Um Inquilino e Meio

By guqpjm

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[EM ANDAMENTO] [EM REVISÃO, ESTÁ SUJEITA A ERROS] Jimin se vê atolado de dívidas depois que o dinheiro que su... More

Apresentações
[1] Dívidas.
[2] Soluções.
[3] Reforma.
[4] Mudança.
[5] Lar.
[6] Amigos.
[7] Proteção.
[8] Jeon's.
[9] Sol.
[10] Invasão.
[11] Ciúmes?!
[12] Promessa.
[13] Próximos.
[14] Próximo passo.
[15] Depois.
[16] Fazenda.
[17] Frutas.
[18] Me conte.
[19] Eu e você.
[20] Você merece.
[21] Cuidar de você.
[22] Recomeçar.
[23] (re)começo.
[24] Importância.
[25] Barracas.
[26] Sem bandanas.
[27] Único.
[28] Aprendizados.
[29] Aniversário?
[30] Ãn?
[31] Meu tchan.
[32] Um chuchu que colhi na vida.
[33] Futuro.
[35] Novas sensações.
[36] Como quiser.
[37] Primeira vez.
[38] Fizemos amor!
[39] Abacaxi.
[40] De mentirinha.
[41] Descobertas. 2
[42] Ciclos.
PRÉ VENDA DE UIM!

[34] Amor e seus significados.

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By guqpjm


#GarotoDasBandanas 🛒

Para Taehyung, a coisa que ele mais ansiava preservar era o seu coração, a fim de evitar toda a sofrência e angústia que um amor pudesse causar ao ter a relação rompida, e acreditou nisso fielmente desde o dia em que decretou que não aceitaria viver da mesma forma que sua família. Só não contava que essa preservação toda fosse a causa da sofrência e da angústia que tanto tentava evitar.

Para aquele momento, lhe era oferecido vários lanches em formato de coração coração por Kook, um café bem forte feito por Jimin, e um vick – dos bons – que Jin tinha feito questão de comprar, isso porque o nariz dele estava entupido de tanto chorar, precisava cheirar algo para desentupir.

Os meninos estavam preocupados, combinaram de se reunir na casa de Namjoon e Jin, infelizmente aquela festa do pijama não seria tão feliz quanto as outras. O motivo era porque notaram que havia algo de errado com Taehyung.

Quem poderia não notar? Estava claro para qualquer um, até mesmo para Kook.

Aquela reunião era para demonstrar apoio, e saber o que estava rolando. Conversas como aquelas nem sempre eram boas, mas sempre eram necessárias.

Por isso estavam daquela forma: Jimin tinha emprestado o abraço de Jungkook, Tae aparentava precisar daquele carinho mais do que ele naquele momento.

O abraço de Jeon era como um remédio, capaz de curar as feridas internas, amenizar a dor e transformá-la em cicatrizes. Mais eficaz do que qualquer medicamento, mas Taehyung nem ao menos conseguia dizer onde estava doendo, era…novo.

— Tae…eu não gosto de te ver assim. – A voz de Jungkook era como música para seus ouvidos. O tom de voz carinhoso, o cuidado com as palavras, o carinho que fazia em seu cabelo, tudo fazia Tae se sentir tão acolhido e protegido.

Apesar de notar a preocupação e curiosidade dos meninos, Tae não queria ser a primeira pessoa a tocar no assunto. Nem sabia como explicar o que estava acontecendo.

Seria muito mais fácil se alguém viesse lhe explicar tudo aquilo que estava sentindo, apresentando argumentos válidos, porque para ele nada estava fazendo sentido, pelo menos naquele momento.

— Eu vou ficar bem, gracinha. – Tranquilizou, fungando mais uma vez. — Eu tô gripado só…não entendi esse alvoroço todo. O Yoongi me sequestrou e me trouxe pra cá, vocês sabem disso, né?

A brincadeira arrancou risos soprados dos meninos, que não duraram muito tempo, eram sorrisos preocupados, preguiçosos, daqueles que serviam de preparação para alguma pergunta séria. Não existia nada mais triste do que ver um deles tentando esconder a dor com piadas e assuntos aleatórios.

A voz de Tae estava embargada, o nariz entupido, vermelho, os olhos inchados, era claro que não era gripe. 

— É o seguinte…O Jungkook pediu pra eu ser cuidadoso com as palavras, mas você me conhece, né? – Jimin foi quem iniciou o assunto.Taehyung sabia que teria que contar mais cedo ou mais tarde, mas estava tentando adiar ao máximo. 

Ele respirou fundo, antes de autorizar:

— Manda a pergunta logo, bestão. – Rolou os olhos, se aconchegando ao abraço de Kook.

— Fala pra gente o que rolou de verdade, Tae… 

— Eu juro que meu coração está quebrado em mil pedaços agora. – Jin dedilhou o rosto dele, limpando seu rosto com o dedão.  — Só diga o que está rolando…pode contar com a gente, garoto.

— Não fiquem agindo como se eu estivesse morrendo… – Franziu as sobrancelhas e limpou o nariz. — Isso faz eu me sentir um idiota.

— Você é o nosso idiota… – Yoongi respondeu, dando de ombros. Ainda sim, não conseguiu dar risada, nenhum deles conseguiu. O assunto era sério, sabiam disso. 

— Você se sente confortável pra dizer o que está acontecendo? – Kook perguntou, passando os dedos longos pela sobrancelha dele. — Só estamos preocupados…eu sinto falta do nosso Tae.

Mais do que ninguém, Jungkook entendia muito bem a situação. Por mais que dor nenhuma pudesse ser comparada, os processos eram o mesmo. Kook conseguia sentir toda a dor de Tae através daquele abraço.

Todos sabiam do que se tratava: Bogum.

O menino não apareceu mais no grupo deles, não tentou contato com Tae, não aparecia na escola de surpresa, não estava mais lá. E quando algum deles questionava sobre o paradeiro dele, Taehyung desviava o assunto, deixando claro seu desconforto.

— Tudo bem…aconteceu algo. – Confessou, sentindo uma angústia invadir seu peito, falar em voz alta era sempre tão difícil, com certeza ia parecer um grande egoísta, era uma pena que não tivesse aberto os olhos antes de perder Bogum.

Ele se sentou no sofá, se obrigando a sair do abraço de Jungkook.

Abraçou as próprias pernas, antes de continuar.

