someplace to go [rosaberta]

By nymphtxnks

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Cinco vezes em que Rosamaria e as meninas da seleção feminina de vôlei ajudaram Roberta e uma vez em que ela... More

forever and always.
i'm the problem, it's me.
salt air and the rust in your doorstep
sit with you in the trenches.
i love the players, you love the game
i'd die for you in secret

this is me trying.

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By nymphtxnks

Fernanda Garay estava irritadíssima.

Ela usualmente não ficava assim. Não por bobagens, pelo menos.

Ela tentava, pelo menos na maior parte do tempo, levar a vida com leveza, sorrir nas adversidades, ser gentil em um mundo onde a grande maioria das pessoas era tudo, menos isso.

Mas, naquele momento, tudo aquilo parecia baboseira. Estava puta. Pistola. Irremediavelmente revoltada.

Queria matar alguém.

Ou, mais especificamente, quem quer que tenha mexido na sua necessaire sem pedir e pego seus últimos grampos de cabelo naquele maldito apartamento, naquela maldita Vila Olímpica, naquele maldito país com aquelas malditas camas de papelão e aqueles malditos cobertores finos demais. Naquela maldita competição que, Fernanda não queria admitir, mas estava mexendo com a sua cabeça.

Ela não sabia se estava mais cansada dos protocolos excessivos, ainda que necessários, de cuidados pela pandemia ou da provocação barata que estar em uma seleção desacreditada gerava de outras equipes ou se dos jogos em si. Fato é: estava farta.

E estava especialmente farta de quem quer que fosse que estava pegando seus grampos de cabelo.

Droga, pensou, soltando os cachos que segurava para o alto a fim de prendê-los e se encarando no espelho. Iria jantar com eles soltos.

- O que houve? - questionou Roberta, que ainda estava aninhada sob uma coberta na própria cama, do outro lado do corredor. A porta aberta do quarto que dividia com Fernanda dava de frente com o banheiro compartilhado com o outro quarto, ocupado por Macris e Carolana.

Ela não parecia se importar muito com a grossura dos cobertores ou com a fragilidade da cama de papelão.

Para ser honesta, Fernanda acreditava que Roberta, a doce e brincalhona Roberta, não estava se importando com tantas coisas ultimamente, a não ser com fazer um bom trabalho em quadra. A ponteira invejava sua frieza, mas não seus métodos e muito menos o tamanho do fardo que carregava.

Ser reserva de Macris já não era uma missão nada fácil por si só, tendo que provar para si mesma que era capaz após a temporada de clubes difícil da qual Roberta viera e lidando com seu nome sendo citado por todo o Brasil e entre as colegas de todas as seleções como a pobre jovem traída pelas colegas de time... É, soa a bem pior.

Quase impossível, na verdade, não fosse a resiliência da levantadora.

Garay não era do tipo que duvidava de alguém, mas quando Roberta se apresentou em Saquarema naquele ano... Ela não poderia negar que duvidou um pouquinho. Já havia dado como certa a convocação de Dani no lugar dela, já havia dado como certo que seus sorrisos falsos afetariam mais seu desempenho do que ela deixava transparecer. Já havia dado certo que a desilusão que enfrentara teria mais o gosto amargo de fazer com que perdesse a vaga nas Olimpíadas por pouco. Tão pouco.

Estava feliz que estava enganada.

Dores de amor passam. Felizmente.

- Hein? - chamou Roberta, estalando os dedos de seu lugar na cama.

- Quê? - perguntou Fernanda, levantando as sobrancelhas em sua direção, antes de voltar a encarar o espelho e investir em uma tentativa que, muito provavelmente, seria frustrada de abaixar o frizz que o tempo seco de Tóquio tendia a gerar em seus cabelos pretos.

- O que é uma droga? - Roberta questionou, finalmente jogando a coberta para o lado e se levantando para andar na direção da ponteira, olhando-se no espelho por cima de seu ombros.

Fernanda bufou. Já havia se esquecido que estava irritada e não tinha notado que xingara quem quer que fosse que estava furtando seus grampos em voz alta.

- Meus grampos ficam desaparecendo - explicou ela, olhando para Roberta pelo espelho. - Você pegou eles?

