Eu e Draco tínhamos nos levantado extremamente cedo; queríamos chegar o mais depressa possível à sala de poções, o que, por consequência, nos possibilitou pegar bons lugares, o que iria favorecer nossas avaliações sobre o novo professor. Não que nos importássemos com a sua opinião, já que ele nunca chegaria aos pés do nosso Severus, mas queríamos ver sua desenvoltura e o que fez o lorde das trevas o querer tanto.
— Acho que devemos evitar chamar a atenção — Draco fala pensativo, avaliando o livro de poções que Severus nos deu para este ano.
— Você fala em um todo ou nas aulas que não sejam do Severus? — Pergunto, confusa.
— Severus já nos ensinou todas essas poções, pelo que me consta, nós dois poderíamos ser considerados mestres de poções — Draco fala, fechando o livro. — E você se lembra do que Severus disse?
— Sobre Slughorn ter alunos favoritos? — Pergunto, arqueando uma sobrancelha.
— Sim, bem — Draco faz uma pausa, suspirando. — Olha, amor, eu sei que você ama isso tudo aqui. Acredite, eu entendo, eu também amo... Mas não podemos chamar atenção como antes, e mesmo que Slughorn nos notasse como os bons alunos de poções que sempre fomos, e muito brilhantes, diga-se de passagem... Ele não nos colocaria como seus favoritos, e isso só te deixaria ainda mais chateada — Ele termina de falar, segurando a minha mão.
— Eu sei — Falo, já chateada. — Ele não colocaria no seu precioso "pódio" filhos de supostos comensais da morte, muito menos filhos cujos pais estão em Azkaban neste exato momento... E principalmente dois alunos que todos murmuram pelos corredores serem os mais novos aliados do lorde das trevas... Seus comensais da morte em treinamento — Falo, revirando os olhos.
— Exatamente, então, para evitar ainda mais fadiga, vamos ter que deixar a maldita Granger roubar toda a glória para ela — Draco fala, trincando os dentes em desgosto.
— Já estamos no inferno mesmo, então vamos abraçar o capeta — Falo, realmente triste.
— Não deixe mamãe te escutar falando isso — Draco fala com um sorriso triste.
— Eu jogaria a culpa no tio Rodolphus, ele é quem falou isso — Falo, soltando uma pequena risada.
Logo, todos os alunos foram chegando, em sua maioria da Grifinória, já que agora Severus não ministrava mais essa disciplina. Eles provavelmente se sentiram mais compelidos a participar, e da Sonserina só havia eu, Draco, Blásio, Parkinson, Crabbe e Goyle.
Curiosamente, mas não menos excepcional, somente a Granger estava conosco na aula, já que não era segredo algum que o Potter e o Weasley eram péssimos nessa matéria. Mas isso não é desculpa para os dois; até mesmo Simas Finnigan, que era pior do que horrível em poções, estava presente.
Assim que o professor Slughorn chegou à sala e notou que todos estavam prontos para ele começar a falar, ele conjurou uma nova mesa e, com ela, quatro caldeirões borbulhantes.
— Bom dia, alunos! Gostaria de iniciar essa aula falando sobre algumas poções de cunho extremamente perigoso, assim como sua preparação...
Então, a porta da sala se abre e Potter e Weasley passam por ela.
— Ah... Harry, meu rapaz, já estava preocupado. Vejo que trouxe alguém com você — Slughorn disse, extremamente feliz.
O que fez eu e Draco revirar os olhos, porque é claro que o Slughorn iria querer o grande Harry Potter em sua aula e entre os seus favoritos, mesmo ele sendo horrível em poções.
— Rony Weasley, senhor, mas eu sou péssimo em poções, uma ameaça, na verdade, por isso eu...
Então Potter o empurra para frente e termina de fechar a porta atrás de si.
— Tolice, qualquer amigo do Harry é meu amigo... Então peguem seus livros...
— Me desculpe, senhor, mas eu ainda não comprei os seus livros e nem o Rony — Potter diz, sem graça.
— Isso não é problema, peguem o que quiserem no armário — Slughorn diz, abanando a mão.
O que fez os dois se virarem e irem em direção ao armário.
— Agora, como eu estava dizendo, esta manhã eu fiz algumas misturas, será que alguém poderia me dizer o que seriam estas? — Slughorn pergunta, apontando para os caldeirões.
Que, pelo cheiro característico do cozimento, era veritaserum, polísuco e amortentia, mas antes que eu pudesse levantar minha mão, Draco a segurou firmemente no lugar, o que me fez bufar e abaixar a cabeça.
Então, rapidamente, a Granger levantou o braço, me olhando desconfiada.
— Sim, senhorita? — Slughorn pergunta.
— Granger, senhor — Ela diz, se aproximando do caldeirão. — Essa é uma Veritaserum, senhor, uma poção que faz dizer a verdade, e esta outra é uma poção Polísuco, muito difícil de fazer, e esta é Amortentia, a poção do amor mais perigosa do mundo. Tem um cheiro diferente para cada pessoa, dependendo do que a atrai — Granger diz, se aproximando da mesma. — Por exemplo, eu sinto cheiro de grama recém-cortada, pergaminho novo e... pasta de dente... de hortelã — Ela diz, confusa.