— Acho que não vamos mais ver o Bogum andando com a gente. – A informação arrancou suspiros surpresa de alguns, outros fizeram aquela cara de quem já estava entendendo tudo. Taehyung sabia que não precisava mais continuar, eles já sabiam o que tinha acontecido, mas para o seu próprio bem, tinha que se permitir desabafar com alguém, precisava colocar tudo aquilo pra fora.

— Mas vocês estavam tão bem no dia da nossa viagem! – Kook torcia muito por eles, porque conseguia notar o bem que faziam um para o outro. Tinha percebido os olhares, os toques tímidos, as conversas engraçadas, em fase de flerte ainda. Não fazia sentido.

A informação pareceu pegar todos desprevenidos, por mais que já esperassem, os cenhos estavam franzidos, e eles se entreolham, talvez decidindo mentalmente qual deles daria continuidade.

— O que aconteceu exatamente? – Hobi questionou, preocupado, tomando a frente. — Se aquele palhaço te machucou ou…

— Ele não fez nada… – Advertiu, o encarando. — Pelo contrário, eu que fiz merda.

Os meninos não sabiam se perguntavam ou esperavam Tae mesmo explicar, mas a curiosidade e preocupação estava os corroendo por dentro. 

Era difícil ver Tae daquele jeito, arriscavam dizer que era a primeira vez que o viam assim. 

— Vocês brigaram? – Namjoon perguntou, tentando fazer o assunto fluir. — Você disse algo que não deveria?

Tae assentiu.

— Eu ignorei os sentimentos dele e só liguei para os meus. – Admitiu, sentindo um peso saindo de suas costas. — Fui um egoísta de merda. Disse que não estava preparado para relacionamentos, mas continuei alimentando algo, não me importei se ele estava se machucando ou não.

— Tae… – Yoongi tentou dizer algo, mas o outro levantou a mão, pedindo por silêncio.

Não precisava que alguém passasse a mão em sua cabeça, e sabia que os meninos não fariam isso, mas precisava dizer tudo de uma vez antes que o arrependimento batesse, não queria prolongar a história.

— Eu o beijava, depois pedia para ele esquecer. Chamava ele pra ir pra minha casa, e depois agia como se eu não quisesse que ele estivesse lá. Fazia ele furar compromissos para estar junto comigo, mas quando ele estava lá…eu não sei, não queria admitir que eu queria a companhia dele. Não queria admitir que eu gostava de passar um tempo com ele…que idiota. – Riu soprado, percebendo o quanto tinha sido patético. — Então, ele cansou de ser feito de trouxa, disse que ia me dar um tempo sozinho, sem a presença dele. Disse que eu… – Desviou o olhar, envergonhado das próprias atitudes. — …que eu só gostava de ter ele ali pra mim sempre, de saber que ele faria qualquer coisa para estar ao meu lado. 

Respirou fundo, tentando recompor o ar que foi perdido, mesmo sabendo que aquilo não adiantaria de nada. Falar em voz alta era tão vergonhoso. Admitir que t8nha sido um idiota era tão…tão ruim! 

Ruim porque todas as evidências estavam ali em seu rosto, o tempo todo, mas estava preocupado demais em proteger a si mesmo, se esquecendo que havia outra pessoa envolvida na história, e essa pessoa também tinha sentimentos.

— Você foi bem otário. – Namjoon pontuou e os outros assentiram com a cabeça, não podiam negar aquilo, precisavam dizer a verdade mesmo que ela doesse um pouco, e sinceramente…era disso que Taehyung precisava. — Mas não foi intencional. Você só estava confuso.

— E se você não gostava da ideia de ter um relacionamento com ele, não deveria estar aliviado agora? – Yoongi questionou, mordendo os lábios.

A pergunta pegou Taehyung desprevenido. 

Aí estava.

Ele não estava aliviado.

Então, como não tinha percebido antes? 

— Antes de tudo…preciso confessar uma coisa. – Disse, respirando fundo. 

Para achar o centro do problema, precisava explicar como seu coração se encontrava desde o começo. Sentiu que, para seguir em frente e tentar solucionar aquilo – se houvesse uma solução –, teria que se abrir por completo, mesmo que isso significasse passar uma vergonha momentânea.

Não tinha nada a perder, afinal. 

— Teve uma época que eu pensei que não gostava dele, porque… – Fechou os olhos, repensando por um breve momento se aquilo era mesmo necessário. Os meninos quase pulavam em cima de si de tanta curiosidade. Dane-se. —...admirava o Hoseok, jurei que aquilo era algum tipo de paixão, não sei. 

Ele estava confessando aquilo em voz alta pela primeira vez, era até estranho se escutar. Pensou em voltar atrás com as palavras, mas não tinha o porquê, agora que tinha tomado um choque de realidade, precisava colocar tudo pra fora, porque só assim conseguiria se permitir.

E era verdade, em alguns momentos Taehyung cogitou a ideia…admirava Hobi, o jeito dele, a forma como tratava todos, o jeito que ele era na roda de amigos, sempre se importando com todos, sempre fazendo de tudo para deixar as pessoas felizes.

A confissão realmente pegou todos desprevenidos, mesmo. Foi quase como um choque, e por um momento, Kim se arrependeu de confessar aquilo.

O clima poderia ter ficado estranho, tenso, diferente…mas não ficou. 

— Você acabou de falar que pensou que gostava do meu namorado na minha frente? – Yoongi soltou uma gargalhada alta, mostrando aquele sorriso gengival encantador. — Cara…eu poderia te dar um socão agora, sabia?

— A tarefa de levar soco é minha… – Jimin rebateu, sorrindo também. — Bem vindo ao clube, Yoongi. Aparentemente, se eu vacilar com o Kook, ele vai se casar com o Taehyung. 

— Quem foi que deixou esse talarico entrar no nosso grupo mesmo? – Yoongi fingiu erguer as mangas da camisa, como fez no dia em que deu vários socos em Jimin.

Os meninos, sem exceção alguma, gargalharam alto, alguns se jogaram para trás, outros bateram palmas se jogando no chão e colocando a mão na barriga. 

Aí estava o grupo deles. Era dessa forma que eram.

A tristeza se transformava em alegria quando estavam juntos. Era incrível como aqueles idiotas conseguiam melhorar o humor de qualquer um.

Era esse tipo de amor que sentiam um pelo outro, Tae entendia isso agora.

