas sou uma empregada!

— Mas anda pra cima e pra baixo com vovô. Aposto que se pedisse ele deixaria.

Ela deu de ombros.

— Eu não me importo de comer na cozinha com os demais empregados.

— Mas aí os jantares com a minha família seriam mais divertidos.

— Aposto que a comida é boa.

— Não é a mesma que comem?

Ela riu.

— Claro que não!

— E qual sua comida preferida?

— Espaguete. Com bastante molho de tomate. Minha avó sempre fazia pra mim. Tem gosto de infância.

— Me fala sua infância?

— Não teve nada demais a sua deve ter sido mais interessante.

— Foi uma merda.

— Não pode ter sido tão ruim! Você cresceu aqui, com todos os privilégios de ser um Calazans!

— Ser um Calazans não era tão divertido quando você não fazia parte do trio perfeitinho.

— Eram seus irmãos...

— Quando eu nasci eles já estavam entrando na adolescência. Havia um abismo de idade enorme. E todos eles não fizeram nenhum esforço para me incluir. Acho que nunca me senti um irmão de verdade. Era só o intruso quando tentava fazer parte da irmandade.

— E você queria fazer parte.

— Eu era só uma criança.

— Mas está aqui agora, apesar disso.

Eu não respondi porque havia várias camadas de merda que eu não queria trazer à tona.

Mas Paola entendia. E talvez, apenas talvez, eu estivesse me sentindo tentado em falar sobre isso.

Ela sorriu de forma descontraída a seguir.

— Você quase me faz achar que fui uma tonta desejando ter irmãos.

— Sinceramente, se meus irmãos servem de exemplo, melhor foi ter crescido sozinha.

— Pelo menos eu tive um cachorro. Você teve algum animal de estimação?

— Nunca tive um animal de estimação.

— Nunca tiveram um pet?

— Meus irmãos tinham um cachorro que me odiava. Graças a Deus ele morreu. E eu odeio cachorro só pra deixar registrado.

— Não pode ser, quem odeia cachorros?

— Por favor, não me diga que é uma daquelas pessoas insanas que se dizem mãe de pet?

Ela riu.

— Para seu conhecimento, você caiu muito no meu conceito. O meu cachorrinho quando era criança era um vira-lata lindo chamado Tonico, e eu o peguei na rua. Eu sempre levava cachorros pra casa e minha avó ficava puta! Mas o Tonico ficou. Claro que ele morreu quando eu era adolescente. Mas hoje eu tenho três cachorros. Eles moram na casa da minha avó, claro. São três rottweilers.

Meu queixo caiu.

— Esses cachorros podem comer uma pessoa!

Ela riu.

— Exato.

— Isso me surpreende, talvez conseguisse te ver com um daqueles cachorrinhos pequenos e fofos. Mas rottweilers? Eles são assassinos.

— Eles iam amar você.

— Duvido, cachorros não gostam de mim.

— Que pena pra você, Leon. Agora quero que eles o conheçam ainda mais.

Ela pareceu realmente divertida pelo fato de eu estar horrorizado só com a possibilidade de chegar perto desses cachorros.

O que me fez imaginar que Paola era mais do que uma moça boazinha. Ela parecia doce e inocente a maior parte do tempo, mas quem em sã consciência tinha três rottweilers?

Quando se despediu naquela noite, ela indagou se eu li o livro.

Droga, eu nem lembrava mais do livro.

— Você prometeu que ia ler!

— Eu lerei.

— Então amanhã teremos nosso primeiro clube do livro, certo? Vamos nos encontrar na biblioteca.

Eu li a porra do livro na manhã seguinte era incrível.

Quando entrei na biblioteca, Paola estava deitada no sofá, entretida com uma leitura. Meus dedos coçaram de vontade de mergulhar em suas coxas, que o vestidinho branco deixava entrever.

Porém, quando me viu, ela se sentou aprumando o vestido para baixo do joelho, me perguntando se eu tinha lido o livro.

— Eu li e tem razão, é incrível.