O que me faz rir baixinho é o fato de que ela se sente atraída por cheiros bem estranhos. Não poderia esperar menos: pasta de dente de hortelã? Mais patético, impossível.
— Mas a Amortentia não gera amor de verdade; isso seria impossível. Ela apenas causa uma paixonite, uma obsessão, e por isso é, provavelmente, a poção mais perigosa desta sala — Explica Slughorn.
E enquanto Slughorn falava, as meninas que estavam mais à frente, juntamente com Parkinson, se aproximavam do caldeirão de modo hipnotizado, até que o mesmo foi fechado pelo professor, fazendo-as voltar à realidade.
Uma das alunas da Grifinória, a qual não sei o nome e não me importo, aponta para um pequeno vidrinho, o qual eu só posso supor que seja de Felix Felicis pela sua transparência, já que Slughorn não parece ser o tipo de professor que nos ensinaria a fabricar venenos.
— Ah, sim, isso que vocês estão vendo na frente de vocês, prezados alunos, é uma curiosa poção chamada Felix Felicis — Slughorn diz, pegando-a do pedestal em que estava apoiada. — Mas ela geralmente é mais conhecida como...
— Sorte líquida — Granger fala, interrompendo o professor.
O que me faz revirar os olhos e sentir ainda mais saudades do Severus, que nunca permitiria que alguém o interrompesse dessa maneira, ainda mais para falar algo que ele já iria dizer de qualquer maneira.
— Sim, senhorita Granger... Sorte líquida, muito complicada de se fazer, desastrosa se algo ocorrer errado — Slughorn diz com um pequeno sorriso. — Um gole e você terá sorte em tudo o que fizer... Pelo menos até que passe o efeito.
O que Slughorn não diz é que você também fica completamente ao acaso; a sorte realmente comanda esse momento, não te deixando pensar direito, parecendo que existe outra coisa no controle de sua mente e corpo.
— Então é isso o que eu lhes ofereço: um vidrinho de sorte líquida para o aluno que, nas horas que nos restam, conseguir preparar uma poção do morto-vivo aceitável. A receita se encontra na página dez do livro... E preciso dizer que somente um aluno conseguiu misturar uma poção decente para conseguir ganhar o prêmio... Todavia, boa sorte a todos — Slughorn fala.
Então, fomos todos para as bancadas, começarmos nossos processos.
— Isso é brincadeira de criança, o que devemos fazer? — Pergunto para Draco baixinho, enquanto amassamos a vagem suporífera.
Antes que Draco pudesse me responder, uma vagem voadora veio no rumo de Blásio, que se esquivou com um bufo, logo dando de cara com o professor Slughorn, que segurava a vagem na mão.
— Vamos ter que errar algum processo da poção, assim como todos os alunos — Draco fala com certo pesar na voz.
O que também me fez choramingar baixinho, mas continuar fazendo os processos da forma correta por enquanto.
— Céus, o que é isso? — Draco pergunta, olhando para Crabbe.
— Eu realmente não sei o que fiz de errado — O mesmo responde, levantando o que um dia foi uma colher.
Como se as coisas não pudessem ficar piores, mais uma vez o senhor Finnigan mostrou o seu incrível talento para explodir as coisas. Mesmo que nessa poção nada, mas absolutamente nada, poderia causar tal reação.
— Eu quero o Severus — Falo, olhando para todos os lados.
— Acredite, eu também — Draco fala com pesar nos olhos.
— Por Salazar... Olhe o desastre em que a Granger se encontra — Falo, rindo, o que me faz sentir bem melhor.
— Ela parece que acabou de sair de um sanatório — Draco ri baixinho.
Então, voltamos a fazer a nossa própria poção, e quando ela estava quase no ponto, desligamos o fogo; isso a deixaria imperfeita e não quebraria totalmente nosso orgulho.
— Pelas barbas de Merlin, está perfeita! Eu diria que está tão perfeita que, apenas com uma gota, poderia matar a todos nós — Slughorn guincha animado para a poção do Potter, que parece realmente surpreso com a sua própria desenvoltura.
— Certo, me dê um pouco dessa poção então; a morte é preferível a ver isso — Draco murmurou indignado.
— Como isso é possível? O Potter não conseguiria nem ao menos fazer uma simples poção energética, quanto mais uma poção de alto nível igual a essa — Falo cruzando os braços.
— Isso deve ser algum castigo divino; os deuses das poções devem estar chateados conosco. Desonramos o dom que eles nos concederam — Draco fala de modo choroso.
Então vemos Slughorn olhar para a poção da Granger e fazer uma careta, assim como para todos os outros alunos cujas poções tinham ficado verdes.
— As poções com aspecto de gosma verde ficaram totalmente erradas. Isso se deve ao fato de terem usado o sumo de muitas ou poucas vagens — Slughorn fala.