— Mas agora eu quero saber! – Hobi deixou um tapa na costa dos dois baixinhos que riam feito hienas, chegavam a chorar. — Por que você parou de achar que gostava de mim? Fiquei ofendido agora!

— Certeza que é por causa daquele dia que você roncou parecendo um trator! – Jin lembrou-lhe, estalando o dedo como se tivesse descoberto a coisa mais importante do mundo. — Ele perdeu o encanto naquela hora, foi isso!

— Ei! – Jungkook reclamou, franzindo as sobrancelhas. — O que tem demais em roncar? Às vezes, quando estamos muito cansados, isso acaba acontecendo. 

— Ele tá certo. – Jimin assentiu, concordando com o namorado. — Eu já vi o Kook roncar várias vezes e mesmo assim não perdi o encanto.

Jungkook fez um bico grande, cruzando os braços.

Jimin retribuiu com um sorriso bonito, quase correndo até o namorado para apertar aquelas bochechas gordinhas, que ficavam ainda maiores quando o menino fazia beicinho.

— Gays… – Os outros murmuraram em uníssono, enquanto fingiam uma tosse, Jimin, por sua vez, apenas fechou os olhos e deu de ombros. 

— Acho que perdemos o foco… – Kook sentia as bochechas quentes, a orelha devia estar toda vermelha, podia sentir ela pegando fogo, teve que escondê-las. — O Tae ainda não respondeu. Tae, pode dizer.

— Ah… – Limpou o nariz, se sentindo melhor agora que a conversa estava mais descontraída, sem muitos rodeios, sem aquelas feições de pena ou de preocupação. Preferia assim. — O Hobi sempre me incluía em tudo, eu nunca me sentia… – Fez uma pausa, tentando encontrar as palavras certas. — …eu nunca me sentia um peso, sabe? Mas depois de um tempo, eu percebi que só queria alguém que fizesse eu me sentir daquela forma, em outro sentido. Eu só percebi isso depois do Bogum…com o Bogum era diferente, mas eu odiava admitir aquilo. Era estranho.

— Por que era tão estranho assim? – Jin perguntou aquilo que todos fizeram menção de perguntar.

Tae torceu as sobrancelhas, fazendo uma pausa para conseguir formular uma resposta. Para ele, era fácil de entender, mas quando dito em voz alta, tudo parecia confuso, não sabia como explicar.

Decidiu se arriscar mesmo assim.

— Ah…sei lá. Eu e ele já nos conhecíamos antes, eu conheci ele de uma forma, e do nada ele disse que queria me conhecer melhor, que gostava de mim, foi um choque, eu não conhecia essa versão dele. – Dizia as palavras com tanto cuidado, com tanta intensidade, que bastou aquilo para os meninos se ligarem no que estava acontecendo. — O Bogum que eu conhecia era totalmente diferente, nós éramos muito opostos, mas ao mesmo tempo muito iguais. A gente conversava nas festas, eu via ele ficando com as pessoas e ele também me via ficando com alguém vez ou outra. Sempre foi aquela amizade distante, de interesses, sabe?

— Tipo aquela vez que a gente invadiu a casa dos meninos do basquete, você chamou o Bogum só porque ele conhecia a área. – Jimin lembrou-lhe e Taehyung assentiu várias vezes, como se tivesse chegado no ponto onde queria.

— Maldita hora que eu fui inventar de chamar ele. – Murmurou. — Agora tô aqui sofrendo…

— Mas eu entendi o seu ponto, Tae… – Namjoon disse, sorrindo sem mostrar os dentes. — Foi difícil associar as coisas, foi diferente porque vocês já conheciam o jeito um do outro, deve ter demorado um tempo até você perceber que curtia ele de outra maneira.

— Foi isso! E, tipo…ele era outro Bogum. Meu cérebro sempre achava que ele estava fingindo, que ele queria alguma coisa, que estava tentando me conquistar em troca de algum favor. Eu não via motivos para ele querer algo comigo de repente. – Sorriu sem humor, se jogando para trás no sofá e cobrindo os olhos. — Eu odeio ser assim, puta merda!

— Ele foi um idiota naquele dia… – Yoongi disse, dando de ombros. — Demorou pra eu ir com a cara dele.

— E acho que isso contou bastante sobre a minha decisão. Eu sempre ouvia vocês falando mal dele, e pra falar a verdade…eu não queria namorar com alguém que vocês odiassem. – Confessou. — Queria manter o nosso grupo, como foi com o Kook, todo mundo aprovou ele. 

— E hoje em dia vocês preferem ele. – Jimin colocou a mão no peito, fingindo estar ofendido.

Os meninos sorriram. 

— Para de ser otário! – Yoongi deixou um soco no ombro dele. — O Kook é o nosso bebê, e você é o nosso toquinho. 

— É isso mesmo! Nada de ciúmes por aqui. – Jin declarou, batendo palma. 

— Mas, hyung… – Kook se virou sorrindo para Tae. — Se ele te fizesse feliz, é claro que iríamos te apoiar. Eu gosto do Bogum-hyung! Ele é muito legal.

— Agora não adianta mais… – Ele suspirou alto, tentando evitar os pensamentos que insistiam em rondar sua mente, algo que fazia bastante desde o dia em que Bogum jogou várias verdades em sua cara. — Bem que dizem que só damos valor pra alguma coisa quando perdemos.

— Tá querendo me dizer que gosta dele? – Hobi questionou, parecendo entusiasmado.

Hobi e Yoongi também não podiam negar; houve uma época em que admiravam Taehyung, bem no começo, quando ainda estavam se conhecendo, o jeito dos três era bastante compatível, cada um parecia ter uma personalidade diferente que se completavam. Porém, a admiração de cada um veio em épocas diferentes, nenhum deles nunca soube – a não ser agora, quando Taehyung confessou –, e depois que Hobi e Yoongi entenderam que os dois eram o amor um do outro, perceberam que a admiração não passava de…admiração mesmo.

Os três, de alguma forma, estavam ligados. 

Eram almas gêmeas. Sim, almas gêmeas.

Nem sempre almas gêmeas eram no sentido romântico. 

Os sete eram almas gêmeas, mas agora, Taehyung precisava reagir e não deixar que sua metade fosse embora de sua vida para sempre.

Se dando conta do silêncio que tinha deixado pairar no ambiente, Taehyung firmou o olhar em algo, franzindo o cenho e arregalando os olhos.

