Lua White
Duas vezes em menos de um mês.
Duas vezes sendo chamada no escritório do reitor.
Ou eu era muito azarada, ou isso era um sinal de que esse ano não seria nada fácil.
— Sente-se ali, senhorita White. — o senhor Lance me entregou uma toalha grande e eu não perdi tempo em esconder o meu corpo dos olhares daqueles três.
Obedeci seu comando tremendo e me encolhi na cadeira quando o reitor deu a volta e se acomodou na sua. John e Bryan continuavam em pé, ambos se fuzilando como se estivessem prontos para recomeçar a briga corporal. Talvez estivessem bem próximos disso mesmo.
— Quem vai começar a explicar? — a pergunta soou rosnada e eu me desesperei na mesma hora.
Quando abri a boca para falar, John colocou a mão no meu ombro e piscou, buscando me tranquilizar. O efeito foi o oposto, já que o garoto do outro lado não reagiu de uma forma boa.
Bryan me deu um olhar severo, avisando seu descontentamento e me deixando o mais sem graça possível. Não conseguia entender o por que daquelas atitudes, nem saber o motivo exato do seu descontrole com John.
Bryan parecia empenhado em fazer meus dias serem os mais estranhos e desconcertantes possíveis.
— Bryan me atacou sem motivo no meio de todos. — John reclamou e cruzou os braços. — Ele também empurrou Lua na piscina quando tentou se defender, no momento que revidei.
Meus olhos subiram até o moreno de cabelos encaracolados e ele permanecia sério, com o corpo todo rígido e sem parecer querer retrucar as palavras de John. Afinal, não era mentira. Porém, eu não esperava essa reação.
— É verdade, Lua? — o reitor falou o meu nome e o medo retornou.
O medo de ser expulsa por uma besteira.
— Sim. — sussurrei tão baixo que nem eu mesma ouvi direito, o reitor acenou e focou nos dois rapazes.
— As regras de Illinois são rigorosas. Brigas não são toleradas em nenhum caso. — cobri o rosto com a toalha envergonhada e senti a mão de John deixar o meu ombro. — John, vá até a coordenação e assine sua advertência. Lembre-se que na terceira, você vai para detenção e se persistir com o comportamento, expulsão.
Parte de mim, relaxou ao saber que precisava de mais de uma advertência para ser expulsa, mas o clima que se instalou na sala quando John concordou e saiu, foi sufocante demais.
— Senhorita White, peço desculpas pelo comportamento dos rapazes, não vai se repetir.
— Preciso assinar minha advertência? — perguntei e não ergui meus olhos para encará-lo.
— Não. Apenas John e Bryan receberão advertência. — estalou a língua. — Mas devo te alertar para ficar longe das confusões dos jogadores. Não quero ter que te penalizar por um assunto deles.
— Me desculpe, eu...
— Acabamos por aqui? — Bryan não me deixou terminar de falar e colocou suas duas mãos na mesa, desafiando o reitor assim, sem filtro algum.
— Deveria se envergonhar de agir como um moleque, Bryan. — me assustei com o tom usado, o reitor descolou as costas da cadeira e fitou o garoto como se aquela visita fosse constante.
— Não estou agindo diferente de você, Benjamin.
— Aprenda a agir diferente. Você é um jogador com potencial, não pode se distrair com rixas por causa de uma garota. — o olhar do reitor veio para mim como um vento e permaneceu ali por alguns segundos. — Nenhuma mulher vale a sua ruína.
— "Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço". Esse ditado combinou muito com você, Benjamin.
— Me respeite, moleque! Seja o exemplo desta Universidade, se ponha no seu lugar, ou não vou exitar em te expulsar. Se isso acontecer, você perderá todos os contratos famosos que tem e vai ter que procurar um emprego como qualquer outro. O pódio nunca será seu se continuar com essas atitudes.
— Isso te faria muito feliz, não é!? — Bryan arrumou a postura, mas seu rosto gritava toda sua raiva. — Vou assinar minha advertência. Já posso sair, senhor?
A discussão dos dois cessou e eu aproveitei para me levantar. Estava pronta para correr para fora quando o reitor se ergueu também e veio para minha frente, ainda sem responder Bryan.
— Sei que se trata do primeiro aviso sobre brigas por causa de você, senhorita White. Mas a próxima vez que vocês dois estiverem nessa sala por conta desse tipo de conduta, os dois irão para a detenção. — ele falou e colocou a mão nas minhas costas, caminhando comigo até a porta.
Meus olhos se arregalaram e neguei na mesma hora, não entendendo o que eu tinha a ver com o temperamento de Bryan. O garoto riu de lado e colocou as mãos na cintura como se esperasse algo do tipo.
— Mas eu não fi... — me adiantei buscando me justificar, mas Bryan me interrompeu.
— Relaxa, Lua. Ele não vai voltar atrás. Meu pai é bem definitivo nas coisas que fala.
A revelação me desestabilizou e tive que olhar para o reitor a procura de uma confirmação. Porém, apenas a minha inspeção pela sua fisionomia me respondeu. O reitor tinha uma aparência jovial, seus cabelos eram castanhos escuros e lisos, seu porte físico era de um atleta, mas a forma que encarava Bryan, com certeza, não era de um reitor.
Essa era a minha confirmação, Benjamin era o pai de Bryan.