Ele então olha para o meu caldeirão e para o de Draco de forma estranha, como se tentasse pensar no que deu errado e o porquê.
— A poção de vocês dois está quase perfeita, o que é muito estranho, já que, se fosse para errar em algum processo, seria nas quantidades, como os dois senhores ali — Slughorn aponta para Crabbe e Goyle, que tinham colocado muito de tudo. — Ou no excesso ou na redução de vagens, como o resto da turma — Slughorn agora aponta para toda a sala. — Uma pena, realmente uma pena; talvez a poção de vocês dois tivesse ficado até mesmo melhor que a do Senhor Potter. Eu vi vocês cozinhando e, em nenhum momento, pareciam preocupados; a preparação e a organização de vocês dois estavam realmente impecáveis.
— Draco e Lynx são os melhores em poções, até porque são sobrinhos do professor Snape — Parkinson fala com um sorriso.
— Draco e Lynx Malfoy errando em poções? O professor Snape vai ficar chateado quando souber — Blásio fala, rindo.
O que eles não perceberam foi a reação de Slughorn ao saber o nosso nome; ele ficou bem mais do que um pouco branco.
— Como eu estava dizendo, é realmente uma pena — Ele diz, saindo de perto de nós dois o mais rápido possível.
O que só serviu para confirmar o esperado: Slughorn agora não chegaria nem perto de nós dois, o que não fazia diferença nenhuma. Não precisamos de nota na matéria de poções, na verdade, em nenhuma, então podemos lidar com o seu pouco ou nenhum interesse em nós dois.
Com o fim da avaliação do Slughorn, nos juntamos novamente à frente da mesa com as poções do início da aula, onde Slughorn pegou o vidrinho de Felix Felicis na mão e puxou o Potter para o lado dele.
— Então aqui está, como prometido — Slughorn disse, com um grande sorriso, mostrando o frasco para o Potter, que tentou pegar, mas foi impedido pelo mesmo, afastando um pouco a mão.
— Um frasco de Felix Felicis... Parabéns... E o use bem — Slughorn finaliza, entregando o frasco de poção para o Potter.
Então, Slughorn começou a bater palmas para o Potter, assim como todos os outros alunos, que iniciaram uma pequena salva de palmas desanimada, o que não pareceu incomodar o mesmo, que parecia realmente animado com o seu grande feito.
Mas o que realmente chamou a minha atenção foi a falta de animação dos seus ditos cujos melhores amigos. O cabeça de cenoura sempre teve uma cara de mosca morta, e sua inveja do Potter ficou ainda mais óbvia no Torneio Tribruxo, onde ele foi o primeiro a se voltar contra ele, não deixando-o se explicar e mostrando todo o seu complexo de inferioridade.
Granger me surpreendeu bastante agora. Eu realmente não acho que ela sinta inveja do nome Harry Potter e de toda a sua glória, mas sim do Potter ter se saído melhor do que ela em algo que ela claramente se sobressai aos outros dois, já que a Granger é uma maníaca e compulsiva por estudos, uma irritante "sabe tudo", como Severus a chamou uma vez. E ele ter tido êxito nisso, sem um dedo dela, onde até mesmo ela fracassou, deve estar a correndo por dentro.
— Não sei como o Potter está vivo. A Granger estava lançando vários Cruciatus pelo olhar — Falei enquanto Draco e eu saíamos da sala.
— Não é novidade alguma que não só ela, como o pobretão do Weasley tem inveja dele. Só ele e todo o resto não veem; estão cegos demais com o véu da amizade e lealdade grifinoriana que eles vivem — Draco fala, revirando os olhos. — Não que o Potter seja um homem bonito; céus, aquela cicatriz nojenta... Mas sim do poder que o nome dele carrega e todo o mito do menino que sobreviveu. Sem contar que o Potter é melhor em duelos do que os dois, mesmo ele tendo treinado eles no ano passado. O Potter está bem mais preparado para uma batalha, mesmo que ele só use Expelliarmus. É um dom que eles não têm; estou preparado para admitir isso agora.
— Não só você, eu também estou. Isso porque tivemos que aprender a não julgar um livro pela capa e não subestimar ninguém. E o Potter pode ser bastante subestimado nesse ponto. Querendo ou não, ele tem garra e determinação, uma coisa que os outros dois apenas têm um vislumbre — Falei, dando de ombros.
— Temos que ficar de olho nele — Draco fala.
— Enquanto um faz uma coisa, o outro deve ficar para trás. O Potter ainda não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo — Falei, séria.
Draco apenas concorda com a cabeça.
— Ele também parecia muito afoito para pegar a Felix Felicis, mesmo para alguém como ele — Ele fala, pensativo.
— É impossível determinar para o que ele pode usar a poção. A vida inteira dele é azar puro; provavelmente precisaria de um balde de sorte líquida — Falei, revirando os olhos.
O que faz Draco rir e começarmos a caminhar mais depressa, indo em direção à próxima aula que teríamos.