Ele realmente gostava de Bogum?

O óbvio o deixou chocado, chocado com a lerdeza como levou as coisas. Chocado por não ter deixado que isso transperecesse antes.

Chocado, pois, desde o dia em que se entendia como parte da sua família, sempre disse para si que não seria como eles.

Mas, afinal, qual era a diferença entre sua mãe, que expulsava seu pai de casa todos os dias com indiferença, para ele, que fazia quase a mesma coisa com Bogum?

— Vocês vão me odiar se eu disser que sim? – Perguntou, tímido. Era algo novo. Mas bom, a descoberta poderia ter sido melhor ainda se, para ele, não fosse tarde demais. 

— Te odiar? – Jin franziu as sobrancelhas. — Se você nos disser que acha que aquele homem é o homem da sua vida, vamos fazer de tudo para te ajudar a consertar a merda que sua insegurança causou, mas se você disser que ainda não sabe, que ainda está confuso, se descobrindo, experimentando…eu não vou deixar você ir atrás dele, Tae… – Confessou, como o bom amigo que era. Conseguia se colocar no lugar do outro. — Pessoa confusas magoam pessoas incríveis, lembra?

Um sorriso frouxo escapou da boca de Jin. Os meninos compreenderam a fala, sabiam que o garoto estava tentando arrancar uma confissão concreta, uma resposta sincera. Estava coberto de razão.

— Eu gosto dele, Jin. – Confessou em alto e bom som. — Fui um idiota, nem sei se mereço ficar com ele.

— Chega de choro! – Jimin levantou, batendo as mãos.  — Se ficar assim vai ser pior.

— Isso mesmo! Se você tá dizendo que quer que aquele idiota esteja com você, a gente tem que fazer alguma coisa. – Yoongi acrescentou, revirando os olhos sempre que se referia a Bogum.

Já não detestava ele, mas era sempre bom tirar uma casquinha de alguém. Afinal, era Yoongi.

— Agora? – Taehyung se desesperou com o entusiasmo dos meninos.

Todos eles levantaram, parecendo estarem planejando o melhor plano do mundo, sorrisos confidentes e insinuativos eram expostos nos lábios alheios.

— Não, agora não. – Park respondeu como se fosse óbvio. — Ele não tinha dito que ia te dar um tempo?

— Acho que ele também precisa de um tempo. – Kook pontuou, colocando as duas mãos na cintura. — Mas isso não nos impede de planejar alguma coisa!

Taehyung estalou a língua no céu da boca várias vezes enquanto fazia um sinal negativo com o dedo indicador.

— Vocês estão loucos, né? Vindo do cara que fez um pedido de namoro na Disney, isso me deixa assustado. – Jimin arregalou os olhos, sentindo as bochechas queimarem. — Não precisa de plano nenhum, gente. Só uma conversa. Não quero nada alarmante, nem sei se ele vai querer algo comigo mais. Acho que não mereço uma segunda chance, Bogum foi incrível comigo e eu não valorizei isso.

— Eu nunca te vi assim por alguém, Tae. Espera mais alguns dias, coloca as ideias no lugar, assume isso para si mesmo, prepara o coração…depois de fazer tudo isso, se sentir que ele é a pessoa no tempo certo, você fala com ele. – Namjoon sorriu, observando Tae assentir algumas vezes, soltando um suspiro alto. Só de imaginar aquilo, dava um friozinho na barriga, as mãos suavam, as pernas amoleciam. Talvez devesse se aventurar e mergulhar nisso de uma vez por todas, a vida nem sempre dá uma segunda chance, não podia desperdiçar.

— Valeu, gente. – Ele sorriu, colocando um ponto final no assunto. Estava decidido. — Eu vou falar tudo o que eu sinto para o Bogum. Acham que estão prontos para aceitar aquele idiota no nosso grupo? Dessa vez, se ele aceitar curtir a vida comigo, é definitivo. 

— Bogum passou o posto de idiota pra você, Tae. – Hobi brincou, batendo as mãos no sofá.

 — Tô contigo, mas eu vou continuar sendo o seu Park favorito, né? – Jimin questionou, empinando o nariz, soltando um sorriso convencido.

— Você correria na chuva para me levar um churros? – Rebateu, franzindo as sobrancelhas.

Jimin estalou a língua no céu da boca, levantando as mãos em sinal de rendição.

— Não. Mas eu doaria um rim pra você.

— O churros me parece melhor. – Namjoon disse em uma clara brincadeira, colocou a mão no queixo, fingindo estar pensando muito antes de dizer. 

— Imagina ter uma parte do Jimin dentro de você? – Jin acrescentou, cruzando os braços, entrando na onda do namorado.

Yoongi soltou uma gargalhada tão alta, mas tão alta, que os meninos já sabiam que viria alguma fala desprovida de qualquer classe antes mesmo dele dizer qualquer coisa.

— Acho que só o Kook pode gostar dessa ideia.

Quando se tratava de zoar Jimin, Yoongi dava aula.

Todos eles entenderam do que se tratava sua fala, ainda mais vindo dele, mas o mais novo não pareceu pegar a piada tão rápido.

Franziu as sobrancelhas, observando cada um, e por mais que estivesse desconfiado pelas risadas e faces maliciosas, não quis tentar entender melhor ou perguntar, achou que sua interpretação já bastava.

— Eu? – Levantou os olhos curiosos. Os meninos davam risada da cara de Jimin, este que estava vermelho igual pimentão, sem nem se dar conta. — Bem…eu adoraria que o hyung doasse um rim dele pra mim, caso eu estivesse precisando. Você não gostaria que o Jimin te doasse um rim? Ele não bebe água direito?

— É impossível ficar triste quando estou com vocês. – Taehyung gritou para o alto, limpando as lágrimas que escorriam pelo seu rosto, dessa vez, não eram de tristeza mas sim causadas pelas gargalhadas excessivas que soltava enquanto os meninos conversavam.

A barriga estava doendo de tanto rir, era melhor assim. Melhor uma barriga doendo por dar risada do que um coração doendo por uma desilusão.

— Ah! Eu acabei de entender a sua fala de duplo sentido, hyung! – Jungkook apontou o dedo indicador para o platinado, este que sorria exibindo as gengivas adoráveis. — E nem fiquei com tanta vergonha dessa vez!