— Já podem ir.
(...)
— Eu vou estapear aquela ruiva idiota. — Judy reclamou e bateu no travesseiro fingindo ser a garota que segurou minha cabeça dentro d'água.
Eu havia sentido uma pessoa a me prender enquanto estava na piscina, mas não tinha prestado atenção nisso, já que o foco era impedir a briga dos dois estressadinhos.
— Não preciso que você pegue uma advertência por mim, Mirrors. — abracei meu travesseiro e suspirei lembrando do episódio.
— Mas seria por mim, não por você.
— E o que ela fez com você?
— Me deixou extremamente preocupada com a minha amiga, isso deveria contar.
— Não conta. — gargalhei. — Mas agradeço pelo apoio.
— Em poucos dias, você já revirou a cabeça de Bryan Rutherford, de John e droga, até do meu padrasto. Onde você estava esse tempo todo? Você é a minha deusa, Lua.
A gargalhada seguinte foi tão alta que Judy me jogou um travesseiro para me calar. Quando me recuperei, me sentei na cama e peguei meu celular verificando as mensagens.
Naomi, minha irmã mais nova, mandava fotos de campos de futebol americano e poses que queria que eu testasse. Ela tinha um sonho muito bonito de estudar em uma Universidade renomada, mas era apenas pela diversão.
— Já viu o cartaz dos jogos nos corredores? — Judy me indagou e se levantou ficando de frente para o único espelho no quarto. — Eu não sou fã de assistir aos jogos, mas eu sou fascinada em olhar a coreografia das líderes de torcida.
— Não parei para ler, mas vi de relance que acontecerão próxima semana. — assoviei e minha amiga acenou com a cabeça, confirmando. — O reitor falou uma coisa que me intrigou hoje mais cedo.
— Sobre o que?
— Bryan e fama.
— Ah, sim. Bryan é um jogador profissional de hóquei, ou... quase. Ele foi emancipado aos 17 anos e entrou no time no segundo ano estudando aqui. Resumindo, o cara é bom com o taco e o disco. — explicou com calma e minha cabeça girava, porque não via Bryan como um famoso.
— Eu nunca ouvi falar dele... achei que ele era apenas um garoto popular na faculdade que tinha tudo que queria nas mãos.
— Ele ainda precisa terminar a universidade para ser realmente profissional, mas os contratos que ele tem já dão um vislumbre do que ele pode se tornar. A maioria das pessoas sabem disso. Em que mundo você vive?
— Provavelmente, não em um que Bryan é um famoso do hóquei.
— Bryan e Logan são os jogadores mais caros de UIC, estão na lista dos mais importantes de Chicago. — continuou a explicar e me entregou o celular para provar o que falava. — Acredito que eles se igualam ou até são superiores aos de New York.
— Chicago Red Wings. — falei em voz alta o nome do time da UIC e a foto de Bryan na capa me provou a informação. — Qual é o time de New York?
— New York Blackhawks. O time que ganhar as semifinais vai competir com eles.
— Acho que subestimei a importância desse babaca. — disse e ela revirou os olhos. — Deveria sair da natação e entrar no time de líderes de torcida, combina mais com você.
O toque na porta do nosso quarto cortou o assunto e me levantei para atender. Judy, que não estava com a blusa, vestiu-se rápido e me deu o feedback para atender.
Assim que fiz, tive que olhar para cima e encarar o garoto que havia me defendido na sala do reitor. Segurei a porta dando-lhe apenas a visão da minha pessoa e sorri contida para ele.
John era um homem bonito, forte e que tinha uma dúzia ou mais de meninas que babam ele pelos corredores. O jogador de futebol americano esbarrou comigo na biblioteca e se mostrou cada vez mais atencioso e compreensivo.
Agora, com roupas esportivas e uma bochecha inchada, John estava na minha porta com seu sorrisinho amoroso de sempre.
— Acho que devo me desculpar por isso. — apontei para seu rosto.
— O que? — fingiu surpresa e apontou para a bochecha. — Ah, isso? Foi molezinha.
— Me desculpe, John.
— Não se desculpe. Bryan é o responsável por ser um esquentado. Você não tem nada a ver com isso. E ainda mais, já levei impactos bem maiores que esse.
— A festa ainda está de pé? — mudei de assunto e John deu um passo para trás.
— Claro que sim. — disse e colocou a mão no portal de madeira, inclinando-se sedutoramente. — Mas eu queria muito saber como você está.
— Estou muito bem, obrigada por se importar.
— Vou treinar, quer vir assistir?
— Hoje não, mas um dia, eu vou.
— Vou aguardar ansioso por esse dia. — se aproximou mais do meu corpo e o calor dele me deixou desconfortável.
Flertar com meninos não era a minha maior qualidade. John notou meu embaraço e respeitou, se afastando como um galã de novela mexicana. Seguro e se achando o centro das atenções. Fechei a porta sorrindo e parei na mesma hora que olhei Judy encostada no portal do banheiro com uma expressão debochada no rosto.
— Vou aguardar ansioso por esse dia. — ela repetiu engrossando a voz e fazendo uma cópia mal feita de John.
— Não enche, Mirrors.
❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️
Boa noite, mocinhasss!
O que estão achando do nosso casal?
Comentem muitoooo, adoro vocês ❤️