Ela abriu um grande sorriso.

— E você descobriu quem era o assassino?

— Não, me pegou.

— Eu disse!

— Duvido que você tenha descoberto...

— Não no começo, a narrativa te confunde. Ele parece tão inocente, e ainda assim, ele nos engana o tempo todo.

— Tem razão, eu me deixei enganar.

— Não se martirize. Nem todo mundo descobre a verdadeira face das pessoas, a maioria só vê o que está na superfície.

— Mas você descobriu em algum momento.

— Demorou um pouco, mas descobri. Agora qual será o próximo?

Eu não tive tempo de dizer que não encontraria tempo para leitura, mas queria agradá-la e me deixei levar para a estante, onde Paola me indicou outros romances de mistérios que eu deveria ler.

— Será que eu me tornarei um detetive esperto como você?

— Vamos ver se é tão esperto como eu... Duvido — Ela havia piscado pra mim antes de sair da sala.

Na noite seguinte, ela estava na mesa da cozinha envolta não por sorvetes ou livros, mas sim pintando o que parecia uma maquete com planetas do sistema solar.

— Que diabos é isso?

— Trabalho de ciência das crianças.

— E não era para eles fazerem?

— Eles me avisaram em cima da hora e ou eu fazia para que pudessem dormir, ou os obrigava a estarem aqui agora.

— Definitivamente não gostaria que estivessem aqui.

— Imaginei, então, mãos à obra. Pinte Netuno.

Fiz uma careta, mas pintei o que pediu.

— Você não é bom em artes, hein?! — reclamou da minha pintura que deveria ser pior que a de uma criança de cinco anos.

— A professora espera que seja uma criança, estou sendo realista. Mas você é boa.

— Eu sei. — Ela sorriu sem nenhuma modéstia e descobri mais uma faceta de Paola.

Ela era como um caleidoscópio. Com várias cores e nuances.

E eu me atraía por todas.

Na noite seguinte, ela demorou a aparecer e eu me perguntava se teria me dado o bolo, até que surgiu, usando um pijama de frio e os cabelos presos no alto da cabeça, não havia um pingo de maquiagem no rosto bonito, mas ainda assim, era perfeita.

Ela parecia deliciosamente descomposta e pronta para ir pra cama.

E eu me perguntava quando ela iria para a minha cama.

— Me desculpe, te deixei esperando.

— Sim, você deixou. Estava indo atrás de você no seu quarto.

Ela corou.

— Não faria isso!

— Só não fiz porque não sei onde é seu quarto.

— Após a área de serviço, siga em frente e achará a dependência dos empregados.

— Está me dizendo que eu posso ir ao seu quarto?

— Não!

— Já esteve no meu.

— Foi diferente. E sinceramente, achei que nem estivesse aqui.

— Por que não estaria?

— Não tem nada melhor pra fazer não?

— Melhor do que ficar com você?

Ela desviou o olhar, mordendo os lábios e percebi que gostou do que eu falei.

— O que você fazia lá em Los Angeles, com seu tempo livre, aposto que não ficava de madrugada conversando com serviçais.

— Eu não tinha uma como você por perto.

— Para! Estou falando sério. Como era sua vida?

— Primeiro que eu não morava em Los Angeles todo este tempo. E estudei em Stanford e tive uma vida como um universitário qualquer.

— Não saberia dizer como é, eu não fiz faculdade.

— E não quis fazer? Ainda é jovem, poderia fazer se quiser?

— Não estamos falando de mim e sim de você. Então era como aqueles universitários dos filmes, com festas e curtição.

— E estudo também, eu era um bom aluno.

— Não sei se acredito.

— Pois pode acreditar. Eu curtia, mas também estudava. E no último ano conheci Aaron, que era um desses gênios e ele foi o cérebro criativo e eu cuidei de todo o resto, que no começo, significava conseguir investimentos. Fomos juntos para o Vale do Silício e fundamos nossa empresa.

— Parece incrível.