— O toquinho ficou… – Taehyung cutucou a barriga dele.

— Fiquei nada, mané, estou acostumado já. – Rebateu.

— Gente… – Taehyung os chamou, soltando um riso fechado. — Agora que já resolvemos uma parcela do problema, podemos fazer nossa festa do pijama normal, falar sobre bobeiras, conversar.

— Certeza que não quer mais falar sobre o Bogum? – Hobi questionou, delicado. — Estamos aqui por você.

— Acho que prefiro me distrair, deixo pra ficar mal quando estiver sozinho. 

— Então não vamos te deixar sozinho, simples assim. – Yoongi deu de ombros, como se tivesse achado a melhor solução do mundo. Tirou a camisa em seguida, soltando um suspiro de satisfação.

— Vai rolar suruba aqui por acaso? – Jimin perguntou em um tom irônico, alfinetando Yoongi.

Kook achou aquela palavra engraçada, por isso soltou um riso baixinho, mostrando os dentinhos da frente.

Sabia o significado, mas era uma palavra engraçada. Jin o acompanhou, a risada dele era alta e escandalosa e muito contagiosa, em poucos segundos, os dois estavam gargalhando batendo um na costa do outro, quase não conseguindo respirar.

— Estou com calor. – Yoon deu de ombros. — E você cala a sua boca se não quiser levar outro soco.

— Vou cortar o cabelo… – Jin anunciou do nada, enquanto limpava as lágrimas no canto dos olhos, resultado das gargalhadas. Fazia um divisória no cabelo. Os meninos ficaram apenas observando com o cenho franzido, ele voltou o olhar para cada um, batendo as mãos antes de completar: — Ah, me desculpem…nós vamos cortar o meu cabelo!

— Agora, amor? – Namjoon perguntou, analisando os fios do namorado com cuidado. Segurou o queixo dele com os dedos, negando com a cabeça e fazendo um bico. — Tá tão lindo assim.

— Cabelo grande fica bom pra puxar… – Yoongi acrescentou, incentivando ele a desistir da ideia. — É por isso que o Nam não quer que você corte. 

— Cara, sai alguma coisa que preste dessa sua boca?! – Jimin rebateu.

— Tadinho…ele só tá falando a verdade. – Hobi defendeu o namorado como se estivesse defendendo uma criança. 

O Yoongi era inconveniente? Sim.

Irritante? Sim.

Só falava besteira? Sim.

Mas ele gostava. Era impossível resistir a aquele Yoongi. Era bom colocar todas aquelas falas do namorado em prática.

Por isso estava deixando o cabelo crescer.

— Eu vou cortar o cabelo também, hyung! – Kook levantou as mãos, animado. — Minha franja tá grande, fica me atrapalhando.

— Não! – Jin praticamente gritou, colocando a mão no peito, fingindo levar uma facada. — E as suas bandanas?

— Vou continuar usando. É só as pontas, hyung.

— Eu posso ajudar vocês com isso… – Hobi se ofereceu, analisando o cabelo dos dois. — Costumo cortar o meu e o do Yoongi em casa.

— Acha que consegue fazer isso sem estragar isso aqui? – Jin apontou para o próprio rosto. — Não esqueça que metade da minha autoestima está concentrada no meu cabelo, se você estragar ele, nem sei o que sou capaz de fazer.

— Acho que ele tem que estragar pra cortar metade dessa autoestima sua.  – Yoongi murmurou, soltando um riso engraçado, sentindo sua boca ser tapada pelas mãos de Jimin. 

— Fica na sua, Jacob do Paraguai! – O outro rebateu, jogando o cabelo para trás. — Você quer mudar o visual também, Tae?

— Só por que eu tô sofrendo? – Espremeu os olhos. — Tô de boa assim, deixa pra próxima desilusão.

— Não vai ter próxima! – Exclamou Kook, o encarando com firmeza. — Vai dar tudo certo, Tae! 

— Eu queria ter tanta certeza quanto você…

— Vai dar certo. Se não for com o Bogum, vai ser com outra pessoa. Relaxa. – Hobi o consolou, passando as mãos na costa dele.

Taehyung sorriu fechado, assentindo com a cabeça, querendo esquecer aquela história por breves segundos, porque sabia que se continuasse pensando unicamente naquilo, seria ainda pior.

Nos próximos minutos que se passaram, ele se entreteu, graças aos meninos que fizeram muito bem o papel de melhores amigos.

Transformaram a casa de Namjoon e Jin em um salão de beleza, enquanto um cortava o cabelo, outro lavava o rosto, outro fazia skin care, passava base nas unhas, tirava a sobrancelha…e sempre aquele clima gostoso, leve, de casa. Aquele momento que dá vontade de pausar e ficar revivendo para sempre.

Não havia explicação para tamanha paz, quando estavam juntos era assim. 

Naquele dia, Taehyung entendeu e percebeu um pouco mais do amor. E mesmo que no outro dia tivessem acordado completamente doloridos, por motivos de que tinham dormido todos amontoados na sala pequena, acordaram felizes, o sorriso no rosto do Tae fez tudo valer a pena.

Mesmo que não pudessem fazer mais nada além de apoiá-lo e soubessem que o sorriso só permaneceria em seu rosto quando ele resolvesse o problema com Bogum, era reconfortante saber que fizeram a parte deles como uma família.

                                 🥨

— Eu não quero, hyung. Você sabe que eu sou péssimo em esportes, né? – Kook dizia pela décima vez naquele sábado. 

Jimin tinha combinado com os meninos de ir jogar basquete em uma quadra perto da escola, como forma de distrair Taehyung, mas também para se divertir e desenferrujar.

Jimin estava com saudade de praticar algo que gostasse, mas ele queria que Jeon fosse também, e é por isso que tentava convencer o namorado de que seria uma boa ideia ensiná-lo a jogar para que eles ficassem em equipes adversárias. 

Teria mais emoção.

— Vamos lá, docinho…vai ser maneiro. – Insistiu mais uma vez. Já estava com a roupa de ir; uma camisa regata laranjada, um short preto que ficava acima do joelho, e um tênis preto. Um pecado. —  Não vamos demorar muito, hoje tem jogo do Barcelona vs Real Madrid, vou voltar um pouco antes.

— É sempre tão legal lembrar o quanto você gosta de futebol, sabia? – Sorriu, ajeitando a blusa amarrotada de Park. — Nem parece o mesmo Jimin que canta Lana Del Rey no chuveiro.