- Eu não mexo nas suas coisas, Fê - lembrou ela, fazendo uma careta de pena que exibiu suas covinhas.

Fê sentiu seu coração derreter de novo. Havia nutrido uma admiração e um afeto gigantesco pela mulher nas últimas semanas.

- Eu sei - disse Fernanda, em um muxoxo. - Só pode ser a Macris, mas ela nega.

Roberta sorriu.

- Ela está meio dopada de analgésicos, - contou ela, suspirando em seguida. - Mas não acho que seja um bom momento para ir atrás de uma confissão.

Fernanda encarou Roberta novamente pelo espelho, a outra mulher, por sua vez, encarava algum ponto muito especifico da nuca da gola polo que a ponteira usava.

- Como você está com isso?

- Com o quê? - perguntou Roberta, depois de desviar seu foco para os olhos de Fernanda pelo espelho.

- Com a lesão da Macris.

Roberta suspirou e encolheu os ombros.

- Nervosa, eu acho - respondeu ela, diminuindo o tom de voz para ter certeza que Macris, que provavelmente dormia há alguns metros, não ouvisse. - Não é que eu não confie no meu taco. Sabe?

Fernanda assentiu, ainda atenta as feições da levantadora.

- Mas ela é titular absoluta. Eu nunca tive nem pretensão de lutar contra isso, de pegar essa vaga. Não sou como ela, não jogo como ela... - continuou Roberta e Fê pensou que ouvira sua voz falhar, mas não a interrompeu. - Ela é o que vocês precisam, o que a gente precisa. Eu sou só eu.

Fernanda balançou a cabeça, virando-se para encarar os olhos duvidosos de Roberta de frente. O banheiro era pequeno, como quase tudo era no Japão, então elas estavam mais próximas do que geralmente ficariam, mesmo para uma conversa íntima como aquela.

- Rô, essa é a maior idiotice que eu ouvi nesse ciclo olímpico inteiro.

Roberta, que voltara a olhar para baixo e encarar suas mãos e cutucava as próprias cutículas, riu baixinho.

- E vocês falam muita, muita, besteira - continuou Garay, segurando as mãos da outra mulher para que parasse o ataque às suas unhas.

A levantadora sorriu. Não era o sorriso gigante que ela costumava dar, mas era um sorriso.

Fernanda encarou como um avanço e continuou falando. Tudo para ajudá-la.

- A Macris é realmente ótima, nós realmente precisamos dela. Mas isso não significa que não precisamos de você!

- Eu sei disso - murmurou Roberta.

- Não parece.

- Eu sei, mas meu cérebro fica me trazendo todos esses pensamentos e eu não consigo interromper eles e... - a voz de Roberta travou. Ela respirou fundo, apertando as mãos de Garay uma, duas e, somente na terceira vez, voltou a falar. - Eu sei que vou dar o meu melhor e eu sei que isso vai ser o suficiente, eu só queria não pensar tanto.

Fernanda balançou a cabeça. Compreendia o que ela dizia. Todos os atletas conheciam a ansiedade de querer ser o bastante e o medo de não ser.

Ela estava prestes a abrir a boca quando o barulho da porta da frente se abrindo e a voz de Rosamaria soou da frente do apartamento.

- Rô, Fê? Estamos esperando vocês...

Fê encarou os olhos de Roberta, tentando dizer o que pretendia silenciosamente. Roberta assentiu, a puxando para um abraço ao mesmo tempo que Rosamaria apareceu diante da porta, olhando primeiro para o quarto vazio em frente ao banheiro e depois na direção delas.

- Gente? - Rosa perguntou, consideravelmente mais baixo. Fê deu um último aberto nos ombros de Roberta e deixou que se afastasse. - Desculpem, eu bati mas...

Fernanda virou-se para o espelho novamente assim que Roberta saiu do banheiro em direção ao quarto, a cabeça baixa, provavelmente tentando esconder os olhos molhados que as lágrimas deixadas no ombro de Fernanda proporcionaram.

- Eu estava tentando dar um jeito no meu cabelo - Fê explicou, tentando manter o foco de Rosamaria nela e falhando, visto que o olhar de Rosa seguiu Roberta atentamente para dentro do outro cômodo.