— Foi sim, fiquei milionário em pouco tempo, e sim comprei minha casa em Los Angeles e gostava de curtir o fato de ter tudo o que um homem poderia querer.

— Curtir com mulheres, quer dizer?

— Eu não sou virgem, Paola.

— Não imaginava que fosse! Mas... então ficou com muitas mulheres?

— Quer um relatório completo, quantos dias você tem?

Ela rolou os olhos e não sabia se me achava repulsivo ou se não se importava.

— E já se apaixonou?

— Eu não sei. Acho que não. E você?

— Não — confessou num sussurro.

E eu me perguntei se ela se apaixonaria por mim.

Se já poderia estar se apaixonando.

Talvez fosse cedo demais para especular sobre sentimentos, mas era o que eu queria, não era? Que Paola estivesse tão seduzida que fosse impossível dizer não para qualquer coisa que eu pedisse.

Seja dar um pé na bunda de vez em Fred. Ou interferir a meu favor com meu avô.

Ou até mesmo se tornar minha noiva.

Como seria ter Paola ao meu lado não só por aquelas horas roubadas durante a noite?

Eu me surpreendi por gostar daquela fantasia tanto quanto gostava da outra já costumeira de estar entre suas pernas.

— Então, você passava o tempo seduzindo mulheres depois que ficou milionário?

— Era um dos meus passatempos prediletos sim.

— E é verdade aquela história da briga...

— Ah merda, como todo mundo sabe disso?

— Foi a Cassandra quem contou ao seu avô.

Então foi aquela filha da puta quem andou fofocando sobre mim?

— É mesmo?

— Sim. Ela contou que você teria até sido preso por agredir um homem numa boate.

— É verdade, mas foi tudo uma besteira.

— Você brigou por causa de uma mulher?

— Sim, briguei.

— Você gostava dela? Era sua... amante?

— Não mais. Saímos juntos algumas vezes, mas naquela noite ela estava com um idiota que bebeu demais e a importunou. Eu só a defendi. E tudo virou confusão. Acredite, não sou esse tipo de pessoa que Cassandra deve ter pintado ao meu avô. Sim, eu gosto de festas, gosto de me divertir com amigos e mulheres, mas nada anormal para um homem da minha idade e solteiro.

— E quer fazer isso pra sempre?

— Como assim?

— Sendo solteiro e festejando por aí.

O que eu poderia responder?

O "claro que sim" estava na ponta da língua.

Mas não era assim que eu conquistaria Paola, embora eu não possa simplesmente apagar quem eu fui até hoje.

Paola sabia.

E embora eu estivesse ali sendo um tanto sorrateiro em minhas intenções para conquistá-la e não sendo tão sincero quanto aos meus objetivos, não me agradava ser totalmente falso.

Eu não estava sendo falso o tempo todo.

Eu gostava da companhia de Paola. E desejava fodê-la todas as vezes que a via.

Ainda não tinha certeza até que ponto Paola seria importante nos meus planos, mas as horas que passava com ela eram as mais divertidas do meu dia e tornava a estadia no ninho de serpentes que era a casa da minha família muito mais fácil.

E claro, ela estaria sentando no meu pau, mais dia menos dia.

Disso eu tinha certeza.

— Sabe que é isso que faz seu avô não te colocar como sucessor, não? — ela continuou perante a demora de dar uma resposta.

— Sim, eu sei. E também sei que é absurdo. O que eu faço nas minhas horas livres não tem nada a ver com quem eu sou como empresário.

— Pode ser, mas seu avô não pensa assim. Ele nunca vai te colocar na presidência.

— Ele vai sim. — Endureci a voz e ela mordeu os lábios, como se arrependida do que disse.

— Não quis te deixar bravo, só é o que eu vejo. E você sabe que tenho razão. Conhece seu avô mais que eu.

— E se eu quiser mudar?

— Você quer?

— Talvez eu tenha conhecido alguém que esteja me fazendo ver a vida sobre outra perspectiva. — Joguei a insinuação no ar e ela ofegou, a tomando pra si como eu queria que tomasse.