— É tudo questão de equilíbrio. – Roubou um selinho dele, deixando a bola de basquete debaixo do outro braço. — Se não quiser jogar, então vai lá torcer pro seu namorado amassar os caras.

— Se você me prometer que dessa vez ninguém vai jogar a bola de basquete no meu rosto, eu vou. – Sorriu, se recordando da vez em que aqueles meninos lhe acertaram. O nariz doía só de lembrar, achou que fosse morrer naquele dia, a quantidade de sangue que saiu…foi desesperador.

— Com esses músculos aqui… – Apontou para o próprio braço, fazendo uma pose engraçada. — Acha que alguém vai ter coragem de fazer alguma coisa pra você?

— Da última vez, fizeram, e você tinha esses músculos, hyung.

— Mas não era seu namorado. – Rebateu, levantando uma das sobrancelhas. — E deu pra quebrar a cara de um, não deu? – Gabou-se, sorrindo de forma sedutora.

Jungkook gargalhou, se jogando para trás. Parece que Jimin tinha ficado tempo demais com Jin.

— Ji, faz o seguinte…você sai com os meninos pra jogar basquete e recordar dos velhos tempos, enquanto eu passo no mercado e compro algumas besteiras pra gente comer enquanto assistimos o jogo do Barcelona vs Real Madrid. O que acha? – Propôs, animado.

— Vai ir no mercado sozinho? – Jimin não pareceu curtir a ideia.

— Eu sei fazer isso, hyung. – Cruzou os braços, determinado. — Preciso deixar a zona do comodismo e ir em busca daquilo que tenho medo…no caso, ir ao mercado sozinho. Afinal, a vida é repleta de surpresas, nunca sabemos quando vou precisar fazer isso com emergência. Se eu adquirir confiança até lá, será mais fácil. Além de que, ambas as partes devem fazer algo em um relacionamento, não posso deixar todo o fardo nas suas costas e prosseguir da mesma forma.

— Eu sei que consegue…mas e se acontecer alguma coisa e eu não estiver por perto? Queria que a gente fosse juntos.

— Hyung, vão ter momentos na nossa vida em que vamos ter que fazer as coisas separados. Eu preciso aprender a me virar… – Abraçou o pescoço de Park, sentindo ele afundar o nariz na curvatura de seu pescoço e abraçar sua cintura com uma das mãos, de maneira firme. — Você também merece um tempo de qualidade com seus amigos, já faziam isso antes de mim, e eu não quero interferir nisso. 

— Tudo bem. – Se deu por vencido, sabendo que Kook tinha razão. Não poderia estar sempre com Jungkook, os dois precisavam se virar sem o outro, viver a vida em cumplicidade, como estavam fazendo naquele momento. — Mas qualquer coisa pode me ligar. – Pediu com seriedade, se afastando para conseguir capturar os lábios alheios. — E para de ouvir podcast sobre como ter um relacionamento saudável com seu parceiro, nosso relacionamento já é saudável.

Os olhos de Jungkook quase saltaram para fora. Ele apertou Jimin em seus braços, soltando um riso engraçado.

Tinha sido pego no pulo!

— O vídeo apareceu pra mim, hyung! – Se defendeu. — Como soube?

— Você tava falando muito difícil… – Mesmo que Jungkook tivesse falas muito inspiradoras quando queria, as falas anteriores tinham saído como se ele estivesse lendo um roteiro, vomitando palavras bonitas e certinhas. Jimin o conhecia bem o suficiente para notar de primeira. — Mas foi fofo ver você tentando se lembrar das palavras difíceis, suas sobrancelhas se franziam a cada dois segundos.

— Foi muito difícil! – Mordeu os lábios, sem jeito. — Eu queria tentar falar bonito, poxa.

— Eu entendi, docinho. – Colocou uma mecha do cabelo dele (agora um pouco mais curto) para trás. — Você tem toda razão.

— Obrigado, Ji! Que bom que você entendeu. – Sorriu, o abraçando mais uma vez. — Da próxima eu vou dizer com as minhas palavras!

— Por favor. Eu tive que penar pra entender o que você estava dizendo. – Confessou em um sorriso, juntando as coisas para sair de casa quando viu Jungkook pegar a bolsa preta com a carteira e mais alguns pertences. Estava quase no horário que tinha combinado com os meninos.

Kook o acompanhou até a porta, rindo apenas com os dentinhos da frente.

— Pra falar a verdade, teve uma hora que nem eu sabia mais o que estava falando, acho que só joguei algumas palavras aleatórias, hyung! Sério! – Gargalhou da própria confissão. 

— Prefiro meu Jungkook falando do jeito dele. – Fechou a porta de casa, entregando a chave para o mais novo. Kook se sentiu muito importante por levar a bolsa com os pertences pessoais deles, desde cartão, até as chaves de casa. 

Jimin nem pensou antes de entregar a chave!

Parece que, mesmo decorando algumas palavras, seu objetivo tinha sido cumprido com sucesso. Park tinha entendido o que quis dizer.

Que bom!

— Seu Jungkook está bem aqui, Ji.

Os dois entrelaçaram as mãos, caminhando lado a lado, do mesmo jeito de sempre; Jimin tendo que guiar o mais novo para que ele não corresse o risco de ser atropelado. 

Enquanto caminhavam para o destino, Jimin se permitiu sorrir, imaginando consigo mesmo que, mesmo quando fossem dois velhinhos gagás, ele ainda sim teria que guiar Jeon na rua.

Não importava o quanto envelhecessem, alguns costumes simplesmente não mudavam. E, para falar a verdade, Park não queria que fosse diferente.

Poder andar de mãos dadas com Jungkook, anunciando o amor deles para qualquer um que os vissem, era uma sensação única e inexplicável.

Sorriu, de novo, porque Jungkook estava tão empenhado ditando alguns conhecimentos que havia adquirido com vídeos online, com conselhos de pessoas mais velhas, e com experiências vividas por eles mesmo, que era prazeroso fazer parte da conversa. 

Estava fazendo tudo aquilo em prol da relação deles, e mesmo que Park tivesse dito várias vezes que não era incomodo algum ficar com Jungkook, o menino entendia que, às vezes, era preciso dar certo espaço para seu hyung. 

Park gostava de esportes, mas Kook não era tão fã…então, a solução que encontrou deixou ambos satisfeitos.