- Ah! - Rosa disse, buscando por algo no bolso do corta-vento que vestia. - Aqui.

A jovem abriu a mão na direção de Fê, um punhado de grampos pretos sobre a pele pálida de sua palma.

- Então foi você? - Fê perguntou, tentando soar mais ameaçadora e irritada do que se sentia e pegando os grampos de volta.

- Desculpa! - Rosa disse, fazendo sua melhor cara de inocente. - Nessa de vir me arrumar aqui com a Rô eu peguei sem querer. Achei que fossem dela. Só descobri que eram seus quando a Carolana disse que você estava interrogando o apartamento todo atrás deles.

Fernanda riu, refazendo o penteado que pretendia usar antes de perceber que os grampos haviam sumido.

- Eu não interroguei ninguém - disse ela. - Só perguntei com convicção.

Rosa sorriu de lado e deu de ombros, entrando para o quarto atrás de Roberta.

Fernanda tentou, mas não conseguiu deixar de ouvir a conversa.

- Não precisa fingir que não tá chorando porque eu vi - Rosa disse, alguns segundos depois de um barulho de mola dedurar que ela se sentará na cama de Fê, que estava fora de vista. - Aquela ridicula te disse alguma coisa?

Fernanda perguntou-se quem seria a pessoa ridícula e o que dissera para Roberta anteriormente.

- Quê? - perguntou Rô, abrindo uma das gavetas do móvel que Fê e ela dividiam e que rangia estupidamente alto. - Ah, não. Ela não fala comigo há semanas. Já te disse.

Ah.

Só uma pessoa não falava com Roberta há semanas. E a levantadora parecia, inclusive, bastante contente com isso.

- Então, essa sua carinha aí é culpa de quem, hein? - perguntou Rosa, em um tom tão doce que Fernanda poderia jurar que nunca saíra da boca dela na direção de nenhuma outra jogadora da seleção. - Me fala! Eu posso bloquear elas também.

Roberta riu.

- Sai dessa, nós somos maduras.

- Não somos, não.

- De qualquer forma, não é nada - disse Roberta, fechando a gaveta rangedora. - Só estou ansiosa com os próximos jogos e a recuperação da Macris.

- Já falamos sobre isso, Rô. Você é pica! Não precisa se preocupar.

- Eu sei que já falamos, mas sabe como é - Fernanda sorriu para o tom jocoso que Roberta usava - os conselhos da Fê são melhores que os seus, experiência e tal.

Fernanda riu baixinho, ajustando o rabo de cavalo pelo que parecia ser a décima vez, tudo para não atrapalhar a conversa no quarto ao lado.

Ela pôde ouvir o som de um tecido batendo contra algo. Desconfiava que Rosa havia jogado algo contra a levantadora.

- Se continuar com essa mira, a gente vai perder e nem vai ser culpa minha - riu Roberta.

- Ha, ha.

Um silêncio confortável pareceu se construir no quarto e Fernanda finalmente teve coragem de sair do banheiro e atravessar o corredor. Estava prestes a entrar, quando a levantadora recomeçou a falar.

- Obrigada por tudo - disse, a voz abafada por algo que, Garay tinha quase certeza, era o cabelo de Rosa. - Não sei se estaria aqui sem você.

- Isso é bobagem - Rosa respondeu, o mesmo tom de voz ligeiramente embargado carregando suas palavras.

Mulheres e hormônios, pensou Fê.

- Você estaria aqui de qualquer jeito. Você tem mais talento do que se dá aos créditos, Rô.

Outro silêncio confortável se instaurou e Fê não sabia se dava ou não os últimos dois passos em direção a porta. Felizmente, contudo, Macris tomou a decisão por ela, abrindo a porta de seu quarto e encarando confusa a figura de Fernanda estática no corredor.

- Vocês ainda não foram jantar? - perguntou ela, apoiando um dos braços, o que não segurava uma muleta no batente da porta. - Que bom! Vocês podem me trazer uma salada de frutas?

Fernanda assentiu, sorrindo enquanto Rosa e Roberta saíam do quarto para falar com Macris.

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