Ela gostou de ouvir. Eu gostei de sua reação.

— Enfim, acho que vou dormir.

Ela se levantou.

— E não me disse por que se atrasou hoje...

— Eu estava procurando um filme para assistir e me distraí.

— Gosta de filmes?

— Quem não gosta?

— O que ia assistir?

— Acabei não achando nada... Tem algo para me indicar?

— Posso fazer melhor. Amanhã vamos ver um filme juntos.

Nas noites seguintes, passamos a nos encontrar na sala de TV e assistimos a cada noite um filme diferente. Paola escolhia filmes bobos da década de noventa para adolescente e eu escolhia filmes de terror, no afã de vê-la dar pulos de sustos, mas se eu achei que ela ficaria tão assustada que me deixaria abraçá-la e quem sabe boliná-la um pouco, estava enganado, ela se mantinha firme a cada susto e não se acovardou, seja qual fosse o roteiro.

De monstros a assassinatos a sangue frio.

Paola não se assustava com nada.

— Não tem medo? — Eu havia perguntado ontem à noite, depois de assistirmos a um filme sanguinário sobre um psicopata.

— Por que teria? É filme. Ficção.

— Você me surpreende, cada vez mais, Paola.

— Por quê?

— Achei que seria uma dessas meninas que pulariam de susto e fechariam o olho...

— E pularia em você.

E não escondi o riso.

— Ah, Leon, não sou um clichê!

— Estou percebendo... Só não sei ainda quem é.

— Talvez nunca saiba.

— Eu quero saber. Muito. — Estendi a mão e toquei seus cabelos, colocando uma mecha atrás da orelha.

Nós nunca nos tocávamos.

Mas a química estava ali, vibrando no ar entre nós, que era quase elétrico.

— Por quê?

— Por que o quê?

— Porque está aqui passando um tempo comigo quando pode ter quem quiser.

— Porque quem eu quero está aqui... — Meus dedos enquadraram seu rosto, meu polegar em seus lábios vermelhos que se entreabriram.

Se eu a beijasse ela derreteria ou me empurraria?

Eu temia botar a perder todo o tempo que passei ali, construindo a confiança que ainda era frágil entre nós.

Eu me perguntava se ela ainda dava trela para Fred. Não os vi mais juntos, mas também via Paola poucas vezes pela casa, sendo que eu ficava a maior parte do tempo na empresa e à noite ela estava geralmente com as crianças.

Depois que ela as colocava para dormir, sempre ia fazer companhia para meu avô, que dispensava todos os netos quando ela chegava.

Os olhares de Fred ainda estavam nela, como aves de rapina, mas nunca mais os vi próximos e trocando sussurros como antes.

— Fred já beijou sua boca?

O clima se quebrou imediatamente e ela se afastou, sentando direito no sofá.

— Já falei que não é assim. Eu nunca beijaria Fred, ele é casado!

— Já deixou claro que não vai haver nada entre vocês?

Ela me encarou séria.

— Não vai?

— Você ainda quer, Paola? Ainda vê Fred como uma possibilidade?

Seria possível que ela ainda quisesse o Fred?

Antes que ela pudesse responder, ouvimos um barulho, como a porta se abrindo, e ela se levantou de um pulo e correu.

Agora eu a observo, enquanto saímos da igreja e me pergunto se me enganei.

Babi se afasta com o celular em punho, para fazer seus malditos stories e noto Fred se aproximando de Paola.

Ela não sorri como antes, parece sem graça quando abaixa o olhar e ele sussurra algo muito perto, os dedos acariciando de leve seu braço.

Eu dou um passo à frente. Chega.

Vou quebrar os dedos do Fred. Um a um.

Antes que eu dê mais um passo, Paola dá um passo para o lado e se afasta indo atrás de Clara, mas em seguida ela se vira e um pequeno sorriso se quebra em seus lábios.

Para mim.

Não para Fred.

Porra.

Eu poderia morar naquele sorriso pra sempre.

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