Quando chegaram no local marcado pelos meninos, todos já estavam lá. Jeon sorriu, explicando o motivo de não poder jogar com eles, abraçou cada um, se despediu de Jimin com um beijo, e partiu para o mercado.

Antes, Park explicou algumas coisas que Jeon precisava saber, deixou claro que estava orgulhoso e que era pra ele se cuidar.

                                    🛒

— Mãe! Estou no mercado e não sei passar cartão! – Kook dizia, eufórico, um tanto desesperado.

Ainda não tinha finalizado as compras, mas já imaginava como seria na hora de pagar. O desespero bateu quando se viu sozinho no mercado, tendo a responsabilidade toda nas suas costas. Percebeu que realmente necessitava daquilo, precisava aprender, mas acontece que quando colocada em prática, a ideia não parecia muito boa.

Quando se despediu de Jimin e o viu partindo enquanto batia a bola de basquete no chão, cogitou jogar tudo pro ar e mudar de ideia, mas se manteve firme, dizendo para si mesmo que só superaria aquele medo desnecessário se tivesse as próprias experiências.

Era como pegar o busão sozinho pela primeira vez. 

Se obrigou a pegar um carrinho e entrar dentro do mercado, respirando fundo, fingindo estar muito acostumado. Aquele medo todo foi saindo de seu corpo aos poucos, quando percebeu que fazer compras sozinho não era um bicho de sete cabeças, não tinha erro.

Comprou alguns doces, bolachas, batatas, pó de café e um suco natural. Estava tudo indo muito bem…até ele lembrar que não sabia como usar o cartão, foi por isso que ligou para a sua mãe. 

Após sua fala, a mulher sorriu do outro lado da linha, parecendo surpreendida ao saber que seu filho estava indo no mercado sozinho, por escolha própria.

— Com qual cartão você está?

— Um amarelo…

— Diz que vai passar no cartão, a moça vai colocar na maquininha e pedir a senha. – Explicou. — Sabe a senha?

— O hyung me falou no caminho…espero que seja essa mesmo. – Outra paranóia surgiu. — E se não for? 

Ficava desesperado só de imaginar a mulher do caixa dizendo que a senha estava errada e todos pensarem que ele tinha roubado o cartão de alguém, assim, chamariam a polícia e ele seria preso por furto, passaria dias na cadeia por ter errado um número, e teria que provar que não tinha roubado de ninguém, mas aí, a cidade inteira já saberia da notícia porque ela provavelmente iria sair no jornal da cidade e ele ganharia uma fama ruim…tudo isso por ser a primeira vez passando compras em um cartão!

Tudo bem que seus pensamentos eram um tanto exagerados, mas tudo era uma possibilidade.

Não queria arriscar!

— Me fala em qual mercado você está, Goo! – Pediu do outro lado da linha, sabendo que os olhinhos do menino estavam arregalados e ele provavelmente estava pensando em coisas muito estranhas e paranóicas.

— Não! Não precisa…eu consigo fazer isso, mãe! Preciso me virar, agora que percebi que não sei fazer nada sozinho. – Respirou fundo, fazendo um bico grande. Ela riu. — Mas se eu for preso por errar um número, a senhora vem me buscar?

Ela gargalhou alto, negando com a cabeça.

— Tchau, meu amor! Você consegue.

O garoto se despediu antes de desligar o telefone e voltar a olhar algumas coisas. Seus olhos analisavam o preço dos produtos com cuidado, sentia as fragrâncias dos produtos de limpeza, observava as frutas, sucos, doces. Descobriu que gostava de ficar comparando os preços e gostava mais ainda de escolher o que ia levar, como se fosse um adulto.

Estava tão alheio às outras coisas que nem percebeu que alguém falava consigo, até sentir uma mão apertando seu ombro de maneira firme, muito firme. Deu um pulo para trás, buscando saber de quem se tratava, seu corpo todo ficou em alerta, ele se preparou para sair dali o mais rápido que pudesse se fosse preciso, e estava prestes a fazer isso, até que seus olhos pairaram em uma figura já conhecida. Soltou um suspiro aliviado, mas as sobrancelhas de franziram de imediato.

— Lia?

— Parece que estamos nos encontrando muito ultimamente. – Jogou o cabelo para trás, sorrindo estranho. Ela olhava para os lados, parecendo ansiosa. — Já que estamos aqui, quer me ajudar a escolher uma tinta pro meu cabelo? – Perguntou, tentando puxar algum assunto.

Ele mordeu os lábios, olhando para as próprias compras. A ideia lhe pareceu muito instigante, havia algo nela que despertava muita curiosidade em Kook.

— Vai pintar de novo? – Perguntou, franzindo as sobrancelhas. Se bem se recordava, não fazia muito tempo que ela tinha pintado.

— Essa cor já está desbotando.

— Tudo bem. – Assentiu, guiando o carrinho junto ao dela. 

O clima era estranho quando estavam andando, não tinham nenhuma intimidade e os assuntos não pareciam fluir como deveriam, era mais pela educação, perguntas rasas e respostas mais rasas ainda. Era estranho pois não se conheciam, ao mesmo tempo que era desconfortável se submeter a essa situação por conta da sua curiosidade, era tentador tentar desvendar mistérios e perguntas que tinha feito na própria cabeça. 

Ele poderia inventar alguma desculpa ou simplesmente negar o pedido dela, mas não o fez, e já nem sabia de onde vinha aquele interesse. Talvez a conversa de antes tivesse surgido em sua mente.

Ele a analisou disfarçadamente, observando seus braços cobertos por um tecido preto de moletom, ele ia até o pescoço, tapando tanto, que parecia sufocá-la.

— Suas tatuagens continuam desbotadas?

Ela fez um cara de confusão, como se não tivesse entendido. Levou seus olhos para a direção que o menino olhava, e só então se deu conta da pergunta.

— Ainda estão. – Respondeu, analisando as cores de cabelo que lhe agradavam.

Uma lâmpada acendeu bem em cima da cabeça de Kook, como nos desenhos quando alguém tem uma grande ideia. Ele quase soltou um suspiro alto antes de perguntar, tentando arrancar alguma coisa dela:

— Você está namorando?

Ela o encarou com aqueles olhos profundos.

— Tá dando em cima de mim?

— Não! – Gritou, sentindo a orelha esquentar por não ter conseguido se expressar bem. — E-eu só perguntei porque seu moletom sobe até o pescoço. Vocês estavam fazendo coisas de casais e ele deixou alguma marca? 

Ele se culpou por parecer extremamente invasivo naquela hora. Fechou os olhos com força, se amaldiçoando por não saber como entrar em um assunto ou arrancar informações, sejam quais fossem. Estava prestes a se desculpar, mas ela foi mais rápida.

— Eu não namoro. – Sorriu, dando de ombros. — Você é bem reparador…gosto disso em você, Jungkook.

— Desculpa…

— Não tem problema. É por isso que vou até você. Sinto que você observa coisas que mais ninguém percebe.

Ela o encarou com tanta intensidade, que Kook se sentiu completamente miúdo e indefeso, sem saber o que responder ou fazer.

Lia tomou uma proximidade razoável entre eles, daquele ângulo, bem de perto, Kook a analisou sem se importar em disfarçar ou não. O rosto dela era daqueles rostos marcantes, familiar, que você vê uma vez e lembra para a vida toda. Seus traços não pareceram estranhos, lembravam alguém.

— Hm… – Escapou de sua boca. — T-tem algo pra me falar?

Ela levantou duas tintas de cabelo, perguntando indiretamente qual das duas Jeon preferia. Ele apontou para uma da cor verde.

— Tenho algo pra te mostrar, na verdade.

— Me mostrar?

Ela assentiu, sacando o celular do bolso. Demorou alguns breves segundos analisando o aparelho, como se procurasse alguma coisa. Jungkook ficou parado, mordendo os lábios para descontar o nervosismo e ansiedade, suas mãos até estavam suando.

Percebeu que ela mexia na galeria, e de repente, seus olhos quase saltaram para fora. Pensou em inúmeras coisas que poderiam ser.

— Aqui! – Anunciou, estendendo o celular em direção a ele.

Era a foto de uma foto antiga, dava para notar por conta da imagem com qualidade ruim, as dobraduras quase o impedindo de ver a foto denunciava que alguém tinha dobrado ela muitas vezes. Nela, havia cinco crianças, todas com traços diferentes, Kook não conseguiu identificar o lugar, muito menos quem eram aquelas crianças, mas havia semelhança em uma delas com Lia.

As crianças não posavam para a foto, era como se estivessem distraídas, um deles estava mais afastado do que os outros.

— Que foto linda. – Foi o que disse, sem saber exatamente o que a garota esperava que ele dissesse. — Quem são?

— É uma foto que eu encontrei no álbum do meu tio. – Explicou, dando zoom. — Ele guarda várias fotos dessa criança aqui… – Apontou para uma criança específica, era um garotinho, o mais baixo deles, a expressão não parecia das melhores, embora tentasse sorrir. — Eu queria saber porquê. Essa do lado sou eu, e ele não tem fotos focadas em mim, que sou a sobrinha dele, mas tem dessa criança.

— Hm…talvez ele fosse filho de alguma amiga dele! Tem muitas hipóteses do porquê ele guarda tantas fotos.

— Eu fico me perguntando quem deu essas fotos para ele, porque claramente não foi meu tio que tirou. – Ela dizia de maneira um tanto ríspida, como se recordasse de alguma coisa. Toda vez que ela mencionava o tal tio, a expressão e o modo de falar mudavam completamente, Kook deduziu que eles não se davam tão bem quanto deveriam.

Ela pareceu pensar um pouco, depois soltou um suspiro alto.

— Deixa pra lá, viajei. Achei que você…– Desligou o celular, guardando no bolso novamente. — Achei que você fosse conhecer essa criança. 

— Por que eu conheceria? – Questionou, curioso. 

— Nenhum motivo em específico. Eu só achei que pudesse me ajudar. – A resposta pareceu bem convincente para Kook, que se sentiu até triste e decepcionado por não conseguir ajudá-la com aquilo. Claramente era importante para ela. — Queria contar isso para alguém.

— Bom…você pode me contar, mas infelizmente não vou poder ajudar. Por que está tão empenhada com isso? Ele te fez alguma coisa? – Os olhos se arregalaram ao pensar na possibilidade.

Lia passou a conduzir o carrinho novamente, sendo acompanhada por Jeon.

— Só…briga por herança. Minha avó deixou tudo no nome da minha mãe antes de falecer, então eu queria saber se ele teve algum filho escondido pra gente tentar repensar ou ajudar de alguma forma.

— Repensar? – Ficou tão interessado que quase bateu com o carrinho em uma senhorinha que escolhia algumas frutas.

— Ele não vai ter direito a nada. – Deu de ombros. — Não temos a intenção de ajudá-lo, mas caso ele tenha um filho, seria diferente, a criança não tem culpa do pai que tem.

— Nossa… – Soltou um suspiro surpresa. Talvez o assunto fosse muito delicado, por ser familiar e íntimo, então Kook não quis se aprofundar tanto, disse para si mesmo que se ela quisesse que ele soubesse de mais alguma coisa, teria falado. Mas era um menino muito curioso, e aquilo estava quase lhe corroendo. — O que ele fez de tão ruim? 

— Isso é conversa pra outra hora. – Sorriu, olhando para o outro lado. — Mas ele não foi presente na vida da minha avó enquanto ela estava viva, eles se detestavam, por isso ele não tem direito a nada, legalmente falando.

— Entendi… – Assentiu com a cabeça.

Ela puxou outros assuntos, mas sinceramente, Kook só respondeu no automático porque nada daquilo lhe pareceu interessante, mas manteve seus olhos atentos aos dela até finalmente conseguir sair do mercado.

De alguma forma, conforme as perguntas iam surgindo, a história dela ia criando algumas pontas soltas, que não faziam sentido. Talvez Lia nem estivesse se tocando, mas Kook percebeu que aquela história de antes não batia com outra que ela contou sobre a herança. Deduziu que ela não queria cortar o verdadeiro significado da curiosidade pelas fotos da criança misteriosa. 

Afinal, quem era ele para julgar?

Não podia obrigá-la a contar nada.

O que lhe deixou ainda mais pensativo, foi o fato dela sempre reforçar a pergunta: "Você não reconhece mesmo essa criança?"

Ao final de tudo, tanto o seu corpo quanto sua mente estavam cansados. Só queria voltar para a casa e ficar agarradinho com seu hyung.

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